1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA Licenciatura em História História da Antiguidade I Docente: Brian Gordon Lutalo Kibuuka Aula 2 - Epigrafia A linha entre fontes documentárias e epigráficas no mundo clássico é turva na melhor das hipóteses. Por causa da propensão greco-romana para esculpir importantes leis ou decretos em pedra ou bronze para exibição pública, inscrições desempenharam um papel importante na manutenção de registros. É difícil saber distinguir os critérios para saber que categorias de textos eram originalmente inscritos e publicados na forma de manuscrito, e quais eram inscritos em pedra ou metal. Craterus, um macedônio que trabalhava no começo do terceiro século a.C. reuniu decretos oficiais, agora quase inteiramente perdidos, em oito livros. Por isso, o que era imprescindível divulgar e conservar eram separados dos documentos em materiais mais perecíveis. Por isso, há mais informações sobre práticas epigráficas antigas do que sobre a mecânica de manutenção de registros em outras mídias. Isso ocorre porque a pedra tem muito mais probabilidade de durar do que qualquer pedaço de papiro ou pergaminho, ou uma tábua de madeira. A disponibilidade também é um problema que é diferente das inscrições. Como vimos, o acesso a arquivos manuscritos no mundo antigo parece estar sujeito a restrições. A epigrafia, em contraste, geralmente indica o desejo de compartilhar material com o maior número possível de pessoas. A maioria das inscrições do Mundo Antigo foi projetada para visibilidade pública. Porém, deve-se ter em mente que “visibilidade” e “legibilidade” não são necessariamente sinônimos. Fatores semelhantes podem se aplicar igualmente à construção de inscrições clássicas. As inscrições podiam ter motivação religiosa, tendo eventualmente funções informativas e/ou performativas. A acessibilidade geral das inscrições também é um aspecto relevante, pois um historiador antigo podia viajar para o local em que estavam expostas as inscrições. Porém, as inscrições não ficavam necessariamente onde eram colocadas. As inscrições também podiam sofrer reciclagens, ou poderia haver alguma outra interferência no registro epigráfico. Cícero parece ter tentado adquirir as inscrições que registraram o seu embaraçoso exílio de Roma, e Clódio, seu inimigo, parece ter se oposto a isso. Outro problema era a falsificação. Essa era uma possibilidade da qual os historiadores antigos estavam cientes. Há um comentário feito por Heródoto sobre uma inscrição falsa em Delfos. Os comentários de outros historiadores mostram uma sofisticação semelhante. Por exemplo, o historiador do quarto século a.C., Teopompo de Quios, cujas obras incluíram uma história da Grécia em 12 livros, de 411 a.C. até a batalha de Cnidos em 394 a.C.; e uma História de Filipe em 58 livros centrados em Filipe II da Macedônia, denuncia uma inscrição particular registrando um tratado (provavelmente a muito debatida “Paz de Cálias”) como uma invenção posterior, sob o argumento de que ela não estava inscrita no alfabeto local que era usado pelos atenienses até o fim do quinto século a.C.; porém, estava no alfabeto jônico, que eles adotaram oficialmente em 403 a.C. Acontece que o argumento de Teopompo não está certo: é possível que o texto que ele viu seja uma reescritura de um original anterior. No entanto, a sutileza metodológica que ele demonstra aqui deixa clara a atitude crítica que os historiadores da Antiguidade poderiam exibir aos dados à sua disposição. A utilidade potencial da evidência das inscrições para o historiador em exercício é clara. Porém, a preocupação com inscrições poderia ser facilmente retratada como excessiva ou vagamente cômica. Políbio critica Timeu por causa disso. Pólemon de Ilíum, um escritor estóico sobre geografia do início do século II a.C., atraiu o apelido de stelokopas (glutão por estelas, as pedras nas quais as inscrições eram frequentemente colocadas). Essas brincadeiras demonstram que tal entusiasmo existiu. Referências: PITCHER, Luke. Writing Ancient History: An Introduction to Classical Historiography. Londres: I. B. Tauris & Co. Ltd., 2009, p. 54-57.