A BÍBLIA COMO IMPORTANTE FONTE HISTÓRICA PARA MAPEAMENTO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICOS DO SÉCULO XIX VISANDO UMA BUSCA DAS ORIGENS EUROPÉIAS NO ORIENTE PRÓXIMO. Jônatas Ferreira de Lima Graduando - Departamento de História – UFRN Resumo Diante das novas concepções intelectuais do século XIX, arqueólogos e historiadores buscaram no (Antigo) Oriente Próximo a origem da grande e desenvolvida Civilização européia ocidental. Essa civilização dever-se-ia enquadrar nos principais estudos da época, como: “Modos de Produção e Sociedade de Classes” (marxismo), “Política e Arquitetura” (positivismo). Desde o século XIX, arqueólogos trabalham em conjunto com historiadores. Isso pode gerar os seguintes questionamentos: Mas que fontes históricas eles utilizariam para desenvolver tal empreendimento? Quais conceitos definiriam ou explicariam essa “civilização oriental” para se chegar a um consenso? O que levou os europeus ocidentais a buscarem essas origens? Porque “Oriente Próximo”? Próximo de que ou quem? Quem auxiliaria os historiadores a formular este conhecimento? Quem são os estudiosos deste assunto? Esses estudiosos se prendiam ao estudo das civilizações tradicionais do Oriente Antigo? À luz dessas questões, como a Bíblia Sagrada ajudou todos estes empreendedores a chegar a um entendimento que levaria aos mais diversos conceitos que mudariam o modo de compreender este mundo tão enigmático do Oriente Próximo? Era a Bíblia, a única fonte para compreensão deste oriente? O campo de estudos da História tem ampliado seus horizontes, tomando uma dimensão que o torna presente nas mais variadas ações humanas no tempo, desde uma carta privada a um discurso público. O uso da Bíblia como fonte, objetivará proporcionar uma melhor compreensão do que seria ser um arqueólogo e/ou um historiador diante dos enigmas do Oriente Próximo no século XIX. Palavras-chave: Bíblia, Oriente Próximo, Arqueólogos, Historiadores Como a “Bíblia” pode ter contribuído no mapeamento de sítios arqueológicos na região do Oriente Próximo no século XIX? O que estou chamando de Bíblia: o Antigo Testamento (Cristãos); Tanach (Judeus) e a “História dos Hebreus” de Flávio Josefo. O recorte no século XIX: até as duas primeiras décadas. Algumas justificativas do trabalho: curiosidade em saber se havia como encontrar uma sociedade “perdida no tempo”, através da leitura de alguns trechos bíblicos; a não existência de uma máquina do tempo, me leva imaginar, junto à leituras direcionadas, um pouco do processo; tentei perceber o ser arqueólogo/historiador, durante o século XVIII/XIX. Problemas com outras fontes sobre o Oriente: escritos egípcios, sumérios, acadianos, hititas e outros, a maior parte dos quais foi encontrada em escavações, já eram conhecidos dos estudiosos do século XVIII, mas nenhum podia constituir objeto de investigações porque a arte de ler os hieróglifos (tal como a escrita da maior parte dos povos do Oriente Próximo) estava, então, irremediavelmente esquecida e antes de estudar esses textos era preciso aprender a decifrá-los. A História dos Hebreus de Josefo: de origem judaica, sendo também de linhagem sacerdotal, Flávio Josefo, um escritor e historiador judeu que viveu entre 37 e 103 d.C., escreveu a obra que se 2 tornaria, depois da Bíblia, a “maior fonte” de informações sobre os impérios da Antiguidade, o povo judeu e o Império Romano. Observemos o seguinte trecho bíblico descrito pelo historiador judeu Iossef ben Matitiahu ha-Cohen (Josef ben Mattatias) de nome romano Flavius Josephus (Flávio Josefo), que viveu entre 37 e 103 d.C., em uma suas obras A História dos Hebreus: 16. Gênesis 10 e 11. Os três filhos de Noé, Sem, Jafé e Cão, nascidos cem anos antes do dilúvio, foram os primeiros a deixar as montanhas para morar nas planícies, o que os outros não ousavam fazer, assustados ainda com a desolação universal causada pelo dilúvio. Mas o exemplo daqueles animou estes a imitá-los. Deram o nome de Sinar à primeira terra em que habitaram. Deus ordenou que mandassem colônias a outros lugares, a fim de que, multi-plicando-se e estendendo-se, pudessem cultivar mais terras, colher frutos em maior abundância e evitar as divergências que de outro modo poderiam ser suscitadas entre eles. Porém esses homens rudes e indóceis não obedeceram e, pelo seu pecado, foram castigados com os males que lhes sucederam. E Deus, vendo que o seu número crescia sempre, ordenou-lhes segunda vez que formassem novas colônias. [...]19. Os filhos de Cão ocuparam a Síria e todos os países que estão além dos montes de Amane e do Líbano até o oceano, dando-lhes nomes dos quais alguns são hoje inteiramente desconhecidos, e outros, modificados de tal modo que mal se poderiam reconhecer. Somente os etíopes, dos quais Cuxe, filho de um dos quatro filhos de Cão, foi príncipe, conservaram o nome ancestral [...] Os mizraenses, descendentes de Mizraim, também conservaram o seu nome, pois nós chamamos Mizrau ao Egito e mizraenses aos egípcios. Pute povoou a Líbia e chamou a esses povos com o seu nome: puteenses. Existe ainda hoje, na Mauritânia, um rio que tem esse nome, e vários historiadores gregos o mencionam [...] Quanto a Ninrode, sexto filho de Cuxe, ficou entre os babilônios e tornou-se senhor deles [...] Mizraim foi pai de oito filhos, que ocuparam todos os países que estão entre Gaza e o Egito. Mas somente um desses oito, Filistim, manteve o nome no seu país — os gregos deram o nome de Palestina a uma parte dessa província. Quanto aos sete outros irmãos, chamados Ludim, Anamim, Leabim, Naftuim, Patrusim, Casluim e Caftorim, com exceção de Leabim, que fundou uma colônia na Líbia e lhe deu o seu nome, nada sabemos de suas obras, porque as cidades que construíram foram destruídas pelos etíopes, [...] De Elão, o mais velho, vieram os elameenses, e dele os persas tiveram a sua origem. Assur, o segundo, construiu a cidade de Nínive e deu o nome de assírios aos seus súditos, os quais foram extraordinariamente ricos e poderosos. Arfaxade, o terceiro, também chamou aos seus pelo seu nome, isto é, arfaxadeenses, que são hoje os caldeus. De Arã, o quarto, vieram os arameenses, aos quais os gregos chamam sírios, e de Lude, o quinto, vieram os ludeenses, que hoje são chamados lídios. [...] Reú teve Serugue, Serugue teve Naor e Naor teve Terá, pai de Abraão, que assim foi o décimo desde Noé e nasceu duzentos e noventa e dois anos após o dilúvio [...] (JOSEFO, 1992: 52-54). 3 No século XIV, o movimento renascentista na Europa ocidental surgia na Itália, tendo como objetivo principal a apologia ao homem, ou seja, Humanismo. Com todo esse desejo de estudiosos acadêmicos europeus em literalmente esquecer toda a influência cultural da Igreja1, deixam de escanteio os textos cristãos e trazem a campo os textos clássicos em grego e em latim, a fim de retomar as bases que mantinham o homem como construtor e personagem central da história.2 Mas como iniciar a montagem dessa história a partir dos textos clássicos? Como buscar as origens da grande e renovada3 civilização Européia ocidental? Os estudiosos do século XVIII não poderiam negar que as primeiras referências aos estudos do Oriente Próximo (da Europa) eram os textos bíblicos. Os textos Hebraicos do Antigo Testamento (Tanach)4 foram de grande importância para as primeiras descobertas das antigas civilizações que posteriormente dariam origem a grandiosa européia. Através da disciplina chamada de “orientalista” que trataria de estudar essas sociedades que existiram no Oriente Próximo, pôde-se finalmente, chegar a um ponto de partida na descoberta de cidades que haviam se perdido no tempo, onde as quais poucas deixaram-nos evidencias externas (suas ruínas). Sobre uma definição desse “orientalismo”, o crítico literário palestino, radicado nos Estados Unidos, Edward Said (1935-2003) em um de seus livros Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente explica: [...] tomando o final do século XVIII como um ponto de partida muito grosseiramente definido, o orientalismo pode ser discutido e analisado como a instituição organizada para negociar com o Oriente – negociar com ele fazendo declarações a seu respeito, autorizando opiniões sobre ele, descrevendo-o, colonizando-o, governando-o: em resumo, o orientalismo como um estilo ocidental para dominar, reestruturar e ter autoridade sobre o Oriente (SAID, 1990: 15). No século XIX, com a revolução das ciências humanas, surge o conceito de história como ciência5. Essa História deixa de ser literária para se tornar objeto do Estado, com o objetivo de buscar no passado sua afirmação. Essa nova maneira de encarar o passado da humanidade era constantemente voltada para os interesses 1 Sabemos que os Renascentistas, tacharam o período medieval de “Idade das Trevas” devido ao suposto bloqueio intelectual causado pela Igreja Católica e seus dogmas. 2 O historiador Josep Fontana, comenta que o que mais distingue o esquema da historiografia cristã do da clássica não é, como se costuma dizer, a contraposição entre um modelo cíclico e outro linear – da criação do mundo ao fim dos tempos -, mas sim o fato de que a greco-romana buscava a explicação dos fenômenos históricos no interior da própria sociedade, fazendo uso de uma causalidade fundamentalmente terrena, enquanto que a cristã supõe que existe um esquema determinado vindo de fora da sociedade humana, por desígnio divino, que marca o curso inelutável da evolução histórica (FONTANA, 1998: 28-29). 3 Renovada, pois não se pretende mais relacionar-se com o passado “medíocre” (uma atitude de iniciativa elitista, uma vez que os mais abastados ainda eram, até de certa maneira, fortemente ligados a esse cotidiano da Idade Média). 4 É conhecida como Antigo Testamento entre os cristãos e não-cristãos. 5 O século XIX foi marcado por uma série de debates intelectuais na Alemanha e havia também, uma disputa no que dizia respeito à interpretação da história, até o momento, dos outros, neste caso os franceses. 4 políticos, uma vez que os historiadores (agora) eram profissionais6 destes. Os textos clássicos, mais especificamente dos gregos Heródoto (485-424 a.C.) e Tucídides (460-400 a.C.) e do romano Cícero (106-43 a.C.), são agora bastante retomados como verdades7 para estudos das sociedades do Oriente Próximo e Antiguidade Clássica. A escrita da história estava bastante modificada. Com as teorias materialistas de Karl Marx (1818-1883), a história se volta para a busca da origem das relações econômicas e os constantes conceitos anacrônicos (convencionados) impostos ao Oriente Próximo para melhor visualizá-lo e compreende-lo. Então, a missão de descobrir a localização dessas civilizações, ou seja, sua herança material e cultural, fica a cargo da Arqueologia.8 Junto com os arqueólogos, nessa busca por vestígios de sociedades antepassadas, estavam os “assiriólogos, sumeriólogos, hititólogos e hebraístas” que contribuíram muito para a História com seus achados (e traduções) de escritas rudimentares dos povos do Oriente Próximo. A cargo dos historiadores, estava a função de montar todas as informações coletadas e (re)construir o conhecimento histórico. Antes de começar as explanações sobre como se deu essas descobertas das cidades do Oriente, é necessário acrescentar um importante e extraordinário ocorrido referente aos estudos históricos do século XX. Esses estudos agora não mais tratarão as fontes como verdades inquestionáveis, todas as fontes serão questionadas e estas questões partiram do presente, a história não será mais vista como aquela que relata apenas um ocorrido fato passado, demarcando datas e pontos de mudanças, essa nova história não buscará a origem da civilização européia, mas tratará das relações sociais, econômicas, espaciais, culturais e mentais das civilizações nelas mesmas. Esse renovado modo de se relacionar com as fontes historiográficas9 deve-se a escola histórica francesa, fundada pelos historiadores Lucien Febvre (1878-1956) e Marc Bloch (1886-1944) em 1929 com o nome de Annales. Em 1946, Lucien Febvre passa a direção de seu trabalho para um outro renomado historiador francês, Fernand Braudel. Braudel (1902-1985) trabalhou principalmente com os possíveis diálogos entre a história e a geografia e propôs o abandono do conceito criado no século XVIII de civilização única, a européia ocidental. Vejamos o que ele disse em um de seus livros, Gramática das Civilizações: Então, se nos pedirem para definir a civilização, sem dúvida nos 6 Antes desse fato, quem produzia o conhecimento histórico, em grande parte, eram os sociólogos. Para a escola Positivista, o historiador, através dos documentos, reconstituiria descritivamente, ‘tal como se passou’, o fato do passado, que, uma vez reconstituído, se tornaria uma ‘coisa-aí’, que fala por si’. Ao historiador não competia o trabalho da problematização, da construção de hipóteses, da reabertura do passado e da releitura de seus fatos. Ele reconstituiria o passado minuciosamente, por uma descrição definitiva (REIS, 2003: 29). 8 Do grego archaios, velho ou antigo, e logos, ciência, arqueologia é uma ciência social (isto é, que estuda as sociedades), podendo ser tanto as que ainda existem, quanto as atualmente extintas, através de seus restos materiais, sejam estes objectos móveis (como por exemplo objeto de arte, como as vênus) ou objetos imóveis (como é o caso de estruturas arquitectónicas). Também se incluem as intervenções no meio ambiente efetuadas pelo homem (Wikipédia). 9 Historiografia (de "historiógrafo", do grego Ιστοριογράφος, de Ιστορία, "História" e -γράφος, da raiz de γράφειν, "escrever": "o que escreve, ou descreve, a História" é uma palavra polissêmica. Designa não apenas o registro escrito da História, a memória estabelecida pela própria humanidade através da escrita do seu próprio passado, mas também a ciência da História. 7 5 mostraremos mais hesitantes. De fato, o emprego do plural (civilizações) corresponde ao desaparecimento de certo conceito, à supressão progressiva da idéia em si e que seria reservada a uns poucos povos privilegiados ou mesmo a determinados grupos humanos, à “elite”. [...] Nessas condições, a civilização no singular perdeu muito de seu brilho. Já não constitui o auto, o altíssimo valor moral e intelectual percebido pelo século XVIII. Por exemplo, se dirá hoje de preferência, no sentido da língua, que tal ato abominável é um crime contra a língua a humanidade, e não contra a civilização, conquanto o sentido seja o mesmo. Mas a língua moderna manifesta certa resistência a empregar a palavra civilização em sua antiga acepção de excelência, de superioridade humana (BRAUDEL, 2004: 28-29). Agora, com as principais mudanças ocorridas com os estudos da história ao longo de mais de seis séculos apresentados, retomemos a questão das descobertas das cidades antigas do Oriente próximo. Como já dito, a Tanach Hebraica (ou mesmo a obra de Josefo) foi uma das principais referências para se detectar as prováveis localizações dessas cidades. As citações bíblicas orientaram os diversos arqueólogos do século XIX, e para a surpresa de muitos, lá estavam elas. Voltemos então ao trecho de Josefo, citado no início do texto, onde ele diz: “[...] foram os primeiros a deixar as montanhas para morar nas planícies”. Aqui observa-se a afirmação de que povos que viviam nas montanhas desceram para um espaço mais plano e provavelmente mais propício a algum tipo de artifício de subsistência. Bem, vejamos a figura que representa esse mundo do Oriente Próximo: Oriente Próximo Fonte: AZEVEDO JÚNIOR, Mariano. O antigo Oriente Próximo. Natal, 2008. 26 slides, color. 6 Analisando o mapa, pode-se nitidamente notar cadeias de montanhas presentes ao norte da região palestina, e claramente ao sul, uma verde e ampla planície, banhada pelos rios Tigre e Eufrates (atual Iraque). A partir dessa suposição, poderiam se realizar atividades arqueológicas nas regiões da palestina, sul da Turquia e toda a planície iraquiana. Agora vejamos outra citação do trecho de Josefo: “[...] Deram o nome de Sinar à primeira terra em que habitaram”. O termo "Sinar", ou, menos freqüentemente, Shinar, (em hebraico ;שנערna Septuaginta, Σεναάρ, Senaar) é uma designação de característica ampla, aplicada à Mesopotâmia, aparecendo 8 vezes na Bíblia Hebraica. Em Gênesis 10:10, relata-se que o início do reino de Nimrod compreendia "Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar." No capítulo seguinte, em 11:2, o Sinar é mostrado como uma planície que veio a ser povoada depois do dilúvio, onde a humanidade, ainda falando apenas uma língua, construíu a Torre de Babel. Em Gênesis 14:1,9 o Sinar é a terra governada pelo rei Anrafel, durante muito tempo identificado como Hamurabi, rei da Babilônia, apesar de tal relação não só ser incerta como também negada em investigações mais recentes. A terra de "Sinar" ainda é mencionada como sinônimo de "Babilônia" em Josué 7:21, em Isaías 11:11 e em Zacarias 5:11. Se o Sinar incluía tanto a Babilônia (cf. "Babel") como Ereque, então o termo caracterizava as partes tanto norte quanto sul da Babilônia. Qualquer relação cognata com "Suméria" ou "Shumer" - exônimo de origem acádia usado para se referir a um povo não-semítico que chamava-se a si próprio Kiengir não é simples de se explicar, tendo sido alvo de inúmeras especulações. É correto, contudo, afirmar que o termo egípcio para "Babilônia" e "Mesopotâmia" era Sangar, palavra que se repetia freqüentemente nas cartas Amarna (Wikipédia). Agora observemos o seguinte trecho bíblico descrito por Josefo: “[...]19. Os filhos de Cão ocuparam a Síria e todos os países que estão além dos montes de Amane e do Líbano até o oceano [...] Quanto a Ninrode, sexto filho de Cuxe, ficou entre os babilônios e tornou-se senhor deles [...] Mizraim foi pai de oito filhos, que ocuparam todos os países que estão entre Gaza e o Egito. Mas somente um desses oito, Filistim, manteve o nome no seu país — os gregos deram o nome de Palestina a uma parte dessa província. [...].” Novamente é notório que as civilizações do Oriente Próximo primeiramente desenvolveram-se nas áreas montanhosas e tempos depois desceram para as planícies mesopotâmicas. A existência de povos no norte da mesopotâmia (chamada de Alta pelos estudiosos) pôde ser comprovada com as escavações arqueológicas e com documentos escritos encontrados nas áreas sitiadas. Segundo o assiriólogo Paul Garelli (1982, p.1-2;6), G. F. Grotefend foi um dos mais importantes assiriólogos e contribuiu com os avanços nos estudos e descobertas sobre esse Oriente tão enigmático. Grotefend (1775-1853) decifrou inscrições vindas do sítio localizado na antiga cidade persa de Persépolis que fazia menção aos grandes reis Persas (como Dário, Xerxes e Histapo). Essa e outras descobertas de Grotefend deram início a uma série de decifrações utilizando um método comparativo de signos encontrados nos documentos. Também, de acordo com Garelli (1924-2006), línguas são reveladas por documentos redigidos em 7 escrita cuneiforme, que podemos ler mesmo sem compreende-los. Tal sistema gráfico, inventado provavelmente pelos sumérios, constitui-se primitivamente de desenhos que representavam objetos ou composições simbólicas. “[...] Cada signo tinha um sentido básico, ao qual podiam se acrescentar alguns significados aparentados”. Até o presente momento, observamos como alguns textos bíblicos do Antigo Testamento puderam orientar arqueólogos, orientalistas, e outros estudiosos perante o obscuro mundo do antigo Oriente e claro, com a formação dos sítios e novas evidencias, descobertas importantíssimas como a da escrita cuneiforme (sul mesopotâmico) e as descrições em grego observada na Pedra de Rosetta10 (Egito) em 1799, tornaram-se marcos cruciais para a escrita histórica, dentre os quais a decifração dos signos (também hieróglifos) e a tradução dos documentos, possibilitaram juntamente com os achados ceramistas, relevos e ruínas, narrativas sobre o surgimento da civilização. Porque civilização? Ainda estamos no século XIX, onde a busca pela origem da civilização européia vigorava. As viagens realizadas para o Oriente estavam relacionadas com busca pela sociedade que melhor se acoplaria aos ideais de civilização européia. Essa sociedade precisaria ser grandiosa, imponente, influenciável, uma civilização que deixasse seus “caracteres”, suas marcas na civilização européia (ocidental). Essa marca, identificada desde os séculos XV e XVI, são as “relações econômicas”. O egiptólogo e estudioso de sociedades antepassadas Ciro Flamarion Cardoso em um de seus livros Sociedades do Antigo Oriente Próximo diz que Do século XVI ao XVIII, os escritores europeus que por alguma razão, se referiam ao Oriente, faziam-no no contexto do pensamento acerca do social como existia em sua época, isto é, manifestando interesse prioritário, ou mesmo exclusivo, pelos aspectos políticos. [...] os materiais usados provinham da Bíblia e de escritores clássicos antigos [...] A partir de meados do século XIX, multiplicaram-se os estudos de sociedades orientais [...] Tais estudos foram influenciados por duas grandes correntes de pensamento [...] Uma delas consistia na crença de ser o sânscrito11 a língua-mãe das grandes línguas da Europa [...] A outra foi a longa polêmica acerca de serem ou não as sociedades aldeãs primitivas caracterizadas pela propriedade coletiva sobre o solo [...] (CARDOSO, 2005: 5;6;10). 10 Os egípcios nos deixaram inúmeros vestígios materiais de sua cultura, mas nenhum deles foi tão festejado como a Pedra de Rosetta. Até a sua descoberta, em 1799, e sua decodificação, em 1822, as escritas egípcias mais importantes – os hieróglifos e o demótico – não podiam ser lidas pelos estudiosos. A Pedra de Rosetta traz um decreto emitido em 27 de março de 196 a.C. pelo faraó Ptolomeu V [...] Olhando-se a Pedra de Rosetta, pode-se observar as suas três seções distintas: a superior grafada em hieróglifos, a mediana escrita em demótico e a inferior em grego. A equivalência das três seções permitiu, partindo-se do grego, a decodificação das escritas utilizadas pelos egípcios. [...] Champollion foi a primeira pessoa em 1500 anos a ler o que os egípcios haviam escrito sobre eles mesmos e sua cultura. Seu feito, mais do que as informações obtidas com a transcrição da Pedra de Rosetta, causou efeito bombástico em Paris. [...] Apenas em 1823, após a decifração da Pedra de Rosetta e com a publicação de seu trabalho Précis du Système Hiéroglyphique, os hieróglifos puderam ser finalmente lidos e compreendidos (Revista Ciência Hoje 147). 11 O Sânscrito é uma língua clássica da Índia, uma língua litúrgica do Hinduísmo, Budismo, Jainísmo, e uma das 23 línguas oficiais Índia influenciou praticamente todos os idiomas ocidentais. O alfabeto original do sânscrito é o devanagari, um composto bahuvrīhi formado pelas palavras deva ("deus") e nāgarī ("cidade"), que significa "a escrita da cidade dos deuses". É uma das línguas mais antigas da família Indo-Européia (Wikipédia). 8 Ciro Flamarion (1942-) comenta exatamente os tipos de intenções que corriam no início dos estudos sobre Oriente Próximo, um elo entre a Europa e o Oriente. Marx buscou nas ciências econômicas um caminho padrão para guiar os estudos sobre esse Oriente, e esse recurso seria a origem do Estado e suas relações com seus súditos, chamado de “Modo de Produção Asiático”.12 Então voltemos aos estudos arqueológicos, só que agora partindo do conceito de “Modo de Produção Asiático” idealizado por Marx, na busca dessa sociedade ideal aos interresses europeus. Vejamos esta passagem bíblica segundo Josefo: “[...] De Elão, o mais velho, vieram os elameenses, e dele os persas tiveram a sua origem. Assur, o segundo, construiu a cidade de Nínive e deu o nome de assírios aos seus súditos, os quais foram extraordinariamente ricos e poderosos”. Observe que, no trecho bíblico transcrito por Josefo, são mencionados o nome de duas sociedades que poderiam realmente ter existido, os Assírios e os Persas. Sobre os Persas, já foi mencionado a questão dos signos encontrados no sítio da cidade antiga de Persépolis (no decorrer do texto, retomaremos os Peras) e sobre os assírios, as inscrições cuneiformes e os baixos-relevos. Segundo Garelli (1982: 3), até 1840, os viajantes limitaram-se quase sempre a prospectar a superfície dos tells,13 colinas artificiais formadas pela acumulação das ruínas antigas. Chegou-se, entretanto, a efetuar um útil trabalho de levantamentos topográficos e arquitetônicos. O período de 1842 a 1855 foi a época das grandes revelações: escavações de Nínive (Quyundjik), dirigidas primeiro por P. E. Botta e depois por Layard, Rassam e Loftus, que trouxeram à luz os grandes baixos-relevos e a biblioteca do rei Assurbanipal; escavações de Khorsabad (Dûr-Sharrukin), dirigidas por Botta e Place, que encontraram o palácio do rei acádio Sargão II; descobrimento de Larsa (Senkere) por Loftus, de Ur dos caldeus (Muqqayar) e de Eridu (Abu Sharein) por S. E. Taylor, estes são alguns dos mais importantes trabalhos arqueológicos realizados no Oriente Próximo. Garelli ainda menciona que G. Smith publicou em 1872 a versão ninivita do Dilúvio, com o que se iniciava o trabalho de integração das tradições israelitas na história de todo o Oriente e que no início do século XX, mais precisamente em 1906, ocorre a descoberta dos famosos hititas, cuja capital, Hattusa, sobre o sítio de Boğazköy (Turquia), foi encontrada por H. Winckler. Agora, a escrita cuneiforme observada, dissimulava uma língua indo-européia (língua-mãe), como provou o assiriólogo tchecoslovaco B. Hrozný. Em clímax de início da Primeira Guerra Mundial os incansáveis arqueólogos continuavam a fazer grandes descobertas, desta vez, as escavações de von Oppenheim, em Tell Halaf (Síria), e as de Herzfeld, em Samarra (Iraque), deram a conhecer os primeiros grandes sítios “pré-históricos” da Mesopotâmia. Sendo assim ordenava-se pouco a pouco as diversas partes da historia oriental. Observemos que neste momento o trabalho do “orientalista” torna-se mais complicado devido a descoberta das mais diversas sociedades no Oriente, fazendo com que se desenvolvam outros tipos de estudiosos do ramo, e sobre isso, Paul Garelli menciona que 12 Expressão usada por Marx uma única vez, mas que se tornou usual entre os marxistas para designar determinado tipo de sociedade em que uma ‘comunidade superior’, mais ou menos confundida com o Estado e que se encarna num governante ‘divino’, explora mediante tributos e trabalhos forçados as comunidades aldeãs – caracterizadas pela ausência de propriedade privada e pela auto-suficiência, permitida pela união do artesanato e da agricultura (CARDOSO, 2005: 82). 13 Em árabe pode significar monte ou colinas naturais. 9 [...] essa extensão contínua do campo de investigação complica singularmente a tarefa do orientalista. Na verdade, já não existem, ou quase, “orientalistas” existem assiriólogos, sumeriólogos, hititólogos, hebraístas, todos com muito a realizar em sua especialidade, mas obrigados, não obstante, a seguir com atenção o desenvolvimento das disciplinas afins (GARELLI, 1982: 4). Já vimos até o presente momento que os documentos escritos, foram de suma importância para se iniciar o trabalho histórico-arqueológico nas áreas do Oriente Próximo, e vimos também como textos bíblicos puderam ajudar nas localizações das cidades (não esqueçamos da importância dos textos clássicos os quais proporcionaram compreender as relações entre os grandes povos da antiguidade, como egípcios, babilônicos, fenícios, persas, gregos, romanos, entre outros). Ainda trabalhando com o conceito europeu de “Origem” e de “Modo de Produção Asiático” analisemos os principais achados da região da Alta mesopotâmia. Chamemos o estudioso assiriólogo Paul Garrelli para apresentar o espaço das descobertas: Situado na encruzilhada de três continentes, o Oriente Próximo é uma zona de trânsito que apresenta grande unidade estrutural. [...] É um prolongamento do Saara onde se manifestaram influências tropicais cada vez mais acentuadas em direção aos confins siro-arábicos, e que nessa proporção alteram o clima mediterrâneo. [...] De resto, foi nesse circuito montanhoso, onde o regime das chuvas assegura a colheita em tempo normal, que os povos do Oriente Próximo, “mediterrâneos” de um tipo comparável ao das populações atuais, deram início à passagem do regime de “coleta” para o de “produção alimentar”, ou seja, a um estádio de civilização que envolve a agricultura, a criação e a fixação em aldeias (GARELLI, 1982: 49;51). A maioria desses povos encontravam-se sitiados nas regiões montanhosas da península anatoliana (parte asiática da Turquia) e nessa região viu-se florescer uma civilização semelhante à descoberta na região Sírio-Palestina.14 Essa afirmação pôde ser comprovada através dos tipos de cerâmica encontrada nas escavações arqueológicas. As cerâmicas foram comparadas com bastante cuidado e chegou-se a conclusão de que havia uma aproximação muito forte entre a sociedade que se formou na Anatólia (ou Ásia Menor) e a dos antigos natufienses e tahunenses. Além dos achados ceramistas, pôde se perceber semelhanças, também, nas estruturas habitacionais, isto é, na arquitetura das casas, principalmente as da antiga Jericó. A descoberta mais significativa dessa região Anatólia foi a da cidade de Çatal Hüyük, onde os arqueólogos 14 Por volta de 7800 a.C., foi desenvolvido o primeiro estabelecimento estável: a cidade de Jericó. Num primeiro momento foi ocupada pelo povo natufense da Palestina, marcando o fim do regime de coleta e o início do estágio agrícola. Posteriormente, em cerca de 6000 a.C., os tahunenses habitaram na região da Síria-Palestina, consolidando de uma vez por todas um regime social baseado na agricultura (GARELLI, 1982: 51-52). 10 britânicos trouxeram à luz uma dezena de níveis,15 cuja duração total compreende cerca de 6500 a 5500 a.C., conforme indicações radiocarbônicas.16 Com 16 ha de superfície, Çatal Hüyük devia parecer com uma metrópole, em comparação com as aldeias encontradas na planície. Ela não possuía muralhas, mas as próprias casas, apertadas umas nas outras e sem nenhuma abertura, compunham um conjunto cerrado, a cujo interior só se tinha acesso através dos tetos, com o auxílio de escadas. De acordo com Garelli, os habitantes obtinham o essencial de seus recursos da agricultura, mas a caça conservava sua importância. Outra cidade descoberta pelas escavações na península anatoliana, foi a curdistã (alta Djezireh) – hoje conhecida como os curdos (na Turquia). Os estudos afirmam que, nessa região, no período de 6500 a.C., surgem as primeiras comunidades rurais e em meados de 6000 a.C. pode ser apontada uma certa “revolução agrícola”. Os arqueólogos descobriram a presença de vários tipos de grãos que atestam a prática agrícola mais farta, bem como ossadas de animais domesticáveis, como porcos, cães e bois. Essa tal “revolução agrícola” significou possivelmente, a instalação das populações nas planícies e nas encostas das montanhas. Então podemos traduzir o presente momento da seguinte forma: Através de passagens bíblicas, chegamos a uma região do Oriente Próximo que foi dividida em Alta (área montanhosa) e Baixa (área de planície) Mesopotâmia (provável Sinar) na busca incansável pelas origens da civilização européia. Com os estudos de Marx, podemos, através do conceito de Modo de Produção Asiático, afunilar as buscas por essa sociedade ideal no Oriente Próximo. Vejamos agora as escavações realizadas na baixa Mesopotâmia, mas antes é necessário trazer os motivos para essa mudança de sítio. Por volta de 5000 a.C., na região antiga do Curdistão desenvolveu-se, como afirma Garelli, uma “civilização original” (seria a civilização ideal?). Chamada de Tell Hallaf, nela, pôde-se encontrar uma quantidade enorme de cerâmicas, juntamente com a riqueza de seus detalhes os quais permitiram aos arqueólogos e historiadores designar essa civilização a partir de uma cultura própria, a cultura Hallaf. Dentre outros achados (como objetos de cobre e chumbo), essa civilização foi a mais desenvolvida entre as da alta mesopotâmia. O brilho dessa civilização provavelmente se apagou após uma série de invasões sofridas por parte de povos que habitariam o sul mesopotâmico. Tendo Tell Hallaf como a civilização mais desenvolvida da área norte, 15 São medidas definidas pelo arqueólogo para os trabalhos de escavação. Geralmente adota-se 0,10m (10cm) ou 0,20m (20cm) para cada nível escavado. Assim, com a mesma metodologia aplicada para analisar as camadas naturais do solo (decapagens, etiquetagens, etc.), o sítio arqueológico também é pesquisado por níveis artificiais. Então, somando os elementos arqueológicos (cerâmica, instrumentos em pedra, ossos, dentre outros elementos) com as informações obtidas das camadas do solo e do meio ambiente em que foi realizada a escavação, o arqueólogo terá provas para contar como ocorreu a vida dos povos primitivos durante a pré-história e, também, durante os períodos históricos. Em função da responsabilidade que o arqueólogo terá para contar a história destes povos, a partir dos dados advindos das suas pesquisas, as escavações devem ser muito bem documentadas (fotografias, filmagens e anotações) para que, em caso de qualquer dúvida que venha a surgir, durante a interpretação do modo de vida dos grupos estudados, estas informações possam ser reavaliadas. 16 O método radiocarbônico é o mais importante utilizado por arqueólogos na atualidade, e as primeiras datas radiocarbônicas foram obtidas pelo químico norte-americano Willard Libby em 1949, em decorrência de pesquisas desenvolvidas durante a Segunda Guerra Mundial. O princípio era a regularidade da taxa de desintegração do C14. O método, apesar de ser o mais utilizado por sua confiabilidade, não tem 100% de precisão, havendo uma margem de erro que acompanha as datas obtidas. 11 observemos agora as que possivelmente serão encontradas na área sul. Vejamos o mapa: Provável área de atuação da cultura Hallaf e de outras culturas. Fonte: AZEVEDO JÚNIOR, Mariano. O nascimento da civilização urbana. Natal, 2008. 21 slides, color. Distanciando-se mais das encostas das montanhas da Ásia Menor, os arqueólogos e estudiosos do Oriente Próximo, desenterraram uma sociedade que por muito tempo foi tachada de a mais antiga da Baixa Mesopotâmia – Obeid. Nessa região, durante as escavações no sítio de Eridu, foram encontradas cerâmicas, nomeadas de ElObeid. Essas cerâmicas representaram os traços dessa civilização, e a sua distinção das encontradas em Tell Hallaf, levaram os pesquisadores a afirmarem que houve uma outra cultura na planície mesopotâmica que se desenvolveu de uma forma bem mais avançada do que qual quer já mencionada na alta Mesopotâmia. Bem, sabemos até o momento, que na região da Baixa mesopotâmia foram encontrados os primeiros indícios de escrita humana, chamada de cuneiforme (em “forma de cunha”). Essa descoberta, feita na antiga cidade suméria de Uruk, foi a mais importante para a constituição de uma “história da civilização”. Os vários níveis do sítio de Uruk, levaram arqueólogos e historiadores a afirmarem que a cidade conseguiu desenvolver um dos maiores focos de civilização do período entre 4000 e 3000 a.C. Além de cerâmicas e de inscrições cuneiformes, foram achados, palácios, templos, dentre outros. Aqui estão os mais reveladores achados arqueológicos até o momento. Os historiadores, deste final de século XIX, definem e dividem os períodos históricos a partir da invenção da escrita pelos sumérios em 4000 a.C. onde se teria início a História e antes desse período, uma Pré-História. Então essas civilizações da Alta Mesopotâmia, são consideradas habitantes do período Pré-Histórico, portando são descartadas nessa busca das origens européias, sendo inclusive tachadas de “povos bárbaros”, de “os outros”, de “os invasores” dos povos desenvolvidos do sul. A origem da civilização esta na Baixa Mesopotâmia. Após os estudos levantados nos sítio das regiões sumerianas, Garelli, traz os conceitos econômicos à luz dessas civilizações do 12 sul: [...] o excedente da produção permite agora manter artesãos integrados no circuito econômico dos templos: marceneiros, ferreiros, ourives, ceramistas. Esses trabalhadores dividiam-se em equipes, sob a autoridade de vigias ou de contramestres, como indica o título de ferreiro-chefe dos textos de Uruk III. [...] Os mercadores provavelmente atuaram como os principais agentes de difusão da civilização mesopotâmica [...] (GARELLI, 1982: 61). As escavações que se seguiriam, concentraram-se nas áreas da Baixa Mesopotâmia e muitos estudos e revelações foram possíveis com as espetaculares descobertas arqueológicas dessa região. Entre as principais apresentam-se a cidade de Acádia, através de inscrições reais das outras cidades mesopotâmicas (1800-1600 a.C.) bem como de seu grande rei Sargão e seus sucessores; as cidades de Ur, Nipur, Quich, Lagash, Elam, entre outras, também foram grandes descobertas, não só arqueológicas, mas também com as inscrições literárias de seus escribas; as cidades persas de Susa e Persépolis17; a cidade resplendorosa, a Babilônia, com seus jardins suspensos, seus zigurates, as inscrições do rei Hamurábi, o palácio Etemenanki, suas tecnologias para domar os rios Tigre e Eufrates, sem esquecer do famoso rei Nabucodonosor II, mencionado em oito livros bíblicos em 87 referências no Antigo Testamento. Dentre muitas outras revelações saíram desses estudos e escavações nos sítios da baixa Mesopotâmia. No século XIX, os historiadores, junto com os arqueólogos e outras áreas especialistas em Oriente Próximo, iniciam uma busca não pela origem da civilização (o qual como já foi mostrado, está na Baixa Mesopotâmia e era uma mentalidade do próprio século XIX), mas sim de respostas aos mistérios daquela que foi fonte e os ajudaram por um bom tempo, a Bíblia Sagrada. Segundo os arqueólogos Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman em seu livro The Bible Unearthed: Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts (A Bíblia não tinha razão – tradução da publicação no Brasil), os primeiros estudos sobre a arqueologia bíblica, iniciaram-se através de identificações geográficas. Entre 1838 e 1852, Edward Robinson, ministro religioso americano, realizou duas longas explorações através da Palestina otomana, a fim de localizar e identificar os autênticos sítios bíblicos historicamente comprovados, num esforço de refutar as teorias dos críticos. O grande feito de Robinson e seus sucessores, foi a capacidade de conciliar vastas ruínas em lugares como el-Jib, Beitin (Baytin) e Seilum, todas ao norte de Jerusalém, com os prováveis sítios bíblicos de Gabaon, Betel e Silo. Essa marcha foi útil em particular em regiões que haviam sido habitadas continuamente através dos séculos e onde o nome do sitio havia sido preservado. Assim, Megiddo, Hazor (Azor), Lachish (Laquis) e dúzias de outras localidades bíblicas foram aos poucos adicionadas à expandida reconstrução da geografia religiosa. 17 Esta cidade foi uma antiga capital do Império Persa Aquemênida em meados de 522 a.C. Assim como a cidade Assíria, Nínive, foi descoberta também no século XIX. Suas ruínas proporcionaram aos arqueólogos, material importante de investigação, como baixos-relevos e cópias de inscrições feitas em escrita cuneiforme que, como já mencionadas, possibilitaram as primeiras decifrações dos documentos antigos do Oriente Próximo. 13 Em fins do século XIX, engenheiros reais britânicos do Palestine Exploration Fund (Fundo Palestino de Exploração) começaram sistematicamente, um trabalho de compilação de mapas topograficamente detalhados do todo o Israel, das nascentes do rio Jordão no norte a Bersabéia, no deserto do Negueb, ao sul. No começo do século XX, foi quando realmente se deu as atividades de escavações na terra Santa. O pioneiro foi o estudioso americano Willian F. Albright, que concentrou seu trabalho principalmente na escavação de grandes cômoros de cidades – elevações de terreno não muito altas, chamados tells (em árabe) e tels (em hebraico) – compostos de muitos níveis superpostos de cidades antigas, nos quais o desenvolvimento da sociedade e da cultura pode ser traçado através de milênios. Então, no final do século XX, a arqueologia havia mostrado, de maneira simples, que existiam muitas equivalências materiais entre os achados na terra israelense e em todo o Oriente Próximo, bem como em todo o mundo descrito na Bíblia, para supor que toda essa história seja uma mera literatura sacerdotal posterior e fantasiosa, escrita sem nenhum fundamento histórico. Porém, ao mesmo tempo, eram incontáveis as contradições entre os achados arqueológicos e as narrativas bíblicas para insinuar que a Bíblia oferecia uma descrição precisa do que ocorrera realmente de fato. REFERÊNCIAS ANNALES. Disponível em: <http://www.klepsidra.net/klepsidra16/annales.htm>. 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