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GABARITO DO LIVRO CAPITÃES DA AREIA

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GABARITO DO LIVRO CAPITÃES DA AREIA, de Jorge Amado
e) entende que, mesmo com a igualdade no céu, não haverá justiça, porque muitos viveram bem na
terra e também viveriam bem no céu.
“A mãe do Gato morrera cedo. Era uma mulher frágil e bonita. Também tinha as mãos maltratadas, que
esposa de operário não tem manicura. E era dela também aquele gesto de remendar as camisas de
Gato, mesmo nas costas de Gato. A mão de Dora o toca de novo. Agora a sensação é diferente. Não é
mais um arrepio de desejo. É aquela sensação de carinho bom, de segurança que lhe davam as mãos de
sua mãe. Dora está por detrás dele, ele não vê. Imagina então que é sua mãe que voltou. Gato está
pequenino de novo, vestido com um camisolão de bulgariana e nas brincadeiras pelas ladeiras do morro
o rompe todo. E sua mãe vem, faz com que ele se sente na sua frente e suas mãos ágeis manejam a
agulha, de quando em vez o tocam e lhe dão aquela sensação de felicidade absoluta.”
“Agora levavam Aninha para sua casa. A noite em torno era tormentosa e colérica. A chuva os
curvava sob o grande guarda-chuva branco da mãe-de-santo. Os candomblés batiam em desagravo a
Ogum e talvez num deles ou em muitos deles Omolu anunciasse a vingança do povo pobre. Don'Aninha
disse aos meninos com uma voz amarga:
– Não deixam os pobres viver... Não deixam nem o deus dos pobres em paz. Pobre não pode dançar,
não pode cantar pra seu deus, não pode pedir uma graça a seu deus – sua voz era amarga, uma voz que
não parecia da mãe-de-santo Don'Aninha. – Não se contentam de matar os pobres a fome... Agora tiram
os santos dos pobres...”
1. O trecho acima, da obra "Capitães da Areia", de Jorge Amado, revela-nos um narrador:
a) personagem protagonista.
b) onisciente.
c) personagem secundário.
d) observador.
e) personagem testemunha.
4. Assinale a alternativa correta, considerando o trecho acima do romance “Capitães da Areia”, de Jorge
Amado.
a) Don’Aninha apanhara dos policiais e os Capitães da Areia a levavam para casa, enrolada num rede,
como se estivesse morta para o sepultamento.
b) O narrador não apresenta aspectos de uma “luta de classes”, pois Jorge Amado não era marxista nem
comunista.
c) No período do Estado Novo, entre 1937 e 1945, o Candomblé foi proibido por lei e seus adeptos
foram perseguidos e presos pela polícia.
d) Don’Aninha tinha vindo aos Capitães de Areia pedir a colaboração dos meninos contra a propagação
da varíola.
e) O autor dá mostras de que não quer enfatizar a angústia de Don’Aninha.
“Nunca tivera família [o Sem-Pernas]. Vivera na casa de um padeiro a quem chamava ‘meu padrinho’
e que o surrava. Fugiu logo que pôde compreender que a fuga o libertaria. Sofreu fome, um dia levaramno preso. Ele quer um carinho, u'a mão que passe sobre os seus olhos e faça com que ele possa se
esquecer daquela noite na cadeia, quando os soldados bêbados o fizeram correr com sua perna coxa em
volta de uma saleta. Em cada canto estava um com uma borracha comprida. As marcas que ficaram nas
suas costas desapareceram. Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta
como um animal perseguido por outros mais fortes. A perna coxa se recusava a ajudá-lo. E a borracha
zunia nas suas costas quando o cansaço o fazia parar. A princípio chorou muito, depois, não sabe como,
as lágrimas secaram. Certa hora não resistiu mais, abateu-se no chão. Sangrava. Ainda hoje ouve como
os soldados riam e como riu aquele homem de colete cinzento que fumava um charuto.”
2. No trecho acima, da obra “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, podemos perceber que a ação está
no:
a) presente do narrador.
b) pretérito imperfeito do narrador.
c) pretérito perfeito do narrador.
d) futuro do presente do narrador.
e) futuro do pretérito do narrador.
“Pedro Bala sentiu uma onda dentro de si. Os pobres não tinham nada. O padre José Pedro dizia que
os pobres um dia iriam para o reino dos céus, onde Deus seria igual para todos. Mas a razão jovem de
Pedro Bala não achava justiça naquilo. No reino do céu, seriam iguais, mas já tinham sido desiguais na
terra. A balança pendia sempre para um lado.”
3. No trecho acima, do romance “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, o personagem Pedro Bala
a) concorda com justiça divina pregada pelo padre José Pedro e só por isso aceita a presença do padre
entre os Capitães da Areia.
b) compreende que os ricos têm seus próprios sofrimentos na terra e, no céu, Deus diminui o sofrimento
tanto dos pobres quanto dos ricos.
c) não reduz o sofrimento apenas à ausência de bens materiais.
d) demonstra a convicção de que Deus é justo no céu, mas não é justo na terra.
5. Indique o personagem de “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, que dizia ser um afilhado do
cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião?
a) Barandão
b) Sem Pernas
c) João Grande
d) Volta Seca
e) Boa-Vida
“Até o guarda riu e explicou para os outros a história de Pedro. Mas o negro jovem foi chamado e eles
ficaram silenciosos. Sabiam que o negro tinha esfaqueado um homem num bleforé nesta noite. Quando
o preto voltou trazia as mãos inchadas dos bolos. Explicou:
– Disse que vou ser processado por ferimentos leves. E me dero duas dúzia...”
6. Aponte uma das funções do discurso direto, que pode ser verificada no trecho acima, de “Capitães da
Areia”, de Jorge Amado.
a) oferece ao narrador uma visão irrestrita da situação.
b) desacelera a narrativa.
c) permite ao narrador ser fiel ao modo de falar do personagem.
d) funde a fala do narrador com a fala dos personagens.
e) sofistica a fala das personagens.
“Deus era justo e o castigaria, lhe daria o fogo do inferno. Suas carnes arderiam, suas mãos que
levassem o Menino queimariam durante uma vida que nunca acabava. O Menino era do dono da loja.
Mas o dono da loja tinha tantos Meninos, e todos gordos, e rosados, não iria sentir falta de um só, e de
um magro e friorento! Os outros estavam com o ventre envolto em panos caros, sempre panos azuis,
mas de rica fazenda. Este estava totalmente nu, tinha frio no ventre, era magro, nem do escultor tivera
carinho.”
7. Na frase “nem do escultor tivera carinho”, como em outras, aparece uma personificação ingênua com
a qual o narrador quer
a) fazer uma crítica indireta ao trabalho artístico do Professor.
b) demonstrar que os Capitães da Areia se passavam por crianças, mas já eram adultos.
c) disfarçar a malandragem do Pirulito.
d) aproximar a condição do Menino Jesus à imagem do Pedro Bala.
e) reforçar a ideia de que Capitães da Areia eram crianças.
“Pedro Bala se joga n’água. Não pode ficar no trapiche, entre os soluços e as lamentações. Quer
acompanhar Dora, quer ir com ela, se reunir a ela nas Terras do Sem-Fim de Yemanjá. Nada para diante
sempre. Segue a rota do saveiro do Querido-de-Deus. Nada, nada sempre. Vê Dora em sua frente, Dora,
sua esposa, os braços estendidos para ele. Nada até já não ter forças.”
8. O trecho acima, do livro “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, faz uma alusão a que poema épico do
arcadismo brasileiro?
a) O Uraguai, de Basílio da Gama (personagens: Lindoia e Cacambo)
b) Caramuru, de Santa Rita Durão (personagens: Moema e Diogo Álvares Correia)
“Querido-de-Deus sabe o que esperam dele. Que leve o cadáver no seu saveiro e o jogue no mar,
adiante do forte velho. Como poderá sair um enterro do trapiche? É difícil explicar tudo isso ao padre
José Pedro. O Sem-Pernas o faz numa voz apressada. O padre a princípio se horroriza. É um pecado, ele
não pode consentir num pecado. Mas consente, que não vai denunciar onde moram os Capitães da
Areia. Pedro Bala não fala.”
9. Com que o padre José Pedro “a princípio se horroriza” e depois “consente”?
10. (ITA) Sobre o romance “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, é INCORRETO afirmar que
a) se trata de um livro cuja personagem central é coletiva, um grupo de meninos de rua, e isso o
aproxima de “O cortiço”, de Aluísio Azevedo.
b) as principais personagens masculinas são Pedro Bala, Sem Pernas, Volta Seca, Pirulito e Professor, e a
figura feminina central é Dora.
c) há uma certa herança naturalista, visível na precoce e promíscua vida sexual dos adolescentes.
d) os vestígios românticos aparecem em algumas cenas de jogos e brincadeiras infantis e na
caracterização de Dora.
e) todos os meninos acabam encontrando um bom rumo na vida, apesar das dificuldades.
As questões de números 11 a 13 tomam por base o fragmento abaixo.
“[Sem-Pernas] queria alegria, uma mão que o acarinhasse, alguém que com muito amor o fizesse
esquecer o defeito físico e os muitos anos (talvez tivessem sido apenas meses ou semanas, mas para ele
seriam sempre longos anos) que vivera sozinho nas ruas da cidade, hostilizado pelos homens que
passavam, empurrado pelos guardas, surrado pelos moleques maiores. Nunca tivera família. Vivera na
casa de um padeiro a quem chamava “meu padrinho” e que o surrava. Fugiu logo que pôde
compreender que a fuga o libertaria. Sofreu fome, um dia levaram-no preso. Ele quer um carinho, u’a
mão que passe sobre os seus olhos e faça com que ele possa se esquecer daquela noite na cadeia,
quando os soldados bêbados o fizeram correr com sua perna coxa em volta de uma saleta. Em cada
canto estava um com uma borracha comprida. As marcas que ficaram nas suas costas desapareceram.
Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta como um animal perseguido
por outros mais fortes. A perna coxa se recusava a ajudá-lo. E a borracha zunia nas suas costas quando o
cansaço o fazia parar. A princípio chorou muito, depois, não sabe como, as lágrimas secaram. Certa hora
não resistiu mais, abateu-se no chão. Sangrava. Ainda hoje ouve como os soldados riam e como riu
aquele homem de colete cinzento que fumava um charuto.”
11. (UNIFESP) Considere as afirmações seguintes.
I. O fragmento do romance, ambientado na cidade de Salvador das primeiras décadas do século
passado, aborda a vida de uma criança em situação de absoluta exclusão social e violência, o que destoa
do projeto literário e ideológico dos escritores brasileiros que compõem a “Geração de 30”.
II. Valendo-se das conquistas do Modernismo, o romance apresenta linguagem fluente e acessível ao
grande público, utilizando-se de um português coloquial, simples, próximo a um modo natural de falar,
com o largo emprego da frase curta e econômica.
III. Sem-Pernas é uma personagem que, embora encarne um tipo social claramente delimitado, o do
menino “pobre, abandonado, aleijado e discriminado”, adquire alguma profundidade psicológica, à
medida que seu passado e suas experiências dolorosas vêm à tona.
Conforme o texto, está correto o que se afirma apenas em
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.
12. O zigue-zague temporal ligado à vida de Sem-Pernas, empregado no fragmento para a composição
da personagem, é construído de maneira muito precisa, por meio da utilização alternada de diversos
tempos verbais. Indique a alternativa em que há, respectivamente, um tempo verbal que expressa fatos
ocorridos num tempo anterior a outros fatos do passado e um tempo verbal usado para marcar o
caráter hipotético de certas ações ou o desejo de que se realizassem.
a) Vivera na casa de um padeiro (...) – uma mão que o acarinhasse (...)
b) Em cada canto estava um com uma borracha comprida. – Sofreu fome.
c) Nunca tivera família. – A perna coxa se recusava a ajudá-lo.
d) A princípio chorou muito (...) – Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora.
e) Ele quer um carinho (...) – Um dia levaram-no preso.
13. O emprego da figura de linguagem conhecida como “prosopopeia” (ou “personificação”) põe mais
em evidência a principal razão pela qual Sem-Pernas é estigmatizado. O trecho que contém essa figura é
a) A perna coxa se recusava a ajudá-lo.
b) Em cada canto estava um com uma borracha comprida.
c) (...) depois, não sabe como, as lágrimas secaram.
d) E a borracha zunia nas suas costas (...)
e) Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora.
VOCABULÁRIO
Babalorixá – pai de santo.
Bulgariana – tecido simples e barato.
Lazareto – o mesmo que leprosário, uma referência ao Lázaro bíblico.
Ogum – Divindade afro-brasileira que exerce poder sobre o ferro e a guerra na tradição nagô.
Omolu – orixá da varíola e das doenças contagiosas.
Orixá – personificação divina das forças da natureza.
Vitalina – solteirona, que ficou para titia.
Xangô – orixá dos raios e dos trovões.
Yalorixá – mãe de santo.
Observação: A lei federal nº. 6.292 de 15 de dezembro de 1975 protege os terreiros de candomblé no
Brasil, contra qualquer tipo de alteração de sua formação material ou imaterial.
“João José, o Professor, desde o dia em que furtara um livro de histórias numa estante de uma casa
da Barra, se tornara perito nesses furtos. Nunca, porém, vendia os livros, que ia empilhando no fundo do
trapiche, sob tijolos, para que os ratos não os roessem. Lia-os todos numa ânsia que era quase febre.
Gostava de saber coisas e era ele quem, muitas noites, contava aos outros histórias de aventureiros, de
homens do mar, de personagens heroicos e lendários, histórias que faziam aqueles olhos vivos se
espicharem para o mar ou para as misteriosas ladeiras da cidade numa ânsia de aventuras e de
heroísmo. João José era o único que lia correntemente entre eles e, no entanto, só estivera na escola
ano e meio. Mas o treino diário da leitura despertara completamente sua imaginação e talvez fosse ele o
único que tivesse uma certa consciência do heroico de suas vidas.”
14. A palavra “Barra”, no primeiro período do excerto, refere-se a
a) entrada de baía ou de um porto, entre duas porções avançadas de terra firme.
b) lugar próprio para a ancoragem segura de navios ou outras embarcações.
c) reentrância marítima de grande porte, maior que uma baía.
d) ponta ou porção de continente que avança mar adentro, formando prolongamento ou saliência do
litoral.
e) pequena baía que serve de ancoradouro a embarcações.
15. A conjunção “porém”, no segundo período do trecho, declara que
a) frequentemente os meninos ficavam com o que roubavam.
b) jamais os meninos vendiam o que roubavam.
c) normalmente os meninos vendiam o que roubavam.
d) sempre os meninos vendiam o que roubavam.
e) nunca os meninos ficavam com o que roubavam.
d) os outros “capitães da areia” gostavam de ouvir as histórias lidas pelo Professor.
e) João José pôde, por meio da leitura, observar a realidade em que vivia com maior clareza que os
outros meninos.
18. Reconheça aquele que seria o aposto adequado a cada um dos personagens dos “Capitães da Areia”,
de Jorge Amado.
I. Pedro Bala
II. Volta Seca
III. Pirulito
IV. João Grande
V. Professor
VI. Sem-Pernas
( ) o leitor
( ) o espião
( ) o religioso
( ) o cangaceiro
( ) o líder
( ) o forte
a) II – III – V – I – IV – VI.
b) IV – III – II – VI – I – V.
c) V – VI – III – II – I – IV.
d) III – II – VI – V – I – IV.
e) VI – I – III – II – V – IV.
– Professor... Professor...
– O que é? – Professor estava semiadormecido.
– Eu quero uma coisa.
Professor sentou-se. O rosto sombrio de Volta Seca estava meio invisível na escuridão.
– É tu, Volta Seca? Que é que tu quer?
– Quero que tu leia pra eu ouvir essa notícia de Lampião que o Diário traz. Tem um retrato.
– Deixa pra amanhã que eu leio.
– Lê hoje, que eu amanhã te ensino a imitar direitinho um canário.
O professor buscou uma vela, acendeu, começou a ler a notícia do jornal. Lampião tinha entrado
numa vila da Bahia, matara oito soldados, deflorara moças, saqueara os cofres da prefeitura. O rosto
sombrio de Volta Seca se iluminou. Sua boca apertada se abriu num sorriso. E ainda feliz deixou o
Professor, que apagava a vela, e foi para o seu canto. Levava o jornal para cortar o retrato do grupo de
Lampião. Dentro dele ia uma alegria de primavera.
16. No período “Lia-os todos numa ânsia que era quase febre”, temos duas orações: “Lia-os todos numa
ânsia” e “que era quase febre”. Aponte a afirmação incorreta a respeito da relação entre as duas
orações.
a) o pronome relativo “que” é o sujeito da segunda oração.
b) a segunda oração pode ser substituída por “quase febril”.
c) o substantivo “ânsia” é o antecedente do pronome “que”.
d) a segunda oração não qualifica toda a primeira oração, mas apenas o termo “ânsia”.
e) “ânsia” é o sujeito do verbo “era”.
19. Assinale a alternativa incorreta a respeito do período “Que é que tu quer?”
a) O primeiro “que” é um pronome interrogativo para o verbo ser.
b) A frase interrogativa “Que é que tu quer?” pode ser substituída por “Tu quer algo. Que é?”.
c) Há uma afirmação e uma pergunta no período “Que é que tu quer?”.
d) O período “Que é que tu quer?” pode ser substituído por “Não sei se você quer alguma coisa. O que
é?”.
e) O segundo “que” é um pronome indefinido para o verbo querer.
17. Assinale a alternativa incorreta. De acordo com o excerto,
a) o Professor aperfeiçoou a sua capacidade de roubar livros.
b) a escola não é o único lugar onde podemos desenvolver a capacidade de ler.
c) o Professor lia muitos livros e calmamente, saboreando suas histórias.
20. A frase “O rosto sombrio de Volta Seca se iluminou” contém uma
a) narração lírica
b) descrição dinâmica
c) dissertação expositiva
d) narração onisciente
e) descrição psicológica
21. No antepenúltimo período, quem “foi para o seu canto”? Professor ou Volta Seca? Argumente em
favor de sua resposta.
O Grande Carrossel Japonês não era senão um pequeno carrossel nacional, que vinha de uma triste
peregrinação pelas paradas cidades do interior naqueles meses de inverno, quando as chuvas são longas
e o Natal está muito distante ainda.
De tão desbotada que estava a tinta, tinta que antigamente fora azul e vermelha e agora o azul era
um branco sujo e o vermelho um quase cor-de-rosa, e de tantos pedaços que faltavam em certos
cavalos e em certos bancos, Nhozinho França resolveu não armá-lo numa das praças centrais da cidade e
sim em Itapagipe. Ali as famílias não são tão ricas, há muitas ruas só de operários e as crianças pobres
saberiam gostar do velho carrossel desbotado.
O pano tinha muitos buracos também, além de um rasgão enorme que fazia o carrossel depender da
chuva. Já fora belo, fora mesmo o orgulho da meninada de Maceió noutros tempos. Ficava então ao
lado de uma roda gigante e de uma sombrinha, sempre na mesma praça, e nos domingos e feriados as
crianças ricas, vestidas de marinheiro ou de pequeno lorde inglês, as meninas de holandesa ou de finos
vestidos de seda, vinham se aboletar nos cavalos preferidos, indo os menores nos bancos com as aias.
22. No primeiro parágrafo, a palavra “senão” pode ser substituída sinonimamente por
a) menos que
b) contudo
c) mais que
d) apenas
e) conquanto
23. Na oração “vinha de uma triste peregrinação pelas paradas cidades do interior” – primeiro
parágrafo, a locução adjetiva “do interior” deve ser classificada sintaticamente como
a) adjunto adnominal
b) complemento verbal
c) predicativo do sujeito
d) complemento nominal
e) predicativo do objeto
24. No início do segundo parágrafo, a oração “De tão desbotada que estava a tinta” existe como
a) modo
b) causa
c) consequência
d) finalidade
e) comparação
25. Considerando o que está escrito no segundo parágrafo do excerto acima, o narrador entende que as
crianças pobres
a) porque não têm ou têm péssima educação escolar, gostam das coisas mais simples.
b) são mais humildes e por isso sabem respeitar e admirar as coisas boas, mesmo que estejam velhas.
c) se identificam e por isso valorizam as coisas também pobres.
d) são mais solidárias e então compreenderiam a qualidade do brinquedo, mesmo já estando velho e
feio.
e) porque têm poucas oportunidades para se divertirem num carrossel, valorizariam seu aparelho,
mesmo já bastante usado e com a aparência comprometida.
26. O verbo “depender” – primeiro período do terceiro parágrafo – está empregado na forma nominal
denominada
a) gerúndio
b) infinitivo pessoal
c) particípio passado
d) infinitivo impessoal
e) particípio presente
27. Na oração “as crianças ricas, vestidas de marinheiro ou de pequeno lorde inglês, as meninas de
holandesa ou de finos vestidos de seda, vinham se aboletar nos cavalos preferidos” – terceiro parágrafo,
a locução adjetiva “de marinheiro” deve ser classificada sintaticamente como
a) adjunto adnominal
b) complemento verbal
c) predicativo do sujeito
d) complemento nominal
e) predicativo do objeto
28. Assinale a alternativa em que se encontra uma definição adequada para a “sombrinha” a que o
narrador se refere no terceiro parágrafo.
a) Fantoches, pequenas figuras, cenas ou paisagens que se observam por meio de lanterna mágica.
b) Pequeno guarda-sol próprio para senhoras.
c) Aparelho de parque de diversões formado por estruturas metálicas circulares onde estão pendurados
assentos. Quando o aparelho gira, a força centrífuga distancia os assentos do eixo central formando a
aparência de uma sombrinha ou guarda-chuva.
d) Uma sombra pequena.
e) Aparelho de dançarina de frevo.
29. Em que circunstância Dora conheceu os “capitães da areia”?
a) O pai e a mãe de Dora morreram vitimados pelo alastrim. A casa em que morava era alugada. Ficou
sem casa e sozinha para cuidar do irmão. Na rua, encontrou João Grande e o Professor.
b) A mãe de Dora foi presa pela polícia num terreiro de candomblé. Dora e o irmão, Zé Fuinha, foram até
o trapiche pedir ajuda para Pedro Bala.
c) Pedro Bala encontrou Dora presa num orfanato. Tirou-a de lá e a trouxe para o trapiche.
d) O pai de Dora morreu vitimado pela varíola. A mãe ficou doente. Dora fugiu de casa com o irmão. Na
rua, encontrou Pedro Bala e o Professor.
e) A mãe de Dora morreu vitimada pelo alastrim. Foi levada para o Lazareto com o Zé Fuinha e de lá não
voltaram. Dora andava sem rumo pela cidade, quando encontrou alguns “capitães da areia”.
Mas Dalva não cosia suas roupas, talvez nem soubesse enfiar uma linha no fundo de uma agulha.
Gostava era de se bater com ele na cama, arranhar suas costas, mas de propósito, pra o arrepiar e o
excitar, para que o amor se fizesse ainda melhor. E Dora, não. Não era de propósito. A mão dela (unhas
maltratadas e sujas, roídas a dente) não queria excitar, nem arrepiar. Passava como a mão de uma mãe
que remendava camisas do filho. A mãe do Gato morrera cedo. Era uma mulher frágil e bonita. Também
tinha as mãos maltratadas, que esposa de operário não tem manicura. E era dela também aquele gesto
de remendar as camisas de Gato, mesmo nas costas de Gato. A mão de Dora o toca de novo. Agora a
sensação é diferente. Não é mais um arrepio de desejo. É aquela sensação de carinho bom, de
segurança que lhe davam as mãos de sua mãe. Dora está por detrás dele, ele não vê. Imagina então que
é sua mãe que voltou. Gato está pequenino de novo, vestido com um camisolão de bulgariana e nas
brincadeiras pelas ladeiras do morro o rompe todo. E sua mãe vem, faz com que ele se sente na sua
frente e suas mãos ágeis manejam a agulha, de quando em vez o tocam e lhe dão aquela sensação de
felicidade absoluta. Nenhum desejo. Somente felicidade. Ela voltou, remenda as camisas do Gato. Uma
vontade de deitar no colo de Dora e deixar que ela cante para ele dormir, como quando era pequenino.
Se recorda que ainda é uma criança. Mas só na idade, porque no mais é igual a um homem, furtando
para viver, dormindo todas as noites com uma mulher da vida, tomando dinheiro dela. Mas nesta noite
é totalmente criança, esquece Dalva, suas mãos que o arranham, lábios que prendem os seus beijos
longos, sexo que o absorve. Esquece sua vida de pequeno batedor de carteiras, de dono de um baralho
marcado, jogador desonesto. Esquece tudo, é apenas um menino de catorze anos com uma mãezinha
que remenda suas camisas. Vontade de que ela cante para ele dormir... Uma daquelas cantigas de ninar
que falam em bicho-papão. Dora morde a linha, se inclina para ele. Os cabelos loiros dela tocam no
ombro do Gato. Mas ele não tem outro desejo senão que ela continue a ser sua mãezinha. Sua felicidade
naquele momento é quase absurda. É como se não houvesse existido toda a sua vida depois da morte
de sua mãe. É como se tivesse se conservado uma criança igual a todas. Porque nesta noite sua mãe
voltou. Por isso a inconsciente carícia dos cabelos loiros de Dora não excita seu desejo. Mas aumenta
sua felicidade. E a voz dela que diz “Tá pronto, Gato” soa aos seus ouvidos direitinho a voz doce e
musical de sua mãe que cantava, a cabeça do Gato recostada no seu colo, cantigas de ninar.
(Trecho do capítulo “Dora, mãe”, do romance “Capitães da Areia”, de Jorge Amado)
30. Oração “que esposa de operário não tem manicura”, do período “Também tinha as mãos
maltratadas, que esposa de operário não tem manicura” deve ser compreendida como
a) causa
b) concessão
c) consequência
d) comparação
e) explicação
31. Os eventos narrados no excerto de “Capitães da Areia” se desenvolvem no tempo
a) passado do personagem Gato
b) presente da personagem Dora
c) futuro do autor
d) presente do narrador
e) passado dos “capitães da areia”
32. No período “É aquela sensação de carinho bom, de segurança que lhe davam as mãos de sua mãe”,
o termo “que” é um pronome relativo cujo antecedente é
a) sensação
b) carinho
c) segurança
d) mãos
e) mãe
33. Os sintagmas “de carinho bom”, “de segurança” e “de sua mãe” do período “É aquela sensação de
carinho bom, de segurança que lhe davam as mãos de sua mãe” devem ser classificados sintaticamente
como
a) objetos indiretos
b) adjuntos adnominais
c) predicativos do sujeito
d) complementos nominais
e) complementos verbais
34. Os termos “de carteiras”, “de um baralho marcado” e “jogador desonesto” do período “Esquece sua
vida de pequeno batedor de carteiras, de dono de um baralho marcado, jogador desonesto” devem ser
reconhecidos sintaticamente por
a) complemento nominal, adjunto adnominal e complemento nominal.
b) adjunto adnominal, complemento nominal e complemento nominal.
c) complemento nominal, complemento nominal e complemento nominal.
d) adjunto adnominal, complemento nominal e adjunto adnominal.
e) complemento nominal, complemento nominal e adjunto adnominal.
35. Assinale a alternativa incorreta, considerando o excerto transcrito acima.
a) A dedicação de Dora faz Gato sentir saudade de sua mãe, que morrera jovem.
b) Dora usa os dentes para cortar a linha de costura.
c) A vida difícil dos “capitães da areia” os faz, às vezes, esquecer que são crianças.
d) Dora demonstra amadurecimento, pois consegue facilmente disfarçar o seu interesse pelo Gato.
e) Dalva é a prostituta com quem Gato dorme todas as noites.
36. Analise sintaticamente o período “A mão de Dora o toca de novo”.
a) “mão” é adjunto adnominal; “Dora” é núcleo do sujeito; “o” é objeto direto; “toca” é verbo transitivo
direto; e “de novo” é adjunto adverbial de tempo.
b) “mão” é núcleo do sujeito; “de Dora” é adjunto adnominal; “o” é objeto direto; “toca” é verbo
transitivo direto; e “de novo” é complemento verbal.
c) “mão” é adjunto adnominal; “Dora” é núcleo do sujeito; “o” é objeto indireto; “toca” é verbo
transitivo direto; e “de novo” é adjunto adverbial de tempo.
d) “mão” é núcleo do sujeito; “de Dora” é adjunto adnominal; “o” é objeto direto; “toca” é verbo
transitivo direto; e “de novo” é adjunto adverbial de tempo.
e) “mão” é adjunto adnominal; “Dora” é núcleo do sujeito; “o” é objeto direto; “toca” é verbo transitivo
indireto; e “de novo” é adjunto adverbial de tempo.
Como um trapezista de circo
Fora demasiada audácia atacar aquela casa da Rua Rui Barbosa. Perto dali, na Praça do Palácio,
andavam muitos guardas, investigadores, soldados. Mas eles tinham sede de aventura, estavam cada
vez maiores, cada vez mais atrevidos. Porém havia muita gente na casa, deram o alarme, os guardas
chegaram. Pedro Bala e João Grande abalaram pela ladeira da Praça. Barandão abriu no mundo
também. Mas o Sem-Pernas ficou encurralado na rua. Jogava picula com os guardas. Estes tinham se
despreocupado dos outros, pensavam que já era alguma coisa pegar aquele coxo. Sem-Pernas corria de
um lado para outro da rua, os guardas avançavam. Ele fez que ia escapulir por outro lado, driblou um
dos guardas, saiu pela ladeira. Mas em vez de descer e tomar pela Baixa dos Sapateiros, se dirigiu para a
Praça do Palácio. Porque Sem-Pernas sabia que se corresse na rua o pegariam com certeza. Eram
homens, de pernas maiores que as suas, e além do mais ele era coxo, pouco podia correr. E acima de
tudo não queria que o pegassem. Lembrava-se da vez que fora à polícia. Dos sonhos das suas noites
más. Não o pegariam e enquanto corre este é o único pensamento que vai com ele. Os guardas vêm nos
seus calcanhares. Sem-Pernas sabe que eles gostarão de o pegar, que a captura de um dos Capitães da
Areia é uma bela façanha para um guarda. Essa será a sua vingança. Não deixará que o peguem, não
tocarão a mão no seu corpo. Sem-Pernas os odeia como odeia a todo mundo, porque nunca pôde ter
um carinho. E no dia que o teve foi obrigado ao abandonar porque a vida já o tinha marcado demais.
Nunca tivera uma alegria de criança. Se fizera homem antes dos dez anos para lutar pela mais miserável
das vidas: a vida de criança abandonada. Nunca conseguira amar ninguém, a não ser a este cachorro que
o segue. Quando os corações das demais crianças ainda estão puros de sentimentos, o do Sem-Pernas já
estava cheio de ódio. Odiava a cidade, a vida, os homens. Amava unicamente o seu ódio, sentimento
que o fazia forte e corajoso apesar do defeito físico. Uma vez uma mulher foi boa para ele. Mas em
verdade não o fora para ele e sim para o filho que perdera e que pensara que tinha voltado. De outra
feita outra mulher se deitara com ele numa cama, acariciara seu sexo, se aproveitara dele para colher
migalhas do amor que nunca tivera. Nunca, porém, o tinham amado pelo que ele era, menino
abandonado, aleijado e triste. Muita gente o tinha odiado. E ele odiara a todos. Apanhara na polícia, um
homem ria quando o surravam. Para ele é este homem que corre em sua perseguição na figura dos
guardas. Se o levarem, o homem rirá de novo. Não o levarão. Vêm em seus calcanhares, mas não o
levarão.
Pensam que ele vai parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas não para. Sobe para o pequeno
muro, volve o rosto para os guardas que ainda correm, ri com toda a força do seu ódio, cospe na cara de
um que se aproxima estendendo os braços, se atira de costas no espaço como se fosse um trapezista de
circo.
A praça toda fica em suspenso por um momento. “Se jogou”, diz uma mulher, e desmaia. SemPernas se rebenta na montanha como um trapezista de circo que não tivesse alcançado o outro
trapézio. O cachorro late entre as grades do muro.
(Trecho de Capitães da Areia, de Jorge Amado)
37. A linguagem padrão é preservada com o objetivo de manter e aperfeiçoar o processo de
comunicação. A linguagem regional ou microcultural existem para experimentar novas formas e
estruturas as quais podem vir a enriquecer a linguagem padrão. Os escritores não raramente relacionam
linguagem padrão e experimental. Nesses casos, fundem fala de narrador com fala de personagem. Por
exemplo: “Pedro Bala e João Grande abalaram pela ladeira da Praça. Barandão abriu no mundo
também”. A essa fusão denominamos
a) discurso direto
b) discurso indireto
c) discurso indireto livre
d) narrador onisciente
e) narrador personagem
38. Aponte a paráfrase que melhor traduz o período “Barandão abriu no mundo também”.
a) A exemplo de Pedro Bala e João Grande, Barandão correu para a ladeira da Praça.
b) Barandão abriu caminho entre os guardas e desapareceu com Pedro Bala e João Grande.
c) Feito Pedro Bala e João Grande, Barandão correu, porém em direção oposta.
d) Pedro Bala, João Grande e Barandão se espalharam, correndo pela ladeira da Praça.
e) Tal qual Pedro Bala e João Grande, Barandão correu sem ter uma direção previamente definida.
39. “picula” é o nome de uma brincadeira infantil que, pelo contexto, podemos depreender que seja
sinônimo de
a) amarelinha
b) esconde-esconde
c) pega-pega
d) pipa
e) queimada
40. O último período do excerto se refere
a) a uma metáfora poética do narrador para opor a liberdade do personagem às grades do cachorro.
b) a um cachorro qualquer.
c) a um xingamento do personagem a um dos guardas que o perseguiam.
d) ao cachorro que tinha o carinho do Sem-Pernas.
e) ao espetáculo circense do personagem trapezista admirado pelo cachorro.
41. No período “Amava unicamente o seu ódio”, temos a figura de linguagem chamada
a) antítese
b) antonomásia
c) metonímia
d) oximoro
e) sinédoque
42. No trecho “Apanhara na polícia, um homem ria quando o surravam”, encontramos a figura de
linguagem denominada
a) antítese
b) antonomásia
c) metonímia
d) oximoro
e) sinédoque
43. Assinale a alternativa incorreta a respeito do período “Apanhara na polícia, um homem ria quando o
surravam”.
a) a primeira oração é coordenada assindética.
b) a primeira oração é principal em relação à segunda.
c) a segunda oração é coordenada assindética em relação à primeira.
d) a segunda oração é principal em relação à terceira.
e) a terceira oração é subordinada adverbial temporal.
44. O trecho “com toda a força do seu ódio” deve ser lido como
a) adjunto adnominal
b) adjunto adverbial
c) complemento nominal
d) complemento verbal
e) predicativo do sujeito
45. O sintagma “do seu ódio” deve ser classificado como
a) adjunto adnominal
b) adjunto adverbial
c) complemento nominal
d) complemento verbal
e) predicativo do sujeito
46. Assinale a alternativa incorreta: no contexto em que se encontra a oração “ri com toda a força do
seu ódio”, o
a) ideal é não ser apanhado novamente pelos guardas
b) ódio é fator de coragem
c) riso é manifestação de prazer
d) salto foi plasticamente repulsivo
e) sentimento determinante no personagem é o ódio
Ela comprou pão, comeram. A tarde toda foi uma caminhada de um lado para outro à procura de
emprego. Em todas as casas diziam que não, o medo da varíola era maior que qualquer bondade. No
começo da noite Zé Fuinha não se aguentava mais de cansado. Dora estava triste e pensava em voltar ao
morro. Ia ser uma carga para os vizinhos pobres. Não queria voltar. Do morro sua mãe tinha saído num
caixão, seu pai metido num saco. Mais de uma vez deixou Zé Fuinha sozinho num jardim para ir comprar
o que comer numa padaria, antes que fechasse. Gastou os últimos níqueis. As luzes se acenderam e ela
achou a princípio muito bonito. Mas logo depois sentiu que a cidade era sua inimiga, que apenas
queimara os seus pés e a cansara. Aquelas casas bonitas não a quiseram. Voltou curvada, afastando com
as costas das mãos as lágrimas. E novamente não encontrou Zé Fuinha. Depois de andar em volta do
jardim foi dar com o irmão, que espiava um jogo de gude entre dois garotos: um negro forte e um
magrelo branco.
(Trecho do capítulo Filha de Bexiguento, da obra Capitães da Areia)
47. Assinale a alternativa incorreta, a respeito do excerto acima.
a) A varíola é uma doença contagiosa, incurável em 1932, poucos tinham acesso à vacina, e mesmo os
vacinados não se sentiam seguros.
b) Com medo de perder Zé Fuinha, Dora costumava invadir casas para deixar o menino no jardim
enquanto resolvia algum problema.
c) "jogo de gude" é uma brincadeira infantil com bolinhas de vidro.
d) O "negro forte" é o João Grande e o "magrelo branco" é o Professor.
e) Zé Fuinha é irmão de Dora.
48. Nos períodos "Gastou os últimos níqueis" e "Aquelas casas bonitas não a quiseram" temos exemplos
da figura de linguagem em que uma parte representa um todo. No primeiro caso, a matéria em lugar do
objeto; no segundo, o continente em vez do conteúdo. Que nome se dá a esse recurso literário?
a) aliteração
b) anáfora
c) antonomásia
d) metonímia
e) perífrase
49. ANÁLISE SINTÁTICA: aponte a alternativa incorreta.
a) "com as costas das mãos", do período "Voltou curvada, afastando com as costas das mãos as
lágrimas", é adjunto adverbial de instrumento.
b) "comeram" - no primeiro período do excerto - é uma oração coordenada assindética.
c) Na oração "ela achou a princípio muito bonito" temos a ocorrência de um objeto direto elíptico.
d) "um negro forte e um magrelo branco" é aposto de "dois garotos".
e) "varíola" é o núcleo do sujeito simples da oração "o medo da varíola era maior que qualquer
bondade".
50. ANÁLISE MORFOLÓGICA: identifique a alternativa incorreta.
a) “a”, de “Aquelas casas bonitas não a quiseram”, é pronome pessoal oblíquo da terceira pessoa do
singular.
b) “magrelo”, no último período do excerto, é adjetivo substantivado.
c) “mais”, da frase “No começo da noite Zé Fuinha não se aguentava mais de cansado” é advérbio de
intensidade do verbo “aguentava”.
d) “tinha saído”, no trecho “Do morro sua mãe tinha saído num caixão”, é forma composta do verbo
sair, flexionado no pretérito mais que perfeito do modo indicativo.
e) “toda”, do período “A tarde toda foi uma caminhada de um lado para outro à procura de emprego”, é
pronome indefinido.
Agora é o sertão. Perfume das flores do sertão. Campos amigos, aves amigas, magros cachorros nas
portas das casas. Velhos que parecem missionários indianos, negros de longos rosários no pescoço.
Cheiro bom de comidas de milho e mandioca. Homens da terra. Só a caatinga é que é de todos, porque
Lampião libertou a caatinga, expulsou os homens ricos da caatinga, fez da caatinga a terra dos
cangaceiros que lutam contra os fazendeiros. O herói Lampião, herói de todo o sertão de cinco estados.
Dizem que ele é um criminoso, um cangaceiro sem coração, assassino, desonrador, ladrão. Mas para
Volta Seca, para os homens, as mulheres e as crianças do sertão é um novo Zumbi dos Palmares, ele é
um libertador, um capitão de um novo exército. Porque a liberdade é como o sol, o bem maior do
mundo. E Lampião luta, mata, deflora e furta pela liberdade. Pela liberdade e pela justiça para os
homens explorados do sertão imenso de cinco estados: Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe e Bahia.
O sertão comove os olhos de Volta Seca. O trem não corre, este vai devagar, cortando as terras do
sertão. Aqui tudo é lírico, pobre e belo. Só a miséria dos homens é terrível. Mas estes homens são tão
fortes que conseguem criar beleza dentro desta miséria. Que não farão quando Lampião libertar toda a
caatinga, implantar a justiça e a liberdade?
Trecho do capítulo “Na rabada de um trem” da obra Capitães da Areia.
51. A respeito do excerto acima, aponte a alternativa incorreta.
a) A circunstância do campo – um espaço aberto povoado por semelhantes – se opõe à opressão da
cidade.
b) O quarto período apresenta personagens característicos do sertão nordestino.
c) Os períodos curtos tipificam a prosa modernista.
d) Para Volta Seca, a luta pela liberdade justifica todos os crimes cometidos por Lampião.
e) Segundo o narrador, para os sertanejos, Lampião é mais libertador que Zumbi dos Palmares.
52. A respeito do excerto acima, aponte a alternativa incorreta.
a) A presença reiterada de anáforas, apostos e comparações caracteriza a prosa poética, aquela que se
preocupa com os efeitos da linguagem, além de com a comunicação.
b) A repetição epistrófica “campos amigos, aves amigas” inclui todos os elementos do sertão numa
circunstância agradável.
c) “este vai devagar” personaliza o trem que leva Volta Seca para o sertão.
d) Os estados Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Sergipe participam os cinco da região nordeste do
Brasil.
e) O último período do excerto é exemplo de discurso direto.
53. O trecho “a liberdade é como o sol” exemplifica a figura de linguagem denominada
a) comparação
b) hipérbato
c) metáfora
d) metonímia
e) sinestesia
54. Os dois primeiros períodos terminam com a mesma palavra. Trata-se de um recurso comum na
poesia, o qual recebe o nome
a) anadiplose
b) anáfora
c) epístrofe
d) quiasmo
e) símploce
55. O período “E Lampião luta, mata, deflora e furta pela liberdade” é exemplo de
a) descrição dinâmica
b) dissertação
c) descrição estática
d) narração
e) descrição psicológica
56. ANÁLISE SINTÁTICA: Aponte a alternativa incorreta.
a) Em “aqui tudo é lírico, pobre e belo”, “pobre e belo” é aposto de “lírico”.
b) Na oração “a liberdade é como o sol, o bem maior do mundo”, “o bem maior do mundo” é aposto de
“sol”.
c) No trecho “fez da caatinga a terra dos cangaceiros que lutam contra os fazendeiros”, “que lutam
contra os fazendeiros” é oração subordinada adjetiva restritiva.
d) O período “Só a caatinga é que é de todos, porque Lampião libertou a caatinga, expulsou os homens
ricos da caatinga, fez da caatinga a terra dos cangaceiros que lutam contra os fazendeiros” contém três
orações subordinadas adverbiais de causa para o fato “só a caatinga é que é de todos”.
e) O sujeito do verbo "dizem”, no período “Dizem que ele é um criminoso, um cangaceiro sem coração,
assassino, desonrador, ladrão” é elíptico.
57. ANÁLISE MORFOLÓGICA: Identifique a alternativa incorreta.
a) No período “O trem não corre, este vai devagar, cortando as terras do sertão”, “este” é pronome
demonstrativo.
b) “que” é pronome relativo, na frase “Mas estes homens são tão fortes que conseguem criar beleza
dentro desta miséria”.
c) “tão” é advérbio de intensidade, no período “Mas estes homens são tão fortes que conseguem criar
beleza dentro desta miséria”.
d) “toda” é adjetivo, na sequência “Que não farão quando Lampião libertar toda a caatinga”.
e) “tudo” é pronome indefinido, no período “Aqui tudo é lírico, pobre e belo”.
58. Opte pela melhor definição para a palavra “caatinga”.
a) Designação comum a diversas árvores, especialmente da família das rizoforáceas, nativas de regiões
costeiras tropicais, em áreas alcançadas pelas marés e onde há uma lama negra como substrato em que
se apoiam, por meio de raízes-escoras, munidas de excrescências verticais e aéreas que servem à
respiração.
b) Floresta latifoliada tropical e de clima tropical úmido.
c) Mata xerófita dos planaltos, de formação arbórea aberta, com vegetação herbácea abundante e cujas
árvores são geralmente pequenas e tortuosas e de casca grossa e suberosa; mato grosso.
d) Região ou área de clima árido e fauna típica, em que predominam plantas xerófilas, como árvores e
arbustos decíduos durante a estação seca, frequentemente armados de espinhos, e também cactáceas,
bromeliáceas e ervas anuais.
e) Tipo de formação vegetal mista composta de extrato baixo e contínuo de gramíneas e subarbustos,
com maior ou menor número de pequenas árvores espalhadas.
Dona Ester sentou-se em frente ao seu penteador, ficou com os olhos parados, quem a visse pensaria
que ela olhava o céu através da janela. Porém, em verdade, ela nada olhava, nada via. Olhava, sim, para
dentro de si, para as suas recordações de muitos anos, e via um menino da idade do Sem-Pernas,
vestido com uma roupa de marinheiro, correndo no jardim da outra casa, da qual se mudaram depois
que ele morreu. Era um menino cheio de vida e de alegria, gostava de rir e de saltar. Quando se cansava
de correr com o gato, de montar na gangorra do jardim, de jogar a bola de borracha no quintal para o
cão-lobo a apanhar, vinha e passava os braços em torno ao colo de dona Ester, beijava-a no rosto e
ficava com ela vendo livros de figuras, aprendendo a ler e a desenhar as letras. Para tê-lo junto a si o
maior tempo possível, dona Ester e o marido resolveram ensinar ao filho as primeiras letras mesmo em
casa. Um dia (e os olhos de dona Ester se enchem de lágrimas) veio a febre. Depois o pequeno caixão
saiu pela porta e ela o olhava de olhos espantados, não podia compreender que seu filho houvesse
morrido. O retrato dele ampliado num quadro está no seu quarto, mas uma cortina o cobre sempre,
porque ela não gosta de rever a face do filho para não renovar sua angústia. Também as roupas que ele
usou estão todas trancadas na sua pequena mala e jamais buliram nela. Mas agora dona Ester tira as
chaves da sua caixa de joias.
(Trecho do capítulo Família, da obra Capitães da Areia, de Jorge Amado)
59. COMPREENSÃO DO TEXTO: Assinale a alternativa incorreta.
a) O emprego da conjunção adversativa “mas”, no início do último período do excerto, nos faz concluir
que dona Ester tira da caixa de joias as chaves da mala de roupas do filho.
b) A narração não se fixa no presente do narrador, explora também o presente da personagem: “e os
olhos de dona Ester se enchem de lágrimas”.
c) O excerto se inicia posicionando a dona Ester de frente para o seu cabeleireiro, próxima a uma janela.
d) A palavra “mesmo” é usada enfaticamente no trecho “dona Ester e o marido resolveram ensinar ao
filho as primeiras letras mesmo em casa” com a intenção de ratificar ou confirmar o que está sendo dito.
e) O uso da expressão coloquial “livro de figuras”, no trecho “ficava com ela, vendo livros de figuras,
aprendendo a ler e a desenhar as letras” caracteriza o discurso indireto livre, aquele em que se
confundem as falas do narrador com as dos personagens.
60. VOCABULÁRIO: No penúltimo período do excerto, a palavra “buliram” pode ser substituída
adequadamente por
a) falaram
b) mexeram
c) olharam
d) pensaram
e) tocaram
61. FIGURA DE LINGUAGEM: O complemento verbal “as primeiras letras”, do trecho “dona Ester e o
marido resolveram ensinar ao filho as primeiras letras mesmo em casa”, constitui uma figura de
linguagem. Qual?
a) homonímia
b) ironia
c) metonímia.
d) perífrase
e) zeugma
62. ACENTUAÇÃO GRÁFICA: Identifique a alternativa incorreta.
a) “através” recebe o acento agudo porque é oxítono terminado com “e”; a presença do “s” não tem
valor nas regras de acentuação gráfica.
b) “céu” tem acento porque se trata de monossílabo com ditongo aberto “éu”.
c) “lágrimas” se escreve com acento agudo porque é proparoxítono.
d) “porém” é acentuado porque é vocábulo oxítono com terminação “em”.
e) “tê-lo” está acentuado porque é paroxítono terminado com “o”.
63. FIGURA DE LINGUAGEM: Na oração “o pequeno caixão saiu pela porta”, temos a presença da figura
de linguagem reconhecida pelo nome
a) assonância
b) hipérbole
c) oximoro
d) prosopopeia
e) silepse de gênero
64. ANÁLISE MORFOLÓGICA: “vinha e passava os braços em torno ao colo de dona Ester, beijava-a no
rosto e ficava com ela vendo livros de figuras, aprendendo a ler e a desenhar as letras”. Aponte a
alternativa incorreta.
a) “a” de “a desenhar” é preposição.
b) “com ela” é locução adverbial de companhia.
c) “no rosto” é locução adverbial de lugar.
d) “passava”, “beijava” e “ficava” são verbos da primeira conjugação, flexionados no pretérito
imperfeito do indicativo.
e) “vendo” e “aprendendo” são verbos empregados na forma nominal do particípio.
65. ANÁLISE SINTÁTICA: “vinha e passava os braços em torno ao colo de dona Ester, beijava-a no rosto e
ficava com ela vendo livros de figuras, aprendendo a ler e a desenhar as letras”. Assinale a alternativa
incorreta.
a) “a”, de “beijava-a”, é objeto direto.
b) “beijava-a no rosto” é oração coordenada sindética aditiva.
c) “de dona Ester” é adjunto adnominal.
d) “e”, de “beijava-a no rosto e ficava com ela”, é conjunção coordenativa aditiva.
e) “vendo livros de figuras”, “aprendendo a ler” e “[aprendendo] a desenhar as letras” são orações
subordinadas adverbiais de modo reduzidas de gerúndio.
SILEPSE: Uma discordância aceitável.
SILEPSE DE GÊNERO: Aos domingos, São Paulo desperta tímida e calada.
SILEPSE DE NÚMERO: Toda aquela multidão gritavam por respeito.
SILEPSE DE PESSOA: Os brasileiros gostamos de paz.
Almiro foi o primeiro dos Capitães da Areia que caiu com alastrim. Uma noite, quando o negrinho
Barandão o procurou no seu canto para fazer o amor (aquele amor que Pedro Bala proibira no trapiche),
Almiro lhe disse:
– Tou com uma coceira danada.
Mostrou os braços já cheios de bolhas a Barandão:
– Parece que também tou queimando de febre.
Barandão era um negrinho corajoso, todo o grupo sabia disto. Mas da bexiga, da moléstia de
Omolu, Barandão tinha um medo doido, um medo que muitas raças africanas tinham acumulado dentro
dele. E sem se preocupar que descobrissem suas relações sexuais com Almiro saiu gritando entre os
grupos:
– Almiro tá com bexiga... Gentes, Almiro tá com bexiga.
Os meninos foram se levantando aos poucos e se afastando receosos do lugar onde estava Almiro.
Este começou a soluçar. Pedro Bala não tinha chegado ainda. Professor, o Gato e João Grande também
andavam por fora. Daí ter sido o Sem-Pernas quem dominou a situação. O Sem-Pernas nestes últimos
tempos andava cada vez mais arredio, quase não falava com ninguém. Fazia espantosas burlas de todo
mundo, por tudo puxava uma briga, só respeitava mesmo Pedro Bala. Pirulito rezava por ele mais que
por nenhum, e por vezes pensava que Satanás tinha se metido no corpo do Sem-Pernas. O padre José
Pedro era paciente com ele, mas também do padre o Sem-Pernas se afastara. Não queria saber de
ninguém, conversa em que ele se metia era conversa que terminava em briga.
Quando o Sem-Pernas passou entre os grupos, todos se afastaram. Quase o temiam tanto quanto à
bexiga. O Sem-Pernas tinha arranjado por aqueles dias um cachorro ao qual se dedicava inteiramente. A
princípio, quando o cão apareceu no trapiche, esfomeado, Sem-Pernas o maltratou quanto pôde. Mas
terminou por acarinhá-lo e tomar para si. Agora como que vivia inteiramente para o cachorro. E por isso
voltou só para levar o cão, que o acompanhara, para longe de Almiro. Depois andou novamente para
onde estavam os meninos. Estes cercavam Almiro de longe. Apontavam as bolhas que apareciam no
peito do menino. Antes de tudo, Sem-Pernas falou com sua voz fanhosa para Barandão:
– Agora tu vai ter bexiga na piroca, negro burro.
Barandão o olhou assustado. Depois, Sem-Pernas falou para todos, apontando Almiro com o dedo:
– Ninguém aqui vai ficar bexiguento só por causa deste fresco.
Todos o olhavam, esperando o que ele diria. Almiro soluçava, as mãos no rosto, encolhido na
parede. Sem-Pernas falava:
– Ele vai sair daqui agorinha mesmo. Vai se meter em qualquer canto da rua até que os matacachorro da saúde pegue ele e leve pro lazareto.
(Trecho do capítulo “Alastrim”, da obra “Capitães da Areia”)
66. No sexto parágrafo, “– Almiro tá com bexiga... Gentes, Almiro tá com bexiga.”, o termo “gentes” está
flexionado em número para se referir aos meninos do trapiche. Trata-se de uma forma característica da
linguagem
a) coloquial
b) culta
c) erudita
d) popular
e) sofisticada
67. ANÁLISE MORFOLÓGICA: “da bexiga, da moléstia de Omolu, Barandão tinha um medo doido, um
medo que muitas raças africanas tinham acumulado dentro dele” – Assinale a alternativa incorreta.
a) “dele” é contração da preposição “de” com o pronome pessoal reto “ele”.
b) “muitas” é advérbio de intensidade.
c) “que” é pronome relativo.
d) “tinham acumulado” é verbo flexionado na terceira pessoa do plural do pretérito mais que perfeito
do indicativo, em tempo composto.
e) “um”, de “um medo doido”, é artigo indefinido.
68. ANÁLISE SINTÁTICA: “da bexiga, da moléstia de Omolu, Barandão tinha um medo doido, um medo
que muitas raças africanas tinham acumulado dentro dele” – Aponte a alternativa incorreta.
a) “da bexiga” é complemento nominal.
b) “da moléstia” é complemento nominal.
c) “de Omolu” é adjunto adnominal.
d) “doido” é adjunto adnominal.
e) “que” é sujeito.
69. A expressão “fazer amor” surgiu por conta dos tabus sexuais, da intenção de amenizar a ideia de
pecado milenarmente anexada à sexualidade. Que nome se dá a essa figura de linguagem que procura
diminuir o impacto negativo de algumas palavras ou expressões?
a) apóstrofe
b) catacrese
c) eufemismo
d) metonímia
e) oxímoro
70. Identifique a alternativa em que a afirmação não corresponde ao que se afirma no excerto.
a) “alastrim” é doença virótica, eruptiva e infectocontagiosa; varíola.
b) Depois de Pedro Bala, Sem-Pernas é quem exercia maior liderança entre os “capitães da areia”.
c) No excerto, “bexiga” é sinônimo de “alastrim” ou “varíola”.
d) “os mata-cachorro da saúde” são os agentes de saúde que levavam os doentes para o isolamento.
e) “trapiche” é o nome que se dá a armazém ou depósito antigo e abandonado na beira do cais do
porto.
CARTA DO DR. JUIZ DE MENORES à REDAÇÃO DO JORNAL DA TARDE
Exmo. Sr. Diretor do Jornal da Tarde
Cidade de Salvador
Neste Estado
Meu caro patrício.
Cordiais saudações.
Folheando, num dos raros momentos de lazer que me deixam as múltiplas e variadas preocupações
do meu espinhoso cargo, o vosso brilhante vespertino, tomei conhecimento de uma epístola do
infatigável doutor Chefe de Polícia do Estado, na qual dizia dos motivos por que a Polícia não pudera até
a data presente intensificar a meritória campanha contra os menores delinquentes que infestam a nossa
urbe. Justifica-se o doutor Chefe de Polícia declarando que não possuía ordens do juizado de menores
no sentido de agir contra a delinquência infantil. Sem querer absolutamente culpar a brilhante e
infatigável Chefia de Polícia, sou obrigado, a bem da verdade (essa mesma verdade que tenho colocado
como o farol que ilumina a estrada da minha vida com a sua luz puríssima), a declarar que a desculpa
não procede. Não procede, sr. Diretor, porque ao juizado de menores não compete perseguir e prender
os menores delinquentes e, sim, designar o local onde devem cumprir pena, nomear curador para
acompanhar qualquer processo conta eles instaurado, etc. Não cabe ao juizado de menores capturar os
pequenos delinquentes. Cabe velar pelo seu destino posterior. E o sr. doutor Chefe de Polícia sempre há
de me encontrar onde o dever me chama, porque jamais, em 50 anos de vida impoluta, deixei de
cumpri-lo.
Ainda nestes últimos meses que decorreram mandei para o reformatório vários menores
delinquentes ou abandonados. Não tenho culpa, porém, de que fujam, de que não se impressionem
com o exemplo de trabalho que encontram naquele ambiente onde se respiram paz e trabalho e onde
são tratados com o maior carinho. Fogem e se tornam ainda mais perversos, como se o exemplo que
houvessem recebido fosse mau e daninho. Por quê? Isso é um problema que aos psicólogos cabe
resolver e não a mim, simples curioso da filosofia.
O que quero deixar claro e cristalino, sr. Diretor, é que o doutor Chefe de Polícia pode contar com a
melhor ajuda deste juizado de menores para intensificar a campanha contra os menores delinquentes.
De v. exa., admirador e patrício grato,
Juiz de Menores
(Publicada no Jornal da Tarde com o clichê do juiz de menores em uma coluna e um pequeno
comentário elogioso)
(Uma das CARTAS à REDAÇÃO que abrem o livro “Capitães da Areia”)
71. Assinale a alternativa que não se mostra coerente ao excerto acima.
a) O Juiz culpa exclusivamente os menores pelo fracasso do reformatório.
b) A carta do Juiz se refere ao Chefe de Polícia, mas é endereçada ao diretor do Jornal da Tarde.
c) O Juiz de Menores não apoia nem condena a intensificação da campanha do Chefe da Polícia contra
os menores.
d) A palavra “epístola”, no primeiro parágrafo, pode ser substituída adequadamente por “carta”.
e) O nome “reformatório” nos faz supor que as autoridades pretendiam reformar o caráter dos meninos
de rua.
72. Identifique a linguagem pretendida pelo Juiz de Menores.
a) coloquial
b) culta
c) erudita
d) popular
e) sofisticada
73. A frase “essa mesma verdade que tenho colocado como o farol que ilumina a estrada da minha vida
com a sua luz puríssima” não é original. Trata-se de uma imagem gasta pelo demasiado uso na primeira
metade do século vinte. Que nome se dá a essas frases que se usam repetidamente?
a) alusões
b) citações
c) clichês
d) menções
e) paráfrases
74. ANÁLISE MORFOLÓGICA. Reconsidere o trecho “Folheando, num dos raros momentos de lazer que
me deixam as múltiplas e variadas preocupações do meu espinhoso cargo, o vosso brilhante vespertino,
tomei conhecimento de uma epístola do infatigável doutor Chefe de Polícia do Estado” e assinale a
alternativa incorreta.
a) “Folheando” é verbo, flexionado em forma nominal.
b) “que” é pronome relativo.
c) “vespertino” é substantivo.
d) “tomei” é verbo, flexionado no tempo pretérito mais que perfeito do modo indicativo.
e) “vosso” é pronome possessivo.
75. ANÁLISE SINTÁTICA. Assinale a alternativa incorreta, reconsiderando o trecho “Folheando, num dos
raros momentos de lazer que me deixam as múltiplas e variadas preocupações do meu espinhoso cargo,
o vosso brilhante vespertino, tomei conhecimento de uma epístola do infatigável doutor Chefe de
Polícia do Estado”.
a) “de uma epístola” é complemento nominal.
b) “conhecimento” é objeto direto.
c) “do infatigável doutor Chefe de Polícia do Estado” é adjunto adnominal.
d) “o vosso brilhante vespertino” é sujeito.
e) “que me deixam as múltiplas e variadas preocupações do meu espinhoso cargo” é oração
subordinada adjetiva restritiva.
GABARITO
1-B; 2-A; 3-E; 4-C; 5-D; 6-C; 7-E; 8-B; 9 – O padre José Pedro, antes de consentir, sente-se horrorizado
com a decisão dos Capitães da Areia de jogar o corpo de Dora ao mar. O padre consente porque entende
que velório, marcha fúnebre e sepultamento denunciariam a “casa” dos Capitães da Areia.
10-E; 11-E; 12-A; 13-A; 14-A; 15-C; 16-E; 17-C; 18-C; 19-D; 20-E; 21 – Volta Seca “foi para o seu
canto”, pois Professor já estava em seu lugar, “semiadormecido”, quando Volta Seca trouxe o jornal com
a notícia de Lampião. Ainda, quem “levava o jornal para cortar o retrato do grupo de Lampião” era o
dono do jornal, Volta Seca, sujeito do verbo “levava”, que implica movimento.
22-C; 23-A; 24-B; 25-E; 26-B; 27-D; 28-C; 29-A; 30-E (não é causa porque manicura não existe para
maltratar as mãos);
31-B; 32-A; 33-B; 34-E; 35-D; 36-D; 37-C; 38-E; 39-C; 40-D; 41-A; 42-C; 43-B; 44-B; 45-A; 46-D; 47B; 48-D;
49-E (o núcleo é “medo”);
50-E (adjetivo);
51-E; 52-E (discurso indireto livre; narrador e personagem estão juntos na mesma fala);
53-A; 54-C; 55-A; 56-E (indeterminado);
57-B (conjunção adverbial consecutiva);
58-D; 59-C (penteador é um móvel);
60-B; 61-C; 62-E (oxítono terminado com “e”; as duas partes da palavra são consideradas
separadamente);
63-D (prosopopeia ou personificação);
64-E (gerúndio);
65-B (é assindética; não tem conjunção);
66-D (a forma “gente”, que é gramaticalmente correta, pertence à linguagem coloquial, mas “gentes”, que
é gramaticalmente incorreta, pertence à linguagem popular);
67-B (pronome indefinido);
68-E (objeto direto do verbo composto “tinham acumulado”);
69-C; 70-B (Sem-Pernas só “dominou a situação”, porque, além de Pedro Bala, “Professor, o Gato e João
Grande também andavam por fora”);
71-C (O Juiz de Menores apoia a intensificação da campanha);
72-B; 73-C; 74- D; (“tomei” é pretérito perfeito do modo indicativo);
75-D (“o vosso brilhante vespertino” é objeto direto do verbo “Folheando”).
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