219 Imagens Radiográficas no Ensino-Aprendizagem de Anatomia Humana: relato da experiência extensionista Patrícia Shirley de Almeida Prado1 Pedro Bitencourt Matos2 Tânia Maria de Andrade Rodrigues3 Divanízia do Nascimento Souza4 Fernanda Carla Lima Ferreira5 Jeison Saturnino de Oliveira6 Anderson Carlos Marçal7 Resumo1234567 A utilização de novas metodologias que fomentem o aprendizado deve ser parte integrante no processo de ensino-aprendizagem. Desta forma, a radiografia é um importante recurso a ser utilizado no ensino da Anatomia Humana. Este projeto busca ampliar as ferramentas pedagógicas utilizadas no ensino das disciplinas de Anatomia Humana do Departamento de Morfologia CCBS/UFS. Coletamos as radiografias provenientes do Hospital Universitário-UFS, que, depois de catalogadas e separadas por segmentos anatômicos, foram classificadas em patológicas ou normais. O acervo possui 1.080 filmes. Destes, 11,94% são provenientes de crianças e/ou adolescentes e 79,91% de adultos. As radiografias que apresentavam algum tipo de patologia representam 8,2% do total, sendo pé/ tornozelo (37,5%), joelho e lombar (ambos 15,9%) os segmentos mais afetados. O projeto abrange cerca de 2.360 alunos/ano, cujas radiografias poderão ser utilizadas por sete disciplinas da área de Anatomia Humana, demonstrando a relevância do desenvolvimento deste trabalho. Palavras-chave: ensino, anatomia radiológica, radiografias, ferramentas pedagógicas. Professora Doutora de Anatomia Humana do Departamento de Biomorfologia/UFBA, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. 1 Estudante Voluntário do projeto de Extensão, graduando do Curso de Educação Física/UFS, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. 2 Professora Doutora de Anatomia Humana do Departamento de Morfologia/UFS, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. 3 Professora Doutora em Tecnologia Nuclear do Departamento de Física/UFS, Centro de Ciências Exatas e Tecnologia. 4 Professora Doutora em Física do Departamento de Física/UFPA. 5 Professor Mestre de Anatomia Humana do Departamento de Morfologia/UFS, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. 6 Professor Doutor de Anatomia Humana do Departamento de Morfologia/UFS, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. [email protected]. Coordenador do Projeto. 7 Radiographyc Images Into the Teaching-Learning Process of Human Anatomy: report of extension project Abstract The use of new methodologies that promote learning must be integrant part in the teaching-learning process. Therefore, radiography is an important resource to be used in the education of the Human Anatomy. This project seeks to enhance the used pedagogical tools in the education of them disciplines of Human Anatomy of the Department of Morphology CCBS/ UFS. We collected radiographs from the UFS-University Hospital, which after catalogued and separated by anatomical segments they were classified in pathological or normal. The collection has 1.080 films, of these, 11.94% were from children and/or adolescent and 79.91% of adults. The radiographs that presented some type of pathology represent 8.2% of the total, being foot/ankle (37.5%), knee and lumbar (both 15.9%) the most affected segments. The project encloses about 2.360 students/year, whose radiographs may be used for seven discipline of the area Human Anatomy, demonstrating the relevance of the development of this work. Key words: education, radiological anatomy, radiographs, teaching tools. Imagens Radiográficas no Ensino-aprendizagem de Anatomia Humana: relato de experiência Introdução A Radiologia é definida como uma especialidade médica que utiliza qualquer forma de radiação ionizante, sonora ou magnética, passível de transformação em imagens para fins diagnósticos ou terapêuticos (KOCH, 1997). Os primeiros apontamentos da Radiologia surgiram em 1895, com a descoberta dos raios X pelo físico alemão Corand Roentgen na Universidade de Wrisburg na Alemanha. Após três anos a nova técnica foi incorporada à área da saúde, sendo, durante um longo período, o único método de captação de imagens. A descoberta dos raios x foi o marco inicial. Primordialmente seu uso limitava-se ao diagnóstico de fraturas e também para localização de projéteis, principalmente durante a I Guerra Mundial. Nessa época também começaram experimentos utilizando filmes, a fim de analisar o movimento sequencial na tentativa de observar o funcionamento do organismo (KOCH, 1997). Entretanto, posteriormente, descobriram-se os efeitos colaterais causados por altas doses de radiação, e foi necessário interromper seu uso. Na década de 50, uma técnica de intensificação de imagem foi descoberta, e as dificuldades superadas. A partir daí, o raio X ganhou novas utilidades e outras técnicas surgiram no campo da medicina, como o escaneamento isotópico na mesma década, o ultra-som na década de 60, a tomografia computadorizada foi desenvolvida nos anos 70 e a imagem por ressonância magnética (IRM) nos anos 80 (KOCH, 1997). O diagnóstico por imagem abrange setores como radiodiagnóstico, radioterapia, ultra-sonografia, medicina nuclear, tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (IRM), além de métodos invasivos como punções, biópsia e procedimentos cirúrgicos (retirada de cálculos) na chamada Radiologia Intervencionista (SUTTON, 1996). A Radiologia convencional ou radiodiagnóstico, foco deste projeto, utiliza a técnica de raios X para verificação de estruturas e do funcionamento do 221 organismo, orientando, dessa forma, o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento de doenças e lesões. Os raios X são radiações eletromagnéticas de pequeno comprimento de onda, que se propagam em linha reta na velocidade da luz, ionizando a matéria. Dependendo da densidade da matéria, a radiação pode ultrapassar, ser absorvida ou refletida por objetos (KOCH, 1997). Mesmo com uma aparelhagem altamente sofisticada, o método de produção de raios X continua basicamente o mesmo utilizado por Roentgen (SUTTON, 1996). São produzidos a partir de estímulo elétrico, em que uma corrente elétrica excita o cátodo (polo negativo) a liberar elétrons, que por sua vez são atraídos para o ânodo (polo positivo), liberando energia a partir do choque. Apenas 1% da energia gerada a partir do choque é convertida em raios X, enquanto todo o resto é transformado em calor. Portanto, ao cessar a transmissão de energia elétrica, cessa também a produção de calor (KOCH, 1997). A instrumentação utilizada muda consideravelmente. Levando em conta os avanços alcançados no campo da radiologia, os instrumentos variam, de acordo com o método indicado, do mais simples ao mais sofisticado. De acordo com KOCH (1997), a sala para realização do exame deve ser revestida com paredes blindadas para evitar a passagem da radiação para o exterior. Devem ser utilizados também acessórios como anteparos, aventais de chumbo e vidros pumblíferos, que reduzem a exposição dos profissionais à radiação. Os raios X são produzidos no interior da ampola, que é um tubo de vidro, recoberto por uma capa metálica e introduzido no colimador ou diafragma. O colimador auxilia na definição da área a ser radiografada, limitando-a, auxiliando também, desta forma, na diminuição da exposição do paciente à radiação (KOCH, 1997). No caso de crianças, essas preocupações devem ser ainda maiores. Deve-se evitar a realização de exames radiológicos desnecessários, evitar também doses excessivas de radiação no momento da realização do 222 REVISTA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UFS São Cristóvão-SE | N° 2 | 2013 exame, e utilizar vestimentas individuais e protetores gonadais, visto que as crianças apresentam maior sensibilidade aos efeitos da radiação e têm maior expectativa de vida e necessidade de possível realização de novos procedimentos, portanto, nova exposição à radiação, que tem caráter cumulativo, podendo causar danos genéticos e câncer, principalmente leucemia (PABLOT; KYRIOU; FITZGERALD, 2006). A radiação produzida no interior desse tubo é propagada em linha reta de forma divergente a partir deste (KOCH, 1997). Utiliza-se ainda, um estojo metálico (chassis) que protege o filme radiográfico da luz. Esse filme é composto por uma chapa de poliéster banhada por uma solução de gelatina e cristais de prata. Este último é sensibilizado pela radiação, denotando a cor negra à placa. A mesa (horizontal) e/ ou o mural (vertical) são utilizados para sustentar o filme radiográfico e para posicionamento do paciente durante a execução do exame. O écran é uma folha de material fluorescente, colocada sobre o filme no momento da execução, que permite o uso de uma menor quantidade de radiação para sensibilizar o filme (KOCH, 1997). Pode-se fazer uso também do seriógrafo, aparelho dotado de fluoroscopia, que permite a documentação de uma mesma amostra em curtos intervalos de tempo sem a necessidade de trocar o filme. Já o angiógrafo é dotado de um intensificador de imagem unido a um trocador de filmes, obtendo também desta forma a documentação da estrutura em diferentes espaços de tempo (KOCH, 1997). A formação da imagem se dá pela relação radiação/matéria, em que o peso atômico das estruturas a serem radiografadas, ora por absorver, ora por refletir a radiação, diminui-a, possibilitando assim uma faixa de cores que varia do negro ao branco, denominada de densidade radiográfica, como demonstrado no Quadro 1. Sendo assim, após a revelação, as áreas brancas (imagem radiopaca) correspondem a radiação que foi absorvida pelo corpo do paciente e as áreas negras (imagem radiotransparente) demonstram que à radiação não sofreu interferência nenhuma e sensibilizou o filme. As possíveis tonalidades de cinza indicam diferentes graus de absorção dos Raios X (KOCH, 1997). Quadro 1 – densidade radiográfica Densidade radiológica Absorção Imagem Metal Total Branca brilhante Cálcio Grande Branca Água (partes moles) Média Cinza Gordura Pouca Quase preta Ar Nenhuma Preta Fonte: Koch, 1997. Radiologia na Formação do Médico Geral. p. 13. No caso das estruturas que apresentam a mesma densidade radiográfica, a imagem também pode ser definida pelo contraste radiológico, que distingue as mesmas. Os meios de contraste apresentam permeabilidade diferente aos Raios X quando em relação ao corpo e auxiliam na distinção de estruturas a partir da densidade radiográfica dessas, efetivando maior precisão nos radiodiagnósticos. (PINHO et al, 2009). Podem ser administrados às diversas cavidades e órgãos, como também nos vasos sanguíneos. São considerados contrastes o ar e outros gases no interior do organismo, utilizados sempre em radiografias do tórax por meio de inspiração forçada. (SUTTON, 1996). Há ainda contrastes artificiais à base de bário e iodo, contrastes do tipo iso-osmolar não iônico, que se aproxima do ideal pretendido na realização dos procedimentos quanto a sua eficácia e quanto ao baixo risco para o organismo. Entretanto, não há disponibilidade deste no Brasil devido ao seu alto custo (BIONDO-SIMÕES et al, 2003). As reações adversas vão desde alterações inflamatórias, granuloma de corpo estranho, bronquite aguda ou crônica, broncopneumonia, atelectasia, edema, enfisema, necrose, fibrose, podendo ocorrer até a morte do indivíduo (BIONDO-SIMÕES et al, 2003). Imagens Radiográficas no Ensino-aprendizagem de Anatomia Humana: relato de experiência A Radiologia como Ferramenta de Auxílio no Aprendizado de Estruturas Anatômicas A anatomia é a área do conhecimento que estuda a estrutura do organismo e as relações entre suas partes. Do grego: anatomein: ana em partes e tomein cortar, sendo seu correspondente no latim: dissecare: dis separadamente e secare cortar (McMINN et al, 2000,). Dessa forma, a ciência que estuda e descreve a estrutura e funcionamento do organismo utiliza de diversos instrumentos investigativos e pedagógicos. A radiologia é de grande valia no ensino da Anatomia Humana. As imagens a partir desses exames auxiliam o aprendizado das estruturas anatômicas e suas correlações. A anatomia humana é uma das disciplinas básicas para os cursos de ciências da saúde e outras áreas com enfoque na estrutura e funcionamento humano, sendo muito amplo o leque de conhecimento que abrange a disciplina de anatomia. A utilização pedagógica da radiologia é um instrumento de grande importância para o ensino de Anatomia Humana, sendo formada uma sub-área de conhecimento chamada de Anatomia Radiológica, em que se compara conhecimento da área com as técnicas de formação da imagem, reiterando a interdisciplinaridade e reforçando a necessidade de comparação entre diversas áreas de conhecimento sem perder as características fundamentais da área de conhecimento. O Papel das Atividades de Extensão na Construção dos Saberes e Práticas no Departamento de Morfologia A difusão da ciência de forma multidisciplinar e integradora é uma prática comum de nosso Departamento. O grupo composto pelo professor Doutor Alexandre Luna Cândido e colaboradores (alunos de diferentes cursos do Centro de Ciên- 223 cias Biológicas e da Saúde e professores do Departamento de Morfologia) participa ativamente na consolidação de laboratórios de ensino localizados em distintas regiões de Sergipe. Entre as atividades desenvolvidas, propiciou a efetivação do laboratório do Colégio Municipal Lenízia Menezes, que conta com manual que contém diversas aulas práticas das áreas de Biologia e Química, coordenado pelo professor Doutor Alexandre Luna Cândido. Entre as atividades, também contam com cursos de capacitação ministrados a professores e alunos do referido colégio. Estes relatos foram sistematizadas na forma de um artigo científico e foram publicados recentemente na revista de Extensão da Universidade Federal de Sergipe (CÂNDIDO et al., 2011). A professora Tânia Maria de Andrade Rodrigues, professora Doutora da área de Anatomia Humana de nosso Departamento e também coordenadora do Museu de Anatomia, desenvolve trabalhos extensionistas na comunidade com medidas socioeducativas quanto à questão do aborto e uso de drogas entre educandos pertencentes ao ensino médio da região de Aracaju e de cidades circunvizinhas a nossa Universidade (MELO et al., 2011). Estas ações socioeducativas visam contribuir para a formação de cidadãos e auxiliar na escolha da futura profissão entre os escolares do ensino médio e fundamental. Esta linha de pensamento está de acordo com Mortimer (2002), uma vez que atividades propostas de diferentes estratégias de ensino podem contribuir para a tomada de decisões que influenciarão na formação do indivíduo. De uma forma geral, o conhecimento ministrado nas escolas do ensino médio, fundamental e nas universidades tem como base o uso da memorização e abordagem de conceitos que refletem a realidade de uma forma que contribui para o afastamento do aluno, o que causa muitas vezes, o desinteresse e o afastamento dos mesmos do conhecimento científico (CARVALHO, 1995). Diante desta realidade, não podemos deixar de lado um de nossos papéis na sociedade: contri- 224 REVISTA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UFS São Cristóvão-SE | N° 2 | 2013 buir para a formação do cidadão “alfabetizado em Ciência” (KRASILCHIK, 1996) e integrar os conceitos da Ciência e de Tecnologias voltados para a sociedade contemporânea. Para tanto é imperioso que os alunos conheçam as “novas tecnologias” e verifiquem de forma aplicada os conceitos ministrados pelos professores. Em países desenvolvidos, foram propostos e aplicados programas nas áreas de Ciências conhecidos como “Ciências, Tecnologias e Sociedades”, entre as décadas 70 e 80 com o intuito de estimular e esclarecer que os cidadãos podem e devem participar das decisões relativas ao que tange ao desenvolvimento científico e tecnológico (KRASILCHIK, 1992). No Brasil, a prática integradora entre a tríade Ciência-Tecnologia-Sociedade está inserida nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, que propõe que o ensino de Ciências deve ser voltado para o educando de forma a desenvolver um ambiente favorável para compreensão da Ciência e inter-relacionar este conhecimento com o seu cotidiano contribuindo assim para ruptura de paradigmas e para a formação da sociedade como um todo (MEC, 1999). Diante deste pressuposto, o presente trabalho relata a experiência do desenvolvimento do trabalho de extensão intitulado “Cadastramento, avaliação e atualização do material radiológico do Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Sergipe” no Departamento de Morfologia do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Objetivo Como um dos objetivos deste projeto, propomo-nos facilitar o estudo e o aprendizado dos alunos que cursam a disciplina Anatomia Radiológica na Universidade Federal de Sergipe, bem como de todas as disciplinas da Anatomia Humana. Para tanto, para ampliar os instrumentos pedagógicos utilizados na grande Área de Anatomia Humana Departamento de Morfologia CCBS/UFS, nos propusemos a catalogar, atualizar e ampliar o material radiológico e, posteriormente, manter a catalogação do mesmo e atualizar o material semestralmente, após o término de cada período letivo no período de março de 2009 a setembro de 2011. Este material será de livre acesso a professores, alunos e também estará disponível no Museu de Anatomia localizado em nosso Departamento para serem utilizados durante visitas de comunidades externas à instituição o qual possibilitando a compreensão e identificação de estruturas ósseas em filmes radiográficos, popularmente conhecidos como “chapas” ou radiografias. Material e Métodos Cerca de 1080 radiografias foram adquiridas do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe e consistiam em radiografias de segmentos anatômicos variados (quadril, coluna, mão, joelho, pé, cabeça, etc.) de indivíduos de faixas etárias distintas, de ambos os sexos e com uso de técnicas radiológicas variadas, tais como Raio X, TC, RM, ultrassonografias, dentre outras. A separação do material obedeceu à divisão por grupos. Inicialmente foram descartados os filmes danificados ou que não viabilizassem o objetivo do projeto. Em seguida, a separação foi realizada de acordo com a faixa etária, havendo a separação, apenas, entre indivíduos adultos e/ou crianças. Foram separados também por seguimentos anatômicos (mão, cotovelo, ombro, coluna cervical, lombar e toráxica, quadril, pé, joelho, tornozelo e cabeça) e, dentro dessa divisão, foram ainda separados em normal e patológico, quando da presença de alguma enfermidade. Radiografias que não apresentavam laudos, mas que se reconheciam indícios de patologias, foram encaminhadas para o possível diagnóstico. A separação também obedeceu ao tipo de técnica utilizada, sendo separadas as radiologias convencionais – Raio X – das de técnicas mais especializadas – TC e RM. Imagens Radiográficas no Ensino-aprendizagem de Anatomia Humana: relato de experiência A catalogação do acervo foi realizada em pastas-arquivos e obedeceu às subdivisões anteriormente citadas. As radiografias foram separadas em pastas por segmento anatômico, separados ainda em normal e patológico. As radiografias patológicas e seus laudos foram sinalizados em ordem alfabética para facilitar tanto a busca do material quanto a organização do mesmo. 225 Figura 1 – Percentual de radiografias provenientes do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe classificadas em radiografias de adultos, crianças/adolescentes e provenientes de pacientes com alguma patologia associada. Há ainda pastas específicas para as radiografias infantis e de técnicas especializadas, que seguem o mesmo esquema; radiologias normais e radiologias patológicas, essas últimas seguidas por seus laudos, devidamente identificadas. Todo o desenvolvimento deste acervo só foi possível graças a participação de alunos de graduação participantes do projeto, bem como de professores, técnicos e do apoio principal da PROEX, órgão fomentador das atividades de extensão em nossa Universidade. Resultados e Discussão Na figura 1, evidenciamos a porcentagem de radiografias provenientes de pacientes com patologias, crianças/adolescentes e de indivíduos adultos saudáveis. Dentre as 1080 radiografias, cerca de 8,2% eram provenientes de pacientes acometidos por alguma patologia tais como fraturas, amputações, edemas pulmonares, calcificações, desvios posturais, osteoporose, dentre outros, 79,91% eram de indivíduos adultos e 11,94% eram de crianças saudáveis. Fonte: Hospital Universitário, 2011. Na figura 2, evidenciamos quais as radiografias mais comuns em condições patológicas catalogadas no acervo de imagens radiográficas. As fraturas mais comuns foram as de pé e tornozelo com 37,5% da margem total representativa, seguidas de joelho e região vertebral lombar, ambas com 15,9%. Apesar de ser uma pequena porcentagem de imagens em condições patológicas, a utilização de radiografias, bem como a elaboração de um acervo de radiografias no ensino de anatomia Humana é pioneiro, uma vez que o nosso Departamento apresentava poucos recursos áudio/visuais com exemplos que estimulassem o educando e o instigassem pela busca do conhecimento. A utilização de instrumentos que fomentem e facilitem o aprendizado devem ser parte integrante no processo de ensino aprendizagem, sejam esses “tecnologias convencionais” ou façam parte das “novas tecnologias”. A radiografia pode ser considerada como uma técnica convencional, uma vez que existe já algum tempo, todavia, o seu valor no processo de en- 226 REVISTA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UFS São Cristóvão-SE | N° 2 | 2013 sino-aprendizagem é de essencial importância, uma vez que evidencia claramente a estrutura óssea normal e uma possível descontinuidade (fraturas ósseas) e/ou presença de “achados radiográficos” (um corpo estranho metálico pós-trauma por exemplo) (MASSETTO, 2000). Figura 2 - Percentual de radiografias provenientes do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe classificadas quanto à localização anatômica da fratura e/ou patologia detectada. A busca por melhores recursos e o emprego desses durante e após as aulas didáticas são o que torna mais atrativa para o educando a busca do conhecimento, estimulando o despertar do interesse e favorece assim, o aprendizado pelos mesmos. Segundo Martínez (2004, p. 96) relata que: É necessário ter em mente que a incorporação de “novas tecnologias” não pretende substituir as “velhas” ou “convencionais”, que ainda são – e continuarão sendo – utilizadas. O que se busca, na verdade, é complementar ambos os tipos de tecnologias a fim de tornar mais eficazes os processos de ensino e aprendizagem. Partindo desta linha de pensamento, a utilização de diferentes mídias e outros recursos audiovisuais, tais como vídeos, internet, transparências, data show, visitas técnicas, torna-se imprescindível na consolidação do conhecimento ministrado pelos professores no ensino de Anatomia. Estes recursos, associados à utilização de outros materiais didáticos disponíveis em nosso Departamento, tais como uso de ossos, cadáveres e, agora, radiografias, graças ao apoio da equipe PROEX, que propiciou o desenvolvimento deste projeto, complementam ainda mais como uma alternativa de ensino na consolidação da aprendizagem dos educandos. Fonte: Hospital Universitário, 2011. A figura 3 relata a quantidade de imagens provenientes de indivíduos adultos saudáveis, constatamos que o acervo conta com 13,9% das radiografias que se referem a imagens provenientes da região do crânio e da região do pé/ tornozelo (ambas com a mesma porcentagem representativa), seguidas de 9,7% por imagens provenientes do joelho. É importante salientar que o acervo conta com imagens provenientes de outras técnicas, como ressonância (10,4%) e enema opaco (10,2%). Imagens Radiográficas no Ensino-aprendizagem de Anatomia Humana: relato de experiência Figura 3 - Percentual de radiografias provenientes do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe classificadas quanto à localização anatômica das imagens radiográficas provenientes de indivíduos adultos saudáveis. 227 Figura 4 - Percentual de radiografias provenientes do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe classificadas quanto à localização anatômica das imagens radiográficas provenientes de crianças saudáveis. Fonte: Hospital Universitário, 2011. Fonte: Hospital Universitário, 2011. Este projeto foi importante, uma vez que foi possível catalogar imagens provenientes de crianças cujas radiografias mais comuns foram a de Tórax (PA – Vista Póstero/Anterior) com 56,6%, seguida pela imagem proveniente da região do tórax na posição de perfil com 20,16% do total de imagens (Figura 4). Este projeto tem grande abrangência na área de Anatomia humana, pois em média, temos cerca de 732 alunos no primeiro período de cada ano letivo distribuídos em sete disciplinas (Anatomia Humana I, Anatomia Humana II, Anatomia Radiológica, Anatomia de Cabeça e Pescoço, Neuroanatomofisiologia, Elementos de Anatomia Humana e Bases de Anatomia para Educação Física) que atendem a diversos cursos do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de Sergipe. Já o segundo período conta com uma média de 1627 alunos, esses distribuídos em seis disciplinas (Anatomia Humana I, Anatomia Humana II, Anatomia de Cabeça e Pescoço, Neuroanatomofisiologia, Elementos de Anatomia Humana e Bases de Anatomia para Educação Física). Diante desta realidade, o acervo de radiografias não ficará restrito apenas à disciplina de Anatomia Radiológica, mas também poderá ser utilizada por qualquer disciplina da área de Anatomia Humana, tendo em vista que a formação do aluno deve ir além do quadro de giz e também que devem ser propostas medidas alternativas que consolidem o conhecimento ministrado pelas aulas teóricas e práticas da disciplina de Anatomia Humana. Conclusão Este projeto foi importante, uma vez que possibilitou (e ainda possibilita) o acesso a este acervo de cerca de 2359 alunos que frequentam anualmente o Departamento de Morfologia dos diferentes cursos pertencentes ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de Sergipe. Estes números são ainda maiores, pois, na realidade, estes materiais poderão ser utilizados como recursos visuais para palestras e/ou apresentações ministradas no Museu de Anatomia Professor Osvaldo da Cruz Leite, que 228 REVISTA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UFS São Cristóvão-SE | N° 2 | 2013 constantemente tem visitas de diversos alunos do ensino médio monitoradas por graduandos de nossa instituição. Referências BIONDO-SIMÕES, MLP et al. Estudo comparativo dos meios de contraste baritado e iodado-iônico e não iônico no trato respiratório de ratos. Acta Cirúrgica Brasileira. vol 18 (5), 2003. CÂNDIDO A.L. et al. Difusão da Ciência. Revista de extensão. Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, p. 41-54. 2010. CARVALHO L.M.D. A temática ambiental e a produção de material didático: uma proposta interdisciplinar. In: Coletânea 3ª Escola de Verão. São Paulo, FEUSP, 1995. DANGELO, José Geraldo; FATTINI, Carlo Américo. 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