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A história de Belo Horizonte-- feira de cultura

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ESCOLA ESTADUAL PAULA DAS GRAÇAS DA SILVA
Turma 97, 7ª série
Iêda Lopes
A história de Belo Horizonte: feira de cultura
Belo Horizonte
Novembro de 2019
HISTÓRIA
A FUNDAÇÃO DA CAPITAL
Antiga Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral.
O Arraial de Curral del Rei (1896)
Até o século XVII, o atual estado de Minas Gerais era habitado por índios do tronco
linguístico macro-jê. A partir desse século, essas tribos foram quase exterminadas pela
ação dos bandeirantes procedentes de São Paulo, que chegaram à região em busca de
escravos e de pedras preciosas.[16]
Na imensa faixa de terras ao largo do Rio das Velhas assenhoradas pelo bandeirante
Paulista Bartolomeu Bueno da Silva (mais tarde Anhanguera II), veio seu primo e
futuro genro, João Leite da Silva Ortiz, à procura de ouro. Ele ocupou, em 1701, a
Serra dos Congonhas (mais tarde Serra do Curral) e suas encostas, onde estabeleceu a
Fazenda do Cercado, base do núcleo do Curral del Rei. No local, desenvolveu uma
pequena plantação e criou gado, com numerosa escravatura.[17] O povoamento aos
poucos foi se firmando, de forma tal que, em 1707, já aparecia citada em documentos
oficiais. Em 1711, a carta de sesmaria foi obtida por Ortiz, com a concessão da área
que "começava do pé da Serra do Curral, até a Lagoinha, estrada que vai para os
currais da Bahia, que será uma légua, e da dita estrada correndo para o rio das Velhas
três léguas por encheio".[18] Conforme trecho da carta de sesmaria, à ortografia da
época, concedida por Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho:[19]
Faço saber aos q'. esta minha Carta de Sesmaria virem q', havendo respto. ao q'. por
sua petição me enviou a dizer João Leyte da Silva, q'. ele suppte., em o ano passado de
1701 fabricou fazenda em as minas no distrito do Rio das Velhas em a paragem aonde
chamão o Sercado, e na dita fazda. teve plantas e criações, de que sempre pagou
dízimos e situou gado vacum, tudo em utelidade da fazenda real e conveniência dos
minros. (…)
Ortiz dedicou-se especialmente ao plantio de roças, criação e negociação de gado,
trabalhos de engenho e, provavelmente, a mineração de ouro nos córregos. O
progresso da fazenda atraiu outros moradores, e um arraial começou a se formar,
tornando-se um dos pontos de concentração dos rebanhos transitados pelo registro das
Abóboras, vindos do sertão da Bahia e do São Francisco para o abastecimento das
zonas auríferas.[20]
Apoiado na pequena lavoura, na criação e comercialização de gado e na fabricação de
farinha, o arraial progrediu. A topografia da região favoreceu o estabelecimento de
uma povoação dada à agricultura e à vida pastoril. Os habitantes deram o nome de
Curral del Rei, por causa do cercado ou curral ali existente, em que se reunia o gado
que havia pago as taxas do rei, segundo a tradição corrente. O arraial contava com
umas 30 ou 40 cafuas cobertas de sapé e pindoba, entre as quais foi erguida uma
capelinha situada à margem do córrego Acaba-Mundo (onde hoje se encontra a
catedral), tendo à frente um cruzeiro e ao lado um rancho de tropas.[21] Algumas
poucas fábricas, ainda primitivas, instalaram-se na região, onde se produzia algodão e
se fundia ferro e bronze. Das pedreiras, extraía-se granito e calcário, e frutas e
madeiras eram comercializadas para outros locais. Das trinta ou quarenta famílias
inicialmente existentes, a população saltou para a marca de 18 mil habitantes.[22][23]
Em 1750, por ordem da Coroa, foi criado o distrito de Nossa Senhora da Boa Viagem
do Curral, então sede da freguesia do mesmo nome instituída de fato em 1718 em
torno de capela ali construída pelo Padre Francisco Homem, filho de Miguel Garcia
Velho. Elevado à condição de freguesia em 1780,[24] mas ainda subordinado a
Sabará, o Curral del Rei englobava as regiões (ou curatos) de Sete Lagoas, Contagem,
Santa Quitéria (Esmeraldas), Buritis, Capela Nova do Betim, Piedade do Paraopeba,
Brumado, Itatiaiuçu, Morro de Mateus Leme, Neves, Aranha e Rio Manso. No centro
do arraial, os devotos ergueram a Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. Com a
extinção dos curatos, a jurisdição do Curral del Rei viu-se novamente reduzida ao
primeiro arraial, com sua população de 2.500 habitantes, que chegou a 4 000
moradores já ao fim do século XIX.[22][23]
O seguinte trecho do relatório enviado à Cúria de Mariana pelo vigário Pe. Francisco
de Paula Arantes, conservada a ortografia, relata a paisagem característica da região à
época:[23]
A Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem de Curral del Rei está situada em campos
amenos na extensa planície de sua serra donde manão imensas fontes de cristalinas e
saborosas águas; o clima da região he temperado; a atmosphera he salutifera; está
circulada de pedras e mais materiais onde se podem fazer soberbos edifícios; a
natureza criou este logar para sua formosa e linda cidade, si algum dia for auxiliada
esta lembrança.
Porém, enquanto Vila Rica, Sabará, Serro Frio e outros núcleos mineradores se
constituíam em centros populosos e ricos, Curral del Rei e sua vocação para o
comércio do gado sertanejo estacionou em seu desenvolvimento, não oferecendo lucro
que fixasse ao solo uma população como a de outros lugares.[25] O apogeu de Ouro
Preto perdurou até o fim do século XVIII, quando as jazidas esgotaram-se e o ciclo do
ouro deu lugar à pecuária e à agricultura, criando novos núcleos regionais e
inaugurando uma nova identidade estadual.[26]
Comissão Construtora no campo de obras
Inauguração de Belo Horizonte, em 12 de dezembro de 1897
A então capital de Minas Gerais, a cidade de Ouro Preto, não apresentava alternativas
viáveis ao desenvolvimento físico urbano, o que gerou a necessidade da transferência
da capital para outra localidade.[27] Com a República e a descentralização federal, as
capitais tiveram maior relevo: ganhava vigor a ideia de mudança da sede do governo
mineiro, pois a antiga Ouro Preto era travada pela topografia. O governador Augusto
de Lima encaminhou a questão ao Congresso Mineiro, que, reunido em Barbacena, em
sessão de 17 de dezembro de 1893, indicou pela lei n. 3, adicional à Constituição
Estadual, a disposição de que a mudança da capital ocorresse para local que reunisse
as condições ideais. Cinco localidades foram sugeridas: Juiz de Fora, Barbacena,
Paraúna, Várzea do Marçal e Belo Horizonte. A comissão técnica, chefiada pelo
engenheiro Aarão Reis, julgou em igualdade de condições Belo Horizonte e Várzea do
Marçal, decidindo-se ao final pela última localidade. Voltou o Congresso a se
pronunciar, e depois de novos e extensivos debates, instituiu-se que a capital fosse
construída nas terras do arraial de Belo Horizonte.[22][23]
O local escolhido oferecia condições ideais: estava no centro da unidade federativa, a
100 km de Ouro Preto, o que muito facilitava a mudança; acessível por todos os lados
embora circundado de montanhas; rico em cursos d'água; possuidor de um clima
ameno, numa altitude de 800 metros. A área destinada à nova capital parecia um
grande anfiteatro entre as Serras do Curral e de Contagem, contando com excelentes
condições climatológicas, protegida dos ventos frios e úmidos do sul e dos ventos
quentes do norte, e arejada pelas correntes amenas do oriente que vinham da serra da
Piedade ou das brisas férteis do oeste que vinham do vale do Rio Paraopeba. Era um
grande vale cercado por rochas variadas e dobradas, com longa e perturbada história
geológica, solos rasos, pouco desenvolvidos, de várias cores, às vezes arenosos e
argilosos, com idade aproximada de 1 bilhão e 650 milhões de anos.[28]
Em 1893, o arraial foi elevado à categoria de município e capital de Minas Gerais, sob
a denominação de Cidade de Minas. Em 1894, foi desmembrado do município de
Sabará. No mesmo ano, os trabalhos de construção foram iniciados pela Comissão
Construtora da Nova Capital, chefiada por Aarão Reis, com o prazo de 5 anos para o
término dos trabalhos. Em maio de 1895, Aarão Reis foi substituído pelo engenheiro
Francisco de Paula Bicalho. Ao 12 de dezembro de 1897, em ato público solene, o
então presidente de Minas, Crispim Jacques Bias Fortes, inaugurou a nova capital. A
cidade, que já contava com 10 mil habitantes em sua inauguração, custou aos cofres
estaduais a importância de 36 mil contos de réis. Em 1901, a Cidade de Minas teve seu
nome modificado para o atual, em virtude da dualidade de nomes, já que o distrito e a
comarca se chamavam Belo Horizonte.
O projeto de Aarão Reis
Projetada pelo engenheiro Aarão Reis entre 1894 e 1897, Belo Horizonte foi uma das
primeiras cidades brasileiras planejadas (algumas fontes a citam como
primeira;[29][30] outras como terceira, após Teresina e Aracaju[31][32] e até a quarta,
sendo Petrópolis a primeira[33]). Elementos chaves do seu traçado incluem uma malha
perpendicular de ruas cortadas por avenidas em diagonal, quarteirões de dimensões
regulares e uma avenida em torno de seu perímetro, a Avenida do Contorno.
A expansão
A expansão urbana extrapolou em muito o plano original. Quando foi iniciada sua
construção, os idealizadores do projeto previram que a cidade alcançaria a marca de
100 mil habitantes apenas quando completasse 100 anos. Essa falta de visão se repetiu
em toda a história da cidade, que jamais teve um planejamento consistente que
previsse os desafios da grande metrópole que se tornaria.[34] A nova capital foi o
maior problema do governo do Estado no início do regime: construída após vencer
muitos obstáculos, ela permaneceu em relativa estagnação devido à crise financeira.
Ligações ferroviárias com o sertão e o Rio de Janeiro puseram a cidade em
comunicação com o interior e a capital do país. O desenvolvimento foi mínimo até
1922.[34]
Praça Sete e Avenida Afonso Pena em 1900.
Vista parcial do centro de Belo Horizonte no início da década de 1930. Em
primeiro plano, a avenida Afonso Pena.
Praça Raul Soares, em 1936, logo após seu ajardinamento. Arquivo Nacional.
Pelas proclamadas virtudes de seu clima, a cidade tornou-se atrativa, especialmente
para o tratamento da tuberculose: multiplicaram-se os hospitais, pensões e hotéis, mas
até 1930 exerceu função quase estritamente administrativa. Foi também na década de
1920 que surgiu em Belo Horizonte a geração de escritores de raro brilho que iria se
destacar no cenário nacional. Carlos Drummond de Andrade, Ciro dos Anjos, Pedro
Nava, Alberto Campos, Emílio Moura, João Alphonsus, Milton Campos, Belmiro
Braga e Abgar Renault se encontravam no Bar do Ponto, na Confeitaria Estrela ou no
Trianon para produzir os textos que revolucionaram a literatura brasileira. Nos anos
1930, Belo Horizonte se consolidava como capital, não isenta de críticas e de louvores.
Deixava de ser uma teoria urbanística para ser uma conquista humana, algo para ser
não somente visto, mas para ser vivido também. Nesta época o município já contava
com 120.000 habitantes e passava por problemas de ocupação, gerando uma crise de
carência de serviços públicos. Necessitava de um novo planejamento para que se
recuperasse a cidade moderna.[34]
Entre as décadas de 1930 e 1940 houve o avanço da industrialização, além da criação
do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, inaugurado em 1943 por encomenda do
então prefeito Juscelino Kubitschek. O conjunto da Pampulha reuniu os maiores
nomes do modernismo brasileiro, com projetos de Oscar Niemeyer, pinturas de
Portinari, esculturas de Alfredo Ceschiatti e jardins de Roberto Burle Marx. Ao mesmo
tempo, o arquiteto Sílvio de Vasconcelos também criou muitas construções de
inspiração modernista, notadamente as casas do bairro Cidade Jardim, que ajudaram a
definir a fisionomia da cidade.
Belo Horizonte, década de 1970. Arquivo Nacional.
Na década de 1950, a população da cidade dobrou novamente, passando de 350 mil
para 700 mil habitantes. Como resposta ao crescimento desordenado, o prefeito
Américo René Gianetti deu início à elaboração de um Plano Diretor para Belo
Horizonte.[35] Na década de 1960, muitas demolições foram feitas, transformando o
perfil da cidade, que passou, então, a ter arranha-céus e asfalto no lugar de árvores.
Belo Horizonte ganhou ares de metrópole. A conurbação da cidade com municípios
vizinhos se ampliou. Ainda neste período, a cidade atingiu mais de 1 milhão de
habitantes. Nessa época, os espaços vazios do município praticamente se esgotaram, e
o crescimento populacional passou a se concentrar nos municípios conurbados a Belo
Horizonte, como Sabará, Ibirité, Contagem, Betim, Ribeirão das Neves e Santa Luzia.
Na tentativa de resolver os problemas causados pelo crescimento desordenado, foi
instituída a Região Metropolitana de Belo Horizonte e foi criado o Plambel, que
desencadeou diversas ações visando a conter o caos metropolitano.[36]
A década de 1980 foi marcada pela valorização da memória da cidade, com a alteração
na orientação do crescimento. Vários edifícios de importância histórica foram
tombados. Foi iniciada a implantação do metrô de superfície. Iniciada em 1984 e
concluída em 1997, a canalização do Ribeirão Arrudas pôs fim ao problema das
enchentes ao centro da capital. Contudo, vários problemas surgiram e alguns
permaneceram. Um deles foi a degradação da Lagoa da Pampulha, um dos principais
cartões-postais da cidade, que se tornara um lago praticamente morto devido à
poluição de suas águas.[37] A cidade foi palco ainda de grandes manifestações
visando a queda da ditadura militar no Brasil, sob a liderança de Tancredo Neves, na
época governador do estado. A fisionomia urbana foi novamente alterada com a
proliferação de prédios em estilo pós-moderno, especialmente na afluente Zona Sul da
cidade, graças à influência de um grupo de arquitetos liderado por Éolo Maia. Na
mesma década, a cidade também passou a ser servida pelo Aeroporto Internacional de
Confins, localizado no município de Confins, a 38 km do centro da capital.[37]
No início da década de 90, a cidade era marcada pela pobreza e degradação, com 11%
da sua população marcada pela miséria absoluta e com 20% das crianças sofrendo de
desnutrição.[39] O restante da década de 1990 foi marcada pela valorização dos
espaços urbanos e pelo reforço da estrutura administrativa do município, com a
aprovação em 1990 da Lei Orgânica do Município e do Plano Diretor da cidade, em
1996. A gestão municipal se democratizou com a realização anual do Orçamento
participativo. O desafio ainda em curso diz respeito ao fortalecimento da gestão
integrada da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que reúne 34 municípios que
devem cooperar entre si para a resolução de seus problemas comuns. Espaços públicos
como a Praça da Liberdade, a Praça da Assembleia e o Parque Municipal, que se
encontravam abandonados e desvalorizados, foram recuperados e a população voltou a
frequentá-los e a cuidar de sua preservação.[37]
Neste início do século XXI, Belo Horizonte tem se destacado pelo desenvolvimento do
setor terciário da economia: o comércio, a prestação de serviços e setores de tecnologia
de ponta (destaque para as áreas de biotecnologia e informática). Alguns dos
investimentos recentes nesses setores são a implantação do Parque Tecnológico de
Belo Horizonte,[40] do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Google para a
América Latina[41][42] e do moderno centro de convenções Expominas.[43]
O turismo de eventos, com a realização de congressos, convenções, feiras, eventos
técnico-científicos e exposições, tem fomentado o crescimento dos níveis de ocupação
da rede hoteleira e do consumo dos serviços de bares, restaurantes e transportes. A
cidade também vem experimentando sucesso no setor artístico-cultural, principalmente
pela políticas públicas e privadas de estímulo desse setor, como a realização de
eventos fixos em nível internacional e o crescimento do número de salas de
espetáculos, cinemas e galerias de arte. Por tudo isso, a cada ano a cidade se consolida
como um novo polo nacional de cultura.[44][45]
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