perspectiva histórica da geografia agrária e os

PERSPECTIVA HISTÓRICA DA GEOGRAFIA AGRÁRIA E OS DESAFIOS
DE SUA DEFINIÇÃO.
Mariane de Oliveira Fernandes
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM
[email protected]
Vera Maria Favila Miorin
Universidade Federal de Santa Maria –UFSM
[email protected]
Resumo
Este artigo tem a pretensão de abordar na trajetória da Geografia brasileira, o nascimento da
geografia agrária, utilizando-se dos debates, reflexões e perspectivas que hoje a constituem. A
construção deste artigo se deve às leituras em ensaios, artigos e revistas referentes a Geografia
Agrária, permitindo ser possível defini-la, embora seja uma árdua tarefa a construção da
totalidade de seus conteúdos. Avaliamos que o trabalho deixa lacunas que o afastam de qualquer
pretensão a respeito de tê-lo considerado por acabado; porquanto a bibliografia hoje disponível,
não foi totalmente analisada, embora faça parte do propósito da investigação. No momento,
tem-se como objetivo tratar da importância de pesquisadores estrangeiros que contribuíram na
formação e na fundamentação teórico-metodológica utilizada nos estudos de Geografia Agrária
brasileira, segundo o mérito dispensado a eles pelos geógrafos do Brasil. No momento, objetivase determinar os desafios conceituais, de definições e metodológicos da Geografia Agrária na
perspectiva histórica da ciência Geográfica.
Palavras-chave: Geografia Agrária Brasileira. Influência Histórica Estrangeira. Desafios e
Definições.
Introdução
Os primeiros estudos de geografia agrária teriam se firmado na evolução do pensamento
geográfico por ocasião da segunda fase da Geografia Moderna em presença do
paradigma fragmentário, no século XIX e XX, por ocasião do aumento da
fragmentação-espacialização e da aglutinação das ciências fragmentárias em campos
comuns ou de aproximação que resultou na divisão da Geografia em Geografia Humana
e Geografia Física. Mais precisamente, pode ser situada no âmbito dos estudos do
homem, a partir da antropogeografia de Ratzel, cujas concepções a respeito do homem e
de seus papéis foram concebidas na fronteira com a Antropologia. Resultante da
aproximação das ciências, estudos de fronteira entre ciências, a direção dos enfoques
das análises geográficas se expandiram também para outras fronteiras, como foi o caso
1
da Geografia Agrária, desenvolvida por Daniel Faucher, na fronteira da sociologia e da
economia. (MOREIRA, 2011).
Segundo as análises e reflexões de Moreira (2011), entende-se que os estudos
desenvolvidos em Geografia Agrária estavam contidos no âmbito de aglutinação do
campo da Geografia Humana. O homem e o meio caracterizavam-se como parte de um
enfoque amplo, de um holismo, por assim dizer, a respeito das relações entre homem e
natureza, entendida, neste caso, como o meio natural onde se processa a vida humana.
Estas reflexões sobre a relação do homem com a natureza, no plano da fronteira da
geografia com a Antropologia, a Sociologia e a Economia, praticamente inaugurou a
tradição de se ver o homem em relação com a natureza por meio da mediação do espaço
político do Estado. Conferindo a criação das chamadas geografias setoriais e inclinado a
reconhecer os referenciais do positivismo organicista de Herbert Spencer (1820-1903)
no pensamento geográfico.
Embora o termo Geografia Agrária advenha do paradigma fragmentário da evolução do
pensamento geográfico, esta Ciência tem percorrido uma trajetória de mudanças e
assistido expressivos conflitos no que diz respeito à sua definição, funções e conteúdo
social. Tal dinâmica tem promovido o surgimento de uma série de estudos e pesquisas
neste campo em vários países, como no caso da Geografia brasileira, e promovido
reflexões teórico-metodológicas de fundamental importância dado as dimensões das
transformações em curso nas espacialidades rurais.
A pesquisa em desenvolvimento no Curso de Mestrado proporciona discussões sobre a
Geografia Agrária brasileira, destacando sua importância e os diversos olhares dos
pensadores que seguem distintas correntes filosóficas, ao interpretarem os problemas
das realidades espaciais, formularem conceitos e definirem termos em Geografia
Agrária. No presente é possível identificar novos olhares e novos entendimentos sobre o
espaço agrário, visto segundo suas principais categorias de análise resultantes do que no
passado era denominado de relações homem e natureza – homem e meio. (SANTOS,
1994)
Reflexões Preliminares
O estudo da relação homem e natureza acompanha o desenvolvimento da Geografia
desde a sua origem. A experiência vivenciada pelo homem no que diz respeito a
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agricultura e ao campo, segundo Suzuki (2011) são componentes anteriores até mesmo
à sistematização do saber então realizado no século XIX. O interesse geográfico pelo
estudo do meio rural desenvolveu-se de forma bastante particular e alcançou um papel
de destaque no
contexto da ciência
geográfica, sendo
contemporâneo ao
desenvolvimento da Geografia Científica do século XIX e início do XX.
Para Suzuki (2011) até a Segunda Guerra Mundial o que foi produzido é somente
Geografia Humana e não uma Geografia Agrária, de tal forma que, para este autor,
ainda não há um campo de saber assim definido como Geografia Agrária.
Geógrafos e historiadores são co-fundadores da Geografia Agrária, na
Alemanha e na Inglaterra, a partir de discussões realizadas no final do século
XIX, e depois na França; sendo Marc Bloch o primeiro a difundir, na
universidade, uma concepção que relacionasse os camponeses, as formas de
ocupação do solo e de habilitação como produtos da organização da
sociedade e do poder no tempo, a partir de um ramo do saber denominado
história rural; tendo, em 1931, publicado Caractères originaux de l’histoire
rurale française; obra que orientou os geógrafos, tornando-se, por um tempo,
um arquético de uma geografia indiferentemente agrária e rural [...] Assim,
não é possível pensar uma Geografia Agrária anterior à obra de Marc Bloch,
ou seja, uma Geografia Agrária constituída já no primeiro quartel do século
XX. (SUZUKI, 2011, p. 23-24)
Até então a discussão mantém concentrada nas grandes aéreas como a Geografia Física
e Humana. Suzuki (2011) faz referência à obra de Marc Bloch, um historiador francês
(1886-1944) onde seus trabalhos e pesquisas abriram novos horizontes nos estudos
sobre o feudalismo. Escreveu obras como Les caractères originaux de l'histoire rurale
française (1931) e La société féodale (1939).
No entanto, em fins do século XIX até meados do século XX, “já havia publicações
utilizando-se da expressão “Geografia Agrária”, como é o caso da obra de Daniel
Faucher, Geographie Agraire (Types de Cultures), de 1949)” (SUZUKI, 2011, p. 24).
Para este pensador, a Geografia Agrária tem como objeto a descrição das formas de
atividades e dos meios agrícolas. A Geografia Agrária é essencialmente qualitativa, ela
se estabelece sobre todo um conjunto de dados que só podem ser compreendidos do
interior, pelo contato direto e, de algum modo, íntimo com a vida e a mentalidade
camponesa. Suzuki (2011, p. 24) diz que: “A definição da Geografia Agrária como subárea da Geografia, constitui-se mais de uma década após a publicação do livro de Daniel
Faucher, no Brasil, em que se pese três de suas dimensões: a política, a técnica e a
social.”
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Na segunda metade do século XX, já há um diálogo e preocupação com as relações
sociais presente em obras de Pierre George, no qual a Geografia agrícola tem como
objeto o conhecimento e a expressão das relações sociais e econômicas. No Brasil, tais
preocupações serão refletidas através de “Manuel Correia de Andrade, um geógrafo
para além do seu tempo, [...]” (SUZUKI, 2011, p. 28)
Sabe-se que a Geografia Agrária passa por um processo de construção do
conhecimento, sendo fundamental o estudo sobre a atualidade do pensamento
geográfico em que os eventos são entendidos como espaços fundamentais para que esse
processo ocorra.
Primórdios da Geografia brasileira: do homem e da terra
A Geografia brasileira começa-se a ser dialogada com caráter científico a partir de 1930,
quando foram criados o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e
importantes faculdades de Filosofia, Ciências e Letras. Andrade (1992) na sua obra
Geografia, ciência da sociedade: uma introdução à análise do pensamento geográfico
trata que na República Velha, período de 1889 à Revolução de 1930, já eram publicados
livros de cunho geográfico, sendo influenciados por geógrafos franceses e alemães,
sendo a maioria deles de pensamento afinado no positivismo organicista. Segundo
Ferreira (2001)
Até a década de 1930, a literatura de interesse geográfico pode ser
enquadrada em quatro fases (Andrade, 1994). A primeira, até a metade do
século XVIII, é representada por trabalhos de cunho não-científico efetuados
por cronistas, aventureiros e comerciantes que, em crônicas e relatórios, se
preocupavam com a descrição dos homens e da terra. A segunda fase, que
compreende a primeira metade do século XIX, foi marcada pela vinda de
viajantes estrangeiros, os quais objetivavam conhecer diferentes áreas do
país, observando e colhendo informações e material para estudos.
(FERREIRA, 2001, p, 41)
Não apenas nesta obra, mas em outras, Andrade discute a Geografia brasileira contando
sua história e a sua institucionalização.
Andrade (1993) relata que “No Brasil o
desenvolvimento dos estudos geográficos se fez muito lentamente; durante o período
imperial e da Primeira República os geógrafos se dedicaram mais a fazer estudos
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descritivos, levantamentos estatísticos e a produzirem alguns atlas”. (ANDRADE, 1993,
p. 18)
Este autor faz destaque de alguns pensadores que contribuíram para o desenvolvimento
do pensamento geográfico através dos seus trabalhos, como o do Barão de Rio Branco,
que foi professor, político, jornalista, diplomata, historiador e biógrafo. Estabeleceu os
contornos do território brasileiro em meados de 1910 e áreas de fronteiras com países
vizinhos. No Brasil, segundo Andrade (1994), no início do século XX militares e
engenheiros seguiram uma linha determinista, adaptando os ensinos geopolíticos de
Ratzel entre outros pensadores ao território brasileiro, como: a redivisão territorial do
Brasil.
No decorrer dos anos até chegar ao Estado Novo, regime político centralizado e
autoritário brasileiro, fundado por Getúlio Vargas em 1937 que durou até 1945,
instituiu-se o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizando e
instituindo uma nova divisão político-administrativa no país. Com coletas de dados
estatísticos, fez-se o levantamento cartográfico do território brasileiro, realizando o
recenseamento decenal, registrando dados da população e da economia do país.
Andrade (1994) declara que o IBGE, ao implantar o levantamento da realidade
brasileira,
Partindo da experiência de Delgado de Carvalho, de formação francesa, foi
feito um levantamento de monografias regionais e locais e o país foi dividido
em cinco grandes regiões naturais. Era uma geografia mecanicista, sem a
indicação do “para quê” da realização destes estudos, mas representou um
momento áureo dos estudos geográficos; através deles, o Brasil procurou
conhecer a si mesmo, procurou sua identidade, embora alguns geógrafos
descessem a detalhes de menor interesse, procurando comparar situações
brasileiras com as européias e advogando a existência, no Brasil, de um
campesinato do tipo francês. (ANDRADE, 1994, p.52)
Ao escrever tais fatos, relata que os geógrafos brasileiros apesar de terem a instalação
de um Instituto como o IBGE, não tinham a sua disposição “[...] um instrumental
filosófico moderno [...]” (ANDRADE, 1994, p. 53), perdendo então sua participação no
Estado para os economistas. Os geógrafos até então pretendiam fazer “uma geografia
apolítica”. Entretanto, no Brasil, há a figura de um pensador que teve uma posição
diferente em relação aos outros geógrafos até então, que foi Josué de Castro. Este
pernambucano teve uma profunda influência na vida nacional e grande projeção
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internacional nos anos que decorreram entre 1930 e 1973. Dedicou seus estudos ao
problema da fome no Brasil e, além de geógrafo, foi um político militante.
A partir da década de 1930, a Geografia no Brasil começa a discutir uma Geografia
oriunda da Escola Francesa. Andrade (1993) relata que
Nas Universidades ensinou-se, sobretudo a geografia da escola francesa que,
formulada em função da defesa dos interesses coloniais franceses, tinha uma
visão europocêntrica do mundo e encarava o mundo tropical apenas como
uma área de exploração. Por isto dizia-se socialmente neutra e diminuía os
compromissos políticos da Geografia que vinham desde a civilização grega.
Alguns geógrafos franceses, como Pierre Monbeig, Pierre Deffontaines,
Francis Ruellan, Jean Tricart e Michel Rochefort, se identificaram de tal
forma com a problemática brasileira, que venceram as raízes de sua formação
lablachiana e deram uma contribuição positiva à nossa geografia.
(ANDRADE, 1993, p. 30)
A partir da década de 1930, a Geografia brasileira ensinada e discutida nas
Universidades e no IBGE, recebeu a influência dos pensadores franceses acima citados.
Segundo Andrade (1992), a escola clássica francesa dominou a Geografia brasileira
“[...] sendo responsáveis pela difusão e adaptação deste pensamento três frentes de
trabalho: as Universidades, o IBGE e a AGB.” (ANDRADE, 1992, p.83). No ano de
1934, em São Paulo, e em 1935, no Rio de Janeiro, foram criadas as Universidades de
São Paulo (USP) e do Distrito Federal - a atual Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), que tiveram a participação de geógrafos franceses. Na Universidade de São
Paulo temas ligados à História e à Sociologia começaram a ser discutidos, dando ênfase
à Geografia Regional, levando em consideração os aspectos físicos regionais.
O quadro a seguir apresenta a participação de geógrafos franceses no desenvolvimento e
contribuíção para a Geografia Agrária brasileira.
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Quadro 1: Influência da Geografia Francesa na Geografia Agrária Brasileira
Um dos proeminentes autores franceses historicistas bastante lidos e
Jean Brunhes: incorporados pela Geografia Brasileira
Conhecimento sobre o campo e a agricultura, mas fazendo uma Geografia
Humana, valorizou as categorias de produção agrícola e habitat
Participou da primeira expedição estrangeira formadora da Universidade de
Pierre
São Paulo (1934)/ fundação da Associação dos Geógrafos Brasileiros e da
Deffontaines:
Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio da Janeiro)
Participa da construção de uma Geografia marcadamente historicista
Proeminente geógrafo historicista muito preocupado com a realidade
Monbeig
histórica da frente pioneira
Valorizou as categorias de habitação e povoamento rurais
Albert
Demangeon
Valorizou as categorias de paisagem agrária e sistemas agrícolas
Max Derrau
Fonte: SUZUKI, Júlio César. Territorialidades e diversidade nos campos e nas cidades latinas americanas
e francesas. 2011, pp.23-40.
Organização: Mariane de Oliveira Fernandes
Para Ferreira (2002, p. 127) outros geógrafos estrangeiros podem ser citados como “Léo
Waibel, estudando os sistemas de cultivos em áreas tropicais (1947); Preston James
(1945) d Lynn Smith (1947ª, 1947b) que estudaram as terras cafeeiras no Sudeste
Brasileiro e o tamanho das propriedades rurais no Brasil, respectivamente”.
Segundo Ferreira (2001), após a Revolução de 1930 no Brasil, foram feitos diversos
estudos sobre o que diz respeito à realidade brasileira;
[...] autores como Gilberto Freire, Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de
Holanda procuram caracterizar a realidade nacional. A necessidade de
conhecer e conquistar o território brasileiro – até então mais conhecido pelos
estrangeiros que aqui buscaram conteúdo para seus estudos – em função da
política de modernização a ser implantada pelo governo federal torna o
conhecimento geográfico autônomo e o institucionaliza. (FERREIRA, 2001,
p. 42)
Esta autora ainda descreve que alguns geógrafos, além de preocupar-se com o estudo da
realidade propriamente dita, efetuaram a discussão e a sistematização teórica desse
campo de conhecimento, a Geografia Agrária brasileira, dentro da Geografia.
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Para Alves (2010), no período clássico da Geografia Agrária brasileira entre 1939-1950,
havia um diálogo sintético, por meio da observação da paisagem, com trabalhos
meramente descritivos.
Os conceitos enfatizados na geografia agrária clássica estavam relacionados
com as organizações rurais, como o habitat, gêneros e modos de vida, tipos
de povoamento e sistema agrícola. As influências teóricas e metodológicas
francesas e alemãs embasaram as pesquisas no Brasil, por isso, do
predomínio dos estudos regionais originários de Paul Vidal de La Blache que
se difundiram com Pierre Monbeig ou os estudos das paisagens agrárias
(econômicas e culturais) de Leo Waibel, que foi o grande mestre de Orlando
Valverde. (ALVES, 2010, p.66)
Segundo Suzuki (2011), a disciplina de Geografia Agrária passa a existir na segunda
metade do século XX em diversas Universidades; praticamente em todos os cursos de
Geografia no Brasil. Este autor descreve que a Geografia Agrária ou também
denominada de Geografia Rural “[...] vai encontrar seu lugar nos currículos dos cursos
de graduação, após a reforma universitária de 1968.” (SUZUKI, 2011, p. 26).
Aproximações e divergências na Geografia Agrária
Rigor e método são imprescindíveis na pesquisa e exigem o exercício permanente de se
fazer opções. Quando precisamos conceituar um fato, um fenômeno ou um processo
muitas dúvidas surgem. Antes de avançar com essas considerações é importante deixar
claro para que serve um conceito. Todo conceito serve para se compreender a essência
dos objetos, dos fenômenos, das leis e, nesse sentido, se constitui num instrumento de
conhecimento e pesquisa.
Através da leitura de ensaios, artigos e revistas referentes à Geografia Agrária ou Rural,
segundo Ferreira (2001) é possível perceber que definir Geografia Agrária não foi tarefa
fácil para aqueles que a isto se propuseram. Uma das dificuldades principais esteve no
fato de a Geografia Agrária ter como objeto uma atividade estudada também por outras
ciências.
Na obra de 1973 “Géographie rurale: méthodes et perspectives” de J. Bonnamour
discute que a ciência geográfica é firmada como disciplina nova em um mundo ainda
caracterizado pelo equilíbrio dos espaços ruralizados e as cidades, no entanto, esta
ciência deve muito aos estudos rurais. Esta autora ainda destaca a importância da
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Geografia Rural para a ciência geográfica, descrevendo que a Geografia rural, possui
valor insubstituível, no entanto deve igualmente tomar consciência das mudanças
necessárias por mais que atrasada esteja.
Segundo Ferreira (2001), o estudo geográfico referente à agricultura,
[...] foi realizado ao longo do tempo por diferentes enfoques que produziram
uma diversidade de definições, as quais refletiam o modo de pensar do
momento. Assim, em princípio, a Geografia Agrária era desenvolvida como
“parte” da Geografia Econômica, e os estudos econômicos em Geografia
tinham, na agricultura, seu foco principal. Apesar disso, a denominação
Geografia Agrária não era adequada, considerando-se que o conteúdo destes
estudos voltava-se, prioritariamente, para a análise da produção agrícola, da
distribuição dos cultivos e pouca importância era dedicada às questões
sociais, característica dos estudos agrários. O produtor agrícola, nesse
momento, era considerado um elemento da paisagem, estudado em seu
hábitat e em seus gêneros de vida. (FERREIRA, 2001, p. 42)
J. Bonnamour (1973) menciona a importância de diversos autores como: J. Weulersse
no continente africano (1934), P. Monbeig no Brasil (1950), P. Gouron Estado-Membro
a Ásia das monções (1936), E. Juillard Estado-Membro Alsácia (1952), do Sr. Derruau
em Limagne (1949) entre outros contribuíram de forma brilhante para o conhecimento
do espaço vivido através das experiências assimiladas nestes determinados lugares.
Porém, como já descrito por Ferreira (2001), o conteúdo destes estudos voltava-se,
prioritariamente, para a análise da produção agrícola, da distribuição dos cultivos, pouca
importância era dedicada às questões de cunho sociais.
Outra análise crítica encontrada na obra de J. Bonnamour (1973) é como a Geografia
rural herdou ao longo do tempo um vocabulário impreciso. O sentido dos diferentes
termos utilizados variam constantemente de uma obra para outra, causando incertezas
de tal forma que, exigem glossários e dicionários capazes de assegurar a definição dos
termos que se multiplicavam e causavam confusão. Sobre tal fato,
[...] P. George acaba de propôr um dicionário da Geografia onde A. Branco
assegurou a definição dos termos rurais (1965). No entanto, tais tentativas
não são tanto normativas a fim de responderem às necessidades de
investigação estreitamente definidas; cada investigador tenta precisar os
conceitos que lhe parecem úteis e tende naturalmente a propôr novas
definições. (BONNAMOUR, 1973, p. 10)
Nas tentativas de se criar uma normatização, vem sendo criados novos termos que
segundo J. Bonnamour (1973) vem causando uma confusão de significados.
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O espaço rural tem passado ultimamente por um conjunto de mudanças com expressivo
conflito no que diz respeito às suas funções e conteúdo social, o que tem levado ao
surgimento de uma série de estudos e pesquisas sobre o tema em vários países,
sobretudo nos países desenvolvidos, onde esse processo apresenta maior importância.
Segundo Marques (2002), especificamente o Brasil, o despertar para tal problemática
tem se dado principalmente entre os estudiosos empenhados com a discussão de uma
nova estratégia de desenvolvimento rural para o país. Para a autora: “Há muita
divergência quanto ao modo de definir o rural e isto se deve a uma série de fatores que
vão desde a forma diversificada em que esta realidade se apresenta no espaço e no
tempo até as influências de caráter político-ideológico e os objetivos a que visam
atender as diversas definições”. (MARQUES, 2002, p. 99)
Comumente o rural é definido juntamente com o urbano com base em características a
partir das quais eles se diferenciam.
Wanderley (2000), no seu artigo “A emergência de uma nova ruralidade nas
sociedades modernas avançadas – o “rural” como espaço singular e ator coletivo”
propõe uma reflexão sobre as transformações do mundo rural nas sociedades modernas
avançadas. A autora faz diversos apontamentos, inclusive definições oficiais do meio
rural, adotadas nos países europeus, no qual se pode perceber a diversidade de critérios
e, por conseguinte, de concepções do rural e do urbano neste final de século XX e que
se adentrará no século XXI. Fazendo a seguinte indagação: “É possível uma definição
européia do mundo rural?”
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Quadro 2: Definições administrativas sobre o Rural na Europa
Dois sistemas de classificação se combinam, um referindo-se aos
municípios e levando em conta sua população e seu crescimento, o
Bélgica
outro em função do lugar da agricultura no espaço habitado.
Dinamarca
Duas abordagens podem ser distinguidas, uma procedendo da
regulamentação da construção: as zonas rurais são, então, aquelas onde
a agricultura tem prioridade; a outra, através das estatísticas: são
considerados como rurais toda região que conte menos de 200
habitações ou todo município que compreenda uma população entre
4.000 e 10.000 habitantes.
França
A definição mais corrente retém como rurais os municípios com menos
de 2.000 habitantes. Como esta definição não parece mais pertinente,
uma distinção suplementar foi acrescentada: as Zonas de Povoamento
Industrial ou Urbano (ZPIU) e o rural profundo “fora das ZPIU”.
Alemanha
Existe uma tipologia de diferentes coletividades territoriais que reúne
índices econômicos, número de habitantes e densidade da população.
Nesta tipologia, existem regiões definidas pela sua “vocação agrícola”.
Grécia
Não há definição; em sua falta, o critério da densidade populacional
(30 hab./km2) é utilizado.
Na Itália
Não existem critérios para diferenciar o meio urbano do meio rural,
mas são qualificados de rurais os municípios de menos de 10.000
habitantes. Os municípios são classificados segundo 13 critérios.
Irlanda
O critério de 100 habitantes distingue os “distritos urbanos” dos
“distritos rurais”.
Luxemburgo O rural não é distinto do urbano. As zonas rurais estão incluídas na
tipologia das zonas urbanas.
Holanda
Portugal
Inglaterra
É através dos planos de utilização do solo que se opera a distinção,
muito clara, entre zona rural e zona urbana.
Não há definição oficial do mundo rural
O espaço rural é o espaço residual do urbano, que dá lugar a uma
classificação muito fina a partir da utilização dos solos.
Fonte: Wanderley, Maria de Nazareth Baudel. “A emergência de uma nova ruralidade nas sociedades
modernas avançadas – o “rural” como espaço singular e ator coletivo”. 2000, pp. 87-145.
Organização: Mariane de Oliveira Fernandes
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No que diz respeito ao Brasil, segundo Marques (2002), adota-se o critério políticoadministrativo e considera-se urbana toda sede de município (cidade) e de distrito (vila).
Para o IBGE, é considerada área urbanizada toda área de vila ou de cidade, legalmente
definida como urbana e caracterizada por construções, arruamentos e intensa ocupação
humana; as áreas afetadas por transformações decorrentes do desenvolvimento urbano,
e aquelas reservadas à expansão urbana. Percebe-se através das definições encontrados
nos países europeus e a definição apresentada pelo IBGE que o meio rural continua
sendo identificado a uma pequena aglomeração, com uma sociabilidade correspondente
e onde predominam as paisagens naturais.
Para Andrade (2010), no caso específico da Geografia Rural se teria dificuldade de
generalizar uma teoria que a explicasse, englobando a superfície da terra, de vez que o
rural não se constitui uma unidade, em escala mundial, havendo um rural na Europa,
outro na África, outro na Ásia e outro na América Latina; a evolução das paisagens e
estruturas rurais está intimamente ligada ao sentido da civilização, nas velhas
civilizações da Europa e da Ásia, e da colonização nos países ex-coloniais. É
perceptível ao ler e analisar as diferentes colocações sobre o rural nos diversos países
apresentados.
Retomando a obra de J. Bonnamour (1973), uma das reflexões feitas pela autora diz
respeito a “Ambiguidade dos termos” dentro do rural. Neste fragmento Bonnamour
relata que, com efeito, a ambigüidade dos termos na Geografia rural tem inúmeras
razões, entre elas, o “empréstimo” de termos vindo de outras áreas do conhecimento e a
adoção de expressões regionais entre outros. Para a autora, o “mundo” em que os
geógrafos estudam, ou seja, as análises e reflexões realizadas pelos geógrafos acerca dos
conceitos, os referenciais teóricos e metodológicos são os mesmos utilizados por
diversas áreas do conhecimento como a dos agrônomos, botânicos, sociólogos,
engenheiros, entre outras áreas do conhecimento. Segundo J. Bonnamour (1973),
naturalmente a Geografia rural é chamada a utilizar termos e palavras de outras áreas do
conhecimento, porém utilizando-as com sentido diferente. Para a autora francesa, o que
vem ocorrendo é a utilização de termos técnicos e, sendo a Geografia rural uma
disciplina preocupada com as interações múltiplas entre o campo da ciência, acabam
abrangendo um amplo e complexo campo, bem além do seu domínio e origem,
resultando em certa desordem e conflitos de termos até mesmo com o debate interno da
Geografia. Um dos exemplos seriam os diversos conceitos de Geografia Agrária.
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De acordo com Megale, (2011) as formas de análise mudam, acompanhando as
transformações ocorridas no meio rural e, na ciência geográfica, de maneira geral o que
estaria explicando a variação de conceitos formulados por pensadores em diversos
momentos da evolução do pensamento geográfico e em diferentes países, como pode ser
observado, a seguir:
- Daniel Faucher, “define como objeto da Geografia Agrária a descrição das formas de
atividades e dos meios agrícolas”. Entende-se que o pensador valoriza a importância do
caráter economicista da produção de acordo com a necessidade de conhecer o montante
de produção existente nas áreas analisadas, mais do que as relações de trabalho e
reprodução social da sociedade camponesa.
- Max Derruau, “indica como caráter do fato agrário o meio físico, a atividade agrícola e
uma série de elementos decorrentes desta. Sendo que alguns são influenciados por
condições locais e outros por condições mundiais. Assim, clima, relevo e solo, sistema
de cultura, tipo de cultura, gênero de vida, estrutura social agrária, espaço rural ou
paisagem agrária devem ser estudados em pesquisa de geografia agrária”. Esta
orientação obedecia o caráter dos estudos regionais que pretendiam agregar os campos
da natureza, aglutinados na geografia física, e do homem, aglutinados na geografia
humana, e, assim, atingir a corologia geográfica.
- D. Gribaudi, expos seu entendimento sobre Geografia Agrária dizendo que ela “tem
diante de si, como campo de estudo, a paisagem rural, isto é, a fisionomia concreta que
deriva de um determinado tratamento da superfície terrestre, pela coordenação sobre ela
de todos os aspectos espaciais, o que dá lugar à utilização agrária do solo; assim como a
repartição das culturas e das sistematizações dos terrenos em relação às suas
viabilidades e aos seus mercados”. O entendimento deste pensador revelava seu
posicionamento no positivismo organicista, porém trazendo de volta à geografia o
caráter de cunho unitário e corológico e, sobretudo, locado na geografia regional como
campo unitário.
- Michel Rochefort, “define a Geografia Agrária como o estudo da interação dos
elementos componentes do complexo agrário, complexo este tornado como um conjunto
do qual não se pode analisar um só aspecto separadamente”. O autor segue o princípio
corológico da interação a partir da obra Princípios de Geografia Humana de Vidal de
La Blache e reivindica referencias da fenomenologia no propósito de retorno à visão
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integrada da superfície terrestre. Destaca-se, em suas análises estudo das partes, suas
relações e a organização na totalidade, a qual denomina de conjunto.
- Orlando Valverde, traz o entendimento de que “A geografia Agrária descreve as
diferenças espaciais da superfície da terra do ponto de vista da paisagem agrícola,
procurando determinar os elementos componentes dessas diferenças” ou ainda é a
“interpretação dos vestígios que o homem do campo deixa na paisagem, na luta pela
vida, quotidiana e silenciosa”. O pensador brasileiro segue a arrumação sistemática de
Forster, segundo a qual a descrição das paisagens deve ser minunciosa como que
preparando a explicação (método comparativo sistematizado). Igualmente expõe as
relações entre os fenômenos esclarecendo sua natureza na noção corográfica, admitindo
a postura dos referenciais fenomenológicos e do ambientalismo que lhe permitiu, mais
adiante, adotar o caráter dialético do real: homem e natureza (meio).
- Leo Waibel, considera que a Geografia Agrária ou Agrogeografia tem como objeto a
“diferenciação espacial da agricultura” Waibel insiste em que, para o geógrafo, a
agricultura é “um fenômeno fundamental de uma paisagem, de um país e de toda a
superfície da terra”. Observa-se em suas palavras a importancia dada ao caráter de
estudo de fronteira da geografia com a economia e de abrangencia unitária e corológica
locada na geografia regional ao determinar as diferenças espaciais.
Pode-se entender que a constituição das análises geográficas utilizadas advém do
posicionamento metodológico dos autores, apontando concordância com as mudanças,
transformações e determinações teórico-metodológicas da Geografia. Também revelam
avanços e desvios ocorridos na busca do conhecimento real dos fenômenos e em
especial daqueles que direta ou indiretamente se constituem em assunto da Geografia
Agrária e do entendimento sobre o meio rural e, de maneira geral da Ciência
Geográfica.
Passando o olhar sobre o século XXI, faz-se referencia a Manuel Correa de Andrade,
em um artigo, “GEOGRAFIA RURAL: questões teórico-metodológicas e técnicas”,
trata da Geografia frente a problemática do século XXI, apontando países e continentes
como a China, o continente africano, America Latina, entre outros. Andrade questiona a
acerca do que esperar de países como o Brasil, no qual após a experiência neo-liberal a
que está sendo submetido esses países, certamente, acentuará cada vez mais a pobreza e a
miséria que atormentam suas populações.
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De acordo com Andrade “Há uma diferença enorme entre o rural voltado para a
produção de alimentos destinada ao abastecimento das áreas produtoras, e o rural
destinado à produção de alimentos e matérias primas para exportação. Pierre Monbeig,
na década de Quarenta, já admitia certa afinidade entre a agricultura das plantações
brasileiras e a extração mineral”. (ANDRADE, 2010, p. 11),
Para este autor, nos estudos sobre o espaço rural deve haver a preocupação do geógrafo
com as terminologias e com a sua transformação em território, usando este estudo ora
como Geografia agrária, ora como Geografia agrícola ora como Geografia rural. Com o
tempo, a variação de termos vem sendo diversificada, ora dominando uma expressão,
ora outra; além disto, se tem procurado distinguir os termos e comprometê-los com o
conteúdo por eles definido.
Segundo Ferreira (2002) as mudanças ocorridas no campo são sentidas a partir de
processos socioespaciais através de novos processos. “A modernização da agricultura, a
migração campo-cidade, o acirramento da concentração da renda e das terras e os
conflitos sociais são alguns dos novos elementos de análise da atividade agrícola.”
(FERREIRA, 2002, p. 17). Para a autora, o geógrafo acompanha estas mudanças, vendo
os novos paradigmas, as novas teorias, e uma nova realidade.
Conclusões
O estudo da relação homem e natureza acompanha o desenvolvimento da Geografia
desde a sua origem. No entanto, descrever e analisar as experiências vivenciadas pelo
homem no que diz respeito a agricultura e ao campo são necessárias. Desde então, o
espaço tem sido alvo de estudo por parte dos homens, embora que indagações
continuem na medida em que a humanidade adquire experiências.
Evidenciar as dimensões das transformações em curso no espaço rural, colocando em
evidência alguns dos desafios teórico-metodológicos a serem enfrentados pela
Geografia Rural é de grande importância, pois como já é do conhecimento, tais análises
e definições variaram ao longo do tempo acompanhando os avanços filosóficos, teóricos
e metodológicos, enfim o avanço da humanidade.
O espaço rural por ser dinâmico sofre alterações e mudanças de toda a ordem, levando
muitos a concebê-lo como espaço de conflito no que diz respeito às suas funções e
conteúdo social. Definir Geografia Agrária, no passado não foi tarefa fácil para aqueles
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que a isto se dispuseram a fazê-la e estas dificuldades persistem ainda hoje,
principalmente pelo fato de a Geografia Agrária ter como objeto uma atividade que é
também estudada por outras ciências igualmente dinâmicas e centradas no homem como
sociedade.
A compreensão de tais transformações impõe novos desafios teóricos e metodológicos
para a Geografia Agrária e seus pesquisadores. Contemplando estas espacialidades em
suas múltiplas dimensões e complexidades.
Referências
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brasileira: A produção em periódicos científicos de 1939 – 2009. . 2011. 350f. Tese
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