Ana Duarte, nº3, 11ºB 24/04/2020 Pág. 247 do manual 1. Faça a caracterização do interior e do exterior do Ramalhete. A habitação dos Maias, localizada em Lisboa, mais precisamente na rua de S. Francisco da Paula, no bairro das Janelas Verdes onde era conhecida por Casa do Ramalhete, possuía no exterior paredes severas, um renque de varandas de ferro no primeiro andar, e por cima janelas pequenas em fila “tímida” perto do telhado, com uma sineta e uma cruz no topo; em alusão ao nome, havia um revestimento em azulejos a fazer de painel no lugar de um escudo heráldico de armas que nunca fora colocado, e que tinha um ramo de girassóis atado por uma fita onde eram visíveis letras e números de uma data. Os portões estavam cheios de teias de aranha; no fundo, a seguir a um terraço, tinha um quintal oculto, cheio de ervas selvagens com uma estátua de Vénus Citereia pelo meio. Embora estivesse desabitado durante largos anos, e ganhara tons de degradação e ruína, o seu interior manifesta o bom gosto, o requinte e a riqueza da família: «disposição apalaçada», «tetos apainelados», «paredes cobertas de 'frescos'». 2. Demonstre que é recorrente a referência a elementos ou a aspetos que apontam para o carácter trágico deste espaço, explicitando o seu valor simbólico. Todo o historial do Ramalhete está carregado de símbolos trágicos, sobretudo porque aquelas quatro paredes já haveriam testemunhado “tantos desagouros domésticos” (linha 58). É precisamente por essa razão que se carrega nos elementos que provam a degração da casa, nomeadamente “aspeto tristonho de residência eclesiástica” (l. 7); “colégio de Jesuítas” (l. 9); ou melhor, “Longos anos permanecera o Ramalhete desabitado, com teias de aranha pelas grades dos postígios térreos, e cobrindo-se de tons de ruína.” (ll. 13-14) e “(…) e o Ramalhete possuía apenas (…), um pobre quintal oculto, abandonado às ervas bravas, com um cipestre, um cedro, uma cascatazinha seca, um tanque entulhado, e uma estátua de mármore (…) enegrecendo a um canto na lenta humidade das ramagens silvestres.” (ll 21-25). Tudo isto aludindo ao visível abandono e descuido da propriedade. De referir, também, um elemento no interior, os panos brancos em cima dos móveis do escritório de Afonso, que fazem lembrar as mortalhas em que se embrulham os mortos. 4. Justifique o número reduzido de elementos desta família, considerando o seu conhecimento da obra. É do meu saber, que futuramente na obra, Pedro da Maia irá se apaixonar por Maria Eduarda, que é a sua irmã, e de que a história não terá um desfecho propriamente positivo (mortes de Afonso e Pedro) contribuindo para a redução dos elementos da família; como dizem as linhas 47 e 48, “Os Maias eram uma antiga família da Beira, sempre pouco numerosa, sem linhas colaterais, sem parentelas- e agora reduzida a dois varões (…)”. 5. Clarifique o papel do narrador na descrição do Ramalhete. Sendo heterodiegético e assumindo uma atitude sobretudo, de observação, é também omnisciente, sabendo tudo sobre as personagens: o seu passado, presente e futuro, bem como os seus sentimentos e desejos mais íntimos. Porém, perspetivar a diegese (conceito que diz respeito à dimensão ficcional de uma narrativa) de acordo com uma determinada focalização não é só ver a diegese por certos olhos; é tomar em relação a ela uma posição afetiva e/ou ideológica. Constituirse-á assim uma imagem particular da história, configurada pela subjetividade da personagem que a perspetiva.