Imagens Radiográficas no Ensino

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Imagens Radiográficas no
Ensino-Aprendizagem de
Anatomia Humana: relato da
experiência extensionista
Patrícia Shirley de Almeida Prado1
Pedro Bitencourt Matos2
Tânia Maria de Andrade Rodrigues3
Divanízia do Nascimento Souza4
Fernanda Carla Lima Ferreira5
Jeison Saturnino de Oliveira6
Anderson Carlos Marçal7
Resumo1234567
A utilização de novas metodologias que fomentem o aprendizado deve ser parte integrante no
processo de ensino-aprendizagem. Desta forma, a
radiografia é um importante recurso a ser utilizado
no ensino da Anatomia Humana. Este projeto busca ampliar as ferramentas pedagógicas utilizadas
no ensino das disciplinas de Anatomia Humana
do Departamento de Morfologia CCBS/UFS. Coletamos as radiografias provenientes do Hospital
Universitário-UFS, que, depois de catalogadas e separadas por segmentos anatômicos, foram classificadas em patológicas ou normais. O acervo possui
1.080 filmes. Destes, 11,94% são provenientes de
crianças e/ou adolescentes e 79,91% de adultos.
As radiografias que apresentavam algum tipo de
patologia representam 8,2% do total, sendo pé/
tornozelo (37,5%), joelho e lombar (ambos 15,9%)
os segmentos mais afetados. O projeto abrange
cerca de 2.360 alunos/ano, cujas radiografias poderão ser utilizadas por sete disciplinas da área de
Anatomia Humana, demonstrando a relevância do
desenvolvimento deste trabalho.
Palavras-chave: ensino, anatomia radiológica, radiografias, ferramentas pedagógicas.
Professora Doutora de Anatomia Humana do Departamento de Biomorfologia/UFBA, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde.
1
Estudante Voluntário do projeto de Extensão, graduando do Curso de Educação Física/UFS, Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde.
2
Professora Doutora de Anatomia Humana do Departamento
de Morfologia/UFS, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde.
3
Professora Doutora em Tecnologia Nuclear do Departamento de Física/UFS, Centro de Ciências Exatas e Tecnologia.
4
Professora Doutora em Física do Departamento de Física/UFPA.
5
Professor Mestre de Anatomia Humana do Departamento de Morfologia/UFS, Centro de Ciências Biológicas
e da Saúde.
6
Professor Doutor de Anatomia Humana do Departamento de Morfologia/UFS, Centro de Ciências Biológicas e da
Saúde. [email protected]. Coordenador do Projeto.
7
Radiographyc Images Into the
Teaching-Learning Process
of Human Anatomy: report of
extension project
Abstract
The use of new methodologies that promote learning
must be integrant part in the teaching-learning process. Therefore, radiography is an important resource
to be used in the education of the Human Anatomy.
This project seeks to enhance the used pedagogical
tools in the education of them disciplines of Human
Anatomy of the Department of Morphology CCBS/
UFS. We collected radiographs from the UFS-University Hospital, which after catalogued and separated by
anatomical segments they were classified in pathological or normal. The collection has 1.080 films, of
these, 11.94% were from children and/or adolescent
and 79.91% of adults. The radiographs that presented some type of pathology represent 8.2% of the total, being foot/ankle (37.5%), knee and lumbar (both
15.9%) the most affected segments. The project encloses about 2.360 students/year, whose radiographs
may be used for seven discipline of the area Human
Anatomy, demonstrating the relevance of the development of this work.
Key words: education, radiological anatomy, radiographs, teaching tools.
Imagens Radiográficas no Ensino-aprendizagem de
Anatomia Humana: relato de experiência
Introdução
A Radiologia é definida como uma especialidade
médica que utiliza qualquer forma de radiação
ionizante, sonora ou magnética, passível de transformação em imagens para fins diagnósticos ou
terapêuticos (KOCH, 1997). Os primeiros apontamentos da Radiologia surgiram em 1895, com a
descoberta dos raios X pelo físico alemão Corand
Roentgen na Universidade de Wrisburg na Alemanha. Após três anos a nova técnica foi incorporada
à área da saúde, sendo, durante um longo período, o único método de captação de imagens.
A descoberta dos raios x foi o marco inicial. Primordialmente seu uso limitava-se ao diagnóstico
de fraturas e também para localização de projéteis, principalmente durante a I Guerra Mundial.
Nessa época também começaram experimentos
utilizando filmes, a fim de analisar o movimento
sequencial na tentativa de observar o funcionamento do organismo (KOCH, 1997).
Entretanto, posteriormente, descobriram-se os
efeitos colaterais causados por altas doses de radiação, e foi necessário interromper seu uso. Na
década de 50, uma técnica de intensificação de
imagem foi descoberta, e as dificuldades superadas. A partir daí, o raio X ganhou novas utilidades
e outras técnicas surgiram no campo da medicina, como o escaneamento isotópico na mesma
década, o ultra-som na década de 60, a tomografia computadorizada foi desenvolvida nos anos
70 e a imagem por ressonância magnética (IRM)
nos anos 80 (KOCH, 1997).
O diagnóstico por imagem abrange setores como
radiodiagnóstico, radioterapia, ultra-sonografia,
medicina nuclear, tomografia computadorizada
(TC), ressonância magnética (IRM), além de métodos invasivos como punções, biópsia e procedimentos cirúrgicos (retirada de cálculos) na chamada Radiologia Intervencionista (SUTTON, 1996).
A Radiologia convencional ou radiodiagnóstico,
foco deste projeto, utiliza a técnica de raios X para
verificação de estruturas e do funcionamento do
221
organismo, orientando, dessa forma, o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento de doenças e
lesões. Os raios X são radiações eletromagnéticas
de pequeno comprimento de onda, que se propagam em linha reta na velocidade da luz, ionizando
a matéria. Dependendo da densidade da matéria,
a radiação pode ultrapassar, ser absorvida ou refletida por objetos (KOCH, 1997).
Mesmo com uma aparelhagem altamente sofisticada, o método de produção de raios X continua
basicamente o mesmo utilizado por Roentgen
(SUTTON, 1996). São produzidos a partir de estímulo elétrico, em que uma corrente elétrica excita o cátodo (polo negativo) a liberar elétrons,
que por sua vez são atraídos para o ânodo (polo
positivo), liberando energia a partir do choque.
Apenas 1% da energia gerada a partir do choque
é convertida em raios X, enquanto todo o resto
é transformado em calor. Portanto, ao cessar a
transmissão de energia elétrica, cessa também a
produção de calor (KOCH, 1997).
A instrumentação utilizada muda consideravelmente. Levando em conta os avanços alcançados
no campo da radiologia, os instrumentos variam,
de acordo com o método indicado, do mais simples ao mais sofisticado. De acordo com KOCH
(1997), a sala para realização do exame deve ser
revestida com paredes blindadas para evitar a
passagem da radiação para o exterior. Devem ser
utilizados também acessórios como anteparos,
aventais de chumbo e vidros pumblíferos, que reduzem a exposição dos profissionais à radiação.
Os raios X são produzidos no interior da ampola,
que é um tubo de vidro, recoberto por uma capa
metálica e introduzido no colimador ou diafragma. O colimador auxilia na definição da área a ser
radiografada, limitando-a, auxiliando também,
desta forma, na diminuição da exposição do paciente à radiação (KOCH, 1997). No caso de crianças, essas preocupações devem ser ainda maiores.
Deve-se evitar a realização de exames radiológicos desnecessários, evitar também doses excessivas de radiação no momento da realização do
222
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São Cristóvão-SE | N° 2 | 2013
exame, e utilizar vestimentas individuais e protetores gonadais, visto que as crianças apresentam
maior sensibilidade aos efeitos da radiação e têm
maior expectativa de vida e necessidade de possível realização de novos procedimentos, portanto,
nova exposição à radiação, que tem caráter cumulativo, podendo causar danos genéticos e câncer,
principalmente leucemia (PABLOT; KYRIOU; FITZGERALD, 2006). A radiação produzida no interior
desse tubo é propagada em linha reta de forma
divergente a partir deste (KOCH, 1997).
Utiliza-se ainda, um estojo metálico (chassis) que
protege o filme radiográfico da luz. Esse filme é
composto por uma chapa de poliéster banhada
por uma solução de gelatina e cristais de prata.
Este último é sensibilizado pela radiação, denotando a cor negra à placa. A mesa (horizontal) e/
ou o mural (vertical) são utilizados para sustentar
o filme radiográfico e para posicionamento do
paciente durante a execução do exame. O écran
é uma folha de material fluorescente, colocada
sobre o filme no momento da execução, que permite o uso de uma menor quantidade de radiação
para sensibilizar o filme (KOCH, 1997).
Pode-se fazer uso também do seriógrafo, aparelho
dotado de fluoroscopia, que permite a documentação de uma mesma amostra em curtos intervalos de tempo sem a necessidade de trocar o filme.
Já o angiógrafo é dotado de um intensificador de
imagem unido a um trocador de filmes, obtendo
também desta forma a documentação da estrutura em diferentes espaços de tempo (KOCH, 1997).
A formação da imagem se dá pela relação radiação/matéria, em que o peso atômico das estruturas a serem radiografadas, ora por absorver, ora por
refletir a radiação, diminui-a, possibilitando assim
uma faixa de cores que varia do negro ao branco,
denominada de densidade radiográfica, como demonstrado no Quadro 1. Sendo assim, após a revelação, as áreas brancas (imagem radiopaca) correspondem a radiação que foi absorvida pelo corpo
do paciente e as áreas negras (imagem radiotransparente) demonstram que à radiação não sofreu
interferência nenhuma e sensibilizou o filme. As
possíveis tonalidades de cinza indicam diferentes
graus de absorção dos Raios X (KOCH, 1997).
Quadro 1 – densidade radiográfica
Densidade radiológica
Absorção
Imagem
Metal
Total
Branca brilhante
Cálcio
Grande
Branca
Água (partes
moles)
Média
Cinza
Gordura
Pouca
Quase preta
Ar
Nenhuma
Preta
Fonte: Koch, 1997. Radiologia na Formação do Médico
Geral. p. 13.
No caso das estruturas que apresentam a mesma
densidade radiográfica, a imagem também pode
ser definida pelo contraste radiológico, que distingue as mesmas. Os meios de contraste apresentam permeabilidade diferente aos Raios X quando
em relação ao corpo e auxiliam na distinção de estruturas a partir da densidade radiográfica dessas,
efetivando maior precisão nos radiodiagnósticos.
(PINHO et al, 2009). Podem ser administrados às
diversas cavidades e órgãos, como também nos
vasos sanguíneos. São considerados contrastes o
ar e outros gases no interior do organismo, utilizados sempre em radiografias do tórax por meio de
inspiração forçada. (SUTTON, 1996). Há ainda contrastes artificiais à base de bário e iodo, contrastes
do tipo iso-osmolar não iônico, que se aproxima
do ideal pretendido na realização dos procedimentos quanto a sua eficácia e quanto ao baixo
risco para o organismo. Entretanto, não há disponibilidade deste no Brasil devido ao seu alto custo
(BIONDO-SIMÕES et al, 2003). As reações adversas
vão desde alterações inflamatórias, granuloma
de corpo estranho, bronquite aguda ou crônica,
broncopneumonia, atelectasia, edema, enfisema,
necrose, fibrose, podendo ocorrer até a morte do
indivíduo (BIONDO-SIMÕES et al, 2003).
Imagens Radiográficas no Ensino-aprendizagem de
Anatomia Humana: relato de experiência
A Radiologia como Ferramenta de
Auxílio no Aprendizado de Estruturas
Anatômicas
A anatomia é a área do conhecimento que estuda
a estrutura do organismo e as relações entre suas
partes. Do grego: anatomein: ana em partes e tomein cortar, sendo seu correspondente no latim:
dissecare: dis separadamente e secare cortar (McMINN et al, 2000,).
Dessa forma, a ciência que estuda e descreve a
estrutura e funcionamento do organismo utiliza
de diversos instrumentos investigativos e pedagógicos. A radiologia é de grande valia no ensino
da Anatomia Humana. As imagens a partir desses
exames auxiliam o aprendizado das estruturas
anatômicas e suas correlações.
A anatomia humana é uma das disciplinas básicas para os cursos de ciências da saúde e outras
áreas com enfoque na estrutura e funcionamento
humano, sendo muito amplo o leque de conhecimento que abrange a disciplina de anatomia.
A utilização pedagógica da radiologia é um instrumento de grande importância para o ensino
de Anatomia Humana, sendo formada uma sub-área de conhecimento chamada de Anatomia
Radiológica, em que se compara conhecimento
da área com as técnicas de formação da imagem,
reiterando a interdisciplinaridade e reforçando a
necessidade de comparação entre diversas áreas
de conhecimento sem perder as características
fundamentais da área de conhecimento.
O Papel das Atividades de Extensão
na Construção dos Saberes e Práticas
no Departamento de Morfologia
A difusão da ciência de forma multidisciplinar e
integradora é uma prática comum de nosso Departamento. O grupo composto pelo professor
Doutor Alexandre Luna Cândido e colaboradores
(alunos de diferentes cursos do Centro de Ciên-
223
cias Biológicas e da Saúde e professores do Departamento de Morfologia) participa ativamente
na consolidação de laboratórios de ensino localizados em distintas regiões de Sergipe. Entre as
atividades desenvolvidas, propiciou a efetivação
do laboratório do Colégio Municipal Lenízia Menezes, que conta com manual que contém diversas aulas práticas das áreas de Biologia e Química, coordenado pelo professor Doutor Alexandre
Luna Cândido. Entre as atividades, também contam com cursos de capacitação ministrados a
professores e alunos do referido colégio. Estes
relatos foram sistematizadas na forma de um artigo científico e foram publicados recentemente
na revista de Extensão da Universidade Federal de
Sergipe (CÂNDIDO et al., 2011). A professora Tânia
Maria de Andrade Rodrigues, professora Doutora
da área de Anatomia Humana de nosso Departamento e também coordenadora do Museu de
Anatomia, desenvolve trabalhos extensionistas
na comunidade com medidas socioeducativas
quanto à questão do aborto e uso de drogas entre educandos pertencentes ao ensino médio da
região de Aracaju e de cidades circunvizinhas a
nossa Universidade (MELO et al., 2011).
Estas ações socioeducativas visam contribuir para
a formação de cidadãos e auxiliar na escolha da
futura profissão entre os escolares do ensino médio e fundamental. Esta linha de pensamento está
de acordo com Mortimer (2002), uma vez que
atividades propostas de diferentes estratégias de
ensino podem contribuir para a tomada de decisões que influenciarão na formação do indivíduo.
De uma forma geral, o conhecimento ministrado
nas escolas do ensino médio, fundamental e nas
universidades tem como base o uso da memorização e abordagem de conceitos que refletem
a realidade de uma forma que contribui para o
afastamento do aluno, o que causa muitas vezes,
o desinteresse e o afastamento dos mesmos do
conhecimento científico (CARVALHO, 1995).
Diante desta realidade, não podemos deixar de
lado um de nossos papéis na sociedade: contri-
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São Cristóvão-SE | N° 2 | 2013
buir para a formação do cidadão “alfabetizado
em Ciência” (KRASILCHIK, 1996) e integrar os conceitos da Ciência e de Tecnologias voltados para
a sociedade contemporânea. Para tanto é imperioso que os alunos conheçam as “novas tecnologias” e verifiquem de forma aplicada os conceitos
ministrados pelos professores.
Em países desenvolvidos, foram propostos e aplicados programas nas áreas de Ciências conhecidos como “Ciências, Tecnologias e Sociedades”,
entre as décadas 70 e 80 com o intuito de estimular e esclarecer que os cidadãos podem e devem
participar das decisões relativas ao que tange ao
desenvolvimento científico e tecnológico (KRASILCHIK, 1992). No Brasil, a prática integradora
entre a tríade Ciência-Tecnologia-Sociedade está
inserida nos Parâmetros Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio, que propõe que o ensino
de Ciências deve ser voltado para o educando de
forma a desenvolver um ambiente favorável para
compreensão da Ciência e inter-relacionar este
conhecimento com o seu cotidiano contribuindo
assim para ruptura de paradigmas e para a formação da sociedade como um todo (MEC, 1999).
Diante deste pressuposto, o presente trabalho
relata a experiência do desenvolvimento do trabalho de extensão intitulado “Cadastramento,
avaliação e atualização do material radiológico
do Departamento de Morfologia da Universidade
Federal de Sergipe” no Departamento de Morfologia do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Objetivo
Como um dos objetivos deste projeto, propomo-nos facilitar o estudo e o aprendizado dos alunos
que cursam a disciplina Anatomia Radiológica na
Universidade Federal de Sergipe, bem como de todas as disciplinas da Anatomia Humana. Para tanto,
para ampliar os instrumentos pedagógicos utilizados na grande Área de Anatomia Humana Departamento de Morfologia CCBS/UFS, nos propusemos a
catalogar, atualizar e ampliar o material radiológico
e, posteriormente, manter a catalogação do mesmo
e atualizar o material semestralmente, após o término de cada período letivo no período de março de
2009 a setembro de 2011. Este material será de livre
acesso a professores, alunos e também estará disponível no Museu de Anatomia localizado em nosso
Departamento para serem utilizados durante visitas
de comunidades externas à instituição o qual possibilitando a compreensão e identificação de estruturas ósseas em filmes radiográficos, popularmente
conhecidos como “chapas” ou radiografias.
Material e Métodos
Cerca de 1080 radiografias foram adquiridas do
Hospital Universitário da Universidade Federal de
Sergipe e consistiam em radiografias de segmentos anatômicos variados (quadril, coluna, mão,
joelho, pé, cabeça, etc.) de indivíduos de faixas
etárias distintas, de ambos os sexos e com uso de
técnicas radiológicas variadas, tais como Raio X,
TC, RM, ultrassonografias, dentre outras.
A separação do material obedeceu à divisão por
grupos. Inicialmente foram descartados os filmes
danificados ou que não viabilizassem o objetivo
do projeto. Em seguida, a separação foi realizada
de acordo com a faixa etária, havendo a separação,
apenas, entre indivíduos adultos e/ou crianças.
Foram separados também por seguimentos anatômicos (mão, cotovelo, ombro, coluna cervical,
lombar e toráxica, quadril, pé, joelho, tornozelo e
cabeça) e, dentro dessa divisão, foram ainda separados em normal e patológico, quando da presença de alguma enfermidade. Radiografias que não
apresentavam laudos, mas que se reconheciam
indícios de patologias, foram encaminhadas para
o possível diagnóstico.
A separação também obedeceu ao tipo de técnica utilizada, sendo separadas as radiologias convencionais – Raio X – das de técnicas mais especializadas – TC e RM.
Imagens Radiográficas no Ensino-aprendizagem de
Anatomia Humana: relato de experiência
A catalogação do acervo foi realizada em pastas-arquivos e obedeceu às subdivisões anteriormente citadas. As radiografias foram separadas
em pastas por segmento anatômico, separados
ainda em normal e patológico. As radiografias
patológicas e seus laudos foram sinalizados em
ordem alfabética para facilitar tanto a busca do
material quanto a organização do mesmo.
225
Figura 1 – Percentual de radiografias provenientes
do Hospital Universitário da Universidade Federal
de Sergipe classificadas em radiografias de adultos,
crianças/adolescentes e provenientes de pacientes
com alguma patologia associada.
Há ainda pastas específicas para as radiografias
infantis e de técnicas especializadas, que seguem
o mesmo esquema; radiologias normais e radiologias patológicas, essas últimas seguidas por seus
laudos, devidamente identificadas.
Todo o desenvolvimento deste acervo só foi possível graças a participação de alunos de graduação participantes do projeto, bem como de professores, técnicos e do apoio principal da PROEX,
órgão fomentador das atividades de extensão em
nossa Universidade.
Resultados e Discussão
Na figura 1, evidenciamos a porcentagem de radiografias provenientes de pacientes com patologias, crianças/adolescentes e de indivíduos
adultos saudáveis. Dentre as 1080 radiografias,
cerca de 8,2% eram provenientes de pacientes
acometidos por alguma patologia tais como fraturas, amputações, edemas pulmonares, calcificações, desvios posturais, osteoporose, dentre outros, 79,91% eram de indivíduos adultos e 11,94%
eram de crianças saudáveis.
Fonte: Hospital Universitário, 2011.
Na figura 2, evidenciamos quais as radiografias
mais comuns em condições patológicas catalogadas no acervo de imagens radiográficas. As fraturas mais comuns foram as de pé e tornozelo com
37,5% da margem total representativa, seguidas
de joelho e região vertebral lombar, ambas com
15,9%. Apesar de ser uma pequena porcentagem
de imagens em condições patológicas, a utilização de radiografias, bem como a elaboração de
um acervo de radiografias no ensino de anatomia
Humana é pioneiro, uma vez que o nosso Departamento apresentava poucos recursos áudio/visuais com exemplos que estimulassem o educando e o instigassem pela busca do conhecimento.
A utilização de instrumentos que fomentem e
facilitem o aprendizado devem ser parte integrante no processo de ensino aprendizagem,
sejam esses “tecnologias convencionais” ou
façam parte das “novas tecnologias”. A radiografia pode ser considerada como uma técnica convencional, uma vez que existe já algum
tempo, todavia, o seu valor no processo de en-
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São Cristóvão-SE | N° 2 | 2013
sino-aprendizagem é de essencial importância,
uma vez que evidencia claramente a estrutura
óssea normal e uma possível descontinuidade
(fraturas ósseas) e/ou presença de “achados radiográficos” (um corpo estranho metálico pós-trauma por exemplo) (MASSETTO, 2000).
Figura 2 - Percentual de radiografias provenientes
do Hospital Universitário da Universidade Federal
de Sergipe classificadas quanto à localização anatômica da fratura e/ou patologia detectada.
A busca por melhores recursos e o emprego
desses durante e após as aulas didáticas são
o que torna mais atrativa para o educando a
busca do conhecimento, estimulando o despertar do interesse e favorece assim, o aprendizado pelos mesmos. Segundo Martínez
(2004, p. 96) relata que:
É necessário ter em mente que a incorporação de “novas tecnologias” não
pretende substituir as “velhas” ou “convencionais”, que ainda são – e continuarão sendo – utilizadas. O que se busca,
na verdade, é complementar ambos os
tipos de tecnologias a fim de tornar
mais eficazes os processos de ensino e
aprendizagem.
Partindo desta linha de pensamento, a utilização
de diferentes mídias e outros recursos audiovisuais, tais como vídeos, internet, transparências,
data show, visitas técnicas, torna-se imprescindível na consolidação do conhecimento ministrado pelos professores no ensino de Anatomia.
Estes recursos, associados à utilização de outros
materiais didáticos disponíveis em nosso Departamento, tais como uso de ossos, cadáveres e,
agora, radiografias, graças ao apoio da equipe
PROEX, que propiciou o desenvolvimento deste
projeto, complementam ainda mais como uma
alternativa de ensino na consolidação da aprendizagem dos educandos.
Fonte: Hospital Universitário, 2011.
A figura 3 relata a quantidade de imagens provenientes de indivíduos adultos saudáveis,
constatamos que o acervo conta com 13,9% das
radiografias que se referem a imagens provenientes da região do crânio e da região do pé/
tornozelo (ambas com a mesma porcentagem
representativa), seguidas de 9,7% por imagens
provenientes do joelho. É importante salientar
que o acervo conta com imagens provenientes
de outras técnicas, como ressonância (10,4%) e
enema opaco (10,2%).
Imagens Radiográficas no Ensino-aprendizagem de
Anatomia Humana: relato de experiência
Figura 3 - Percentual de radiografias provenientes
do Hospital Universitário da Universidade Federal
de Sergipe classificadas quanto à localização anatômica das imagens radiográficas provenientes de
indivíduos adultos saudáveis.
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Figura 4 - Percentual de radiografias provenientes
do Hospital Universitário da Universidade Federal
de Sergipe classificadas quanto à localização anatômica das imagens radiográficas provenientes de
crianças saudáveis.
Fonte: Hospital Universitário, 2011.
Fonte: Hospital Universitário, 2011.
Este projeto foi importante, uma vez que foi possível
catalogar imagens provenientes de crianças cujas
radiografias mais comuns foram a de Tórax (PA – Vista Póstero/Anterior) com 56,6%, seguida pela imagem proveniente da região do tórax na posição de
perfil com 20,16% do total de imagens (Figura 4).
Este projeto tem grande abrangência na área de
Anatomia humana, pois em média, temos cerca
de 732 alunos no primeiro período de cada ano
letivo distribuídos em sete disciplinas (Anatomia
Humana I, Anatomia Humana II, Anatomia Radiológica, Anatomia de Cabeça e Pescoço, Neuroanatomofisiologia, Elementos de Anatomia Humana
e Bases de Anatomia para Educação Física) que
atendem a diversos cursos do Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de
Sergipe. Já o segundo período conta com uma
média de 1627 alunos, esses distribuídos em seis
disciplinas (Anatomia Humana I, Anatomia Humana II, Anatomia de Cabeça e Pescoço, Neuroanatomofisiologia, Elementos de Anatomia Humana
e Bases de Anatomia para Educação Física).
Diante desta realidade, o acervo de radiografias
não ficará restrito apenas à disciplina de Anatomia
Radiológica, mas também poderá ser utilizada por
qualquer disciplina da área de Anatomia Humana,
tendo em vista que a formação do aluno deve ir
além do quadro de giz e também que devem ser
propostas medidas alternativas que consolidem
o conhecimento ministrado pelas aulas teóricas e
práticas da disciplina de Anatomia Humana.
Conclusão
Este projeto foi importante, uma vez que possibilitou (e ainda possibilita) o acesso a este acervo
de cerca de 2359 alunos que frequentam anualmente o Departamento de Morfologia dos diferentes cursos pertencentes ao Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde da Universidade Federal
de Sergipe. Estes números são ainda maiores,
pois, na realidade, estes materiais poderão ser
utilizados como recursos visuais para palestras
e/ou apresentações ministradas no Museu de
Anatomia Professor Osvaldo da Cruz Leite, que
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REVISTA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UFS
São Cristóvão-SE | N° 2 | 2013
constantemente tem visitas de diversos alunos
do ensino médio monitoradas por graduandos
de nossa instituição.
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