Sociologia Geral Apontamentos de: Mafalda Diogo E-mail: [email protected] Data: Outubro de 2006 Livro: Nota: Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão. A Universidade Aberta não tem quaisquer responsabilidades no conteúdo, criação e distribuição deste documento, não sendo possível imputar-lhe quaisquer responsabilidades. Copyright: O conteúdo deste documento é propriedade do seu autor, não podendo ser publicado e distribuído fora do site da Associação Académica da Universidade Aberta sem o seu consentimento prévio, expresso por escrito. Sociologia Geral —O Contexto— —As grandes linhas de mudança social— Quando Comte baptizou a sociologia em 1839, as pessoas começaram a tomar consciência de que estavam a viver um período de revolução — por um lado industrial e por outro lado a revolução francesa — que originou uma transformação económico-tecnológica e também política.. Tendências de fundo desde o principio do sec. XIX Desde então começou a aperceber-se o potencial dos recursos humanos. Sabemos hoje, como no principio do século XIX que esse é o recurso mais importante. Ele conduz, por seu lado, à importância do saber — o recurso central é o saber. Aceleração da vida social Hoje em dia estamos habituados a um determinado ritmo de vida, a uma renovação constante, a descobertas todos os dias e, ainda por cima, descobertas notáveis. Tudo cresce e se modifica rapidamente. Mas será característica da nossa época ? Desde os anos 50 / 60 que esta aceleração do crescimento do saber se tem vindo a verificar. Por isso não é uma característica da nossa época, apenas um tributo entre muitos, pois já vem de trás desde o sec. XVII (embora não com a intensidade com que se verifica hoje). Tem-se mantido constante, mas com um crescimento exponencial — por isso o sentimos mais hoje. Assim, que critérios devemos utilizar para medir o crescimento do saber ? O crescimento do saber mede-se através do numero de publicações cientificas num determinado período de tempo. Relacionado com isto, prende-se um problema que começou a atormentar os pensadores desde a época em que esta aceleração começou : o excesso de informação disponível. Era física e mentalmente impossível lerem-se tantos periódico, em parte também porque as revistas estavam dispersas e as comunicações eram bastante lentas. A comunidade cientifica começou a entrar em pânico. Ao atingir os 300 periódicos, criou-se o Abstract, um sumário que permitia ao cientista seleccionar de entre a lista dos periódicos aquele que mais lhe interessasse. No entanto, os periódicos continuavam a crescer e hoje já existe mais de um milhão. Inclusive, em 1950, os Abstracts já eram também 300. 2 Em 1665 havia apenas uma revista — a aceleração começou ai. Isto conduz ao problema da natureza do conhecimento e do acesso ás diversas faces do conhecimento e sua articulação. No século XVIII, pensava-se que todos os conhecimentos eram possíveis de dominar. A publicação característica desse tempo era então a Enciclopédia. A mãe das enciclopédias foi a “Encyclopedie Francese” (enciclopédia = ciclo fechado do saber) Nos períodos das duas grandes guerras, houve uma queda no conhecimento. Os cientistas ou eram recrutados para a guerra ou estavam demasiado angustiados para trabalhar. Sempre que ha guerra dá-se um abatimento na actividade cientifica. Littré, discípulo de Comte, foi o autor de um dicionário clássico de língua francesa, que criou com a ajuda de 5 ou 6 amigos — o único que nunca foi revisto, por exigência dos amigos. O dicionário levou 14 anos a fazer, tendo Littré 59 quando começou. Notam-se algumas flutuações ao longo da sua produção — houve duas interrupções: 1870 – Grande derrota dos franceses na Batalha de Sedan 1871 – Criou-se a comuna de Paris, logo ameaçada pelo exército. As guerras levaram à mobilização de imensas pessoas que já não tinham idade para lutar. Quase todos os discípulos de Durkheim morreram na batalha — a sua escola foi aniquilada ! No entanto, a tendência para o crescimento exponencial do conhecimento não se extinguiu; muito pelo contrário continuava visível, nomeadamente nos estudos em física, matemática, electrotécnica, numero de cientistas vivos, numero de universidades, etc. Tudo isso é incompatível com a definição de enciclopédia, uma vez que, quando está para ser impressa, já esta desactualizada. Em 1976, aquando do centésimo aniversário da “Encyclopedie Francèse”, publicou-se a “Nouvelle Encyclopedie”, dividida em 400 volumes: 200 de alto nível, e 200 de fácil compreensão. Este sistema é suportado por uma base de dados existente em França — é suposto os cientistas estarem constantemente a actualizá-la — compilação permanentemente aberta, o que contradiz a definição de enciclopédia. O programa é complementado com uma serie de programas de computador, acompanhados de imagens para facilitar a compreensão dos conceitos. No entanto, o projecto não resistiu. A sociologia geral tem o mesmo problema de como reunir toda a informação das várias ciências sociais. O próprio Durkheim já dizia que era impossível a um especialista abarcar toda a literatura da época. A Aceleração da vida social é um atributo da vida contemporânea, mas acima de tudo, uma tendência forte que já vem de trás e, por isso, não é exclusivo da nossa época. 3 Será possível ter a percepção da totalidade do conhecimento útil ? Já no sec XVII, Jbn-Khaldun, autor de “Prolegomena” (prefácio à história universal de 1000 paginas), dizia que é necessário adquirir um conhecimento geral, mas que depois se torna absolutamente necessária a especialização numa determinada área de interesse. Este processo deu-se primeiro e mais facilmente com as ciências físicas e naturais e de seguida com as sociais. No entanto, esta tendência para a especialização encontra-se em crise, uma vez que é muito mais importante a necessidade de integração que leva à fusão de conhecimentos especializados Hoje em dia, temos acesso selectivo à informação – bibliotecas em cd-rom. No entanto ha o problema da qualidade : nem todos têm o mesmo valor. 95% delas, em todos os ramos do saber, são dispensáveis. Os restantes 5% interessam pela sua natureza expositiva, retórica ou pedagógica. De seguida põe-se o problema da selecção, de como chegar aos 2% 3% realmente importantes. Pode conseguir-se seguindo as criticas das revistas. No entanto, o próprio critico também faz a sua própria selecção : não analisa todas e pode até acontecer que estude as menos importantes. Mesmo assim, nas ciências sociais é possível fazer a selecção do que merece ser lido, ainda que se tenha que passar por cima de muito lixo, e ainda ter tempo para ler sobre domínios de outras disciplinas. Aceleração do Mundo Contemporâneo Crescimento do Saber Re tom ando : A partir dos anos 50, existe uma aceleração no mundo, mas não é característica da nossa época. (vem desde o sec. XVII, XVIII) No sec. XXI sente-se o crescimento de modo mais intenso d que nos séculos anteriores : Sec. XVII e XIX ( séculos da enciclopédia ) è ciclo fechado do saber. 1800 1900 2000 Hoje em dia, as enciclopédias mudaram: são abertas ao uso das novas tecnologias. Assim, devido ao crescimento e inovação constantes, torna-se impossível manter-se actualizada (embora nem sempre o mais novo seja o melhor). È impossível ter-se toda a literatura para a sua especialidade. 4 Há uma incerteza na designação que se deve dar à mudança da sociedade: · · · · Pós-industrial 3ª revolução industrial sociedade de informação sociedade de saber / comunicação O conhecimento parece ser o recurso estratégico da nossa época. O que marca este período é um fenómeno demográfico Crescimento ? 1800 1900 2000 No conhecimento ha um Fenómeno único do Sec XX, em sentido alongado 2100 aumento progressivo mas, no crescimento demográfico este apenas se observa ate 1976; prevê-se que por volta de 2100 se tenha conseguido conter o crescimento da população voltando aos níveis anteriores de 1800. É necessário que nos situemos a uma distancia temporal considerável para compreendermos os efeitos na história da humanidade. A taxa de poluição é semelhante à do crescimento demográfico. A nível económico, deu-se uma mudança radical da composição da população activa. EUA Sectores Agrícola Colarinhos Azuis Colarinhos Brancos Serviços 1900 37,6 35,8 17,6 9,1 Anos 1940 1980 17,4 2,8 40 31,7 31,1 52,2 11,7 13,3 1995 2,7 26,3 54,9 16,1 Modelo mais geral dos acontecimentos a nível dos sectores (≠ Grécia) O período dos anos 40/50 foi a introdução da automação (= substituição do homem pela maquina) 5 Como consequências políticas surgiram partidos de apoio ás massas operárias, ao campesinato, etc. Procurando tirar dividendos das maiorias de cada época. Actualmente, ha semelhanças paralelas com o momento da aparição da sociologia, no Sec. XIX. A re-conceptualização da população activa permitiu destinguir os sectores : Primário Secundário Terciário · · · 1800 · · 1900 2000 Sociedade de informação Sector primário da informação Sector secundário da informação Marc Porat Resolveu proceder a uma desmontagem contabilistica para avaliar os sectores primários e secundários de uma determinada economia. 6 7 Sector Primário da informação: è Produção, processamento e distribuição de informação Sector secundário da informação èorganizações que vivem em função do produto final Ex.: empresas de publicidade: técnicas de marketing, inquéritos ao publico etc. Para determinar o valor do sector de informação nos EUA, teve de se fazer uma amostra representativa das empresas. Resultados: Nos EUA, cerca de 50% do PIB, e pouco mais de 50% do produto nacional vinha do sector primário. Quando se trata de avaliar uma época ou momento de mudança global, produz-se um texto sobre essa mudança. Traçar panorama (mas é sempre indeterminado) Ex.: “3ª vaga” Há uma diferença entre o sector primário e o sector secundário da informação è evolução da população. Num espaço de 100 anos, houve uma transformação completa da população relativamente ás suas funções (queda da população activa no sector agrícola) è profunda mudança social no sistema de trabalho e, ao mesmo tempo, aparece uma sociedade baseada no sector dos recursos. (ex. Portugal) Deve repensar-se o modo de pensar da população e a natureza das actividades, de acordo com a natureza da sociedade de informação. Produção Primário Processamento Distribuição Sectores de Secundário è valor da informação no âmbito de processos de produção que não a visam 8 Ex. Produzir um automóvel à durante o processo de construção e venda de um automóvel existem fluxos de informação indispensáveis ao produto Sector secundário à contagem contabilistica do sector secundário mais o sector primário. à Face ás mudanças que estamos hoje a atravessar – devido ás revoluções industriais – a análise qualitativa não é suficiente. · Rapidez de mudança · Incerteza das tendências Tofler à apoiou-se em juízos de qualitativos, pressupostos teóricos. “3ª vaga” à Análise de conteúdo – obtém vários resultados diferentes chamados mega-tendências (estão para durar) ≠ modas Análise de conteúdos quantitativos : numa folha ha um limite (espaço) — num jornal ha uma percentagem de espaço para casos sociais — racismo, sexismo etc. A análise de conteúdos quantitativos ajuda a medir a mudança das preocupações / valores que adquirem relevância em determinado tempo e em determinada sociedade (região). Se isto afecta a totalidade da vida social, um dos problemas que se levantam é como interpretar esta mudança. Em parte esta revolução é induzida pelas novas tecnologias de informação e biotecnologias, gerando novos problemas; ao mesmo tempo é uma solução por permitir lidar eficazmente com milhões de fenómenos globais, permitido a sua selecção e triagem. 9 Se se comparar o numero de utilizadores da net, vê-se que está em crescimento (nos países avançados); nos países “atrasados” ha um difícil acesso à net à assimetria quantitativa à controlo da Internet (não é livre nem gratuita) Paradoxo do retardatário à Quem chega mais tarde usa equipamentos mais modernos. · Rep. Popular da China à aqui a net tem a comunicação sujeita a censura (muito em particular a comunicação recebida do estrangeiro) firewall · Guiné à a tv era a mais moderna Ocidente à projecto echelon Sistema que tendencialmente escuta, lê, observa e analisa todo o trafego que é feito através da net e telecomunicações — é feito através de uma analise de temática de conteúdo — impacto de palavras chave Em Portugal, a situação quantitativa é excelente à as estatísticas mostram um grande desenvolvimento a nível de telecomunicações, acompanhando a tendência global. A ideia de que Portugal seja refractário à adopção de novas tecnologias foi presente nos anos 70. 26% de analfabetos à havia mais mulheres sem instrução que homens; apartir de 1980 isso mudou. Fenómeno invisível è as novas tecnologias de informação já ca estavam, mas encontravam-se encobertas pela ausência de estatística. Dá-se o impacto do PC, 1983, — em Portugal ha a maior capitação da Europa de Spectrums à bom sinal : predisposição das pessoas para aderir ás novas tecnologias; mau sinal pela falta de poder de compra. A concepção de política / estado-analise academica. è Como é que se deve conceder a mudança? Concepção prevalecente em Portugal — subjacente aos problemas da mudança social (a concepção ferroviária da história) — é a primeira das formas de historicismo dominante durante todo o Sec. XIX e XX Concepção ferroviária da historia (historicismo) Carroça à Maquina a vapor à Maquina a diesel à TGV Aproximação cada vez maior do crescimento. 10 Concepções · · Concepção Evolucionista à fase mais avançada que a anterior Concepção Uniliear à todos os comboios seguem na mesma linha e direcção Concepção Homogénea à todos os comboios vão passar pelas mesmas fases. Cas o · português : objectivo de alcançar os países da frente ( = aumentar a velocidade) à continuarão a afastar-se pois a potência dos da frente é maior Alternativas: · Atalhos · Solução do salto · Concepção ferroviária da história Ex: No Japão, ha 50 anos não havia modernização e hoje é uma das maiores potências. 11 12 Concepções: · Unilinear à todas as instituições têm de passar pelas mesmas linhas ou fases · Evolucionista à presume-se que, à medida que cada sociedade avança pela linha (do progresso), mais desenvolvida é a sociedade. · Para alcançar o progresso, todas as sociedades têm de seguir o mesmo percurso · Homogénea à só se pode considerar que uma sociedade passe de uma revolução para a outra quando passa da maquina a vapor para uma maquina a diesel. · Continuista à O movimento não para, não admitindo alternativas (desvios, atalhos, saltos tecnológicos). A Concepção esta errada! Exemplo do Japão. As pessoas têm a tendência de pensar na homogeneidade: “se um pais é desenvolvido, então todo o pais é desenvolvido!” · É difícil dizer que um pais pertence a uma 3ª revolução industrial ou à sociedade de informação, pois é necessário um grau de homogeneidade demasiado elevado. · No entanto não é por causa disso que os EUA não pertencem à sociedade de informação · São características dominantes que ajudam a caracterizar as sociedades em cada fase que estas atravessam. Auguste Comte (1798 – 1857) · Criou a palavra sociologia para substituir física social · Introduz o termo no IV volume (1839) de “Filosofia Positiva” (1830 – 1842) · 1830 – I Volume · Ano da “Revolução de Julho”, que afecta o tecido económico livreiro (os editores vão à falência) · Física social à esta expressão sugere que é possível estudar a sociedade com os métodos e rigor com que a física estuda o seu objecto de estudo : ha leis precisas e determinantes como as leis gerais para a sociedade. · No IV volume aparece uma nota do editor a avisar que virá um V volume. · Os princípios que Comte defendia iriam levar o Homem (segundo ele) à ordem e ao progresso. 13 · Sociologia = corresponde ao que sempre se chamou física social · Muitos autores dizem que a criação da palavra sociologia se deve à apropriação da física social · · · · Quetelet à Depois de 1830 publicou um volume que o notabilizou, tratado da “Estatística social — tratado de física social”, não mencionando uma única vez o nome de Comte (foi-lhe buscar o termo física social e não o citou).3 Consta que isso irritou Comte, levando-o a criar uma nova palavra. Comte sempre afirmou que a razão que o levou a criar um novo vocábulo foi o facto de existir uma área da realidade (realidade social) que podia ser estudada cientificamente, parecendo-lhe ser importante um novo nome para a designar. No centenário da morte de Quetelet a Academia Belga reproduziu uma 2ª edição da sua obra (marcada por preconceitos ideológicos) — aqui a física social já aparece em titulo. Comte concebia o volume na sua cabeça, ia organizando o assunto e depois fazia uma redacção da obra de uma só vez — método da higiene cerebral – não lia nada e escrevia o que pensava (pensamento genuíno) 1º Abstract – aparece quando a sociedade esta perante a descoberta do conhecimento em expansão Comte considera o curso de filosofia positiva como um curso enciclopédico sobre o domínio das ciências baseado na lei dos 3 estados: Teológico Metafísico Cientifico · · · Acreditava que estado cientifico era o ultimo estado de conhecimento humano O estado metafísico é um estado que representa um período de critica do estado teológico — nasce a grande ruptura com o modelo teológico do pensamento, mantendo no entanto, que as causas dos fenómenos dependiam de princípios inerentes aos mesmos. 1800 1900 2000 14 15 · · O estado cientifico caracteriza-se pela rejeição: Do problema das origens: · “a ciência não é um problema cientifico” ha sempre um antes :”Quando começou tudo? Com o big bang ? e antes?” · problema insolúvel sempre presente nas nossas mentes — infinito · tipo de interrogação legitimo mas que não pode ser respondido pela ciência como nos a conhecemos. · Causa – efeito àinvestigação da realidade social de acordo com o método cientifico Do problema dos fins últimos · Filosofia : problema do infinito — é impossível conceber o infinito Factores que revolucionaram a sociedade por volta de 1800: · Revolução francesa · Revolução industrial · Crescimento populacional · Crescimento do saber Concepção marcada pelo historicismo · Evolucionista · Unilinear · Homogéneo · Continuista Na concepção ferroviária da história, quando se trata das passagens, presume-se que a sociedade esta a evoluir e que essa evolução se da através da mesma linha; o desenvolvimento é homogéneo (toda a sociedade acompanha o processo) o tempo não admite saltos! · Concepção que não se adapta aos factos · Concepção baseada na vida humana: O indivíduo vai evoluindo · Não se pode adaptar ás sociedades porque elas são heterogéneas (critério da dominante das sociedades) Auguste Comte (1798 – 1857) · · · · · Vida regrada pelo valor conservador da sua família Professor que o marcou: Daniel Encontre (matemática) Estudou na escola politécnica · Apoiava Napoleão e quando este perdeu e a monarquia triunfou, os estudantes revoltaram-se, sendo Comte um dos lideres do grupo – a escola fechou Voltou para Montpellier e mais tarde regressou a Paris, onde viveu à custa de explicações e mensalidades. Conhece St-Simon que se torna seu mestre 16 · · · Dá-se uma ruptura entre os dois quando Comte deixa de o considerar mestre — Comte escreveu um livro e recusou-se a assinar com o nome de Saint Simon Esse livro foi : Plano dos trabalhos científicos necessários para reorganizar a sociedade (lei dos 3 estados). · Para Comte esta é a lei constituinte do seu pensamento Perante a turbulência característica de um período de transição, era necessário uma teoria cientifica para estabelecer a ordem e conduzir ao progresso. · isto é o resultado do que os reis vêm desenvolvendo : as suas decisões levam à queda da monarquia A lei dos 3 estados é evolucionista, unilinear, continuista mas não homogénea. Para Comte o estado cientifico marca o ultimo estado do espirito humano. Estado cientifico : Recusa das origens primeiras ( não se podem conhecer por definição) Recusa dos fins últimos. Procuram regularidades, tipologias, classificações das leis que regulam os fenómenos (a lei de fundo é a dos 3 estados). A lei dos 3 estados é : · Evolucionista à porque o espirito humano evolui de um estado inferior para uma fase superior · Unilinear à porque todos os povos do mundo têm necessariamente de passar por todas as fases · Continuista à porque isto se passa a exemplo do que se passa com os indivíduos (crescimento humano) · Heterogénea à principio da dominante · No estado metafísico ou teológico também existem os outros estados, embora haja sempre um dominante. Ex. Gregos A ciência ia-se aprofundando e melhorando à custa das explicações metafísicas e teológicas. Religiões : Reveladas à revelação divina que implica dogmas e princípios Positivas à não ha revelação por nenhum Deus, sendo constituída com o conhecimento cientifico àO aparecimento de uma nova ciência — sociologia (coroa deste processo e paradoxalmente a sua base) 17 Hierarquia das Ciências Complexidade Crescente Moral Sociologia Biologia Química Física Astronomia Matemática Generalidade Decrescente A classificação das ciências e s t a directamente ligada com a lei dos três estados — do mais simples ao mais complexo A matemática não precisa das outras ciências para funcionar, ao contrario das restantes. Princípios da complexidade crescente Princípios da generalidade decrescente Cruzam-se critérios: · Lógico / doutrinal — a astronomia precisa da matemática para funcionar; uma a uma, as ciências vão aparecendo no estado positivo. · Histórico — cronológico · Pedagógico — curso de filosofia positiva As ciências que estão por cima (no esquema) têm de esperar que as ciências anteriores cheguem ao estado cientifico para também elas atingirem o estado cientifico (à que seguir a ordem cronológica) 1822 — Plano dos trabalhos científicos necessários para reorganizar a sociedade. É devido a este trabalho que se dá a ruptura entre Comte e st-simon — traça o plano de trabalho da sua vida. · · · · O curso de filosofia positiva representa o fundamento filosófico sobre o qual se vai construir uma política positiva Nesta obra, Comte apresentava já os fundamentos e o nascimento da física social Esta obra irá originar uma política cientifica (que levaria a sociedade a manter-se no ultimo e definitivo estado, tanto a nível político como cientifico) Era necessário que as ciências se positivassem, dando origem à política cientifica / positiva da sociedade. A partir dos fundamentos da física social criar-se-ia uma política cientifica assente na física social. 18 A sociologia divide-se em estática social e dinâmica social para estudar a relação de força entre elementos da estrutura A influencia mais próxima de Comte foi a da fisiologia de Gall Constituição ≠ funções è Diversidade e complementaridade Se um órgão essencial ao funcionamento do todo paralisia, a única solução é outro órgão acumular para alem das suas funções as do órgão paralisado. è principio do órgão substituto Equivalente substituto è Funcional Ex.: se na época medieval o papa via que um imperador não estava a cumprir as suas funções, substituía-o Comte acreditava que a moral estava acima da sociologia por esta ser ainda mais complexa e geral.. Comte admirava Gall (fisiólogo que estudou craniologia) por este também defender a moral. Para Comte a moral era uma psicologia geral, que tinha por base a individual à afasta a estrutura para se aproximar das localizações cerebrais à onde esta a sede da razão humana? Ciência “1ª carreira” 1798 Fundamentada na construção do positivismo, na reflexão, em critérios positivistas Visão cientifica da sociedade Meio da vida de Comte 1842 Política cientifica “2ª carreira” 1844 Aparição do discurso sobre o espirito positivo Constituição de uma política para reconstruir a sociedade 19 20 Tudo tem de se buscar nos afectos: · Há apenas uma minoria que compreende o espirito positivo, aos restantes deve apelar-se à afectividade, para que adiram ao positivismo e o compreendam. Durkheim (858 – 1917) Durkheim aparece com uma classificação das ciências sociais (não das ciências de Comte ) a relação entre a sociologia e as outras ciências sociais. Já no tempo de Durkheim se sentia a pressão do crescimento exponencial do saber. Para Durkheim, um dos perigos era a enorme expectativa em relação à sociologia por parte da opinião publica. (era a ciência mais popular). Havia o receio e o perigo de defraudar essa expectativa, da ciência não lhe corresponder — por vezes as respostas da sociologia demoram muito tempo, não produzindo rapidamente, o que a opinião publica poderia considerar como ciência inútil. Por outro lado se se cedesse à pressão poderia não dar respostas adequadas. Era ainda preocupante a multiplicação de estudos, o que não permitia aos estudiosos, sociólogos, abarcarem todo o saber sobre a sua área de estudo. Dai Durkheim apelar a uma certa especialização — “uma ordem especial de problemas” Quadro da divisão das ciências sociais por Durkheim Morfologia social: Demografia à Demologia Geografia à Humana ou ecologia humana Fisiologia social: Sociedade religiosa Sociedade moral Sociedade jurídica Sociedade linguistica Sociedade estética Sociedade económica (síntese das varias ciências especializadas) Sociologia geral 21 Sociologia geral à Sendo uma síntese dos conhecimentos das ciências sociais no seu todo, deve extrair os princípios gerais de cada ciência social, mas claro que se devem utilizar analises completas e mesmo especificas de cada área, fazendo depois uma síntese que seja segura. As ciências sociais dividem-se então em : · Morfologia social · Fisiologia social · Sociologia geral Esta divisão foi apresentada na obra de 1909, distinguindo-se o volume “método da ciência“ pelo facto de terem sido convidados inúmeros sociólogos para escreverem algo acerca de uma área com que se familiarizassem (uma área especifica para cada um) Durkheim defendeu a multiplicação de estudos especializados, divididos por varias ciências que iriam criar leis e regras para cada fenómeno que analisassem ≠ sociologia geral — engloba as leis gerais acerca de fenómenos que dizem respeito ás diversas áreas Sociologia — disciplina muito explorada pela opinião publica para solução de problemas; era uma ciência “jovem” não tendo crescido o suficiente para solucionar os problemas que tanto preocupavam a sociedade.. Durkheim não queria acelerar a criação de leis ou os estudos, pois julgava ser preciso muita paciência para fazer com que as leis fossem eficazes e completas (no entanto, muitos foram os sociólogos que procuraram acelerar o processo de resposta, não alcançando leis exactas mas inúteis) No tempo de Durkheim os mídia, nomeadamente a imprensa, eram o 4º poder, pois tinham uma extrema importância — efeito sobre a opinião publica.. Este 4º poder era muito afectado pela censura, que só deixava apresentar ao publico aquilo que tivesse analisado devidamente. Já pensando na projecção e expectativas da opinião publica, Durkheim escreveu um artigo: “sociedade e ciências sociais” (na revista fundada por ele “o anuário de sociologia”). Divisão das ciências sociais Morfologia social: Demografia à nascimentos óbitos etc. Geografia à como as pessoas vivem nos espaços onde residem Fisiologia social: 22 Sociologia da moral à analise de um sistema de valores que regula a sociedade Sociologia da religião à analise de aspectos religiosos que regulam a sociedade Sociologia do Direito Sociologia linguistica Sociologia estética à base de muitas pesquisas sobre o que é belo e o que é bom Sociologia económica Comte classifica as ciências e hierarquiza-as no seu todo Complexidade Crescente Moral Sociologia Biologia Química Física Astronomia Matemática ≠ Generalidade Decrescente Durkheim interessa-se mais pelas c i ê n c i a s sociais e pela sua relação com a sociologia — classificação interna e não geral. Na sua classificação das ciências sociais existem disciplinas que se encontram simplificadas e numeradas Sociologia geral Toda a realidade social observada por todos os pontos de vista. Abrange o conjunto de todas os aspectos investigados por todas as ciências sociais. A sociologia geral inclui todos os estudos acerca da realidade social, já que cada estudo se especializou num aspecto. [eskema da piramide a acrescentar mais tarde] Sociologias particulares · Sociologias especiais à analisam toda a realidade social de um ponto de vista especifico (sociologia económica, de poder) · Sociologias particulares à analise de um só nível da realidade social e de todos os pontos de vista (sociologia religiosa) 23 · Sociologias compositas / mistas àanalise de um nível da realidade social de um ponto de vista especifico (resulta do cruzamento de objectivos de uma ou mais sociologias particulares (sociologia da família) Esta classificação é útil, porque evita os males da enumeração, porque não limita nada, uma vez que todos os ramos se inserem num qualquer tipo de sociologia (a classificação é constituída segundo a lógica ). Sociologia geral Sociologias especiais Sociologias parcelares Sociologias mistas Níveis da realidade social Todos Todos Um Um Nro de pontos de vista Todos Um Todos Um Se se conceber qualquer ramo que existe ou venha a existir de sociologia particular, está dependente da classificação (especial, parcelar ou mista) Ha necessidade de todas as ciências recorrerem a disciplinas auxiliares (não sociologicas, mas cujo contributo é indispensável ao estudo da sociologia) Sociologia geral Disciplinas Auxiliares: · Cientificas · Filosóficas · Normativas Disciplinas auxiliares: · Cientificas: · Matemática · Física · Etologia (estudo do comportamento social dos animais) · Colmeias è utopias totalitárias sem mobilidade social levando à criação de teorias terríveis. · Darwin (Sec. XIX) · “A expressão das emoções nos Homens e nos animais“ · Este tipo de investigação etológica levou ao desenvolvimento de correntes de pensamento no campo da sociologia e política de bases cientificas. · Agem de acordo com a natureza sendo legitimados por ela. Etologistas : Tinbergen Konrad Lorenz (“A Agressão”) Eibt-Eibetsfeldt Estudaram o comportamento social dos animais, não querendo, no entanto, compara-los com o comportamento humano. 24 25 Robert Audrey: · “Génese Africana” · “O contracto social” · “O imperativo territorial” : comportamento de aves · num bando com mais fêmeas, a primeira preocupação é a definição do território, estabelecendo uma hierarquia (triunfo dos mais fortes sobre os mais fracos) entre os machos; a seguinte preocupação é o acasalamento — as fêmeas lutam entre si para capturar os machos mais fortes (mas não ha equilíbrio: sobram fêmeas que não podem acasalar) · facilita a reprodução evolutiva do grupo (acasalam os mais robustos) · a hierarquia é estabelecida pelos machos, através da “pecking order”. As fêmeas têm um status social derivado do macho. Sociedade estática Manutenção da estabilidade — se um volta e ganha o primeiro lugar, tem de acasalar com uma das déclassées, passando ela a ser a alpha do bando Não se pode comparar com o comportamento humano, no entanto, a base natural de qualquer sociedade é a propriedade privada, a hierarquia. Desmon Morris · “O Macaco Nu” · “A tribo do futebol” · investigação sobre o caracter natural de agressão manifestada no futebol. Psicologia social (comportamento humano em grupo) Psicologia (comportamento social) Uma corrente da Grécia antiga considerava os Homens como animais (iguais) defendendo os direitos dos animais. Os Homens e os animais tinham a sua animalidade em comum, e deveriam ser estudados como uma classe natural. ≠ Outra corrente (minoritária) afirmava que os Homens eram qualitativamente diferentes e tinham um estatuto diferente do dos animais. O Homem era o centro do 26 Universo. Esta tornou-se a corrente dominante (através de Aristóteles), vindo a ser recuperada pela ciência moderna. A corrente de Darwin Volta a re-inserir o Homem nos animais. Depois descobre-se que o parente mais próximo do Homem é o gorila e o chimpanzé (a nível genético têm uma separação de 1%) O mergulho do Homem no reino animal com atributos que os outros animais não possuem. Hoje é um tema importante que leva a manifestações a reivindicar os direitos dos animais (têm origem na Grécia de há 2500 anos) No quadro da etologia O estudo do comportamento social dos animais pode fazer luz sobre os aspectos de interacção humana e os comportamentos dos Homem É usado em ideologias de extrema direita. (Havia pessoas com o estatuto de “não pessoas”, sendo consideradas animais como os Judeus no nazismo). Um exemplo de investigação social sobre o comportamento social dos animais tem a ver com as manifestações afecto/ emoções. Darwin publicou “A expressão dos sentimentos entre o Homem e os animais” (será que o macaco sorri?) Neste estudo fez-se a investigação partindo-se da observação da razão porque a estrutura fisiológica da face do chimpanzé é igual à do Homem – mesmos músculos e mesmos movimentos. Depois viram como se processa um sorriso autentico (emoção espontânea) no Homem. É uma expressão da estrutura fisiológica. Mas este sorriso é verdadeiro ou não ? qual é o seu contexto social ? Na verdade, o chimpanzé é capaz de sorrir e as circunstancias em que ele o faz são semelhantes a algumas circunstancias sociais equiparáveis às humanas. Então o chimpanzé é capaz de emoções semelhantes ás que levam ao sorriso na espécie humana. Isto diz respeito a outros aspectos de expressão das emoções pelo corpo entre Homens e animais. Ha tendência para extrapolar do domínio da etologia para a sociologia, ou seja, a tentativa de aproveitamento destes resultados para teorias e ideias sociais que podem ter um impacto negativo da sociedade. As sociedades humanas são diferentes das dos animais porque são objecto de produção, distribuição e transmissão de cultura e isso faz surgir um conhecimento aceleradíssimo; já as sociedades dos animais não se modificam tão depressa (não são capazes de produzir e transmitir cultura). Área explorada pelos etologistas, nomeadamente por Audrey nos anos 50 — estava interessado em estudar um grupo de leões, ou seja, o mecanismo subjacente à actividade dos leões que leve a uma previsão empírica do guarda florestal. 27 No ciclo de vida, os leões exploram um território até este ter os seus recursos esgotados, e mudam para a área seguinte do seu território inicial. Quando regressam ao seu território inicial, este já estava novamente reabastecido de caça, o que permitia haver uma certa previsão empírica que permitia saber o movimento dos leões. Este mecanismo foi extrapolado para o sistema agrícola dos grupos e etnias através do pousio —Cultivam a terra ate o solo estar esgotado, depois deixam a terra descansar. Este processo pode levar 6 a 8 anos. Até voltar à terra inicial já o solo se regenerou, mas acabou por trazer consequências desastrosas para os grupos étnicos. Quando os colonos chegaram, encontraram a propriedade vazia, então, registavam a propriedade e começavam a fazer a exploração agrícola do terreno com outras técnicas. Passados 6/8 anos, os grupos étnicos regressam e voltam a reclamar o território. Isto levou a uma serie de complicações entre os colonos e s grupos étnicos.. Só mais tarde, quando este ciclo foi entendido pelas autoridades locais, é que se resolveu parar o registo de compromisso entre os direitos à terra dos grupos étnicos e dos colonos. Foram construídos parques naturais a proteger os leões, porem, estes ignoravam em absoluto as marcas e não conheciam as linhas de fronteira, atacando as manadas de gado. Os agricultores procuraram colocar à volta do terreno arame farpado. Estes estavam mais preocupados com a segurança económica do que com os direitos dos animais. Antes, os leões não reconheciam as linhas de fronteira e faziam as suas próprias emboscadas para abater a caça; depois, os leões tiveram de eliminar esta técnica de acção empurrando a cerca (encurralar). Mas tanto os leões como os macacos, a sua capacidade de adaptação a varias situações e a adopção desses comportamentos novos por todos os outros membros do grupo ( mesmo as gerações futuras), levantam questões acerca do facto dos animais produzirem ou não cultura. Também ha uma tentativa de ensinar animais a fazer certas coisas como falar e reconhecer palavras. Processo de comunicação entre baleias e golfinhos — área de comunicação simbólica. Filosofia Em sentido genérico é a mãe de todas as ciências. Antigamente ocupava-se do estudo sistemático de todos os sistemas de pensamento 28 À medida que o tempo passa, as ciências vão-se autonomizando da filosofia (ainda no Sec. XVIII as explicações relativas à origem das sociedades eram baseadas nas teses contratualistas) Contratualismo Rousseau: Todos somos livres (liberdades iguais), mas quando nos associamos, limitamos as nossas liberdades; no entanto se cada um de nós, ao fazer o contracto, alienar uma parte da sua liberdade, continuaremos igualmente livres. à Liberdade democrática : “Tudo seria assim se os Homens fossem anjos ... mas ele não o são!” àcaracter fictício (O Homem é naturalmente bom) Hobbes: “Leviatã” (Pessimista) O Homem é o lobo; o estado natural das sociedades humanas sem um contracto, é o estado de guerra, de todos contra todos à o contracto traz paz e harmonia social ( corpo social) à o contracto visa a segurança Admitia que se surgissem minorias ideológicas que pusessem em causa as instituições maioritárias, o estado teria o direito de expulsar ou punir à regime totalidade Comte distinguiu a filosofia positiva (estudo sistemático dos sistemas — conhecimento saber) da filosofia tradicional : possibilidade do estudo cientifico dos fenómenos sociais (realidade social e material) atinge o estado cientifico Na administração do estado, de empresas, etc. Se se tivesse de partir de concepção optimista ou pessimista qual seria a escolha indicada ? [Arbitrário] As ciências rejeitam a sua mãe autonomizando-se Filosofia das ciências Os filósofos ensinavam aos cientistas de modo a fiscalizar toda a produção cientifica. A própria actividade da ciência sente o pesa da filosofia uma vez que o cientista questiona com base muitas vezes em teorias filosoficas. Enquanto epistemologia foi saindo progressivamente das mãos dos filósofos à os cientistas vão fazendo as suas próprias filosofias sem que por isso recorram à filosofia. à o que Comte desejava : filosofia produzida a partir da pratica Musselt 1930 dizia que dentro de 30 anos, as ciências deveriam estar sujeitas à filosofia fenomenológica. Seriam variações dela — a filosofia absorveria toda a ciência. Todos os grandes cientistas fazem a sua própria filosofia. Filosofia social Não se limita ao domínio cientifico 29 Curso de filosofia positiva ( Comte ) à fundamento histórico, filosófico e cientifico. (estabeleceu os fundamentos científicos das ciências anunciando uma ciência nova) Re-organizar a sociedade de acordo com a conjuntura da época 1. planear, estabelecer fundamentos científicos 2. extrair política cientifica do fundamento cientifico 3. moral e religião A questão do fim da história de Fukuyama e Políbio · · exemplo da filosofia social nos dias de hoje a importância da filosofia social no pensamento político actual · tese do fim da historia, de Francis Fukuyama A tese do fim da historia começou com a queda do muro de Berlim em 1989, marcando a queda da segregação, a derrocada do império soviético Isto marcou uma alteração radical no âmbito das relações internacionais, pois, até ai, o mundo estava dividido em Bloco do leste e Bloco ocidental à com a queda do império soviético, as relações internacionais alteraram-se pois passou a haver um mundo unipolar (EUA são a única super potência vista como o modelo ideológico triunfante) Com a queda do muro de Berlim, caiu também o sistema de valores e crenças políticas (URSS deixou de ser referencia) A crise do modelo ideológico arrastou consigo o modelo teórico. Caiu com o império soviético, a ideologia socialista, marxista-leninista assim como a própria teoria marxista. Por exemplo, os professores universitários que vivessem fora de países de ditadura______ para obterem algum triunfo, tinham de defender o pensamento marxista ou declararem-se tributários dele. A queda do muro levou ao triunfo do modelo liberal É neste contexto que em 1989 Fukuyama fez uma conferencia que acabou por relançar a tese do fim da história. Fukuyama passou de um autor desconhecido a um dos pensadores mais debatidos do planeta. Isto deve-se precisamente ao artigo “O fim da historia ?” que apareceu na revista “The national interest” em 1989. o numero seguinte da revista prendeu-se quase integralmente com a discussão do artigo de Fukuyama. Mesmo em Portugal o “diário de Lisboa” dedicou inúmeras paginas a este artigo. O próprio Fukuyama ficou perplexo com o êxito do seu artigo de uma tese que já era muito antiga. Resolveu portanto desenvolve-la, publicando em 1992 “O fim da historia e o ultimo Homem”; o livro teve tal impacto e procura que em Portugal, no mesmo ano houve duas editoras a publicar o mesmo livro. 30 Teve grande dimensão social e política, e Fukuyama publica ainda outra obra 3 anos depois “confiança” que se concentra sobretudo no domínio económico em relação com os valores. Mais tarde, com o aumento da sua fama, Fukuyama publica “A grande ruptura” relacionado com outra recuperação de ideias antigas, com a alternância de períodos de desagregação das sociedades, seguidos por períodos de ordem. Tem actualmente enunciado o livro “O futuro pos-humano” sobre tecnologias de informação e biotecnologias. Se se considerar a possibilidade das pessoas escolherem os filhos pode ser um futuro pós-humano, não se trabalha mais sobre sociedades tal como as conhecemos hoje, trabalha-se sobre sociedades geneticamente manipuladas pelo Homem. Esta ultima obra acaba por ir contra a primeira obra sobre o ultimo homem, surgindo um novo humanoide pos humano. Primeiro apresenta o fim da historia como uma interrogação, depois afirma que o fim da história cairá com o ultimo homem. Finalmente passa à analise económica e à grande analise da transmissão sociológica Fim da história ≠ fim do mundo Ha concepções clássicas em que se concebe um fim do mundo:. · Concepção de Platão à a historia não é um processo progressivo mas regressivo (decadência) · O mundo acaba (através de um diluvio universal ou de conflagração geral) · Mas para aqueles que se salvam, voltam a congregar-se numa organização primitiva, escolhendo um rei; quando o nível das aguas volta à normalidade, os grupos voltam a juntar-se à beira rio à à medida que a sociedade cresce, levanta novas exigências e o mundo acaba outra vez. A concepção do fim da história baseia-se no fim da história de Hegel (fenomenologia do espirito) · A história como processo progressivo, atravessando diversas fases — o homem ia avançando, pouco a pouco, no sentido da sua plena realização. · Quando alcança essa realização, acaba a história (não pode haver mais evolução) · Ex: marxismo · Concebia o moto da evolução histórica como as lutas de classes · Depois do capitalismo, passava-se ao socialismo, que organizava a sociedade em classes. · Aprofundamento e alargamento 31 · · Aprofundamento do sistema de valores de uma sociedade sem classes · Estabelecimento das sociedades económicas e alargamento disso (pois o marxismo é internacional) de modo a haver um ajustamento a estes princípios Hegel à a história é um desenvolvimento lógico de ideia (= principio que caracterizava cada época) Ideia: · Ex.: sociedade romana (aqui tudo exprimia o indivíduo singular e livre · · A progressão da ideia levada à liberdade progressiva do Homem. Estão criadas as condições para que o Homem se possa apoderar de si próprio · Ex.: rev francesa : liberdade, igualdade, fraternidade · Napoleão sobe ao poder · Política expansionista · Exercito de cidadãos (cada soldado transporta consigo os ideais da revolução) O aprofundamento e alargamento da revolução dava-se através da revolução noutros estados, como o avanço dos exércitos napoleonicos. O mundo era a Europa sendo o resto uma dependência que a seguiria posteriormente, criando o “estado homogéneo universal” 1806 – batalha de Jena, onde as tropas de Napoleão avançaram Hegel tinha razão na concepção fundamental, mas errou na data. Assim, Fukuyama limita-se a actualizar a teoria: · Procurava-se a liberdade, igualdade e fraternidade e assim que se atingir, acaba a historia · Queda do muro de Berlim, deixando o mundo unipolar, sendo os EUA o pais a encarnar o modelo liberal Esferas : Política à estado de direito democrático Económica à mercado livre (indivíduo = livre agente económico) Ideológica à sistema de valores Sistema de valores O indivíduo desenvolve valores e crenças, tornando a existência indissociável da sua liberdade (permitindo eles a realização plena do Homem) à alargamento do estado liberal à em 1989 chegou-se ao fundamento do fim da história, e daqui para diante ha processos de aprofundamento ate à formação de um estado homogéneo universal. Quais os obstáculos ao fim da historia ? 32 China – um pais, dois sistemas · Pais autoritário que não tenciona deixar de o ser · Mantém um regime autoritário do ponto de vista político, mas procura fomentar uma política liberal no mercado civil · Iniciativa privada · Empresas · Símbolos presentes do capitalismo (coca cola) Fukuyama dizia que a seu tempo, com o desenvolvimento da iniciativa privada da china, o regime político terá de se abrir e democratizar perante a expansão do capitalismo na esfera económica. Nacionalismo (explosão) Fundamentalismos religiosos (em particular islâmico) Natureza do fim da historia · Possibilidade de recomeçar a historia · Como no fim da historia o Homem está plenamente realizado a todos os níveis, ha o enorme risco do Tédio e seus efeitos Suicídio anómico · Anomia positiva à a sociedade esta em paz, em calma, com superprodução e prosperidade (Ex. Suécia) Tédio · · · a pessoa não tem ambição, não tem porque lutar o mais ameaçador obstáculo do fim da história o indivíduo seria tentado a romper o tédio pela violência ou agressão (recomeçar a luta) Hegel à o que marca o fim da história é a rev. Francesa Fukuyama à o que marca o fim da história é a queda do muro de Berlim Políbio · aristocrata da liga dos Aqueus na Grécia · O conflito roma-macedónia marcou a vida de Políbio : a Grécia teve de decidir se se solidarizava com a macedónia contra roma, ou se permanecia neutra na batalha A decisão prendia-se com o facto dos exércitos romanos serem exércitos virtualmente invencíveis (novo tipo de organização militar. Os Aqueus decidiram-se pela neutralidade, sendo Políbio o portador da noticia para os romanos. Foi enviado ao campo do general Emilio Paulo de quem ficou muito amigo. Os romanos vencem a macedónia e no regresso foi-lhes entregue uma lista de conspiradores presentes na Grécia. Embora Polibio não fizesse parte da lista foi tomado como refém, levado para Roma e ficando na casa de Emilio Paulo. É então convidado a ser preceptor dos filhos dele. 33 Guerras púnicas (Cartago e Roma) · Polibio analisou estas guerras, dando também atenção à expansão da civilização romana. Fez trabalhos de campo e analisou o trabalho de um general Cartaginês – Aníbal · Estudou documentos e ate o trajecto de Aníbal pelos Alpes e claro o apogeu romano. · Para Polibio a queda de Cartago é o fim da história — “A historia pela primeira vez tinha criado um contexto mundial em que o que se passava no mundo estava interligado, independentemente das zonas geográficas” è aldeia global Segundo Hegel e Fukuyama, o mundo é uma aldeia global e para Polibio, Roma é que a controla, tendo uma possibilidade política de viver para sempre. Os romanos são cidadãos livres, possuindo um sistema de valores que alastrava mundialmente (como a expansão romana) e que os outros países iriam imitar. Polibio achava que o modelo romano seria o modelo a seguir; Fukuyama defendia os EUA; Hegel os franceses. A historia tem um fim único — todos os modelos são a imitar e são governados por uma única potência (mundo unipolar). Conjunções sociais idênticas produzem modelos teóricos idênticos Em todos os casos ha uma única superpotência, portadora do modelo digno de ser estimado e imitado pelos seus seguidores, e que se expandirá no mundo por força ou pela força do exemplo. Consequências destas formas de pensar: · Nenhum teve razão nas suas suposições — a resposta de qualquer esquema sociológico é o facto de não sabermos ao certo se acertam ou não — só o tempo pode provar Teleologia — implica que se nos já sabemos o fim da historia, lemo-la de uma maneira diferente: lê tanto o passado como o presente à luz de um futuro que já se controla Sociologia geral à Disciplinas auxiliares : · Cientificas · Filosoficas · Normativas 34 · · · · Moral Ética Teologia Etc Concepção do mundo como unidade Subjectiva à Há varias concepções do “mundo” (este varia segundo o autor) à cada autor trabalha nas suas aldeias globais Todas as concepções são contemporâneas aos respectivos autores à cada um deles acreditava que vivia nas circunstancias exactas para a chegada de uma nova sociedade. São modelos persistentes (ocorrem nas mesmas circunstancias dos autores, não sendo modelos rebativeis — as condições em cada um dos autores são sempre diferentes.) As suas teses não servem de base para refutar a teoria de Fukuyama uma vez que as circunstancias são distintas Sociologia · Duas perspectivas · Analisar o corpo teórico da filosofia social · Analisar os efeitos da filosofia social — peso social da filosofia, os impactos da época · Não podemos saber o futuro da sociedade · Abertura do espirito sobre o futuro (não esta predefinido) à não sabemos o que o futuro nos vai trazer · Ler a historia em aberto – esperar o inesperado Normativas · Ética · Moral · Teologia · Direito Ética à (≠ de ciência) todos somos portadores de um código de ética · Bem ≠ Mal è guia o comportamento individual · Princípios que estabelecemos para nós próprios, através de um sistema de valores base (consciência) · Policiamento normativo do indivíduo Moral à sistema de normas partilhado para uma determinada comunidade. 35 Disciplinas cientificas Disciplinas morais Método Indutivo (para perceber a realidade) Método dedutivo (para conformar a realidade a princípios Teologia à relação com Deus (relaciona-se com ética e moral) Alberoni “enamoramento e amor” Medita sobre a natureza das relações amorosas entre pessoas. Actualização do pensamento medieval para a nossa sociedade. Estudo da interacção a nível intimo. “a amizade” “o erotismo” “a inveja” Alberoni relaciona-se com a teologia, na medida em que o conceito central das teologias é o amor. Na meditação teológica (que remete para as relações entre Homem e Deus) Deus é considerado a essência do Amor e o Amor dos Homens por Deus está no centro da natureza teológica Tem de meditar sobre a natureza do Amor (de Deus e por Deus), distinguindo-o dos outros tipos de amor. Tempo medieval: · Amor por deus · Amor pelo poder · Amor pela carne · Amor pelo saber · Pode por em duvida os princípios da relação As melhores meditações sobre o amor de Deus encontram-se no período medieval, ou seja, nas teologias medievais. Os textos teológicos têm uma notável percepção da natureza. Alberoni teve um enorme êxito na sua publicação do “enamoramento do amor” dada a contemporânização da obra e as suas raízes medievais. 36 Santo Agostinho: “Confissões” (auto biográfico) · Diálogo entre ele e Deus · Como é que Deus pode permitir que ele fizesse certas coisas · Cruzamento da ética, moral e teologia Disciplinas normativas è Como o mundo deve ser! Ciência è Como o mundo é! 37 38 O processo de produção de conhecimento nas ciências sociais Observação — Problema — Objectos manifestamente semelhantes; a nível morfológico podem não ser equivalente funcionalmente ou por outro lado podem ser diferentes a nível morfológico e equivalentes a nível funcional. Já Max Webber quando se referia ao tipo-ideal, defendia ser preciso “despir” os fenómenos daquilo que é superficial e centralizar a atenção naquilo que é essencial — Há que distinguir o secundário do fundamental / essencial Paralelo a este processo de produção industrial é o processo de produção de conhecimentos. 1. matéria prima (folha de papel) 2. processo de transformação (teorias, métodos, instrumentos) 3. novo produto (barco de papel) Estas 3 fases são confirmadas por factores da natureza. Produção do conhecimento · o autor ao construir uma teoria parte de uma matéria-prima que transforma, obtendo um novo produto que é a própria teoria · por exemplo, Galileu partiu da matéria prima, do trabalho já feito sobre a matéria das concepções do Universo (nomeadamente, a teoria geocêntrica) e o trabalho de Copérnico. · Na matéria prima podemos distinguir elementos positivos e negativos. · A concepção geocêntrica, bem como o senso comum, são elementos negativos. Era, na época, a concepção adoptada desde os gregos, de Aristóteles, consagrada por Ptolomeu e genericamente partilhada por toda a comunidade cientifica que acreditava que a terra estava fixa. Parecia uma realidade evidente. O senso comum revia-se como teoria. O pensamento cientifico partilhava o seu pensamento com o senso comum. Quem quisesse por em causa a teoria geocêntrica debater-se-ia com enormes obstáculos uma vez que esta teoria fazia parte da doutrina dominante da época, nomeadamente da doutrina de fortes instituições como a igreja apoiada pela inquisição. A par das condições sociais e políticas havia também condições ideológicas. Muitos príncipes italianos eram vassalos do Papa, e mesmo que não o fossem, necessitavam da aprovação papal nas suas acções. Alem do mais, o poder político baseava-se na comunidade cientifica que defendia a teoria geocêntrica. As condições sociais, políticas, ideológicas, a teoria geocêntrica, e o senso comum constituem elementos negativos da matéria prima da qual Galileu partiu. 39 Elementos positivos à a teoria de Copérnico não perturbava muito a igreja pois, ele não defendia que a terra girava em torno do sol, mas que matematicamente era possível que fosse a terra a girar em torno do sol. Os matemáticos do Vaticano ate consideravam um exercício de superior inteligência a ideia de Copérnico. Esta ideia não implicava que Copérnico afirmasse que a terra girava em torno do sol. Mesmo assim, Copérnico guardou as suas ideias e descobertas para os últimos dias da sua vida. Estas descobertas são um dos elementos positivos da matéria prima de onde Galileu partiu. Já Aristarco tinha pensado no Heliocentrismo. As observações dos grandes astrónomos da época que trocavam correspondência com Galileu são também um elemento positivo. Mas se, por um lado, as condições sociais, políticas, e ideológicas da época são um elemento negativo. são. por outro lado um elemento positivo : o renascimento alterou sistemas de valores, a igreja já não tinha o poder de há 50 anos antes; a entrada de exércitos estrangeiros na península itálica favoreceu a mudança ideológica. “Os anões aos ombros do gigante” até ao século XVIII, a Italia era a “Luz do mundo”! aqui se produziam grandes obras de arte (era o gigante). Mais tarde estas obras acabam por ser plagiadas por autores estrangeiros (anões) e a Itália deixou de ser o “centro do mundo” Esta expressão significa que em primeiro lugar, o anão reduzia-se à sua pequenez, mas tinha noção de que se se pusesse nos ombros do gigante ia mais longe. Isto pressupõe que uma pessoa conhece os ensinamentos dos “grandes mestres”. Na conjuntura em que Galileu escreve, podia persistir-se no progresso cientifico sem a interferência da igreja e do poder. Galileu não foi queimado, mas chamado a Roma e julgado, sendo proibido de continuar a desenvolver aquela linha de investigação e de divulgar os resultados. No entanto, Galileu continuou a receber informações e a divulgar comunicados dos seus estudos. Matéria bruta (origem) – transformação – matéria prima (novo produto) – transformação – novo produto – transformação – novo produto Parte da matéria prima è a existência de matéria prima pressupõe a existência da matéria bruta. A própria matéria prima é um produto de transformação (tem de se ter em conta os antecedentes e os subsequentes no processo de produção. No caso de Galileu a matéria prima de que ele partia era a concepção geocêntrica – nesse processo, têm de se ter em conta os aspectos positivos e os aspectos negativos. Os elementos negativos que Galileu teve de enfrentar nessa concepção foram o senso comum, a ideologia religiosa e condições sociais. 40 Na base da autonomia de cada ciência esta a autonomia do seu objecto. 41 42 A ciência precisa de ter protocolos próprios de explicação: · Física — explicar o físico pelo físico · Sociologia — explicar o social pelo social · Surge um obstáculo à sociologia quando o social é explicado pelo extra-social ou não-social. · Vários tipos de obstáculos: · Naturalistas – explicação do social pelo natural ou pseudo natural (raça) · Individualistas / psicologistas – explicar o social através do psicológico ou do individual No processo de produção de conhecimentos foi feita uma analogia entre o processo industrial e o processo de produção de conhecimento, exemplificando a teoria heliocêntrica de Galileu. Durkheim faz a mesma analogia em relação à teoria do suicídio, tendo em conta os obstáculos individualistas que lhe foram impostos. Elementos negativos · Psicologismo – a autonomia de uma ciência passa pela definição do seu objecto · Senso comum – leva a que fenómenos como o suicídio sejam encarados como a consequência da soberania de um indivíduo sobre si mesmo, havendo uma tendência individualista e por se pensar que é um fenómeno individual, pensa-se que não seria susceptível de ter tratamento sociológico, o que não é verdade. · III rev. Francesa – trata-se de uma republica tipicamente liberal que defende o indivíduo como livre agente que dispõe a si próprio, e em que se um indivíduo singular é intendivel. Durkheim defende uma sociologia geral apoiada por sociologias particulares – no seu estudo sobre o suicídio ele sustenta que este é um fenómeno social estando contra o psicologismo que defende o suicídio como sendo um acto voluntário do indivíduo. Esse facto tem causas sociais, associando-se a um facto social exterior ao indivíduo que é coercivel, isto é, que se impõe ao indivíduo. Durkheim começa por fazer um levantamento das principais teorias explicativas do suicídio, realizadas até então e depois destrói cada uma delas ao mostrar que estão erradas ou pela forma como tratam as estatísticas e outras informações; ou então, por incorrerem em erros lógicos que não suportam as conclusões. Para Durkheim, se um fenómeno não tivesse uma explicação biológica ou psicologica era porque a explicação seria social. Assim, na sua análise constata que cada pais tem uma taxa de evolução do suicídio tipica, isto é, cada pais tem um determinado comportamento ao nível da taxa de evolução dos suicídios. 43 Durkheim apercebe-se também que existe uma sanzonalidade inerente ao suicídio, isto é, verifica que a taxa de suicídio varia de acordo com as épocas do ano. O fenómeno do suicídio tem que ser encarado como um fenómeno causado por algo exterior ao indivíduo. Durkheim salienta que apesar do fenómeno do suicídio poder ser estudado pela sociologia, isso não significa que ele seja estudado apenas em termos sociologicos, pois sustenta que o fenómeno do suicídio também pode ser estudado em termos individuais. Assim o fenómeno do suicídio deve ser conhecido sob as varias esferas do conhecimento. Obstáculos naturalistas Margaret Mead na sua obra “sex and temperament on three primitive societies” de 1935; procurou demonstrar que o comportamento sexual não era definido biologicamente, ou seja, que não existia um comportamento tipo masculino e outro tipo feminino, determinado biologicamente. · Elementos negativos · Senso comumà para o senso comum é obvio que as mulheres não foram talhadas para a gestão de empresas ou para a actividade intelectual intensa; é evidente para o cidadão comum que a mulher não esta estruturalmente preparada para desempenhar determinados papeis sociais, isto é, que elas não estavam biologicamente preparadas para desempenhar cargos de grande responsabilidade. · Ideologia ào que se verificava era uma crença registada na esfera do senso comum, apoiada pela comunidade cientifica: os cientistas viam-se na posição do censo comum declarando que as mulheres estavam limitadas à sua natureza biológica; isto acontece porque a maior parte das sociedades são patriarcais. Há um obstáculo naturalista quando os problemas que deviam ser tratados pelo social são tratados pela biologia. O estudo de Margaret Mead está na base do desenvolvimento da emancipação das mulheres no Sec. XX. Apuramento da capacidade do temperamento feminino Homens e mulheres têm temperamentos diferentes Elementos negativos Senso comum è Galileu : é evidente para toda a gente que a terra esta parada no centro do universo. 44 Analogia É evidente que as mulheres não estão preparadas para exercer cargos de comando, pois vê-se em toda a parte que elas desempenham funções domésticas e não de chefia. Academia è nas universidades havia teorização no mesmo sentido de demonstrar que o temperamento era determinado biologicamente pelo sexo – não muda! Instituições : · no seio da família tradicional o marido sente-se diminuído se a mulher trabalhar. · Na esfera religiosa, ha uma leitura do génesis segundo a qual a mulher tem um papel secundário · Esfera empresarial : as mulheres não ocupavam comandos Elementos positivos Biografia – aspectos biográficos do autor : · Margaret Mead · Família muito unida e liberal, com um nível de cultura acima da média · Foi educada no Bornard College · Franz Boas : recria fundamentação detalhada de conclusões. Assistente : Ruth Benedict “O Crisântemo e a espada” As preocupações do prof. Boas eram as aplicações rigorosas de métodos aos estudos, assim como uma ofensiva contra obstáculos naturalistas O departamento de sociologia da Universidade de Columbia tinha sido fundado por Guiddings – director muito repseitável, autoritário e anti-semita, tendo dois investigadores a trabalhar para ele que eram Judeus (entre eles Boas). Boas procurou combater cientificamente os preconceitos naturalistas (anti semitismo). Como para o seu interesse particular esses preconceitos não tinham fundamento, foi um entusiasta apoiante das investigações de Margaret Mead. “Crescendo em Samoa” procurou demonstrar que a revolta que os adolescentes mostravam para com as instituições era uma consequência ocidental, colocada pelas estruturas e obstáculos aos impulsos sexuais dos jovens. O apoio de Boas tem a ver com as condições materiais na investigação — proporcionar meios ao investigador. Margaret Mead escreveu uma espécie de Diário nos qual descrevia o seu trabalho. Teve que escolher um determinado campo de investigação. Com a ajuda dos antropólogos especializados no terreno decide estudar os Arapesh, Mundugamor e Tchambuli. 45 A diferença de actividades afectava a mulher na sociedade. As teorias que o temperamento depende biologicamente de cada sexo ficam derrotadas logo na fase da observação. O temperamento não é biologicamente determinado à a teoria naturalista estava errada. A explicação de Margaret Mead é tipicamente é tipicamente baseada na antropologia cultural americana, apoiada na psicanálise. Preocupação com a rebeldia das crianças-adolescentes e com as relações a nível do sexo. Novo produto à teoria culturalista de referencia psicanalitica Antes, o temperamente por sexo era determinado pela biologia. Depois o temperamento é explicado pelos factores extra biológicos levantando a possibilidade de se alterarem as estruturas sociais – o papel da mulher pode ser mais e melhor aproveitado. è consequência social da teoria Eram factores sociais e culturais que influenciavam este processo, explicando-se com base numa explicação primitiva. Arapesh è no processo de enculturação os rapazes e raparigas são tratados de modo igual , de modo pacifico (a comunidade como um todo) A criança ao crescer vai reproduzir os padrões que lhe foram incutidos Mundugamor è as crianças crescem numa cultura onde a agressividade é um valor, crescendo agressivos Tchambuli è ha uma preferencia clara pelas filhas, sendo estas educadas pelos padrões culturais do grupo (mais agressivas) sendo os Homens enculturados como a tradição do grupo, reproduzindo atitudes semelhantes Explicação genética dos comportamentos sociais A genética só nasce no Sec. XX Prof. Edward Wilson 1. “as sociedades de insectos” 1971 2. “sociology, the new synthesis” 1943 1. explica os comportamentos dos insectos pela genética. Será que nos humanos também é assim ? aplica a explicação sociobiológica nos macacos e depois nos omnideos. 2. o funcionamento da produção e cultura também têm uma explicação socio-biologica. Os cientistas sociais receberam este livro de uma forma polémica : o autor não sabia nada de ciências sociais. 46 O prof. Wilson publicou também “natureza humana” dando conta que não estava bem informado quanto ás ciências sociais. Este foi um livro menos elaborado, mas de boa qualidade argumentativa, onde aplica critérios sociobiológicos ao funcionamento das estruturas socio-culturais à mesma, apesar de admitir mea-culpa. 47