INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Meteorologia e Oceanografia Prof. Ricardo de Camargo Aula 1 - ACA 0430 - Meteorologia Sinótica e Aplicações à Oceanografia Meteorologia e Oceanografia • Relações Básicas • Dinâmica dos Fluidos • Principais efeitos dos padrões atmosféricos no oceano Relações Básicas Contrastes de propriedades • Densidade na superfície: 1,2 kg/m³ para o ar e 1025 kg/m³ para o oceano; • Há uma interface bastante estável devido à intensidade da força restauradora, que é a gravidade; • Em cada meio existe uma camada limite, junto à interface; • As transferências de propriedades, como calor e momento, entre os meios ocorrem em uma superfície bem definida; • A descontinuidade de densidade implica também em descontinuidades óticas, que tem grande impacto no balanço de radiação (absorção e emissão); Contrastes de propriedades • A massa do oceano é cerca de 270 vezes maior que a massa da atmosfera, o que significa que o peso de toda a coluna atmosférica acima de nós é equivalente a aproximadamente o peso de uma coluna de apenas 10 m de água; • Esta diferença de massa implica em uma grande diferença na capacidade térmica, além do fato de que o calor específico da água é 4 vezes maior que o do ar; • Uma camada de 2,5 m de água tem a mesma capacidade térmica por unidade de área que toda coluna atmosférica; • Esta capacidade térmica do oceano tem extrema importância nas variações sazonais, uma vez que o excesso de calor recebido no verão é armazenado nas camadas superficiais (0-100m) e é devolvido para a atmosfera no inverno; Contrastes de propriedades • Assim, a temperatura superficial dos oceanos varia muito menos do que a dos continentes, que não conseguem armazenas calor; Contrastes de propriedades Média sazonal da variação da amplitude da temperatura de superfície da Terra http://www.sonoma.edu/users/f/freidel/global/372lec2images.htm Associações entre Atmosfera e Oceano • Camada de mistura: limite entre os meios, na qual as propriedades estão quase homogeneizadas; • Salinidade x Umidade: assim como existe o vapor d´água dissolvido na atmosfera, existem sais dissolvidos na água do mar; • A salinidade é uma característica de toda a coluna de água enquanto que a maior parte da umidade se restringe aos níveis baixos e médios da atmosfera; • A umidade da atmosfera pode causar instabilidades mais intensas do que a salinidade no oceano. Dimensões • Atmosfera: horizontalmente contínua e limitada apenas por uma superfície inferior; • altura média da troposfera: 12 – 18 km • extensão horizontal: 40000 km • Oceano: horizontalmente limitado (bacias oceânicas de milhares de km) e também com limites superior e inferior; • profundidade média dos oceanos: 4 km • extensão horizontal (Pacífico): 15000 km • Ambos podem ser considerados uma fina camada sobre a superfície da Terra Ordem de Grandeza de ventos e correntes na interface • Vento: média de 4-5 m/s, com valores máximos acima de 40 m/s em situações extremas; • Correntes: média inferior a 1 m/s, com valores máximos de 3-4 m/s nas correntes de contorno oeste mais intensas. Dinâmica dos Fluidos Dinâmica dos Fluidos • Fluidos com vórtices turbulentos; • Importantes trocas de calor; • Governados pelas mesmas leis da física: • • • • • • Força do Gradiente de Pressão; Força de Atrito; Força da Gravidade; Conservação de massa; Conservação de energia; e Conservação de momento angular. Força de Coriolis Força inercial que se aplica a corpos que se movimentam sobre uma superfície em rotação. Aceleração de Coriolis: 2 v Fictícia → Não provoca aceleração → Desvia o movimento Força de Coriolis • O efeito da rotação da Terra implica em tendências de giro para determinados movimentos, defletindo-os para a direita (esquerda) no Hemisfério Norte (Sul); Lembrar: movimentos ciclônicos são no mesmo sentido de rotação da Terra e anticiclônicos no sentido oposto (regra da mão direita) Força Centrífuga Força aparente que se equilibra com a força centrípeta (real) Fcf m ² r : velocidade angular do objeto. Equilíbrio Hidrostático Equilíbrio entre a força de gravidade e do gradiente vertical de pressão. Dw 1 p g C z FZ Dt z 0 Em larga escala: p g z Componente vertical da Força de Coriolis Componente Vertical da Força de Atrito Geostrofia Equilíbrio Geostrófico: Equilíbrio entre a Força de Coriolis e a Força do Gradiente Horizontal de Pressão 1 p f 0v x 1 p f 0u y Movimentos horizontais muito maiores do que os verticais • Na atmosfera: movimentos acima da Camada Limite Planetária (CLP) • No oceano: movimentos a mais de 100 m de profundidade e distantes 100 km da costa Termo de Atrito Caso não-geostrófico 1 p u fv Av 2 x z 2 1 p v fu Av 2 y z Solução de Ekman nas condições de contorno: • Na atmosfera: inferior (superfície); • No oceano: superior e inferior. 2 Conservação de Massa • Para a atmosfera (compressível): 1 D u v w 0 Dt x y z • Para o oceano (incompressível): u v w 0 x y z Conservação de Calor e Sal Volume constante: i vi o vo Sal não é removido nem depositado no mar: o vo Si o vo S o Com precipitação (P), evaporação (E) e fluxo do rio (R): vo vi R P E Conservação de Momento Angular Para escoamento barotrópico divergente: D g f 0 Dt h h: espessura do fluido. g v g x u g y f 2 sen Dois processos que frequentemente dominam o balanço de vorticidade: • criação de vorticidade pelo estreitamento do tubo de vorticidade; • advecção horizontal de vorticidade absoluta. Alta e Baixa Pressão Alta pressão → Divergência Baixa pressão → Convergência • Alta pressão: Anticiclônica: Hemisfério Norte → Horário Hemisfério Sul → Anti-horário • Baixa pressão: Ciclônica: Hemisfério Norte → Anti-horário Hemisfério Sul → Horário Exemplo: Baixa Pressão Furacão Catarina: Hemisfério Sul Rotação no sentido horário. Furacão Katrina: Hemisfério Norte Rotação no sentido anti-horário. Troca de Momento Camada Limite Planetária (CLP): • Forças viscosas são válidas; • Movimentos turbulentos → origem mecânica e térmica. Mecânica: cisalhamento do vento; Térmica: aquecimento devido ao ciclo diurno. Camada Limite Oceânica (CLO): • Interações dinâmicas de pequena escala entre oceano e atmosfera; • Transferência de momento → flutuações de pressão, velocidade e tensão produzidos pela onda. Ondas e Momento • Causas: astronômicas, sísmicas ou meteorológicas; • Natureza mecânica: intensidade, persistência e pista de vento; • Dependem dos fenômenos meteorológicos: mesoescala e escala Sinótica; • Dissipação de ondas: o quebra de onda devido ao vento (whitecapping); o interação com o fundo; o quebra de onda devido ao próprio fluido. Em termos energéticos, distúrbios causados pelo vento são dominantes. Correntes e Momento • Ondas em altas frequências podem bloquear ou quebrar, se propagadas contra fortes correntes (estuários); • Correntes fortes → maior interação onda/corrente → variações de frequência absoluta, número de onda e amplitude; • Modelos de camada de mistura oceânica → todo o fluxo de momento da atmosfera é transferido para as correntes; Ondas curtas retornam momentos quase localmente; Ondas longas carregam suas dissipações para longas distâncias. Transporte de Ekman • Transferência de tensão de camadas superiores para inferiores: geração de correntes, por efeito da tensão de cisalhamento do vento (atrito) • Desvio na direção de acordo com a Força de Coriolis: • Hemisfério Norte: desvio das águas para a direita. • Hemisfério Sul: desvio para a esquerda. Espiral de Ekman, no Hemisfério Norte. Efeitos do Padrão Atmosféricos no Oceano Temperatura e salinidade nos oceanos • A distribuição de temperatura e salinidade na superfície dos oceanos é resultado dos diversos processos de interação entre o oceano e a atmosfera: balanço de calor, evaporação, precipitação e também da circulação de superfície. Temperatura • Comportamento zonal das isotermas TSM – 12/Fev/2009 TSM – 11/Ago/2009 Temperatura e salinidade nos oceanos Salinidade • Balanço entre precipitação e evaporação Temperatura e salinidade nos oceanos Salinidade • Menores valores: • • • Costa descargas fluviais; Polos derretimento de gelo Maiores valores: • • Regiões dos Anticiclones pouca precipitação; Regiões com alta evaporação Salinidade Superficial – 12/Fev/2009 Salinidade Superficial – 11/Ago/2009 Circulação Oceânica Global Existem dois tipos de movimento responsáveis pelas correntes oceânicas: • Diferença de densidade: função da temperatura e salinidade → Circulação Termohalina. • Vento: efeito em águas superficiais Circulação superficial: Giros Oceânicos Circulação Termohalina Fonte: http://imgarcade.com/ Circulação Termohalina • Águas mais densas afundam, enquanto águas menos densas tendem a submergir; • Importante mecanismo de transporte de calor através do Globo; Liberação de Calor para a Atmosfera Liberação de Calor para a Atmosfera • Pequenas alterações da Circulação Termohalina estão relacionas a grandes mudanças no clima da Terra. Fonte: http://imgarcade.com/ Circulação devido ao vento • Os alíseos de leste na região equatorial e vento de oeste nos subtrópicos induzem grandes giros de superfície nos oceanos tropicais; Circulação devido ao vento Padrão de vento na superfície Circulação devido ao vento • Nas latitudes mais altas, as correntes e giros subtropicais nos oceanos são também gerados por ação do vento, porém possuem uma forte componente termohalina Ressurgência e Subsidência Desvio da → Corrente Convergência/Divergência → Horizontal • Oceano aberto; • Costa oeste dos continentes; • Região Equatorial Bombeamento Vertical Ressurgência e Subsidência Desvio da → Corrente Convergência/Divergência → Horizontal • Oceano aberto; • Costa oeste dos continentes; • Região Equatorial Bombeamento Vertical Ressurgência e Subsidência • Oceano aberto Ressurgência e Subsidência • Ressurgência Costeira Quando há remoção de água da região costeira em direção ao mar aberto, ocorre o fenômeno conhecido por ressurgência costeira, que é o afloramento de águas subsuperficiais, por tanto, mais frias. Exemplos: Costa do Peru, Costa da Califórnia, Bacia de Santos em maior escala e Cabo Frio-RJ em escala local. obs: o fato de haver águas mais frias junto à costa pode implicar em uma intensificação da célula de brisa marítima (gerada pelo contraste térmico entre o continente e o oceano) Ressurgência e Subsidência • Subsidência Costeira Por outro lado, pode haver o acúmulo de água na costa, o que causa subsidência costeira e também grandes inundações por aumento do nível médio do mar, conhecidas como marés meteorológicas; • Estes aumentos não podem ser previstos com antecedência maior do que alguns dias (tábuas de marés, por exemplo, não incluem este fenômeno); • Quando associados a condições meteorológicas extremas, podem ter graves consequências (Índia, por exemplo) e forte poder erosivo em regiões costeiras de caráter sedimentar (costa sul-sudeste do Brasil) Brisa Marinha & Terrestre • Circulação termicamente induzida; • Causada pela diferença na capacidade térmica da terra e do mar: aquecimento diferencial. Brisa Marinha & Terrestre • Circulação termicamente induzida; • Causada pela diferença na capacidade térmica da terra e do mar: aquecimento diferencial.