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A IMPORTÂNCIA DO EFEITO FÉRULA NA RECONSTRUÇÃO PROTÉTICA UMA REVISÃO DE LITERATURA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE ODONTOLOGIA
A IMPORTÂNCIA DO EFEITO FÉRULA NA
RECONSTRUÇÃO PROTÉTICA – UMA REVISÃO DE
LITERATURA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Rafaelo Fagundes Dalforno
Renan Luiz Luft
Santa Maria, RS, Brasil
2015
A IMPORTÂNCIA DO EFEITO FÉRULA NA
RECONSTRUÇÃO PROTÉTICA – UMA REVISÃO DE
LITERATURA
Rafaelo Fagundes Dalforno
Renan Luiz Luft
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Odontologia, Área de
Prótese Dentária Parcial Fixa, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM –
RS), como requisito para obtenção do grau de Graduado em Odontologia.
Orientador: Prof. Osvaldo Bazzan Kaizer
Santa Maria, RS, Brasil
2015
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências da Saúde
Curso de Odontologia
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de
Conclusão de Curso
A IMPORTÂNCIA DO EFEITO FÉRULA NA RECONSTRUÇÃO
PROTÉTICA – UMA REVISÃO DE LITERATURA
elaborado por
Rafaelo Fagundes Dalforno
Renan Luiz Luft
como requisito para obtenção do grau de
Graduado em Odontologia
COMISSÃO EXAMINADORA:
Osvaldo Bazzan Kaizer, Prof. Dr. Associado do Curso de Odontologia da UFSM
(Professor Orientador)
Cláudio Figueiró, Prof. Dr. Associado do Curso de Odontologia da UFSM
Katia Olmedo Braun, Prof. Dra. Associada do Curso de Odontologia da UFSM
Santa Maria, 1 de julho de 2015.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradecemos a Deus pela oportunidade, pela nossa saúde e por Ele nos
guiar durante nossa jornada.
Agradecemos aos nossos pais, familiares e amigos por serem a nossa base e nos
apoiarem em todos os momentos.
Queremos agradecer também nosso professor orientador Osvaldo Bazzan Kaizer por
ter nos acolhido em um momento de dificuldade, e por depositar em nós a confiança na
realização deste trabalho.
RESUMO
Trabalho de Conclusão de Curso
Curso de Odontologia
Universidade Federal de Santa Maria
A IMPORTÂNCIA DO EFEITO FÉRULA NA RECONSTRUÇÃO PROTÉTICA –
UMA REVISÃO DE LITERATURA
AUTORES: RAFAELO FAGUNDES DALFORNO
RENAN LUIZ LUFT
ORIENTADOR: OSVALDO BAZZAN KAIZER
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 1 de julho de 2015.
A preservação da maior quantidade possível de estrutura coronária e radicular,
mantendo especialmente o tecido cervical para criar um efeito férula, é considerada crucial
para otimizar o comportamento biomecânico de dentes restaurados. O objetivo deste trabalho
é fazer um resumo dos resultados de pesquisas realizadas visando responder diferentes
questões relacionadas ao efeito férula. Os resultados encontrados foram distribuídos em
quatro grupos: 1) altura e formato da férula; 2) tipo de retentor intrarradicular; 3) cimentação;
e 4) aumento de coroa clinica versus extrusão ortodôntica. Os resultados sugerem que: dentes
tratados endodonticamente com uma férula de 2mm de altura aumentam a resistência à
fratura; o dente com férula completa é mais resistente do que o dente com férula parcial, que
por sua vez é mais resistente do que o sem férula; o retentor intrarradicular não aumenta a
resistência à fratura, porém a férula aumenta; em dentes sem estrutura coronária
remanescente, é preferível a realização de extrusão ortodôntica à cirurgia de aumento de coroa
clínica.
Palavras-chave: Efeito férula; dentes tratados endodonticamente; resistência à fratura.
ABSTRACT
The preservation of the maximum amount of coronary and root structure, maintaining
especially cervical tissue to create a ferrule effect, it’s considered crucial for optimizing
biomechanical behavior of restored teeth. The objective of this work is to make a summary of
the results of research performed to answer different questions related to ferrule effect. The
results were divided into four groups: 1) ferrule height and ferrule design; 2) type of post and
core; 3) luting; and 4) crown lengthening versus orthodontic extrusion. The results suggest
that: endodontically treated teeth with a 2mm ferrule height increase fracture resistance; the
tooth with complete ferrule is tougher than the tooth with partial ferrule, which is tougher than
without the ferrule; root canal post does not increase the fracture resistance, but the ferrule
increases; on teeth without remaining coronal structure, it is preferable to perform the
orthodontic extrusion than the crown lengthening surgery.
Keywords: Ferrule effect; endodontically treated teeth; fracture resistance.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS........................................................................................3
RESUMO..............................................................................................................4
ABSTRACT.........................................................................................................5
INTRODUÇÃO E OBJETIVO..........................................................................7
REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................8
Altura e formato da férula........................................................................................8
Tipos de retentor intrarradicular............................................................................10
Cimentação............................................................................................................11
Retentor Intrarradicular.............................................................................................11
Coroa.....................................................................................................................12
Aumento de coroa clínica versus extrusão ortodôntica..............................................12
DISCUSSÃO......................................................................................................14
CONCLUSÕES..................................................................................................16
REFERÊNCIAS................................................................................................17
INTRODUÇÃO E OBJETIVO
Ao longo do tempo, a escolha do tratamento restaurador ideal para dentes tratados
endodonticamente tem se mostrado um grande desafio para os cirurgiões dentistas. Para
promover retenção em uma coroa com remanescente dentinário insuficiente, muitas vezes fazse o uso de retentores intrarradiculares. Quando se observa perda estrutural superior a 50%,
dá-se preferencia ao uso de retentores intrarradiculares (Albuquerque et al., 2003). Há mais de
50 anos, o sistema de núcleo metálico fundido foi desenvolvido, e tornou-se padrão para
restaurações com o uso de retentores, porém, devido à necessidade estética, maior
biocompatibilidade, módulo de elasticidade mais próximo ao da dentina, custo inferior, maior
praticidade, vem se desenvolvendo pinos pré-fabricados de diversos materiais, principalmente
de fibra de vidro.
Um resultado clínico bem sucedido de dentes tratados endodonticamente depende
tanto de um tratamento de canal adequado, quanto da posterior realização de um tratamento
restaurador apropriado (Juloski et al., 2012); pois, apesar dos fatores de risco não
controláveis, a alta ocorrência de fraturas pode ser atribuída a vários procedimentos de
operação, como preparo da cavidade de acesso, preparo do canal radicular, irrigação e
obturação, preparo do espaço do retentor e a restauração final (Tang et al., 2010).
A preservação da maior quantidade possível de estrutura coronária e radicular,
mantendo especialmente o tecido cervical para criar um efeito férula, é considerada crucial
para otimizar o comportamento biomecânico de dentes restaurados (Juloski et al., 2012).
O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão de literatura resumindo os resultados de
pesquisas realizadas em diferentes questões relacionadas ao efeito férula.
REVISÃO DE LITERATURA
A definição clássica para efeito férula é um anel metálico da coroa de 360°, que
envolve paredes paralelas de dentina e que se estende coronariamente a partir do
término do preparo, resultando em um aumento da resistência estrutural da
restauraçao, a partir da extensão da estrutura dentária. (Sorensen et al., 1990).
As paredes paralelas que se estendem coronariamente a partir da margem do preparo
promovem uma férula, que após ser envolvida por uma coroa total promove um efeito de
proteção pela redução das tensões internas do dente, chamado de efeito férula (Stankiewicz;
Wilson, 2002).
Com a evolução dos sistemas e materiais restauradores, o conceito clássico de efeito
férula vinha se tornando obsoleto. Então, Mamoun (2014) propôs uma definição alternativa
para efeito férula.
Efeito férula consiste em uma coroa total com 360° de metal ou porcelana,
cimentada em torno de um preparo, impedindo a flexão independente do dente e/ou
núcleo e/ou retentor (estruturas supra marginais ao preparo), de forma que se uma
força é aplicada sobre o dente, o complexo dente, núcleo e retentor funciona como
uma unidade única para resistir à essa força. (Mamoun, 2014)
Altura e formato da férula
O fator mais importante do preparo na prevenção de fraturas radiculares tem sido
mostrado como sendo o efeito férula (Assif et al., 1993 apud Näpänkangas et al., 2008).
Pereira et al. (2006), em um estudo realizado com cinquenta caninos humanos extraídos,
tratados endodonticamente e restaurados com diferentes protocolos restauradores, concluiram
que a presença de 2mm de altura de férula aumenta significativamente a resistência à fratura
de dentes tratados endodonticamente e restaurados com pinos pré-fabricados e núcleo de
resina composta. Observaram também o aumento significativo da resistência à fratura de
dentes com altura de férula de 3mm quando comparado a férulas de 0mm e 1mm de altura.
Creugers et al. (2005) encontraram desempenho significativamente melhor em dentes
restaurados com retentor intrerradicular e núcleo com substancial altura dentinária (pelo
menos 1mm de altura de férula, com mais de 75% de paredes circunferenciais) comparados
com dentes com menos estrutura dental remanescente (menos de 1mm de altura, com menos
de 75% de paredes circunferenciais).
Em uma revisão de literatura, Stankiewicz e Wilson (2002) concluíram que é desejável
uma altura mínima de 1,5mm de férula. Sorensen et al. (1990) consideram eficaz uma férula
de 2mm de altura no que diz respeito ao aumento da resistência à fratura de dentes restaurados
com retentor intrarradicular. Quando o efeito férula está ausente, as forças são concentradas
na junção retentor/núcleo, e o dente é mais sujeito à fratura (Morgano et al., 2004 apud
Salameh et al., 2008). Com a férula, as tensões são redistribuídas nas superfícies externas do
terço cervical da raiz (Loney et al., 1990), diminuindo o risco de fraturas.
Porém, nem sempre o cenário clínico permite a obtenção de uma circunferência de
férula com altura uniforme. Schmidlin et al. (2010) observaram que a presença de férula, a
extensão, as dimensões e o número de paredes dentinárias remanescentes representam
aspectos críticos que influenciam na longevidade dos tratamentos. Hou et al. (2013)
concluíram que a resistência à fratura aumenta com o acréscimo no número de paredes
coronárias remanescentes. Uma férula não uniforme resulta em menor resistência a fratura do
que uma uniforme com 2mm de altura (Tan et al., 2005). Similarmente, diferenças na
resistência foram encontradas quando uma férula de 2mm de altura uniforme em toda sua
circunferência foi comparada com uma férula de 2mm presente apenas na face palatal ou
vestibular ou com uma férula com circunferência interrompida por cavitação proximal
(Naumann et al., 2006). Entretanto, dentes sem uma altura de férula uniforme foram ainda
mais resistentes do que dentes sem férula, e, portanto, foi sugerido que uma férula de 2mm
deveria ser obtida pelo menos na parede lingual e vestibular (Juloski et al., 2012).
Um estudo retrospectivo (Setzer et al., 2011 apud Juloski et al., 2010) avaliou vários
fatores pré-operatórios, incluindo a altura de férula, no desempenho clínico de dentes tratados
endodonticamente e posteriormente restaurados. Porém, a quantidade de estrutura dentinária
disponível para uma férula, avaliada através de radiografias Bite Wing, não foi considerada
parâmetro expressivo para o prognóstico destes dentes, pois é difícil fazer uma avaliação
preexistente de uma férula retrospectivamente, devendo ser estimada por tomografia
computadorizada Cone Beam para se conseguir uma imagem tridimensional ao invés de
bidimensional.
Creugers et al. (2005), em um estudo prospectivo, compararam 319 dentes restaurados
com diferentes protocolos restaurados e com variadas alturas de remanescente dentinário.
Após cinco anos de acompanhamento, a porcentagem de dentes perdidos foi de 3,6% para
dentes com substancial altura dentinária, enquanto que para dentes com o mínimo de altura
dentinária a porcentagem foi de 6,8%. A diferença foi estatisticamente significativa, e o autor
associou estas taxas de fracasso com a quantidade de remanescente dentinário disponível para
um efeito férula.
Tipos de retentor intrarradicular
Combinações de diferentes tipos de férula, de sistema de retentor intrarradicular, e de
restauração final foram testadas numa tentativa de encontrar a melhor opção de tratamento
que pudesse fornecer a maior resistência à fratura e o padrão de fratura mais favorável para
dentes severamente comprometidos. A grande maioria dos dados bibliográficos sugere que a
presença de uma férula é um fator significativo para melhorar a resistência à fratura para
diferentes tipos de retentores (Juloski et al., 2012).
Em seu estudo prospectivo sobre férula, Creugers et al. (2005) não encontraram
relevância significativa no tipo de retentor intrarradicular no que diz respeito à longevidade
das restaurações. Para eles, a quantidade em altura do remanescente dentinário após o preparo
teve maior influência na longevidade das restaurações com retentores.
A presença de um preparo com férula tem mostrado um acréscimo na resistência à
fratura de dentes tratados endodonticamente e restaurados com núcleo de preenchimento e
coroa total, independentemente do uso ou não de um pino de fibra de vidro. A utilização de
um pino de fibra de vidro associado com um núcleo de preenchimento não mostrou nenhuma
influência significativa no aumento da resistência à fratura de dentes tratados
endodonticamente, independentemente da presença de férula (Lima et al., 2009).
Em um estudo com 17 anos de acompanhamento (Fokkinga et al., 2007), 307 dentes
endodonticamente tratados foram restaurados, e os resultados não mostraram diferença nas
probabilidades de sobrevivência entre diferentes núcleos de preenchimento sob as coroas
cimentadas, tanto para núcleos metálicos fundidos quanto para pinos pré-fabricados com
núcleos de resina composta. O que foi fundamental para a sobrevivência a longo prazo destes
dentes foi a preservação da estrutura do remanescente dental, criando um efeito férula.
Quando uma férula foi obtida, muitos estudos mostraram que a colocação de um
retentor intrarradicular não melhorou significativamente a resistência à fratura quando
comparado com dentes restaurados somente com núcleo de resina composta e sem nenhuma
retenção intrarradicular (Lima et al., 2009). Contudo, dentes sem retentor e sem núcleo,
independentemente da presença de uma férula de 2mm, apresentaram uma menor resistência a
fraturas, sugerindo que a férula é um elemento-chave, porém dependente de outros fatores.
Um significativo aumento na resistência a fratura foi observado quando apenas um núcleo de
resina composta foi acrescentado, o que contribuiu para um aumento da superfície retentiva
para suportar carregamento estático.
No que diz respeito à forma de falha, Pereira et al. (2006) encontraram em seu estudo
com 50 caninos uma diferença significativa no padrão de fratura de dentes restaurados com
pinos pré-fabricados de fibra e núcleo de resina composta comparados com dentes com
núcleos metálicos fundidos. Todas as falhas no grupo de metálicos fundidos foram devido à
fraturas de raiz, enquanto que com pinos pré-fabricados as falhas foram ou pela
descimentação da coroa (dentes com férulas de 1mm e 2mm), ou pela fratura da resina
composta da porção coronária do núcleo (dentes sem férula e com férula de 1mm), ou ainda
pela fratura da férula (dentes com férula de 1mm, 2mm e 3mm), falhas menos catastróficas e
passíveis de reconstrução.
Cimentação
Retentor Intrarradicular
Mezzomo et al. (2003) revelaram que o uso adicional da férula não tem benefícios em
termos de resistência à fratura quando cimento resinoso foi usado para a cimentação do
retentor intraradicular. Contudo, quando cimento de fosfato de zinco convencional foi
utilizado, a presença de uma férula promoveu melhoria no dente restaurado com núcleo
metálico fundido. Apesar de não haver diferença na resistência à fratura entre os grupos com e
sem férula, as formas de falha se diferenciaram. Dentes com férula submeteram-se
principalmente a uma fratura mais obliqua, enquanto que em dentes sem a férula, a fratura
radicular vertical foi predominante.
Coroa
Foi relatado por Ma et al. (2009) que o uso de cimento resinoso para cimentar coroas
resultou em uma contagem de ciclos mais elevada para causar falhas em comparação com
cimento de fosfato de zinco. Quando a férula esteve presente, o cimento resinoso aumentou o
número de ciclos necessários para causar falha prévia e aumentou a carga final que o
complexo poderia suportar, em comparação com o cimento de ionômero de vidro. A maior
resistência adesiva do cimento resinoso e sua capacidade de transferir tensões de tração na
interface da coroa/dentina foram as possíveis explicações dos resultados (Schmitter et al.,
2010). Não foram encontradas diferenças significativas entre o cimento de fosfato de zinco e
o cimento de ionômero de vidro modificado por resina, considerando que todos os dentes
apresentavam preparo com férula (Junge et al., 1998 apud Juloski et al., 2012).
Aumento de coroa clínica versus extrusão ortodôntica
A restauração de dentes severamente danificados, que não apresentam coroa clínica,
representam uma questão particularmente importante. Em tal situação clínica, um espaço
biológico adequado e uma distância entre a margem da coroa e a crista alveolar deve ser
assegurado (Stankiewicz e Wilson, 2002). O espaço biológico foi definido como a dimensão
do epitélio juncional e inserção conjuntiva na raiz acima da crista alveolar, e é recomendado
que seja mantido pelo menos 3 mm entre a margem da coroa e a crista alveolar para evitar
impactos na inserção coronal do tecido conjuntivo periodontal (Fugazzotto e ParmaBenfenati, 1984 apud Juloski et al 2012). Portanto, para se obter uma férula de 1mm de
altura, é necessário, pelo menos, 4.5mm de estrutura do dente supra-alveolar (Stankiewicz e
Wilson, 2002).
Em uma situação em que não há estrutura dentária suficiente, o cirurgião dentista deve
considerar duas opções: cirurgia de aumento de coroa clínica ou extrusão ortodôntica
(Stankiewicz e Wilson, 2002), assim como Shillingburg et al. (1997 apud Näpänkangas et al.,
2008), que afirmaram que se não for possível a obtenção da férula, uma cirurgia de aumento
de coroa clínica ou tração ortodôntica podem ser necessárias.
Uma amostra de pré-molares tratados endodonticamente e restaurados com núcleos
metálicos fundidos, sem aumento de coroa clínica e sem férula, com a linha de término da
coroa localizada na junção cemento-esmalte, apresentou maior resistência à fratura do que
uma amostra com mesmo protocolo restaurador, porém com aumento de coroa clínica, férula
de 2mm e linha de término 2mm apicalmente a partir da junção cemento-esmalte (Gegauff,
2000).
No estudo de Meng et al. (2007), não houve diferença na resistência à fratura entre
dentes com aumento de coroa e férula localizada apicalmente em relação a dentes sem
aumento de coroa e sem férula quando restaurados com pinos de fibra de carbono e núcleos
de resina composta. Afirmaram que muitas das falhas com o uso de núcleos metálicos
fundidos foram catastróficas (fraturas radiculares verticais e fraturas radiculares obliquas
localizadas abaixo do terço cervical da raiz) e que com o uso de pinos pré-fabricados de fibra
de carbono, as fraturas foram menos severas e localizadas no terço cervical da raiz ou acima
dele. Em contrapartida, a presença ou ausência de uma férula não influenciou no padrão de
fratura da raiz, independentemente do sistema de retentor intrarradicular e núcleo de
preenchimento utilizado.
As desvantagens do aumento cirúrgico da coroa clínica são o aumento na relação
coroa/raiz, causado por uma redução efetiva no comprimento da raiz e o aumento efetivo do
comprimento da coroa e a redução do volume de dentina radicular que permanece com
inserção óssea (Gegauff, 2000; Meng et al., 2007). Uma via alternativa para o tratamento
poderia ser uma extrusão ortodôntica. Do ponto de vista biomecânico, quando uma extrusão
ordotôntica é realizada, o suporte ósseo reduz, mas o braço de alavanca coronal não muda. O
preparo de uma férula de 1mm, após uma extrusão simulada em dentes extraídos, melhorou
significativamente a resistência à fratura do dente, e uma férula de 2mm foi associada à uma
resistência à fratura ainda mais alta (Meng et al., 2009).
DISCUSSÃO
O sucesso no tratamento de dentes endodonticamente tratados com a porção coronária
severamente destruída depende não só de tratamentos endodônticos e restauradores
adequados, mas também da preservação da maior quantidade possível de estrutura coronária e
radicular, principalmente do terço cervical, para a obtenção do efeito férula, otimizando o
comportamento biomecânico destes dentes (Juloski et al., 2012). Quando todos estes fatores
são alcançados, obtém-se uma harmonia entre dente e restauração, resultando em um
prognóstico mais favorável a longo prazo.
No que diz respeito à altura e ao formato da férula, encontra-se uma ampla variedade
bibliográfica, porém não se tem uma opinião unânime quanto à altura mínima de
remanescente coronário necessário para se conseguir um efeito férula real. Stankiewicz e
Wilson (2002) sugeriram que uma altura de 1,5mm de remanescente coronário seja suficiente
para se obter o efeito férula, enquanto que Sorensen et al. (1990) consideraram eficaz uma
férula de no mínimo 2mm de remanescente coronário. Creugers et al. (2005) encontraram
desempenho significativamente melhor em dentes possuindo a partir de 1mm de altura de
remanescente coronário e mais de 75% de paredes circunferenciais.
Muitas vezes não é possível se obter uma férula com altura uniforme, o que resulta em
uma menor resistência à fratura em determinados locais e no conjunto da restauração quando
comparada a uma altura uniforme de pelo menos 2mm (Tan et al., 2005; Hou et al., 2013).
Porém, Juloski et al. (2012) concluíram que dentes sem uma altura de férula uniforme ainda
foram mais resistentes do que dentes sem férula, e concordaram com Naumann et al. (2006)
que sugeriram que no mínimo 2mm de férula deveriam ser obtidos pelo menos nas paredes
lingual e vestibular, devido a mastigação resultar em forças maiores no sentido vestíbulolingual do que no sentido mésio-distal.
Em relação ao tipo de retentor intrarradicular, Creugers et al. (2005) não encontraram
diferença significativa na longevidade das restaurações dentre os variados tipos de retentores.
Para aqueles autores, assim como para Fokkinga et al. (2007) e Lima et al. (2009), a altura do
remanescente dentinário possibilitando o efeito férula tem uma maior relevância no que diz
respeito à sobrevivência a longo prazo da restauração. Porém, somente a ferulização não é
suficiente para garantir longevidade à restauração, pois ela atua conjuntamente com outros
fatores que devem ser adequadamente planejados, como o núcleo de preenchimento (Lima et
al., 2009). Para Pereira et al. (2006), os pinos pré-fabricados de fibra apresentam fraturas mais
favoráveis enquanto que os metálicos fundidos apresentam fraturas mais catastróficas.
O trabalho de Mezzomo et al. (2003) sugere que quando um retentor intrarradicular é
cimentado com cimento resinoso, a férula não se mostra tão importante quanto em situações
de uso de cimentos não adesivos, como o fosfato de zinco, o qual nesta pesquisa apresentou
maior resistência à fratura quando o efeito férula foi obtido. Estes autores também observaram
que a férula influenciou no formato de fratura, sendo mais oblíqua quando presente a férula e
mais vertical quando na ausência da férula.
Em dentes com a presença de férula, devido a sua maior resistência adesiva e
capacidade de transferir tensões de tração na interface da coroa/dentina, o cimento resinoso
teve um desempenho superior em comparação ao fosfato de zinco (Ma et al., 2009) e ao
ionômero de vidro modificado por resina (Schmitter et al., 2010) quando utilizado na
cimentação de coroas totais.
Quando não é possível o preparo de uma férula devido à ausência de estrutura
dentinária, Stankiewicz e Wilson (2002) concordaram com Shillingburg et al. (1997),
indicando a cirurgia de aumento de coroa clínica ou extrusão ortodôntica como meios para a
obtenção de altura dentinária suficiente para a obtenção de um efeito férula. Do ponto de vista
de Gegauf (2000) e Meng et al. (2007), o aumento cirúrgico da coroa clínica apresenta uma
desvantagem em relação à extrusão ortodôntica: o aumento na relação coroa/raiz, causado
pela redução do comprimento da raiz e o aumento do comprimento da coroa. Na extrusão
ortodôntica, o aumento na relação coroa/raiz é menor, pois não há aumento no comprimento
da coroa, e por isso ela deve ser considerada, ao invés da cirurgia de aumento de coroa
clínica.
O conjunto dos artigos revisados demonstrou que a presença de uma férula tende a
gerar um efeito positivo na longevidade do complexo dente/restauração, tendo levado em
conta queos demais procedimentos endodônticos e restauradores tenham sido executados
adequadamente.
CONCLUSÕES
Esta revisão de literatura sugeriu que:
- Uma férula de pelo menos 2mm de altura aumenta significativamente a resistência à fratura
de dentes tratados endodonticamente.
- Um dente que possui uma férula com circunferência completa é mais resistente à fratura do
que um que possui uma férula apenas com circunferência parcial, o qual por sua vez é mais
resistente à fratura do que um dente sem férula.
- O retentor intrarradicular não parece apresentar influência significativa no aumento da
resistência à fratura de dentes tratados endodonticamente, entretanto a presença de uma férula
tem influência significativa no aumento da resistência à fratura destes dentes.
- Quando não há estrutura coronária remanescente, é indicada cirurgia de aumento de coroa
clínica ou extrusão ortodôntica para a confecção de um preparo com férula, sendo preferível a
realização de extrusão ortodôntica à cirurgia de aumento de coroa clínica.
REFERÊNCIAS
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