COMENTÁRIO GERAL SOBRE O TEMA ENEM 2019 A coletânea que serve de apoio para a elaboração de um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema “Democratização do acesso ao cinema do Brasil” é constituída por um excerto de “O que é Cinema” de Jean-Claude Bernardet, uma referência à definição de “cinema” pelo filósofo Edgar Morin, um infográfico sobre a evolução da sociedade brasileira relativamente à adesão a este gênero artístico e um excerto de artigo publicado na net pela Ancine. Enquanto o primeiro texto revela as circunstâncias em que uma máquina usada para estudos científicos no final do séc. XIX se transformou em peça essencial à produção e exibição de filmes artísticos e recreativos até à época atual, o segundo reproduz a definição de cinema por Edgar Morin que associa o cinema à representação do universo pessoal do indivíduo interpretado posteriormente pela subjetividade do espectador. Ou seja, é através da linguagem cinematográfica que o espectador interpreta simbolismos particulares, individualmente, e com base em suas experiências prévias. Dessa forma, pode-se concluir que o nível de aprofundamento da interpretação do filme varia de acordo com as vivências individuais do sujeito e de sua compreensão acerca da linguagem cinematográfica. O texto III apresenta um infográfico revelador do fato de que, embora o percentual de brasileiros que frequentam salas de cinema tenha crescido nos últimos cinco anos, apenas 17% têm esse hábito, contra 88% que assistem a eles, regularmente, na TV. E destes apenas 19% vão também ao cinema. O último texto explica as razões que motivaram a diminuição de salas de cinema, de 3.300 em 1975 a 1.000 em 1997. Nesse período, quase metade da população brasileira passou a viver nas cidades, mas a falta de investimento em infraestrutura e a baixa capitalização das empresas exibidoras contribuíram para que o número de salas não tivesse acompanhado esse fenômeno. Somente em 1997, com o advento dos shoppings centers, a atividade de exibição se reorganizou, atingindo o patamar atual de 2.200 salas, número insuficiente que situa o Brasil como 60º no ranking mundial de habitantes por sala. Além de insuficiente, ocorre de forma concentrada nas áreas de renda mais alta das grandes cidades, excluindo as periferias, as pequenas e médias cidades do interior. A dissertação deve focar, portanto, a dupla sinonímia da palavra “cinema”: arte e técnica de fazer filmes, cinematografia, e sala de projeção e exibição de filmes cinematográficos. Quanto à indústria cinematográfica brasileira, sua estrutura é concentrada e sua dinâmica, em grande medida, é dependente das políticas públicas implementadas para o setor. Num país das dimensões do Brasil, com uma ampla heterogeneidade de culturas e com uma grande desigualdade social, a produção cinematográfica enfrenta numerosos obstáculos para levar a realidade de e para locais recônditos ou periféricos, de maneira a que o espectador das mais diversas regiões possa, através da sua subjetividade, “completar” a obra. Falta de recursos financeiros, da área pública ou privada, insuficiência de cursos formadores de profissionais capacitados para as diversas funções, displicência na elaboração de grades curriculares do ensino fundamental que auxiliem à formação de público, entre outras. Ou seja, é muito reduzida a atenção dada por gestores públicos e cientistas sociais às políticas públicas da área cultural, sejam elas oriundas de órgãos federais, estaduais ou municipais. Também a distribuição de filmes nacionais não é feita de forma equilibrada. Relativamente à exibição em salas de cinema, mais da metade de filmes lançados pela ANCINE fica restrito a festivais, à internet ou aos poucos espaços alternativos existentes. Isso ocorre principalmente por dois fatores interdependentes: o perfil elitista das salas que foram abertas nos últimos anos e o descrédito da produção nacional frente à produção estrangeira com altos investimentos em publicidade e que costuma predominar nas salas de cinema e nos canais de televisão. Também, no contexto atual, muitos lugares não dispõem de cinema e onde existe, muitas vezes o alto valor dos ingressos dificulta o acesso para grande parte da população. A partir destes dados, a proposta de intervenção deve considerar a diversidade sociocultural do Brasil e coerente com a realidade para que a sua execução seja viável: subsídios governamentais e diminuição de impostos para aquisição de equipamentos de uma produção, criação de cursos acadêmicos e técnicos para o imenso universo profissional do setor, aumento de espaços de distribuição comercial, com investimentos e editais de apoio à disseminação do cinema, ampliação de espaços alternativos de exibição nas regiões mais carentes para atingir maior número de pessoas e trabalhar a formação de público, organização de debates após as exibições que contribuam para a apropriação das diferentes linguagens cinematográficas e temas levantados pelo filme.