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Vazios Urbanos e a Metropole de Lisboa

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Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Ano Lectivo 2013 / 2014
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa
Vazios Urbanos e a Metrópole de Lisboa
Vazios Urbanos e a Metrópole de Lisboa
O número de pessoas que acorrem às áreas urbanas na procura de
novas oportunidades continua a crescer. Apesar das novas tecnologias, as
áreas rurais não estimulam a permanência. A falta de perspectivas num futuro
mais promissor para o desenvolvimento do indivíduo promove a desertificação
do interior e a concentração de populações nas áreas urbanas ou
metropolitanas.
A cidade contemporânea é um dos maiores recursos ao nosso alcance
para promover um sistema democrático de desenvolvimento de oportunidades.
O tecido urbano tem de ter continuidade no que concerne à sua
utilização. Para tal, devem ser implementadas políticas de governança local no
sentido de promover a utilização do espaço urbano e penalizar aqueles, que
pelas mais variadas razões, deixam espaços urbanos abandonados.
Deve entender-se como 'abandonado' um terreno ou edifício, que
inserido em tecido urbano consolidado, não tenha qualquer tipo de
funcionalidade e se encontre em estado de degradação.
A cidade poderá constituir um sistema de governança de gestão de
terrenos e edifícios abandonados de forma a promover a sua revitalização,
criando uma rede reformadora de oportunidades. Estas políticas de gestão
devem estar presentes nos planos estratégicos das cidades, promovendo um
impulso reformador da cidade, e, penalizando com taxas elevadas as novas
expansões, enquanto os vazios urbanos detectados e preconizados não forem
alvo de intervenção, maximizando a sua funcionalidade e a sua utilização
urbana.
trabalho realizado por: Dário Campos Vieira
numero: 66257
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Ano Lectivo 2013 / 2014
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa
Vazios Urbanos e a Metrópole de Lisboa
Os Vazios urbanos devem ser combatidos com perseverança pelas
políticas locais de modo a não propiciar territórios de cidade sem limites claros,
sem uso actual, e de difícil compreensão colectiva perante o abandono devendo ser combatido o rompimento no tecido urbano provocado pelos Vazios
Urbanos.
Os Vazios urbanos decorrentes de abandono são locais cheios de
expectativas, de forte memória urbana, ricos em infra-estruturas, com um
enorme potencial - constituindo espaços do Possível e do Futuro.
Se entendermos a cidade como um texto, os vazios urbanos são
palavras em falta onde por vezes se perde o contexto de cidade.
Os vazios urbanos devem ser pensados de forma global no contexto da cidade,
de modo a que os novos vocábulos a introduzir façam sentido contribuindo
para uma consciência e dimensão de cidade.
A cidade contemporânea deixou há muito de ser um território exclusivo
do pensamento e capacidade transformadora do arquitecto. Cada vez mais,
são chamadas equipas multidisciplinares a resolver problemas urbanos.
A memória dos locais abandonados é muitas vezes de grande
importância no imaginário colectivo. Estes vazios urbanos têm de ser
encarados muito para lá da sua dimensão meramente pragmática - o valor
destes vazios não decorre apenas da sua disponibilidade como território para
transformação física ou das infra-estruturas ou da sua localização estratégica
na cidade, mas, seguramente, de todos os factos sucessivos ali ocorridos. Os
programas têm de equacionar todos esses factores, dado o fascínio colectivo e
o poder histórico que exercem sobre o colectivo.
A Cidade de Lisboa começou a despertar para a necessidade de
trabalhar os seus Vazios Urbanos em maior profundidade depois do incêndio
no Chiado (1988). Os estudos, planos e projectos desenvolvidos mostraram
trabalho realizado por: Dário Campos Vieira
numero: 66257
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Ano Lectivo 2013 / 2014
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Vazios Urbanos e a Metrópole de Lisboa
que o Vazio Urbano criado deveria ser 'rapidamente' consolidado a bem do
contexto da cidade. Outro impulso regenerador foi o programa 'Lisboa - Capital
da Cultura 1994' que despertou a consciência colectiva para a Sétima Colina e
todo o seu potencial (patrimonial, histórico, artístico etc.), contribuindo para o
desenvolvimento de actividades lúdicas e culturais no Bairro Alto.
Polarizado pelas actividade lúdicas que desceram do Bairro Alto contaminado a
Av. 24 de Julho, foram regenerados os pavilhões da Doca de Santos para
actividade de restauração.
Vários programas municipais de promoção da reabilitação de edifícios como o
RECRIA, REHABITA e outros, enfrentaram sempre grandes dificuldades na
sua
aplicação
por
exigirem
aos
interessados
'mais
necessitados'
o
financiamento completo no arranque das obras para depois serem subsidiados
pelos programas de apoio, já no decorrer e muitas vezes só no final das obras,
não arrancando muitos processos por incógnita quanto à aprovação.
O Plano da 'Expo 98', ajudou a requalificar uma área industrial em
decadência, pensando-se que as sinergias ali criadas iriam gerar e promover a
regeneração urbana entre os territórios consolidados da cidade 'centro' e os
vários vazios urbanos existentes até à zona da Expo. Tal esperança só
pontualmente foi concretizada (jardim do tabaco, pavilhões industriais junto à
estação de Santa Apolónia, e uma mão-cheia de outras situações particulares).
Ainda na década de 2000 as instalações da Fábrica de Açúcar de
Alcântara, arrendavam espaços a empresas para desenvolverem actividade a
baixo custo, tendo os interessados de fazer as melhorias necessárias. Esta
tipologia de negócio instalou-se na Fábrica do Braço de Prata e mais tarde no
projecto LX Factory (muitos outros espaços na cidade poderiam ter esta política
de ocupação).
Foi implementada uma política de governança local através da criação das
SRUs - Sociedades de Reabilitação Urbana – mas muitas das intervenções
não foram bem sucedidas porque o poder local quis assumir o papel de
promotor em vez de parceiro orientador do desenvolvimento.
trabalho realizado por: Dário Campos Vieira
numero: 66257
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Ano Lectivo 2013 / 2014
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Vazios Urbanos e a Metrópole de Lisboa
A Alteração no antigo INH (Instituto Nacional de Habitação) em 2012
para IHRU - Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana que juntava o
Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado
(IGAPHE) e parte da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
(DGEMN), perspectivava uma maior actividade no mercado da reabilitação e
regeneração urbana. Tal incremento de actividade não se deu, e actualmente o
IHRU não tem financiamento para qualquer tipo de programa.
A introdução do programa 'JESSICA' que procurava apoiar a reabilitação em
forma de empréstimo bancário, também não foi bem sucedido, os projectos
submetidos foram poucos e de fraca visibilidade no contexto da cidade.
O Evento Trienal de Arquitectura de Lisboa de 2007 tinha como lema a reflexão
sobre os 'Vazios Urbanos', mas esse espaço de oportunidades ficou-se pelas
intenções, não tendo existido nenhum programa que resultasse dos encontros
e da sinergia criada com o evento. Não foram apreendidas as diferentes
experiências internacionais exibidas e tratadas em encontros, e cada vez mais
afastamos as cidades da perspectiva de um ponto de encontro e oportunidades
de criação, liberdade, solidariedade e democracia, transformando-as não num
destino da aventura humana, mas sim num deserto de intenções com vazios
funcionais.
As grande áreas metropolitanas (Lisboa e Porto) devem urgentemente
agir na perspectiva de introduzir um novo protagomismo na gestão e
governança para um melhor desempenho onde seja pensada a cidade noutra
dimensão de projecto - onde as questões de conjunto e contexto funcional
sejam devidamente tratadas e implementadas. A dispersão actualmente
existente provoca problemas de gestão futura - cada vez mais complicados de
gerir, quanto maior for a dispersão funcional e os vazios urbanos.
Os vazios urbanos e a incapacidade de regulamentação territorial, vão
aos poucos destruindo a imagem de cidade. Os atrasos de uma gestão
integrada significa perder-se a oportunidade de criar novos lugares e
centralidades funcionais, espaços públicos, gerar paisagem, reequilibrar tecido
urbano, articular e cicatrizar a malha urbana e de compatibilizar infra-estruturas
e redes.
trabalho realizado por: Dário Campos Vieira
numero: 66257
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Ano Lectivo 2013 / 2014
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Vazios Urbanos e a Metrópole de Lisboa
A gestão e governança de uma Cidade não podem estar à espera de
estudos e propostas, sem estar sempre em acção permanente junto de todos
os intervenientes. Os planos estratégicos têm de ser cada vez mais dinâmicos
e as orientações mais flexíveis para que as oportunidades de intervenção não
se percam.
Muito se fala e falou na Portela e nos grande projectos para a Portela
pós-aeroporto. Perspectivava-se uma determinada exposição (dos 'vazios
urbanos 2007') e a evolução da 'Portela' até 2050, mas tudo isto é caricato
quanto existem inúmeros vazios urbanos e os arquitectos só têm olhos para
desenvolver o 'Novo'. Parece existir uma repulsa dos arquitectos para os
processos de recuperação ou regeneração urbana - muitos arquitectos sobrem
do síndroma 'Corbusiano' da ansiedade de ter Obra feita.
Os Vazios Urbanos podem ser divididos em duas grande classes:
- Vazios Urbanos decorrentes de algum tipo de abandono funcional,
quando confrontado com o contexto da matriz da cidade em que se insere.
Estes vazios resultam muitas vezes de situações de abandono de edifícios ou
complexos edificados normalmente decorrentes de alteração de localização
funcional ou de fim da funcionalidade com que estavam programados. Estes
espaços localizam-se com frequência junto à cidade tradicional ou histórica,
são bem servidos de infra-estruturas e têm muitas vezes peso histórico e social
devido à vivência desse local ou funcionalidade na vida da cidade. Estes são
os 'Vazios Urbanos' que devem ter intervenção prioritária, para que a cidade
não desperdice as infra-estruturas existentes que servem os edifícios e
complexos de abandonados devendo ser promovidas acções de dinamização
urbana.
- Vazios urbanos decorrentes de áreas que por variados motivos
persistem na não ocupação, constituindo espaços marginais e residuais da
cidade - estes territórios vagos localizam-se com maior frequência no periferia
urbana ou existindo no interior, são territórios que pela sua morfologia ou
trabalho realizado por: Dário Campos Vieira
numero: 66257
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Ano Lectivo 2013 / 2014
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Vazios Urbanos e a Metrópole de Lisboa
especialidade nunca foram atractivos. Muitos desses territórios nem são
devidamente infra-estruturados. Estes espaços devem ser enquadrados na sua
função de paisagem, devendo ter tratamento apropriado para serem inseridos
no contexto da cidade - sem nunca forçar funcionalidades para as quais nunca
tiveram aptidão. O sucesso desses territórios estará vocacionado para
equipamentos 'sanitários' ou outros e ou para parques urbanos, hortas
urbanas, etc. - como forma de contextualizar esses espaços na cidade sem
forçar o surgimento de funcionalidades desajustadas ao espaço - que mais
tarde ou mais cedo irão desaparecer e provocar ainda maior entropia funcional.
O vazio urbano deve ser interpretado como um espaço de contingência
e emergência que desafia as práticas arquitectónicas, sociológicas, artísticas e
políticas para a experimentação de processos de fusão, expansão, integração
e inovação, capazes de assegurarem a dinâmica do projecto urbano sem
descontinuidades, assimetrias, fragmentações ou rupturas irreconciliáveis, quer
de ordem ecológica, quer social e cultural.
As áreas metropolitanas vivem ainda outros conflitos de gestão de
Vazios Urbanos resultantes da expansão da cidade e da existência da cidade
difusas - resultante da má gestão do território - alicerçada por grandes infraestruturas de transporte que promoveram a existência de novos tipos e novas
escalas de vazios, introduzindo novas diversidades, fragmentações e conflitos.
Apesar de continuarmos a ser presenteados com um número crescente
de pessoas que afluem à cidade (ou às grandes áreas metropolitanas), a
cidade tradicional ou histórica pouco absorve desses novos habitantes. Os
novos habitantes fixam-se nas periferias difusas, com os problemas de
mobilidade associados, vivendo em contexto urbano de funcionalidade dispersa
e de uso tipificado - onde se habita não existe trabalho, e onde há trabalho não
existe habitação, existindo entre esses pólos as grandes áreas comerciais em
contexto isolado e sem relacionamento com a 'Cidade'.
trabalho realizado por: Dário Campos Vieira
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Vazios Urbanos e a Metrópole de Lisboa
Em todos os casos os Vazios Urbanos são áreas de oportunidade para
as cidades onde ainda existe espaço para consolidar cidadania, realizar civitas
e criar paisagem.
Os Arquitectos, em conjunto com os técnicos (historiadores, sociólogos,
urbanistas, economistas, paisagistas etc.) e com os protagonistas que queiram
contribuir para trabalhar o futuro da cidade, devem reunir esforços no sentido
de realizar um trabalho continuado para solucionar os problemas da cidade. As
questões de centralidade devem ser analisadas, e os vazios urbanos mais
perto de cada centralidade analisados para definição de acções. A
consolidação de vazios urbanos no centro das cidades pode contribuir para a
reafirmação e/ou redefinição desse centro de funcionalidade. É importante
analisar a cidade como um cenário para a realização democrática e cultural do
viver a cidade. Esse espaço é constituído por ruas avenidas praças e jardins e
esses espaços têm fachadas que os limitam e os tornam cidade. É também o
tratamento desses vazios urbanos que devem ser combatidos e consolidados
para que a cidade possa ser Cidade. A cidade deve negar espaços abertos
onde exista dispersão de fluxos. Os grandes fluxos devem ser canalizados para
os locais de permanência de modo a criar grandes bolsas de oportunidade, e,
facilmente, se preencherem física e funcionalmente os Vazios Urbanos.
Muitos são aqueles que anseiam pelas grandes alterações para poder
intervir em grandes vazios urbanos. Contudo ,essas grandes transformações
tão esperadas, como a deslocação dos hospitais para outros locais, a
relocalização do aeroporto, a cedência de espaços portuários a outros usos
etc., podem trazer grandes retrocessos funcionais à cidade e essas zonas
ficarem permanentemente sem uso, bem como perderem-se outros usos e
funcionalidades associadas a esses equipamentos. Muitas vezes, os grandes
decisores pensam que estão a limpar a cidade de actividades que prejudicam a
urbe, não equacionando que a urbe só faz sentido pela existência dessas
funcionalidades e equipamentos.
trabalho realizado por: Dário Campos Vieira
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Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Ano Lectivo 2013 / 2014
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Vazios Urbanos e a Metrópole de Lisboa
A cidade tem cada vez mais de preservar e dar as melhores condições
para a continuidade das actividades existentes na cidade. Cada funcionalidade
e equipamento que se perde na cidade muito dificilmente será recuperada com
a mesma dinâmica que existia. Os técnicos que têm intervenção na cidade
devem cada vez mais pensar nas intervenções na cidade como pólos de
atracção e dinamização, estimulando os usos mistos, o funcionamento de
cidade a várias horas do dia e a luta pelas centralidades como factos de
coesão e fortalecimento das cidades. A dispersão é contrária a uma boa gestão
de cidade e provocará a destruição dos núcleos históricos e tradicionais da
cidade.
Na trienal de arquitectura de Lisboa de 2007 existiu a intenção de
incentivar a apresentação de propostas para os vazios urbanos situados nas
áreas centrais da cidade de Lisboa. Dos inúmeros projectos apresentados
(mais de 200), só poucos (15) foram escolhidos. A exposição e debate sobre os
vazios urbanos deveria ter forma de divulgar o maior número de projectos principalmente aqueles projectos de maior proximidade com as pessoas no
interior da cidade - em vez de grandes abordagem de território (como o
aeroporto). O mote das intervenções também foi mal estruturado: perguntavase o que se poderia fazer ao baldio existente nas traseiras do prédio, ora o que
se deveria ter explicado é que muitos dos espaços vazios existentes nos
interiores de quarterirão ou mesmo nas traseiras de muitos prédios, servem
como áreas de descompressão da movimentação da rua tendo como objectivo
a criação de áreas permeáveis na cidade e onde os habitantes possam ter
terreno para desenvolver as suas actividades de lazer, recreio em ambiente de
jardim ou horta urbana. Contudo, a população e muitos técnicos não tem esta
noção de necessidade de vazios na cidade como áreas de respiração da
mesma e são apologistas de uma maximização total em construção de toda a
superfície da cidade, alienado-se eles próprios dos problemas da respiração da
cidade e da necessidade da existência de áreas permeáveis no interior da
cidade, contribuindo para o aparecimento de fenómenos de inundação onde
até há pouco tempo não existiam.
trabalho realizado por: Dário Campos Vieira
numero: 66257
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Ano Lectivo 2013 / 2014
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Vazios Urbanos e a Metrópole de Lisboa
Assim, a 'Trienal' (de arquitectura de 2007) falhou no que toca à
instrução cívica do cidadão para a necessidade de vazios em meio urbano. As
intervenções deveriam ter-se concentrado nos contributos que a Arquitectura,
os técnicos e protagonistas que trabalham cidade poderiam dar a espaços
urbanos de Lisboa com potencialidade de serem requalificados, em benefício
de um uso público ou de carácter colectivo, contribuindo deste modo para uma
reflexão participativa no âmbito do seu ordenamento numa escala de
proximidade que revelasse desejos e expectativas e que pudesse surpreender
pela criatividade e procura de alternativas para os espaços que já tiveram
funcionalidade e que actualmente estão abandonados. Estas acções iriam
contribuir para
a utilização e aumento em altura da área edificada,
preservando (e ou aumentando) os espaços permeáveis já existentes nesses
edifícios e complexos abandonados.
Estas bolsas de oportunidade no interior da cidade, que aguardam
impacientemente por processos de requalificação e regeneração, podem ser os
espaços de liberdade criativa e de criação de espaços alternativos que faltam à
funcionalidade e à vivência da cidade histórica e tradicional. A intervenção não
tem de ter um carácter de continuidade formal normalizado e previsível - esses
são os espaços da criação e da inovação - devendo-se contudo respeitar as
pré-existências com história e contexto na cidade para se poder tirar partido do
passado para construir futuro.
No País dos grandes arquitectos premiados mundialmente, onde não
existe a cultura da reabilitação e regeneração urbana, é caricato ver que o
Novo também falha. No caso da Expo 98, o caso mais flagrante é a
funcionalidade do Pavilhão de Portugal do arquitecto Siza Vieira. Este espaço
depois da Expo 98 pouca actividade teve. A iniciativa 'Trienal de arquitectura
de Lisboa 2007' utilizou também como forma de mostrar que o Novo também
pode sofrer os fenómenos de abandono se nele não existir boa gestão e
criação de funcionalidades adequadas. Este caso de abandono paradigmático
de um edifício que foi referência na Expo 98 e na arquitectura portuguesa
continua a ter uma funcionalidade e utilização muito pontual.
trabalho realizado por: Dário Campos Vieira
numero: 66257
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Já em 2007 se pensava em construir um grande museu dos coches em
Belém. Tendo em conta que o Museu dos Coches é um dos mais visitados de
Lisboa, um novo museu seria sucesso garantido. Hoje, passados 7 anos e com
o edifício quase terminado, observamos a ineficácia de gerar cidade, de
construir espaço público e é-nos evidente que os problemas de gestão
continuam. O edifício está parado há 2 anos por falta de verba para o terminar.
Este exemplo era dado como um espaço onde se criaria espaço público de
qualidade com a construção de uma praça (coberta) em Belém. Além disso, um
dos objectivos que foi lançado não foi conseguido, que era o de aproximar
‘Belém Norte’ à ‘Belém do Rio Tejo’. Esta ligação de cidade faz-se há anos por
uma passagem pedonal de menos de 2 metros de largura e sem acessibilidade
para pessoas de mobilidade reduzida. Estes fenómenos também são vazios
urbanos. A falta de Ligação ou ReLigação constitui barreiras funcionais que
criam vazios de ambos os lados, que poderiam facilmente ser complementados
e enriquecidos com ligações. Estas ligações de cidade também são de extrema
importância no combate aos Vazios Urbanos - não é só o carácter de
abandono que provoca vazio. A não ligação de determinadas zonas a outras
funcionalidades e equipamentos esvazia os espaços de interesse e utilização,
quando na realidade poderiam ser espaços de enorme oportunidade e
potencialidade se essas ligações existissem.
A cidade de Lisboa tem uma centralidade dispersa. A cidade tem
problemas de gestão da sua ou das suas centralidades, tanto a nível turístico
como funcional. As opções para promover a reabilitação e criar novo não têm
sido equiparadas. Pode comparar-se o fenómeno de sucesso da Expo 98 com
o fenómeno de cidade difusa da Alta de Lisboa, e em relação à reabilitação e
regeneração urbana muito pouco se tem feito. As políticas desajustadas e a
falta de processos de governança local tem provocado o surgimento de vazios
urbanos tanto no interior da cidade histórica e tradicional, como na cidade
moderna.
trabalho realizado por: Dário Campos Vieira
numero: 66257
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Vazios Urbanos e a Metrópole de Lisboa
Referências:
AMADO, Miguel Pires, "Planeamento Urbano Sustentável", Edição Caleidoscópio
BRANDÃO, Pedro, "A Cidade entre Desenhos", Edições Livros Horizonte
CABRAL, Manuel Villaverde, (outros) "Cidade & Cidadania", edição ISC
CARVALHO, Jorge, "Ordenar a Cidade", Edições Quarteto
FADIGAS, Leonel, "Urbanismo e Natureza", Edições Sílabo
FRANÇA, José - Augusto, "Lisboa, Urbanismo e Arquitectura", Edição Livros Horizonte
MOITA, Irisalva, "O Livro de Lisboa", Edição Livros Horizonte
MONTANER, Josep Maria, "Sistemas Arquitectónicos Contemporâneos", Edições GG
SILVANO, Filomena, "Território da Identidade", edição Celta
VOYÉ, Liliane, "A Cidade: Rumo a uma nova definição?", colecção em questão/9 Edições Afrontamento
http://www.trienaldelisboa.com/pt/#/triennale/2007
http://trienal.blogs.sapo.pt/tag/vazios+urbanos
CCDRLVT - "Lisboa 2020 - Uma Estratégia de Lisboa para a Região de Lisboa"
(http://www.ccdr-lvt.pt/pt/estrategia-regional-lisboa-2020/1311.htm)
trabalho realizado por: Dário Campos Vieira
numero: 66257
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