ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I Versão Online 2009 O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL OSVANIA DE CÁSSIA DELAPRIA NOÇÕES GERAIS SOBRE TABAGISMO MARINGÁ 2010 OSVANIA DE CÁSSIA DELAPRIA NOÇÕES GERAIS SOBRE TABAGISMO Este trabalho faz parte do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, elaborado para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), sob a orientação do Prof. Dr. Celso Ivam Conegero MARINGÁ 2010 2 APRESENTAÇÃO A Unidade Didática, que tem por título Noções Gerais Sobre Tabagismo apresenta uma diversidade de informações que visam auxiliar nas atividades desenvolvidas pelos professores em sala de aula, ao mesmo tempo que contribui para que professores e alunos tenham uma ampla visão da ação do tabaco no corpo e também no ambiente. A proposta é voltada para os alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, no entanto, pode ser adaptada e aplicada em qualquer nível de ensino, principalmente porque a iniciação ao tabagismo acontece, em 80% dos casos, antes dos 20 anos de idade, portanto, esta clientela é a principal vítima da iniciação ao uso do cigarro, visto que quanto mais cedo se experimentam o tabaco maiores as chances de tornarem dependentes. Assim, o tema tabagismo poderá ser mais bem trabalhado, com ações que visem à prevenção do uso e da iniciação do cigarro, pelos adolescentes. 3 SUMÁRIO DADOS DE IDENTIFICAÇÃO 1.INTRODUÇÃO........................................................................................................6 2. HISTÓRICO...........................................................................................................6 3. LEGISLAÇÃO.......................................................................................................9 4. CONVENÇÃO-QUADRO....................................................................................12 5. DATAS ESPECIAIS............................................................................................13 6. SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS DO CIGARRO.......................................................13 6.1 Alcatrão..........................................................................................................14 6.2 Monóxido de Carbono....................................................................................15 6.3 Amônia...........................................................................................................16 6.4 Nicotina..........................................................................................................16 7. DOENÇAS CAUSADAS PELO CIGARRO........................................................19 7.1 Câncer ...........................................................................................................20 7.1.1 Câncer de Pulmão................................................................................20 7.1.2 Câncer de esôfago................................................................................21 7.1.3 Câncer de estômago.............................................................................21 7.1.4 Câncer de Pâncreas..............................................................................21 7.1.5 Câncer bucal.........................................................................................22 7.1.6 Câncer Colorretal..................................................................................22 7.2 Enfisema Pulmonar.........................................................................................22 7.3 Problemas Cardiovasculares...........................................................................23 7.4 Impotência Sexual...........................................................................................24 7.5 Úlcera Péptica.................................................................................................24 7.6 Rugas..............................................................................................................25 7.7 Efeitos do tabaco na saúde da mulher............................................................25 8. EXPECTATIVA DE VIDA DO FUMANTE............................................................27 9. FUMANTE PASSIVO...........................................................................................27 10. ASPÉCTOS SOCIOECONOMICOS RELACIONADOS AO TABACO.............28 11. CIGARRO E MEIO AMBIENTE.........................................................................29 12. NARGUILE.........................................................................................................31 13. REFERÊNCIAS..................................................................................................33 4 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO I- PROFESSORA PDE: Osvania de Cássia Delapria II- ÁREA PDE: Ciências III- NRE: Maringá IV- PROFESSOR ORIENTADOR/IES: Celso Ivam Conegero V- IES VINCULADA: UEM VI- ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: Escola Estadual “Regente Feijó” – Ensino Fundamental II VII- PÚBLICO ALVO DE INTERVENÇÃO: Alunos da 7ª Série do Ensino Fundamental II Vlll- TÍTULO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA: Análise dos fatores que influenciam a iniciação ao tabagismo entre os escolares lX- PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA – UNIDADE DIDÁTICA: Noções gerais sobre tabagismo. 5 1- INTRODUÇÃO Segundo a OMS o consumo de cigarros é o maior causador de morte evitável em todo mundo. Durante o século XX cem milhões de mortes foram causados pelo tabaco, neste século mais de um bilhão de pessoas poderão morrer pelos mesmos motivos. Se nos próximos anos continuar os padrões atuais de consumo de cigarros, o número de mortes associadas ao tabaco em 2030 segundo Gontijo (2008), poderá subir para mais de oito milhões por ano. No Brasil cerca de 200 mil pessoas morrem por ano, vítimas do tabaco. Para OMS o tabagismo é uma doença pediátrica, pois 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 20 anos de idade. Diariamente, cerca de 100 mil jovens iniciam o habito de fumar, muitos tem por volta de 10 anos de idade. São inúmeros os problemas e as doenças causadas pelo cigarro, e “educar sobre o tabagismo é o primeiro passo para evitar o vício”. CABRAL, (2008). 2- Histórico O cigarro é produzido a partir de uma planta chamada tabaco cujo nome cientifico é Nicotiana tabacum, que é originária das Américas. Apresentam folhas que podem medir de 60 a 70 centímetros, e a planta adulta pode atingir até 2 metros de altura. Existem registros de mais de 60 espécies de Nicotina. O uso do tabaco começou a milhares de anos, sendo inicialmente encontrada na América Central e, depois em toda América. Os indígenas foram os primeiros a fazer uso das folhas do tabaco. Eles a usavam em rituais religiosos, na purificação, proteção e fortalecimento dos guerreiros. Uma outra utilização era em cerimônias de consulta dos espíritos, e durante as negociações. Os indígenas brasileiros (tupinambás), acreditavam que o uso do tabaco poderia enganar a fome, a sede, e fortalecer os guerreiros para vencer os inimigos. Já os índios mexicanos, atribuía ao fumo às propriedades de “adormecer sua carne”, e não sentir cansaço, durantes suas atividades de combate. BERTOLDI, (2000). 6 Figura 1 : Foto prof.ª O.C Delapria. Folhas da planta Nicotiana tabacum É um enigma que tantas culturas indígenas espalhadas por toda parte do mundo, e que não tinham contato entre si usassem de maneira similar as folhas de tabaco para seus rituais. No Brasil, a primeira plantação que se tem conhecimento foi datada em 1542, e foi trazido provavelmente pelos índios tupis-guaranis. BRANCO, (2010). Na Europa, o tabaco foi levado por Cristóvão Colombo no fim do século XV, mas seu uso teve início a partir do século XVI por Jean Nicot, que após ter usado o tabaco para curar uma úlcera em sua perna enviou a erva para outras partes do mundo, como Paris. Ao enviá-la fazia grande menção de suas propriedades medicinais, a planta era indicada para curar doenças, e com a recomendação de que fumar “faz bem a saúde”. Navegadores e viajantes informavam o mundo sobre o tabaco, e em pouco tempo já era conhecido por todos. Do tabaco se extrai uma substância denominada “nicotina” que tem 7 origem do nome Nicot (erva de nicot), em homenagem a Jean Nicot, que foi quem ajudou a disseminar a erva e suas qualidades “medicinais”. Em 1737, a planta teve a sua primeira classificação científica feita por Lineu, que registrou o termo Nicotiana tabacum dentre outras variedades de nicotina. Inicialmente a erva era mascada, em seguida quando o mundo civilizado começou a fazer uso do tabaco usavam cachimbo, o qual teve um domínio durante quase três séculos. Desse modo ele se disseminou por toda a Europa. E, cerca de 50 anos após o tabaco chegar à Europa, o cachimbo era usados em toda parte por: nobres, prebeus, soldados, marinheiros e populares. No século XVIII, espalhou a mania de aspirar rapé, que reinou por praticamente 200 anos. As tabaqueiras se espalharam, e tinham extremo requinte. Os artistas da época retratavam o cachimbo e o uso do rapé em suas obras, mostrando a difusão do tabagismo em todos os continentes. O charuto teve seu reinado no século XIX, à popularidade de seu uso entre os abastados era sinônimo de status econômico-social. No Brasil o tabaco também serviu de moeda forte e teve grande valor comercial, sendo usado nas trocas de mercadorias, inclusive no comércio de escravos. Na primeira metade do século XX, ocorreu uma explosão do consumo do tabaco, que se deu em função do início da produção industrial do cigarro, juntamente com as primeiras propagandas. INCA, 2001. Mas, a grande expansão do mercado ocorreu logo após a 1ª guerra mundial (1914 - 1918), período que teve seu uso intensificado. O nome cigarro que usamos em português, teve sua origem a partir do termo “cigarillos”, que em espanhol deriva de cigarral, nome usado para designar hortas invadidas por cigarras. ROSEMBERG, (2004). Em 1920 o cigarro era a principal forma de consumo do tabaco, o cigarro foi tornando-se familiar, objeto de desejo de milhares de pessoas. O fumante trazia consigo uma imagem de sucesso, liberdade e beleza, as famílias de modo geral tornaram-se fumantes e, cada vez mais o hábito era considerado “status social“, e o desejo de fumar tomaram conta da sociedade. A partir da década de 50, as técnicas de publicidade se desenvolveram ainda mais, e inúmeras propagandas de cigarros envolvendo principalmente os 8 jovens, esporte, lazer e poder, eram comuns por toda parte, estimulando a iniciação ao tabagismo. Em 1960, surgiram os primeiros relatórios de ordem cientifica, os quais relacionavam o uso de cigarros ao adoecimento do fumante. E hoje temos inúmeros trabalhos que comprovam tal relação, tanto que o tabagismo é apontado como a principal causa de morte evitável em todo o mundo. Com relação a produção do tabaco, a planta se desenvolve bem em regiões de clima úmido temperado com temperaturas entre 18° e 22°c. Hoje os principais países produtores do tabaco de acordo com a magnitude de plantação, são: China, Brasil, Índia, Estados Unidos, Zimbabwe e a Indonésia. Esses países representam 70% da produção mundial. INCA, (2004). 3- LEGISLAÇÃO No Brasil, a primeira tentativa de estabelecer qualquer tipo de controle sobre o uso do tabaco ocorreu em 1985, através da portaria do Ministério da Saúde (MS) que criava o grupo consultor para o controle do tabagismo. Mas, a legislação com relação aos produtos provenientes do tabaco tiveram início em 1986, através do Instituto Nacional de Combate ao Câncer (INCA). O Instituto é um órgão do Ministério da Saúde responsável pelo controle do tabagismo, e que desenvolve programas em parceria com as secretarias municipais e estaduais da saúde. A seguir, temos parte da Legislação Federal Vigente Sobre Tabaco no Brasil. Lei n.º 7.488 - 11 de junho de 1986 Cria o Dia Nacional de Combate ao Fumo e determina a realização de comemorações no dia 29 de agosto em todo o território nacional. Lei n.º 8.069 - 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente. Proíbe vender, fornecer ou entregar, à criança ou ao adolescente, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica. Lei nº 9.294 - 15 de julho de 1996 9 Proíbe o uso de cigarros, ou qualquer derivado do tabaco em recinto coletivo, privado ou público. Permite o tabagismo em fumódromos. Lei n.º 9.782 - 26 de janeiro de 1999 Define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), responsável pela regulamentação, controle e fiscalização dos cigarros, cigarrilhas, charutos e qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco. Lei n.º 10.167 - 27 de dezembro de 2000 Altera a Lei n.º 9.294/96, restringindo a publicidade de produtos derivados do tabaco à afixação de pôsteres, painéis e cartazes na parte interna dos locais de venda. Proibindo-a, conseqüentemente em revistas, jornais, televisão, rádio e outdoors. Proíbe ainda a propaganda por meio eletrônico, e em estádios, pistas, palcos ou locais similares. Proíbe também o patrocínio de cigarros em eventos esportivos nacionais e culturais. Medida Provisória n.º 2.190-34 de 23 de agosto de 2001 Altera a Lei n.º 9.294/96, determinando que o material de propaganda e as embalagens de produtos fumígenos, derivados do tabaco contenham advertências acompanhadas de imagens que ilustrem o seu sentido. Portaria Interministerial º 1.498 - 22 de agosto de 2002 Recomenda às instituições de saúde, e de ensino a implantarem programas de ambientes livres da exposição tabagística ambiental. Lei n.º 10.702 - 14 de julho de 2003 Altera a Lei n.º 9.294/96, proibindo a venda de produtos derivados do tabaco a menores de 18 anos. Decreto - 1º de agosto de 2003 Cria a Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco e de seus Protocolos. 10 Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária n.º 335 21 de novembro de 2003 Determina a impressão da seguinte frase nas embalagens dos produtos derivados do tabaco: “Venda proibida a menores de 18 anos”. E determina a impressão da seguinte informação nas embalagens de cigarros: "Este produto contém mais de 4.700 substâncias tóxicas, e nicotina que causa dependência física ou psíquica. Não existem níveis seguros para consumo destas substâncias". Portaria do Ministério da Saúde n.º 300 - 09 de fevereiro de 2006 Institui o programa “Ministério da Saúde Livre do Tabaco”, com a finalidade de elaborar e implementar ações educativas destinadas a conscientizar, em relação aos males provocados pelo uso do tabaco. Portaria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária n.º 528 22 de setembro de 2006 Institui grupo de trabalho para a implementação do programa “Ambientes Livres de Fumo”, que visa capacitar profissionais de vigilância sanitária para a fiscalização da legislação vigente. Projeto de Lei n.º 315/08 - 26 de agosto de 2008 Proíbe os fumódromos. Esta lei vem de encontro com a Lei Federal n.º 9.294/96, que proíbe o uso de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou qualquer outro produto derivado do tabaco, em recinto fechado, privado ou público. A legislação federal é ampla, e ainda temos as leis estaduais e municipais onde doze estados e vários municípios já aprovaram leis de proibir os fumódromos. A legislação pode ser encontrada na íntegra, nos seguintes endereços (link): leis federais tabagismo – inca.pd fTabagismo leis - INCA.mht 11 4- CONVENÇÃO-QUADRO Em 1999, os países membros das nações unidas propuseram a criação de um tratado internacional de saúde pública, a Convenção–Quadro para o Controle do Tabaco. Durante quatro anos 192 países se empenharam em redigir o documento, e em maio de 2003 chegaram a um consenso. Ainda em 2003, o documento foi adotado passando em seguida pelo período de assinatura, pelos países membros . O Brasil foi o 2º país a assinar o tratado, e após a assinatura o próximo passo é a ratificação do documento, que deve seguir os tramites e adequações legais de cada país. O período final para que cada país depositasse sua ratificação na ONU, foi estipulado em 07 de novembro de 2005. É necessário que 40 países ratifiquem a Convenção para que ela possa entrar em vigor. Em outubro de 2004, 168 países haviam assinado o tratado e 32 já tinham ratificado. O Brasil ratificou em 27 de outubro de 2005, sendo o 110º a apresentar a ratificação à Convenção. No tratado os países concordam em empreender esforços para alcançar objetivos previamente definidos. Os trabalhos da Convenção-Quadro têm como objetivo preservar as gerações presentes e futuras das devastadoras conseqüências sanitárias, sociais, ambientais, e econômicas do consumo e exposição à fumaça do tabaco. As principais medidas são: - Reduzir a demanda do tabaco; - Reduzir a oferta por produtos do tabaco; - Proteger o meio ambiente; -Incluir as questões de responsabilidade civil e penal nas políticas de controle do tabaco; - Promover a cooperação técnica científica e intercâmbio de informações. Figura 2: desenho, erradicando o cigarro – W. H. M. Costa 12 5- Datas Especiais a- Dia do Combate ao Tabagismo - Dia Mundial Sem Tabaco Em 1986, a OMS propôs 31 de maio como sendo o Dia Mundial Sem Tabaco. Essa comemoração é realizada em todo mundo, e em cada ano a OMS escolhe um tema para fazer campanha, e divulgá-la. b- Dia Nacional de Combate ao Fumo O Dia Nacional de Combate ao Fumo foi criado em 1986 pela Lei Federal nº 7.488, e é comemorado em 29 de agosto. INCA, (2010). O Ministério da Saúde, através do Instituo Nacional de Câncer, é que coordena todo programa no Brasil. Anualmente é realizada a escolha e divulgação do tema. c- Dia Nacional de Combate ao Câncer Embora não seja uma data específica para o tabaco, muitas campanhas são realizadas nesta data, em função da associação entre tabaco e câncer. O Dia Nacional de Combate ao Câncer foi instituído em 7 de dezembro de 1988, e é comemorado no dia 27 de novembro. O objetivo do evento é evocar o importante significado histórico das entidades de combate ao câncer, de consagração aos inumeráveis e valiosos serviços prestados ao país e proporcionar importante mobilização popular quanto aos aspectos educativos e sociais na luta contra o câncer. INCA, (2010). 6- SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS DO CIGARRO A fumaça do cigarro contém aproximadamente 4.720 substâncias tóxicas diferentes, elas se encontram nas fases particuladas e gasosas. Na fase particulada temos a nicotina e o alcatrão, e na gasosa são encontrados monóxido de carbono, cetonas, formaldeídos, acetaldeídos, acroleína, amônia e também nicotina. E é nesta fase que ocorre a maior absorção da nicotina, pelo organismo. 13 Em análise laboratorial da folha do tabaco, é possível identificar dezesseis substâncias químicas, classificadas como cancerígenas. Mas com o processo de combustão do tabaco esse número aumenta para cerca de 70 carcinógenos. A seguir abordaremos algumas das substâncias químicas contidas no cigarro. 6.1 ALCATRÃO O alcatrão é um termo usado para definir um conjunto de partículas orgânicas e inorgânicas, e que são liberadas quando o cigarro é aceso. Do alcatrão que é introduzido no corpo, uma parte adere nas paredes pulmonares, e outra que se encontra em menor quantidade cai na corrente sanguínea, passando por todo organismo. O alcatrão além dos radioativos urânio, polônio 210 e carbono 14, concentra ainda 43 outras substâncias, comprovadamente carcinogênicas, ou seja que provocam o câncer através do processo de alteração do núcleo das células. Veja, no quadro abaixo exemplos de substâncias químicas que são encontradas no alcatrão: SUBSTÂNCIA Arsênico Polônio 210 Fósforo P4 P6 ONDE SÃO ENCONTRADAS/AÇÃO Corrosivo, composto altamente nocivo, veneno puro; Extremamente radiativo; Venenoso, encontrado em produtos de limpeza, raticida e fertilizante; Níquel Usado na produção de ácido inoxidável, ligas, moedas, pilhas alcalinas e outros. Armazenam-se no fígado, rins, coração, pulmões, ossos e dentes. Desencadeia gangrena nos pés, infecções respiratórias, alterações no estômago, intestino e coração; Chumbo Irritante, componente das fórmulas de tintura para cabelos; Benzopireno Substância cancerígena, utilizado como pesticida, e na composição de detergente, e da gasolina. Ajuda no processo de combustão – faz com que o cigarro não se apague; 14 Cádmio. Formol Usado em pilhas e baterias, metal tóxico e cumulativo no organismo. Provoca danos nos rins, cérebro, olfato e edema pulmonar. Leva até 20 anos para ser expelido; Conservante de cadáver. Usado na produção de produtos químicos para matar bactérias, fertilizantes, corantes e desinfetantes. Provoca doenças respiratórias, coceira nos olhos, tonturas, diminuição da coordenação motora e alterações no sono; Acroleína Gás de maior concentração no cigarro. O cigarro contém 1.000 vezes mais acroleína, quando comparado com outros produtos que fazem alterações do DNA, sendo possivelmente o maior responsável pelo câncer de pulmão. É responsável pelo mau hálito na boca; N - Nitrosamina Responsável pelas alterações de DNA, cancerígeno; Carbono 14 Elemento radioativo; DDT Agrotóxico. 6.2 MONÓXIDO DE CARBONO É um gás incolor e 3% a 6% da fumaça do cigarro é monóxido de carbono (CO), esse gás também pode ser liberado pelos motores, durante a queima de combustíveis fósseis, e em incêndios, além de ser encontrado durante a combustão do metano, propano entre outros gases. O gás CO tem 250 vezes mais afinidade com a hemoglobina do sangue, do que o oxigênio, e ao se associar com a hemoglobina forma a carboxiemoglobina, que é um composto que diminui a capacidade de transporte do gás oxigênio para os tecidos do corpo. Com a diminuição do oxigênio, as células deixam de respirar e de produzir energia, isso prejudica o fôlego e leva à ocorrências de problemas vasculares, além disso reduz o desempenho para as atividades físicas, diminui a absorção de nutrientes e o poder de cicatrização. Também é responsável por prejudicar o desenvolvimento fetal. 15 6.3 AMÔNIA É corrosiva para nariz e olhos. É usada em fertilizantes e desinfetantes. No cigarro ela atua reduzindo a acidez do fumo, deixando-o mais alcalino. Essa alcalinidade provocada pela amônia permite que mais nicotina seja entregue ao corpo, contribuindo com o processo de dependência. 6.4 NICOTINA A nicotina é uma substância alcalóide (isto é, tem caráter básico), de cor amarelada e líquida, é extraído principalmente de plantas como o tabaco, que é o caso do cigarro. Ela é sintetizada nas raízes, e posteriormente chega até as partes mais altas da planta. A nicotina pode ter efeitos diferentes, inicialmente se apresenta como um estimulante, e após algumas tragadas passa ter uma ação tranqüilizante. Ela causa dependência física e psíquica, e é a responsável pela compulsão do fumante. Figura 3 : desenho, dependência do cigarro – W. H. M. Costa 16 A idade de iniciação do tabagismo pode interferir na dependência. Pesquisas relatam que iniciar no tabagismo antes dos 20 anos de idade leva à uma maior dependência , em comparação com os que iniciam após os 20. Isso porque o cérebro dos adolescentes é mais vulnerável à nicotina e a dependência é mais intensa. O nível de escolaridade mais elevado desloca a idade de início do tabagismo. Isso é um dado importante, pois quando a experimentação ocorre precocemente 90% dos fumantes tornam-se dependentes. E após instalar a dependência o grau de tolerância vai aumentando sendo necessária uma maior quantidade de nicotina para manter os mesmos níveis prazerosos. A ação da nicotina no organismo pode diferenciar, sendo que nos indivíduos não tragadores 22% a 42% dela fica retida na cavidade oral. Já nos tragadores, a absorção da nicotina pelo pulmão é de 70% a 90% da dose tragada. As doses de nicotina se acumulam no sangue, sendo a concentração de nicotina no sangue arterial dez vezes maiores, do que no venoso. A duração média da nicotina no organismo é em torno de 2 horas, após esse período a concentração diminui no sangue, e sua abstinência provoca certo desconforto, e o fumante sente a necessidade de um novo cigarro. A falta de nicotina no organismo leva ao aparecimento de um quadro clínico desagradável a “síndrome da abstinência”, que se caracteriza por ansiedade, irritabilidade, inquietação, forte desejo de fumar, distúrbio do sono, entre outros sintomas. CIRICO, (2006). A intoxicação que a nicotina causa no fumante é contínua, durante as 24 horas do dia. E nenhuma outra droga fica presente no sangue por esse período de tempo, com o uso frequente de cigarro o indivíduo mantém os níveis de nicotina no corpo. Os tabagistas que fumam 20 cigarros (um maço) por dia, tragando em média 10 vezes por cigarro, realizam 200 impactos de nicotina no cérebro, totalizando 73 mil por ano. ROSEMBERG, (2004). Desde 1992 a OMS, considera o tabagismo como sendo uma doença psiquiátrica, a nicotina-dependência. Para dependência temos vários fatores associados, como questões de ordem psicológicas, sociais, orgânicas, fisiológicas, genéticas, comportamentais, familiares e outros. 17 Após ser aspirada a nicotina alcança o pulmão, atravessa a rede alveolar e atinge o sistema arterial. Chega ao cérebro entre 7 e 19 segundos, após a tragada. Esse mecanismo que ocorre com a nicotina é mais eficiente do que uma introdução intravenosa. No cérebro temos receptores para um neurotransmissor chamado acetilcolina, esse receptor tem alta afinidade com a nicotina. Ao fumar, a nicotina chega rapidamente ao cérebro e se liga a esses receptores, bloqueando a ligação com a acetilcolina, e ao mesmo tempo estimula a produção de dopamina que é um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer sentida pelo fumante. Com o uso regular de cigarros ocorre um aumento do número desses receptores cerebrais, e após instalar a dependência, o grau de tolerância é progressivamente maior, sendo necessário uma maior quantidade de nicotina para manter os níveis prazerosos. Se o usuário resolve parar de fumar é preciso em torno de 12 semanas de abstinência, para que os receptores se desbloqueiem e voltem a se ligar com a acetilcolina. ISSA, (2008). A ligação da nicotina aos receptores das células nervosas causa estimulação e provoca uma sensação de relaxamento muscular, altera o metabolismo energético cerebral e ativação elétrica. Fora do SNC a nicotina pode causar constrição dos vasos sanguíneos, e provocar aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, levando à diminuição do fluxo sanguíneo para os tecidos, podendo causar complicações circulatórias em geral, e por fim ela reduz o apetite e o peso. A nicotina e o monóxido de carbono, juntos aumentam a acidez do estômago, podendo levar a formação de úlceras e dificultar o processo digestivo, além de provocar alterações no sistema endócrino. É também a nicotina quem desencadeia uma liberação de substâncias quimiotóxicas no pulmão, as quais estimulam o processo de destruição da elastina, provocando o enfisema pulmonar. SANTOS, (2010). São conseqüências diretas da nicotina: hipertensão, aterosclerose, espessamentos da parede das artérias e sua obliteração, provocando conforme as regiões, gangrena das extremidades (doença de Reynaud), impotência, doenças coronárias, angina do peito, infarto do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais. Indiretamente, a nicotina participa de processos 18 oncogênicos em diversas partes do corpo, além de interferir na fertilidade humana. 7- DOENÇAS CAUSADAS PELO CIGARRO São muitos os problemas que o cigarro pode agravar ou desencadear no organismo do fumante, e também das pessoas que convivem com ele, os chamados fumantes passivos que também podem desenvolver doenças relacionadas ao fumo. A exposição aos agentes carcinógenos (substâncias químicas que desencadeiam câncer) presentes nos cigarros, é um dos fatores de maior impacto no desenvolvimento de câncer. Os carcinógenos agem alterando o código genético responsável pela multiplicação da célula. Com o comprometimento do DNA as células se dividem desordenadamente, causando o tumor. O cigarro é a principal forma de exposição a tais substâncias. Existem milhões de pessoas enfrentando problemas clínicos irreversíveis, e morrendo aos poucos por causa dos efeitos do tabaco. A fumaça do cigarro mata de muitas formas diferentes, sendo o câncer de pulmão a principal delas. Pesquisas mostram que 90% dos cânceres de pulmão, e 30% de todos os outros tipos de câncer são atribuídos ao tabagismo. Pessoas que fumam excessivamente perdem em torno de 15% da capacidade do transporte de oxigênio, com isso diminui a produção de energia pelas células, fato que resulta em uma maior dificuldade na realização das atividades físicas simples como, subir escadas e realizar pequenas corridas, podendo comprometer a respiração levando a falta de (fôlego) ar, no fumante. A ação do tabaco inicia quando as toxinas presentes na fumaça do cigarro entram no trato respiratório, estes agentes exercem varias alterações sendo que as principais são: inflamações e os efeitos mutagênicos/carcinogênicos. Alguns componentes atuam sobre os cílios das células dos pulmões e da traquéia, como conseqüência a mobilidade dessas células ficam diminuída, e elas não conseguem remover todas as partículas de sujeiras, do sistema respiratório. Com a diminuição ou paralisia dos movimentos dos cílios pelo uso do cigarro, ocorre um acumulo de secreções 19 que contribuem para surgir tosse, pigarro e infecções respiratórias. Outros problemas ocasionados pelo cigarro são as freqüentes irritações nos olhos, nariz e garganta. O tabaco também atua competindo com a vitamina C, em consequência ocorre eliminação da mesma, e isso prejudica o sistema imunológico e as cicatrizações. As doenças relacionadas ao tabagismo estão se tornando uma epidemia mundial. A seguir destacaremos algumas das doenças relacionadas ao tabagismo. 7.1 CÂNCER 7.1.1 CÂNCER DE PULMÃO Um dos principais problemas que o cigarro pode causar no pulmão é o câncer, que está entre as principais epidemias mundiais e é predominante nos homens, mas seu número vem aumentando também entre as mulheres. É um tipo de doença responsável por 85% a 90% dos casos de câncer de pulmão, ocasionando 1,2 milhões de óbito/ano. Ocupa a 10ª causa mais comum de morte. Calcula-se que no ano de 2020, alcançará a 5ª posição. O contato com substâncias carcinógenas presentes no cigarro por períodos prolongados, leva às alterações no DNA das células que formam os tecidos pulmonares, além de alterar todo o metabolismo celular e ocasionar lesões. Quanto mais o tecido é lesionado, maior a chance de desenvolvimento de câncer. Todas as formas de tabaco são cancerígenas e o risco de contrair a doença é tanto maior quanto mais jovem se inicia no hábito. Quem convive com pessoas fumantes também corre grande risco de ter câncer. O fumante passivo tem 24% mais chance de desenvolver câncer, do que quem não convive com fumante. 20 7.1.2 CÂNCER DE ESÔFAGO Mais de 90% dos tumores de esôfago estão relacionados ao tabaco. A utilização de bebidas alcoólicas desenvolvimento da doença. junto com cigarro potencializam o Existe ainda um outro agravante para o desenvolvimento da doença, que é a quantidade de cigarros que são fumados e a duração do hábito tabágico. É importante salientar que o esôfago é atingido diretamente pelos carcinógenos do cigarro, através da fumaça inalada e também pela deglutição de partículas do tabaco. 7.1.3 CÂNCER DE ESTÔMAGO É o segundo tipo de câncer que mais causa morte no mundo. Acreditase que a cada ano ocorrem 80.000 novos casos da doença, devido ao uso de tabaco. A relação desta doença com o tabagismo está associada principalmente com o número de cigarros fumados, e com a quantia de tempo em que se usa o tabaco. Quando a fumaça é inalada ela chega ao estômago, e algumas substâncias químicas do tabaco quando em meio ácido alteram a molécula de DNA das células estomacais, iniciando o desenvolvimento do tumor. A nicotina também atua no mecanismo da doença, ela é capaz de estimular vias de crescimento celular e dar origem a tumores. Existem ainda as infecções que são causadas pelo Helicobacter pylori, que é um agente carcinogênico gástrico e tem associação com o tabagismo. O cigarro acelera a gastrite crônica, que é provocada por tal bactéria. 7.1.4 CÂNCER DE PÂNCREAS É um tipo raro de câncer, porém em 25% dos casos está associado ao tabagismo. Quando o indivíduo já tem uma pancreatite hereditária e é fumante 21 aumenta muito o risco de desenvolvimento desse tipo de doença, que ocorre inclusive em jovens. 7.1.5 CÂNCER BUCAL Pesquisas mostram que 80% a 90% dos cânceres de lábios ocorrem nos fumantes. A mortalidade aumenta de acordo com o número de cigarros fumados ao dia, e pode diminuir com a cessação do hábito. É uma doença que está se tornando comum entre as pessoas de 35 a 40 anos. 7.1.6 CÂNCER COLORRETAL O câncer colorretal tem seu número aumentado entre os tabagistas. O cigarro esta envolvido no processo de adenomas intestinais, que é o responsável pela doença. Para o desenvolvimento do tumor existe ainda a associação ao tempo de tabagismo, e ao número de cigarros fumados. 7.2 ENFISEMA PULMONAR O enfisema é uma doença crônica ou DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), que é desenvolvida pela ação do cigarro. A sua manifestação acontece em decorrência da destruição dos alvéolos pulmonares, que é o local onde ocorrem as trocas gasosas (hematose). Ao entrar no organismo, as substâncias químicas presentes no cigarro dentre elas a nicotina, vai agir nos tecidos pulmonares mais especificamente nas paredes celulares, levando à perda da elasticidade, destruição do tecido pulmonar e dos capilares que nutrem os alvéolos. Assim, os alvéolos ficam maiores, podendo inclusive se romper, o que dificulta a captação de oxigênio e a saída de ar. Como conseqüência o indivíduo tem constantes falta de ar, uma tosse freqüente que não cessa além de catarro, dificuldades de realizar atividades simples, como caminhar e falar. 22 Com o avanço da doença podem-se observar deformidade das unhas, decorrentes da hipóxia (baixo teor de oxigênio nas células). O enfisema condição é uma degenerativa, irreversível, com o tratamento pode haver uma pequena recuperação da função pulmonar. Em situações graves pode levar a morte Figura 4 : desenho, cigarro x morte – C. E. K. Ribeiro 7.3 PROBLEMAS CARDIOVASCULARES No sistema cardiovascular o cigarro é extremamente devastador, sendo a nicotina o principal agente causador dos distúrbios. Assim que a fumaça entra no organismo, e a nicotina chega ao sistema nervoso central induz a liberação de hormônios, estes atuam desencadeando aceleração da freqüência cardíaca e vasoconstrição, levando ao aumento da pressão arterial. Outro componente prejudicial à circulação é o monóxido de carbono (CO), que no sangue se une com a hemoglobina e prejudica a liberação de oxigênio para o miocárdio e demais tecidos. Este mecanismo promove uma série de alterações, como o aceleramento do processo de envelhecimento das artérias, provocando seu endurecimento e entupimento. Isso leva a uma diminuição da passagem de sangue para os tecidos do corpo, e a formação de carboxiemoglobina, que aumenta ainda mais essa redução da oferta de oxigênio, levando o coração a trabalhar mais. O coração entra em sofrimento e com o passar do tempo, o fumante fica mais predisposto a desenvolver infarto, processo aterosclerótico na aorta abdominal, doença vascular e acidente vascular cerebral. Ocorre também vaso 23 espasmo coronário o que pode determinar infarto e morte súbita em fumantes, aumenta também as chances de aneurisma abdominal. Uma em cada cinco mortes por doenças cardiovasculares é causada pelo tabaco, sendo também responsável por mais de um terço das mortes em pessoas com 40 a 60 anos de idade. Podemos atribuir ao tabagismo o maior fator de risco cardiovascular na população mundial. Para este problema não existe consumo seguro de cigarros, mesmo que seja em quantidades reduzida. 7.4 IMPOTÊNCIA SEXUAL Nos homens fumantes a impotência chega a 37%, e nos não fumantes este número cai para 2,2%. Estudos mostram que dentre os impotentes a prevalência de fumantes pode atingir até 70%. A nicotina é a principal responsável pelo processo de estreitamento dos vasos sanguíneos do pênis. Assim, o fluxo de sangue diminui no local, prejudicando ou impedindo a ereção. O fumo também pode interferir na fertilidade masculina, fazendo com que os espermatozóides apresentam sua mobilidade diminuída, além de terem alterações qualitativas e quantitativas. Isso deve prejudicar em muito a capacidade reprodutiva do homem. 7.5 ÚLCERA PÉPTICA É uma doença que tem uma prevalência de 80% entre os fumantes. A nicotina é o componente responsável pelo desenvolvimento da doença, ela atua aumentando a secreção ácida gástrica, além disso causa o relaxamento da musculatura do esfíncter esofágico, o que facilita o refluxo. A nicotina age no estômago aumentando a liberação de sucos gástricos, diminuindo o pH. Ao mesmo tempo promove a diminuição da secreção de bicarbonato, o que aumenta ainda mais a acidez Esse mecanismo facilita o desenvolvimento de úlceras, do estômago. também retarda a 24 cicatrização e reduz as defesas. Os fumantes têm aumentadas as chances de infecção pelo Helicobacter pylori e diminuída a ação dos antibióticos. A continuidade do uso de cigarros impede a cura da úlcera, isso por ação da nicotina. 7.6 RUGAS Os efeitos da vaso constrição provocadas pelos componentes do cigarro também podem ser expressos na pele dos tabagistas. Com a diminuição do fluxo sanguíneo na derme ocorre deteriorização do colágeno, o que deixa a pele mais seca, dura e quebradiça. Isso favorece o processo de rugas prematuras no fumante, e estas se diferem das rugas naturais. 7.7 EFEITOS DO TABACO NA SAUDE DA MULHER - Menopausa precoce: A nicotina do cigarro causa alteração hormonal o que leva a um apressamento da menopausa, além de acelerar o processo de envelhecimento. - Osteoporose: Ao acelerar a menopausa o cigarro aumenta os riscos de a mulher desenvolver osteoporose. Há evidências que em fumantes a densidade óssea fica prejudicada, isso em decorrência do metabolismo de cálcio que sofre devido às alterações hormonais. - Infertilidade: Estudos mostram que quanto mais cedo à mulher iniciar o hábito de fumar, mais dificuldades ela terá de engravidar. Este fato está associado à ação que a nicotina e outros tóxico do cigarro exercem nos folículos ovarianos, levando à infertilidade. - Na gestante: Os componentes do cigarro lesam a placenta e alteram o equilíbrio hormonal da gestante, prejudicando o desenvolvimento fetal. 25 Os efeitos nocivos do cigarro sobre o feto podem ser constatados durante a vaso constrição, que diminui o suprimento sanguíneo para o feto, ele também sofre com a formação da carboxiemoglobina, a qual leva ao aumento das contrações uterinas. A diminuição de oxigênio e de suprimento sanguíneo para o feto pode ocasionar ainda hipóxia, queda da temperatura, dificuldade de crescimento e aumentar a incidência de aborto. Os efeitos teratogênicos do cigarro ainda são motivos de muitos estudos e discussões, mas algumas malformações são atribuídas ao uso do tabaco durante a gravidez, principalmente no primeiro trimestre da gestação. Como exemplos temos a fenda labial, gastrosquise (defeito congênito na parede abdominal) e craniossinostose (ossificação prematura do crânio). O número de cigarros fumados ao dia pela gestante, pode interferir nos efeitos sendo que quanto maior esse número mais chances de seqüelas. Temos ainda outras complicações associadas ao tabagismo durante a gravidez, como: - baixo peso; - crescimento intra-uterino retardado; - parto prematuro; - rotura prematura da bolsa de água; - complicações durante o parto; - prováveis malformações. - Outros problemas: Em decorrência dos agentes carcinogênicos do cigarro que circulam pelo sangue e chegam a praticamente todas as partes do corpo, mais e mais alterações são possíveis de acontecerem. As vaso constrições, e alterações celulares podem aumentar as chances da mulher desenvolver as seguintes doenças: - câncer de colo de útero; -câncer de mama; - câncer de pulmão; - câncer de vulva; - câncer de endométrio; - câncer de ovário. 26 8- EXPECTATIVA DE VIDA DO FUMANTE Por ser uma droga lícita no Brasil, o cigarro causa cinco vezes mais morte que as drogas ilícitas. No mundo todo, seis pessoas morreram por minuto, vítimas do cigarro. O fumo mata um de cada dois fumantes, metade dessas mortes ocorre na meia idade, sem contar com a perspectiva de vida dos tabagistas que se reduz em um minuto, para cada minuto que é fumado. Em média, a expectativa de vida do fumante está reduzida de 15 a 20 anos, comparativamente com a do não fumante. 9- FUMANTE PASSIVO Uma pessoa que não fuma, mas que convive com um fumante, inalando constantemente a fumaça que sai do cigarro e a que é exalada pelo tabagista, é chamada de fumante passivo. A fumaça que sai da ponta do cigarro é altamente tóxica, os carcinógenos dessa fumaça se encontram em maior concentração do que aquela que foi tragada. Isso acontece porque não foram filtrados, e também pelo fato de que o cigarro vai queimando aos poucos, e a combustão não se completa, contribuindo para uma alta toxidade dos componentes. As conseqüências dessa exposição são os altos índices de câncer de pulmão entre os não fumantes. Segundo a OMS o fumante passivo tem 30% de risco, de desenvolver o câncer de pulmão e 24% de chance de ter doenças coronarianas. Também se observa no adulto, infecções do sistema respiratório e as irritações nos olhos. E nas crianças que convivem com os fumantes apresentam freqüentes resfriados, e maior risco de desenvolverem pneumonias e bronquites. De acordo com pesquisas realizadas pelo INCA, no Brasil em torno de 7 pessoas que não fumam morrem por dia, vitimas das doenças provocadas pela fumaça do tabaco. 27 10- ASPÉCTOS SOCIOECONOMICOS RELACIONADOS AO TABACO Em uma família de fumante, os gastos com cigarro podem atingir até 25% do salário mensal, conforme a renda do indivíduo. Eles deixam de investir na compra de alimentos, roupas, calçados, no lazer ou mesmo na preservação da saúde da família. Outro fator que contribui para o empobrecimento do fumante são os gastos com a saúde, em decorrência do consumo de cigarros. Os tabagistas ficam doentes com mais freqüência, isso leva a uma diminuição dos dias trabalhados, e essa redução pode corresponder de 33% a 45% dos números de faltas ao trabalho, levando a perda financeira. Sem contar que também aumentam os gastos com medicamentos para o fumante e também para sua família, uma vez que todos tornam se fumantes passivos. Quando em uma família de fumantes o pai ou a mãe morrem, ou tornamse inválidos, vítimas do tabaco, os dependentes ficam desprotegidos, passam por necessidades de âmbito emocional e financeiro. A produção agrícola e a manufatura do tabaco também contribuem para o adoecimento familiar. Tabaco e pobreza formam um ciclo vicioso, e só com muito apoio esse processo pode ser rompido. De acordo com o Banco Mundial, são gastos cerca de U$$ 200 bilhões/ano, no mundo com as vitimas do tabaco. Esse montante é a soma de vários fatores, como: tratamento de doenças relacionadas ao tabaco, mortes de pessoas em idade produtiva, maior índice de faltas no trabalho, e de aposentadorias precoces, além de queda no rendimento. BONATO, (2006). Esses números são espantosos, mas o que vem acontecendo no mundo é que o consumo de cigarro vem aumentando nos paises em desenvolvimento, dos 100.000 jovens que iniciam no hábito tabágico diariamente, cerca de 80% vivem em países em desenvolvimento, e esse fato tem-se agravado. A ineficiência das fiscalizações e o aumento do consumo de cigarro ilegal, contribuem para esse processo. Estudos mostram que no Brasil, indivíduos com nenhuma escolaridade tem probabilidade 5 vezes maior de ser fumante, quando comparados com 28 quem tem 3º grau , Cavalcante, 2003. Na china esse número aumenta para cerca de 7 vezes. Na década de 1990, houve um aumento dos preços do cigarro legal, esse acréscimo não foi acompanhado pelos salários do trabalhador. Levando o consumidor de baixa renda a reduzir o consumo de cigarros legais e/ou sair do mercado legal e entrar no clandestino, e mais barato. Segundo Iglesias (2007), hoje os cigarros de menor valor e que fazem parte do mercado ilegal, correspondem a 35% do consumo nacional. Fato que contribui com a experimentação do tabaco pelas crianças e adolescentes. Quanto aos consumidores de cigarros clandestinos, se concentram nas populações de baixa renda, são pessoas menos educadas, e de pouca escolaridade, com menos acesso à informação, sendo também menos sensíveis ao teor de saúde das campanhas. 11- CIGARRO E MEIO AMBIENTE Além dos problemas que causa à saúde, a plantação e a industrialização do tabaco, também trazem sérias conseqüências para o meio ambiente. Durante o cultivo do tabaco iniciam os primeiros problemas, ocorrem desmatamentos de áreas rurais para que se realize o plantio. A plantação é feita sem que haja um preparo adequado do solo, e após a colheita com a retirada de todas as folhas das plantas, o solo fica totalmente desprotegido, correndo risco de que a camada fértil se perca, podendo ser levada com as chuvas. Outro agravante da plantação diz respeito à utilização de agrotóxicos que contaminam o solo, rios e os produtores de fumo. Para os fumicultores a exposição aos pesticidas pode provocar: depressão, disfunção neurológica, dores musculares e tremores. Ao fazer a colheita, e manusear as plantas, os fumicultores também ficam expostos à nicotina, que é absorvida em grandes quantidades pela pele 29 Figura 5 : Foto Prof.ª O.C.Delapria, Plantação de tabaco durante o contato com as folhas verdes, e se a planta estiver úmida os prejuízos são ainda maiores porque a nicotina é dissolvida pela umidade. Este contato leva ao aparecimento de náuseas, vômitos, diarréia, aceleração cardíaca e respiratória, além de aumentar as chances de somarem aos efeitos neurológicos causados pelos agrotóxicos. Um outro problema vem do processo de industrialização do cigarro, que gera retirada de árvores. No Brasil ocorrem inúmeros desmatamentos não só para o plantio, mas principalmente para o processo de “cura” e secagem das folhas. Estima-se que existem mais de 115.800 estufas de secagem de tabaco na região sul, segundo Boeira, 2003 “cada mil estufas queimam cerca de 50 mil metros cúbicos de árvores nativas ou reflorestadas, por safra”. Nesse processo e na produção de papel que é usado na fabricação de cigarros, são utilizados a cada safra cerca de 40 milhões de árvores. Esses números são assustadores e mostram as dimensões do impacto causado pelo processo industrial do tabaco. Para cada 300 cigarros queimados, uma árvore é destruída. Quem fuma um maço de cigarros por dia é responsável pela extinção de uma árvore a cada 15 dias. 30 É importante ainda ressaltar que toda queima gera poluição, que é outro agravante para nosso meio ambiente. E mesmo que a área desmatada seja reflorestada, o ambiente natural e a biodiversidade são alterados, e os prejuízos são grandes. Para finalizar temos os danos causados após a fabricação do cigarro. As pontas de cigarro que são desprezadas de maneira inadvertidas principalmente nas rodovias, são responsáveis por cerca de 25% das queimadas e incêndios rurais e urbanos. 12- NARGUILE A partir do ano 2000 o narguile tornou-se popular, um modismo principalmente entre os jovens, mas é usado por pessoas de todas as idades, até por crianças. É comum o uso do narguile em festinhas, bares e reuniões de amigos. Muitos pais presenteiam seus filhos com este instrumento, acreditando que é inofensivo. Mas sua utilização pode trazer prejuízos ao organismo que podem ser maiores que os causados pelo consumo do cigarro. O narguile teve sua origem na índia, no século XVII. Ele é uma espécie de cachimbo, e o nome narguile vem do Persa “narguil”, que quer dizer “coco”. Isso se deve ao fato de as primeiras peças terem sido redondas, de madeira ou de coco. Figura 6 : Foto Prof.ª O.C.Delapria, Narguile Ele é formado por um tubo, com uma região dilatada (espécie de vaso) onde coloca-se água ou outro líquido, por onde o tabaco passa antes de 31 chegar à boca. Muitos acreditam que esse líquido filtra as impurezas do tabaco, mas na realidade a eficácia dessa filtragem é de 5%. Os fumantes de um cigarro habitualmente inalam entre 8 e 12 baforadas de fumaça com 40-75 ml cada, em 5-7 min, inalando de 0,5-0,6 L de fumaça por cigarro. Por outro lado, uma sessão de narguilé habitualmente dura 20-80 min ou mais, durante a qual o fumante inala 50-200 baforadas num total de 0,5-1,0 L de fumaça. Desta forma, o fumante de narguile deve inalar em uma sessão, a mesma quantia de fumaça que um fumante de cigarro inalaria se consumisse 100 ou mais cigarros. VIEGAS, (2008). Quando o narguile é fumado, a quantia de fumaça e de substâncias tóxicas inaladas são as mesmas do cigarro. As quais acreditam ser causadoras de inúmeras doenças, e da dependência, a mesma encontrada nos fumantes de cigarro. Apesar da fumaça não ser tragada ela pode provocar câncer de boca, lábios, na língua e garganta. Além do vício e das dificuldades de largar o narguile. Outro problema da utilização é o fato de que várias pessoas fazem uso do mesmo cachimbo de narguile, o que pode transmitir infecções como herps, tuberculose e aumentar as chances de gripe, inclusive a influensa HN1. Para os usuários a higiene fica a desejar, uma vez que estamos em um momento onde a mesma deve ser intensificada. É preocupante como as pessoas estão fazendo uso do narguile como se toma um suco, de maneira extremamente natural, e em qualquer ambiente. 32 13- REFERÊNCIAS BERTOLDI, Odete Gasparello; Jacqueline Rauter de Vasconcellos. Ciência & Sociedade. A aventura do corpo, a aventura da vida, a aventura da tecnologia. 8ª série: ensino fundamental. Ed. Scipione. São Paulo, 2000. 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