JC Relations - Jewish

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Jewish-Christian Relations
Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue
Conselho Consultativo sobre Relacionamentos Luteranos-Judaicos. | 29.11.2002
Igreja Evangélica Luterana na América
Pontos de Colóquio
1. O Judaísmo de Então e de Agora
2. As Alianças Antiga e Nova
3. A Lei e o Evangelho
4. Promissão e Cumprimento
5. Textos Difíceis
6. O Interesse Judaico pelo Estado de Israel
7. Tiqún `Olóm - Reparar o Mundo
8. Os Cristãos e os Judeus no Contexto das Religiões
do Mundo
“Pontos de Colóquio” é um conjunto de oito folhas editadas pelo Departamento para Assuntos
Ecumênicos da Igreja Evangélica Luterana na América, para promulgar propostas para a discussão e
debate sobre tópicos das relações cristãs-judaicas. Esses pontos de colóquio são intentados, não
como papéis de posição, mas sim como iniciadores de discussão, com a esperança de evocar larga
série de réplicas ao ponto como formuladas na caixa em baixo.
Pontos de Colóquio No. 1
O Judaísmo de Então e de Agora
O Judaísmo moderno é comunidade vibrante com muito a nos oferecer em fé, ética e piedade. Nós
cristãos estaremos errados, se demitirmos o Judaísmo
como relíquia do passado
Farei de ti grande nação e te abençoarei,
e em ti todas as famílias da terra serão abençoadas.
Gênesis, 12,2-3
Ninguém que ler o Novo Testamento pode escapar do fato de que Jesus era judeu, bem como cada
um dos seus seguidores originais o era. Os primeiros cristãos viam a sua fé como contínua com a
herança judaica e cumprimento desta, na qual foram criados. A fé judaica, porém, encontrou outra
continuação no Judaísmo rabínico, ensinado e liderado por aqueles que eram conhecidos - como
Jesus o era então - como rábis.
A Cristandade logo chegou a ser gentílica, e o Império Romano, subseqüentemente, chegou a ser
oficialmente cristã. A maioria dos judeus, embora experimentando grandes tribulações, continuou na
fidelidade à sua aliança antiga (“Serei o vosso Deus, e sereis o Meu povo”), figurada pela
observância dos mandamentos bíblicos e rabínicos.
Uma cultura judaica completa e autogovernadora cresceu ao redor de famílias e comunidades fortes,
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de estudos da Bíblia e do Talmude*, dum modo de viver distintivo e da esperança de redenção
última, incluindo a visão dum retorno eventual a Jerusalém.
A língua hebraica foi nutrida no culto, e grandes tradições literárias desenvolveram-se em
linguagens étnicas como o yídiche. O filósofo judaico Moses Maimônides era de maior influência no
teólogo cristão Tomás de Aquino, e grandes cientistas rabínicos como Shlomo ben Isaac de Troyes
(“Rashi”) foram freqüentemente citados nos comentários bíblicos de Lutero. Pensadores, escritores,
artistas e ativistas judaicos eram proeminentes também em muitos movimentos intelectuais e
culturais modernos.
A comunidade judaica viva de hoje - na América do Norte, em Israel e ao redor do mundo - continua
a herança do Israel bíblico e do Judaísmo rabínico em modos novos e vibrantes. Enquanto a
diversidade levou a diferenças denominativas entre os judeus, remanescem a identidade comunal
de cerne e a lealdade á fé antiga. Freqüentemente dando liderança em filantropia e causas de
justiça social, a comunidade judaica é parceira vigorosa com a Igreja no viver a chamada de Deus
para serem dispensadoras de cura para o mundo.
São Israelitas, e lhes pertencem
a adoção, a glória, as alianças,
a doação da lei, o culto e as promissões...
Romanos 9,4
* O Talmude é uma compilação de tradições legais, morais e religiosas, codificada pelos rábis entre
os séculos 2 e 6, o qual permanece a fonte central do Judaísmo até hoje.
PERGUNTAS PARA A DISCUSSÃO
1. O quê significa que tanto a Cristandade como o Judaísmo reivindicam continuar a herança
do Israel bíblico?
2. Em que áreas percebes contribuições judaicas à vida comunitária na sua localidade, neste
país e no cenário do mundo?
3. Como poderias aprender mais da comunidade judaica da tua localidade? Considera
organizar um grupo de discussão com membros duma congregação judaica local, pedindo
tanto os cristãos como os judeus presentes expressarem o que é mais significativo para
eles sobre a sua fé. (O programa “Interfaith Circles”, listado sob Resources no site
http://www.elca.org/ea/Interfaith/jewish/tp1.htm, oferece ajuda no organizar tais
discussões.)
4. O quê podes descobrir sobre as quatro denominações do Judaísmo, e quais são as
Pontos de Colóquio No. 2
As Alianças Antiga e Nova
Vivendo na nova aliança por Deus em Jesus Cristo, também afirmamos a fidelidade contínua de
Deus à aliança com o povo judaico.
Pois, como os novos céus e a nova terra, que farei, ficarão diante de Mim,
diz o Senhor, assim os vossos descendentes e o vosso nome ficarão.
Isaias 66,22
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Enquanto a maioria dos luteranos pensa do nosso relacionamento com Deus em termos de fé,
perdão e salvação, sabemos também que esse relacionamento é um de aliança. De fato, o
testemunho apostólico de Jesus Cristo vem a nós nas escrituras conhecidas como o “Novo
Testamento” ou a “Nova Aliança”. Ademais, Jesus vem a nós na Ceia do Senhor, com as palavras de
promissão: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue”. Garantida pela fidelidade de Deus, a
aliança traz promissão que ajuda definir a vida do povo de Deus. Nisso, vai muito além de qualquer
contrato meramente legal.
Do Israel antigo até ao nosso dia, os judeus viveram na aliança com Deus também. Isso se vê, não
só na circuncisão de Abraão e da sua descendência, mas também, por exemplo, na realeza de Davi,
na doação da Toráh no Sinai e na aparência do arco-íris nos céus. Os profetas de Israel eram tais que
proclamaram a intenção fiel de Deus para estabelecer uma aliança viva “escrita nos seus corações”
(Jr 31,33), ainda incorporada num “coração novo” (Ez 36,26). Isso não teria de substituir os
entendimentos da aliança existente, mas, em continuidade com esses, renovaria e estenderia a
esperança de Israel e a confiança no cometimento amoroso de Deus.
Encontrando Jesus, alguns judeus do primeiro século viam nele o poder e presença de Deus
renovando o mundo, incluindo os gentílicos entre o povo de Deus. Proclamaram que a nova aliança
prometida chegara a existir. Era o testemunho de Paulo que essa nova aliança agora fez com que os
gentílicos e os judeus fossem um único povo, assim que, através de Cristo, também os gentílicos
pudessem agora chegar a ser “descendentes de Abraão” (Gl 3,29).
Assim, vivemos agora numa aliança nova estabelecida por Deus em Jesus Cristo, juntados em
continuidade àqueles que eram já antes feitos o povo de Deus na aliança do Sinai, regozijando-nos
com eles de que a aliança de Deus, nova e antiga, é dom que é “irrevogável” (Rm 9,4; 11,29).
Pergunto, então, será que Deus rejeitou o Seu povo?
De jeito nenhum!
Romanos 11,1
PERGUNTAS PARA A DISCUSSÃO
1. O quê pensas quando refletires sobre a tua vida de fé como vivida em aliança com Deus?
Qual é a diferença entre uma “aliança” e um “contrato”?
2. Quais outros relacionamentos na tua vida descreverias como sendo “alianças”? Porquê?
3. Se pudermos estar em alianças múltiplas simultaneamente, Deus o poderá também? O quê
significa isso para judeus e cristãos no seu relacionamento com Deus e uns com os outros?
Pontos de Colóquio No. 3
A Lei e o Evangelho
O significado de "lei", para judeus, é positivo, de um modo bem diferente daquilo que significava
usualmente para os luteranos.
Oh, como amo a Tua lei!
É minha meditação o dia inteiro.
Como são doces todas as Tuas palavras para o meu gosto,
Mais doces do que mel na minha boca!
Salmo 119,97.103
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O quê se quer dizer com "Lei", no sentido em que freqüentemente falamos da Palavra de Deus como
incluindo tanto "Lei" como "Evangelho"? Para os luteranos, "Lei" significa usualmente a demanda de
Deus que vivamos completamente em acordo com a vontade de Deus. Como, na nossa sujeição ao
pecado, não o podemos fazer, somos condenados pela Lei, precisando ser salvados pelo Evangelho.
Nessa visão, a Lei sempre nos acusa.
Somos freqüentemente surpreendidos, então, encontrando que os judeus abraçam a Lei mais como
dom do que como demanda. Assim, o salmista exclama: "Oh, como amo a Tua Lei [Toráh]" (Salmo
119,97), e os rabis enfatizam que Israel recebeu os mandamentos (mitsvôt), não para ser
condenado, mas "para viver por eles" (Lv 18,5) - "viver" e não morrer. Os israelitas não recebem a
lei afim de que ganhem o favor de Deus; foram salvos da escravidão no Egito, antes que jamais
vieram ao Monte Sinai para receberem a Toráh. Assim, já são o povo de Deus, quando Deus lhes dá
a Toráh para saberem como viver na base da sua chamada divina.
A Toráh abrange os Cinco Livros de Moisés, o ensino escritural como um todo e a interpretação dos
rábis. Começando com os Dez Mandamentos, que também muitos cristãos usam como guia positiva
para viver, é mentora poderosa, mais que capataz legalista. De fato, o termo hebraico "Toráh" está
mais bem traduzido como "ensinamento" ou "instrução", antes de "lei".
O Novo Testamento descreve vigoroso debate entre Jesus e os fariseus, que lideravam um
movimento renovador laico dentro do Judaísmo, sobre alguns assuntos da interpretação da Toráh.
Embora esses conflitos fossem erradamente interpretados como opondo a "Cristandade" contra o
"Judaísmo", Jesus e os fariseus, de fato, estavam tentando a discernir como a vontade de Deus
aplicar-se-ia aos detalhes da vida cotidiana na comunidade judaica. Os judeus conhecem os fariseus
como os precursores da grande tradição do Judaísmo rabínico, na qual esse esforço de perceber o
significado do ensino da Toráh para cada nova geração continuava, e continua até hoje.
O mandamento contra falso testemunho chama-nos a evitarmos caricaturas negativas da vida e
pensamento judaicos. Os cristãos estão hoje aprendendo a prestar atenção ao entendimento e
experiência judaicos da Toráh na sua multiplicidade e graciosidade.
Assim, a lei é santa,
e o mandamento é santo e justo e bom.
Romanos 7,12
PERGUNTAS PARA A DISCUSSÃO
1. O Salmo 119 celebra a lei como a guia graciosa de Deus em modos inúmeros. Será que
essa ênfase leve inevitavelmente a "retidão de obras" (a expectativa de que a salvação
precisa ser "merecida" obedecendo a Lei)?
2. Os sacramentos cristãos envolvem mandamentos ("Faz isso..."), mas são experimentados
como fonte profunda de graça. Isso nos vai ajudar a entender como, para os judeus,
mitsvôt (mandamentos) possam servir, não como legalistas, mas sim como benções?
3. Será preciso que "Lei e Evangelho" sempre sejam o princípio interpretativo pelo que os
luteranos aproximam-se da escritura e pregação? Caso que sim, como esse princípio referese ao senso mais amplo de Toráh no Judaísmo vivente?
4. Estudo recente dos evangelhos desenvolveu uma visão mais positiva dos fariseus, não
como legalistas hipócritas, mas sim como parte do movimente de reforma, enfatizando
(como Jesus o fez) a piedade e fidelidade na vida cotidiana. Como a severa crítica de "os
fariseus" nos evangelhos ser lida e pregada sem quebrar o mandamento contra render
Pontos de Colóquio No. 4
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Promissão e Cumprimento
Os cristãos afirmam que as promissões de Deus a Israel são cumpridas em Jesus Cristo e na vida
da Igreja. Precisamos perceber que os judeus também experimentaram a fidelidade contínua de
Deus no Judaísmo rabínico e na realidade contemporânea da fé e vida judaicas.
Sabe, portanto, que o Senhor, teu Deus, é Deus fiel,
Que mantém lealdade de aliança com aqueles que O amam
e observam os Seus mandamentos,
para mil gerações
Deuteronômio 7,9
Os escritores do Novo Testamento falam de Jesus como o cumprimento das promissões de Deus a
Israel. Fazendo isso, constroem sobre um bem estabelecido padrão de promissão e cumprimento,
padrão esse que caracteriza as ações de Deus no Antigo Testamento (promissões de descendência e
terra a Abraão e Saráh; promissão de dinastia a Davi). Usando imagens ricamente diversas da
herança de Israel - Jesus como o Novo Moisés, o Filho de Davi, o Filho de Homem - transmitem esse
padrão ao pensamento cristão. O que experimentamos em Cristo é cumprimento da expectativa que
Deus nos deu através da Toráh e dos profetas.
As promissões de Deus são muitas vezes cumpridas em modos inesperados, contudo. Ainda que a
Igreja encontrasse em Jesus o cumprimento da esperança messiânica, descreveu o seu papel e
ações em combinação ousada e distintiva com outros temas bíblicos. O Novo Moisés é também o
Servo Sofredor, o Filho de Davi e também o Cordeiro Pascal.
Também cremos que Deus tem ainda mais a cumprir na redenção da humanidade e de toda a
criação; vivemos ainda na antecipação, orando: "O Teu reino venha." Como estamos agradecidos
pelo que Deus já tem feito, olhando ao mesmo tempo para frente na esperança do que Deus fará,
temos muito em comum com os judeus. Estes também se regozijam nas benções da aliança,
enquanto ainda olhando para frente para a plenitude da redenção.
Deus tem mais que só um modo de ser fiel às promissões de Deus. O padrão de promissão e
cumprimento não deve implicar que a Cristandade e o Judaísmo sejam cumprimentos mutuamente
exclusivos. Antes, cada comunidade de fé experimentou a graça e orientação de Deus em medida
ampla.
Promissão e Cumprimento não há de uma vez por todas nem para todos os eventos, mas antes é
padrão para recorrer à ação de Deus. Tanto a vida da Igreja como a vitalidade do Judaísmo
contemporâneo são testemunhos vívidos do poder e constância de Deus. Em cada geração, Igreja e
Sinagoga são sinais mútuos da fidelidade de Deus. Juntos aguardamos o cumprimento último de
todas as promissões de Deus.
Como te posso abandonar, Efraïm?
Como te posso entregar, oh Israel?
Oséias 11,8
PERGUNTAS PARA A DISCUSSÃO
1. Das várias imagens usadas no Novo Testamento para retratar Jesus como cumprimento das
promissões de Deus (tais como mencionadas acima), quais são as mais significativas para
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ti?
2. Poderá uma promissão encontrar cumprimento em mais que um modo? Quais são alguns
exemplos?
3. Poderá Deus, ou poderá alguém, fazer a mesma promessa a pessoas diferentes, cumprindoa diferentemente?4. O quê pensas da idéia de que o Judaísmo contemporâneo, no seu
Pontos de Colóquio No. 5
Textos Difíceis
Os cristãos são moralmente obrigados a entender as palavras rígidas do Novo Testamento contra
próprio modo, cumpre as promissões de Deus ao Israel antigo?
os judeus e o Judaísmo nos seus contextos originais, sem traduzir aquelas polêmicas para antisemitismo.
Não deves levar testemunho falso
contra o teu vizinho.
Êxodo 20,16
Os documentos do Novo Testamento foram escritos num tempo de grande controvérsia. O
movimento de Jesus começara como uma entre várias formas de Judaísmo. Enquanto afastando-se
de alguns aspetos da observância estrita da Toráh quando se espalhou entre os gentílicos,
continuava asseverar a sua identidade como herdeiro legítimo das promissões de
Deus a Israel. O corpo principal da comunidade judaica, porém, esforçava-se a se distanciar
daqueles que aclamavam um rabi da Galiléia como Messíah, Salvador e Filho de Deus.
A intensidade do conflito reflete-se em muitos lugares do Novo Testamento. Escribas e fariseus são
veementemente denunciados e, no quarto evangelho, o termo coletivo “os judeus” designa os
inimigos de Jesus, ainda que Jesus e os seus discípulos eram, realmente, todos judeus. As narrativas
de evangelho minimizam o papel das tirânicas autoridades romanas na morte de Jesus, retratando
os judeus como fundamentalmente responsáveis pela crucificação. A polêmica continua no livro dos
Atos, e Paulo contribui com as suas próprias palavras ásperas nos ataques apaixonados àqueles
oponentes que impusessem observância judaica estrita nos convertidos gentílicos. Freqüentemente,
os escritores apropriavam seletivamente as palavras dos profetas de Israel para figurar a sua
invectiva.
Na história subseqüente, tais textos foram muitas vezes ligados a sentimentos de hostilidade e
desdém contra os judeus, dando justificativa bíblica para violência contra eles. Tais palavras - “Sois
do vosso pai, o diabo” (Jo 8,44), “O seu sangue seja sobre nós e sobre as nossas crianças!” (Mateus
27,25) - evocam ainda a lembrança e ameaça de tal ódio.
Para remediar isso, os cristãos devem fazer qualquer esforço para interpretarem os textos com
consideração mais plena dos seus contextos históricos. Vários grupos judaicos no primeiro século EC
(Era Comum, aliás designada DC = Depois de Cristo), inclusive os primitivos cristãos, estavam
lutando a entender a escritura e a história como revelando a vontade de Deus para Israel e para o
mundo. Os cristãos posteriores, alienados da Sinagoga, empregavam a linguagem daqueles debates
primitivos, internos, para condenar os judeus e o Judaísmo como um todo. Nós hoje, não podemos
propriamente continuar usando esses textos nesse modo.
Os cristãos também precisam ter em mente as vastas mudanças que tomaram lugar deste os
tempos do Novo Testamento. Originalmente um movimento de minoria, a Cristandade logo chegou a
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ser a fé dominante no Império Romano, abusando freqüentemente demais o seu poder para oprimir
os seus herdeiros companheiros da aliança, os judeus. Além disso, o Judaísmo passou por muitos
desenvolvimentos criativos, assim que a fé e prática judaicas hoje, ao mesmo tempo em que, em
continuidade com o Israel bíblico, de modo algum está sendo idêntica com aquela de então.
O leitor do Novo Testamento precisa-se proteger contra transferir aquilo que está sendo dito aí sobre
os judeus, aos atuais vizinhos judaicos de hoje. O evangelho de amor não deve chegar a ser pretexto
para preconceito ou ódio.
Se eu tiver toda a fé,
assim que remova montanhas,
mas não tiver amor,
serei nada.
1Coríntios 13,2
PERGUNTAS PARA A DISCUSSÃO
1. Pensas que tais textos como os referidos acima possam levar à hostilidade contra judeus
hoje? Aconteceu isso na tua experiência?
2. Antes que tais leituras forem lidas no culto, poderá ser oferecido comentário para evitar
quaisquer implicações anti-semíticas ou antijudaicas. O quê pensas dessa possibilidade?
3. Vai ajudar a nós cristãos perguntar: “O quê se os meus vizinhos judaicos ouvirem esse
Pontos de Colóquio No. 6
O Interesse Judaico pelo Estado de Israel
O Estado de Israel mantém lugar especial na vida e pensamento do povo judaico. A necessidade
de entender a profundidade do interesse judaico por Israel é especialmente urgente na medida em
que procurarmos participar fielmente na procura por paz e justiça para todos os povos no Oriente
Médio.
Durante muito da sua existência, o povo judaico viveu na diáspora, isso é disperso entre as nações.
Embora a terra do Israel bíblico fosse o lar para alguns judeus durante toda esta história, a maioria
vivia como minoria dentro de outras nações. Às vezes, gozavam de relações cordiais com a maioria
da população, mas muitas vezes chegavam a ser bodes de expiação para problemas sociais, sendo
sujeitos a vilificação e violência. Sempre mantinham viva a memória da sua pátria bíblica, e a liturgia
clássica judaica faz repetidas referências à Terra de Israel, até concluindo os seus maiores festivais a Páscoa e o Dia de Reparação - com “No ano que vem em Jerusalém!”
Essa esperança deu novo fruto histórico nos decênios dos 1880s e 1890s, quando judeus, fugindo da
perseguição na Europa Oriental, moviam-se à Terra Santa. O seu movimento era conexo à promissão
escritural de retorno a Sião, o monte santo de Jerusalém. (Daí, o termo de “Sionismo” está ligado a
vários movimentos nacionalistas judaicos, se bem que interpretem a promissão escritural de modos
diferentes.) Em muitos lugares, vizinhos judaicos e árabes viviam em harmonia, mas tensão e
texto? Caluniá-los-ia? Que impressão isso dar-lhes-ia dos cristãos e da Cristandade?”
conflito eram presentes desde o início, crescendo pelo tempo. Um plano desenvolvido pelas Nações
Unidas para partir a terra foi aceito pela liderança judaica, mas contrariado pelos governos árabes,
sendo o estabelecimento do Estado de Israel em 1948 enfrentado com invasão pelas nações
vizinhas. Nesse e em conflitos posteriores, Israel se defendeu no processo, estendeu o seu controle
territorial. As aspirações palestinenses por um estado independente e o interesse de Israel pela
seguridade nacional eram os assuntos de tanto do conflito continuando como das aproximações para
paz. No entanto, elementos extremistas, desconfiança mútua nas intenções e ciclos de
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ressentimento sobre políticas israelenses e respostas palestinenses minaram repetidamente as
iniciativas de ambos os lados. Os esforços para alcançar coexistência justa e pacífica na região
foram também complicados pela dinâmica da Guerra Fria e outros conflitos internacionais.
Os judeus americanos contemporâneos têm visões diferentes a respeito das políticas do governo
israelense, mas a existência continuada do Estado de Israel é muito importante para eles. A
capacidade de judeus em qualquer lugar do mundo para exigir cidadania israelense está sendo
especialmente valorizada como proteção contra a tática usada pelos nazistas de declarar os judeus
como “sem estado”, removendo-os assim da proteção da lei internacional.
A esperança cristã não usava focalizar-se em terra específica alguma, mas sim num céu novo e
numa terra nova, onde a regra de Deus vá trazer paz e justiça a todas as pessoas. Essa visão põe o
padrão para todas as nações; os governos servem sob a bênção ou julgamento de Deus,
dependendo de se promoverem tal paz e justiça ou as minarem. Desde ponto de vista, o Estado de
Israel, com os seus ideais democráticos e realizações culturais, tem sido uma bênção e porto para os
judeus num mundo em que um terço do seu povo foi aniquilado pelo Holocausto. Ao mesmo tempo,
como estado soberano, Israel tem a obrigação moral de usar o seu poder responsavelmente numa
situação em que uma população palestinense deslocada também procura independência,
seguridade e futuro pacífico na sua própria terra.
Avaliações da situação árabe-israelense-palestinense vai diferir, não só entre judeus e cristãos, mas
também dentro de cada grupo. Tanto israelenses e palestinenses podem, em tempos variados, ser
especialmente vulneráveis, evocar interesse, advocacia e ação cristãos apropriados. Os esforços de
contribuir para uma coexistência pacífica serão mais efetivos, quando forem fundados em estudo
sério da história do conflito, respeito pelos direitos e padecimentos de todas as partes, e interesse
prudente pelo uso de poder numa situação altamente tensa e delicadamente balançada. As soluções
serão encontradas, não pela aplicação de profecias bíblicas ou cenários apocalípticos, mas sim pela
reflexão com oração sobre possibilidades práticas, guiada por ética de fé e ativa em amor. Na
procura duma paz justa, os cristãos procurarão manter o diálogo aberto com todos os participantes,
ajudando para agüentar a pena de mais de um século de conflito.
PERGUNTAS PARA A DISCUSSÃO
1. Quais semelhanças e diferenças verias entre o amor judaico pela terra de Israel e tais
fenômenos como a consideração nostálgica que muitos americanos tem pelas suas terras
de origem; respeito pela sacralidade de edifícios eclesiais; patriotismo e preocupação pela
seguridade nacional, referência pelos elementos físicos dos sacramentos? Quais serão
outras analogias possíveis?
2. Qual é a relação entre ver o moderno Estado de Israel como nação “como todas as nações”
e a idéia de Israel como “luz para as nações”? Por quais padrões Israel deve determinar as
suas ações e políticas?
3. O uso de violência será uma vez justificado como meio para fins sociais e políticos? Sob
quais circunstâncias? Como um ciclo contínuo de violência retaliativa poderá ser quebrado,
ou evitado em primeiro lugar?
4. O conflito no Oriente Médio está sendo, por vezes, interpretado em termos de guerra
religiosa, com facções judaicas, cristãs e moslêmicas argüindo posições polarizadas na
base de leituras fundamentalistas da história e escritura. Deste modo, a religião possa ser
usada para justificar e até para escalar desdém e violência. Como se poderá ver a religião
Pontos de Colóquio No. 7
Tiqún `Olóm - Reparar o Mundo
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Tanto os judeus como os cristãos ouvem a chamada para serem ativos “no cuidado e redenção de
tudo que Deus tem feito”, podendo colaborar em tais esforços.
Mas procurai o bem-estar da cidade aonde vos enviei em exílio.
e orai ao Senhor por ela,
pois no bem-estar dela encontrareis o vosso bem-estar.
Jeremias 29,7
O mundo e a sociedade humana não são o que poderiam ser. Tanto os judeus como os cristãos
encontram na Bíblia o testemunho da realidade de que alguma coisa andou errada com a boa
criação de Deus, algo que Deus está trabalhando para remediar. Tanto os judeus como os cristãos
sentem-se chamados para participarem nessa obra. Os cristãos dedicam-se a “o cuidado e redenção
de tudo que Deus tem feito”, e os judeus incumbem-se para tiqún `olóm - emendar (ou curar ou
reparar) o mundo.
Para os cristãos, o dom do Espírito Santo dá-nos força e sabedoria para viver retamente e ser
bênção para o mundo. Para os judeus, o “impulso bom” inato dos seres humanos contrabalança um
“impulso mau” oponente, este que nos leva ao pecado; seguindo o impulso bom, um judeu vai
conduzir uma vida mais aprumada, contribuindo para o melhoramento do mundo. Tanto para os
cristãos como para os judeus, ser “um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êxodo 19,6; 1Pedro
2,9) significa ter a responsabilidade de usar os dons de Deus para o bem do mundo.
Martinho Lutero falou de Deus trabalhando entre nós em dois modos - num reino espiritual regulado
por Cristo e pela lei do amor, e num reino mundano regulado pelas forças humanas e pelas leis da
justiça. Alguns luteranos entenderam mal esse ensinamento dos “dois reinos”, ensinando que os
cristãos não têm papel especial nenhum a jogar no reino mundano (sociedade humana), desde que
forem bons cidadãos e proclamarem o evangelho para a salvação individual. No pior dos casos, esse
mal-entendimento permitiu a luteranos participarem nos mais repressivos regimes e programas.
No século passado, muitos luteranos e outros cristãos tanto aquiesceram como colaboraram nos
esforços nazistas de aniquilar o povo judaico (o Holocausto ou a Shoáh [o termo hebraico significa
“catástrofe”]). Por certo, essa catástrofe era ferida penosa na criação de Deus, uma pela qual a cura
precisa ainda ser procurada. De modos semelhantes, o persistente problema das relações das raças
nos Estados Unidos e a crise ecológica no mundo inteiro são áreas vitais em que os cristãos e os
judeus possam trabalhar juntos.
Nessa matéria, podemos aprender o ensinamento e herança judaicos. Em muitos tempos e lugares,
encontramos exemplos líderes de judeus que dedicaram as suas vidas para melhorar a sociedade
em que viviam. Uma corrente do pensamento messiânico judaico imagina a vinda do messíah só
quando Israel tiver cumprido o seu papel como testemunha da vontade de Deus. Tal crença liga a
tarefa de curar o mundo (Tiqún `Olóm) com a esperança da redenção completa de modo muito
vigoroso.
Os luteranos e os judeus podem trabalhar juntos como parceiros nas tarefas da justiça social,
renovação ecológica, relacionamentos pessoais e de família, reconciliação inter-religiosa e de todos
os outros desafios para curar o que for quebrado no nosso mundo.
Faz justiça rolar para baixo como águas,
e retidão como uma torrente correndo sempre.
Amos 5,24
PERGUNTAS PARA A DISCUSSÃO
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1. 1. Que coisa quebrada no mundo cuidas mais para ser curada?
2. Quais são os seus modelos de papel para fazer diferença para o bem no mundo?
3. Qual é o papel da fé no motivar as pessoas para trabalharem por uma sociedade justa e
relacionamentos sadios?
Pontos de Colóquio No. 8
Os Cristãos e os Judeus no Contexto das Religiões do Mundo
4. Como podem os judeus e os cristãos colaborar para o tiqún `olóm?
Os cristãos e os judeus participam num relacionamento especial dentro da comunidade das
religiões do mundo. A sua recente experiência em construir respeito e entendimento mútuos pode
prover um modelo para relações inter-religiosas mais amplas.
Não é que temos afinal um único pai?
Não é que um único Deus nos criou?
Malaquias 2,1
O reconhecimento do Judaísmo como co-comunidade de fé, traz consigo desafios significantes para o
entendimento da fé e identidade cristãs. Esses têm a ver tanto com o nosso relacionamento sem par
com o povo judaico, ao qual estamos tão estreitamente ligados pela nossa história compartilhada,
como com assuntos mais amplos do pluralismo religioso.
O nosso relacionamento ao Judaísmo contemporâneo requer tanto a sensibilidade para aquilo que
temos em comum como o respeito pelo direito independente dos judeus para eles se definirem como
comunidade. Um respeito cristão maduro pela obra de Deus no Judaísmo afirma, portanto, a fé e
prática dos judeus como mais que uma folha, uma nota de pé ou um problema para a nossa própria
identidade.
As nossas duas comunidades compartilham em origens históricas e escriturais. Temo-nos
influenciado também uns aos outros de vários modos pelos séculos. No entanto, como a Cristandade
desenvolveu-se dentro de culturas diversas e como o Judaísmo viveu pela sua rica história própria,
ambos cresceram além dos termos do seu relacionamento original. A Cristandade foi muitas vezes
chamada de “religião filha” do Judaísmo; alternativamente, os dois foram vistos como irmãos, ambos
descendentes da antiga fé de Abraão e Sarah. De fato, porém, ambas as comunidades madureciam
para serem separadas e “adultas” companheiras dentro do mundo diverso de fés humanas.
O reconhecer da integridade independente do Judaísmo, além disso, relembra-nos que há outras fés
tão adultas naquele mundo diverso - outras comunidades de fé e prática, as quais também
encontram o sagrado. A crescente reconciliação entre os cristãos e judeus no nosso tempo poderá,
assim, chegar a ser um exemplo do modo em que poderíamos viver junto com pessoas de outros
cometimentos e experiências.
Então, Pedro começou a falar a eles:
“Entendo verdadeiramente que Deus não mostra parcialidade,
mas em cada nação, cada um que O temer fazendo o que é reto,
é aceitável para Ele."
Atos, 10,34
PERGUNTAS PARA A DISCUSSÃO
1. O quê a Cristandade e o Judaísmo têm em comum, e como diferem? As relações judaicas-
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cristãs são diferentes dos nossos relacionamentos a outras religiões do mundo?
2. O quê o relacionamento especial entre os cristãos e os judeus implica para os nossos
relacionamentos com os moslins, que compartilham a mesma fé monoteísta? O quê
podemos fazer nas nossas comunidades locais para promover entendimento entre todos os
três grupos?
3. Como alguém pode manter lealdade e cometimento a sua própria fé, enquanto ao mesmo
tempo respeitando as pessoas de outras fés e protegendo os direitos iguais destas na vida
civil?
1. O Judaísmo de Então e de Agora
2. As Alianças Antiga e Nova
3. A Lei e o Evangelho
4. Promissão e Cumprimento
5. Textos Difíceis
6. O Interesse Judaico pelo Estado de Israel
7. Tiqún `Olóm - Reparar o Mundo
8. Os Cristãos e os Judeus no Contexto das Religiões
do Mundo
Tradução: Pedro von Werden SJ - Texto inglês
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