astrologia e leitura fria

Propaganda
ASTROLOGIA E LEITURA FRIA
2
Sumário
1
Astrologia .............................................................................................3
1.1
Aspectos psicológicos ........................................................................................ 3
1.1.1
Leitura Fria ..................................................................................................... 3
1.1.1.1
1.1.2
1.2
Existem três fatores importantes na leitura fria: ...................................... 4
Alguns estudos comprovam a eficiência da leitura fria e do efeito Forer: ..... 5
Conclusões.......................................................................................................... 6
3
1 Astrologia
por Ana Luiza Barbosa de Oliveira
08/12/2002
http://www.projetoockham.org/pseudo_astrologia_7.html
1.1
Aspectos psicológicos
Defensores da astrologia psicológica argumentam que a astrologia existe há milhares
de anos e tem sido correta na descrição da personalidade das pessoas. Este argumento se
baseia somente no testemunho de consumidores felizes com seu horóscopo e os conselhos
recebidos e não valida a astrologia como Ciência. Isto simplesmente confirma a eficácia da
leitura fria, o efeito Forer e a predisposição para a confirmação.
1.1.1 Leitura Fria
A leitura fria é uma técnica desenvolvida por mágicos para maravilhar as platéias e foi
utilizada, conscientemente ou não, durante milênios por adivinhos e médiuns. Ela pode ser
utilizada com dois objetivos: fazer a pessoa agir de uma certa maneira ou acreditar que o
interlocutor consegue adivinhar coisas a respeito dela.
A leitura fria se baseia nos princípios da manipulação: sugestão e adulação. As
pessoas, em geral, tendem a ser um tanto quanto egocêntricas e a possuir uma visão não
realista sobre si mesmas, portanto facilmente aceitam afirmações feitas sobre elas que não
refletem necessariamente a realidade e, sim, a forma como elas se vêem ou gostariam de ser.
4
Outro aspecto importante é a memória seletiva: mesmo que o manipulador faça várias
afirmações erradas sobre a pessoa, ela tenderá a se lembrar somente das corretas.
A seletividade da mente humana não é uma função que pode ser simplesmente
desligada. Nosso cérebro está sempre inconscientemente escolhendo aquilo que lembraremos
no futuro e descartando dados considerados irrelevantes. Ser enganado pela leitura fria não
significa que a pessoa é facilmente enganável ou pouco inteligente, na realidade é mais fácil
manipular uma pessoa inteligente e com raciocínio lógico desenvolvido, pois, assim, ela é
capaz de entender e seguir as conexões feitas pelo manipulador.
Nem todos que utilizam a leitura fria o fazem de maneira maliciosa. Muitos médiuns,
astrólogos, tarólogos e outros oráculos realmente acreditam que possuem poderes extrasensoriais e ficam maravilhados com as informações que simplesmente parecem surgir nas
suas mentes.
1.1.1.1 Existem três fatores importantes na leitura fria:
1. Pesquisa de detalhes: o médium faz uma afirmação vaga porém sugestiva do tipo: "Eu
sinto uma energia relacionada ao mês janeiro..." Se a pessoa confirmar, ele segue por esta
linha, se a pessoa refutar ele vai lentamente mudando a direção da conversa e "pescando"
detalhes.
2. Todas as alegações são vagas ou na forma de perguntas: "Eu sinto uma sensação
morna na área da nuca..." ou "Você tem sentimentos fortes em relação a uma pessoa nesta
sala, certo?".
3. As ocasiões em que o médium erra serão seletivamente esquecidas.
Outro fator presente em várias pseudociências é o chamado efeito Barnum, ou efeito
Forer, identificado pela primeira vez pelo psicólogo B.R. Forer. (O nome Barnum parece ter
sido uma homenagem de Forer ao artista de circo P. T. Barnum conhecido por sua grande
habilidade como manipulador psicológico). Forer descobriu que as pessoas tendem a aceitar
descrições de personalidade vagas e gerais como se fossem única e exclusivamente suas sem
5
perceber que as descrições se aplicam a quase qualquer pessoa. Este efeito é conhecido pela
psicologia há mais de 20 anos e existem vários trabalhos sobre o assunto.
1.1.1.2 Alguns estudos comprovam a eficiência da leitura fria e do efeito Forer:
O próprio Michel Gauquelin colocou um anúncio em um jornal francês oferecendo
horóscopos. Ele enviou o perfil de um assassino em série para as 150 pessoas que
responderam ao anúncio. Quando entrevistadas mais tarde, 94% dessas pessoas afirmaram
que se reconheciam naquele perfil.
Geoffrey Dean inverteu os perfis astrológicos de 22 pessoas, ou seja, substituiu as
frases do horóscopo por outras que significavam o oposto. Ainda assim, as pessoas
continuaram a afirmar que os perfis se adequavam a elas em 95% dos casos, a mesma
freqüência das pessoas que receberam os horóscopos corretos.
Em outro estudo, ele também demonstrou que as diferenças de personalidade de
gêmeos idênticos não podem ser previstas através da astrologia. Este trabalho foi publicado na
Revista Personality and Individual Differences, 21(3), páginas 449-454 em 1996.
Além da leitura fria e do efeito Barnum, outro importante fator psicológico é a
tendência para a confirmação (confirmation bias). Esta tendência é um tipo de pensamento
seletivo e inconsciente em que tendemos a perceber somente os fatos que apóiam aquilo que
acreditamos e ignorar ou diminuir aqueles que nos contradizem. Isto é um fato tão arraigado
no ser humano que leva muitos cientistas a projetar experimentos tendenciosos que
confirmam suas teorias. Portanto é sempre necessário que autores com idéias contrárias
revisem artigos científicos. Este fenômeno conhecido e extensivamente estudado também é
observado em diagnósticos médicos.
Outro aspecto interessante é que culturas que possuem outros tipos de astrologia
também "sentem" sua influência e acreditam que os horóscopos descrevem totalmente sua
personalidade. Na realidade a astrologia está tão arraigada nas vidas das pessoas que elas
passam a assumir características relativas ao seu signo. Exemplo: geminianos são
6
extremamente comunicativos, logo alguém que passa a vida inteira ouvindo e lendo isso,
passa inconscientemente a agir de forma comunicativa.
Na astrologia chinesa, os signos são designados de acordo com o ano de nascimento e
este signo é utilizado para descrever a personalidade e prever o destino de uma pessoa. Em
vista disto, as pessoas nascidas em um ano ruim chegam a ponto de morrerem mais cedo ao
internalizar o fato de que têm um destino ruim. E explosões de nascimento ocorrem em anos
auspiciosos como o ano do dragão. Portanto, mesmo sendo um sistema astrológico diferente
do ocidental, a astrologia chinesa "funciona" para aqueles que acreditam nela, ou seja, a
eficiência de qualquer sistema astrológico é um fenômeno meramente cultural.
1.2
Conclusões
Carl Sagan em seu livro Um Mundo Assombrado por Demônios apresenta uma
metáfora muito útil para analisar um tipo de alegação muito comum nas pseudociências: o
dragão flutuante invisível que cospe fogo frio na garagem. Este é um exemplo de alegações
que não podem ser testadas e asserções que não podem ser negadas, as quais não possuem
valor
algum,
não
importa
o
quão
maravilhosas
e
inspiradoras
elas
sejam.
Além disso, os astrólogos e outros seguidores de pseudociências criam explicações ad
hoc: para cada teste proposto ou realizado eles apresentam suas explicações especiais: "os
astrólogos consultados não eram profissionais de primeira linha", "há mais coisas entre o céu
e a terra que imagina nossa vã filosofia", "não é nenhuma força conhecida da Ciência" (mas
não descrevem esta nova força, nem apresentam evidência da sua ação) e por aí vai.
A astrologia existe há cerca de 5000 anos e até hoje não foi apresentado nenhum
mecanismo que explique porque a posição de alguns corpos celestes (aqueles visíveis a olho
nu e os planetas descobertos mais recentemente) têm influência sobre a personalidade e
destino das pessoas.
Nesse meio tempo a Astronomia evoluiu desde o geocentrismo até o espaço curvo de
Einstein. Seriam os astrólogos menos inteligentes? Não é o caso, pois muitos dos grandes
astrônomos ganhavam a vida como astrólogos e, apesar de terem proposto teorias que em
7
muito contribuíram para a astronomia (Kepler foi um deles), por algum motivo eles não
propuseram nenhuma teoria astrológica.
É claro que somente porque nenhum mecanismo foi proposto, não implica a priori a
inexistência do fenômeno. No entanto, os astrólogos também não apresentam evidências
sólidas de que o fenômeno existe. Nenhum observador externo consegue ver o fenômeno, não
existe nenhum mecanismo proposto, parece um dragão invisível flutuante que cospe fogo frio.
A Astrologia pode ser considerada uma Arte e como todos os oráculos (jogo de
búzios, tarô, quiromancia etc) não possui nenhuma base científica. Neste caso, os astrólogos
estão corretos porque não cabe questionar a Astrologia através do método científico. Porém
eles não podem alegar nenhum valor empírico na sua arte. Mas se por outro lado, eles
desejarem ser reconhecidos como cientistas, devem se comportar e serem avaliados como tais.
Ana Luiza Barbosa de Oliveira
Formada em engenharia química pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Perita
da Polícia Federal.
e-mail: [email protected]
© Todos os direitos reservados à autora.
Download