PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SIMULADOR DE EFEITO FLICKER PROF. D.SC. JOSÉ T. OLIVEIRA ; PROF. DR. M ANOEL F. M EDEIROS; PROF. D.SC. A NDRÉS O. SALAZAR; GRAD. A NALUIZA A. NASCIMENTO Departamento de Engenharia Elétrica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte Campus Universitário, S/N, Natal-RN, CEP: 59072-970 E-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]. ¾¾ Resumo O objetivo deste trabalho é apresentar o projeto e a montagem de um simulador para produzir o efeito Flicker. O simulador é constituído de uma chave de estado sólido e um circuito de controle com a finalidade de variar as tensões na carga e produzir o Flicker. Equipamentos de uso comercial e residencial, como geladeiras, monitores de computadores, no-break e lâmpadas foram testadas e os resultados são analisados para verificar a influência do fenômeno na operação de tais equipamentos. ¾ Abstract This work presents the project and construction of a Flicker’s effect simulator. This one is compose of a solid-state switch and a control circuit to change the voltage value in the load and cause the Flicker. Commercial and residential use equipment, like refrigerators, computers monitor, no-break and lamps was tested. With the measured values it can analyze what is the maximums Flicker’s levels on the loads. Keywords ¾ Flicker, simulation; disturbs. 1 Introdução O termo Flicker é definido como o impacto da flutuação da tensão em lâmpadas que é percebido pelo olho humano. O termo flutuação de tensão refere-se às variações de envoltória que se manifestam nos valores RMS das tensões de suprimento em 60 HZ. Esse efeito encontra-se relacionado com oscilações de baixa freqüência (<25Hz). O termo Flicker pode ser traduzido como cintilação. O efeito da cintilação também pode ser considerado uma percepção subjetiva que varia para cada indivíduo, já que tal fenômeno traduz-se na sensação que é experimentada pelo sistema visual humano, quando este é submetido a variações do fluxo luminoso, principalmente em lâmpadas incandescentes. A Figura 1 (Electrotek Concepts) mostra o comportamento típico da forma de onda de tensão deformada devido à presença do Flicker: Nesse exemplo, o fenômeno foi causado por um forno a arco, uma das causas mais comuns de flutuações de tensão em sistemas de transmissão e distribuição de energia. O sinal Flicker pode ser definido como sua magnitude RMS expressa em relação à fundamental. O Flicker RMS será medido Figura 1 - Flutuação de tensão provocada por um forno a arco em operação 313 Figura 2 - Circuito para simulação de Flicker em respeito à sensitividade do olho humano. Geralmente níveis de Flicker de cerca de 0,5p.u. podem resultar em um efeito perceptível nas lâmpadas. Diversas causas provocam o efeito como: precariedade da rede de distribuição da via pública, indústrias pesadas conectadas a re des subdimensionadas. De um modo geral, esse tipo de problema é causado por cargas industriais. Dentre as causas mais comuns destacam-se: as máquinas de solda, os laminadores, os fornos a arco, e os aparelhos de raio X. Dentre os prejuízos decorrentes de um suprimento cuja tensão possui as características ilustradas na Figura 1, tem-se: • • • • • • • • Flicker ou cintilação luminosa; Queda no rendimento de equipamentos elétricos; Oscilação de potência e do torque de motores elétricos; Interferência nos sistemas de proteção e controle; 2 Descrição do Sistema O circuito do simulador é apresentado na Figura 2, com uma alteração em relação ao circuito original (Deckmann): o acréscimo de uma chave em paralelo ao resistor. As variações regulares de tensão são obtidas através da inserção de um resistor de potência, em série com a carga, que é curto circuitado periodicamente através de uma chave de estado sólido acionada por um sinal pulsante proveniente de um oscilador. Todos os circuitos foram montados em laboratório, em placas de circuito impresso e em uma caixa que facilitará o manuseio e a utilização do simulador. A seguir estão descritos os componentes do circuito: • Oscilador: gera uma onda quadrada cuja frequência pode ser ajustada para valores entre 12 e 35 Hz. Chave de Estado Sólido: freqüência máxima de operação 400Hz, corrente máxima 45A e tensão de operação 240V. Carga a ser testada: durante as simulações foram utilizadas as seguintes cargas para teste: lâmpada incandescente, Monitor de computador, No-Break, Refrigerador doméstico e Lâmpada Fluorescente. Analisador de Redes AR5: Para medição dos dados nas simulações utilizou-se o Analisador de Redes AR5, da CIRCUTOR. Esse equipamento mede e calcula os parâmetros referentes ao efeito Flicker. . Iremos utilizar os seguintes parâmetros para nossa análise: [Manual do Analisador de Redes AR5]. • Perceptibilidade (P): indica o nível de percepção não-linear do conjunto olho-cérebro, é obtido a partir do valor médio dos valores de Flicker ponderados de acordo com suas respectivas frequências (Flicker RMS). • Perceptibilidade máxima (P0,1, P1, P3, P10, P50): coeficientes que indicam qual a máxima perceptibilidade alcançada durante 0,1%, 1%, 3%, 10%, 50% do tempo programado (período de Pst (5 minutos)). Software Power Vision: Para análise dos dados coletados será utilizado o software Power Vision V.1.2b, da CIRCUTOR, através deste programa pode-se efetuar o "download" do arquivo em que estão guardados os dados no AR5 e visualizar: tabelas com os níveis de Severidade e Perceptibilidade medidos, gráficos 314 Tabela 1. Equipamentos Testados com o Simulador. Equipamento Lâmpada Incandescente 200W Monitor 14” No-Break 2000VA Refrigerador Lâmpada Fluorescente Figura 3 - Forma de onda aplicada à carga pelo simulador Tempo x Severidade, todos com horários precisos. 3 Resultados Experimentais As medições foram realizadas em intervalos de cinco minutos, tempo necessário para que o analisador calcule os parâmetros referentes ao nível de Flicker aplicado à carga. A Figura 3 mostra a forma de onda sobre a carga enquanto o circuito está ligado. Esta Figura mostra que a tensão fundamental encontra-se modulada por uma onda de baixa freqüência e de amplitude ∆V. É importante saber que em situações reais várias freqüências de modulação encontram-se presentes, nessas situações a modulação será formada por uma onda aleatória determinada pela carga perturbadora. Os equipamentos testados estão listados na Tabela 1: Intervalo de tempo Comportamento do Equipamento 1 hora O Flicker causou incômodo visual 3 horas Normal 1hora Normal 1 hora Normal ½hora Normal Tabela 2. Resultados das medições efetuadas com a lâmpada. Medição 1ª 2ª 3ª Tensão F-N Nível PST 166 1,4 165 1,7 165 0,9 P 1% 22,09 32,49 4,84 P 50% 0,04 0,04 0,04 Foram aplicados, para cada carga, níveis de Flicker variando de 0,4pu a 32pu. O gráfico da Figura 4 mostra os níveis de Flicker (pst) aplicados ao Refrigerador. A Tabela 2 mostra os resultados das medições dos níveis de Flicker utilizando-se uma lâmpada incandescente como Carga. O nível de P 1% é alto, pois indica o momento em que o simulador é conectado à carga, percebe-se que este nível encontra-se bem acima da norma, e durante esse o intervalo de funcionamento do simulador pode-se perceber que o Flicker na lâmpada provoca uma sensação incômoda no sistema visual, mas, como já foi citado, essa é uma sensação Figura 4 – Níveis de Flicker (pst) aplicados ao Refrigerador 315 subjetiva, já que algumas pessoas não conseguiram perceber o problema. O nível de P 50% indica o nível de Flicker na alimentação normal pela rede elétrica, e o nível de Severidade (Pst) mostra o nível de Flicker em p.u. em cada medição, percebe-se que em apenas um dos casos, na 3ª medição, o nível está abaixo do nível limite da presença de Flicker (1,0 pu) (Tompson et al). 4 Conclusões Depois de construído o sistema, foram testados diferentes cargas, tal como mostra a tabela-1. O efeito mais evidente foi com as lâmpadas incandescentes, provocando incomodo visual. Com relação ao monitor de computador e no-break, o efeito aparente foi mínimo devido ao fato que esses tipos de equipamento foi projetado para trabalhar em uma faixa de tensões muito grande. Sobre o refrigerador domestico nos primeiros testes não foram comprovados a interferência do efeito flicker. Atualmente estamos realizando testes com outros tipos de cargas comerciais para comprovar os efeitos do flicker e o desempenho destas cargas sobre estas condições. Agradecimentos Este trabalho está sendo financiado pelo “Programa de Pesquisa & Desenvolvimento da COSERN. Projeto Transitórios Eletromagnéticos em Redes de Distribuição de Energia Elétrica: Ênfase em Qualidade da Energia Elétrica” em convênio com o Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Referências Bibliográficas Deckmann, S. M, (1999). Nova Abordagem para a atenuação do efeito Flicker nas redes, III Seminário Brasileiro de Qualidade de Energia Elétrica SBQEE. Rufino, Maria das Graças S., Oliveira, José C. de, Gonçalves, Walkiria K. A., (2001). Contribuições às análises da propagação das flutuações de tensão sob o enfoque do fenômeno Flicker, IV SBQEE. Arruda, Antônio A. C., Tompson, Rogério L., Macedo, Waldeci de, Vilares, Nelson da S., (1999). Sobretensões, Coordenação de Isolamento de Interferências, IV Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica - SNPTEE. Electrotek Concepts, (1994-1997). Power Quality Terms and Definitions, Knoxville, Tennessee, USA. CIRCUTOR S.A., Manual do Analisador de Redes AR5. CIRCUTOR S.A., Manual do Software Power IEC 555-3 “Disturbances in Supply Systems Caused by household appliances and similar electrical equipment”, Ed. 1982. Zabala, L. at all, (1999) “Flicker Assessment: Individual Contribution of an Arc Furnace and Flicker Transmission”, CIRED. 316