A inserção da Filosofia no Ensino Médio das Escolas Públicas de Chapecó-SC: o desvelar de uma realidade Joce Mary Mello Giotto (Coordenadora) Lucas Dias, Lucas Manasés Pinheiro de Souza, Sheila Kussler Talgatti, João Victor Michielin, Marcos Vinícius da Silva (Alunos Bolsistas) Resumo Expandido RESUMO: A pesquisa buscou informações sobre o processo de inserção da Filosofia nas Escolas Públicas de Ensino Médio do Município de Chapecó-SC, visando desvelar a realidade, do ponto de vista dos professores que ministram a disciplina nas Escolas Públicas Estaduais do Município de Chapecó. De acordo com a Lei 11.684/2008, a Filosofia tem a obrigatoriedade de ser ministrada em todos os anos desse ensino. De acordo com os dados coletados a disciplina esta sendo ofertada em todas as séries do Ensino Médio, atendendo a legislação, com uma aula na primeira e duas aulas nos anos seguintes. Um ponto positivo apontado pela pesquisa é a qualificação dos professores que ministram a disciplina, pois todos são graduados na área. Assim sendo, pode-se afirmar que a Filosofia esta inserida de maneira adequada, contando com o empenho e dedicação dos professores e gestores educacionais, apesar das dificuldades inerentes ao processo. PALAVRAS CHAVE: Legislação, educação e propostas INTRODUÇÃO O ensino da Filosofia nas últimas décadas passou por um processo de mudanças, resultante da luta de professores para que a disciplina fosse inserida no Ensino Médio. O presente trabalho de pesquisa tem como finalidade estudar as legislações que normatizam o retorno da Filosofia ao Ensino Médio, LDB 9394/96, a Lei 11.684/2008 e a Resolução 01/2009, e por fim analisar o processo de inserção da Filosofia nas Escolas Públicas do município de Chapecó-SC através da análise dos dados coletados pela pesquisa de campo. METODOLOGIA A pesquisa se caracteriza como bibliográfica, documental e de campo. Como pesquisa bibliográfica buscou em livros, revistas e artigos científicos o referencial teórico para o seu desenvolvimento, como pesquisa documental analisou documentos, Leis e Resoluções norteadoras para o ensino da Filosofia no Ensino Médio. Para a pesquisa de campo, foi enviado um questionário para todas as Escolas de Ensino Médio do Município de Chapecó-SC, buscando coletar informações dos professores que ministram aulas de Filosofia, contendo nove questões, as quais foram analisadas. 1 A LDB E O ENSINO DA FILOSOFIA A fim de desvendar o processo de inserção da Filosofia nas Escolas Públicas do Ensino Médio, considerou-se a necessidade de estudar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/96, a qual coloca princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização pedagógica curricular do Ensino Médio em todo o território nacional. Esta legislação propiciou que a Filosofia fosse reintroduzida em todas as Escolas de Ensino Médio, objetivando a construção da cidadania do educando. 1.1 A Lei N.º 11.684/2008 e o ensino da Filosofia A Lei n.º 11.684, aprovada em 02 de junho de 2008, pelo Vice-Presidente da República estabelece que o artigo 36 da LDB 9.394/96 seja alterado e, que sejam incluídas as disciplinas de Filosofia e Sociologia como obrigatórias nos currículos de Ensino Médio em todas as escolas brasileiras. Para dar cumprimento a esta alteração na LDB, foi publicada a Resolução n.º 1, de 15 de maio de 2009, que dispõe sobre a implementação da Filosofia no currículo de Ensino Médio. De acordo com esse documento, os componentes curriculares de Filosofia são obrigatórios ao longo de todos os anos, “qualquer que seja a denominação e a organização do currículo, estruturado por sequência de séries ou não, composto por disciplinas ou por outras formas flexíveis”. (RESOLUÇÃO N.º 1, 2009) O mesmo documento estabelece os prazos para sua implantação, no início a disciplina deve ser ministrada ano a ano, tendo a sua complementação até 2012, para os cursos com duração de 4 anos. Afirma também que, os sistemas de ensino devem zelar para que haja eficácia na inclusão das disciplinas, com aulas suficientes em cada ano e professores qualificados para o seu cumprimento. 2 A FILOSOFIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE SANTA CATARINA De acordo com o documento apresentado no Portal de Educação do Estado de Santa Catarina, de 2004 a 2007, a Secretaria de Educação reuniu professores para debater e elaborar Cadernos Pedagógicos para as diversas disciplinas do currículo do Ensino Médio. Dentre eles o Caderno Pedagógico Filosofia, o qual contém 140 páginas com VIII unidades que tratam de diversos temas de Filosofia, as quais serão apresentadas e discutidas no item abaixo. 2.1 O Caderno Pedagógico Filosofia Segundo o prefácio de autoria dos professores Sálvio A. Muller (in memorian) e Janes F. Tomelin, o referido Caderno de Filosofia é fruto do esforço dos alunos do Curso de Filosofia do Programa de Formação Continuada de Professores do Ensino Médio, promovido pela Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina. Colocam os autores que a proposta não pretende ser um fim em si mesma, um instrumento que permita aos educadores apresentarem aos seus alunos um panorama breve da Filosofia, desde sua gênese até os dias de hoje”. Afirmando que se pretende uma construção de possibilidade que levem os educando a se descobrirem como cidadãos e sujeitos da história, através da consciência crítica despertada pela racionalidade. O Caderno compõe-se de oito unidades, que abordam sobre: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA; COSMOLOGIA; ANTROPOLOGIA; ONTOLOGIA; EPISTEMOLOGIA E LINGUAGEM; LÓGICA E INFORMAÇÃO; ÉTICA E POLÍTICA; ESTÉTICA. Os autores colocam que são objetivos norteadores do trabalho, compreender as divergências entre a Filosofia e as tradições dogmáticas dos mitos, oferecendo uma narrativa que não se questiona a Filosofia, mas convida a discussão. Estabelecer possíveis relações da Filosofia com as diferentes áreas do conhecimento, tais como antropologia, cosmologia, ontologia (metafísica), estética, ética e política, epistemologia e lógica. Possibilitar uma compreensão da história da Filosofia a partir de fragmentos dos textos clássicos. São professores tutores nominados no documento: Amarildo Custódio, Gibrair Xavier Simões, Isabel Cristina Carnelutt, Marco Antônio Martins, Narcelio Inácio Debona, Neusa Maria dos Santos e Wagner Fagundes. Pode-se afirmar que o referido caderno, apresenta-se como uma proposta muito bem estruturada, abordando temas importantes, com textos provocativos, sugestões de filmes, propostas de atividades, e sugestões de sites para pesquisa e referências. Sendo um material rico e que pode ser utilizado pelos professores em suas aulas. Na opinião dos alunos bolsistas desta pesquisa, o Caderno é bom e muito interessante, pois os capítulos são curtos, contudo não perdem a profundidade dos temas. RESULTADOS E DISCUSSÃO De posse dos questionários respondidos pelos professores, passou-se a analisar todas as questões, que são apresentadas abaixo. A questão 01, refere-se ao número de anos que os professores ministram aulas de Filosofia, 58% dos docentes estão trabalhando com a disciplina a menos de cinco anos, fato compatível à legislação, que pós LDB 9394/96, abre espaço para o retorno da Filosofia do Ensino Médio. GRÁFICO n.º 01 - Número de anos que os professores ministram a Filosofia no Ensino Médio e o percentual correspondente. A questão 02 – pergunta ao professor se este sente dificuldade para lecionar a disciplina, em relação a essa questão 38% afirmam que sim e 50% às vezes. Os motivos são: a disciplina é muito teórica, difícil, carência de material didático e deficiência na formação acadêmica. A questão 03 aborda sobre a quantidade de aulas que os professores ministram no Ensino Médio. Os entrevistados afirmaram que na rede pública estadual são ofertadas, uma aula no primeiro ano e duas nos anos seguintes do Ensino Médio. A questão 04 pergunta se a graduação os preparou bem para o magistério da Filosofia. Dos entrevistados 59% afirmaram que sim e 41% colocaram em parte. Entre os motivos apontados pela opção sim, está a qualidade dos cursos universitários, as instituições bem conceituadas e outros. Médio, garantindo o seu prosseguimento nos anos seguintes até a inclusão total no ano de 2012. A questão 05 trata da aceitação dos alunos das aulas de Filosofia, 41% afirmou que sim e 59% às vezes, e nenhum colocou que não, fato bastante positivo. As justificativas dos professores para a opção sim, foram: os educandos são receptivos, depende muito da metodologia do professor, a disciplina propicia o diálogo com liberdade. Na opção às vezes: os alunos se interessam pelo conteúdo, mas tem dificuldade de pensar criticamente, e outras. As questões 06 e 07 se referem ao material didático utilizado pelos professores. A questão 06 pergunta se os professores conhecem o Caderno Filosofia, proposto pela Secretaria de Educação de Santa Catarina, para as aulas de Filosofia no EM, 73% dos entrevistados afirmaram que conhecem e apenas 27% afirmaram que não o conhecem. Dentre os que afirmaram que conhecem, alguns justificaram que o utilizam em partes, mas que este não é o único subsídio usado nas aulas. Quanto a pergunta qual o material que os professores mais utilizam a maioria colocou que são os livros didáticos enviados pelo MEC, Introdução à Filosofia de Marilena Chauí e o Filosofando, de Aranha e Martins. A questão 08 levanta a opinião dos professores em relação a Lei 11.684/2008, que determina a obrigatoriedade da Filosofia no Ensino Médio, todos responderam que a lei é importante, pois trouxe de volta a Filosofia aos currículos do Ensino Médio, e que somente a lei garante a edificação da disciplina. A última questão, a 09, pergunta sobre os temas de Filosofia que os professores consideram importantes para serem trabalhados nas aulas. Nesta questão os professores apresentaram uma lista de conteúdos a serem trabalhados, que vão desde recortes na história da Filosofia, até um eixo temático, envolvendo problemas do cotidiano, inclusive ética e política, que podem ser discutidos filosoficamente em sala de aula. Pode-se ressaltar em relação à questão da formação dos professores para ministrar as aulas de Filosofia no Ensino Médio, todos os entrevistados são formados na área e, portanto habilitados para o magistério da disciplina. Um fator que precisa ser revisto pelos gestores educacionais, constatado na pesquisa, é relacionado ao tipo de contratação dos professores, 55% dos docentes tem contrato temporário, são ACTs, fato que demonstra a falta de concurso público para efetivação dos professores nos últimos anos, o que pode prejudicar a qualidade das aulas, sendo que ocasiona uma mobilidade de profissionais. Diante dos resultados da pesquisa pode-se afirmar que, os professores que ministram aulas de Filosofia no Ensino Médio, tem efetuado muitos esforços para que a disciplina seja bem trabalhada e aceita pelos alunos. Pois, nos encontramos em um período de construção no qual não basta somente uma legislação que obrigue a sua inclusão, mas de um conhecimento que seja valorizado tanto pelos alunos e professores, quanto pelos gestores educacionais. Como argumenta Lück (1999, p. 74) “a fase de implementação do processo de reformas é crucial para o seu sucesso, uma vez que é nesse momento que as dúvidas emergem e os significados ganham clareza”. Assim sendo, pode-se afirmar que, o processo de inserção da Filosofia nas Escolas Públicas de Chapecó vem sendo bem sucedido, pois conta com o comprometimento dos gestores, Secretaria Estadual de Educação e dos professores que ministram a disciplina com muito empenho e dedicação, para que a Filosofia possa cumprir com o seu papel de ser construtora da cidadania dos educandos. REFERÊNCIAS 1.Legislações BRASIL. Lei 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 20 de dez. 1996. _______. Lei 11.684/2008. Ministério da Educação. Brasília, DF, junho de 2008. 2. Livros CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto pode-se concluir que a Filosofia esta sendo ofertada em todas as Escolas Públicas de Ensino Médio do município de ChapecóSC, atendendo a Lei 11.684, de junho de 2008 e a Resolução n. 1 de 2009, o qual estabelece prazos para a inclusão obrigatória de componentes curriculares a partir de 2009, com a inclusão obrigatória em pelo menos, um dos anos do Ensino GALLO, S. Ensino de Filosofia: avaliação e materiais didáticos. IN. CORNELLI, G. CARVALHO, M; DANELON, M. Ministério da Educação Básica, 2010. 3. Dissertação de Mestrado GIOTTO, J. M. M. O ensino da Filosofia nas Escolas Públicas do Estado do Paraná: uma análise contextual. Dissertação de Mestrado, defendida em 2000, pelo UNICS, Palmas PR.