AQUECIMENTO GLOBAL: UMAS DAS FACES DA INGERENCIA ECOLÓGICA (?) Viviane Luchese1 RESUMO: O mundo é visto de uma maneira geral de forma fragmentada, que nos arrasta há muito tempo para uma crise de percepção, que urge dar lugar a um novo paradigma holístico, que percebe o mundo como um todo integrado, também podendo ser denominado como “ecológico”, se em sentido mais amplo e profundo. Notadamente, o que se percebe há muito tempo é um paradoxo entre as ciências que o vislumbravam e defendem esse paradigma ecológico e o posicionamento dos Estados em escala global. Porquanto, partindo de um marco referencial teórico com ênfase na teoria dos Sistemas e da Complexidade - utilizando-se metodologicamente de pesquisa bibliográfica – têm-se o aquecimento global como uma das faces de uma cadeia de fenômeno, que embora possam estar sofrendo uma aceleração devido as atividades antrópicas ainda se dão em nível natural. Assim, merecem e devem ter atenção principalmente no que tange a diminuição das emissões de gazes de efeito estufa, mas que são apenas um dos diversos problemas ambientais que devem ser considerados e nos confiamos a dizer que não é o maior. PALAVRAS CHAVES: Gerencia ecológica – Mudança climática RESUMEN: El mundo es visto generalmente em forma fragmentaria, que nos tira larga para una crisis de percepción, que has de dar lugar a un nuevo paradigma holístico, que percibe el mundo como un todo integrado, también puede ser denominado como "ecológico" en el sentido amplio y profundo. En particular, lo que se percibe desde hace tiempo una paradoja entre las ciencias que buscan y defienden el paradigma ecológico y la posición de los Estados a escala mundial. Así, sobre la base de un marco teórico de referencia con énfasis en la teoría Sistemas y Complejidad - mediante la metodología de la investigación Bibliografía - tienen el calentamiento global como uno de los lados de una cadena de fenómenos, que a pesar de que puede estar experimentando una aceleración debido a actividades humanas, siguen ocurriendo en el nivel natural. Por lo tanto, merecen atención y deben ser especialmente sobre la reducción de las emisiones de gases de efecto invernadero, pero son sólo uno de varios los problemas ambientales que deben ser considerados y confiamos en contar que no es el más grande. PALABRAS CLAVE: Gerencia ecológica - Cambio climático 1 Currículo lattes - http://lattes.cnpq.br/3462571414120686 . Na última década do século XX, o planeta se deparou com uma importante realidade, apontada pelas Nações Unidas através de um painel intergovernamental sobre mudança climática, no qual, a dita ciência do clima, abordada a partir de uma ótica interdisciplinar, assinalou uma série de degradações ambientais planetárias, em decorrência de efeitos antrópicos sobre a natureza. Os principais fatores envolvendo a intervenção humana estão identificados principalmente na emissão de gases sobre a atmosfera da Terra, oriundos da intensa atividade industrial dos últimos cento e cinqüenta anos. Discutindo-se principalmente a partir da ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre as Mudanças de Clima, em especial no Protocolo de Kyoto, a matriz energética utilizada pela sociedade industrial, que consubstancia o modelo de desenvolvimento econômico global questionado pelos movimentos ambientalistas, que por sua vez, redundou numa síntese de pensamentos contraditórios, denominado desenvolvimento sustentável. 1. O pensamento ecológico e sua paradoxalidade à atuação política Nesse ínterim, conquanto a política se contorça globalmente numa lenta caminhada até efetivas práticas que venham a mudar efetivamente esse modelo econômico predatório, a filosofia, a sociologia e a própria economia há muito já intensificam seus estudos e alertam sobre a necessidade dessa mudança. Ademais, buscam fomentar-se em visões trans e interdisciplinares: Quanto mais estudamos os principais problemas de nossa época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos o que significa que estão 2 interligados e são interdependentes. O que se destaca é que o mundo é visto de uma maneira geral de forma fragmentada, que nos arrasta há muito tempo para uma crise de percepção,3 que urge dar lugar a um novo paradigma que, conforme afirma Capra, holístico, percebe o mundo como um todo integrado, também podendo ser denominado como 2 CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Editora Cultrix - Pensamento, 1996, p.23. 3 O paradigma mecanicista de que fala Adam. ADAM, Roberto Sabatella. Princípios do ecoedifício: integração entre ecologia, consciência e edifício. São Paulo: Aquariana, 2001, p. 12. “ecológico”, se em sentido mais amplo e profundo.4 Tendo em vista que a usual ecologia rasa, antropocêntrica, “enquadra os seres humanos separadamente ou fora da natureza, como fonte de todos os valores e atribui apenas valor instrumental e de uso aos ecossistemas”5, enquanto que a percepção de “ecologia profunda”6 se destaca dentro do pensamento ambientalista contemporâneo, por reintroduzir o homem ao meio: A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última 7 análise, somos dependentes desses processos). Assim, o que podemos depreender quando Arne Naess, citando Adam, diz que na ecologia profunda “o ‘eu’ é ampliado, de modo que a preservação da natureza livre seja sentida e concebida como proteção de nós mesmos”,8 é que a maneira de percebermos o mundo está incorreta, pois nós mesmos nos colocamos a par desta consciência de unidade, quando contrariamente, de uma forma lógica, deveríamos compreender que o pressuposto para o antropocentrismo é antes o biocentrismo. Onde deveríamos delimitar nossas decisões políticas e econômicas pela nossa interrelação com a Terra, conforme sugere a Biocracia de Thomas Berry.9 Nesse sentido Adam contribui com o que chama de “arcabouço cognitivo”,10 estabelecendo três princípios a serem considerados: primeiro, todos os seres tem direito a viver dignamente (não somente o homem); segundo, a ecologia remonta a um pensamento planetário; e por fim: ecologia não é uma ciência estática, de um preservacionismo estanque, mas pressupõe um modelo de desenvolvimento sustentado (de comunidades, edifícios, e cidades auto-sustentáveis); este modelo conjuga desenvolvimento tecnológico e progresso à gestão dos recursos naturais e 11 ao equilíbrio dos ecossistemas; 4 CAPRA, CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Editora Cultrix - Pensamento, 1996, p. 25. 5 ADAM, ADAM, Roberto Sabatella. Princípios do ecoedifício: integração entre ecologia, consciência e edifício. São Paulo: Aquariana, 2001, p. 12. 6 Escola filosófica fundada na década de 70, pelo filósofo norueguês Arne Naess. 7 CAPRA, op. cit., p. 25. 8 NAESS apud ADAM, op. cit., p. 13. 9 Ibidem, p. 14. 10 Ibidem, loc. cit. 11 Ibidem, loc. cit. Eis o aspecto de relevância maior ao se considerar a políticas ambientais: a percepção ecológica nos obriga a ir adiante,12 e assumir a função do próprio homem num contexto biocêntrico, onde todas as suas atividade atingem a biosfera. Infelizmente, esse pensamento ecológico, nos arriscamos a afirmar, que nunca esteve presente na história das políticas de desenvolvimento. Notadamente, o que se percebe é um paradoxo entre as ciências que o vislumbravam e defendiam e o posicionamento dos Estados em escala global. Dando-se saliência a questão já pela própria historicidade do direito ambiental, onde é costume revigorar-se como marco a Conferência de Estocolmo. Justo, se considerarmos apenas a conquista, e não as circunstâncias, já que sobre este último aspecto dois eventos bem anteriores foram tão significativos quanto a própria Conferência. O Caso Trail, é o primeiro desses eventos e, como bem relata Guido Fernando Silva Soares: uma das primeiras manifestações do Direito Internacional do Meio Ambiente deu-se no entre-guerras, com a realização de uma arbitragem entre os EUA e o Canadá, a respeito de poluição atmosférica que, gerada por uma fábrica localizada em território canadense, produzia seus efeitos deletérios em território do Estado de Washington, nos EUA: tratou-se do Caso da Fundição Trail, julgado definitivamente por um tribunal ad hoc em 1941, empresa aquela responsável por danos causados a cidadãos norteamericanos, cujas reivindicações não satisfeitas pelos empresários canadenses (dos quais se destacavam não só os pedidos de indenizações, parcialmente satisfeitos perante os tribunais canadenses e norteamericanos, mas cujas fontes de danos persistiam, como também, e principalmente, a cessação das atividades poluidoras), acabaram por motivar os EUA a tomarem como seus aqueles direitos (exercício de proteção diplomática) e a litigarem, em nome próprio, perante o Canadá, as 13 medidas cabíveis. Futuramente os reflexos desta discussão jurídica se solidificariam nos textos da Convenção do Rio e na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, como um princípio norteador para as relações entre os países sendo, qual seja o do direito soberano de cada país de explorar seus próprios recursos segundo suas próprias políticas de meio ambiente e desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que suas atividades não causem danos a meio ambiente além dos limites da jurisdição nacional.14 12 LEFF, Enrique (Org.). A complexidade ambiental. São Paulo: Cortez, 2003, p. 15-64, passim. SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de Direito Internacional Público, Volume 1. São Paulo: Editora Atlas, 2002, p. 425-426. 14 Disposições iniciais da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e do Princípio 2 da Convenção do Rio (Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), 13 Já o segundo evento se dá em Roma, em 1968, onde se reuniram cerca de 30 estudiosos da questão ambiental e, coloca-se como marco, por ser a primeira manifestação da preocupação européia para o possível esgotamento das reservas naturais em decorrência do modus vivendi então vigente, relacionado à exploração dos recursos naturais de modo desenfreado. As conclusões deste encontro15 foram registradas na obra de título “Os Limites do Crescimento”, em 1972, onde se concluiu que a manutenção do ritmo de crescimento nas atividades antrópicas no que tange ao uso os recursos naturais se mostrara inviável. Recomendando-se inclusive o congelamento de tais atividades sob pena do esgotamento das reservas naturais num prazo médio de trinta anos e apontando os fatores que determinam e limitam a produção quais sejam: a população, a produção agrícola, os recursos naturais, a produção industrial e a poluição.16 Não obstante, por se contrapor aos interesses econômicos dos países tanto desenvolvidos quanto dos países sub-desenvolvidos e em desenvolvimento, houve severas críticas às disposições do Clube Roma, especialmente por suporem estes últimos que a obra intencionava apenas restringir-lhes o crescimento, mantendo indiretamente a manutenção do crescimento econômico, status quo, daqueles já desenvolvidos. Entretanto, apesar de todas as críticas, é impossível negar a sua importância, uma vez que, as questões elencadas neste evento tenham nos levado à Conferência de Estocolmo17, em 1972, ocasião em que se veio reconhecer o meio ambiente sadio e equilibrado como um direito fundamental do ser humano e onde foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).18 Segundo Eduardo Sales Novaes, a Declaração de Estocolmo “pela primeira vez, introduziu na agenda assinados no Rio de Janeiro em 1992. ONU, Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Disponível em: < http://www.onu-brasil.org.br/doc_clima.php>. Acesso em 27-08-2009; BRASIL, Legislação de direito internacional: Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 165 et. seq. 15 Realizado pelo Massachussets Institute of Technology – MIT. 16 GRAU NETO, Werner. O Protocolo de Quioto e o mecanismo de desenvolvimento limpo – MDL: Uma análise crítica do Instituto. São Paulo: Editora Fiuza, 2007, p. 27. 17 Declaração das Nações Unidas sobre Meio Ambiente. 18 DEMETERCO NETO, Antenor. Desenvolvimento sustentável e aquecimento global. In. SOUZA, Rafael Pereira de (coord.). Aquecimento Global e Créditos de Carbono – Aspectos Jurídicos e Técnicos. São Paulo: Quartier Latin, 2007, p. 30. política internacional a dimensão ambiental como condicionadora e limitadora do modelo tradicional de crescimento econômico e do uso dos recursos naturais”.19 Assim, diante de um cenário global onde as atividades humanas optaram por uma intensa escala industrial de bens e serviços, tornava-se impossível continuar ignorando as alterações antrópicas sobre as condições climáticas do planeta. Podese dizer então, que nosso maior avanço se refere à própria discussão da questão ambiental, até então ignorada e, curiosamente, ao passo que se discutia a questão ambiental, os problemas ambientais começaram a se publicizar, deixando cada vez mais explícita a necessidade da discussão e da busca de uma nova forma de desenvolvimento que deveria destacar-se pela sustentabilidade. Acidentes ambientais como ocorrido na cidade de Tchernobyl, na Ucrânia, em 1986 (onde o vazamento de uma usina núcleo-elétrica, atingiu com sua radioatividade países limítrofes ou relativamente próximos da então URSS) e o acidente na Basiléia, em uma unidade do grupo Sandoz, em 1986 (que contaminou o Rio Reno e que, por conseqüência, atingiu 5 países diferentes) mais do que grandes prejuízos econômicos, movimentaram a opinião pública e deixaram claro a transnacionalidade dos efeitos da poluição.20 Infelizmente constatamos, através desses incidentes, que podemos até diagnosticar em alguns casos a “nacionalidade” dos poluentes, mas o fato mais relevante, é que a poluição não respeita barreiras fronteiriças, não se delimita e, portanto, é e sempre será, um problema de interesse internacional. De modo que, embora a Convenção de Estocolmo tenha representado um grande progresso no debate ambiental (principalmente se considerarmos que foi o primeiro evento que reunira os Estados para esta questão), ela mesma mostrou que era preciso não só uma maior discussão técnica e política sobre o tema, mas também, autenticou a necessidade de criar um novo plano de desenvolvimento o que pode ser visto no conjunto de recomendações do Plano de Ação para o Meio Ambiente aprovado no 19 NOVAES, Eduardo Sales. Agenda 21. Disponível em: <http://www2.mre.gov.br/cdbrasil/itamarati/web/port/meioam/agenda21/anteced/index.htm>. Acesso em 13-10-2008. 20 SOARES, Guido Fernando Silva. A Proteção Internacional do Meio Ambiente. Entender o Mundo. Volume 2. Barueri: Manole, 2003, p. 48-52. citado evento, das quais afirma Guido Fernando Silva Soares, estarem centradas em três grandes tipos de políticas: 21 as relativas à avaliação do meio ambiente mundial, o denominado Plano de Vigia (Earthwatch); as direcionadas à gestão do meio ambiente; e as relacionadas às medidas de apoio (como a informação, educação e formação de especialistas).22 No entanto, entre o discutir os problemas ambientais e apontar soluções que realmente sejam tomadas com seriedade no campo das políticas desenvolvimentistas e coloca-las em prática no plano econômico, existe uma grande disparidade. Tanto o é, que o informe “Estado do Mundo 1997”, realizado pelo Instituto Worldwatch, denunciava que a maioria dos países ignoravam as recomendações estabelecidas pelos tratados e convenções que sobrevieram ao de Estocolomo, especialmente os da ECO-92, considerada por muitos como um dos maiores eventos sobre ambientalismo, cinco anos após a sua realização, incluindose o aumento populacional em 450 milhões, desmatamentos e emissões de poluentes nos níveis mais elevados, apontando oito países como principais “transgressores”: EUA, Indonésia, China, Brasil, Rússia, Japão, Alemanha e índia, 21 Ibidem, p.44. Outros encontros aprimorariam esse debate e futuramente corroborariam para a efetivação dessas políticas. São eles: a Conferência Mundial sobre o Clima, em 1979, que colocaria a questão do aquecimento global como um problema de fundamental importância para todos os Estados; o Informe da Comissão Brandt (Programa para a Sobrevivência Comum), em 1982, a qual realçou que, como a nos apresentamos num sistema de interdependências os problemas mesmo que locais (relacionados ao meio ambiente, energia, ecologia e setores econômicos e sociais), só poderão ser resolvidos em nível internacional; a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change - IPCC), em 1988, pelo Programa das Nações Unidas 22 sobre o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), que com o objetivo de reunir os principais cientistas do mundo, viria a se tornar a organização com maior autoridade científica internacional sobre mudanças do clima, ajudando a entender o sistema climático 22 da Terra através da elaboração de pesquisas científicas; a Segunda Conferência Mundial do Clima, em 1990, que com base no primeiro relatório do IPCC publicado neste mesmo ano, como já 22 mencionado, apesar de não assumir nenhum compromisso, entendeu a importância de se negociar um acordo quadro sobre as alterações do clima; e a Conferência das Nações Unidas sobre Meio 22 Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, onde “acrescenta-se ao debate a noção de 22 desenvolvimento sustentável como algo indissociável no tratamento das questões ambientais” . Neste evento três documentos que serviriam para a fixação dos princípios normativos do direito internacional do meio ambiente foram subscritos: a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Declaração de Princípios sobre as Florestas e a Agenda 21. Além deles, e principalmente, houve a abertura para assinatura dos Estados de duas convenções multilaterais a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC), cuja assinatura deste último veio a consolidar as tratativas da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para a adoção da Convenção sobre Mudanças do Clima, que haviam começado em 1990, e que desencadearia uma nova série de 22 debates e reuniões importantes sobre a questão ambiental que infelizmente não é possível exaurir aqui, mas que vieram a se chamar Conferência das Partes (COPs), entre elas a mais conhecida a COP1, ocasião em que criou-se o Protocolo de Kyoto. 22 países estes que representam 56% da população mundial, 53% da superfície florestal da Terra e 58% das emissões de CO2. Diga-se que os resultados do relatório do Instituto Worldwatch apesar de causarem desconforto não podem ser considerados inesperados, uma vez que, ao que parece, todas as políticas ambientais desde sua origem tiveram cunho muito mais paliativo, no sentido de conter aquilo que causava prejuízo as nações, do que de proteção ao meio ambiente propriamente dito. O exemplo mais típico é o próprio Brasil, considerado por muitos um exemplo em termo de legislação ambiental. De fato, se considerarmos apenas a questão legal o Brasil esteve sempre um passo a frente da maioria do outros países, mas então como justificar estarmos entre os oito transgressores dos acordos que somos signatários? Talvez a explicação esteja na própria posição histórica brasileira, que assim como outros países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento carregava como slogan que: “a maior poluição é a pobreza” e “a industrialização suja é melhor do que a pobreza limpa”.23 O que veio a corroborar com o documento norte-americano . "Brazil - If Development Brings Pollution, so Be It", lançado antes da Conferência de Estocolmo e, cujo enunciado maior traduzia-se por: "Brasil - Se o Desenvolvimento Traz Poluição, Que Assim Seja".24 Obviamente que se de um lado a Europa levantava seus olhos para a questão ambiental, por ela mesma ter sentido os prejuízos e os efeitos do uso indiscriminado e descuidado dos recursos naturais nos vários desastres ambientais ocorridos, por outro lado, potências cujas bases econômicas se fizeram através da submissão extrema dos ecossistemas, como o caso dos EUA, e países que encontravam-se ou estão entre os emergentes economicamente não poderiam ver razão para abrir mão do direito de poluir uma vez que dentro de um pensamento arcaico isso comprometeria o seu crescimento econômico. Nesse sentido, é que compreendemos de certo modo as palavras de Upton Sinclair: “é difícil conseguir 23 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 4ª Ed. Revista dos Tribunais, 2005, p. 140 passim. O documento produzido pelo Departamento de Estado Norte-americano, foi escrito por Ruth M.Schimel e aprovado por Godfrey H. Summ, da Chancelaria Norte-americana. FOLHA DE S.PAULO. Na íntegra de documento oficial dos EUA sobre poluição no Brasil, Folha de São Paulo online, São Paulo, nov. 2007. Disponível em: <http://media.folha.uol.com.br/ambiente/2007/11/20/poluicao.pdf>. Acesso em 29-09-2009 24 que uma pessoa compreenda alguma coisa quando o salário dela depende de não compreender isso”. 25 De todo modo, observa-se que de ambos os lados, seja por querer normas mais protetoras ao meio ambiente ou não, o que se evidencia é o tópico econômico que se vincula à idéia de desenvolvimento. E deste modo, depara-se diretamente com um problema cultural/civilizacional e com o problema ecológico, tendo em vista que o sentido da palavra desenvolvimento, tal como foi acolhido, “contém nele e provoca subdesenvolvimento”.26 2. Pertinentes elucidações da ecologia para um mínimo entendimento dos seus sistemas. Inicialmente, registre-se que podemos dizer que a palavra Ecologia passou a ter uso geral somente no fim dos anos 1800, quando cientistas americanos e europeus começaram a se autodenominar de ecólogos. De fato, se o rápido crescimento da população humana e sua crescente tecnologia e materialismo aceleraram a deterioração do ambiente terrestre, a Ecologia27 se torna importante porque analisa e produz um imenso corpo de conhecimento acerca deste mundo que nos rodeia: Por ecologia, queremos dizer o corpo do conhecimento referente a economia da natureza, a investigação das relações totais dos animais tanto com o seu ambiente orgânico quanto com seu ambiente inorgânico; incluindo, acima de tudo, suas relações amigáveis e não amigáveis com aqueles animais e plantas com os quais vêm direta ou indiretamente a entrar em contato; numa palavra, ecologia é o estudo de todas as interrelações complexas denominadas por Darwin como as condições da luta pela existência (grifo nosso). Dessa forma, é indiscutível que, mais do que ser ambientalista, engajado em políticas de preservação ou de conservação, necessário se faz entender com a 25 GORE, Albert. Uma verdade inconveniente: o que devemos saber (e fazer) sobre o aquecimento global. Barueri: Manole, 2006, p. 266. 26 MORIN, Edgar; KERN, A. B. Terra Pátria, Porto Alegre: Editora. Sulina, 1995, p. 40-60 passim. 27 Ecologia vem do grego oikos, significando casa, e assim se refere a nossa circunvizinhança imediata, ou ambiente. Em 1870, o zoólogo alemão Ernest Haeckel deu a palavra este significado mais abrangente. Conforme RICKLEFS, Robert E. A Economia da Natureza. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2003. p. 02. ecologia o porquê se preservar ou conservar. Há toda uma gama de relações de competição estabelecida por organismos variados em um ecossistema natural, que permitem dizer da importância de cada um no processo da vida, e que atualmente as alterações provocadas pela espécie humana promovem um desequilíbrio igualmente importante neste cenário, considerando os problemas em escala espacial e temporal, do ponto de vista micro ou macro o ambiente. Como conseqüência, a compreensão ecológica torna-se fundamental para aprendermos as melhores políticas de manejar, por exemplo, as bacias hidrográficas, as terras cultivadas, os alagados e outras áreas geralmente chamadas de sistema de suporte ambiental, dos quais a humanidade depende para alimentação, suprimento de água, proteção contra catástrofes naturais e saúde publica. Os referidos sistemas de suporte ambiental estão sendo atingidos paulatinamente pelas intervenções antrópica, que têm contribuído com a mudança climática da Terra. Somente o manejo dos recursos propicia o que os ecólogos denominam de compreensão do controle populacional por predadores, da influencia da fertilidade do solo no crescimento das plantas, das respostas evolutivas dos micróbios aos contaminantes ambientais, da dispersão dos organismos sobre a superfície da Terra e de uma multiplicidade de questões semelhantes28. A perspectiva ecológica vai além da ambientalista, ruma para corroborar cientificamente o manejo de recursos bióticos numa forma que sustente uma razoável qualidade de vida humana e que depende do uso inteligente dos princípios ecológicos para resolver ou prevenir problemas ambientais. Assim, embora a extensão e complexidade dos sistemas ecológicos variem de um único micróbio a cobertura da biosfera da superfície terrestre, todos os sistemas ecológicos obedecem a alguns conceitos semelhantes e que focalizam os atributos físicos e químicos dos sistemas, a regulação de sua estrutura e função, bem como das mudanças evolutivas. 28 TOWNSEND, Colin R; BEGON, Michael; John L. Harper. Fundamentos em Ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 28 e segs. Por isso, temos que: Um sistema ecológico pode ser um organismo, uma população, um conjunto de populações vivendo juntos (comunidades), um ecossistema ou mesmo a biosfera da Terra... Cada sistema ecológico menor e um subconjunto de um próximo maior, e assim os diferentes tipos de sistemas ecológicos formam uma hierarquia de tamanho...Cada sistema ecológico reúne diferentes tipos de processos...o organismo (grifo nosso) pode referir-se a reprodução e sobrevivência de uma espécie, a unidade da seleção natural... a população trata da dinâmica das populações, demarcando a unidade da evolução...comunidade é a interação entre populações... ecossistemas predomina o fluxo de energia e ciclo de nutrientes...biosfera é o processo 29 global . Dessa forma, temos que organismo é a unidade mais fundamental da ecologia, que se caracteriza por ser limitado por uma membrana ou outra cobertura, através da qual ele troca energia e matéria com seus arredores. Esta fronteira separa os processos e estruturas internas daqueles recursos e condições externos da circunvizinhança. Ao longo de suas vidas, devem adquirir energia e nutrientes dos seus arredores e se livrarem de produtos de rejeito indesejado. Ao fazer isso, os organismos modificam as condições do ambiente e os recursos disponíveis para outros organismos, contribuindo para os fluxos de energia e para o ciclo de elementos no ecossistema. Por sua vez, ecossistema compreende um conjunto de organismos que com seus ambientes químicos e físicos formam sistemas ecológicos complexos de populações em comunidade30. Contudo, pode ser estabelecida analogia entre organismo e ecossistema, eis que os dois podem ser vistos como sistemas ecológicos, pois possuem o mesmo principio de processos internos e trocas com os arredores externos. Em ultima instância, todos os ecossistemas estão interligados numa única biosfera que se apresenta interligada através da energia e dos nutrientes transportados pelas correntes de vento e de água e pelos movimentos dos organismos. Como exemplo, podemos afirmar que a água que flui de uma nascente até um estuário conecta os ecossistemas terrestres e aquáticos da bacia hidrográfica com os do reino marinho. 29 RICKLEFS, Robert E. A Economia da Natureza. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2003. p. 03. passim. 30 LEVÊQUE, Cristian. Ecologia, do Ecossistema a Biosfera. Porto Alegre: Instituto Piaget, 2001, p.169 e segs. Em razão disso, necessitamos fixar ainda algumas categorias que envolvem fluxo de energia e matéria através dos ecossistemas: A vida [c] requer basicamente matéria e energia. O conceito de matéria é algo que ocupa lugar no espaço. Já o conceito de energia é a capacidade de realização de trabalho. Nesse sentido, quanto maior for a capacidade de realizar trabalho, melhor será a qualidade de energia associada. Em qualquer sistema natural, matéria e energia são conservadas, ou seja, não se criam nem se destroem matéria nem energia. Duas leis da física explicam esse comportamento: a lei da conservação da massa e a lei da 31 termodinâmica . Então, conforme nos ensina Benedito Braga, pela lei da conservação da massa, em qualquer sistema físico ou químico, nunca se cria nem se elimina matéria, apenas é possível transformá-la de uma forma em outra. Portanto, não se pode criar algo do nada nem transformar algo em nada, pois tudo que existe provém de matéria pré-existente, mas em outra forma. Tudo o que se consome apenas perde a forma original, passando a adotar uma outra. Ainda seguindo este raciocínio, pode ser dito que o fato de não poder ser possível consumir a matéria até sua aniquilação implica a geração de resíduos em todas as atividades dos seres vivos, resíduos esses indesejáveis a quem os eliminou, mas que pode novamente ser incorporado ao meio, para serem posteriormente reutilizados através de processos biogeoquímicos que reciclam a matéria. Atualmente a intervenção antrópica gera resíduos em um ritmo muito mais acelerado que a capacidade de reciclagem do meio natural, sobretudo quando tratamos de resíduos oriundos de materiais sintéticos não biodegradáveis. Por outro lado, a termodinâmica também apresenta duas leis fundamentais ao tratamento dos mecanismos de desenvolvimento limpo. A primeira lei enuncia que a energia pode se transformar de uma forma em outra, mas não pode ser criada ou destruída: As diversas formas de energia podem ser enquadradas genericamente em energia cinética e potencial. Energia cinética é aquela que a matéria adquire em decorrência de sua movimentação e em função de sua massa e velocidade. A energia potencial é a energia armazenada na matéria em 32 virtude de sua posição ou composição . 31 BRAGA, Benedito e outros. Introdução a Engenharia Ambiental, o desafio do desenvolvimento sustentável. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. p. 07-08. passim. 32 Ibidem, p.08. Já no que diz respeito a segunda lei da termodinâmica, temos que todo processo de transformação de energia se dá a partir de uma maneira mais nobre para uma menos nobre, ou de menor qualidade. Quanto mais trabalho se conseguir realizar com uma mesma quantidade de energia, mais nobre será esse tipo de energia. Embora a quantidade de energia seja preservada (primeira lei da termodinâmica), a qualidade (nobreza) é sempre degradada. Toda transformação de energia envolve sempre rendimentos inferiores a 100%, sendo que uma parte da energia disponível transforma-se em uma forma mais dispersa e menos útil, em geral na forma de calor transferido para o ambiente. A conseqüência é que todo corpo que possui uma forma ordenada necessita de energia de alta qualidade para manter sua entropia baixa. Como a tendência é o aumento de dispersão da energia na forma de calor, destruindo a ordem inicial e levando a um estado final mais estável, para se manter qualquer sistema organizado, é necessário o fornecimento continuo de energia. As leis físicas são apresentadas para o entendimento dos problemas ambientais. A lei da conservação da massa mostra que nunca estaremos livres de algum tipo de poluição (residuos)...da segunda lei da termodinâmica é o fato de ser impossível obter energia de melhor qualidade do que aquela disponível inicialmente, ou seja, não existe reciclagem completa de energia. Logo, a energia dispersada em qualquer 33 transformação será perdida para sempre . Do que podemos depreender que se não forem tomadas medidas de controle ambientais eficientes, a previsão é de que haverá um aumento da poluição global, eis que desprezando o problema da possível falta de energia, mesmo que exista uma alta taxa de reciclagem da matéria, se o crescimento industrial continuar a uma taxa incompatível, por mais que se recicle sempre haverá necessidade de se obter mais matéria e sempre sobrará detrito não reciclável. O exemplo típico e oportuno para ilustrar esses problemas é uma possível alteração do efeito estufa, em função do aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. O consumo inadvertido e rápido de combustíveis fósseis resulta em quantidades de CO2 que a natureza não consegue absorver totalmente. As quantidades de CO2 liberadas na atmosfera, embora pequenas em comparação com a quantidade total em circulação natural, levam a previsão de um 33 BRAGA, Benedito e outros. Introdução a Engenharia Ambiental, o desafio do desenvolvimento sustentável. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005, p.09. passim. aumento de 170% sobre essa quantidade de gás existente na natureza, quando todo o combustível fóssil na Terra tiver sido consumido34. A atmosfera terrestre é composta de inúmeros gases e emanação de calor dentro de certo parâmetro aceitável pelas espécies vivas. Nesse sentido, para a Ecologia o que interessa verificar nos processos que governam os fluxos de energia e matéria nas comunidades e dentro delas, são os modos pelos quais as áreas de terras e a água, recebem e processam radiação incidente, e nutrientes inorgânicos, ou seja, qual o desempenho integrado das comunidades e seu ambiente abiótico. É a preocupação com o entendimento dos processos dos ecossistemas e produção de alimento para a humanidade. Para tanto, temos que: Lindemann em 1942 lançou os fundamentos de uma ciência denominada de energética ecológica. Ele tentou quantificar o conceito de cadeias e teias alimentares ao considerar a eficiência de transferência entre níveis tróficos, da radiação incidente recebida por uma comunidade, passando por sua captação por plantas verdes em fotossíntese, até sua utilização subseqüente por bactérias, fungos e animais...com isso, se estimulou o Programa Biológico Internacional (PBI)...e o Programa Internacional Geosfera-Biosfera (IGBP) que instituiu um projeto central sobre Mudanças Globais e Ecossistemas Terrestres (GCTE)...foi reconhecido que o conhecimento cientifico é exigido para o manejo racional dos recursos...os programas de cooperação internacional focalizaram áreas de terras, águas doces e mares...visando a base biológica da produtividade e bem-estar humano...para prever os efeitos de mudanças no clima e na composição atmosférica sobre ecossistemas terrestres, incluindo os sistemas agrícolas e 35 de produção florestal . Dessa forma, para se examinar os processos dos ecossistemas, precisamos dominar alguns termos que são chave para a compreensão da dimensão dos acontecimentos ambientais que envolvem a questão climática. Por primeiro, a energética ecológica estabelece os corpos dos organismos vivos dentro de uma unidade de área como suprimento permanente de biomassa, eis que ela é entendida como a massa de organismos por unidade de área de solo (ou água) e isso é expresso em unidades de energia (joules por metro quadrado) ou matéria orgânica seca (toneladas métricas por hectare)36. 34 LEVÊQUE, Cristian. Ecologia, do Ecossistema a Biosfera. Porto Alegre: Instituto Piaget, 2001, p. 309-354. 35 TOWNSEND, Colin R; BEGON, Michael; HARPER, John L. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: 2006, p. 409. passim. 36 Ibidem, p.408. Na prática, os ecólogos incluem na classificação de biomassa, todas aquelas partes vivas ou mortas que estão vinculadas ao organismo vivo. Desse modo, é convencional considerar todo o corpo de uma árvore como biomassa, a despeito do fato de a maior parte da madeira ser morta. Em geral, os organismos (ou suas partes) deixam de ser vistos como biomassa quando morrem (ou são mortos) e se tornam componentes de matéria orgânica morta37. Importante também é perceber as implicações que envolvem o conceito de produção primaria: A produtividade primária (grifos nosso) de uma comunidade é a taxa em que a biomassa é produzida por unidade de área pelos vegetais (produtores primários). Ela pode ser expressa em unidade de energia ou de matéria orgânica seca. A fixação total de energia pela fotossíntese é referida como produtividade primária bruta (PPB)). Uma proporção desse total, no entanto, é respirada pela própria planta, e é perdida pela comunidade como calor respiratório (R)). A diferença entre PPB e R é conhecida como produtividade primária liquida (PPL)), e representa a taxa real de produção de nova biomassa que está disponível para o consumo de organismos heterotróficos (bactérias, fungos e animais). A taxa de produção 38 de biomassa por heterótrofos é denominada produtividade secundária . A partir disso, podemos dizer então, que o funcionamento da biota da Terra e das comunidades existentes na sua superfície dependem decisivamente dos níveis de produtividade que os vegetais são capazes de alcançar: A produtividade primária liquida global terrestre é estimada em cerca de 115 9 9 x 10 toneladas métricas de massa seca por ano, e no mar é de 55 x 10 (-1) toneladas ano . Uma grande parte do globo produz menos do que 400 (-2) gm ano(-1). Isso inclui acima de 30% da superfície da terra e 90% dos oceanos. No outro extremo, os sistemas mais produtivos são encontrados entre os banhados e pântanos, estuários, bancos de algas e recifes, florestas tropicais e terras cultivadas (grifo nosso). Existe uma tendência latitudinal geral de produtividade crescente, 39 partindo das boreais, passando pelas temperadas, ate as tropicais . A tendência relacionada a latitude se explica pelo fato de sugerir que a radiação (um recurso) e a temperatura (uma condição) podem ser fatores geralmente limitantes da produtividade de comunidades. Na verdade, em 37 RICKLEFS, Robert E. A Economia da Natureza. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2003, p.150-164. 38 TOWNSEND, Colin R; BEGON, Michael; HARPER, John L. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: 2006, p. 409. passim. 39 Ibidem, p. 410. comunidades terrestres, o que limita a produtividade primária é a escassez de radiação solar, dióxido de carbono, água e nutrientes do solo, enquanto que a temperatura (uma condição) tem uma forte influencia sobre a taxa de fotossíntese. De fato, com relação a fotossíntese podemos dizer que dependendo da posição, algo entre 0 e 5 j de energia solar atinge cada metro quadrado da superfície da Terra a cada minuto. Se toda essa energia fosse convertida em biomassa vegetal através da fotossíntese (com eficiência fotossintética de 100%) haveria uma extraordinária geração de material vegetal, de 10 a 100 vezes maior do que os valores já registrados40. No entanto, somente cerca 44% de radiação de ondas curtas incidentes ocorre em comprimentos de onda apropriados para a fotossíntese. Além disso, a escassez de água é muitas vezes o fator crítico, intimamente relacionado com a produtividade de uma região. Outra relação é a produtividade primária líquida acima da superfície do solo e a temperatura media anual. Observa-se que as temperaturas mais altas estão associadas com transpiração rápida e, desse modo, elas aumentam as taxas nas quais, escassez de água pode se tornar importante, pois tem efeitos diretos sobre a taxa de crescimento vegetal, podendo levar a uma menor densidade da vegetação. Afinal, vegetação esparsa intercepta menos radiação, que acaba incidindo sobre solo descoberto41. Mesmo que haja grande incidência de luz, que as precipitações sejam freqüentes e que a temperatura seja uniforme, a produtividade será baixa, se não houver solo em uma comunidade terrestre ou se o solo for deficiente em nutrientes minerais essenciais. Nesse sentido, o nutriente que tem maior influência sobre a produtividade de uma comunidade é o nitrogênio fixado, pois não há sistema agrícola ou silvicultural que não responda a sua aplicação, podendo esse comportamento ser verdadeiro até mesmo para a vegetação nativa. 40 LEVÊQUE, Cristian. Ecologia, do Ecossistema a Biosfera. Porto Alegre: Instituto Piaget, 2001, p. 457-483. 41 RICKLEFS, Robert E. A Economia da Natureza. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2003. p. 117 e segs. De uma maneira geral, o destino da produtividade primária segue uma conseqüência do consumo da vegetação, ou seja, os fungos, os animais e a maioria das bactérias são heterótrofos, pois obtém sua matéria e energia diretamente por consumo de material vegetal ou indiretamente de vegetais pelo consumo de outros heterótrofos. Os vegetais, os produtores primários, compreendem o primeiro nível trófico em uma comunidade, os consumidores primários ocorrem em um segundo nível trófico, os consumidores secundários (os carnívoros) no terceiro, e assim por diante. Assim, para corroborar ainda mais a fragilidade nas relações que envolvem o ecossistema, podemos referir que: A produtividade de herbívoros é invariavelmente menor do que as plantas que eles consomem. Para onde vai a energia perdida? Em primeiro lugar, nem toda a biomassa vegetal é consumida viva por herbívoros. Boa parte morre mesmo antes de ser pastejada, e sustenta uma comunidade de decompositores (bactérias e fungos) e animais detritivoros. Em segundo lugar, nem toda a biomassa vegetal comida por herbívoros (nem toda a biomassa de herbívoros comida por carnívoros) é assimilada e disponível para ser incorporada a biomassa do consumidor. Parte é perdida nas fezes, o que passa também para os decompositores. Terceiro, nem toda a energia que foi assimilada foi convertida em biomassa. Uma porção dela é perdida como calor respiratório. Isso acontece porque nenhum processo de conversão de energia é 100% eficiente, devido a segunda lei da termodinâmica e também porque os animais realizam trabalho que requer 42 energia, novamente liberada como calor . Essa cadeia de relações tênue pode ser quebrada a qualquer momento, devido a intervenção humana em suas atividades empreendedoras. Assim é que, conceitos como organismo, população, comunidade, ecossistemas e biosfera corroboram a idéia de que os organismos vivos ao longo de suas vidas, dependem da aquisição de energia e nutrientes de seus entornos, livrando-se de rejeitos indesejados. Denotando que, do ponto de vista da biosfera os ecossistemas interligam energias e transportam nutrientes através do trabalho dos organismos e do movimento das correntes de vento e do ciclo da água no planeta o que usa de energia cinética. 42 TOWNSEND, Colin R; BEGON, Michael; HARPER, John L. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: 2006, p. 414 e 415. passim. CONSIDERAÇÕES A história do ambientalismo demonstra que discussão da questão ambiental, publicizou conceitos e idéias que vieram a se tornar pilares para diversos acordos em função do meio ambiente, bem como o reconhecimento do ambiente sadio e ecologicamente equilibrado como um direito fundamental do ser humano, introduzindo por sua vez, a necessidade da discussão e da busca de uma nova forma de desenvolvimento com base na sustentabilidade. Tal debate, paralelo as catástrofes que ocorreram na Ucrânia e na Basiléia, entre tantas outros que não mencionamos neste trabalho, mas puros reflexos do descasos com o meio ambiente, evidenciaram a transnacionalidade dos efeitos da poluição, pondo-a em Xeque como um problema internacional, tornando exigível uma readequação da política de desenvolvimento de todos os países. As conferências mundiais sobre o clima mais especificamente, trouxeram importantes recomendações que servirão de base para a criação e adesão da Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima, que por sua vez, influenciou e trouxe um grande avanço, servindo como base para a relação entre os países signatários, principalmente por estimulá-los a optar por sistemas de produção não tão predatórios. O objetivo final da referida Convenção é de num prazo razoável, neutralizar ou pelo menos diminuir a interferência antrópica perigosa no meio ambiente e, buscando a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa, permitir que os ecossistemas possam se adaptar de maneira natural as mudanças climáticas, permitindo assim, que a produção de alimentos não seja afetada e que ainda se permita a continuidade do desenvolvimento econômico de uma maneira sustentável. Neste ínterim, à luz da ecologia não podemos ignorar as relações de competição estabelecidas pelos organismos no ecossistema, que permitem entender a importância de cada um deles no processo da vida, contribuindo para o aprendizado das melhores políticas de manejamento de matérias e energias, sobretudo, para a busca desta chamada sustentabilidade. O que se vê é que os sistemas de suporte ambiental estão sendo atingidos pela intervenção humana, que contribui com a mudança climática da terra. Por isso, foi necessário estabelecer e fixar conceitos e categorias na área da ecologia que denotassem a importância dos sistemas ecológicos e que explicitassem os atributos físicos e químicos desses sistemas, a regulação de sua estrutura e suas funções em relação as mudanças evolutivas. Destarte é que, conceitos como organismo, população, comunidade, ecossistemas e biosfera surgiram ao longo do trabalho para corroborar a idéia de que os organismos vivos ao longo de suas vidas, dependem da aquisição de energia e nutrientes de sés entornos, livrando-se de rejeitos indesejados. Então, do ponto de vista da biosfera os ecossistemas interligam energias e transportam nutrientes através do trabalho dos organismos e do movimento das correntes de vento e do ciclo da água no planeta. Por isso, foi necessário distinguir os conceitos de matéria e energia, trazendo as noções de conservação de massa e das leis de termodinâmica, para definir a realização de trabalhos dos organismos vivos que envolvem a energia cinética em potencial. Diante do elencado até aqui, temos que a termodinâmica nos ensina que sempre haverá, inafastávelmente, a perda de energia e a produção de resíduos da matéria, independente do processo antrópico que utilizemos. Nesse sentido, a emanação do dióxido de carbono e a composição dos gases de efeito estufa na atmosfera proporcionam a idéia de que certos parâmetros são perfeitamente aceitáveis pelas espécies vivas dentro dos ecossistemas. Do mesmo modo é que corroboramos a fragilidade das relações que envolvem os seres vivos, que graças a intervenção humana através de sua atividades empreendedoras, alteram drasticamente a biosfera como um todo. É curioso notar que a partir da escala invisível dos olhos humanos nada parece ser danoso ao meio ambiente, tornando ainda mais difícil a sensibilização humana à questão do gerenciamento ecológico em escala global e o exercício político de administração de demandas conflitantes entre os interesses econômicos e o equilíbrio ambiental. O aquecimento global é um fato, contudo, como afirma Aziz ab’Saber, considerado o mais importante geomorfologista brasileiro e um dos cinco melhores geógrafos do mundo, seus efeitos serão sentidos somente nos próximos cinqüenta, cem, duzentos anos.43 A mudança climática em si é um processo natural que pode ser acelerado por ação do homem, mas não deve ser considerado em si como o problema do século. Outro sim, a atuação do homem é que deve ser reavaliada em todas as esferas, como refere o mesmo autor e, no que concordamos, o ambiente e os organismos hão de se adaptar as mudanças de clima como sempre o fizeram, mas é atuação indiscriminada e predatória do homem que interfere de fato nos biomas, e modifica significativamente os ecossistemas. Nessa seara, chancela-se como condição e limite para o crescimento econômico o uso racional dos recursos naturais e uma nova postura geopolítica, e por conseqüência, a modificação do modelo de desenvolvimento em prol de uma política econômica que leve em consideração o meio ambiente. É necessário reduzir as emissões de gazes de efeito estufa, mas a degradação ambiental tem faces muito mais alarmantes que não ocupam diariamente nossas manchetes, como por exemplo a contínua emissão de CFCs que destroem a camada de ozônio, camada esta necessária a manutenção da vida na Terra; 44 O desenvolvimento insustentável e fragmentado das cidades criando, entre outros, verdadeiras ilhas de calor e a proliferação de doenças de da miséria;45 O uso insustentado da terra e dos recursos, que gera milhões de refugiados ambientais46; e a superpopulação que segundo alguns cientistas excede a capacidade dos recursos disponíveis; 47 Estes exemplos, isto só para citar alguns, demonstram os efeitos da gerencia meramente antropocêntrica e através deles, evidencia-se a necessidade urgente de 43 Ver entrevista de Aziz ab’Saber , Aquecimento Global é fato,por Cláudio Blanc. In. Aquecimento Global. Ano 1 – Nº 4. São Paulo: Ed. Online, p. 18-19. 44 Vide. Um buraco no céu: destruição do filtro que permite a vida na Terra, por Cláudio Blanc. In. Aquecimento Global. Ano 2 – Nº 2. São Paulo: Ed. Online, p. 19-20. 45 Ilhas de urbanas de calor, por Gustavo Macedo de Mello Baptista. In. Scientific American Brasil. Ano I – Nº 2. São Paulo: Ediouro Duetto Editorial, 2010, p. 24-30. 46 “Em 1995 era 25 milhões de refugiados ambientais contra 27 milhões de refugiados políticos, religiosos ou de guerra.” Segundo a Cruz Vermelha, em escala global os problemas ambientais desalojam mais pessoas que as guerras. Alguns estimam que até o final da década serão 50 milhões de refugiados e 200 milhões nos próximos 30 anos. Ver: Refugiados ambientais – vítimas do aquecimento global ou protagonistas da destruição do meio ambiente?, por Cláudio Blanc. In. Aquecimento Global. Ano 1 – Nº 3. São Paulo: Ed. Online, p. 30-35. 47 Mais detalhes em Praga humana, por Cláudio Blanc. In. Aquecimento Global. Ano 1 – Nº 3. São Paulo: Ed. Online, p. 36-41. uma reavaliação do “crescimento” que buscamos. Racionalizando de uma vez por todas, a transnacionalidade dos efeitos da poluição e da degradação dos recursos naturais e os seus reflexos em todo o sistema planetário, vez que, mais cedo ou mais tarde, indiscriminadamente, todos os sentiremos. REFERENCIAS ADAM, Roberto Sabatella. Princípios do ecoedifício: integração entre ecologia, consciência e edifício. São Paulo: Aquariana, 2001. BAPTISTA, Gustavo Macedo de Mello. Ilhas de urbanas de calor. Scientific American Brasil. Ano I – Nº 2. São Paulo: Ediouro Duetto Editorial, 2010. BLANC, Cláudio. Aquecimento Global é fato. Aquecimento Global. Ano 1 – Nº 4. São Paulo: Ed. Online. _____________. Praga humana. Aquecimento Global. Ano 1 – Nº 3. São Paulo: Ed. Online. _____________. Refugiados ambientais – vítimas do aquecimento global ou protagonistas da destruição do meio ambiente? Aquecimento Global. Ano 1 – Nº 3. São Paulo: Ed. Online. _____________. 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