“Microarrays” Reais e Virtuais: Passo a Passo Anastasios Koutsos Alexandra Manaia Julia Willingale-Theune Versão 2.3 Versão Portuguesa ELLS – European Learning Laboratory for the Life Sciences Anastasios Koutsos, Alexandra Manaia e Julia Willingale-Theune “Microarrays” Reais e Virtuais: Passo a Passo Versão 2.3 “ M i c r oarrays” R e a i s e Virtuais “Microarrays” reais: passo a passo “Microarray” virtual: passo a passo Produção dos fragmentos de ADN O tapete Para produzir os microarrays os cientistas: Pode fabricar o seu próprio tapete ou pode - usam a “PCR (polymerase chain reaction)”, técnica de amplificação de ADN que produz milhares de pequenos fragmentos de ADN em cadeia dupla. - ou, caso conheçam a sequência nucleotídica escrever-nos ([email protected]) e encomendar a versão do tapete em plástico (1x2.5 m), especialmente concebida para ser utilizada na sala de aula por 40 Euros (não incluindo custos de envio). do gene, podem encomendar a produção de fragmentos em cadeia simples com idêntica composição nucleotídica. Impressão ou “spotting” Impressão ou “spotting” Os microarrays de ADN podem ser facilmente No “Microarray Virtual”, um tapete de tecido produzidos no laboratório usando lâminas de representa a lâmina de vidro contendo 10 spots. vidro, como as que são correntemente utilizadas Cada “spot” contém fragmentos de ADN em em microscopia. Imprimir 20 000 pequeníssimos cadeia simples, específicos de um destes 10 “spots ” de ADN (cada “spot” contendo biliões genes: Alexandre Fleming, Jacques Monod, de cópias de ADN de um mesmo gene) numa Thomas Morgan, Barbara Mcclintock, Leo pequena superfície é uma tarefa muito difícil. Szilárd, John Kendrew, Francis Crick, Rosalind Os “spots” têm de ser exactamente da mesma franklin, Maurice Wilkins e James Watson. As forma e equidistantes uns dos outros. Estas moléculas de ADN são representadas por Velcro dificuldades conseguem ser ultrapassadas colorido. Por exemplo, para o gene John graças à utilização de robots no fabrico dos Kendrew, os fragmentos de Velcro são “microarrays”. vermelhos. Terá que colocar os fragmentos de Velcro correspondentes a cada gene, no respectivo “spot” (círculo), no seu tapete de “microarray”. 3 _____________________________________________________________________“Microarrays” Reais e Virtuais _ O braço do robot transporta um conjunto especial de 48 tubos capilares em ouro até aos reservatórios, onde se encontram as várias soluções de fragmentos de ADN que vão ser impressos nas lâminas. Como estes capilares são muito sofisticados, delicados e caros, o robot está equipado com apenas 48, que são utilizados inúmeras vezes. O braço do robot mergulha os capilares nas amostras, retira-as e posiciona-se sobre uma fila de lâminas de vidro pré-tratadas. Então, pressiona ligeiramente os capilares, de modo a que cada capilar deposite 200nl de amostra na lâmina de vidro. Quando uma linha de “spots” fica impressa na primeira lâmina, o braço move-se para a segunda lâmina e assim sucessivamente, de modo a que todas as lâminas possuam uma fila equivalente de “spots”. Quando uma fila está completa em todas as lâminas, o braço lava os capilares, mergulhando-os depois num novo conjunto de amostras. Regressa então à primeira lâmina onde imprime uma nova fila de spots. O processo é repetido muitas vezes até à produção de uma série de lâminas- cada lâmina é um “microarray” com 20,000 spots. Após impressão as lâminas são aquecidas para fixar o ADN ao vidro. Extracção de mARN Extracção de mARN Para realizar uma experiência com microarrays, O mARN é representado por lanternas de bolso. os cientistas extraem mARN das células que Cada lanterna corresponde a mARN de cadeia querem estudar. A extracção é um processo simples específico de um determinado gene (Velcro relativamente simples. vermelho para o mARN correspondente ao gene Para cada experiência, é necessário utilizar mARN proveniente de dois tipos de células: John Kendrew). Cada lanterna tem também uma etiqueta de identificação. 4 _____________________________________________________________________“Microarrays” Reais e Virtuais _ células controlo e do tipo celular que se está a O número exacto e os nomes das lanternas será estudar. Por exemplo, cientistas interessados em discutido adiante. Por agora basta saber que estudar células cancerosas, utilizariam mARN de existem umas lanternas correspondentes ao células normais (não-cancerosas) como controlo mARN das células controlo e outras e mARN proveniente de células cancerosas do correspondentes ao mARN das células em mesmo tipo de tecido. estudo. As lanternas precisam de ser marcadas com Uma vez extraídas, as moléculas de mARNs precisam de ser marcadas com moléculas fluorescentes1, de modo a poderem ser detectadas mais tarde, na superfície do microarray. O mARN das células controlo é papel transparente autocolante verde ou vermelho representando o mARN dos tipos celulares: vermelho para o mARN das células cancerosas e verde para o mARN das células controlo. geralmente marcado com uma molécula fluorescente verde e o mARN das células em estudo é marcado com um marcador fluorescente vermelho. Hibridação Hibridação Neste passo, o mARN controlo (marcado a Trata-se agora de hibridar os mARNs marcados verde) é misturado com o mARN teste (marcado com as moléculas fluorescentes (lanternas) com as a vermelho). A mistura é vertida sobre a moléculas de ADN (Velcro), presentes no superfície da lâmina de vidro que é então microarray (tapete). Coloca-se a mistura de incubada a 42°C, de modo a que as cadeias lanternas em contacto com o “microarray” (tapete). simples mARN da mistura se liguem (hibridem) Apenas as lanternas com Velcro de cores ao ADN complementar no microarray. Após apropriadas irão hibridar com as moléculas de 12 horas, o “microarray” é lavado de modo a ADN em cadeia simples, presentes no remover as moléculas de mARN que não tenham “microarray”. Por exemplo: as lanternas com encontrado alvos complementares nas lâminas. Velcro vermelho vão hibridar com o Velcro O “microarray” está então pronto a ser vermelho no “microarray” e as lanternas com digitalizado –“scanneado”. Velcro amarelo hibridarão com o Velcro amarelo no “microarray”. As lanternas com uma cor de Velcro que não exista no “microarray” (tapete) não se ligarão. As moléculas de Velcro que apresentam mais do que uma cor (ver na figura abaixo, a lanterna que está 1 As cores não são vísiveis à luz normal. na mão), representam a situação em que apenas 5 _____________________________________________________________________“Microarrays” Reais e Virtuais _ uma porção do mARN é complementar ao ADN presente no “microarray”. Nestes casos, a hibridação é muito fraca e as moléculas de mARN fracamente ligadas, são eliminadas durante a lavagem. Colocar as lanternas no tapete, ligando-as ao Velcro da mesma cor, no tapete. Neste ponto deve ligar-se a luz das lanternas. Scanning do “microarray”—aquisição de Scanning do “microarray”—aquisição de imagem imagem Chegou o momento de identificar quais os Para fazer o “scanning” do microarray virtual, ligar mARN que hibridaram com as moléculas alvo de todas as lanternas que se encontram sobre o ADN. Para tal, utiliza-se um “scanner laser”, tapete do microarray, não as retirando dos seus segundo um princípio semelhante ao “scanner” lugares. Desligar então as luzes da sala e observar que digitaliza as imagens para uso, num o microarray. Ir analisando o microarray “spot” a computador. O laser faz o “scanning” da lâmina “spot” (círculo a círculo). e combina as imagens, produzindo uma imagem final que se assemelha à figura abaixo: O que se pode dizer acerca da intensidade de cores? É de notar que no “microarray” virtual não é possível reproduzir os “spots” amarelos. No entanto, os spots vermelhos e verdes são fácilmente distinguíveis. Convém anotar o número de lanternas vermelhas e verdes para cada gene. Estes dados serão necessários para a análise dos resultados. Tal como para os microarrays reais, os círculos mostram uma gradação de cores. Num círculo Reparando atentamente na figura acima, onde só há lanternas vermelhas, só o mARN de notamos que não há só “spots” vermelhos e células cancerosas hibridou com as moléculas de verdes mas também “spots” amarelos e laranja. ADN. Do mesmo modo, os círculos verdes correspondem a uma hibridação exclusivamente 6 _____________________________________________________________________“Microarrays” Reais e Virtuais _ Os spots vermelhos contêm apenas mARN de de mRNA das células controlo. Os círculos células cancerosas, e os “spots” verdes apenas amarelos correspondem a igual quantidade de mARN das células controlo, não cancerosas. mARN nas células cancerosas e nas células Mas o que acontece se quantidades idênticas de controlo. Isto é uma simplificação, pois como mARN das células controlo e das células vemos, no “microarray” real pode observar-se cancerosas hibridarem com o mesmo ADN alvo? grande variação na cor dos “spots” (ver o “ícone” Da sobreposição dos sinais verde e vermelho para esta actividade na página Web!), que só resulta um sinal amarelo! É preciso não esquecer consegue ser decifrada com auxílio de um que o mARN hibrida com o ADN no “scanner laser” e de um programa de análise. “microarrray” que lhe é complementar, e que um “spot” no microarray representa biliões de cópias de ADN de UM único gene. Por outras palavras, quando um “spot” é amarelo, quer dizer que existem quantidades aproximadamente iguais de mARN desse gene nas células cancerosas e nas células controlo. Quando um “spot” é laranja, quer dizer que existe uma quantidade relativa maior de mARN desse gene nas células cancerosas do que nas células controlo (normais). Os “spots” pretos correspondem a uma ausência de mARN específico desses genes, quer nas células controlo quer nas células cancerosas. Normalização Normalização No “Microarray de ADN” nem sempre a Segundo o que puderam ler quanto ao fabrico intensidade do “spot” corresponde à quanti- dos “microarrays” reais, os cientistas conseguem dade real de mARN que hibridou. Isto porque o estimar a quantidade de mARN, a partir da cor do processo de marcação do mARN é influenciado spot após scanning e análise do “microarray”. Em pelo tamanho da cadeia do mARN e pelo tipo paralelo, também podemos estimar o número de de marcador utilizado. Um processo matemático lanternas por círculo, através da intensidade da luz. designado por normalização corrige as Mas consideremos o seguinte exemplo: se intensidades dos “spots”, de modo a que estas existe uma lanterna num “spot”, e se noutro “spot” reflictam a quantidade de mARN presente nas existem duas lanternas, e se todas as lanternas moléculas hibridadas. Depois da normalização a tiverem o mesmo número de baterias, então será análise dos dados pode prosseguir. de esperar que a luz emitida por duas lanternas seja duas vezes tão intensa quanto a de uma só lanterna. Mas o que acontecerá se as baterias das duas lanternas possuírem apenas metade da 7 _____________________________________________________________________“Microarrays” Reais e Virtuais _ intensidade? Nesse caso, as duas lanternas num “spot” serão tão intensas quanto a única lanterna no outro “spot”. Por outras palavras, a quantidade de luz das lanternas no “microarray” virtual não depende apenas do número de lanternas, mas também do tipo de baterias que existem em cada lanterna. Análise e “Clustering” Análise e “Clustering” Se os cientistas analisassem os resultados “spot” Este passo será explicado na secção: Exercícios a “spot”, levariam anos a analisar um de clustering para a sala de aula [PDF]. “microarray”. Assim, os cientistas desenvolveram uma maneira de associarem os genes que têm um comportamento semelhante em grupos- os “clusters”. Existem programas de computador que permitem executar estes passos automaticamente. 8 Agradecimentos Gostaríamos de agradecer a todos os que contribuíram para a elaboração desta actividade: - Ao Udo Ringeisen e a toda a equipa do Departamento de Fotografia do EMBL (EMBL Photolab), pela impressão dos tapetes do “microarray” em tecido, (para demonstração em cursos ou festivais de ciência) e pela produção da versão em plástico, (para utilização na sala de aula); - Ao Thomas Sandmann, na altura estudante de doutoramento no EMBL-Heidelberg, por várias discussões e sugestões muito úteis e também por nos ter chamado a atenção para o excelente material sobre “microarrays” intitulado ‚Snapshots of Science and Medicine‘, produzido pelo “NIH Office of Science Education”, em conjunto com o “Office of Research on Women‘s Health”; - Ao Russ Hodge, na altura, no Departamento de Comunicação e Relações Públicas do EMBL-Heidelberg (“Office of Information and Public Affairs” [OIPA]), bem como a toda equipa do “European Learning Laboratory for the Life Sciences” [ELLS], por muitas discussões, sugestões e apoio; - A Giovanni Frazzetto, Mehrnoosh Rayner e Vassiliki Koumandou por terem lido a primeira versão desta actividade e por terem contribuído para melhorá-la com as suas ideias e comentários. - A vários amigos e colegas do EMBL-Heidelberg com quem partilhámos ideias, entusiasmo e dúvidas; - “Os Exercícios para a sala de aula” foram adaptados do material sobre “microarrays” intitulado “Snapshots of Science and Medicine”, produzido pelo “NIH Office of Science Education”. Pode ser encontrado no seguinte website: science-education.nih.gov/snapshots; Imagem de capa por André-Pierre Olivier; Traduzido por Alexandra Manaia; Editado por Corinne Kox e Sonia Furtado. O ELLS usa licenças de direitos de autor Creative Commons para salvaguardar material produzido para os ELLS LLABs que será posteriormente utilizado por professores e outras instituições. Os símbolos de direitos de autor aparecem também no website ELLS TeachingBASE e nos ficheiros pdf, doc e ppt disponíveis para download. Atribuição Uso Não-Comercial Compartilhamento pela mesma licença Esta licença permite a terceiros remisturar, alterar e usar o seu trabalho como base, para fins não-comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito a si e utilizem uma licença idêntica para a obra resultante. O seu trabalho pode ser obtido por download e redistribuído tal como na licença Atribuição-Uson Não-Comercial - Não a obras Derivadas, mas também pode ser traduzido e/ou remisturado, e podem ser produzidas novas obras com base nele. Todas as novas obras baseadas na sua terão a mesma licença, portanto quaisquer obras derivadas serão também de natureza não-comercial. Além disso, os autores das obras derivadas não podem insinuar que a obra derivada foi apoiada ou aprovada pelo(a) autor(a) da obra original. Significado dos símbolos de direitos de autor: Partilhar Remisturar Atribuição Uso Não-Comercial Compartilhamento pela mesma licença Para mais informações, consultar http://creativecommons.org/international/pt/ Copyright European Molecular Biology Laboratory 2010