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revista-qs2019

Propaganda
Nova oportunidade
Agressores podem ser reintegrados
à sociedade com menor risco de
cometer o mesmo crime
Um passo à frente
39305 – Quebrando Silêncio 2019
Adote medidas
para proteger
as crianças nos
ambientes
religiosos
VOLTA POR CIMA
Bruna
Designer
Editor
C.Qualidade
Embora deixe marcas profundas, é possível superar
o trauma causado pelo abuso sexual infantil
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Depto. Arte
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GRITOS SILENCIOSOS
POR MARLI PEYERL
E
O ASSUNTO É
SENSÍVEL, MAS
PRECISA SER
DEBATIDO, POIS
É URGENTE
2
scuto com frequência os relatos de
pessoas que, durante a infância,
sofreram algum tipo de abuso,
seja na escola, igreja ou dentro do
próprio círculo familiar, ambientes em que as crianças e adolescentes
deveriam estar protegidos. Os índices
relacionados a esse tipo de violência
têm aumentado de maneira assustadora, e não podemos ficar indiferentes
a eles. Segundo uma pesquisa divulgada pelo Fundo das Nações Unidas
para a Infância (Unicef) em novembro
de 2017, 15 milhões de garotas de 15 a
19 anos haviam sido forçadas a fazer
sexo, sendo que 60% delas tinham
passado por isso no ano anterior à
pesquisa.
Quando nos deparamos com esse
quadro, o grande drama é saber que
por trás desses números encontramse vítimas indefesas que estão sendo
MARLI PEYERL é educadora e coordenadora da campanha Quebrando o
Silêncio na América do Sul
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16 O
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Fotos: © Nichizhenova Elena | Adobe Stock / Victor Trivelato
EDITORIAL
marcadas por dor e sofrimento, e colhendo
inúmeros problemas, como baixa autoestima, depressão, ansiedade, pânico e isolamento social.
Para que esses índices diminuam e os
direitos das crianças e adolescentes sejam
garantidos, é preciso educar a população. E
isso poderá ocorrer se famílias e instituições
religiosas, educacionais e sociais se unirem
com o objetivo de instruir as novas gerações a se protegerem e mostrar onde buscar
ajuda. Esse apoio pode ser oferecido, por
exemplo, por meio da realização de palestras e debates sobre a temática, além da
distribuição de revistas como esta.
Com o objetivo de descobrir se as crianças e adolescentes se tornaram vítimas,
é necessário observar mudanças de comportamento e verificar se eles apresentam
algum atraso no desenvolvimento físico,
emocional ou intelectual. O pedido de
ajuda deles pode vir também por meio
de um familiar, colega ou mesmo professor.
Acima de tudo, é preciso estar atento, pois
os agressores costumam ser pessoas conhecidas da vítima e, muitas vezes, pertencer
ao núcleo familiar. Tudo isso aumenta o
drama da pessoa violentada, pois ela sofre
sem saber onde pedir ajuda. Ela tem medo
de as consequências de sua história se tornarem conhecidas.
Diante desse cenário, o projeto Quebrando o Silêncio não poderia deixar de
debater sobre um assunto tão sensível, mas
urgente. Por isso, preparamos uma edição
especial para não apenas falar do problema,
mas principalmente apresentar ações de prevenção, evitar o aumento do número de vítimas e dar acolhimento
a fim de prestar suporte
àqueles que carregam
feridas ainda não cicatrizadas.
QUEBRANDO O SILÊNCIO
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Editores
Projeto
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Foto de
SUMÁRIO
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O psicólogo que superou um trauma
de violência na infância e hoje ajuda
outras vítimas
2 EDITORIAL
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4 ENTREVISTA
Advogada explica como denunciar
casos de violência contra crianças
6 ATIVE SEU SISTEMA DE ALARME
Saiba como identificar
o abuso infantil
14 ALÍVIO PARA
A DOR
O trabalho
de ONGs que
restauram
histórias
de vida
20 QUADRO SOMBRIO
Como as escolas
devem lidar com
a violência sexual
quando ela bate à
porta
16 O MAL QUE RONDA
Livro ajuda famílias
em crise a restaurar o
casamento
24 A HISTÓRIA QUE
O SAGRADO
Fotos: © Nichizhenova Elena | Adobe Stock / Victor Trivelato
23 FELIZES PARA SEMPRE?
39305 – Quebrando Silêncio 2019
rianmas,
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8 RESGATE DE SI MESMO
NINGUÉM CONTA
Abusos também
ocorrem em
ambientes
religiosos
O que pode ser
feito para recuperar
agressores e evitar a
reincidência?
Bruna
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Editor
Casa Publicadora Brasileira
Edição Especial • 2019
Rodovia Estadual SP 127, km 106
Editores: Jefferson Paradello e Wendel Lima
Projeto gráfico: Eduardo Olszewski
Designer: Bruna Ribeiro
Foto de capa: Pakiwa | Adobe Stock
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Caixa Postal 34; CEP 18270-970 – Tatuí, SP
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C.Qualidade
a reprodução total ou parcial de matérias deste
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PROTEÇÃO COMEÇA EM CASA
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4
O
lar deveria ser um local de
referência em segurança
e cuidado para crianças e
adolescentes. Porém, nos casos
de violência sexual é geralmente
na privacidade do ambiente doméstico
que ocorre o abuso.
Um balanço realizado a partir
de ligações efetuadas em 2017 para
o Disque 100, serviço brasileiro de
recebimento de denúncias, constatou
que 62% dos atos de violência
contra menores foram praticados por
familiares, na residência da vítima ou
na dos acusados.
Em outros países sul-americanos,
a situação se repete. Na Argentina,
por exemplo, dados do governo
coletados em 2016 revelaram que
75% dos abusos sexuais contra
crianças e adolescentes foram
cometidos por um familiar.
Diante desse cenário, a advogada Luíza
Teixeira, chefe do escritório do Fundo das
Nações Unidas para a Infância (Unicef)
na cidade de Manaus, no Norte do Brasil,
explica como esse tipo de violência pode
ser denunciado.
O que caracteriza o abuso sexual
infantil?
É a violência sexual em que menores
são usados para estimular ou satisfazer
sexualmente um adulto, com ou sem o uso
de violência, e com ou sem contato físico.
Diferentemente da exploração sexual,
o abuso sexual não tem gratificação
(monetária ou não) do abusador para a
vítima. Contudo, esse crime configura
uma grave invasão à sexualidade e à
integridade física e mental da criança
ou adolescente, violando assim o direito
deles a um sadio desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social.
Foto: Divulgação | UNICEF Brasil
A MAIORIA
DOS CASOS DE
VIOLÊNCIA
SEXUAL
ACONTECE
NO AMBIENTE
FAMILIAR.
REPRESENTANTE
DO UNICEF
NO NORTE
DO BRASIL
EXPLICA COMO
DENUNCIAR O
ABUSO
QUEBRANDO O SILÊNCIO
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Foto: Divulgação | UNICEF Brasil
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O problema parece complexo para se
resolver.
Sim. O abuso sexual tem causas diversas
atribuídas a uma série de fatores sociais,
culturais e econômicos. Por isso, o
combate requer uma resposta abrangente
que leve em conta a complexidade desse
crime.
Para tanto, é preciso ter uma
abordagem que envolva outros órgãos
públicos e atores sociais e que promova
a ideia de que os direitos das crianças
e dos adolescentes devem ter absoluta
prioridade para a família, a sociedade e
o governo. Nesse sentido, a prevenção
requer, primeiramente, a correta
compreensão desse problema, por meio de
diagnósticos, pesquisas e dados.
E o que pode ser feito quanto à
prevenção?
É preciso divulgar informações
qualificadas sobre o abuso sexual contra
meninas e meninos, a fim de educar e
sensibilizar a sociedade sobre a necessidade
de combater esse crime. Além disso, é
necessário trabalhar pela mobilização de
diversos setores do governo e sociedade a fim
de que os direitos das crianças e adolescentes
sejam garantidos e protegidos de qualquer
violação. E, ainda, é preciso fortalecer o
sistema de responsabilização para combater
a impunidade e garantir o atendimento
adequado às vítimas. No entanto, para que a
prevenção seja bem-sucedida, é fundamental
que os menores participem de todas as
etapas do processo, para que conheçam seus
direitos e possam reivindicá-los.
Quais autoridades devem ser
informadas quando o abuso ocorrer?
As entidades de proteção à criança
ou a polícia devem ser imediatamente
informadas. São elas que darão
o encaminhamento para efetivar
a denúncia. Vale lembrar que
qualquer pessoa que suspeite ou tome
conhecimento de um caso de violência
sexual tem a obrigação de acionar
esses órgãos. Isso vale, inclusive,
para educadores, líderes religiosos,
profissionais de saúde e familiares.
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Existem políticas públicas com o
objetivo de prevenir esse tipo de crime?
O Brasil foi pioneiro ao elaborar um
importante instrumento legal voltado
à garantia dos direitos das crianças e
adolescentes: o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), em 1990. É um marco
legal histórico e o ponto de partida para
a promoção, elaboração e execução de
políticas públicas voltadas à prevenção
de crimes como o abuso sexual contra
crianças e adolescentes.
Por sua vez, o Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente
(Conanda), criado pela Lei 8.242/1991, é
o principal órgão do sistema de garantia
de direitos previsto pelo ECA. Cabe a
ele aprovar documentos que norteiem
as políticas públicas nessa área, como
o Plano Nacional de Enfrentamento
da Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes, de 2014.
A prevenção é um dos eixos do plano,
que preconiza o envolvimento das
diferentes mídias em campanhas sobre
a temática, o fortalecimento da rede
familiar e comunitária e a inserção das
escolas nessas mobilizações.
PRINCIPAIS CANAIS DE DENÚNCIA
Brasil: Disque 100 e aplicativo Proteja Brasil
(gratuito, 24 h, todos os dias)
A rgentina: 0800-222-1717 (gratuito, 24 h,
todos os dias)
Chile: 800 730 800 (de segunda a sexta-feira,
das 9h às 18h)
Paraguai: telefone (147) e aplicativo Fono
Ayuda (gratuito, 24 h, todos os dias)
Uruguai: Línea Azul 0800 5050 (gratuito)
Bolívia: Línea 156 (gratuito, 24 h, todos os dias)
Peru: Línea 100 (gratuito, 24 h, todos os dias)
Equador: 1800 DELITO (opção 4) ou ECU 911
Bruna
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C.Qualidade
Depto. Arte
QUEBRANDO O SILÊNCIO
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5
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GUIA
Ative seu sistema
de alarme
1 Saiba com quem a criança está e o que
O MEDO PODE LEVAR UMA
CRIANÇA A SOFRER CALADA
DENTRO DE CASA. ENTENDA
COMO IDENTIFICAR SE ELA É
VÍTIMA DE ABUSO SEXUAL
fazem enquanto estão juntos
PA B L O CA N A L I S
PABLO CANALIS é psiquiatra com especialização em Medicina
da Família
e se ela repentinamente não quer
2 Desconfi
estar perto de alguém conhecido
Observe se há uma mudança repentina de
3comportamento,
sem causa aparente, como
irritação e choro
6
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Ilustrações: Paulo Vieira
P
ode ser que a infância, uma das fases
mais belas da vida, esteja sendo roubada
pela violência sexual contra alguma
criança que você conhece. Trata-se de
uma situação complexa de identificar:
há aquelas que falam, demonstram ou tentam dizer, de alguma forma, o que vivenciam.
Outras, no entanto, calam-se diante do medo
das consequências que podem se tornar reais
caso seu sofrimento seja exposto.
O abuso sexual infantil é um fator de risco
que pode levar à depressão, ansiedade, pânico,
isolamento social ou transtorno da personalidade. Por isso, é preciso ter um diálogo aberto
com as crianças, manter-se atento a esses sintomas e pronto para agir rapidamente, sempre
com amor e cuidado. Atente para as orientações a seguir.
Com um tratamento adequado, ela tem muitas
chances de superar o trauma
o que
os
Pode ser que a criança esteja com medo de lhe
contar o que está vivendo
6 Em caso de suspeita, investigue a situação
9 Ame, proteja, escute e se coloque
ao lado da criança
Bruna
Designer
Editor
Ilustrações: Paulo Vieira
a de
como
7 Marque uma consulta com um psicólogo infantil.
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8 Se o abuso for confirmado, não se desespere.
C.Qualidade
4 Perceba se a criança se isola, se alimenta de
maneira diferente, tem pesadelos e passa a
urinar e defecar na cama à noite
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5 Nunca desconsidere o que ela compartilha com
Depto. Arte
você, ainda que por meio de desenhos
QUEBRANDO O SILÊNCIO
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C O M P O RTA M E N T O
P
O ABUSO SEXUAL APRISIONA E AFETA A
AUTOESTIMA E A IDENTIDADE DA VÍTIMA.
CONHEÇA A HISTÓRIA DE UM PSICÓLOGO
QUE SUPEROU ESSE DRAMA E HOJE AJUDA SEUS
PACIENTES A FAZER O MESMO
Foto: © Kevin Carden | Adobe Stock
PA B L O A L E
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QUEBRANDO O SILÊNCIO
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Foto: © Kevin Carden | Adobe Stock
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P
ablo (nome fictício) me olha fixamente e fala com a segurança de
quem conhece o assunto. Poucos
imaginam que por trás de seus olhos
azuis, intensos e inquietos, se esconde
uma história tão terrível. Suas palavras fluem,
cristalinas, rápidas, numa enxurrada de letras
que disputam entre si para serem ouvidas. Há
muito a ser dito.
Quando gesticula, tenta tornar as ideias
mais claras. Mas isso não é necessário. O
relato é real e contundente por si só: “Fui
abusado sexualmente desde os quatro anos
por um amigo da minha família. Na adolescência, outra pessoa fez o mesmo. Minha
vida foi um inferno. Não tinha paz em lugar
nenhum. Na escola, eu sofria bullying de
todos por ter um jeito diferente dos demais
garotos. Apanhava e minhas professoras
nem percebiam. E eu não me defendia”,
desabafa.
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ESTATÍSTICAS PREOCUPANTES
“Isso é outro dos motivos que geram abuso: você não
se sente digno. E esse sentimento de indignidade o leva a
pensar: ‘Se alguém abusa de mim, e os demais me batem,
é porque eu mereço.’ E isso acaba crescendo: ‘Se alguém
próximo, que supostamente deveria me cuidar, abusou de
mim, então por que um estranho na escola não faria o
mesmo?’ E foi isso que aconteceu comigo. Cresci com uma
autoimagem totalmente distorcida, e também não tinha
clara a minha orientação sexual. Isso era muito notável,
e assim foi até o início da vida adulta.”
Essa é a história de Pablo, um cristão que hoje pode
contar sobre esse capítulo de sua vida com segurança e
paz. Graduado em Psicologia, exerce a profissão há mais
de 20 anos. Hoje, como pai de família ele se sente feliz.
No entanto, seu caminho foi mais longo do que isso.
“Como cristão, eu culpava a Deus por tudo o que acontecia comigo. Estava zangado com Ele. Minha aflição era
tão forte que busquei uma fuga no que, equivocadamente,
achava que me traria paz. Abandonei a fé e me refugiei
no álcool e nas drogas. Comecei a ter um estilo de vida
totalmente livre, inclusive no aspecto sexual”, detalha.
“Isso trouxe consequências. Por exemplo, fui contagiado
com HIV e provoquei um verdadeiro desastre em meu
corpo e minha vida.”
Quando lhe pergunto se essa fuga ajudou a conter sua
dor, ele responde com precisão: “Sim, momentaneamente.
Você curte por um momento, e no outro dia se sente
vazio, sem nada... Com a mesma culpa, com o mesmo
ódio, pois era assim que eu vivia, com ódio de tudo e de
todos: daqueles que abusaram de mim, da vida, de Deus.
No entanto, Ele fez um milagre em mim. Não foi instantâneo, mas gradual.”
Hoje Pablo está convencido de que tudo o que viveu e
suportou pôde ser direcionado para o bem. E reforça que
isso o ajuda no tratamento que oferece a seus pacientes
que foram vítimas de abuso. Sua triste experiência com
esse tipo de violência acabou contribuindo no seu preparo
profissional.
Os números assustam. Cerca de
300 milhões de crianças no
mundo vivem em situação de violência
e
15 milhões de mulheres
entre 15 e 19 anos já foram vítimas de
abuso, segundo dados do relatório “Uma
Situação Habitual: Violência na Vida de
Crianças e Adolescentes”, elaborado pelo
Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef), em 2017. Esses números fizeram
com que a questão da violência contra
a criança, incluindo a sexual, entrasse
na nova Agenda Global de Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável 2030,
Foto: © Photographee.eu | Adobe Stock
elaborada pela ONU.
10
♦ O abuso que você sofreu ocorreu em um ambiente
familiar. Em geral, é nesse contexto que acontece esse
tipo de violência?
♦ Sim, na maioria dos casos. O abusador de menores
age dentro do círculo familiar e raramente é um estranho que passa pela rua. Seja na América Latina ou em
outras partes do mundo, a violência ocorre no ambiente da
criança. O abusador a conhece e a manipula emocionalmente.
No meu caso foi assim. Ele me dava coisas e prometia outras.
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SILÊNCIO QUE MATA
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É um mecanismo muito perverso, porque o agressor faz
você se sentir especial. Tão especial que faz o que quer
com você. Assim, a vítima chega a pensar: “Sou especial,
porque fui escolhido entre outros.” Isso também faz a
vítima pensar que é cúmplice do abuso, como se tivesse
culpa em ter atraído a atenção para si.
♦ Então há uma inversão de papéis?
♦ Sim, e isso nos atormenta por muito tempo. Além do
ressentimento e da raiva, a culpa é o pior sentimento
que fica após o abuso.
♦ Que consequências psicológicas decorrem de um
abuso? Como isso repercute no êxito ou fracasso na
vida adulta?
♦ As consequências são muitas e terríveis. Não se pode
generalizar porque, como seres humanos, somos diferentes e únicos. Porém, em geral, o abuso pode gerar
baixa autoestima e distúrbios, como depressão e problemas sexuais. Meninos e meninas também tendem a
reagir de forma distinta. Ao crescer, o caminho mais
próximo para um garoto abusado é a homossexualidade
e o vício em drogas; e para uma garota é a dificuldade
de formar uma união estável ou de não conseguir viver
com prazer sua sexualidade.
♦ O que os pais podem fazer para prevenir o abuso
sexual infantil?
♦ Falando sobre esse problema e a questão da culpa. Eu
também culpei meus pais pelo que aconteceu comigo.
Eles não perceberam o que sofri e isso me marcou. Por
um lado, questiono por que não cuidaram de mim, mas
por outro entendo que dificilmente desconfiariam de
alguém próximo, em quem confiavam.
Por isso, os pais devem criar vínculos com os filhos,
nutrindo um ambiente de confiança, para que eles sempre abram o coração. Muitas vezes, a criança não sabe
o que estão fazendo com ela e pode chegar a contar
isso de forma indireta. Certa vez, tive um caso no consultório em que uma menina dizia: “Meu tio me faz
palavras más.” A professora a corrigiu e lhe disse: “Não
se diz me faz, e sim me diz.” Porém, investigaram e era
como a menina dizia: o tio fazia coisas más com ela.
♦ Se isso ocorre, o que fazer?
♦ Cuidar da vítima é a primeira providência. É necessário levá-la a um centro especializado, ainda que o
abuso não tenha envolvido contato físico. Um adulto,
por exemplo, que sente prazer em ver uma criança
nua também é um abusador, mesmo que não lhe
tenha tocado. Isso não é normal. É perverso sentir
prazer tocando ou vendo o corpo de uma criança.
Depois de cuidar da vítima, os pais precisam denunciar o abusador, por mais difícil que seja acusar um
familiar ou amigo próximo. No entanto, é preciso
enfrentar o problema e afastar o abusador.
♦ Como é possível superar um abuso?
♦ O importante é pensar não apenas a partir de uma
perspectiva psicológica, mas espiritual. Há angústia e
tristeza que contaminam todas as dimensões do ser.
Por isso, se agregarmos o aspecto espiritual, tudo
muda. A saída é espiritual. E por onde passa? Pelo
perdão. Assim é possível viver uma vida cheia de paz.
O perdão é incompreensível e grandioso. Mais do que
uma palavra, é uma atitude; é dar-se conta de quem
é verdadeiramente seu inimigo.
Durante muito tempo, culpei a Deus e Lhe perguntei
onde Ele estava quando tudo isso me acontecia. Para
mim, teve efeito curativo pensar que Deus sofria mais
do que eu. E sofria mais porque Ele podia impedir, mas
o permitia por alguma razão que eu desconhecia. Anos
mais tarde, compreendi que estamos imersos em um
grande conflito cósmico entre o bem e o mal. Quem
me feriu não é mais que um instrumento nas mãos do
diabo. Sei que é difícil entender, mas meu abusador
também necessita de ajuda e pode ser restaurado. Se
Deus me perdoou por tudo o que fiz como pecador,
também pode perdoar meu abusador. E, com a ajuda
divina, eu também posso fazer isso.
Pablo continua me olhando fixamente. Ele se emociona, chora e sorri, quase tudo ao mesmo tempo. O
caminho percorrido causou-lhe marcas profundas.
Hoje, essas marcas são medalhas de vitórias. Graças
a elas e a Deus, podem resgatar outros desse inesperado e injusto abismo que é o abuso sexual infantil.
Não consigo continuar olhando para ele sem que
uma lágrima caia. Seu relato é comovente. “Se me
perguntar se essa tragédia pode ser superada, eu digo
que sim, pode ser superada.” Seu sim é um sim pleno,
contundente. Parte de quem sabe o que diz.
PABLO ALE é jornalista, pastor e mestre em Literatura. Ele trabalha como
editor de revistas na Asociación Casa Editora Sudamericana, em Buenos Aires,
Argentina
QUEBRANDO O SILÊNCIO
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Bruna
Designer
Editor
C.Qualidade
Depto. Arte
REALIDADE
Os abusos sexuais
contra crianças não
são frequentes.
REALIDADE
São, sim. Segundo dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS),
divulgados em 2016, uma em cada cinco
mulheres e um em cada 13 homens
declararam haver sofrido abuso
sexual na infância.
Aplicados de forma adequada
para cada idade, os programas
educativos, em vez de deixá-las
com medo, ajudam as crianças a
desenvolver habilidades a fim de
MITO
se protegerem dos agressores
Crianças muito
de maneira eficaz.
pequenas não precisam
saber sobre o abuso sexual
porque teriam medo do
assunto.
MITO
MITO
REALIDADE
As crianças que
sofreram abusos sexuais
se tornam adultos
agressores.
Isso ocorre em uma
proporção muito pequena e nos
casos em que o menor não recebeu
tratamento. Por causa desse mito, muitos
adultos que foram violentados temem falar
da sua experiência, pois imaginam que
possam ser vistos como possíveis
abusadores.
MITO
REALIDADE
Os agressores têm um
perfil comportamental
específico, geralmente são
pessoas mais isoladas.
Qualquer pessoa pode ser
um abusador. Tanto homens como
mulheres, heterossexuais ou homossexuais,
pessoas neuróticas, psicóticas ou perversas. Não
existe um perfil de personalidade específico nem testes
que detectem quem agrediu ou tem potencial de abusar
sexualmente de uma criança. Isso dificulta a prevenção,
pois o abusador costuma ser uma pessoa próxima e de
confiança da família, alguém cujo comportamento
social (que se vê) não revela sua conduta
sexual (que não se vê).
12
REALIDADE
As crianças
mentem e inventam
quando falam que
foram abusadas.
Não está claro se as crianças mentem
mais que os adultos. Ao contrário, as crianças
são mais transparentes e sinceras. Em verdade, elas
aprendem a mentir quando crescem. Por outro lado, as
crianças pequenas não têm maturidade nem habilidades
cognitivas necessárias para inventar e sustentar uma
mentira complexa. Menos ainda poderiam fazê-lo
frente a profissionais de saúde mental treinados
para avaliá-los. No entanto, existe uma
porcentagem de denúncias desse tipo
que são falsas.
MITO
Os abusos sexuais
ocorrem contra crianças
de famílias socialmente
vulneráveis.
REALIDADE
O problema atinge todos os estratos
socioculturais. O que ocorre é que os
casos de abuso em classes sociais mais
altas são subnotificados e têm menor
visibilidade na mídia.
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Foto: © Photographee.eu – Fotolia
MITO
REALIDADE
Ao contrário, utilizam
estratégias de persuasão e
manipulação como jogos, mentiras e
ameaças. Essas táticas podem incluir
desde a compra de presentes até
mesmo a organização de
atividades especiais.
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MITO OU REALIDADE?
MITO
Os agressores usam
a força física para abusar
sexualmente das
crianças.
cp
Viva com
amor
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Segredos da Vitória no Amor
ERONILDES DE NICOLAS
Mais do que apenas um livro, esta é uma valiosa orientação psicológica para ajudar
você a alcançar êxito no amor. Para o autor, as pessoas que experimentam a derrota
na vida é porque geralmente estão fracassando também nos relacionamentos.
Elas têm dificuldade para dar e receber afeto. Por isso, é preciso aprender a amar.
E alguns dos segredos estão neste livro.
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Amores que Matam
MIGUEL ÁNGEL NÚÑEZ
A violência contra a mulher é um problema que tem atingido praticamente todas
as classes sociais. Não importa se ela é física ou psicológica, os danos são terríveis
e podem se tornar irreversíveis se não forem tratados em tempo. Este livro surge
num momento oportuno, pois aborda questões como a violência doméstica, os
mitos sobre o agressor e a mulher agredida e o papel que a igreja deve assumir
com respeito ao assunto.
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nças
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S O C I E DA D E
Alívio
para a dor
CONHEÇA O TRABALHO DE ONGS
QUE AJUDAM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
SEXUAL A SE RECUPERAREM DOS
TRAUMAS DA INFÂNCIA
JÉSSICA GUIDOLIN
14
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A
infância é uma fase de grandes
descobertas, alegrias e desenvolvimento. Entretanto, tudo isso é roubado quando a violência impera,
aproveitando-se da fragilidade e
inocência das crianças, e levando-as a colecionar amargas memórias.
Por isso, os casos que são denunciados para
as autoridades precisam de intervenção: dos
órgãos públicos competentes e, muitas vezes,
do trabalho complementar das Organizações
Não Governamentais (ONGs) especializadas.
Uma delas é o Centro Regional de Atenção
aos Maus-Tratos na Infância (Crami), locaQUEBRANDO O SILÊNCIO
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NOVA HISTÓRIA
Contudo, memórias amargas
podem ser substituídas por um ciclo
de recomeço. É o caso de Júlia (nome
fictício), que há alguns anos recebeu suporte do Dedica. Entretanto,
seu sofrimento não foi denunciado,
e sim observado até chegar ao tratamento. Na época, a jovem de 25
anos de idade tinha dois filhos – um
de 14 e outro de 12 –, o que revela
que ela engravidou pela primeira vez
aos 11 anos.
Sua história veio à tona porque um
de seus filhos foi internado no Hospital de Clínicas. Porém, no momento
da alta, Júlia entrou em desespero e
não parava de chorar. A reação dela
chamou a atenção da equipe médica,
que solicitou uma avaliação. Os profissionais descobriram que desde os
sete anos de idade Júlia era violentada pelo padrasto.
Seu desespero era o pedido de
ajuda de alguém que era escravizada
sexualmente e com o consentimento
da própria mãe. Sem poder frequentar a escola, Júlia não foi alfabetizada
e seus filhos também sofriam violência psíquica e física. Mesmo submetidos a tamanha crueldade, eles
conseguiram reconstruir a própria
vida com a ajuda da Dedica.
“Esse caso foi muito especial porque, desde a primeira conversa que
tivemos, ela entendeu toda a situação,
e a partir daí fez todas as denúncias
que eram possíveis. Foi uma história
muito emocionante para nós. Hoje
ela tem uma vida digna”, pontua a
médica Luci Pfeiffer.
PREVENÇÃO NECESSÁRIA
Por outro lado, há entidades que
investem em medidas para evitar que o
abuso aconteça. No Peru, a Save
the Children, organização presente
em mais de 120 países, incluindo a
Bolívia, atua em três frentes: eliminar
a violência contra meninos e meninas;
assegurar que estejam matriculados
em uma escola; e garantir que participem ativamente da sociedade. Um
de seus projetos está ligado à prevenção da gravidez na adolescência. Em
outra região do território peruano, a
ênfase está na prevenção da violência sexual, por meio de conscientização quanto aos riscos para crianças
e adolescentes tanto no mundo real
quanto no virtual.
“Trabalhamos muito com as
famílias e a comunidade. Nosso
objetivo é chegar a eles antes que
o abuso seja cometido. Em nossa
experiência, se os adultos são informados sobre os riscos de deixar as
crianças sozinhas durante todo o dia
ou de deixá-las ter acesso à internet sem falar dos riscos de alguém
tentar seduzi-las, isso minimiza
os resultados negativos”, assegura
Maria Villalobos, diretora da Save
the Children no Peru.
A maioria dos casos atendidos
pela ONG é de meninas e garotas
adolescentes que não receberam
orientação preventiva a respeito de
abuso sexual na escola, em casa ou
na comunidade. É a partir desse
perfil de vítimas em potencial que
a entidade desenvolve metodologias
de prevenção.
“Independentemente do tipo de
projeto que façamos, queremos
que as crianças tenham protagonismo e conheçam seus direitos.
Quando não se sabe quais são seus
direitos, é mais fácil que pisem
em você e o manipulem. Porém,
se você conhece seus direitos, terá
ferramentas para se proteger”,
garante Maria.
JÉSSICA GUIDOLIN é jornalista (com colaboração
do jornalista Deyler Vásquez)
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r
lizada em Campinas (SP), Brasil, que
atende 270 famílias por ano.
As crianças abusadas sexualmente
recebem o acolhimento de assistentes sociais, psicólogos e educadores, que também dão suporte aos
familiares para a restauração dos
vínculos. A duração do tratamento
varia entre um e cinco anos.
Outra entidade que compartilha o
mesmo objetivo é o programa Dedica
(Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente), localizado em Curitiba,
capital do Paraná, no Sul do Brasil.
Estabelecida em 2004 por uma equipe
voluntária de médicos, hoje a entidade
está ligada à Associação de Amigos do
Hospital de Clínicas da Universidade
Federal do Paraná, oferece atendimentos diários e interdisciplinares para
vítimas de violência grave/gravíssima,
com o apoio de psicólogos, psiquiatras, pediatras, assistentes sociais e
outros especialistas.
A médica Luci Pfeiffer, criadora e
coordenadora da iniciativa, explica
que as crianças e adolescentes são
encaminhados ao ambulatório e passam por uma avaliação, assim como
suas famílias, a fim de diagnosticar o
tipo de violência e o nível de gravidade.
Na sequência, é determinado o tratamento a ser aplicado à vítima e ao
agressor. “Em mais de 80% dos casos
que recebemos aqui, os agressores
foram vítimas de violência gravíssima
em sua infância, e não receberam tratamento adequado. Nossa maior contribuição é impedir que essas crianças
que hoje são vítimas, amanhã sejam
pais agressores também”, sublinha.
Em 2017, mais de 93% dos casos
que passaram pela equipe eram de
violência intrafamiliar, em que a
criança foi refém de seus agressores. “Desse tipo de abuso, atendemos desde violência psíquica até a
sexual”, informa a pediatra.
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R E L I G I ÃO
O mal
que ronda o
sagrado
A violência sexual também
ocorre em ambientes religiosos.
Saiba como as comunidades
de fé podem se envolver na
proteção das crianças
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HE R ON S A N TA N A
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O mal que os homens praticam sobrevive
a eles. O bem quase sempre é sepultado com
eles.” No texto da peça teatral Júlio César, do
poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare, a frase acima faz parte do discurso
do imperador Marco Antônio, nas escadarias do Senado
Romano, em frente ao corpo de Júlio César, assassinado a facadas pela conspiração de Brutus e Cassius.
A máxima parece extrapolar a ficção e se personificar
na realidade deste mundo em que a violência e o mal
são expressões de que algo de errado e muito grave está
enraizado na vida humana.
É o caso dos indicadores de violência sexual. Os dados
mostram que as crianças estão no epicentro dessa tormenta. Por exemplo, o estudo “Violência contra Crianças e Adolescentes – Percepções Públicas no Brasil”, da
ONG cristã Visão Mundial, em parceria com a empresa
de pesquisa Ipsos, apontou o Brasil como o país mais
violento contra crianças e adolescentes, em comparação
com outras 13 nações da América Latina.
A pesquisa foi realizada em 2017 e ouviu mais de
6 mil pessoas. Abuso físico e psicológico, trabalho
infantil, casamento precoce, ameaça on-line e violência
sexual fazem parte de uma lista trágica que corrompe
a infância nessa região do mundo.
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Quanto à percepção dos entrevistados sobre a violência, 13% dos brasileiros disseram que enxergam
como alto o risco de uma criança sofrer esses tipos
de abuso no país; índice maior que os 11% dos mexicanos e 10% dos peruanos e bolivianos. Um recorte
do estudo também chama a atenção: os ambientes de
risco. De acordo com os entrevistados, o espaço público
(52%) oferece maior risco para crianças e adolescentes,
seguido do lar (21%), da escola (13%) e dos ambientes
religiosos (3%).
PROFANAÇÃO
Merece reflexão esse último dado apontado pelo
estudo latino-americano da Visão Mundial. A explosão
de denúncias na imprensa sobre abusos contra menores,
envolvendo líderes religiosos, indica que os ambientes
de culto também precisam da atenção e vigilância de
seus frequentadores. Quem reforça esse alerta é a advogada Maíra Vida, conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), na seccional Bahia. Ela também
é presidente da Comissão de Combate à Intolerância
Religiosa na OAB-BA.
Maíra pontuou que o problema deve ser maior do
que o que se tem conhecimento e lamenta que existam poucos estudos sobre esse tipo de violência no
contexto religioso. Por sua atuação na OAB-BA, Maíra
tem recebido denúncias de mulheres que sofreram abuso
sexual de babalorixás, pastores e líderes religiosos de confissões diversas. Para ela, o problema da violência sexual
é interconfessional. Porém, Maíra entende que poucas
denúncias envolvendo comunidades religiosas são notificadas, talvez, por causa do que ela chama de “temor reverencial” (leia o quadro “Proteja as ovelhas dos lobos”).
Sua fala lembra a obra Microfísica do Poder, do
teórico social Michel Foucault, para quem a humanidade se tornou escrava não apenas das instituições
políticas, mas de outras formas de poder, sem que a
maioria das pessoas tenha preparo para o exercício
do poder. Também transita pela teoria apresentada no
livro O Poder Simbólico, do sociólogo Pierre Bourdieu:
se o poder está em toda a parte, quando o assunto é
abuso de poder, é necessário saber descobri-lo onde
ele se deixa ver menos, onde ele é mais completamente ignorado, sendo exercido com a cumplicidade
daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos
ou mesmo que o exercem.
“Em qualquer templo você encontra o irmão. Portanto, cria-se a ideia de que aquele seja um ambiente
familiar, de confiança. Contudo, podemos acabar desconsiderando que as pessoas trazem para o ambiente
religioso as experiências de vida”, reflete Maíra. “Para
mim, parece que há até a negação veemente de que
esse problema possa ocorrer no ambiente religioso,
pois se pressupõe que haja ali a presença de Deus.
Para alguns, é difícil imaginar que nesses espaços
também se cogite o mal e possa haver a manifestação da crueldade, do ódio e da violência que estão
no indivíduo”, conclui.
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HERON SANTANA é jornalista
OPRESSÃO OU LIBERTAÇÃO?
Fontes: “Violência doméstica: uma cartilha para mulheres, técnicas e técnicos do poder público e lideranças religiosas” (Umesp, 2018) e pesquisa “Violência
doméstica e familiar contra a mulher” (DataSenado, 2017)
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A religião ajuda ou atrapalha no combate à violência sexual, especialmente contra as mulheres? Por vezes, o discurso e as estruturas das instituições
religiosas são usados para legitimar alguns tipos de violência contra a mulher ou para, no mínimo, favorecer o silenciamento delas. Negar, por exemplo,
que abusos ocorram nos círculos religiosos, não denunciar agressores, culpar as vítimas ou tratar a violência doméstica como um problema privado, no
qual não “se põe a colher”, são posturas que reforçam a cultura da violência.
Por outro lado, uma religiosidade saudável serve de impulso para quebrar o ciclo de violência, desenvolver resiliência e esperança e recuperar a própria autoestima. Comunidades religiosas podem ser muito importantes também no acolhimento das vítimas, dando a elas um senso de pertencimento.
Um estudo do Instituto de Pesquisas do Senado do Brasil mostrou que, em 2015, 7% das mulheres agredidas entrevistadas buscaram apoio na igreja,
sendo que, em 2017, esse número subiu para 19%. Essa demanda mostra também a necessidade de líderes religiosos serem preparados para atuar como
agentes de prevenção e combate à violência sexual.
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na Igreja Batista de Capitol Hill, em Washington (EUA), apresenta dez sugestões com base em seus estudos e experiência. Apesar de essas orientações
virem de um contexto evangélico e norte-americano, sua aplicação pode
ser mais ampla, servindo para outras regiões do mundo e grupos religiosos.
TREINAR VOLUNTÁRIOS
FECHAR O CERCO
ATENTE PARA ESPAÇOS
ISOLADOS
Preparar pessoas para fazer
bem seu trabalho em programas
e ministérios que envolvam crianças é algo muito importante. Precisa
estar claro para os novos voluntários
e os veteranos o que se espera deles.
A maioria dos abusadores presume que não terá que prestar contas. Por isso, verificar antecedentes
criminais de novos membros e de
voluntários pode ajudar a intimidar quem estiver mal-intencionado.
Idealmente, a construção do
templo deve valorizar a funcionalidade e a segurança de seus usuários. Portanto, avalie se os espaços
utilizados para as atividades infantis
não favorecem o isolamento.
Esse procedimento cria uma
“cerca” ao redor dos pequenos,
permitindo que eles fiquem em
segurança até que sejam devolvidos aos pais.
CRIAR E IMPLEMENTAR UMA
POLÍTICA DE PROTEÇÃO
INFANTIL
TER UM PLANO DE
RESPOSTA AO ABUSO
CONHECER QUEM
FREQUENTA A IGREJA
CONHECER SUA
COMUNIDADE
São diretrizes autoimpostas
pela comunidade religiosa que
indicam como ela pretende proteger as crianças que estão sob
seus cuidados. As crenças de que
abusos não ocorrem em ambientes “seguros”, como os religiosos,
ou de que todos ali se conhecem,
podem tornar a comunidade mais
vulnerável.
A comunidade religiosa precisa discutir previamente como
lidar com um caso de abuso sexual
infantil, o que envolve oferecer
acolhimento para a vítima e a
família, denunciar e fazer os devidos encaminhamentos em relação
ao agressor e talvez responder aos
questionamentos da imprensa e
vizinhança.
Abusadores sexuais podem se
valer do fato de que templos religiosos geralmente são espaços de
livre acesso. Por isso, é importante
que mesmo aqueles que não são
membros da comunidade recebam alguma espécie de acompanhamento, como cadastro no
registro de visitantes ou sejam
visitados no lar.
Os líderes religiosos devem procurar estabelecer um relacionamento
próximo com profissionais, órgãos
públicos e ONGs que lidam com a
questão na cidade ou bairro. Dessa
maneira, além de um trabalho de
cooperação com essas entidades, caso
essas instituições precisem ser acionadas num eventual abuso infantil,
um contato direto pode ser feito.
GARANTIR O APOIO DE
TODOS OS LÍDERES
CONSCIENTIZAR E
CAPACITAR OS PAIS
Proteger as crianças precisa
estar no topo das prioridades da
comunidade. Se isso for levado a
sério, a liderança destinará recursos e voluntários para essa finalidade, bem como pensará em protocolos para cuidar do ministério
infantil.
Conscientizar os pais sobre a
responsabilidade que eles têm de
mentorear espiritualmente os filhos
e protegê-los. Orientar os pais a respeito de como falar sobre sexualidade e prevenção, além de estabelecer vínculos significativos com os
filhos, é fundamental nesse processo.
IMPOR UM PROCESSO DE
CHECK-IN E CHECK-OUT DAS
CRIANÇAS
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QUEBRANDO O SILÊNCIO
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Líderes e comunidades religiosas podem ajudar a proteger as crianças
ao deixarem a postura meramente reativa para assumirem uma agenda
proativa de prevenção. Nessa direção, o pastor norte-americano Deepak
Reju, doutor em Teologia e líder do ministério de aconselhamento familiar
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E D U CAÇÃO
Foto: © Africa Studio | Adobe Stock
A VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL
TAMBÉM BATE À PORTA DAS
ESCOLAS. ENTENDA COMO AS
INSTITUIÇÕES DE ENSINO PODEM
PREVENIR ESSE PROBLEMA E
LIDAR COM ELE
ALEXIS VILLAR
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ATENÇÃO CONSTANTE
O fato é que a violência sexual infantil também bate à porta da escola. Ao longo dos vários
anos de jornada acadêmica, é no ambiente escolar que crianças e adolescentes passam uma parcela significativa do dia. É nesses espaços, nos
quais circulam centenas e milhares de pessoas
diariamente, que educadores, gestores, pais e
alunos devem estar atentos para possíveis incidências de abuso.
Como em qualquer outra realidade, em casos
de maus-tratos no contexto educacional, a prioridade é a proteção integral da criança. Não
cabe à unidade educacional determinar quem
são os responsáveis pelo abuso, pois essa tarefa
compete aos órgãos públicos. Porém, é responsabilidade da escola identifi car a violência e
solicitar a intervenção de equipes profi ssionais
especializadas no assunto.
Contudo, há diversas maneiras de identificar
uma situação de abuso. Às vezes, é a própria
criança que detalha o ocorrido. Em outros casos,
é necessário estar atento aos sinais de maustratos, como mudanças de comportamento, lesões
e atraso no desenvolvimento físico, emocional ou
intelectual da criança. É preciso observar também se a vítima não tem tentado pedir ajuda para
professores e/ou colegas, se tem usado roupas
mais compridas para esconder partes do corpo
ou se os responsáveis legais dela dão indícios de
negligência no cuidado da criança.
O QUE FAZER?
É importante observar o aluno em diferentes
momentos e situações, como em sala de aula, na
prática de esportes e no recreio. Atentar para
sua aparência e fisionomia, bem como para seu
modo de se relacionar com colegas, professores
e familiares. Se o abuso ocorrer na instituição
educacional, é importante ouvir o relato com
atenção, sem interromper nem julgar; registrar as informações para não esquecer os detalhes; se quem relata é a criança, não perguntar
detalhes do abuso, caso ela não compartilhe
mais informações; averiguar o relato e intervir, tomando as medidas cabíveis; e comunicar
o ocorrido para as autoridades e órgãos competentes. Na sequência, é importante prestar
auxílio à família no encaminhamento legal do
caso e direcionar a criança para um atendimento psicológico
Hoje existe a necessidade concreta e inevitável
de se estabelecer um protocolo* a ser seguido
em caso de supostos crimes contra a integridade
sexual e maus tratos de crianças e adolescentes.
Portanto, cada unidade escolar ou a rede da qual
ela faz parte deve elaborar isso, bem como treinar seus funcionários e gestores para que o apliquem. O delicado equilíbrio de direitos em jogo
e a relevância do bem jurídico protegido exigem
o maior esforço da instituição para que crimes
dessa natureza sejam definitivamente erradicados
da sociedade.
Para ajudar a diminuir os índices de violência
neste ambiente, o colégio também pode oferecer
palestras e debates regulares sobre o assunto, a
fi m de conscientizar e proteger a comunidade
escolar.
*Este artigo foi escrito com base no “Protocolo de Atuação Diante
de Situações de Violência, Maus-Tratos ou Abuso”, da rede educacional
adventista na Argentina
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ALEXIS VILLAR é jornalista
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H
á uma voz interior que deseja gritar aos
quatro ventos, porém não pode. Não se
sabe como fazê-lo. Sente vergonha. Sente
culpa. Ninguém a compreende. A violência sexual infantil é uma epidemia silenciosa,
como todo abuso. Alguém manda, o outro escuta.
Alguém ordena, o outro obedece. Alguém abusa,
o outro é abusado. A história pode ter diferentes
versões. Contudo, as vítimas costumam ser as
mais fracas, como as crianças.
De acordo com a psicóloga Andrea Regalado,
professora da Universidade Adventista del Plata,
na Argentina, “o abuso sexual infantil é o resultado da conjunção de uma série de fatores. Não
há um fator causal único. Por isso, a melhor ferramenta é a prevenção. Desde pequeno, respeitando
a maturidade dela, deve-se falar com a criança
sobre sexualidade”.
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PESADO DEMAIS?
SUGESTÕES QUE
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PODEM AJUDAR VOCÊ
Livro
Como sair da depressão
PROVA PDF
O tratamento da depressão é geralmente feito com
medicamentos, mas o doutor Neil Nedley usa uma
nova abordagem. Essas informações certamente
trarão esperança aos que sofrem com esse mal
tão comum. Você vai vibrar com a proposta de
“cura em 20 semanas” que já trouxe alívio a
tantas pessoas. Sem dúvida alguma, você desejará
compartilhar este livro com seus familiares e
amigos que estão querendo descobrir Como
Sair da Depressão.
Sensação de inutilidade. Autoestima baixa. Culpa ilegítima. Incapacidade de perdoar. Amargura e ressentimento. Essas batalhas são travadas na mente de milhões de pessoas,
incluindo os cristãos. Elas fazem parte do conflito entre Cristo e Satanás: a disputa pelo
coração e a mente de cada um. A boa notícia é que você pode ser vitorioso nessa
batalha. Equipado com as ferramentas apresentadas neste livro, você pode cooperar
com Deus para alcançar o bem-estar mental e obter vitória espiritual.
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Felizes para sempre?
Livro apresenta soluções para famílias em crise
E
m média, 14 anos é o tempo
de duração de um casamento
no Brasil, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE). De cada três
casais que prometem estar juntos na
saúde e na doença, até que a morte
os separe, um acaba se divorciando.
Enquanto alguns casamentos terminam, espalhando feridas emocionais
entre cônjuges e filhos, outros continuam, como se marido e mulher
insistissem em morar numa área
de risco, prestes a desabar. Diante de
tantos casais infelizes e pessoas
machucadas por relacionamentos
abusivos, existe alguma esperança
para os casamentos, além de um fim
doloroso ou o prolongamento melancólico de um sofrimento suportável?
Redação
Embora a vida real não se encaixe
em fórmulas prontas e soluções de
Designer
consultório, Willie e Elaine Oliver
acreditam que toda família tem
jeito. Essa é a mensagem principal
CQ
que os autores apresentam no livro
Esperança Para a Família, lançado
Marketing
em 2019 pela Casa Publicadora
Brasileira (CPB), editora da Igreja
Adventista no Brasil. A obra terá
uma tiragem que ultrapassará os
22 milhões de exemplares em português e espanhol, e será distribuída gratuitamente em oito países da
América do Sul.
O otimismo dos autores não é
ingenuidade de um casal imaturo.
Na verdade, é resultado de mais de
30 anos de uma união marcada por
desafios e realizações, entre eles a
educação de dois fi lhos. Além da
experiência de vida, o casal soma
muitas horas de estudo dedicadas ao
tema. Willie é formado em Teologia,
com mestrado em Aconselhamento
Pastoral e doutorado em Sociologia da Família. Elaine é educadora
com mestrado na área de Aconselhamento Psicológico e cursa o
doutorado em Psicopedagogia. Nos
Estados Unidos, eles apresentam o
programa Real Family Talk, na TV
Hope Channel, e são colunistas da
revista Message.
Com o livro Esperança para a
Família, Willie e Elaine desejam
compartilhar experiências pessoais
e de outros casais que renovaram o
amor e o respeito em meio a situações difíceis. De acordo com a
Bíblia, as turbulências familiares
acompanham a humanidade desde
que o primeiro casal se desentendeu (Gn 3). Porém, assim como
o Criador apontou o caminho da
restauração naquele momento, Ele
continua fazendo isso por meio de
Sua Palavra. Esse é o alicerce em
que os autores sustentam as orientações práticas ao longo do livro.
Livro terá distribuição gratuita e tiragem superior
a 22 milhões de exemplares. A versão digital da
obra está disponível em livro.esperanca.com.br
Um dos pontos que se destacam
é a necessidade de aprimoramento
na comunicação. De acordo com
Willie e Elaine, marido e mulher
precisam superar os padrões reativos de diálogo para exercer uma
forma de comunicação misericordiosa. Os autores afi rmam que
diante de qualquer ofensa feita
por um dos cônjuges, o outro sempre terá a oportunidade de parar,
pensar e escolher a resposta certa:
“Aquela que acalmará o problema,
em vez de jogar lenha na fogueira”
(p. 51).
Embora a comunicação seja
importante, para se sustentar o casamento é preciso algo mais do que
palavras. Por isso, os autores argumentam que os casais devem ser leais
ao plano divino de construir uma
união exclusiva de respeito e fidelidade (p. 31). Willie e Elaine acreditam que, diante das crises na vida
a dois, a solução não é buscar um
novo relacionamento, mas criar
um casamento renovado.
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GUILHERME SILVA é editor de livros na CPB
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R E C U P E R AÇÃO
A historia oue n
ALÉM DO ENCARCERAMENTO,
QUE MEDIDAS PRECISAM
SER ADOTADAS PARA QUE
O ABUSADOR NÃO VOLTE A
COMETER O MESMO CRIME?
ROSTO
ROSANA ALVES
E
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ntre tantos aspectos do abuso sexual que
precisam ser cada vez mais esclarecidos,
não há como ignorar a importância de
se falar sobre o abusador, embora haja
quem defenda que não se deve pensar
nele, a não ser em sua punição prevista
em lei. Porém, para encarar a violência, é preciso
buscar respostas para algumas perguntas: qual
é o perfil do abusador? Há tratamento para ele?
Sua vida pode ser restaurada?
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Antes de tudo, é preciso considerar que existem, basicamente, dois
tipos de molestadores de crianças
e adolescentes: o preferencial e
o ocasional. O primeiro é aquele que
tem atração por menores de idade,
o que é conhecido como transtorno
de preferência sexual (parafilia), e
pode estar relacionado com problemas psicológicos, questões ambientais, ao fato de a pessoa ter sido
vítima de abuso sexual na infância, além de imaturidade emocional e sexual. Por sua vez, o molestador ocasional é aquele que pratica o
crime porque se aproveita da vulnerabilidade da vítima. Infelizmente, tem
crescido o número de adolescentes
que praticam esse abuso.
Quanto ao perfi l psicológico,
estudos indicam uma grande multiplicidade de características dos
agressores, o que descarta a possibilidade de se criar um estereótipo
para esse tipo de abusador. Ou seja,
imaginar que somente pessoas com
transtorno mental ou “bandidos”
coagem menores para obter favores
sexuais está distante da realidade.
Isso explica por que muitas vezes o
abusador é alguém acima de qualquer suspeita, um rosto conhecido
da vítima. O fato de ser alguém
próximo difi culta a denúncia,
prolonga a prática da violência e
agrava as consequências emocionais da vítima.
TRATAMENTO E RECUPERAÇÃO
Quando se trata dos abusadores
preferenciais, aqueles que têm um
transtorno da sexualidade, apenas
a detenção para cumprir pena pelo
delito cometido não é suficiente
para que não se tornem reincidentes. A psicoterapia é indicada para
identificação dos gatilhos (situações que disparam o comportamento abusivo) e para que intervenções sejam feitas com o intuito
de mudança de comportamento.
Dependendo do perfil psicológico
ou da existência de um transtorno
mental, a medicação adequada
também deve ser prescrita.
É comum o abusador preferencial ter uma imagem distorcida
sobre o próprio delito. Às vezes,
ele considera que estava apenas
dando carinho para a criança ou
adolescente ou que sua atitude é
menos grave do que a de outros
abusadores. Por isso, a terapia
em grupo, com histórias diferentes sendo contadas, é uma estra-
tégia que costuma ser eficaz para
confrontar as justificativas dos
molestadores.
Para aqueles que são abusadores situacionais, além da detenção, é necessário verifi car se o
molestamento aconteceu sob
efeito de drogas ou de forma violenta. Dessa maneira, as intervenções são pensadas com base
nas motivações do crime e na
forma em que ele ocorreu. Nos
Estados Unidos, o programa de
recuperação de infratores do
Havaí é considerado um dos
mais efi cientes do país. Uma
das técnicas utilizadas é expor
os abusadores às ligações de vítimas de estupro para a polícia. O
objetivo é fazer com que entrem
em contato com o sofrimento de
quem foi violentado.
Outro recurso empregado é
o psicodrama, técnica terapêutica, cuja base é a representação
de papéis. Nessa abordagem,
o abusador assume o lugar da
vítima ou de algum parente dela,
a fi m de exercitar empatia por
quem sofreu tamanha violência.
Experiências internacionais indicam que os tratamentos dirigidos
para os infratores podem diminuir
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significativamente a reincidência. É
o que mostra, por exemplo, o livro
Group Therapy with Sexual Abusers,
de Steven Sawyer e Jerry L. Jennings
(Safer Society Press, 2016). Assim, a
sociedade e o governo precisam realizar esforço conjunto, não somente
para prevenir o abuso, mas também para evitar sua repetição. Além
de denunciar e prender, existe algo
mais a ser feito com o infrator: tentar
recuperá-lo.
PEDOFILIA
Ainda no campo da recuperação
e da busca por ajuda para transtornos sexuais, vale destacar que nem
todo pedófilo é abusador de criança.
Pedofilia tem que ver com a atração
e o desejo pelo contato sexual com
crianças, mas isso nem sempre se
concretiza. Felizmente, a maioria
dos pedófilos mantém o desejo sob
controle, sem contato sexual com
menores. Eles muitas vezes se limitam a consumir pornografia infantil,
o que também é crime.
Muitos dos que sentem desejo
por crianças sofrem por sentir tal
atração ilícita, mas não procuram
ajuda, pois têm medo e vergonha de
ser expostos. A pedofilia é um transtorno muitas vezes acompanhado de
outros, como, por exemplo, a depressão. Assim, é necessária uma abordagem multidisciplinar para recuperar
esses indivíduos.
Outro fator importante nesse
processo é a participação efetiva
26
da família no tratamento. Como
os pedófilos costumam se isolar da
convivência com outros adultos, o
envolvimento dos familiares facilita
o desenvolvimento das capacidades
relacionais e serve de “mecanismo
de controle” quanto ao uso de medicamentos, consumo de internet e
contato com crianças.
O uso da psicoterapia em grupo
também se mostra muito válido,
pois ajuda os pacientes a se reconhecerem nas histórias uns dos
outros e, juntos, reconstruírem
a própria identidade. Contudo,
infelizmente, centros especializados no tratamento desse tipo de
transtorno são quase inexistentes.
Resta, portanto, o atendimento
individual.
Por fim, sempre que existir
sofrimento, deve-se pensar em
solução. Se é possível restaurar
a vida do abusador, por que não
fazê-lo? Aliviar a dor, prevenir e
tratar deve ser o objetivo de todos
que procuram ajudar em situações
tão lamentáveis como a de um
abuso sexual infantil. Para tanto,
mais agentes de esperança e restauração podem ser formados se
trabalharmos com informações
confiáveis e com a disposição de
superar preconceitos.
ROSANA ALVES é pós-doutora em Neurociências
pela Escola Paulista de Medicina (Brasil) e pela
Universidade Marshall (EUA). Ela é presidente do
Neurogenesis Institute, sediado na Flórida
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