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MARCOS NA CIDADE: um protótipo moderno na paisagem urbana
de Goiânia
PAIXÃO, RONALDO (1); CAIXETA, ELINE MARIA MOURA PEREIRA (2)
1. UFG. P. P. G. PROJETO E CIDADE
Campus Samambaia. CEP.74690-612. Caixa-posta: 86. Goiânia -GO
[email protected]
2. UFG. P.P.G. PROJETO E CIDADE
Campus Samambaia. CEP.74690-612. Caixa-posta: 86. Goiânia -GO
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RESUMO
O presente ensaio insere-se no contexto da discussão da paisagem como patrimônio cultural.
Descarta, portanto, a visão de patrimônio como bem isolado, adotando sua dimensão paisagística
como suporte ativo de transformações e permanências no tempo. Este conceito de paisagem está
associado à constante construção de valores nos marcos ou recortes que a constituem. Goiânia, cidade
projetada em 1933, guarda experiências singulares na construção de sua paisagem. Desde sua
origem, foi marcada por um desenho cujos valores culturais e artísticos estão impregnados de uma
estética que se aproxima ao racionalismo funcionalista da década de 1930. A partir da década de 1950,
seu ambiente construído adquire novos valores que refletem uma maior influência do Movimento
Moderno difundido pelos CIAMs. A verticalização de sua paisagem, a partir das décadas de 1960-70,
abre espaço para experiências em torno de uma nova tipologia arquitetônica, o edifício em altura, e
suas implicações urbanas. Esse artigo tem como objeto de análise uma dessas experiências. Trata-se
da construção de edifícios de habitação coletiva inseridos na malha urbana de Goiânia, e concebidos a
partir de um protótipo desenvolvido na década de 1970, pelo arquiteto Antônio Lúcio Ferrari. Com a
singular articulação entre os blocos e sua participação na configuração da paisagem, criam-se imagens
marcantes que denotam uma nova ideia de cidade. Essa ideia tem origem no projeto da própria
residência do arquiteto, iniciado na década de 1960, como um estudo prototípico de habitação
unifamiliar. Esse estudo deriva de um programa de necessidades incomum para a época e tinha o
sistema estrutural como elemento definidor da forma arquitetônica. Por meio de um princípio estrutural
semelhante nasceu a proposta dos edifícios de apartamentos, construídos em distintos bairros da
cidade. A presença desta paisagem como expressão patrimonial encontra-se hoje ameaçada pelo atual
modelo de ocupação urbana, disperso e com ênfase na lógica de ocupação e consumo do espaço
citadino.
Palavras-chave: Arquitetura Moderna, Paisagem Urbana, Goiânia.
Introdução
O presente ensaio insere-se no contexto da discussão da paisagem como patrimônio cultural.
Descarta, portanto, a visão de patrimônio como bem isolado, adotando sua dimensão
paisagística como suporte ativo de transformações e permanências no tempo. Este conceito
de paisagem está associado à constante construção de valores nos marcos ou recortes que a
constituem.
Goiânia, cidade projetada em 1933, guarda experiências singulares na construção de sua
paisagem. Desde sua origem, foi marcada por um desenho cujos valores culturais e artísticos
estão impregnados de uma estética que se aproxima ao racionalismo funcionalista da década
de 1930. A partir da década de 1950, seu ambiente construído adquire novos valores que
refletem uma maior influência do Movimento Moderno difundido pelos CIAMs. A verticalização
de sua paisagem, a partir das décadas de 1960-70, abre espaço para experiências em torno
de uma nova tipologia arquitetônica, o edifício em altura, e suas implicações urbanas. Esse
artigo tem como objeto de análise uma dessas experiências.
Trata-se da construção de um conjunto de edifícios de habitação coletiva inseridos na malha
urbana de Goiânia, e concebidos a partir de um protótipo desenvolvido na década de 1970,
pelo arquiteto Antônio Lúcio Ferrari. Com a singular articulação entre os blocos e sua
participação na configuração da paisagem, criam-se imagens marcantes que denotam uma
nova ideia de cidade. Essa ideia tem origem no projeto da própria residência do arquiteto,
iniciado na década de 1960, como um estudo prototípico de habitação unifamiliar. Esse
estudo deriva de um programa de necessidades incomum para a época e tinha o sistema
estrutural como elemento definidor da forma arquitetônica. Por meio de um princípio estrutural
semelhante nasceu a proposta dos edifícios de apartamentos, construídos em distintos
bairros da cidade.
O presente artigo divide-se em três partes. A primeira, dedicada à construção da paisagem da
cidade de Goiânia, demarcando as transformações por ela vivida tendo em vista as
experiências arquitetônicas em conjunto com a expansão urbana. O intuito, assim, é de
construir o pano de fundo do objeto em questão. A segunda parte trata do objeto em
específico: o projeto do protótipo, suas origens, influências e configuração formal. Por último,
a construção desse conjunto de edifícios de apartamentos: os bairros de implantação e sua
localização; ideia do protótipo articulada às propostas dos edifícios, as novas configurações
formais dela decorrentes e a paisagens por ela geradas.
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O objetivo da discussão é colocar em pauta o valor dessas paisagens como expressão
patrimonial e a importância de sua valorização e consequente preservação por parte da
população, em função do atual modelo de ocupação urbana –disperso e com ênfase na lógica
de ocupação e consumo do espaço citadino– e que diariamente coloca em risco a
permanência destes exemplares no contexto da cidade.
Goiânia: a arquitetura da paisagem da cidade
Figura 1 – 1 Goiânia e seu desenho, vista aérea1945; 2 - Goiânia Vista aérea do padrão das edificações, 1953;
Goiânia Verticalizada, 1980. Fonte: Seplam.
Para o melhor entendimento do objeto em questão, é importante retroceder e demarcar as
transformações ocorridas em Goiânia: suas manifestações arquitetônicas em conjunto com o
seu processo de expansão. O objetivo é de identificar o contexto no qual os edifícios de
apartamentos foram construídos.
Goiânia foi fundada em 1937 para sediar a nova capital de Goiás dentro do bojo do processo
de modernização que vivia o país naquele momento. O plano original (1933), de autoria de
Atílio Correia Lima, tem suas raízes no modelo de urbanismo francês com um sistema viário
de grandes avenidas convergentes à sede do poder público, a Praça Cívica. Mais tarde, o
desenho da cidade recebeu outra referência trazida por Armando de Godoy, em 1937,
propondo um urbanismo inspirado no modelo inglês de Cidade Jardim.
As arquiteturas da cidade até então eram em sua maioria construções com características
racionalistas de início de século, identificado por alguns como “art’decó”, devido à utilização
de elementos decorativos geométricos, volumetrias simétricas e o predomínio de cheios sobre
vazios nos elementos de composição das fachadas. Porém, essas construções pioneiras, em
sua maioria, eram projetos de anônimos, ou de engenheiros da equipe técnica da
administração da cidade daquele tempo, o que, de certa forma, comprometeu a qualidade
dessas edificações (CAIXETA e FROTA, 2013).
Até a década de 1950, os padrões das edificações precursoras predominavam na paisagem.
Com a construção de Brasília, os ares da modernidade trouxeram outras experiências
arquitetônicas à capital goiana. Devido à proximidade com a nova capital federal, Goiânia teve
fortes influências econômicas, passando a ser interessante para imigrantes de diversas partes
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do Brasil. Com isso, profissionais arquitetos formados nas principais escolas do país daquela
época começaram a construir sua história em Goiânia, inserindo na paisagem novas
arquiteturas (CAIXETA e FROTA, 2013).
As tipologias mais significativas nesse período são em sua maioria edifícios institucionais
(sede de universidades, órgãos públicos e clubes), grandes equipamentos urbanos (estádio
de futebol, autódromo e estação rodoviária) e residências de alto padrão. Alguns desses
exemplares são projetados por jovens arquitetos em ascensão no contexto arquitetônico
brasileiro, a exemplo de Paulo Mendes da Rocha que deixou suas marcas na paisagem. O
arquiteto projetou o Jóquei Clube de Goiás, em 1962; o Estádio Serra Dourara, em 1975; e
prestou consultoria para o projeto do novo Terminal Rodoviário da capital, entre 1985-86.
Além da mudança estética das edificações, a partir dessa época inicia-se uma mudança
significativa na paisagem da cidade, principalmente no que diz respeito às tipologias
arquitetônicas. Até então prevalecia edificações térreas ou no máximo de três pavimentos. A
partir do início da década de 1960, inicia-se um processo gradativo de verticalização da
cidade, com grande força na região central entre os anos 1964-1975. Em sua pesquisa
1
Transformação do Centro de Goiânia: renovação ou reestruturação? (2002) Maria Diva Vaz
identifica grandes mudanças na paisagem da cidade desse período:
O final da década de 60, em Goiânia impressiona em sua velocidade de reescrita. Aqui
fica clara a noção de uma escrita sobre a outra na paisagem. No Setor Central, o
traçado viário é o mesmo, e o das quadras também. Alteram-se lotes, que são
remembrados para receber os edifícios em altura; casa, lojas, pequenos prédios são
substituídos; a arborização já está adulta. A paisagem se verticaliza muito
rapidamente. O “velho” e o “novo” estão muito presentes. As mudanças ocorrem no
âmbito da paisagem. [2002, p. 85]
Todavia, até 1975 o centro da cidade era o local de maior modificação e reconstrução do seu
espaço. Surge então, a partir dessa data, outras alternativas para verticalização em outros
bairros da cidade. Ainda segundo VAZ:
[...] fica-se sabendo que entre 1975-1976 o centro é o local escolhido para 16 novos
lançamentos de edifícios de apartamento; o Bairro Popular para 8; Setor Oeste para 5;
o Setor Aeroporto e o Sul, 4 cada um; e o Setor Marista para 1. Em 1977, o Setor Oeste
passa a ter a preferência dos investimentos, seguido de perto pelo Setor Central, até
ser completamente superado em termos numéricos. De 1977 a 1985, no Setor Oeste
foram lançados 58 edifícios, no Setor Bueno forma 14 e no centro 13. 2002: 92 e 93
1
Em sua pesquisa a arquiteta verificou uma mudança significativa da paisagem da cidade, entre os anos 19641992, principalmente na região central, foco do seu estudo. Dentro desse período, ela considera três subdivisões:
1964-1975, 1975-1981, 1981-1992. Para essa constatação o seu trabalho foi baseado principalmente em
documentos técnicos urbanísticos, levantamento de campo, jornais e fotografias dos diferentes períodos, que
auxiliaram a enxergar o processo de transformação do espaço da cidade estudado.
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A concentração de edifícios verticais passa a ser um “marco” no conjunto da paisagem da
cidade (VAZ, 2002, p. 85) tanto anto no setor central, ponto de início da verticalização, quanto
nos bairros novos mais próximos.
Porém, a arquitetura dessas edificações em altura apresentavam um gabarito variado de
altura dentro da tipologia da torre, com um padrão estético de qualidade também variada, no
qual imperava ao projeto responder às demandas de adensamento e da especulação
imobiliária vividas pela cidade no momento, comprometendo sua qualidade plástica e a
construção da imagem urbana.
Entretanto, alguns exemplares destacam-se e demarcam a imagem da cidade. É o caso dos
edifícios de apartamentos objeto desse artigo, nos quais existia uma vontade projetual que
imperava, diferenciando-os dos demais.
O Protótipo: origem de um ideal
A cidade de Goiânia assistiu diversas transformações de construção e reconstrução da sua
paisagem, de experiências arquitetônicas ricas e de profissionais que construíram sua
trajetória como arquitetos, junto com a história da cidade. Com Antônio Lúcio Ferrari não foi
diferente. Sua obra na cidade é vasta, com uma produção de mais de quarenta anos, na qual
é possível identificar traços de uma arquitetura engajada com determinados conceitos e
paradigmas estéticos presentes na arquitetura Moderna Brasileira. Tais influências são
reflexos da sua trajetória profissional, desde a sua formação.
Antônio Lúcio Ferrari Pinheiro graduou-se em arquitetura em 1963 na Universidade Federal
de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Natural de Ponte Nova, logo após sua formatura
retornou a cidade e lá desenvolveu os seus primeiros projetos, permanecendo no interior
mineiro por pouco tempo.
No ano de 1965 partiu em direção ao centro-oeste brasileiro, devida uma demanda
impulsionada pelo processo de modernização do interior do país, vivida naquele momento. A
primeira parada foi na cidade de Cuiabá. Lá fez parte de uma equipe de desenvolvimento de
projetos e obras do Governo do Estado do Mato Grosso, na gestão do ex-governador Pedro
Pedrossian (1966-1971). O Departamento de obras Públicas era responsável pela construção
de diversos escolas e campus universitários na capital e no interior do estado. Sua
contribuição nessa equipe durou dois anos (CASTOR, 2010).
Com o fim da empreitada de Cuiabá, segue para Goiânia em 1967. Ferrari assume uma vaga
de arquiteto no organismo central criado para coordenar a execução de obras do Governo do
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Estado, a SUPLAN 2 . Nela desenvolveu diversos projetos institucionais pelo Estado,
principalmente em Goiânia. Tal experiência, sem dúvida, construiu sua consciência sobre a
paisagem da cidade de Goiânia, suas transformações e seu desenvolvimento.
Entretanto, quando estabelecido na capital, suas atividades não eram restritas ao órgão
estatal. Ferrari realizava outros trabalhos paralelos, dividindo o seu tempo entre o ensino de
arquitetura e o desenvolvimento de projetos para clientes particulares. Uma vez em Goiânia,
dedica-se à implantação do primeiro curso de arquitetura no Estado, pela recém criada
Universidade Católica de Goiás, juntamente com o arquiteto Elder Rocha Lima; ajudando a
formar uma nova geração de arquitetos goianos.
Essa trajetória foi determinante na construção do seu discurso enquanto arquiteto.
A partir da década 1960, a arquitetura brasileira vivia uma grande fase de reconhecimento
internacional e debate, impulsionada pela construção de Brasília e pelo espírito da
modernidade. Assim, jovens arquitetos como Ferrari, viam a oportunidade de colocar em
prática os ensinamentos e preceitos do “projeto moderno”, a partir das referências da época
em destaque, como João Batista Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.
O projeto da sua residência sintetiza ideais, ideias e formas contidas em sua trajetória. Ele
evidencia tanto a influência dos ideais de cidade moderna propugnados pelos CIAMs, quanto
uma estética emergente no país, na qual o uso da tecnologia do concreto aparente alia-se ao
uso do sistema estrutural com gerador da forma.
Situada no Setor Marista, bairro nobre da cidade de Goiânia, a residência ganhou muito
destaque na época de sua construção (1974), devido sua forma inusitada e seu arranjo
estrutural. Apesar de edificada quase dez anos depois de sua chegada em Goiás, a ideia do
projeto é datada de 1966, fruto de uma pesquisa desenvolvida ainda quando o arquiteto
residia em Cuiabá. A intenção da proposta era de criar um protótipo que permitisse a sua
reprodução em série e em altura, e, ao mesmo tempo a flexibilidade de uso dos espaços. Um
atitude que demonstra inspiração nas ideias do Modernismo na arquitetura do início do século
XX, onde as experiências dessa natureza foram muito discutidas e divulgadas.
A “Maison Dom-ino” proposta por Le Corbusier, em 1915, é um exemplo paradigmático de
protótipo arquitetônico moderno. Este estudo era o reflexo de um pensamento que tratava da
construção em série como alternativa viável à concepção da “cidade do amanhã”. Motivado
pelo espírito modernizador vivido nos anos iniciais do século XX, Corbusier entendia que era
2
Superintendência de Planejamento de Obras do Governo do Estado, criada em 1965 no bojo da administração do
então Governador Mauro Borges.
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preciso rever o conceito de habitação e de habitação em série, defendendo a ideia de que a
“Série” estaria “baseada sobre a análise e a experimentação” (CORBUSIER, 1923, p.159). O
resultado dessa reflexão foi a concepção de uma estrutura espacial fixa, base para aplicação
em cadeia, que aceitava qualquer disposição espacial sem distinção de uso (CORBUSIER,
1923, p.162).
Figura 2 - 1 – Croquis do projeto da residência. 2 – Estudos de empilhamento do sistema. 3 foto da residência,
1977. Fonte: Acervo pessoal de Antônio Lúcio Ferrari.
A proposta prototípica de Ferrari para sua casa, serviu como corpo de prova daquilo que ele
reproduziria em outros projetos mais tarde. A estrutura é definidora da forma, resolvida de
maneira em que os pilares fossem dispostos em torno do sistema de circulação vertical de
acesso à casa, e as vigas, em balanço, suportariam o prisma onde localiza-se a residência. O
volume central da escada serve não só como eixo de circulação, mas também como prumada
para as tubulações hidro-sanitárias e de gás. Assim, estes sistemas de circulação e de
instalações dispostos de forma centralizada permitem sua reprodução em altura, mantendo o
espaço funcional inalterado. Essa configuração espacial define sua função como protótipo,
permitindo, desse maneira, sua multiplicação em série. (ver ARAÚJO; CAIXETA, 2013)
A difusão do Protótipo: os edifícios de apartamentos
A data de construção da casa é coincidente com o início das atividades de Ferrari na empresa
Provale. Uma incorporadora de construção civil responsável pela realização de diversos
empreendimentos durante os anos 1970, 80 e 90 em Goiânia, em sua maioria, edifícios de
apartamentos de alto padrão localizados em regiões nobres da cidade. Os projetos sob a
responsabilidade de Ferrari, foram construídos entre os anos de 1970 e 80, tempo de
atividade do arquiteto na empresa.
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Os edifícios de apartamentos assinados por Ferrari estão situados em dois bairros distintos da
cidade, somando um total de nove empreendimentos: apartamentos de alto padrão, com
unidades habitacionais por volta de cem metros quadrados, entre oito e quinze pavimentos. O
primeiro foi construído na década de 1970, no Setor Aeroporto. Mais tarde, na década de
1980, foi lançada uma série de empreendimentos batizados com nomes de cidades italianas.
O primeiro desta série tem nome do país, o Edifício Itália, localizado no Setor Leste
Universitário.
Figura 3 – Mapa Síntese de localização dos edifícios na cidade. Fonte: Os autores. Base do mapa : Google Earth.
A implantação dos empreendimentos faziam parte das regiões em expansão das década de
1970-80, o Setor Aeroporto e o Setor Leste Universitário. O Setor Aeroporto, localizado
próximo ao Setor Central, coincide com a área do antigo aeroporto que deu oriegem ao bairro.
Com a mudança da localização do Terminal Aéreo e o crescimento urbano acelerado, as
áreas em volta da pista foram parceladas. Mais tarde, esse bairro desenvolveu uma vocação
para a instalação de clínicas médicas e o comércio de automóveis, especializando seu
espaço, que passou a ser dividido com áreas residenciais. Os edifícios da Provale S/A foram
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implantados próximos a principal via articuladora do bairro, a Av. República do Líbano. Nessa
avenida, as áreas residenciais hoje são minorias no espaço do bairro, reservando seu espaço
para o comércio próprio da região.
Já o Setor Leste Universitário foi desenhado para abrigar as Universidades, como o próprio
nome denota. A praça Universitária, localizada no centro do bairro, abriga as sedes
universitárias e articula o desenho com o Setor Central e as áreas residenciais do próprio
bairro. Exceto a área da praça, todo restante do desenho é ocupado por residências, em
grande de forma adensada. Nessas áreas foram implantados a “Séria Italiana”.
As propostas desenvolvidas para os edifícios guardavam algumas diferenciações, partindo do
mesmo princípio estrutural prototípico experimentado na casa, não de modo literal, mas
explorando suas possibilidades compositivas. A ideia, a partir dos novos arranjos “ ... era
construir um conjunto diferenciado da paisagem” (FERRARI apud CAIXETA e FROTA, 2013).
Assim, Ferrari, lançou mão da estrutura aparente como elemento definidor da forma dos
edifícios, mantendo sua autonomia dos demais sistemas, como os de circulação e de
vedação. (Ver WINER e FROTA, 2013)
A primeira destas propostas foi edifício Itaipú (1974), no Setor Aeroporto. Esse projeto guarda
um pouco de distanciamento dos demais pela sua forma, em “Y”. Essa foi a primeira
experiência de empilhamento do protótipo, na qual a estrutura foi toda colocada nas faces do
edifício, demarcando seu núcleo central. O edifício emerge quinze pavimentos sobre uma
plataforma, onde estão localizadas as garagens. As unidades habitacionais ramificam-se em
três direções distintas, articuladas pelo sistema de circulação vertical, disposta de forma
centralizada.
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Figura 4 – 1 Edifício Itaipú, 1974; 2 - Esquema de setorização da planta do apartamento. Fonte: acervo pessoal do
arquiteto.
Já a série “Italiana” demonstra uma maior racionalização de meios. Os edifícios seguem uma
tipologia linear na sua ocupação e o sistema de circulação aparece na composição como um
elemento distinto da estrutura, já não centralizado como na ideia inicial do protótipo. A
estrutura, neste caso, é mais explorada na estética das suas fachadas, surgindo elementos de
concreto que se projetam para o exterior, sem função estrutural, mas apenas para construir a
composição. Neste caso a proposta se afasta da pretensa racionalidade do protótipo e a
estrutura deixa de ser elemento rígido, pois o arquiteto trabalha a forma do elemento estrutural
na busca de gestos decorativos, permitindo-se licenças arquitetônicas em prol da plasticidade
formal.
Os edifícios que compõem este conjunto são similares na sua configuração tipológica, o que
os difere é o número de pavimentos. Grande parte deles possui dez andares, exceto o Edifício
Florença, com 20 andares, e o Firenze, com dezesseis. Todos eles reservam as duas últimas
lajes para apartamentos duplex, cuja a última laje abriga a área de lazer da unidade, com
piscina e demais dependências.
Marcos na cidade: a construção de uma nova paisagem
As discussões sobre paisagem, principalmente sobre paisagem urbana, são fruto dos olhares
que se têm sobre a cidade. Como campo investigativo da arquitetura e do urbanismo a
paisagem desdobra-se em diversas vertentes, seja no entendimento da formação dos
espaços da cidade, dos resíduos urbanos, dos espaços públicos ou das relações existentes
ente os espaços e os objetos com a cidade.
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Neste texto leva-se em consideração a ideia da cidade como lugar da paisagem, visualizada
não somente por meio da imagem, mas fundamentalmente por meio da experiência de
habitá-la. Reconhece, assim, as transformações do seu espaço e as relações espaciais
formadas pela sua dinâmica, revelando marcos e referências do espaço citadino.
Falar de qualquer edifício como elemento marcante na paisagem de Goiânia é uma tarefa
difícil, devido à forma como está paisagem foi sendo construída ao longo dos últimos anos.
Mais complicado ainda é discorrer sobre uma tipologia edificatória moderna, cuja linguagem
ainda não está impregnada no imaginário da cidade. Falar sobre um edifício público ou uma
construção pertencente a história ou ao cotidiano da maioria das pessoas seria mais certeiro.
A capital goiana é uma cidade recente e seu imaginário ainda está em construção. Por esse
motivo faz-se necessário discutir as várias manifestações contidas em sua paisagem, sua
problemática e os desafios contidos em sua preservação enquanto ambiente construído.
O objeto deste ensaio, apesar do seu uso privado específico, guarda importantes relações
com o espaço urbano. Primeiro, por meio da sua imagem, que se constitui como referência ao
espaço citadino. Segundo, pelo seu papel na construção de um importante período da história
da cidade, revelando seus atores e suas conexões culturais com história da arquitetura
brasileira. Seja como elemento isolado, ou como conjunto, estes edifícios se fazem singulares
na paisagem da cidade, demarcando-a em “pontos focais” que aumentam sua legibilidade e
imagiabilidade (cf. LINCH, 1980) por contrastarem-se ao seu entorno imediato e criarem
novas e inesperadas tensões em seu espaço.
Buscou-se aqui reconstruir parte da narrativa de um personagem que ajudou a construir a
paisagem de Goiânia, por meio de uma pequena amostra de sua vasta e extensa produção.
Uma produção sobre a qual cabem ainda reflexões mais aprofundadas, sobretudo na cidade
de Goiânia.
Referências
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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS
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Dissertação (Mestrado). Mestrado em Geografia. Orientador: Celene Cunha M. Antunes
Barreira. UFG: 2002.
WINER. T. C; FROTA, J. A. D. Caminhos do Brutalismo: Antônio Lúcio Ferrari. Análise e
modelagem espacial em computação gráfica. Relatório final de iniciação científica. Faculdade
de Artes Visuais - Arquitetura e Urbanismo. Goiânia: UFG, 2013.
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