análise de frações de fibra alimentar em rúcula e alface em

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Alim. Nutr., Araraquara
v. 22, n. 3, p. 401-406, jul./set. 2011
ISSN 0103-4235
ISSN 2179-4448 on line
ANÁLISE DE FRAÇÕES DE FIBRA ALIMENTAR EM
RÚCULA E ALFACE EM DIFERENTES ESTÁGIOS DE
MATURAÇÃO, SOB SISTEMA HIDROPÔNICO
Fernanda Fernandes MACHADO *
Mariana Moura Ercolani NOVACK**
José Laerte NÖRNBERG***
Elisângela COLPO****
RESUMO: As hortaliças são alimentos fontes de fibras de
grande importância. Este trabalho teve como objetivo avaliar o teor de fibra alimentar total e suas frações em cultivar
de alface e rúcula, sob sistema hidropônico, em diferentes
estágios de maturação. As plantas foram coletadas e analisadas segundo método de n. 991.43 da AOAC. ³ Houve diferenças significativas em relação à fração da fibra insolúvel, sendo maior na rúcula em relação à alface (p=0,00015).
A rúcula teve diminuição significativa da fibra solúvel em
dois períodos de maturação. A fibra alimentar total também
teve diminuição, porém, não apresentou significância. A alface mostrou uma tendência em diminuir a fibra alimentar
total e insolúvel nos estágios mais avançados, porém tais
dados não foram estatisticamente significativos. Concluise que a rúcula hidropônica tem uma quantidade maior de
fibras total em relação à alface hidropônica, sendo que as
hortaliças rúcula e alface têm uma quantidade maior da
fração insolúvel em relação a solúvel. Estes resultados são
importantes, pois especificam a qualidade e a quantidade
das fibras das hortaliças mais consumidas no país e desta
forma, o nutricionista pode ter uma conduta dietoterápica
mais específica e mais adequada para as necessidades de
cada paciente.
PALAVRAS-CHAVE: Fibra alimentar; hortaliças; fibra
solúvel; insolúvel; hidroponia.
INTRODUÇÃO
Atualmente as fibras alimentares vêm despertando
um vasto interesse na área da pesquisa, isto em função do
seu importante papel nutricional na alimentação humana.
Podendo destacar-se entre os alimentos fonte de fibra alimentar, a classes das hortaliças. Segundo a resolução da
Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos,
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária estas se tratam
de plantas herbáceas que possuem uma ou mais partes uti-
lizadas como alimento na sua forma natural, que de acordo
com sua parte comestível podem se dividir em verdura, legumes, raízes, rizomas ou tubérculos. 3
Dentre as hortaliças mais consumidas podemos destacar a rúcula e a alface, ambas com características próprias, que estão muito presentes na alimentação brasileira.
Quando nos referimos à rúcula (Eruca sativa) é possível
observar que esta é uma hortaliça pertencente à família das
Brassicáceas originária da Região Mediterrânea e o oeste
da Ásia muito consumida em países da Europa. 29
No Brasil a rúcula é utilizada freqüentemente em saladas e destaca-se pelo sabor característico picante, cheiro
agradável e acentuado, sendo muito consumida peculiarmente nas regiões de colonização italiana. 9
No que se refere ao teor nutricional, a rúcula apresenta além de fibra alimentar e água, boas quantidades de
minerais como potássio, enxofre, ferro e vitaminas A e C.
Outro fator considerável são as propriedades medicinais
atribuídas a ela, tais como ação digestiva, diurética, estimulante, laxativa e antiinflamatória.7,23
Apesar de ser bem consumida em certas regiões específicas do Brasil dados da Companhia de Entrepostos e
Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), publicados
em 2010, indicam aumento da procura por hortaliças, com
média elevada de 1,39%. A rúcula, por exemplo, sofreu aumento de 15,23% na procura pelos consumidores, o que
acaba por confirmar a importância da mesma no consumo
alimentar em âmbito nacional. 17
Por outro lado, temos a alface (Lactuca sativa) que
é uma hortaliça, pertencente à família Asteraceae, que teve
sua origem na Europa-Mediterrânea (sul da Europa e Ásia
Ocidental). No Brasil sua introdução deu-se no século XVI,
por meio dos portugueses. Apresenta grande importância
na alimentação e saúde humana, por ser fonte de muitas
vitaminas e sais minerais e fibra alimentar. 4,21
Atualmente é considerada a folhosa de maior importância no consumo dos brasileiros, sua alta procura fez au-
* Curso de Graduação em Nutrição – Centro Universitário Franciscano – UNIFRA – 97010-491 – Santa Maria – RS – Brasil.
** Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia dos Alimentos – Curso de Doutorado – Universidade Federal de Santa Maria –
UFSM – 97105-900 – Santa Maria – RS – Brasil.
*** Departamento de Tecnologia e Ciência dos Alimentos – UFSM – 97105-900 – Santa Maria – RS – Brasil.
**** Departamento de Nutrição – Curso de Nutrição – Centro Universitário Franciscano – UNIFRA – 97010-491 – Santa Maria – RS –
Brasil. E-mail: [email protected].
401
MACHADO, F. F.; NOVACK, M. M. E.; NÖRNBERG, J. L.; COLPO, E. Análise de frações de fibra alimentar em rúcula e alface em diferentes
estágios de maturação, sob sistema hidropônico. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 401-406, jul.set. 2011.
mentar à necessidade de produção o ano inteiro, despertando desta forma nos produtores práticas alternativas, como
o cultivo por meio hidropônico. 24 Trata-se de um alimento
de baixo valor calórico, que quando cultivada através da
hidroponia, comporta-se de forma a manter ou melhorar
sua composição química, ou seja, seus teores de proteína,
extrato etéreo, fibra alimentar e resíduo mineral, quando
comparada com a cultivada em meio ao solo.21
Santos26 relata que a hidroponia oferece inúmeras
vantagens, quando comparada ao cultivo tradicional no
solo. No mercado de produtos hidropônicos o parâmetro
custo/benefício em relação aos produtos convencionais é
mais elevado, porém muito reduzido em relação aos produtos orgânicos além de não conter quantidades desejáveis de
resíduos tóxicos, ou contaminação bacteriana. Além disso,
o consumo de água é cerca de cinco vezes menor e a necessidade de defensivos (agrotóxicos) é cerca de dez vezes
menor.
Como ambas as hortaliças estudadas são ricas em
fibras, é importante ressaltar que estas, são definidas como
as porções não digeríveis de um alimento vegetal, o qual
resiste à digestão e absorção intestinal, porém com fermentação completa ou parcial no intestino grosso Podem ser
divididas em solúvel e insolúvel de acordo com o seu grau
de solubilidade em água, sua estrutura e o grau de fermentação. 1,8
Podemos observar que além dos aspectos nutricionais da planta, os fatores climáticos e de maturação, agem
concomitantes a outros aspectos, exercendo um fator fundamental na qualidade das plantas a serem colhidas. 27
As células vegetais têm grau de maturação caracterizado pelo aumento das fibras, principalmente celulose e
lignina. Já os vegetais de crescimento rápido e maturação,
os tecidos mais jovens são ricos em pectinas e hemiceluloses. 10
Em meio a esta perspectiva a justificativa deste estudo, se dá pela necessidade de conhecer as possíveis variações das fibras alimentares de acordo com o tempo de
colheita, maturação e do tipo de manejo-hidropônico destas
hortaliças. Assim como pela importância das hortaliças na
alimentação e o quanto o teor de fibra nos diferentes estágios de maturação pode interferir na qualidade nutricional
de cardápios ou no planejamento de dietas modificadas à
conduta dietoterápica para os pacientes.
Objetivou-se com esta pesquisa avaliar o teor de
fibra alimentar total e suas frações, solúvel e insolúvel,
em cultivar de rúcula selecta (Horticeres) e alface crespa
Izabel, sob sistema hidropônico em diferentes estágios de
maturação.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo teve caráter experimental em blocos ao
acaso, que analisou os teores de fibra alimentar em cultivar
de alface crespa e rúcula, sob sistema hidropônico.
As amostras foram coletadas aleatoriamente na proporção média de 500g de cada amostra, em uma Granja do
402
município de Santa Maria – RS, as quais foram cultivadas
através de sistema hidropônico NFT - Técnica do Fluxo Laminar de Nutrientes, em estufas apropriadas para o cultivo
e soluções preparadas de acordo com o critério dos técnicos
agrônomos do local.
Realizou-se a coleta das amostras no mês de agosto
de 2010, nos seguintes períodos de maturação: alfaces 15
dias, 25 dias e 40 dias e rúculas 20 dias, 30 dias e 35 dias,
sendo coletadas manualmente. O critério utilizado para definir o período de maturação foram os estágios em que elas
ficam prontas para comercialização do período primário e o
mais tardio de colheita.
As plantas foram encaminhadas para análises no
Núcleo Integrado de Desenvolvimento e Análises Laboratoriais (NIDAL) da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM).
No laboratório primeiramente realizou-se o corte
manual das amostras e logo em seguida, foram pesadas e
pré-secas em estufa com circulação de ar forçada a 55ºC por
72 horas. As amostras foram retiradas da estufa e pesadas
novamente para determinação do teor de matéria parcialmente seca, sendo seqüencialmente moídas em micro moinho (marca Marconi, 27.000rpm) com tamanho de partícula inferior a 1mm e acondicionadas em sacos de polietileno,
devidamente identificados e armazenados a temperatura de
-18ºC, para posteriores análises da fibra alimentar.
As determinações dos teores de fibra alimentar total e insolúvel foram realizadas por método enzimáticogravimétrico, utilizando enzimas α – amilase (Termamil®
120L), protease (Flavourzume® 500L) e amiloglicosidase
(AMG® 300L) segundo método de n. 991.43 da AOAC. 2
O teor de fibra solúvel foi determinado pela diferença entre
fibra alimentar total e insolúvel. O fluxograma do tratamento realizado com as amostras está na Figura 1.
As análises dos resultados sofreram tratamento primeiramente através da tabulação no software Microsoft
Office Excel® 2007 e posteriormente através do programa
Statistic 6.0. O desenho estatístico foi Anova - uma via,
seguida de Duncan’s Test. Os dados foram considerados estatisticamente significativos quando p<0,05 e expressos em
média ± desvio-padrão (DP).
RESULTADOS
A análise da fibra alimentar total e das frações solúveis e insolúveis das hortaliças rúcula e alface hidropônicas
mostrou um aumento da fibra insolúvel e total na rúcula
em relação à alface (p=0,00015). Os valores médios da fibra solúvel não diferiram estatisticamente. As Tabelas 1 e 2
apresentam a média dos valores obtidos para cada hortaliça
hidropônica, nos diferentes tempos analisados.
Em relação à rúcula, os resultados encontrados demonstram diminuição significativa da fibra solúvel nos
diferentes estágios de maturação. Estes valores mostraram significância nos períodos de maturação 30 e 35 dias
(p=0,042) e entre 20 e 35 dias (p=0,029). Em relação à
quantidade de fibra insolúvel nos diferentes estágios de ma-
MACHADO, F. F.; NOVACK, M. M. E.; NÖRNBERG, J. L.; COLPO, E. Análise de frações de fibra alimentar em rúcula e alface em diferentes
estágios de maturação, sob sistema hidropônico. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 401-406, jul.set. 2011.
FIGURA 1 – Fluxograma do tratamento realizado com as
amostras.
turação não houve alteração significante. A fibra alimentar
total diminuiu seus valores médios ao final do período de
maturação em relação ao início deste período, porém, não
apresentou significância (p>0,05), conforme Tabela 1.
Os resultados da alface mostraram uma tendência
em diminuir a fibra alimentar total, mais especificamente
a fração insolúvel nos estágios mais avançados de maturação. Contudo estes resultados não foram estatisticamente
significativos Tabela 2.
DISCUSSÃO
Através dos resultados obtidos verificou-se que o
teor de fibra alimentar total das hortaliças não diferiu em
grandes proporções quando comparado a literatura utilizada atualmente como NEPA-UNICAMP 20 e IBGE, 16 valores estes referentes às tabelas de composição química usadas pelos profissionais da Nutrição.
A média de fibra alimentar total da alface analisada
foi de 1,27 ± 0,07g, resultado intermediário aos valores das
tabelas de referências como NEPA-UNICAMP 20 e IBGE,
16
que respectivamente, demonstram dados de 1,8g e 0,7g,
para alface nas mesmas proporções e variedades de cultivares, ressaltando que o IBGE utilizou o método não enzimático, diferente do presente trabalho. Ambas as tabelas
não fazem menção a valores de fibra relacionados à rúcula.
O teor de fibra alimentar total da rúcula teve média de 1,66
± 0,09g, nos estágios de maturação avaliados. Este dado é
próximo ao descrito pelo Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos em que a quantidade de fibra total na rúcula
a cada 100g é de 1,6g.31
A tabela da USP, TBCA30 apresenta dados centesimais da rúcula extraídos de um estudo realizado de Garbelotti, 12 que utilizou um o método enzímico-gravimétrico
do Instituto Adolfo Lutz, método este que, difere-se do
adotado na presente pesquisa segundo AOAC, 2 não podendo sofrer comparação. Segundo a Tabela Brasileira de
Composição dos Alimentos da USP TBCA30 a cada 100g
de rúcula é possível obter-se 3,13g de fibras totais. No entanto, os dados referentes à fibra alimentar total da alface,
são muito próximos aos encontrados na mesma tabela, com
1,25g/100g e o presente estudo 1,27g/100g. Esta tabela
utiliza dados médios da composição centesimal de várias
bibliografias, para a hortaliça alface.
Vale ressaltar que o presente estudo, relaciona mais
de um estágio de maturação e modo de cultivo hidropônico ao invés do convencional. Outro fator não igualitário
foi a quantificação das frações das fibras, o que nas tabelas de composição dos alimentos usualmente não são
mencionados.
No que se refere à fração solúvel, observa-se, que
houve resultado estatisticamente significativo para a rúcula, e apesar dos dados não terem sido significativos, a alface
também, demonstra tendência de elevação no teor solúvel
quanto mais nova a cultivar. Dado este importante, já que
as funções fisiológicas das fibras podem variar de acordo
com seu grau de maturidade e o tipo de vegetal. Em pesqui-
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MACHADO, F. F.; NOVACK, M. M. E.; NÖRNBERG, J. L.; COLPO, E. Análise de frações de fibra alimentar em rúcula e alface em diferentes
estágios de maturação, sob sistema hidropônico. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 401-406, jul.set. 2011.
Tabela 1 – Valores médios de fibra total e suas frações solúvel e insolúvel para a hortaliça rúcula
hidropônica nos diferentes estágios de maturação.
Estágios
Fibra alimentar total (g/100g)
20 dias
30 dias
35 dias
Média
1,66±0,10
1,67±0,13
1,63±0,02
1,66±0,09
Fibra solúvel
(g/100g)
0,12±0,01
0,11±0,01
0,09±0,00
0,11±0,01
Fibra insolúvel
(g/100g)
1,54±0,11
1,55±0,14
1,54±0,02
1,54±0,09
Dados expressos em média±DP. Anova uma via seguida de Duncan´s Test p< 0,05.
Tabela 2 – Valores médios de fibra total e suas frações solúvel e insolúvel para a hortaliça alface
hidropônica nos diferentes estágios de maturação.
Estágios
Fibra alimentar total (g/100g)
15 dias
25 dias
40 dias
Média
1,30±0,06
1,24±0,07
1,27±0,08
1,27±0,07
Fibra solúvel
(g/100g)
0,11±0,01
0,11±0,00
0,11±0,00
0,11±0,01
Fibra insolúvel
(g/100g)
1,19±0,06
1,14±0,07
1,16±0,08
1,16±0,07
Dados expressos em média±DP. Anova uma via seguida de Duncan´s Test p< 0,05.
sas com frutas, dados semelhantes foram encontrados onde
a maturação agiu de forma a reduzir os principais componentes dos polissacarídeos pécticos (galactose, arabinose e
ramnose), enquanto os componentes da fração hemicelulósica (xilose, glucose e manose) aumentaram. 5, 14
O teor de fibra solúvel inulina, frutooligossacarídeos
(FOS), beta-glucana, psyllium, e hemiceluloses tipo A nos
alimentos se torna relevante devido às funções importantes
que exercem em nosso organismo capazes de formar géis,
que ao entrarem em contato com a água, fazem com que os
alimentos fiquem mais viscosos. Isto leva a formação de
complexos que geram diminuição da absorção de lipídeos,
o que acaba ajudando na diminuição dos níveis de triglicerídeos e colesterol sanguíneos, dentre outras funções. 1,15,11
Os valores médios de fibra solúvel nas cultivares de
rúcula hidropônica analisadas no presente estudo foram de
0,11 ± 0,01g, valores maiores do que no estudo de Garbelotti12 que avaliou a composição centesimal de alimentos servidos em um restaurante self service e observou
que o teor de fibra solúvel das rúculas analisadas foi de
0,03/100g. Entretanto, o tipo de cultivar tanto do estudo de
Garbelotti12 é do tipo convencional. O tipo de cultivo exerce influência sobre o teor de fibra alimentar, haja vista que o
sistema hidropônico demonstra menor teor de fibra quando
comparado ao cultivo convencional. 6,28,25
Contudo, no estudo chileno de Pak22 que avaliou o
teor das frações de fibra alimentar em vários tipos de hortaliças também do tipo convencional, entre elas a alface, demonstrou valores mais próximos aos achados no presente
estudo. Porém é necessário evidenciar que a variedade da
alface também era diferente, assim como método de determinação da fibra alimentar. Os valores encontrados foram
de 1,49g para fibra total e 1,08g para fibra insolúvel e 0,41g
404
para solúvel, valores mais próximos aos da presente pesquisa, com exceção da fibra solúvel.
Em nosso organismo as fibras insolúveis têm como
principal característica, a habilidade de não sofrer digestão,
isto as fazem passar intactas por todo o processo digestivo,
o que ajuda a promover o aumento do bolo fecal e do peristaltismo intestinal, tornando-se excelente alternativa no
caso de constipação, assim como eficazes no aumento da
biodisponibilidade de certas vitaminas e minerais, como o
cálcio, relacionando-se a possíveis efeitos hipocolesterolêmicos e anticarcinogênicos. 11
Magenta19 relata que as plantas tendem aumentar o
teor de fibra alimentar como forma de defender-se de condições como tensão ou pressão, vento, passagem de animais,
insetos ou microorganismos, o que normalmente acontece
no cultivo em solo, onde é necessário formar uma camada
protetora ao redor do caule, que em geral é rica em lignina
substância essa insolúvel e que confere proteção à planta
por não ser facilmente digerida.
Considerando tais evidências estruturais na planta
e o ambiente em que as mesmas são cultivadas, é possível
que os resultados, sejam decorrentes do ambiente em que
as mesmas desenvolveram-se, por este ser favorável, e não
propiciar a modificação da constituição fibrosa e estrutural
da planta em prol de sua defesa.
Estas informações são relevantes, pois o teor de fibra insolúvel, não aumentou com o passar do tempo, pois
em ambiente controlado, a planta não precisa utilizar dos
mesmos mecanismos de defesa, que em condições adversas
teriam de estimular, como no caso de cultivo em solo. 19
Como as condições em ambiente hidropônico são
favoráveis, com o passar do tempo da planta não há grandes
modificações quanto ao espessamento, fator este que pro-
MACHADO, F. F.; NOVACK, M. M. E.; NÖRNBERG, J. L.; COLPO, E. Análise de frações de fibra alimentar em rúcula e alface em diferentes
estágios de maturação, sob sistema hidropônico. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 401-406, jul.set. 2011.
picia uma melhor qualidade da hortaliça, no que tange aos
teores de fibras. 13
Em geral as fibras alimentar se detêm na parte do
parênquima e colênquima das células vegetais. 19 Segundo
Gidenne 13 a parede dos vegetais se organiza de forma que,
a porção rica em pectinas fique na lamela média, formando
a uma das partes exteriores do tecido vegetal. As hemiceluloses, celuloses e alguns compostos pécticos, dispõem-se
na parede primária. E o restante das hemiceluloses, celuloses e principalmente lignina de forma mais organizada na
parede secundária do tecido vegetal.
Komi et al., 18 afirmam que o teor de fibra alimentar
nos vegetais tende a aumentar com a idade dos mesmos.
Contudo, esta evidência vai contra o estudo em questão,
onde todos os resultados apontam uma diminuição do teor
de fibra alimentar ao passar do tempo de maturação das
plantas, possivelmente sendo conseqüência do tipo de cultivo analisado no presente estudo.
CONCLUSÃO
Conclui-se que a rúcula hidropônica tem uma quantidade maior de fibras total em relação à alface hidropônica,
sendo que as hortaliças rúcula e alface têm uma quantidade
maior da fração insolúvel em relação à solúvel. Estes resultados são importantes para prática clínica, pois especificam
a qualidade e a quantidade das fibras das hortaliças mais
consumidas no país e desta forma, o nutricionista poderá
aplicar tais conhecimentos às orientações alimentares, de
forma individualizada, apresentando desta maneira conduta
dietoterápica e educação nutricional mais específica.
É preciso estimular a produção científica a respeito
da interferência dos estágios de maturação nos alimentos,
aplicados a alimentação a nível humano, assim como da
área relacionada às hortaliças, sendo que seu consumo é
sempre incentivado e por este fator faz-se necessário também explorar outros aspectos relacionados à planta e as
suas características de consumo e não somente as ligadas
às recomendações nutricionais.
MACHADO, F. F.; NOVACK, M. M. E.; NÖRNBERG,
J. L.; COLPO, E. Analysis of fiber fractions in lettuce
and rocket on different maturation stages. Alim. Nutr.,
Araraquara, v. 22, n. 3, p. 401-406, jul./set. 2011.
ABSTRACT: The vegetables are foods fiber source with
great importance. This work aimed at evaluating the amount
of total fibers and its fractions in rocket and lettuce cultivars
cultivated at hydroponic systems in different maturation
stages. The plants were collected and analyzed according
to the AOAC3 method 991.43. There were significant
differences in relation to the insoluble fiber fraction with
an increase of soluble fiber on rocket in relation to lettuce
(p=0.00015). Rocket showed a significant decrease of
soluble fiber in two maturation period. The total fiber
value also presented a decrease although not significant.
Lettuce showed a reduction of total fiber and insoluble
fiber value but in later stages that were not considered
statistically significant. It was concluded that hydroponic
rocket has a larger amount of total fiber than hydroponic
lettuce; both rocket and lettuce present a larger quantity
of insoluble fraction in relation to soluble fraction. These
results are important to specify the quality and quantity of
vegetable fibers more consumed in the country and thus, the
nutritionist may have a more specific diet therapy conduct
and more appropriate to the needs of each patient.
KEYWORDS: Dietary fiber; vegetables; soluble and
insoluble fiber; hydroponic.
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Recebido em: 22/12/2010
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