Cultura no plural

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Sociologia Volume Único | Unidade 3 | Avaliação Capítulo 10
Cultura no plural
1. Tema: Natureza X cultura
“Cultura diz respeito a modificar coisas, tornando-as diferentes do que são e do que, de outra maneira, poderiam ser, e mantê-las dessa forma inventada, artificial. A cultura tem a ver com a introdução e a manutenção de
determinada ordem e com o combate a tudo que dela se afaste, como indicativo de descida ao caos. Tem a ver,
então, com a substituição ou complementação da ordem natural (o estado das coisas sem interferência humana) por outra artificial, projetada. E a cultura não só promove, mas também avalia e ordena.”
(BAUMAN, Zygmunt e MAY, Tim. Aprendendo a pensar com a Sociologia. RJ: Jorge Zahar Editor. 2010. p. 203)
Tendo o texto como base, procure explicar com suas palavras o que é cultura e como é possível diferencia-la do que chamamos de natureza.
2. Tema: Monoculturalismo X multiculturalismo
“As pequenas sociedades, como as sociedades primitivas de caçadores e coletores, tendem a ser culturalmente uniformes ou monoculturais. Algumas sociedades modernas, como o Japão, têm se mantido bastante monoculturais e são marcadas por altos índices de homogeneidade cultural. A maioria das sociedades industriais,
contudo, está tornando-se culturalmente mais diversa, ou multicultural.”
(GIDDENS. Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed. 2007. p. 40)
a)Diferencie sociedades monoculturais de sociedades multiculturais.
b)Dê um exemplo de multiculturalismo comum à sociedade brasileira.
3. Tema: O relativismo cultural
Leia o seguinte trecho de texto de Claude Lévi-Strauss:
“(...) a demonstração que tentamos fazer compreendia dois aspectos: em primeiro lugar, mostrar que as regras de transformação que nos haviam permitido reduzir os mitos sul-americanos a expressões diversificadas
de um mesmo sistema eram transponíveis para a América do Norte, onde o método posto em prática no caso do
Brasil central levava também a esse resultado, de modo que os dois campos míticos, a despeito da distância geográfica, tornavam-se integralmente superponíveis; em segundo lugar e sobretudo, pesquisar de que modo essa
identidade fundamental era mascarada, no conteúdo dos mitos, por alterações e deslocamentos interpretáveis
em função dos gêneros de vida e das instituições sociais, extremamente diferentes nos dois casos.”
(LÉVI-STRAUSS, Claude. Minhas palavras. SP: Editora Brasiliense. 1991. p. 72)
a)Caracterize os dois métodos desenvolvidos por Lévi-Strauss para o estudo dos mitos sul-americanos.
b)Claude Lévi-Strauss foi um dos grandes nomes do estruturalismo. Explique o que é esta corrente
antropológica.
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4. Tema: Glocalização
Emir Sader assim caracterizou o processo de glocalização dentro da globalização:
“No entanto, esse caráter global precisa se articular, de maneira inovadora, com o local, precisa representar,
para todos, soluções concretas nas suas vidas, que se dão no aqui e no agora, na sua rua, no seu trabalho, na
sua escola, na sua vida de todos os dias. Não se ater ao lema simplista de ‘Pensar global, agir local’, que deixa a
reflexão global para o pensamento neoliberal e, ao mesmo tempo, parece pretender construir o outro mundo
possível em nível local. Assim, em ambos os planos esse raciocínio é equivocado – apesar do impacto da sua
formulação. Temos de ser capazes de pensar global e localmente, agir global e localmente.”
(SADER, Emir. Os porquês da desordem mundial – Perspectivas. RJ: Editora Record. 2005. p. 14)
Identifique a diferença entre o conceito de glocalização proposto por Emir Sader daquele comumente
associado ao saber sociológico convencional.
5. Tema: Local e global – o impacto da globalização nas culturas nacionais
O sociólogo Octavio Ianni é um dos grandes estudiosos do movimento de globalização e seu impacto
sobre as nacionalidades. Sobre este tema, o sociólogo nos aponta:
“Este é um momento epistemológico fundamental: o paradigma clássico, fundado na reflexão sobre a sociedade nacional, está sendo subsumido formal e realmente pelo novo paradigma, fundado na reflexão sobre
a sociedade global. O conhecimento acumulado sobre a sociedade nacional não é suficiente para esclarecer as
configurações e os movimentos de uma realidade que já é sempre internacional, multinacional, transnacional,
mundial ou propriamente global. É óbvio que a sociedade nacional continua a ter vigência, com seu território,
população, mercado, moeda, hino, bandeira, governo, constituição, cultura, religião, história, formas de organização social e técnica do trabalho, façanhas, heróis, santos, monumentos, ruínas. Ela constitui o cenário
no qual os seus membros movimentam-se, vivem, trabalham, lutam, pensam, fabulam, morrem. Tanto assim
que subsistem e ressurgem nacionalismos, provincianismos, regionalismos, etnicismos, fundamentalismos e
identidades em muitos lugares, nos diversos quadrantes do mundo. Mas a sociedade nacional não dá conta,
nem empírica nem metodologicamente ou histórica e teoricamente, de toda a realidade na qual se inserem
indivíduos e classes, nações e nacionalidades, culturas e civilizações. Aos poucos, e às vezes de repente, a sociedade global subsume formal ou realmente a sociedade nacional, compreendendo indivíduo, grupo, classe, movimento social, cultura, língua, religião, moeda, mercado, formas de trabalho, modos de vida. Tudo isto continua
vigente, como nacional, com toda a sua força original. Mas tudo isto, simultaneamente, articula-se dinâmica e
contraditoriamente com as configurações e os movimentos de sociedade global. Como totalidade geográfica e
histórica, espaçotemporal, em suas dimensões sincrônicas e diacrônicas, a sociedade global se constitui como
um momento epistemológico fundamental, novo, pouco conhecido, desafiando a reflexão e a imaginação de
cientistas sociais, filósofos e artistas.”
(IANNI, Octavio. “Globalização: Novo paradigma das Ciências Sociais”. Revista Estudos Avançados, nº 21. Mai/Ago 1994. Extraído de http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141994000200009, acesso em 13 de setembro de 2010)
A partir do texto, procure explicar a dinâmica existente entre a sociedade nacional e a sociedade global.
6. Ao longo do Império, a sociedade brasileira passou por transformações significativas, principalmente
quanto à sua composição étnica, resultado do incentivo à imigração europeia para o Brasil. Tal processo
atendia às necessidades de parte da intelectualidade brasileira, que via neste movimento a solução para
podermos melhorar o nível cultural do povo brasileiro; tal processo recebe o nome de branqueamento.
Estabeleça a relação entre o processo de branqueamento ocorrido no período imperial com as teorias
racistas do período, notadamente o darwinismo social.
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7. Gilberto Freyre foi um dos grandes estudiosos da sociedade brasileira e de sua formação. Em Sobra-
dos e mocambos, uma de suas grandes obras dedicadas a este tema, fez a seguinte observação:
“Há, diante desse problema de importância cada vez maior para os povos modernos – o da mestiçagem,
o das relações de europeus com pretos, pardos, amarelos – uma atitude distintamente, tipicamente, caracteristicamente portuguesa, ou melhor, luso-brasileira, luso-asiática, luso-africana, que nos torna uma unidade
psicológica e de cultura fundada sobre um dos acontecimentos, talvez se possa dizer, sobre uma das soluções
humanas de ordem biológica e ao mesmo tempo social, mais significativas do nosso tempo: a democracia social
através da mistura de raças”.
(Extraído de http://www.fflch.usp.br/sociologia/asag/Democracia%20racial.pdf, acesso em 14 de setembro de 2010)
a)Explique o que é a “democracia social através da mistura de raças”.
b)A sociedade brasileira na atualidade pode ser considerada uma democracia racial? Utilize argumentos convincentes para justificar sua resposta.
8. Em Dia de índio, Jorge Ben Jor caracterizou a população indígena da seguinte forma:
Amantes da pureza e da natureza
Eles são de verdade incapazes
De maltratarem as fêmeas
Ou de poluir o rio, o céu e o mar
Protegendo o equilíbrio ecológico
Da terra, fauna e flora
Pois na sua história, o índio
É o exemplo mais puro
Mais perfeito, mais belo
Junto da harmonia da fraternidade
E da alegria,
(...)
Já o texto abaixo, retirado do site oficial da FUNAI, nos dá uma ideia mais atual da forma como os
indígenas são interpretados:
“As populações indígenas são vistas pela sociedade brasileira ora de forma preconceituosa, ora de forma
idealizada. O preconceito parte, muito mais, daqueles que convivem diretamente com os índios: as populações
rurais.
Dominadas política, ideológica e economicamente por elites municipais com fortes interesses nas terras dos
índios e em seus recursos ambientais, tais como madeira e minérios, muitas vezes as populações rurais necessitam disputar as escassas oportunidades de sobrevivência em sua região com membros de sociedades indígenas
que aí vivem. Por isso, utilizam estereótipos, chamando-os de ‘ladrões’, ’traiçoeiros’, ’preguiçosos’ e ’beberrões’,
enfim, de tudo que possa desqualificá-los. Procuram justificar, desta forma, todo tipo de ação contra os índios
e a invasão de seus territórios.
Já a população urbana, que vive distanciada das áreas indígenas, tende a ter deles uma imagem favorável,
embora os veja como algo muito remoto. Os índios são considerados a partir de um conjunto de imagens e
crenças amplamente disseminadas pelo senso comum: eles são os donos da terra e seus primeiros habitantes,
aqueles que sabem conviver com a natureza sem depredá-la. São também vistos como parte do passado e, portanto, como estando em processo de desaparecimento, muito embora, como provam os dados, nas três últimas
décadas tenha se constatado o crescimento da população indígena.”
(Extraído de http://www.funai.gov.br/indios/conteudo.htm#HOJE, acesso em 14 de setembro de 2010)
Comparando o texto com a letra de Jorge Ben Jor, procure determinar, utilizando trechos da música,
se a visão passada pelo músico é preconceituosa ou favorável.
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Respostas
1. A cultura deve ser entendida como a capacidade do homem de alterar e dar novos significados à natu-
reza que o cerca. Todo resultado desta interpretação ou alteração é produto cultural da humanidade.
Portanto, natureza é tudo aquilo que jamais foi tocado ou sofreu interferência do homem.
2. a)Monoculturalismo faz referência àquelas sociedades que mantém um único padrão cultural, en-
quanto que as sociedades multiculturais possuem maior diversificação cultural, com a existência
de vários grupos distintos.
b)As várias manifestações culturais regionais, associadas a Estados, ou mesmo a regiões, como o
Carnaval, a Oktoberfest, as festas do Boi Caprichoso e Garantido no Amazonas, as lendas indígenas,
entre outras.
3. a)Claude Lévi-Strauss se baseia na comparação entre os mitos sul-americanos e norte-americanos, já
que suas estruturas são próximas, identificando os fatores responsáveis por tais mudanças.
b)O estruturalismo procura compreender a organização das sociedades a partir de uma visão crítica de outra corrente, o funcionalismo. Segundo o estruturalismo, são as estruturas sociais que
devem ser estudadas, pois são estas as responsáveis pela manutenção ou pelas mudanças presenciadas pela sociedade. Desta forma, não se deve promover comparações entre sociedades
avançadas e atrasadas, já que cada estrutura social responde a seus problemas de uma forma
particular a cada sociedade.
4. Emir Sader critica o uso comum de glocalização, em que esta é entendida como o local sendo captado
dentro do global e adquirindo dimensão a partir deste; por sua vez, para Sader, é preciso que ambos
interajam conjuntamente e não que um se alimente do outro para que seja possível propor soluções
eficazes para os limites da globalização.
5. Octávio Ianni chama a atenção para a realização de um movimento que leva à identificação do ele-
mento nacional em escala global ao mesmo tempo em que o nacional vai ganhando dimensão global
a ponto de se fortalecer sem perder sua identidade inicial.
6. O processo de branqueamento foi resultado da percepção dominante dentro da elite intelectual e po-
lítica brasileira de que uma sociedade mestiça não teria condições de melhorar a qualidade de sua
população de modo a jamais adquirir as condições adequadas para evoluir em direção ao ideal civilizatório europeu, identificado com a industrialização e urbanização resultantes da Segunda Revolução
Industrial do século XIX. Daí o incentivo à vinda de imigrantes europeus para diluir o sangue brasileiro
procurando melhorar sua qualidade e atingindo as condições para alcançar o estágio de civilização.
7. a)É a crença de que a contínua mistura de raças e enorme miscigenação da sociedade brasileira ge-
raram uma sociedade com grande tolerância para as diferenças sociais, já que ela própria é fruto
desta miscigenação, reduzindo os níveis de discriminação e violência resultante da mesma.
b)A ideia de uma democracia racial esbarra nos números da sociedade brasileira, onde é possível observar clara barreira a separar brancos de negros, barreira esta que não se limita apenas aos negros, mas à grande quantidade de minorias que lutam por fazer valer seus direitos.
8. É possível perceber que Jorge Ben Jor faz uma imagem idealizada do índio, destacando característi-
cas de sua sociedade que são anteriores à presença do homem branco, adequando-se, portanto à visão que o homem urbano possui dos indígenas e não da população rural, cujos interesses próximos
muitas vezes levam ao choque e à desqualificação das sociedades e comunidades indígenas.
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