CARACTERIZAÇÃO ELETROQUÍMICA E APLICAÇÃO ELETROCATALÍTICA DO CORANTE TÊXTIL TURQUESA 133% REMAZOL J. A. P. Chaves1, H. A. S. Silva2, S. A. A. Santana2, A. P. Vieira2 e C. W.B. Bezerra2 1 Pós-Graduação em Química - CCEN - UFPB, João Pessoa - PB; 2Depto. de Química - CCET UFMA, São Luís - MA. RESUMO: No presente trabalho são apresentadas as propriedades redox do corante têxtil turquesa 133% remazol (TQ133, e suas aplicações eletrocatalíticas frente à reação de redução do oxigênio foram testadas em soluções ácidas. A análise dos dados experimentais para a reação de redução de oxigênio sobre esse composto em meio ácido está de acordo com uma cinética de primeira ordem com relação à molécula de O2 reagente, obedecendo a um mecanismo envolvendo 2 elétrons. O processo redox Cu(I)/Cu(II) foi associado com o processo de oxidação e a seguinte ordem decrescente TQ133 > Substrato base de grafite pirolítico (GP) foi observada para as atividades eletrocatalíticas com relação ao deslocamento do potencial inicial de redução. Palavras Chave: Corante têxtil; eletrodo modificado; eletrocatálise; redução de oxigênio. INTRODUÇÃO As pesquisas para o desenvolvimento de eletrodos quimicamente modificados (EQM’s) têm recebido grande atenção nos últimos anos devido às suas características específicas de seletividade, sensibilidade e reprodutibilidade [1]. Em processos eletrocatalíticos, a modificação da superfície do eletrodo objetiva diminuir a barreira de transferência de carga numa reação de redução e/ou de oxidação, através do deslocamento considerável do potencial inicial da reação (menores potenciais) em relação à superfície original e também objetiva atingir um máximo de corrente. O estudo de eletrodos contendo catalisadores imobilizados em suas superfícies com atividades específicas para dadas reações é de extrema importância para a aplicação destes eletrodos em eletrocatálises [2] e desenvolvimento de sensores [3]. Em especial, a eletroquímica do oxigênio tem despertado o interesse de muitos grupos de pesquisa devido a sua importância no desenvolvimento de sistemas eletroquímicos para conversão e armazenamento de energia, como as células a combustível, baterias metal-ar e eletrolisadores, bem como em sínteses químicas, processos biológicos e de corrosão. Assim, nas últimas décadas, particularmente motivado pelo desenvolvimento da tecnologia de células a combustível, muitos esforços têm sido dedicados ao estudo da reação de redução de oxigênio (RRO) em soluções aquosas ácidas e alcalinas sobre diferentes materiais de eletrodo [4] com modificadores na sua superfície. Dessa forma, o presente trabalho apresenta algumas propriedades eletroquímicas do corante turquesa 133% Remazol, adsorvido em eletrodo de grafite pirolítico e resultados satisfatórios da aplicação desse composto frente à reação de redução de oxigênio. PARTE EXPERIMENTAL As medidas eletroquímicas foram realizadas em uma célula simples de um compartimento apenas confeccionada em vidro, a ela adaptada uma tampa de teflon com entrada para os três eletrodos e mais a mangueira para borbulhamento dos gases na solução. O eletrodo de trabalho utilizado foi um de grafite pirolítico (GP) da Union Carbide Co. (Cleveland - Ohio, USA), com um diâmetro de ~3,5 mm e moldado em resina epóxi. Um eletrodo de prata/cloreto de prata (Ag/AgCl) foi utilizado como eletrodo de referência e um arame de platina em espiral foi usado como eletrodo auxiliar. As medidas eletroquímicas de voltametria cíclica foram realizadas com o auxílio de um potenciostato da BAS Instruments, modelo CV-50W acoplado a um microcomputador Itautec para registro e armazenamento dos dados. Antes de cada experimento, para limpeza e remoção de partículas de carbeto de silício deixadas na superfície do eletrodo, após a etapa de polimento, o eletrodo de trabalho era ultrasonificado em água com o auxílio de um aparelho ultrasom da Thornton-Impec Eletrônica Ltda. Todos os reagentes utilizados foram de grau analítico e as soluções aquosas usadas neste trabalho foram preparadas com água destilada e purificada. Os gases, nitrogênio e oxigênio, utilizados foram do tipo gases especiais da White Martins S.A. O corante turquesa 133% Remazol (TQ133) foi gentilmente cedida pela Fábrica de Toalhas de São Carlos/SP, que faz uso desse composto. O método adotado para a modificação do eletrodo de GP com o corante turquesa foi o da adsorção irreversível, consistindo na imersão do eletrodo polido, ultrassonificado e lavado em uma solução do corante TQ133 por 10 minutos aproximadamente, lavagem do mesmo e imediata imersão no eletrólito da célula. Antes do início da medida eletroquímica, a solução era então saturada com o gás N2 ou O2 por cerca de 10 minutos. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 mostra os voltamogramas cíclicos registrados sobre o eletrodo GP antes e após modificação com o TQ133 em uma solução 0.05 mol.L–1 H2SO4 saturada com N2. O eletrodo GP apresentou um voltamograma sem a presença de processos de transferência de carga, ou seja, com correntes de natureza puramente capacitivas. Após modificação com o corante, o voltamograma apresentou um pico voltamétrico possível de ser distinguido em um potencial próximo de +100 mV. Este pico apresentou uma dependência diretamente proporcional entre as correntes de pico catódica (Ipc) e anódica (Ipa) com a velocidade de varredura do potencial (v). Além disso, a separação entre os potenciais dos picos anódico e catódico (∆Ep) foi sempre pequena, com valores menores ou iguais a 20 mV, inclusive para a mais alta velocidade de varredura do potencial utilizada. Estas observações indicam que os picos voltamétricos apresentados pelo composto correspondem a processos de transferência de carga envolvendo somente espécies adsorvidas [5]. Os picos em questão podem estar associados com o processo redox do metal cobre presente no composto de tal forma que essa reação provavelmente deve estar relacionada ao processo Cu(II)/Cu(I) [6]. Existe um outro pico observado próximo a –500 mV para o composto que também foi observado no substrato base GP, portanto não constitui um processo associado ao TQ133, mas sim a uma pequena redução de O2 presente na solução. -6 0,0 1,0x10 -7 5,0x10 -5 -1,0x10 0,0 -5 I (A) I (A) -2,0x10 -7 -5,0x10 -5 -3,0x10 -6 -1,0x10 -1 -5 v = 50 mV.s redução O2 sobre grafite redução O2 sobre turquesa -4,0x10 -1 v = 50 mV.s turquesa grafite -6 -1,5x10 -5 -5,0x10 -6 -2,0x10 -1000 -800 -600 -400 -200 0 200 400 600 E (mV) vs. Ag/AgCl Figura 2. Voltamogramas cíclicos do eletrodo de GP antes e após a adsorção do composto TQ133 em solução 0.05 M H2SO4 saturada com N2, com v = 50 mV.s–1. T = 25oC. -1000 -800 -600 -400 -200 0 200 400 600 E (mV) vs. Ag/AgCl Figura 2. Voltamogramas cíclicos da redução de O2 sobre o GP e sobre TQ133 em solução 0.05 mol.L–1 H2SO4 saturada com gás oxigênio. V = 50 mV.s–1. T = 25oC. A Figura 2 apresenta o voltamograma cíclico da redução de oxigênio sobre o composto TQ133, em uma solução 0.05 mol.L–1 H2SO4. O comportamento observado é típico de um processo irreversível, porém, pela comparação com o voltamograma cíclico da redução de O2 sobre o substrato base de GP mostrado na mesma figura, fica evidente que o corante apresenta atividade catalítica frente a essa reação, em termos de deslocamento do potencial inicial em cerca de 400 mV, evidenciando a ação catalítica do corante frente à reação de redução de O2. Além disso, uma comparação destes resultados com os apresentados na Figura 1 indicam que o potencial de redução de O2 está diretamente associada com o processo redox Cu(II)/Cu(I), sendo a espécie Cu(I) responsável pela atividade eletrocatalítica do complexo. Voltamogramas cíclicos da redução do oxigênio sobre TQ133 em solução 0.05 mol L–1 H2SO4 também foram registrados a diferentes velocidades de varredura do potencial. Uma análise dos resultados mostrou uma dependência linear da corrente de pico Ip com a raiz quadrada da velocidade de varredura do potencial v, bem como do potencial de pico Ep com o log v. Estas características podem ser relacionadas às seguintes equações: Ip = 2,99x105.n.(α.no)1/2.A.Co.Do1/2.v1/2 (1) Ep = k + (0,03 / α.no) log v (2) onde Co representa a concentração de O2 no seio da solução; Do é o coeficiente de difusão do O2; A é a área do eletrodo; n é o número total de elétrons envolvidos na reação α.no é um parâmetro que reflete a irreversibilidade da reação; no é o número de elétrons envolvidos na etapa determinante da velocidade da reação (e.d.v.) e k é uma constante. A combinação da Equação 2 com o coeficiente angular extraído do gráfico Ep vs. log v permitiu calcular o valor de α.no como sendo de ~0,00013233. A partir deste valor e do coeficiente angular do gráfico Ip vs. v1/2, substituídos na Equação 1 com utilização dos valores de Co, Do.e A, o valor calculado de n foi de 2,1 indicando que a reação de redução de oxigênio catalisada pelo composto TQ133 em soluções aquosas ácidas está associada com um processo envolvendo 2 elétrons. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem os apoios concedidos pela Capes, CNPq, e ao laboratório de eletroquímica da UFMA pelas análises realizadas. REFERÊNCIAS 1. Cox, J.A., Tess, M.E. e Cummings, T. E. in Reviews in Analytical Chemistry, Vol. XV, Editado por M. Zangen, Freund Publishing House, London, 1996, p. 173-223. 2. Zagal, J.H. Coord. Chem. Rev., 71 (1992) 135. 3. Costamagna, J., Conales, J., Vargas, J. e Ferraudi, G., Coord. Chem. Rev., 148 (1996) 221. 4. Markovic, N.M. e Ross, P.N. In: Wieckowski, A. Interfacial Electrochemistry – Theory and Applications. New York: Marcel Deker, 1999. 992p, 821-841. 5. Bard, A.J. e Faulkner, L. R. Electrochemical Methods - Fundamentals and Applications, John Wiley & Sons, New York, 1980, p. 7. 6. Zagal, J.H., Lira, S. e Ureta-Zañartu. J. Electroanal. Chem. 210 (1986) 95.