Avaliação e planos de ensino: as matrizes de referência estão reduzindo o currículo? Resumo Este estudo apresenta pesquisa realizada em uma escola da Rede Municipal de Ensino de São Paulo no período 2012-2013. Teve por objetivo investigar se os professores, na elaboração de seus planos de ensino, utilizam as matrizes das avaliações externas para orientar a escolha do conteúdo. O trabalho ocorreu no âmbito do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional (Gepave), da Feusp, com subsídio parcial do Programa Institucional de Iniciação à Docência (Pibid) sob a forma de bolsa a alguns dos pesquisadores. A metodologia foi qualitativa, com estudos bibliográficos e documentais, entrevista semiestruturada à diretora e escuta de professores da escola. O resultado apontou que os professores não têm conhecimento das matrizes de referência nacionais nem a do município. Revelou ainda que os planos de ensino são considerados mais como um documento burocrático que uma ferramenta de auxílio à sua atuação. Concluímos que, embora haja afirmações no meio acadêmico de que as matrizes de referência das avaliações externas estão reduzindo o currículo, na escola pesquisada, os professores continuam a valorizar mais o próprio conhecimento e o de outros colegas de trabalho ou mesmo os livros didáticos na elaboração de seus planos desconsiderando as orientações constantes nas matrizes curriculares das avaliações externas. Palavras-chave: Planos de ensino, Avaliação Externa, Prova São Paulo, Matrizes de Referência. Autores: Lílian Rose da Silva Carvalho Freire Janete Ribeiro Nhoque Valéria Aparecida de Souza Siqueira Programa de Pós Graduação em Educação Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Eixo 3: Pesquisa, Formação de Professores e Trabalho Docente. Categoria: Poster Introdução As avaliações externas no Brasil já somam quase três décadas de existência, sendo propostas no final da década de 1980 e ganhando destaque, especialmente na década de 1990, como parte importante da Reforma Educacional do país. Neste período, se consolidaram e assumiram elevada importância como instrumento de tomada de decisões de gestores de redes públicas de ensino, apresentadas como capazes de contribuir para a melhoria da qualidade da educação. Por outro lado, essa centralidade veio acompanhada de críticas e desconfianças quanto ao verdadeiro papel das avaliações externas no contexto neoliberal dos anos 1990. Trabalhos como Arelaro (2003) assumiram que as avaliações externas estariam gerando redução curricular e estreitamento didático de forma que os professores estariam pautando seus trabalhos pelas mesmas. Diante de tais críticas e a partir de discussões e trabalhos realizados no âmbito do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional (Gepave), da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), começamos a nos perguntar se e até que ponto as avaliações externas estão reduzindo o currículo. Diante do exposto nos propusemos a investigar as seguintes questões: como a avaliação externa marca o currículo? A matriz de referência das avaliações externas está condicionando o trabalho dos professores? Na construção dos planos, onde os professores buscam os conteúdos que irão ensinar? Assim, este trabalho teve por objetivo investigar se os professores, na elaboração de seus planos de ensino, utilizam-se das matrizes das avaliações externas para orientarem a escolha do conteúdo. Metodologia A metodologia deu-se por meio de abordagem qualitativa com entrevistas semiestruturadas, análise documental e discussão em grupo envolvendo professores dos Ciclos I e II da escola1. Buscou-se estabelecer um diálogo com estes professores sobre o uso ou não das avaliações externas na produção dos planos de ensino como possível orientador do currículo, cientes de que se trata de um estudo de caso evitando, portanto, generalizações. 1 Na Rede Municipal de Ensino de São Paulo, à época do desenvolvimento da pesquisa, o ensino fundamental era dividido em dois ciclos de aprendizagem: Ciclo I, compostos pelos cinco primeiros anos e o Ciclo II, composto pelos quatro últimos anos. 2 Diante do objetivo inicial da pesquisa em investigar a influência das avaliações externas no currículo, pensou-se em quais materiais na escola isso se materializaria, por exemplo, nos planos de ensino, diários de classe, cadernos de alunos, projeto pedagógico e entrevistas com professores. Optou-se, então, pelos planos de ensino e por uma discussão com um grupo de professores. É preciso esclarecer que a escolha pelos planos de ensino como objeto de investigação para apreender uma possível influência das avaliações externas no processo de ensino se deve ao fato de que tais documentos representam o planejamento e a organização da ação educativa do professor, tal como sugere Moretto (2007). Trata-se, ainda, de um instrumento que prevê os objetivos e as tarefas do trabalho docente para um ano ou semestre, conforme demonstra Libâneo (1994). Fusari (1990) também salienta a importância do planejamento na prática social docente considerando-o como um elemento importante para a própria democratização do ensino público. Se, por um lado, os planos de ensino não são capazes de revelar tudo o que ensinam os professores, por outro, acreditamos representar mais que peças apenas “burocráticas”, produzidas sem qualquer relação com o ensino pretendido, o que, por sua vez reflete e refrata elementos que perpassam as concepções e objetivos que os professores têm para definir o que vão ensinar para seus alunos. Nestes termos, os planos de ensino ensejam uma apreensão do que é ensinado aos alunos, o que justifica sua utilização como ponto de apoio para investigar as influências das avaliações externas no ensino em sala de aula. Uma análise complementada pelas entrevistas realizadas. Iniciamos as entrevistas a partir da diretora da escola pesquisada com o objetivo de saber localização, elaborar uma caracterização da escola e saber como eram construídos os planos de ensino. Em seguida foi realizado um levantamento dos planos de ensino que estavam na escola. Esta tarefa que parecia num primeiro momento fácil tornou-se um verdadeiro "garimpo", entre caixas armazenadas no arquivo morto da escola. Vários planos não foram localizados, o que não quer dizer que não foram feitos, apenas que não se tem arquivo destes registros. Dos planos encontrados foram selecionados os de Língua Portuguesa e Matemática, dos Ciclos I e II, por serem estas disciplinas as que fazem parte das avaliações externas. Foi realizado o levantamento e leitura das matrizes de referência das avaliações externas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e da Prova 3 São Paulo, esta a avaliação externa da RME-SP. Para a investigação sobre as matrizes de referência do Saeb foi realizada uma pesquisa no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), da qual constatou-se que nem todas as matrizes produzidas desde o início do Saeb estavam disponíveis e foi necessária uma solicitação por escrito à instituição. A matriz da Prova São Paulo foi obtida no site da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Em seguida realizou-se uma análise longitudinal dos planos de ensino de acordo com suas estruturas, divididos em ciclos, disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, buscando localizar indícios de utilização das matrizes de referência das avaliações externas. Este trabalho foi realizado por três grupos de estagiários do Pibid. O primeiro grupo analisou os planos de Língua Portuguesa do Ciclo I, o segundo examinou os planos de Língua Portuguesa do Ciclo II e o terceiro grupo ficou responsável pelos planos de Matemática dos Ciclos I e II, sendo que os resultados de análise dos planos de Matemática já foram publicados em eventos acadêmicos e os de Língua Portuguesa estão em processo de publicação. Após a conclusão destas análises, promoveu-se uma discussão com o grupo de docentes dos Ciclos I e II sobre a produção dos planos de ensino. O objetivo era investigar quais as referências que os professores utilizavam na elaboração dos seus planos de ensino e se matrizes de referência das avaliações externas influenciavam nesta elaboração. O resultado desta discussão é o objetivo deste artigo. Foram realizadas as seguintes perguntas aos professores durante a reunião: nome, série na qual leciona e se fez plano de ensino no ano de 2013; qual o material utilizado para produção do plano; se usaram os conteúdos das avaliações externas para elaborar no plano; se os planos de ensino são flexíveis; o que é fundamental na elaboração de um plano de ensino; quais estratégias são utilizadas para aproximar o plano à realidade dos alunos; se os planos são elaborados individualmente pelos professores e qual material, além das Expectativas de Aprendizagem2, é utilizado na elaboração do plano de ensino. A reunião foi gravada e seus registros, transcritos, amplamente analisados e confrontados com os dados documentais colhidos. Para análise destes dados foram constituídas quatro categorias de análise sendo: i) a estrutura dos planos; ii) se os planos são apenas expedientes administrativos; iii) indícios de utilização das matrizes de referência de avaliações externas na elaboração dos planos de ensino da escola; e, iv) onde os professores buscam os conteúdos que irão ensinar. 2 Explicar no que consiste as Expectativas de Aprendizagem. 4 Resultados iniciais Ressaltamos que na categoria “a estrutura dos planos”, a análise realizada aponta diferenças na estrutura dos planos, observa-se que cada professora buscou elaborar seu plano de acordo com uma estrutura organizativa. É preciso dizer que a estrutura de planos de ensino atualmente utilizados, na verdade, remonta aos anos 1960. Fusari (1998, p. 48-49) afirma que a formulação inicial dos planos de ensino com os elementos estruturantes utilizados até hoje surgiram após o golpe militar de 1964, momento em que não havia espaço para um trabalho crítico e reflexivo: [...] no qual as relações entre educação e sociedade pudessem ser problematizadas [...] criando assim um “terreno” propício para a tendência tecnicista da educação escolar. [...] Assim, especificamente a partir de julho de 1970, os professores, os professores do Estado de São Paulo “treinaram-se” a respeito dos “componentes do planejamento de ensino”: “objetivos”, “conteúdos”, “estratégias” e “avaliação”. O autor (Op. cit., p. 46) indica como elementos curriculares básicos: Objetivos da educação escolar (para que ensinar e aprender?); Conteúdos (o que ensinar e aprender?); Métodos (como e com o que ensinar aprender?); Tempo e espaço da educação escolar (quando e onde ensinar e aprender?); Avaliação (como e o que foi efetivamente ensinado e aprendido?). A análise dos planos de ensino de Língua Portuguesa, do Ciclo II, entre os anos 2000 a 2004 revelou que a estrutura se deteve em: objetivos da escola, objetivo do ciclo, objetivo da área de conhecimento, habilidades a serem trabalhadas, metodologia, conteúdos e avaliação. Percebeu-se que com a criação das Orientações Curriculares e proposição das Expectativas de Aprendizagem no ano de 2008, os professores começaram a nortear seus planos por este documento. É oportuno ressaltar que o núcleo que articulou o documento das Expectativas de Aprendizagem foi um grupo diferente daquele que planejou e aplicou a Prova São Paulo. O primeiro sob a responsabilidade da Diretoria de Orientação Técnica (DOT) e o segundo sob a responsabilidade do Núcleo de Avaliação Educacional. Em 2010, já se tem os planos totalmente baseados nas Expectativas de Aprendizagem, de modo que o termo “habilidade” foi substituído por “expectativas” e sua estrutura se manteve a seguinte: “expectativas, tratamento didático, organização de tempos e espaços, conhecimentos (conteúdos), materiais necessários, acompanhamento e avaliação”, estrutura também 5 encontrada nos planos de Língua Portuguesa e nos de Matemática, estes problematizados em Costa e Ferraz (2013). Na revisão bibliográfica realizada encontramos autores como Libâneo (1994) e Gandin e Cruz (2006) que desde o final dos anos 1990 vinham discutindo a importância da elaboração de planos de ensino como instrumentos norteadores do trabalho do professor e apresentavam modelos de como um “bom” plano de ensino deveria ser elaborado. O que nos chamou a atenção ao analisar os planos de ensino dos professores foi que muitos deles mantêm uma estrutura muito semelhante à sugerida por estes autores. Data de 1975, por exemplo, um trabalho de Turra (1975, p. 257), em que sugere um denominado “plano de unidade”, o qual tem a mesma estrutura, inclusive com os mesmos termos, de alguns planos dos professores da unidade pesquisada. Este fato levantou a seguinte questão: com todas as mudanças legais e conceituais ocorridas nas últimas décadas, porque muitos professores ainda pautam a elaboração de seus planos em uma estrutura proposta no final dos anos setenta? Este é um ponto que ainda demanda pesquisa. O caráter administrativo dos planos de ensino ficou aparente nas falas de alguns professores, como: Seguir o plano é complicado, é mera burocracia, não tem como abranger (Professora A). No contexto desta citação, o plano é exposto como "burocrático" pelo fato de ser redigido no início do ano e como a realidade da sala não se adéqua a todos esses conteúdos e procedimentos estipulados, pois a sala de aula convive com diversas pequenas realidades a serem pensadas e aprendizagens a serem refletidas, ao final do ano percebe-se que o plano não foi concretizado. O plano, neste caso, não foi pensado como um documento que reflete intenções. Muitos professores, também, confundem o que chamam de caráter burocrático do plano, com um plano engessado e não flexível em que adequações não são permitidas por justamente ser um plano anual e não se adequar à realidade das aprendizagens no decorrer do ano: É burocrático, é, mas precisa ser igual ao que eu falo, a minha luta é, precisa ser um plano para aquele ano, o que ele precisa alcançar aquele ano. O que o aluno precisa saber no 1º ano, no 2º, 3º ou 4º é o que precisa ser estipulado no plano. Eu acredito que vou alcançar aquilo que escrevi até o final do ano, e é minha realidade é essa minha luta (Professora C). 6 A fala desta professora é reveladora do caráter determinista com que se reveste a organização do plano, para alguns professores, isto é, um instrumento organizador de expectativas que independem do perfil da turma, ou seja, não há espaços para readaptações, há o estabelecimento de alguns objetivos, ao que parece, gerais, e estes serão perseguidos até o final. A questão é que não fica claro o que ela pretende fazer com aqueles que não alcançarem tais metas. E a fala desta reflete a fala de outra professora no início da conversa, em que diz que chegou na escola em 2011 e o plano já estava feito, então eles só dão “pequenas pinceladas”(COSTA E FERRAZ, 2013). Como a pesquisa se deu em 2013, o plano se manteve pelo menos por mais dois anos. [...] é burocrático? É, mas a gente tem que seguir o que escreveu, porque senão vamos estar nos omitindo (Professora D). Nesta fala, percebe-se uma intenção de prestar contas do seu trabalho como professorà sociedade. O plano se traduz, então, nesta prestação de contas. Apesar de estar ciente pelo restante de sua fala que as dificuldades e diferenças existentes na sala não permitem uma totalização do descrito no plano de ensino. [...] fazemos por questões burocráticas, não que não seja eficiente, é porque é um norteador para gente, mas que não acaba atingindo as expectativas (Pprofessora E). Essa professora exprime a impossibilidade de, em determinados anos, não se conseguir abranger o plano proposto, mas que não é somente burocrático, pois serve de norteador para o desenvolvimento dos planos de aula. Apesar de haver comentários de professores que se sentem mais responsáveis pela construção e acompanhamento do plano de ensino, é relevante citar o pouco que se avançou nesta temática quando temos como referência um artigo publicado pelo professor Fusari (1989) em que comenta falas de professores que praticamente replicam o discurso que foi ouvido no grupo de discussão proposto para este trabalho: [...] “Vivo no improviso e é impossível planejar o trabalho docente”, ou: “Transcrevo o planejamento do ano anterior, acrescento algumas coisas, entrego e pronto. Cumpri minha obrigação. [E também] Acho importante, mas é uma coisa tecnicista e mecânica que nada tem a ver com a realidade da sala de aula. Sobre o aspecto anteriormente citado que define o plano como burocrático, o mesmo autor cita a diferença entre planejamento e plano, em que, para ele, o planejamento é um processo o qual implica uma “ação-reflexão-ação” do professor. Ou seja, engloba todo o trabalho de um ano anterior do professor de sua experiência em sala que “inclui o trabalho docente ao longo do ano letivo e vai além do seu 7 encerramento – quando o professor analisa o que ocorreu durante o período” (FUSARI, 1998, p.46). Tal conhecimento se dá antes do início de um novo ano letivo. Para Fusari (1998), o planejamento é um processo de trabalho e os planos são documentos nos quais, de alguma forma, se registra esse processo. Mas estes planos necessitam ser revisitados anualmente, semestralmente ou bimestralmente dependendo do período efetivo para qual o plano foi criado. Com relação à categoria “indícios de utilização das matrizes de referência de avaliações externas na elaboração dos planos de ensino da escola”, uma das duplas de pesquisadores do Pibid que analisou os planos de ensino de Língua Portuguesa, do Ciclo II, descreve após análise que: “apesar de termos acesso apenas a uma amostra dos planos de ensino da escola referida, não verificamos nenhuma relação entre eles e a matriz de referência das avaliações externas”. Costa e Ferraz (2013) demonstram a mesma impressão e citam que os planos “não possuem uma ligação direta com as avaliações externa”. A respeito do questionamento: “onde os professores buscam o que irão ensinar?” a dupla que analisou os planos das 4ªs séries do Ciclo I (5º ano) das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática do ano de 2012 asseguram que “em todos os planos analisados, tanto os de Língua Portuguesa quanto os de Matemática, houve praticamente uso literal das expectativas contidas nas Orientações Curriculares da Prefeitura”. No caso da dupla que analisou os planos de Língua Portuguesa do Ciclo II, esta cita que “o plano de ensino do 3º ano do Ciclo II de 2010 segue transcrevendo literalmente as sugestões das Expectativas de Aprendizagem”. Costa e Ferraz (2013, p. 16) argumentam que quanto “mais antigo” o plano de ensino, mais complexa se tornou a comparação com algum documento. Não perceberam a utilização das matrizes de avaliação e levantam a hipótese de que foram “embasados em livros, didáticos ou não, ou o que estava presente nos planos já era algo arraigado pelos professores”. Porém, o mesmo não ocorreu com os planos mais recentes, de 2010 e 2012, analisados pelos autores em que foi, [...] identificada a presença maciça das Expectativas de aprendizagem da SME de São Paulo. No caso dos planos de ensino do Ciclo I de 2010 (2º e 5º anos) foi identificada também uma relação com a Proposta Curricular do Estado de São Paulo. Durante a discussão em grupo, os professores disseram que atualmente utilizam as Expectativas de Aprendizagem como base principal para a construção do 8 plano. Quando indagadas sobre em que se amparavam antes das Expectativas de Aprendizagem, disseram que usavam os livros didáticos. Uma das professoras (A) disse que utiliza as Orientações Curriculares: Cadernos de Apoio, pois ali existe uma variedade de assuntos que são abordados nas áreas, “é difícil abranger tudo que esta nas Orientações Curriculares, mas os cadernos de apoio já trazem, já selecionam um pouco, além do que o professor pode selecionar os temas que julga mais importante para passar para os alunos”. Observou-se ainda que não há diferença entre Orientações Curriculares e Expectativas de Aprendizagem, embora a fala das professoras se refere, ora a “Expectativas de Aprendizagem”, ora a “Orientações Curriculares”, na verdade o documento da SME se intitula “Orientações curriculares e proposição de expectativas de aprendizagem”. Por fim, durante a dinâmica com o grupo de discussão, quando percebemos que nenhum dos professores havia feito menção à utilização das matrizes de avaliação externas em seus planos, perguntou-se diretamente se eles haviam feito esta utilização, eles então responderam que dos documentos oficiais apenas haviam feito uso das Expectativas de Aprendizagem. E, quando indagados se já haviam visto ou tinham conhecimento do que era uma Matriz de Referência de Avaliação Externa, após um momento de silêncio, a única citação que houve foi: Neste ano não, mas nos anos anteriores sim [e novamente todos ficaram em silêncio]. À guisa de conclusão, a pesquisa revelou que os planos de ensino se mantêm com estrutura semelhante a dos anos 70 e que mesmo discurso em relação à construção e acompanhamento dos planos de ensino se mantém o mesmo. Quanto à utilização de material para a construção dos planos de ensino que poderiam indicar uma possível redução de currículo, a única alteração que se observou neste período foi a de que, os livros didáticos que eram utilizados mais frequentemente cederam lugar às Expectativas de Aprendizagem, documento oficial elaborado pela Rede Municipal de Ensino de São Paulo, lembrando, porém, o fato de que a equipe gestora que produziu as Expectativas de Aprendizagem não é a mesma que formulou a Avaliação do Município de São Paulo, a Prova São Paulo, o que sugere certo distanciamento entre as matrizes e as expectativas. A pesquisa indicou, ainda, que os professores não têm conhecimento da matriz de referência de nenhuma avaliação externa, nem mesmo da Prova São Paulo, que era uma avaliação dirigida à rede. O que conhecem e utilizam na elaboração dos seus 9 planos são as Orientações Curriculares, inclusive copiando-as literalmente. O que percebemos é que, a despeito das várias afirmações no meio acadêmico de que as matrizes de referência das avaliações externas estão provocando uma redução do currículo, ao menos na escola pesquisada, os professores continuam a valorizar mais as suas experiências e as dos colegas de trabalho na elaboração de seus planos do que as prescrições das matrizes curriculares das avaliações externas. Referências ARELARO, Lisete Regina Gomes. Direitos sociais e política educacional: alguns ainda são mais iguais que outros. In: SILVA, Shirley; VIZIM, Marli (Org.). Políticas públicas: educação, tecnologias e pessoas com deficiências. Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil (ALB), 2003. (Leituras no Brasil). p. 13-36. COSTA, Thiago; FERRAZ, Juliana. Como as avaliações são apropriadas dentro da escola: analisando planos de ensino. Revista Encontro de Pesquisa em Educação, Uberaba, v. 1, n. 1, p. 9-19, 2013. FUSARI, José C. A construção da proposta educacional e do trabalho coletivo na unidade escolar. In: BORGES, Abel S. (Coord.). A autonomia e a qualidade do ensino na escola pública. São Paulo: FDE. Diretoria Técnica, 1998. (Série Idéias, n. 16). p. 69-77. ______. O planejamento do trabalho pedagógico:algumas indagações e tentativas de respostas. In: CONHOLATO, Maria Conceição (Coord.). A construção do projeto de ensino e a avaliação. São Paulo: FDE. Diretoria Técnica, 1990. (Série Idéias, n. 8). p. 44-53. ______. O planejamento escolar não é um ritual burocrático. Revista Sala de Aula, São Paulo, v. 2, n. 10, p. 34, 1989. GANDIN, D.; CRUZ, Carlos H. C. Planejamento na sala de aula. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. LIBÂNEO, José C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção Magistério 2º grau. Série Formação do Professor). MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: planejando a educação para o desenvolvimento de competências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. TURRA, Cláudia et al.Planejamento de ensino e avaliação. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1975. 10