A CARTOGRAFIA HISTÓRICA NOS CADERNOS DO ALUNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Carla Cristina Reinaldo Gimenes de Sena1 Barbara Gomes Flaire Jordão2 Mário Sérgio Longo Júnior3 1 universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP Campus de Ourinhos [email protected] 2 universidade de São Paulo - USP [email protected] 3 E.E. Parque dos Servidores [email protected] RESUMO Com os avanços decorrentes de novas tecnologias, o estudo do espaço se tornou cada vez mais dinâmico. A cartografia é hoje, além de interdisciplinar no ambiente escolar, cotidiana. Contudo, há saberes que devem ser estudando para compreender o mapa como uma linguagem. É o caso dos mapas históricos, os quais permitem ao estudante perceber e analisar as mudanças geográficas e históricas que refletem na representação do espaço, bem como compreender conceitos cartográficos. Atualmente, quando nos referimos à disciplina de Geografia, os livros didáticos trazem diversas figuras com impressões coloridas, demonstrando um avanço na inserção da Cartografia como metodologia de ensino. Porém, ao contrário do que se esperava, os mapas antigos não aparecem com tanta frequência e quando aparecem não são utilizados de maneira funcional. Dentro deste contexto, encontra-se o material distribuído pela Secretaria do Estado de São Paulo a todas as escolas de rede estadual de ensino. Este trabalho, portanto, analisou a Cartografia Histórica presente nos materiais didáticos de Geografia distribuídos e as metodologias adotadas para sua utilização em sala de aula. Foram feitas entrevistas com professores e alunos da rede estadual. Dentre os resultados, foi comprovada a subutilização desses mapas pela sua escassez no material analisado e pela formação do professor, que acarreta diversos obstáculos à utilização da cartografia histórica como fonte de saber. Palavras chaves: Cartografia Histórica, Ensino de Geografia, Cadernos do Aluno. ABSTRACT With the advancements arising from new technologies, the study of space has become increasingly dynamic. Cartography is today, beyond interdisciplinary the school environment, it is daily. However, there is knowledge that must be studied to understand the map as a language. This is the case of historical maps, which allow students to understand and analyze the geographical and historical changes that reflect the representation of space, as well as understand cartographic concepts. Currently, when we refer to the discipline of Geography, textbooks bring several figures with colored prints, showing an improvement in the insertion of Cartography as a teaching methodology. However, contrary to what was expected, the old maps do not appear so often and when they appear they are not used in a functional way. Within this context, is the material distributed by the Secretary of State of São Paulo to all schools in the state education system. This paper, therefore, examined the Historical Cartography present in Geography textbooks distributed and the methodologies adopted for use in the classroom. Interviews were conducted with teachers and students. Among the results, it was proven underutilization of these maps for their scarcity in the analyzed material and the training of teachers, which creates several barriers to the use of historical cartography as a source of knowledge. Keywords: Historical Cartography, Geography Teaching, Student Books. 1 1. INTRODUÇÃO As representações cartográficas constituem um conteúdo indispensável para o estudo da Geografia voltado para a formação da cidadania. É notável a quantidade de literatura no Brasil, principalmente a partir da década de 1990, que aborda o ensino de Cartografia na sala de aula, seja no Ensino Infantil, Fundamental ou Médio. Fato é que pouco se tem discutido sobre a Cartografia Escolar dentro dos cursos de graduação a fim de que o profissional tenha autonomia intelectual na condução dessa temática em sua prática diária. A falta de um direcionamento das licenciaturas em Geografia para a discussão da Cartografia na educação básica resulta nas dificuldades apresentadas pelos professores ao desenvolver os conteúdos pertinentes à Cartografia exigidos no currículo escolar brasileiro na atualidade, como é o caso dos conteúdos histórico-cartográficos. Ampliando a análise, se percebe que as dificuldades do professor de Geografia não ocorrem apenas pela falta da discussão da Cartografia Escolar, mas por uma deficiência generalizada da formação cartográfica na base das licenciaturas e bacharelados da Geografia. A temática dos mapas históricos sequer chega a fazer parte do plano de aula desses cursos. A Cartografia, tanto como disciplina quanto área de pesquisa, é um constructo social (Almeida, 2010), portanto está sujeita e reflete às mudanças da sociedade. De acordo com Salichtchev (1988) a Cartografia pode ser entendida como “Ciência que retrata e investiga a distribuição espacial dos fenômenos naturais e culturais, suas relações e suas mudanças através do tempo, por meio de representações cartográficas – modelo de imagem símbolo que reproduz este ou aquele aspecto da realidade de forma gráfica e generalizada”. Esta é arte, método e técnica de representação dos espaços geográficos, seja a partir de observações diretas ou indiretas, e seus produtos (mapa, carta ou planta) são utilizados no cotidiano desde a pré-história (Castrogiovanni, 2010). A Cartografia Escolar encontra-se na interface da Cartografia, Educação e Geografia, sendo assim os conceitos cartográficos estão presentes no currículo e deveriam estar nos conteúdos de disciplinas voltadas para a formação de professores, mas foi somente nas duas últimas décadas que a necessidade de sobrepor as falhas na graduação se tornaram motivo de preocupação no Brasil. Nesta etapa, discutem-se medidas paliativas para o professor que atua em sala de aula e que precisa trabalhar com as novas temáticas e tecnologias presentes na sala de aula atual (SENA, CARMO & JORDÂO, 2013). Aparecendo no currículo escolar tardiamente e de maneira elitista o estudo da Cartografia acarreta prejuízos trazidos com a própria Geografia: “No que se refere às mudanças e reorientações políticas e econômicas ocorridas no espaço brasileiro, elas motivaram a inserção da Geografia como disciplina escolar no currículo do ensino secundário brasileiro em 1837, com a criação do colégio Pedro II, visando auxiliar a burguesia nacional a entrar nos cursos superiores existentes no Brasil na época” (Oliveira, 2010, p.8). Foi somente em 1913, que o livro Geographia do Brasil de Carlos Miguel Delgado de Carvalho ousou ao utilizar os mapas, devido aos reflexos no Brasil do movimento republicano e o liberalismo em voga no mundo. Mesmo assim o uso de mapas era muito restrito devido ao alto custo de publicação de imagens nos livros didáticos. A década de 1980 marca um rompimento metodológico na configuração do conhecimento geográfico escolar, que passa a ser abordado de forma mais crítica, refletindo nas representações cartográficas que vão abordar o contexto social vivido pelo país na época. O ensino de Geografia e, consequentemente, da Cartografia na escola brasileira passa por avanços e retrocessos. Com a preocupação de sair do tradicionalismo, temas relacionados à Geografia Física e aos princípios da Cartografia foram minimizados no currículo, houve a priorização dos temas da Geografia Humana e do debate sobre as contradições sociais. Porém, na tentativa de aliar as Geografias, muitas publicações colocam os mapas como ilustrações que parecem concorrer em busca de espaço com os textos escritos, sem a preocupação com a escala, legenda correta ou mesmo orientação ou com o conteúdo a ser trabalhado com os alunos. Se a falta de preparo do professor para lidar com a Cartografia convencional em sala de aula já é comprovada por pesquisas como CARMO, JORDÃO & SENA (2013), CARMO (2009), CASTELLAR (1996), NOGUEIRA (1994), entre outros, com a inserção cada vez maior de mapas antigos nos livros didáticos essas dificuldades tendem a se ampliar. A Cartografia Histórica traz representações de situações ocorridas em épocas passadas, e o papel do cartógrafo ou do professor se faz extremamente relevante para a construção social do mapa. Essa aproximação traz diversos obstáculos aos professores que serão discutidos posteriormente. Este trabalho tem como objetivo principal discutir quais contribuições pode ser dado com a utilização de Cartografia Histórica no ensino de Geografia, dentro de uma perspectiva que está atrelada a padronização do ensino através da utilização dos Cadernos do Aluno distribuídos a todas as escolas pela Secretaria da Educação do estado de São Paulo. 2 2. ANÁLISE DOS MAPAS DOS CADERNOS DOS ALUNOS A publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais pelo Ministério da Educação no Brasil ampliou o debate sobre a alfabetização cartográfica e o ensino de Cartografia em geral na escola básica. A partir desse documento e com o barateamento das publicações em cores, os livros didáticos passaram a utilizar cada vez mais mapas em suas edições. A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, lançou no ano de 2008 uma proposta curricular que foi implementada de forma imediata em todas as escolas da rede pública do Estado de São Paulo. Este projeto conta com um material conhecido como os “Caderno do Professor”, uma cartilha confeccionada sob a coordenação de Maria Inês Fini, que dá as diretrizes para a utilização do material do aluno, conhecido como “Caderno do Aluno”. Neste último, há apenas propostas de exercícios. Neste trabalho, propomos empreender a análise da Cartografia Histórica que aparecem nos Cadernos do Aluno do Estado de São Paulo desde o 6oano do Ciclo II até o 3oano do Ensino Médio e discutir a relação entre essa Cartografia utilizada e as práticas em sala de aula que propiciam, ou deveriam propiciar, ao aluno ser agente da construção do saber. Barbosa (2010) justifica: É fundamental que os professores de Geografia trabalhem com cartografia histórica, uma vez que os mapas históricos são fontes iconográficas e possibilitam interpretações das representações dos elementos espaciais mapeados; assim, os alunos compreenderão as mudanças geográficas e históricas por meio da linguagem cartográfica, tão importante quanto às demais linguagens. No total a rede pública de ensino do Estado de São Paulo distribui quatro cadernos do aluno por ano letivo, sendo um a cada bimestre, totalizando, portanto, 24 livros nos sete anos escolares. Foram entrevistados três professores de Geografia da rede estadual de ensino do Estado de São Paulo com o objetivo de relatarem como essas atividades são executadas em sala de aula. Dos cadernos analisados, referentes ao ano de 2012, apenas quatro apresentam em seus conteúdos uma proposta de atividade que envolva a Cartografia Histórica, divididos de acordo com a tabela a seguir: TABELA 1: MAPAS HISTÓRICOS NO CADERNO DO ALUNO DO ESTADO DE SÃO PAULO ANO/SÉRIE VOLUME (Bimestre) QUATIDADE DE MAPAS SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM (Tema) 6oano/5asérie 7oano/6asérie 8oano/7asérie 8oano/7asérie 2 1 1 4 1 5 4 1 O mundo e suas representações. O estudo da formação territorial do Brasil por meio de mapas. O meio natural: o contexto do senhor dos ventos. Perú e México: a herança pré-colombiana. Na apostila do 6oano/5asérie encontra-se uma réplica dos mapas produzidos pelos habitantes das Ilhas Marshall em uma atividade a ser realizada em grupo (Fig. 1). O professor deve, após a análise da figura, pedir aos alunos que elaborem seus próprios mapas utilizando diversos materiais que estão ao seu alcance. Em seguida, pede-se que o aluno reflita sobre o que deverá ser representado. Por fim os alunos devem analisar o mapa do colega a fim de descobrir qual linguagem cartográfica foi utilizada. Nesta situação, podemos perceber que há muito mais do apenas explicar o contexto em que o mapa foi produzido. De maneira adequada, o mapa histórico apresentado, se torna fonte de conhecimento cartográfico, principalmente com relação aos símbolos adotados e o mapa como linguagem não neutra. Em entrevista com professores de Geografia da rede estadual de ensino de São Paulo, este exercício nem sempre é parte do cronograma do professor, pois pede pesquisa e trabalho em grupo. Segundo um dos professores, houve apenas um comentário sobre o contexto histórico e sobre o material utilizado, pois os conteúdos cartográficos serão temas da próxima situação de aprendizagem. Outra dificuldade apontada pelos professores se dá pela dimensão do mapa, por se apresentar de maneira reduzida é pouco explorado pelos alunos, “chama pouca atenção”, ou seja, não é o principal do exercício, apenas um acessório. 2 Fig. 1 – Imagem do caderno do aluno do 6oano/5asérie e a proposta de uso do mapa histórico. Com relação ao caderno do 7oano/6asérie, os mapas são o Planisfério de Ptolomeu (Fig. 2), Planisfério de Wytfliet (Fig. 3), Planisfério de Cantino e o Terra Brasilis (Fig. 4). Embora haja uma maior quantidade de mapas, todos se inserem no contexto de formação do território brasileiro. Portanto, os conceitos de Cartografia neste caso são pouco explorados, dando lugar à compreensão do período pré-colonial e colonial (Fig. 2). Foca-se, sobretudo, na comparação dos territórios e o destaque dos recursos hídricos. Segundo os professores, a contextualização dos mapas é feita, geralmente, com sucesso pelos alunos. Porém, tomando o mapa de Cantino como referência, nenhum dos professores demonstrou saber que se tratava de um mapa transgressor, mostrando pela primeira vez o Brasil e a linha do Tratado de Tordesilhas, já que os portugueses proibiam sua divulgação. Falta a contextualização histórica da Cartografia e que suscita alguns questionamentos: o que seria contextualizar? Somente identificar o período histórico a que se refere, como afirmaram os professores, ou refletir sobre aquilo que esta sendo exposto, sobre as reais intenções do mapa? O mapa nesse caso perde sua significância, os dados apresentados não se transformaram informação visual. Comete-se, portanto, um dos maiores erros da Cartografia: ignorar o fato de que o mapa não possui neutralidade, é produto de um processo de generalização do espaço a ser representado. O Caderno do Professor, que deveria direcionar para reflexões do docente e do discente, apenas relaciona os recursos hídricos do Brasil: No caso do planisfério de Cantino é possível identificar o traço da linha de Tordesilhas que dividiria as possessões das novas terras e as que porventura fossem descobertas pela Espanha e por Portugal. Do novo continente já estão traçados, dentro da previsão da época, o perfil atlântico do Brasil e, de forma bem detalhada, as Ilhas do caribe. Trata-se de uma carta náutica, na qual é possível observar o traço da direção dos ventos em, toda a superfície representada. (SÃO PAULO ESTADO, P. 27). 3 Fig.2 - Planisfério de Ptolomeu, Caderno do Aluno, vol. 1, 7oano/6asérie. Fig. 3 - Planisfério de Wytfliet, Caderno do Aluno, vol. 1, 7oano/6asérie. 4 Fig. 4 - Terra Brasilis, Caderno do Aluno, vol. 1, 7oano/6asérie. Os cadernos do 8oano/7asérie trazem dois momentos do uso da Cartografia Histórica. No volume 1, a proposta é entender o contexto histórico cristão refletido no mapa T-O, na Carta de Ebstorf (Fig. 5) e uma Carta Portulana da Europa, África do Norte e Oriente Médio, representações essas que propõe aos alunos refletirem sobre as técnicas disponíveis para a representação do espaço geográfico conhecido na época. Segundo os professores, seus alunos se interessam principalmente pela riqueza de detalhes na Carta Ebstorf. Um dos professores atenta durante o manuseio do material para a visão oblíqua, ora lateral, ora frontal dos mapas. Entretanto, pela dimensão do mapa há detalhes que passam despercebidos pelo próprio professor, como a orientação a leste por exemplo. Fig. 5 - Carta de Ebstorf, Caderno do Aluno, vol. 1, 8oano/7asérie. No volume 4, aparece o mapa do sítio urbano de Tenochtitlán, mas a proposta de utilização da imagem não traz qualquer discussão sobre cartografia, como mostra a figura 6. 5 Fig. 6. Proposta de atividade com o mapa do sítio urbano de Tenochtitlán, Caderno do Aluno, v. 4, 8oano/7asérie. Diferentemente do que acontece na maioria dos livros didáticos no qual os mapas geralmente aparecem após o texto, ou como ilustração do mesmo, os cadernos do aluno do 8 oano/7asérie, por se tratarem de caderno de exercícios, não acompanham qualquer texto de referência ou contextualização de sua confecção. Mais uma vez, o uso do recurso cartográfico é meramente ilustrativo, ou seja, não se justifica que o mapa com o texto fique preso a ele, bem como somente o mapa seja passível de interpretação. Nesses casos é necessário um diálogo com o estudante e, por isso, o papel do professor se torna essencial. Quando o docente não domina o assunto, o exercício perde sua finalidade. Se a história do homem se confunde com a história da Cartografia, compreender o mapa é entender a história das civilizações. O professor de Geografia tem papel privilegiado ao entender as diversas linguagens que espacializam fenômenos e é sua responsabilidade coordenar a discussão para que os estudantes compreendam como essa espacialização é representada no mapa. Embora, todos os volumes dos cadernos do aluno do Estado de São Paulo possuam pelo menos um mapa, estes se apresentam na maioria das vezes soltos, sem correlação com outras fontes, sobrecarregando o professor. Os mapas históricos são raros em alguns níveis de ensino e inexistentes em outros, como é o caso do Ensino Médio. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A linguagem como objeto de estudo adquiri atualmente posição expressiva por conta de sua ampla utilização considerada um dos elementos estruturadores da vida social e dos conhecimentos. Contudo a linguagem não existe sozinha e concordando com Fonseca e Oliva (2010) quando estes afirmam que “ [...] A linguagem não é um instrumento mecânico de imagens de origem motora e sensorial, muito menos reduz-se a suporte de um pensamentos feito de impulsos cerebrais silenciosos[...]” (p. 62) A leitura de imagens e a utilização de material visual, entre eles o uso da Cartografia Histórica, emergem como uma estratégia privilegiada no processo de ensino-aprendizagem da Geografia. Em contrapartida, este privilégio esbarra na formação deficiente do professor, nos currículos dos Estados e numa política nacional que defende a análise do mapa focada nos elementos básicos (norte, legenda, escala e projeções). Prova disso é que os alunos apontam em mapas históricos os “erros” da Cartografia. Segundo Kantor (2007, P. 7) ao analisar os mapas que retratavam o Brasil como ilha: A história do uso dos mapas na diplomacia internacional é também a história da fixação e difusão de certos erros cartográficos. Contudo, não se pode tomar tais “erros” como “inverdades absolutas”, pelo contrário, sua identificação nos permite entender dinâmicas políticas tanto locais, quanto imperiais. [...] Advogando a tese da intencionalidade dos erros cartográficos para defender a eficácia da diplomacia portuguesa, Jaime Cortesão remarca a importância da cartografia como instrumento jurídico. [...] 6 Em geral, na prática exerce-se o ensino de Geografia baseado em mapas como acessórios de documentos escritos, não desevolve-se, ou melhor não se leva da academia para os alunos (reais consumidores do mapa e também futuros professores e produtores) o mapa como linguagem, como instrumento de poder. Muito mais do que assunto só da Geografia, os mapas históricos buscam a interdisciplinaridade o que dificulta a análise de seus elementos, visto que se pouco professores de Geografia tem acesso a esses materiais, um professor de História e Artes muito menos. São mapas subutilizados, muitas vezes usados como ilustrações de um período histórico. E como vimos com a análise dos mapas supracitados, o que ocorre é que na situação de aprendizagem em que a Cartografia pode ser inserida de maneira efetiva, para além da comparação de períodos históricos, a ação em grupo é subestimada e passa-se apenas com um comentário. Como pensar nesses mapas para serem trabalhados em casa, como tarefa? Ou para trabalhos em grupo, longe do ambiente escolar? Como levar esse mapa histórico para além da sala de aula? Entretanto, ainda que os mapas estejam há muito tempo no centro dos discursos sobre a Geografia, raramente eles são lidos como textos “profundos” ou como formas de saber socialmente construídas. A interpretação dos mapas implica habitualmente o estudo de suas “características geográficas” sem indicar como, enquanto forma manipulada do saber, eles contribuíram para moldar estas características. Certamente, na Geografia Política e História do Pensamento Geográfico, vinculam-se cada vez mais os mapas e o poder, sobretudo nos períodos de história colonial. Mas o papel particular dos mapas, como imagens ligadas a contextos históricos precisos, quase não se sobressai do discurso geográfico no qual eles estão inseridos. Como fazer para que os mapas “falem” dos mundos sociais do passado? Esta é uma pergunta que não tem uma resposta simples, passa pela inserção da Cartografia Histórica e da própria Cartografia Escolar nos cursos de licenciatura e bacharelado em Geografia, para que futuros profissionais tenham condições de, mais do que trabalhar com os mapas nos livros didáticos, avaliar a sua qualidade e potencial no ensino de Cartografia e Geografia da educação básica brasileira. AGRADECIMENTOS Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, R. D. de. (2010). Cartografia Escolar. 2aed. São Paulo: Contexto. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: geografia / Secretaria de Educação Fundamental. . Brasília: MEC/ SEF, 1998. Disponível em <http://geociencias.terapad.com/resources/5043/assets/documents/geografia.pdf> Acesso em: 6 Mar. 2011. BARBOSA, T. O ensino de geografia pela cartografia histórica. Geosaberes. v. 1, n. 2, Dezembro 2010 CASTELLAR, S. M. V. R. – Noção de espaço e representação cartográfica – ensino de geografia nas séries iniciais, Tese de Doutorado. São Paulo, SP: FFLCH – USP, 1996. CARMO, W. R. do. (2010). Cartografia Tátil Escolar: experiências com a construção de materiais didáticos e com a formação continuada de professores. São Paulo. Dissertação (Mestrado em Geografia Física). DG, FFLCH, Universidade de São Paulo - Brasil. CASTROGIOVANNI. A. 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