ensino da história da antiguidade clássica: o egito antigo

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ISBN 978-85-8015-080-3
Cadernos PDE
I
Versão Online
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
1
ENSINO DA HISTÓRIA DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA: O EGITO ANTIGO –
OLHARES POR MEIO DE TRECHOS DO FILME “A MÚMIA”
1
MARLI APARECIDA DE ANDRADE 2
RESUMO
Os docentes da disciplina de História têm utilizado filmes e trechos de filmes,
na tentativa de ilustrar, esclarecer ou simplesmente complementar um
conteúdo. Porém, não há muitas vezes a preocupação em desenvolver no
discente o conhecimento histórico. O principal objetivo de trabalhar com o
cinema em sala de aula, em geral, é aprofundar melhor conhecimentos sobre
diferentes culturas de forma ilustrativa. Contudo, o professor precisa planejar
as aulas, escolhendo o filme que se relaciona com o conteúdo e elaborando
atividades que possibilitem que o aluno atinja os objetivos propostos. O que se
deve buscar é o desenvolvimento da consciência histórica partindo do uso dos
recursos visuais, para que o aluno possa analisar a sociedade na sua
totalidade, ou seja, em todas as suas dimensões sociais, culturais, políticas,
econômicas e religiosas. E, com isso, espera-se que o aluno se perceba como
sujeito histórico, capaz de atuar efetivamente na construção da história
individual e coletiva. A utilização de fundamentos teórico-metodológicos que
contempla registros iconográficos para o ensino de História pode oportunizar
uma melhoria significativa no desempenho escolar dos estudantes. Sendo
assim, objetiva-se neste artigo, discutir proposições didáticas para o ensino do
tema Egito Antigo, para o 6º ano do Ensino Fundamental, a partir do filme “A
Múmia”. Tais atividades e seus resultados foram desenvolvidos no âmbito do
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), no período de 2014
(projeto) e 2015 (implementação).
1
Artigo Professor PDE – 2014, apresentado como exigência das atividades finais do Programa
de Desenvolvimento Educacional, sob orientação da Professora Doutora Nadia Gaiofatto
Gonçalves – UFPR – PR
2
Professora da Rede Pública de Ensino do Paraná, formada em História pela UNICENTRO –
PR, especialização em Metodologia do Ensino de História. E-mail: [email protected]
2
Palavras-chave: ensino de História; Egito Antigo; cinema.
Introdução
Para trabalhar os conteúdos da disciplina de História, é importante que
sejam utilizados não só documentos escritos, mas também outros como
registros iconográficos.
Acredita-se que ao utilizar recursos visuais, o
educando poderá ser mais receptivo ao aprendizado da História.
Segundo observações sistemáticas realizadas durante a prática docente,
muitos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental têm dificuldades em
solucionar atividades que exigem uma linha de pensamento mais complexa.
Demonstram preocupação excessiva em buscar respostas unicamente no livro
didático e possuem dificuldade em elaborar ideias próprias a respeito do que foi
questionado.
Dessa forma, o objetivo desse artigo é discutir a utilização de
fundamentos teórico-metodológicos que contemplem registros iconográficos no
ensino de História, por meio de um projeto didático implantado em uma turma
de 6. Ano de uma escola pública estadual do município de Pinhais, e como
estes oportunizaram uma melhoria significativa no desempenho escolar dos
estudantes.
O
artigo
foi
elaborado
dentro
da
proposta
do
Programa
de
Desenvolvimento Educacional (PDE). O PDE é uma política pública de Estado
do Paraná, regulamentado pela Lei Complementar nº 130, de 14 de julho de
2010 que estabelece o diálogo entre os professores do ensino superior e os da
educação básica, por meio de atividades teórico-práticas orientadas, buscando
como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na
prática escolar da escola pública paranaense.
No presente estudo, o conteúdo escolhido foi o Egito Antigo e os trechos
selecionados para ilustrá-lo foram retirados do filme “A Múmia” (1999). Buscouse com a proposta, que os alunos pudessem compreender melhor o assunto e
participar de forma mais ativa na construção do conhecimento.
3
Este artigo apresenta inicialmente fundamentação teórica, com o
embasamento sobre a utilização de filmes em sala de aula. Em seguida, é
relatado um breve histórico sobre o conteúdo específico Egito Antigo, à luz da
historiografia. Em outro momento, traz o desenvolvimento das atividades
realizadas para a construção do conteúdo, em conjunto com os trechos do
filme, e posteriormente para a avaliação dos alunos, assim como os resultados
obtidos.
1. Uso do cinema para o ensino de História
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica História (DCN) do Ensino Fundamental (PARANÁ, 2008) o ensino de História
deve ter como finalidade a formação do pensamento histórico dos estudantes.
Isso se dá quando professor e alunos utilizam em sala de aula e nas pesquisas
escolares o método de investigação articulado pelas narrativas dos
historiadores. Então, os alunos perceberão que elas estão em diferentes fontes
(livros, cinema, canções, palestras, relatos de memória, etc.), sendo que eles
se utilizam dessas fontes para construírem suas narrativas (PARANÁ, 2008).
A História, segundo as Diretrizes Curriculares (PARANÁ, 2008), tem
como objeto de estudo os processos históricos relativos às ações e às relações
humanas praticadas no tempo, bem como a respectiva significação atribuída
pelos sujeitos, tendo ou não consciência dessas ações. As relações humanas
produzidas
por
essas
ações
podem
ser
definidas
como
estruturas
sóciohistóricas, ou seja, são as formas de agir, pensar, sentir, representar,
imaginar, instituir e de se relacionar social, cultural e politicamente.
O ensino de História deve buscar uma metodologia que privilegie
atividades que envolvam e estimulem o interesse dos discentes em aprender
um determinado assunto. Considerando essa abordagem, o uso do cinema,
como trechos de filmes, como recurso de aprendizagem pode ser de enorme
relevância. Apesar de ser uma linguagem com mais de cem anos de existência,
o cinema ainda não foi “captado” devidamente, do ponto de vista didático e da
crítica histórica, para dentro da sala de aula (NASCIMENTO, 2008). O docente
4
precisa analisar o filme para evitar que haja anacronismo, isto é, que o filme
transmita uma falta de alinhamento, uma dissonância em relação à época em
que se passa a história (NAPOLITANO, 2013). Outro aspecto é o efeito da
super-representação:
O efeito da super-representação pode ser particularmente forte em
crianças
mais
novas,
decorrente
da
força
que
a
imagem
(particularmente a imagem fílmica) possui como experiência simulada
da realidade. Também conhecido como efeito “túnel do tempo”, essa
experiência pode induzir a uma assimilação direta, sem mediações,
da representação fílmica como simulacro da “realidade histórica”. [...]
(NAPOLITANO, 2013 p. 39)
Para Mocellin (2009) o cinema tem uma relação muito mais específica
com a História do que com qualquer outra matéria que constitui hoje o currículo
das escolas de Ensino Fundamental e Médio: assistir a um filme sobre Biologia,
Física, Química ou Português em sala de aula não é o mesmo que assistir a
um filme histórico. Então ensinar a partir de recortes de filmes significa
provocar o olhar do aluno, estimular seus sentidos com a imagem em
movimento; despertar uma visão crítica, na perspectiva de que ele possa
perceber que aquilo que vê é uma representação de um determinado momento
histórico. O docente precisa planejar sua aula a fim de que o estudante seja
capaz de assistir ao filme ou trechos dele e tenha orientação suficiente para
fazer uma análise da história ali representada. Além disso, cabe ao professor
um papel importante na construção desse sujeito crítico, cujo objetivo deve ser
a sua preparação para lidar com as representações que estão subentendidas
nas linguagens cinematográficas.
O ensino de História a partir de trechos de filmes deve despertar nos
discentes, além da curiosidade e interesse, o desenvolvimento de um olhar
mais crítico e reflexivo diante de uma representação fílmica de uma
determinada realidade. Para Bittencourt (2004) não existe um modelo
simplificado para introduzir os alunos na análise crítica da imagem
cinematográfica, mas pode-se destacar a impossibilidade de deter-se apenas
na análise do conteúdo do filme. Já Napolitano (2013), afirma que o professor
5
não precisa ser crítico profissional de cinema para trabalhar com filmes na sala
de
aula.
Mas o
conhecimento
de
alguns
elementos
de
linguagem
cinematográfica vai acrescentar qualidade ao trabalho. Boa parte dos valores e
das mensagens transmitidas pelos filmes a que assistimos se efetiva não tanto
pela história contada em si, e sim pela forma de contá-la. Existem elementos
sutis e subliminares que transmitem ideologias e valores tanto quanto a trama e
os diálogos explícitos.
Sob essa perspectiva, a utilização de recortes de filmes como
ferramenta de ensino-aprendizagem para o ensino de História favorece as
condições para que os discentes possam desenvolver novos conhecimentos e
não limitar-se a reproduzir enunciados e ideias prontas. Assim, espera-se que
estes alunos sejam instigados a se envolver com os conteúdos propostos
conseguindo estabelecer relações contextuais para que possam atingir os
objetivos desejados.
Para Napolitano (2013), é necessário que o docente atue como
mediador, não apenas conduzindo a classe antes da mostra do filme, mas
também propor outras atividades, fontes e temas. Nesse sentido, o professor
deve sugerir leituras mais aprofundadas, indo além do lazer, ligando emoção e
razão de forma mais direcionada, conduzindo o aluno a ser um espectador
mais crítico, propondo relações de conteúdo/linguagem do filme com a matéria.
2. O Egito Antigo
Em relação ao tema Egito Antigo, geralmente os livros didáticos de
História para o 6º ano trazem aspectos religiosos, econômicos, sociais e
políticos, porém com poucos documentos, poucas referências sobre a África, e
poucas proposições de diálogo com o Egito do tempo presente, aspectos que
foram contemplados nas proposições desenvolvidas neste trabalho.
Como principais referências para a discussão do tema Egito Antigo e a
elaboração de subsídios e atividades, a partir do filme A Múmia (1999), foram
utilizadas as seguintes obras: Coleção História Geral da África (UNESCO,
2014); Deuses, múmias e ziggurats: uma comparação das religiões antigas do
Egito e da Mesopotâmia, de Ciro Flamarion Cardoso (1999); Egiptomania e
usos do passado: o Museu Egípcio e Rosacruz de Curitiba, tese de Leandro
6
Hecko (2013);
e Imagens do Egito antigo: um estudo de representações
históricas, de Raquel dos Santos Funari (2006).
Tais referências, além de subsidiar as problematizações propostas, são
sugeridas também como leituras para os professores, e até mesmo podem ser
utilizadas como fontes secundárias nas atividades.
Desde a época clássica, passando pela Idade Média, pelos tempos de
Napoleão e Champollion até os dias atuais, entre os povos da Antiguidade, o
Egito se destaca e impressiona com sua beleza mágica, seus faraós,
pirâmides, esfinges e o rio Nilo. Turistas, cineastas, artistas e egiptólogos
percorrem o país desde o século XIX. Também atraía outros povos já na
Antiguidade, fascinando gregos, romanos e hebreus. Isso se intensificou a
partir do século XVIII, quando os contatos com o Egito aumentaram (FUNARI,
2006).
Situado no nordeste da África não parecia muito promissor e
provavelmente não sobreviveria sem um importante fator: o maior rio do
mundo, para suprir suas necessidades. O Rio Nilo, não sem motivos, tornou-se
essencial (e sagrado) para o povo do Antigo Egito (3000 – 30 a.C.), essa
relação entre eles transformou-se numa bela história, que pode ser refletida na
frase “O Egito é a dádiva do Nilo”, do historiador grego Heródoto. Tomando
conhecimento do sistema de cheias desse grande rio, os egípcios organizaram
uma avançada atividade agrícola que garantiu o sustento de um grande
número de pessoas. A partir do período Pré-Dinástico (até 3200 a.C.),
começam a surgir mudanças sociais drásticas, notadas pela arqueologia.
Estudos ao sul do Vale do Nilo Egípcio revelaram que no final deste período já
se encontrava lá uma população aglomerada em construções fortificadas e
com boas condições de irrigação de sua agricultura, propiciadas pelas cheias
do Nilo. O rio em si, ao mesmo tempo em que fertilizava, inundava (PINSKI,
1994).
O Egito, dentre todas as sociedades do Oriente Próximo Antigo, é a
civilização mais rica de material arqueológico, sendo então a civilização com
mais fontes históricas para pesquisa. Entre o período de 5000 e 3000 a.C,
acontece o surgimento do reino unificado do Egito.
Entre
aproximadamente
7
3000 e 332 a.C., “o Egito conheceu várias épocas de unidade dinástica e
centralização de poder, em alternância com períodos de descentralização,
dinastias paralelas ou domínio estrangeiro” (CARDOSO, 1988, p. 101)
Os egípcios acreditavam na vida após a morte: os mortos seriam
julgados por vários deuses e poderiam retornar aos seus corpos se fossem
absolvidos. Para isso eles eram conservados pela técnica da mumificação.
Havia diferentes tipos de mumificação, desde os processos mais simples até os
mais luxuosos (COTRIM, 2005). Em nenhuma outra nação antiga ou moderna,
a ideia de uma vida após a morte desempenhou papel tão importante e
influenciou tanto a vida das pessoas como no antigo Egito. Essa crença foi
favorecida e influenciada pelas condições geográficas do Egito, onde a aridez
do solo e o clima quente contribuíam para a conservação dos corpos, o que
pode ter influenciado a convicção de que a vida continuava no além (UNESCO,
2010).
A relação entre religião, ciência e arte é estreita e significativa no Egito.
As concepções dos egípcios acerca dos reis mortos propiciaram enorme
desenvolvimento científico, já que sem matemática, geometria, mecânica e
outros conhecimentos, construções como as pirâmides não teriam sido
possíveis. Também a pintura, a arquitetura, a escultura, a arte de embalsamar,
entre outras artes, desenvolveram-se para dar forma às convicções religiosa
(PINSKI, 1994).
Com tal histórico, o Egito já serviu de inspiração para diversos filmes. O
filme “A Múmia” (EUA-1999), de Stephen Sommers é uma boa oportunidade de
inserir os discentes a uma viagem à fascinante terra dos faraós.
Esse filme começa no ano de 1290 a.C., mostrando o faraó chegando
em Tebas, onde descobre a traição de sua escolhida e seu sumo sacerdote. A
jovem juntamente com o sacerdote assassina o faraó. Ela se suicida sabendo
que seu amado poderá ressuscitá-la. Ele foge e rouba seu corpo, porém é
seguido, capturado e condenado a ser mumificado vivo. O tempo passa e o
filme vai para o ano de 1926, onde uma jovem bibliotecária juntamente com
seu irmão e alguns exploradores vão para o local onde supõe-se estar o
chamado Livro dos Mortos, com seus feitiços, segredos e magias. A múmia é
8
ressuscitada pela bibliotecária, trazendo consigo as dez pragas do Egito. O
objetivo da múmia após se regenerar é ressuscitar sua amada. A múmia
persegue e mata todos os que estão com os vasos sagrados, onde continham
os órgãos da sua amada. Após voltarem ao local onde está seu corpo, a múmia
tenta ressuscitá-la, porém o Livro de Ouro é encontrado pelos exploradores. O
irmão da bibliotecária recita algumas palavras do livro, o que torna a múmia
mortal, e o explorador americano consegue matá-la. A cidade acaba sumindo
nas areias do deserto e os três voltam carregando ouro sem sequer
perceberem. 3
3. Atividades sobre o tema e o filme – 6. ano
A primeira atividade desenvolvida foi o Estudo Dirigido, para introduzir o
tema sobre o Egito Antigo e permitir que os alunos participassem da
construção do conteúdo. Para isso, eles foram instigados a pesquisar em livros,
revistas e na web informações relacionadas ao Egito Antigo e apresentá-las na
forma escrita. Foram divididos em cinco equipes com cinco alunos, e cada uma
ficou responsável por uma temática específica: religião (grupo 1), escrita (grupo
2), mumificação (grupo 3), arquitetura (grupo 4) e política e sociedade (grupo
5). Foi explicado a cada grupo como eles deveriam realizar a pesquisa do tema
proposto, para então apresentá-lo à turma. Os grupos foram levados à
biblioteca da escola e para isso foram usadas 5 aulas. Eles pesquisaram
conforme a instrução do professor. Posteriormente, cada grupo fez uma
apresentação oral do seu tema aos demais colegas e ao professor, utilizando
cartazes em papel Kraft.
Durante as apresentações, foram percebidas algumas características em
cada grupo. O grupo 1 demonstrou certa resistência (timidez) à apresentação
oral. O grupo 2 se mostrou muito desenvolto, coeso e participativo. O grupo 3
teve uma apresentação com riqueza de detalhes e havia muita unidade no
grupo. O grupo 4 fez um excelente trabalho visual (cartaz), porém não
conseguiu interligar isso à explicação oral. O grupo 5 foi muito unido e
participativo, e expôs o tema de forma criativa e organizada.
3
A resenha pode ser consultada em: http://bogiecinema.blogspot.com.br/2013/11/resenha-critica-
mummy.html
9
A segunda atividade desenvolvida foi a análise dos trechos do filme. No
primeiro trecho, de 0 a 3 minutos, o enfoque principal foram as pirâmides.
Antes de iniciá-lo, foi feito um breve comentário sobre o contexto do filme com
a turma. Foi enfatizado que este foi produzido para o cinema e a TV e não para
fins didáticos, e por isso era possível perceber cenas irreais. Porém alguns
trechos retratavam parte da cultura egípcia antiga, assim como fatos que
realmente aconteceram, como as construções das pirâmides. 4
Foi passado o início do filme até os três minutos da história, e então foi
feita a leitura do livro didático Jornadas.hist, unidade 4, em que há um texto
que se refere às pirâmides, e imagens de algumas delas (PANAZZO, 2012, p.
80-88). Avaliou-se a participação dos alunos nas discussões em sala e
percebeu-se que boa parte deles fez algum tipo de comentário e principalmente
várias perguntas, tais como: “Quanto tempo levava para construir uma
pirâmide?”; “E se o faraó morresse antes de terminar a construção da „sua‟
pirâmide?”; “Algum faraó ressuscitou e morou dentro de alguma pirâmide?”.
Após explicações sobre a religião egípcia e sua importância, a maioria
compreendeu que eles só faziam tais construções, com tamanhas dimensões
porque realmente acreditavam em uma vida após a morte e que nessa outra
vida iriam precisar de tudo aquilo que estava “guardado” dentro das pirâmides
quando suas almas retornariam aos seus devidos corpos.
No segundo trecho escolhido (de 39 até 48 minutos), o enfoque foi na
mumificação. Isso aguçou muito a curiosidade dos alunos no que se refere à
retirada dos órgãos para depositá-los nos vasos sagrados. A parte com que
eles mais se surpreenderam foi a cena em que uma das personagens explica
que a retirada do cérebro era feita pelas narinas com um gancho
incandescente. Após a exibição, os alunos fizeram muitas perguntas: “O corpo
demorava para ficar pronto?”; “Cheirava mal?”; “Quem fazia a mumificação?”;
“Lá no Egito ainda mumificam corpos?”.
Foi abordado novamente o tema da religião, para que houvesse uma
certa compreensão. Também foram feitos comentários sobre a questão
4
Sobre construções das pirâmides, consultar livro: CASSON, Lionel. Antigo Egito. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1983.
10
socioeconômica, pois somente as pessoas das classes mais altas poderiam
ter seus corpos mumificados.
No terceiro trecho (de 53 a 61 minutos) o tema principal foi o Livro dos
Mortos. Após assistirem o trecho, foi feito um comentário sobre o que
possivelmente continha o livro: magias, segredos, leis, mistérios, etc, sendo
tudo em escrita egípcia. Também comentou-se sobre a difícil compreensão de
tal escrita. Como atividade, foi solicitado que os alunos fizessem uma pesquisa
sobre o Livro dos Mortos e a escrita egípcia. Eles trouxeram vários textos
referentes ao Livro dos Mortos e suas curiosidades e sobre a escrita egípcia,
inclusive que a mesma foi decifrada pelo francês Jean François Champollion.
Porém, nem todos os alunos trouxeram a pesquisa e por isso foi pedido aos
que fizeram que lessem para turma.
No quarto trecho (de 71 a 79 minutos) foi enfatizada a Múmia. Foi a
parte mais empolgante para a turma. A maioria se surpreendeu em vários
momentos com a aparência da múmia e a sua “regeneração”, quando ela tirava
a vida de quem estivesse com os canófagos (jarros sagrados). Na aula
seguinte, os alunos foram para a biblioteca pesquisar sobre tais jarros e seu
significado. A maioria (18 alunos) pesquisou e comentou, porém um grupo
menor (6 alunos) não apresentou tanto interesse pela pesquisa. As perguntas
mais comuns foram: “Como a múmia se regenera?”; “Onde ela ficava quando
não aparecia para eles?”; “A múmia que mandava as pragas?”. Estas referiamse mais à dimensão ficcional do filme, o que foi explicado para a turma.
O quinto trecho (de 98 a 100 minutos) mostrou as riquezas que apenas
um faraó possuía. Os alunos ficaram impressionados com a cena que mostrou
uma enorme quantidade de objetos de ouro e jóias em um único local. Após o
trecho foi explicado sobre as armadilhas feitas pelos construtores das
pirâmides para guardar o local. Alguns ficaram chocados ao saber do relato de
que quando essas salas eram cheias com os pertences do faraó, os escravos
eram assassinados para que não revelassem as armadilhas ou passagens
secretas para se chegar àquele local. Novamente, houve muitas perguntas, tais
como: “Todo aquele ouro era só de um faraó?”; “Ninguém roubava esse
tesouro?”; “Onde estão esses objetos hoje?”.
11
Durante a exibição dos trechos, a maioria dos alunos demonstrou
dificuldade em se localizar no tempo histórico. Foi esclarecido, então, que o
filme se passava em três momentos: 3000 a. C. (época do faraó), 1923 (século
XX) e 1926.
A terceira atividade foi o Mapa Conceitual5, na qual houve uma demanda
maior de aulas. Foi explicado como se dá sua construção e qual o seu objetivo.
Os grupos partiram da palavra “Egito”, e foram acrescentando palavras-chave
de acordo com suas pesquisas e informações sobre o filme. Esses mapas
(exemplo em anexo) foram confeccionados em cartolina e ficaram em
exposição na sala de aula. Os alunos assimilaram alguns conceitos até então
não conhecidos por eles, e puderam relacioná-los ao tema. Nas figuras 1 e 2,
em anexo, estão expostos dois exemplos de Mapa Conceitual produzidos pelos
grupos. O ponto de partida escolhido foi a palavra “Egito”. A partir do texto do
livro didático (PANAZZO, 2012, p. 80-88), os alunos escolheram algumas
palavras-chave e as conceituaram.
No mapa exemplificado na figura 1 pode-se observar a relação que os
alunos fizeram entre imagens que viram durante o filme com as palavras
encontradas por eles no texto lido. Na figura 2 eles procuraram sintetizar e
tornar mais visual o que estudaram no livro e o que viram nos trechos do filme.
A quarta atividade foi a construção do edublog6. Dos cinco grupos,
apenas dois se prontificaram a construir um edublog, porém os demais foram
orientados a participar, postando comentários ou textos sobre o tema. A
maioria fez essa contribuição, postando imagens, textos, comentários, vídeos e
jogos. Os alunos foram avaliados de acordo com sua participação.
A quinta atividade foi a visita monitorada ao Museu Rosacruz 7 de
Curitiba, realizada no dia 28/10/15. Fundado em 1990, este museu recria a
cultura do Egito Antigo, com réplicas de artefatos arqueológicos. O principal
destaque do museu, e o que mais impressionou os alunos, é a múmia de uma
5
Exmplo disponível em: http://egito1.pbworks.com/w/page/8477055/Mapa%20conceitual
Os blogs construídos pelos grupos foram:
a-historia-do-antigo-egito.webnode.com
amanda-reis.webnode.com
memoriasdeumfarao.blogspot.com.br
7
Rua Nicarágua, 2453 – Tingui, Curitiba – PR
Site: http://urci.org.br/museuegipcioerosacruz/
6
12
mulher egípcia chamada Tothmea, que viveu há aproximadamente 2500 anos.
Os alunos ficaram impressionados desde a entrada no prédio por causa da
arquitetura, até o momento em que entraram na sala onde fica exposta a
múmia. Após a visita, os alunos foram orientados a fazer um relatório sobre a
visita e as explicações do monitor. Esta foi a atividade que reuniu o conteúdo
estudado sobre o Egito Antigo, a análise dos trechos do filme “A Múmia” e a
parte mais visual e próxima da história exposta previamente, que foi o museu.
Nos relatórios que foram apresentados pelos grupos, os alunos
comentaram que os mesmos jarros que viram no museu também haviam
aparecido no filme. Outro aspecto exposto por eles foi a escrita egípcia. O
monitor explicou para os alunos que nem todos conseguiam decifrá-la, e eles
relataram que no filme era dessa forma, pois somente a bibliotecária,
personagem do filme, conseguia entender o que estava escrito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se um envolvimento significativo dos alunos com o conteúdo
exposto de uma forma diferente a que eles estão habituados, já que este foi
apresentado também na forma visual, com a exposição dos trechos do filme “A
Múmia”.
Percebeu-se que houve uma melhora da aprendizagem e do interesse
dos alunos pelo conteúdo proposto, já que com a exibição do filme,
complementada com a visita ao museu, a narrativa que parecia distante,
antiga, abstrata e por vezes desinteressante, tornou-se atrativa, concreta,
visualizada na prática e bem ilustrada. Segundo Raquel dos Santos Funari “um
dos grandes desafios do professor de História, que encontra na sala de aula
um aluno que, direta ou indiretamente, tem contato com o mundo digital (...) é
levá-lo a sentir a História como algo próximo dele.” (FUNARI, 2006, p. 78). De
acordo com a autora, quanto mais isso acontecer, mais ele terá vontade de
interagir com a História como uma prática e não como algo externo ou distante.
As ferramentas e atividades escolhidas tiveram como intenção despertar esse
13
exercício mais prático dos alunos, e percebeu-se que isso foi alcançado pela
maioria deles.
Os alunos foram capazes de perceber durante a apresentação dos
trechos do filme, detalhes e informações sobre a cultura e as características da
sociedade egípcia, que são muito descritivas nos livros didáticos, porém ficam
mais claras com a visualização.
Também foi possível trabalhar com os alunos sobre fatos que são
colocados em revistas, na internet, na televisão e no cinema, como acontece
no próprio filme “A Múmia”, e que não são historicamente comprovados ou são
pura ficção. No decorrer da exibição dos trechos, os alunos questionavam se
certos acontecimentos eram ou não reais, e com isso pôde ser feita uma
abordagem metodológica que não só expusesse os fatos, mas também
desconstruísse os estereótipos.
O projeto desenvolvido no âmbito do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE) possibilitou ao professor da rede pública de ensino estar em
contato com o meio acadêmico e ter a oportunidade de produzir conhecimento,
e não só transmiti-lo. Dessa forma, o professor se torna também um
pesquisador.
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e
métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. São Paulo: Saraiva, 2005.
8. ed; volume único; p. 57.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. O Egito Antigo. São Paulo: Brasiliense, 1988.
CARDOSO,
Ciro
Flamarion
S. Deuses,
múmias
e
ziggurats: uma
comparação das religiões antigas do Egito e da Mesopotâmia. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 1999.
14
FUNARI, Raquel dos Santos. Imagens do Egito antigo: um estudo de
representaçao históricas. São Paulo: Annablume; Unicamp, 2006.
HECKO, Leandro. Egiptomania e usos do passado: o Museu Egípcio e
Rosacruz de Curitiba - PR. 2013. Tese (doutorado) - Universidade Federal do
Parana, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de PósGraduação
em
História.
Defesa:
Curitiba,02/04/2013.
Disponível
em:
<http://hdl.handle.net/1884/30343>. Acesso em: 8 ago 2014.
MOCELLIN, Renato. Ressurreições luminosas” – cinema, história e
Escola: Análise do discurso em épicos hollywoodianos sob a Perspectiva
do letramento midiático. Dissertação de Mestrado. Curitiba: Universidade
Federal do Paraná; 2009.
NAPOLITANO. Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. 5 ed. São
Paulo: Contexto, 2013.
NASCIMENTO, Jairo Carvalho do. Cinema e ensino de história: realidade
Escolar, propostas e práticas na sala de Aula. Fênix – Revista de História e
Estudos Culturais Abril/ Maio/ Junho de 2008 Vol. 5 Ano V nº 2 ISSN: 18076971. Disponível em: www.revistafenix.pro.br. Acesso em 19 mar. 2014.
PANAZZO, Silvia. Jornadas.hist. São Paulo: Saraiva, 2012. 2 ed; 6. Ano; p.
80-88.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares História
para a Educação Básica. Curitiba: SEED-PR, 2008.
UNESCO. Coleção História Geral da África, Unesco, 2014. Disponível em
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/education/inclusive-education/generalhistory-of-africa/#c1098745 Acesso em 08 de agosto de 2014.
15
Anexos:
Exemplo de Mapa Conceitual construído por um dos grupos.
16
Exemplo de Mapa Conceitual construído por um dos grupos.
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