UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA Avaliação química da recuperação temporal de um ambiente fluvial impactado por despejos de água produzida. O caso do rio Japaratuba/SE JULIANA DE OLIVEIRA MANHÃES REIS São Cristóvão/SE 2011 Avaliação química da recuperação temporal de um ambiente fluvial impactado por despejos de água produzida. O caso do rio Japaratuba/SE JULIANA DE OLIVEIRA MANHÃES REIS Dissertação de mestrado apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de Sergipe como um dos pré-requisitos para a obtenção do título de Mestre em Química. Orientador: Prof. Dr. Carlos Alexandre Borges Garcia Co-orientador: Prof. Dr. José do Patrocínio Hora Alves São Cristóvão/SE 2011 “O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis.” (José de Alencar) Dedico este trabalho à minha família e em especial à minha avó Eloisa de Oliveira Manhães (in memoriam) AGRADECIMENTOS A Deus, por sempre se fazer presente me dando força, coragem e saúde para concluir mais esta etapa em minha vida À minha mãe Eloisa de Oliveira Manhães Filha que tanto amo. Tenho a certeza que estamos realizando esse sonho juntas À minha avó Eloisa de Oliveira Manhães (in memoriam) e ao meu avô Júlio Fontes Manhães, que são meus exemplos de luta e superação Ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Alexandre Borges Garcia pelos conhecimentos adquiridos, os quais levarei pra sempre, pela paciência, confiança, atenção e pela amizade Ao meu irmão Thyago de Oliveira Manhães Reis pelo carinho e amizade Ao meu noivo Samuel Santos Melo, pela paciência, amor, carinho e dedicação e por estar sempre ao meu lado nos momentos difíceis desta etapa Aos amigos do LQA (Laboratório de Química Ambiental) em especial a Ana Carla pela ajuda grandiosa na realização dos experimentos Aos meus amigos que conquistei no LEMON (Laboratório de Estudos da Matéria Orgânica Natural), em especial Valéria, Bruno, Tassya, Amanda, André, Synara, Simone e Ivanna, por me ajudarem e me proporcionarem tantos momentos alegres e descontraídos. Sempre irei me lembrar de vocês com muito carinho e saudades. Aos meus amigos Gracielle, Luis Fabrício, Thiga e Elissandro com quem eu tive o prazer de conviver na universidade. Obrigada por torcerem por mim! Aos meus amigos da graduação que também estiveram presentes no mestrado Cintya, Danilo, Cristiane, Gabriela, Ricardo, Rafael e Antônio pela amizade verdadeira À minha amiga Lorena Santos Silva que me acompanha durantes muitos anos e que me incentiva e me apóia em todos os momentos Ao Prof. Dr. José do Patrocínio Hora Alves pelas sugestões muito importantes para a conclusão do trabalho Aos professores do Núcleo de Pós-graduação em Química da Universidade Federal de Sergipe, pelos conhecimentos adquiridos Aos técnicos Ednalva, Ismael e Ricardo pela amizade e pela disposição a me ajudar quando necessitado Ao CNPq, pelo apoio financeiro Enfim, a todos que me ajudaram direta ou indiretamente a concluir este mestrado e realizar meu sonho. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS i LISTA DE TABELAS ii RESUMO iii ABSTRACT iv 1. INTRODUÇÃO 1 2. REVISÃO DA LITERATURA 3 2.1 Poluição em ambientes aquáticos 3 2.2 Contaminações ambientais pelo petróleo e seus derivados 5 2.3 Água produzida como fonte de contaminação 6 2.4 Metais traço em sedimentos aquáticos 9 2.4.1 Metais traço no ambiente 9 2.4.2 Sedimentos 11 2.4.3 Matéria orgânica em sedimentos 14 2.5 Técnicas de Normalização 16 3. OBJETIVOS 19 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 20 5. MATERIAIS E MÉTODOS 24 5.1 Equipamentos 24 5.2 Reagentes e Soluções 24 5.3 Materiais 24 5.4 Coleta e Preparo das amostras 25 5.5 Tratamento da amostra e determinação dos metais parciais 28 5.6 Tratamento da amostra e determinação dos metais totais 29 5.7 Determinação da matéria orgânica 31 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 32 6.1 Exatidão das metodologias analíticas utilizadas 32 6.2 Distribuição de metais parciais nos sedimentos 34 6.3 Distribuição de metais totais nos sedimentos 38 6.4 Normalização dos dados 41 6.5 Matéria Orgânica nos sedimentos 48 7. CONCLUSÕES 51 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 53 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Planta de reinjeção de água produzida localizada em Carmópolis - 9 Sergipe. Figura 2: Bacias Hidrográficas do Estado de Sergipe 21 Figura 3: Bacia do rio Japaratuba: principais afluentes e limites municipais 21 Figura 4: (a) Ponte sobre o rio Japaratuba próximo a sua foz, no município 22 de Pirambu; (b) Rio Japaratuba Figura 5: Pontos de Coleta na bacia do rio Japaratuba 25 Figura 6: Fotos da coleta no rio Japaratuba. Draga de Van Veen sendo 27 colocada para extração de sedimento e acondicionamento em frasco coletor. Figura 7: Representação esquemática do tratamento das amostras para 28 determinação parcial dos metais. Figura 8: Representação esquemática do tratamento das amostras para 30 determinação total dos metais. Figura 9: Relações entre as concentrações totais dos elementos Cu, Cd, Ba, 43 Co, Cr e Mn versus o teor de Fe. Figura 10: Relações entre as concentrações totais dos elementos Ni, Pb, V 44 e Zn versus o teor de Fe. Figura 11: Gráficos do Fator de Enriquecimento dos metais Cu, Cd, Ba, Co, 46 Cr e Mn nos 9 pontos de estudo do rio Japaratuba. Figura 12: Gráficos do Fator de Enriquecimento dos metais Ni, Pb, V, Zn e Al nos 9 pontos de estudo do rio Japaratuba. i 47 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Descrição dos pontos de amostragem no rio Japaratuba e 26 das coordenadas UTM (Universal Transverse Mercator). Tabela 2: Dados de recuperação dos metais parciais em material de 31 referência certificado sedimento de rio NCS DC 78301. Tabela 3: Dados de recuperação dos metais totais em material de 32 referência certificado para sedimento LKSD-1 (CCNRP/Canadá) Tabela 4: Concentrações médias dos metais parciais na fração fina 34 dos sedimentos do rio Japaratuba. Tabela 5: Comparação entre as concentrações parciais de metais 36 pesados nos sedimentos superficiais do rio Japaratuba e de sedimentos de outras regiões de Sergipe e do Brasil. Tabela 6: Concentrações médias dos metais totais na fração fina 38 dos sedimentos do rio Japaratuba. Tabela 7:. Comparação entre as concentrações totais dos metais 39 Cu, Zn, Pb, Ni, Co e Cd dos sedimentos do rio Japaratuba no trabalho realizado por Alves et al. (2000) e no presente estudo. Tabela 8: Coeficientes de correlação linear (r2) dos dez metais com 41 Fe e Al para sedimentos do Rio Japaratuba – SE. Tabela 9: Média da porcentagem de Corgânico, Ntotal e relação Corg/Ntotal nos pontos de coleta. ii 48 RESUMO Na extração e produção do petróleo são gerados muitos efluentes e dentre eles encontra-se a água produzida, água extraída junto com o óleo, que se destaca pelo seu grande volume gerado. Nela estão presentes, dentre outros contaminantes, os metais traço. O rio Japaratuba era utilizado como corpo receptor desses efluentes gerados nos campos de produção de petróleo de Carmópolis-SE, durante muitos anos e estudos anteriores mostraram que os sedimentos estão contaminados por cobre, chumbo e zinco. O objetivo deste trabalho foi reavaliar as condições ambientais do rio Japaratuba, nas regiões que recebiam os descartes dos campos de exploração de petróleo após cinco anos de retirada destes despejos. As amostras dos sedimentos superficiais foram coletas ao longo do rio, nos mesmos pontos do estudo anterior. Foram determinadas concentrações parciais e totais dos metais Cu, Cd, Zn, Co, Al, Fe, Mn, Ba, V, Cr e Ni e em relação à abundância destes encontramos: Al > Fe > Ba > Mn > Zn > Cr > Pb ~ Cu > Ni > Co > V > Cd. As menores concentrações dos metais foram encontradas nos pontos P8 e P9 (próximos a foz) e as maiores concentrações para a maioria dos metais analisados, foram encontradas no ponto P3, uma das regiões mais afetadas pelos antigos despejos. Comparando as concentrações totais com o estudo feito anteriormente observou-se que nos pontos P3, P5, P6, P7 e P8 as concentrações de todos os metais permaneceram praticamente inalterada ou pouco aumentaram, mostrando que o ambiente ainda não está recuperado. Já para o ponto P4 notou-se um aumento de concentração para todos os metais que pode ser explicado por uma provável remobilização dos metais. O ferro foi escolhido como elemento normalizador por ter apresentado melhores correlações que o alumínio. A normalização dos resultados permitiu identificar que os sedimentos alterados por maior número de metais foram os relacionados ao ponto P1, no qual foram observadas concentrações anormais de Cu, Ba, Co, Ni, Pb e Al; seguido dos ponto P5 contaminado por Cu, Cd, Co, Cr e Mn e P6 alterado por Co, Ni, Pb e Zn. Já os pontos P4, P7, P8 e P9 não estão contaminados significativamente por nenhum dos metais analisados e o ponto P3 apesar de possuir as maiores concentrações dos metais está alterado apenas pelo Cr. Os menores valores de fator de enriquecimento foram encontrados nos pontos P8 e P9 e os maiores valores foram para os pontos P1, P3 e P4, os mais atingidos pelos antigos despejos de água produzida, evidenciando mais uma vez a não recuperação do ambiente. Os maiores valores percentuais de carbono orgânico e nitrogênio total foram encontrados nos pontos P3, P4 e P5, lugares onde justamente eram mais afetados pelos efluentes de água produzida. Os valores da razão entre carbono orgânico e nitrogênio total (Corg/Ntotal) para os sedimentos do rio Japaratuba variaram entre 17,29 a 21,63, exceto no ponto P1 (444,50), cujo valor foi muito superior ao encontrado nos outros pontos devido ao baixo percentual de Ntotal neste local. Os valores encontrados são superiores a relação de Redfield (6,6:1) o que sugere que nos sedimentos estudados a origem da matéria orgânica é predominantemente terrígena e fontes antrópicas são as mais prováveis, neste caso os despejos de água produzida. Palavras-chave: Japaratuba, sedimento, água produzida, metais traço. iii ABSTRACT In the extraction and production of oil are generated many effluents and among them is produced water, water extracted along with oil, which distinguished by its large volume generated. There are present, among other contaminants, the trace metals. The Japaratuba river was used as a receiving body of waste generated in the fields of oil production from Carmópolis-SE, for many years and previous studies showed that the sediments are contaminated with copper, lead and zinc. The objective of this study was to reassess the environmental conditions of the Japaratuba river in the regions receiving the discharges from the fields of oil exploration after five years of removal of these evictions. Samples of surface sediments were collected along the river, at the same points in the previous study. We determined partial and total concentrations of Cu, Cd, Zn, Co, Al, Fe, Mn, Ba, V, Cr e Ni and in relation to the abundance of these we find: > Fe > Ba > Mn > Zn > Cr > Pb ~ Cu > Ni > Co > V > Cd. The lowest concentrations of metals were found at points P8 and P9 (near the mouth) and the highest concentrations for most metals analyzed were found at the point P3, one of the regions most affected the old dumps. Comparing the total concentrations in the study done previously observed that in the points P3, P5, P6, P7 and P8 the concentrations of all metals remained virtually unchanged or slightly increased, showing that the environment is not yet recoverd. As for the point P4 was noted an increase in concentration for all metals that can be explained by a possible remobilization of metals. Iron was chosen as standard elements to have shown better correlation than aluminum. The normalization of the results identified that the sediments altered by greater number of metals were related to the point P1, which were observed abnormal concentrations of Cu, Ba, Co, Ni, Pb and Al, followed by the point P5 contaminated by Cu, Cd, Co, Cr and Mg and point P6 changed by Co, Ni, Pb and Zn. Since the points P4, P7, P8 and P9 are not significantly contaminated by any of the metals analyzed, and the point P3 despite having the highest concentrations of metals are changed only by Cr. The lowest enhancement factor was found at the points P8 and P9 and the highest values for points P1, P3 and P4, the most affected by ancient discharges produced water, showing once again the non-recovery of the environment. The highest percentages of organic carbon and total nitrogen were found at the points P3, P4 and P5, were rightly places most affected by the effluent water produced. The values of the ratio of organic carbon and total nitrogen (Corg / Ntotal) for Japaratuba river sediments ranged from 17.29 to 21.63, except at the point P1 (444.50), whose value was much higher than that found in other points due to the low percentage of Ntotal this site. The values found are higher than the Redfield ratio (6,6:1) suggesting that the sediments studied the origin of organic matter is predominantly terrigenous and anthropogenic sources are more likely in this case the produced water discharges. Keywords: Japaratuba, sediment, produced water, trace metals. iv 1. INTRODUÇÃO Há várias décadas, a preocupação com o meio ambiente já vem sendo debatida, mas nos dias de hoje as questões ambientais vem sendo cada vez mais defendidas em decorrência dos problemas que estão se tornando mais visíveis para a população. O Brasil vem sofrendo nos últimos anos um considerável processo de degradação ambiental, em virtude da falta de planejamento na utilização de seus recursos naturais, e pela capacidade limitada do meio ambiente em absorver os impactos gerados pelo desenvolvimento industrial, crescimento populacional desordenado e uma sociedade consumista (YABE e OLIVEIRA, 1998; COTTA et al, 2006). Atualmente, um dos problemas mais sérios que afetam o meio ambiente é a poluição química de natureza orgânica ou inorgânica, decorrente dos despejos residenciais e, principalmente, industriais (AGUIAR e NOVAES, 2002). O descarte inadequado de efluentes implica em efeitos nocivos ao meio ambiente, na repercussão negativa indesejada, penalidades diversas e um custo elevado com ações corretivas e mitigadoras. Uma das indústrias de maior importância em todo o mundo é a petrolífera. O petróleo representa hoje cerca de 40 % das necessidades energéticas mundiais e com isso há um aumento também da exploração deste recurso a fim de suprir as necessidades da população. No Brasil, esta indústria se demonstra muito relevante, inclusive no estado de Sergipe que possui o maior campo de produção terrestre de petróleo do Brasil, o quarto maior do mundo e é o terceiro produtor de petróleo na região Nordeste do país (DÓREA et al., 2007). Esta produção, realizada hoje tanto em terra quanto no mar, é considerada de elevada importância para a economia local, sendo responsável por 40% do PIB regional. Na indústria do petróleo vários segmentos podem agredir ao meio ambiente. No segmento representado pela extração deste recurso, o poluente mais relevante, particularmente pelo volume envolvido, é a água produzida (SILVA, 2000). 1 A água produzida geralmente contém altos teores de sais e uma mistura complexa de compostos orgânicos e inorgânicos, cuja composição varia durante a vida do campo, e cujo volume tende a crescer à medida que o campo envelhece (OLIVEIRA, 2000). Dentre os contaminantes inorgânicos dissolvidos destacam-se os metais traço, como cádmio, cromo, cobre, chumbo, mercúrio, níquel e zinco, cujas concentrações dependem da idade dos poços e sua geologia de formação (AHMADUN et al., 2009). Ao longo de muitos anos, os rios se tornaram depositários de rejeitos industriais, inclusive da exploração de petróleo como a água produzida, sofrendo consideráveis alterações em seu estado natural. Estas alterações motivaram, principalmente nos últimos anos, um crescente aumento da investigação sobre a contaminação dos rios, bem como de outros ecossistemas aquáticos, em especial por metais presentes nos sedimentos (FERREIRA, 2009). Os sedimentos são considerados de grande importância na avaliação do nível de contaminação dos ecossistemas aquáticos, devido não só a sua capacidade em acumular elementos-traço, mas também por serem reconhecidos como transportadores e possíveis fontes de contaminação, já que tal compartimento ambiental pode liberar espécies contaminantes (COTTA et al., 2006). Devido às irregularidades nas concentrações dos metais traço no perfil sedimentar, algumas técnicas de normalização são utilizadas para diferenciar os elementos provenientes de atividades antropogênicas do desgaste natural. Na escolha de um elemento normalizador deve-se verificar a existência de uma relação linear entre o normalizador e outros metais. Entre os normalizadores frequentemente empregados, está na lista o alumínio, o ferro e o lítio. A medida da poluição no meio aquático é avaliada analisando os níveis pré-existentes desses metais comparando com os teores atuais, que é o fator de enriquecimento (CHATTERJEE et al., 2007; LUIZ-SILVA et al., 2006; HORTELLANI et al., 2008; SILVA et al., 2009). A determinação da matéria orgânica em amostras sedimentares, também tem merecido atenção de pesquisadores em diversos campos da atividade científica, pois além de ser indicativa dos processos geoquímicos associados ao ambiente, também contribui para informações sobre origem, natureza e destino final dessa matéria no ambiente analisado (DIAS e LIMA, 2004). 2 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Poluição em ambientes aquáticos Com o vertiginoso crescimento da população, é notória a busca crescente por tecnologias para fazer face às necessidades humanas, culminando em novos processos industriais e seus produtos. Como consequência deste fato, aumentaram os níveis de poluição devido aos resíduos produzidos em larga escala e, consequentemente, vários ecossistemas foram destruídos. A água, não importando se de rios, lagoas ou do mar, é um dos ambientes mais afetados pela atividade humana. Por ser vital à espécie humana e a muitos organismos que vivem no seu interior e na interface sedimento-água, é de suma importância a preservação da qualidade deste recurso e por isso justifica-se a preocupação com as conseqüências das atividades que a poluem (PINTO et al., 2001; DUARTE e PASQUAL, 2000). Conforme o que estipula a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, em seu artigo 3º, inciso III, poluição é: A degradação da qualidade ambiental resultante de atividade que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (Lei N° 6.938/1981). A poluição das águas resulta de diversas fontes, tais como: dos esgotos domésticos, dos despejos industriais, do escoamento da chuva das áreas urbanas e das águas de retorno de irrigação, da inadequada disposição do lixo, dos acidentes ecológicos, entre outros. No entanto, os danos sofridos pelo meio ambiente, nos casos de poluição da água, variam de acordo com as particularidades do meio aquífero atingido. No caso dos rios, por exemplo, verificamos que os danos mais graves relacionam-se à contaminação das águas pelo lançamento de substâncias tóxicas, tais como os compostos de metais traço, os resíduos radioativos, os detritos de indústrias petroquímicas etc. 3 Em várias partes do mundo ocorre contaminação causada pela presença de metais traço nas águas fluviais. No Japão isso ocorreu de forma dramática na bacia do rio Jintsu, uma vez que os peixes contaminados por mercúrio e cádmio causaram a morte de muitos habitantes do local (GIEHL, 2007). Na Espanha, foi observada a contaminação na região dos rios Tinto e Odiel por Zn, Cu e Hg, provenientes de atividades de mineração da região próxima, onde não só a água e o sedimento foram atingidos, como também os peixes do local, nos quais foram encontradas altas concentrações de Zn e Cu, principalmente no fígado dos animais (VICENTEMARTORELL et al., 2009). No Brasil observam-se vários ambientes aquáticos que também estão sendo poluídos. O Estuário de Santos - São Vicente (SP), por exemplo, é uma região particularmente muito exposta à poluição, por ter um grande parque industrial, ser portuária, populosa e ainda ter atividades de agricultura e pecuária. As principais fontes de poluição estão relacionadas às atividades de um parque industrial, assim como às disposições irregulares de resíduos sólidos industriais, às dragagens do canal do porto e das atividades portuárias, às estações de tratamento de esgotos, ao emissário submarino, além das descargas de esgotos domésticos clandestinos e aos aterros sanitários (lixão) e, até, às descargas de uma represa da região (HORTELLANI et al., 2008). Em Sergipe considera-se a poluição do rio Sergipe, do Sal e Cotinguiba, por efluentes industriais, agroindustriais (frigorífico, usinas de cana de açúcar), esgotos sanitários, entre outros. Essa situação vem comprometendo a vida aquática de peixes, camarões, ostras e outros crustáceos, além de causar perda de renda para a população de pescadores. Outra preocupação da região é o rio Poxim, que tem sido uma das fontes de suprimento de água para a capital Aracaju e onde conjuntos habitacionais e loteamentos foram e estão sendo implantados à montante da área de captação de água para abastecimento da capital (ARAÚJO et al., 2009; FILHO e SANTOS, 2002). Por sua vez, o rio Japaratuba, que passa por 20 municípios sergipanos, é um dos mais caóticos quando o assunto é poluição. A única cidade posicionada às suas margens é Pirambu, que também leva o título de maior poluente, de acordo com o jornalista Claudomir Tavares da Silva, secretário-geral do Comitê da Bacia 4 Hidrográfica do rio Japaratuba (CBHJ). Além disso, este ambiente durante anos serviu de aporte para os despejos de efluentes de água produzida oriundos do campo de exploração de petróleo da Petrobrás na cidade de Carmópolis (ALVES et al., 2000). 2.2 Contaminações ambientais pelo petróleo e seus derivados A utilização de fontes de energia para facilitar a vida humana é imprescindível ao mundo moderno. Com preponderância no setor energético, figura a indústria do petróleo e do gás natural. O petróleo não é apenas uma das principais fontes de energia utilizadas pela humanidade, os seus derivados também possuem notável importância por representarem a matéria-prima para a manufatura de inúmeros bens de consumo, e, deste modo, tem um papel cada dia mais presente e relevante na vida das pessoas. Hoje, o ouro negro, como é chamado por alguns, representa a principal fonte de energia primária consumida no mundo e movimenta bilhões de dólares diariamente em atividades industriais gigantescas, passando a ser imprescindível às facilidades e comodidades da vida moderna (NASCIMENTO et al., 2004; ROCHA et al., 2007). À medida que são desenvolvidas novas tecnologias e produtos cada vez mais avançados, crescem também problemas ligados à poluição ambiental. No caso do petróleo, devido a sua ascensão, é crescente o número de práticas exploratórias deste recurso, o que aumenta o risco de acidentes que contaminam grandes áreas do planeta. É consensual dizer-se que o impacto da indústria petrolífera sobre o ambiente na sua forma mais visível e familiar de poluição é o derrame de petróleo, provocado por acidentes com petroleiros na limpeza dos tanques no mar. Tais acidentes, não só poluem gravemente o ambiente marinho, mas também representa uma séria ameaça aos seres deste lugar (WANG et al., 2010; ANP, 2008). Na literatura é comum encontrar alguns relatos relacionados a acidentes desta natureza advindos da indústria do petróleo. Assim, cita-se o acidente do petroleiro Exxon Valdez que encalhou em Alasca em 1989, cujos impactos biológicos do derrame perduram até a 5 presente data apesar da tecnologia de ponta usada na altura para limpeza dos resíduos. Segundo a Greenpeace, 42 milhões de litros de óleo foram libertados no mar contaminando uma extensão de 1900 km. Também encontra-se o desastre do Prestige, que afundou na costa de Espanha em 2002 causando, segundo estatísticas oficiais, "grandes perdas econômicas e biológicas ao poluir mais de 100 praias em França e Espanha incluindo zonas pesqueiras importantes". Bilhões de US dólares foram gastos para limpar as zonas contaminadas e "repor" o ambiente original (WANG et al., 2010; WIRTZ et al., 2006). No Brasil, em julho de 2000, ocorreu um grande vazamento de 4 milhões de litros de petróleo na refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), unidade da Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS), localizada em Araucária – PR. Cerca de 2,7 milhões de litros de óleo que vazaram ficaram retidos numa área dentro da refinaria, enquanto que aproximadamente 1,3 milhões de litros escoaram para o Rio Barigui, a dez quilômetros de encontro com o Rio Iguaçu. Portanto, além de contaminar as águas destes dois importantes rios, o vazamento de óleo contaminou também o solo, afetando a flora e fauna da região (REVISTA ÉPOCA, 2010). Porém, os derramamentos de óleo não são a única forma de riscos e impactos negativos provenientes de exploração e produção de petróleo. São descartados fluidos de perfuração, como a água produzida, cascalhos saturados de diferentes substâncias e compostos tóxicos, incluindo metais traço como o mercúrio, cádmio, zinco e cobre (ANP, 2008). 2.3 Água produzida como fonte de contaminação Na indústria do petróleo a geração de resíduos é inevitável, destacando a quantidade de águas residuais gerada em todas as etapas do processo de produção, extração, transporte e refino (SILVA et al., 2005). Um dos principais problemas associados à atividade de extração de petróleo é a chamada “água produzida” (AP), que é o efluente resultante dos processos de separação nas estações coletoras e de tratamento existentes nos campos de produção de petróleo. A maior parte do volume gerado durante a extração de óleo e gás é constituída de 6 água produzida, que é levada à superfície numa emulsão junto com o óleo e o gás (CAMPOS et al., 2005). A água produzida pode ser a existente no reservatório de óleo desde a sua formação, a que chamamos Água Conata, ou a sua mistura com a água subterrânea que pode estar sendo utilizada em processos de recuperação secundária denominada de Água de Injeção. (SILVA, 2000) Segundo CAVACO e BARROS (2005), ÇAKMAKCI et al. (2008) e SILVA et al. (2005) esta água produzida representa basicamente 99% dos resíduos da produção de óleo e gás e em muitos casos, este fluxo de resíduos é de sete a oito vezes maiores em volume de petróleo produzido no campo petrolífero, podendo atingir em alguns casos a proporção de mais 90% de água. Com o envelhecimento dos campos produtores, os poços começam a produzir uma quantidade de água ainda maior, tornando o gerenciamento desta água um assunto de importância capital. Os constituintes químicos da água produzida variam de formação para formação, de poço para poço (CAMPOS et al.. 2005). Alguns fatores como a localização do campo, sua formação geológica e dos seus reservatórios e tipo de produto de hidrocarboneto produzido, afetam as propriedades físicas e químicas da água produzida (AHMADUN et al., 2009). Alguns autores afirmam que, geralmente, a água produzida contém uma variedade considerável de poluentes orgânicos tóxicos, metais traço, além de quantidades exorbitantes de sais inorgânicos (CAMPOS et al., 2005). Já outros dizem que ela contém quantidades variadas de sais e gases dissolvidos (CO, CO2, H2S), sólidos em suspensão, componentes com metais pesados, componentes com algum nível de radiação, e altas concentrações de cloretos (CAVACO e BARROS, 2005). Dentre os contaminantes inorgânicos existentes na água produzida, destacam-se os metais traço, onde a sua concentração pode exceder limites permissíveis pela legislação em vigor, constituindo-se em um grave problema ambiental, pois a exposição e acúmulo desses contaminantes nos ecossistemas causam grandes riscos à saúde dos seres vivos (FERREIRA et al., 2005). Vários metais podem ser encontrados na água produzida, a maioria dos quais em concentrações maiores dos que os encontrados em águas do mar de ambientes não contaminados (AHMADUN et al., 2009). 7 A água produzida pode causar diferentes impactos potenciais, dependendo de onde é descarregada. Por exemplo, as descargas em pequenos córregos são susceptíveis de ter um maior impacto ambiental que as descargas feitas em oceano aberto, em virtude da diluição que ocorre (SILSET, 2008). Este efluente pode ser considerado como o maior rejeito em volume de todo processo de exploração e produção de petróleo, configurando-se assim, como um grande problema operacional, gerencial e ambiental (MORAES, 2005). Com esse potencial poluidor, o descarte e o manejo da água produzida precisam ser realizados de maneira bastante criteriosa (CAMPOS et al., 2005). Assim, ela terá de passar por tratamentos eficazes de modo a se enquadrar na legislação vigente, tendo em vista o destino que lhe será dado (SILVA, 2002). Os métodos de tratamento das águas produzidas dependem de muitos fatores, incluindo os volumes envolvidos, a constituição da água, a localização do campo e os limites da legislação ambiental vigente (OLIVEIRA, 2000). O aumento da preocupação ambiental sobre os efeitos do descarte da água produzida faz com que as operadoras de petróleo considerem também a possibilidade de reinjetar esta água produzida. Como exemplo de implantação de um projeto de reinjeção de água produzida pode ser citada a Planta de Carmópolis, localizada no estado de Sergipe (Figura 1) (PATRICIO, 2006). Em Carmópolis, a água produzida, que antes era despejada no rio Japaratuba, proporcionando grandes preocupações ambientais, agora tem parte de seu destino na reinjeção e outra parte segue por dutos para a Companhia Vale, que reusa a água em seus processos industriais (CAMPOS, 2005). 8 Figura 1: Planta de reinjeção de água produzida localizada em Carmópolis Sergipe. (PATRICIO, 2006) 2.4 Metais traço em sedimentos aquáticos 2.4.1 Metais traço no ambiente O termo metal traço tem sido usado para definir metais catiônicos e oxiânions que normalmente estão presentes em baixas concentrações no ambiente, usualmente <1 g kg-1, muito embora Al, Fe e Li, os quais ocorrem em maiores concentrações na litosfera (principalmente em ecossistemas tropicais), também sejam tratados como elementos-traço por alguns autores. Este termo tem sido preferido em diversas publicações recentes que tratam desse assunto em detrimento da expressão “metal pesado”, a qual nunca foi definida por nenhum órgão oficial na área de química (p.e., IUPAC), tendo perdido seu sentido (GUILHERME et al., 2005). Alguns metais traço são considerados essenciais do ponto de vista biológico, mas em condições especiais originam impactos negativos ao ambientes aquáticos. A diminuição da exposição é a única maneira eficaz de diminuir o risco à saúde humana e ao meio ambiente (GUILHERME et al., 2005). Todos os metais e seus 9 compostos possuem toxicidade, uma questão de dose e grau de exposição que afeta o organismo. Embora alguns metais traço sejam considerados essenciais aos seres vivos por atuar em diversos processos fisiológicos, mesmo em baixas concentrações podem causar toxicidade, como o ferro, zinco, cobre, cobalto, magnésio, manganês, molibdênio e boro. Outros metais como mercúrio, chumbo, cádmio, cromo e níquel, não têm função biológica conhecida e comumente apresentam toxicidade devido a fatores de bioconcentração em organismos marinhos e principalmente por seus efeitos mutagênicos e teratogênicos (SKURIHIN, 1989; TAVARES e CARVALHO, 1992). Existem várias substâncias tóxicas cuja presença na água, acima de certas concentrações, pode causar danos aos ciclos biológicos normais. Entre estas, destacam-se os compostos de metais traço, devido à sua importância, toxicidade, persistência e capacidade natural de bioacumulação em ecossistemas aquáticos (MENDIL e ULUÖZLÜ, 2007; ARAIN et al., 2008). A poluição das águas por elementos-traço é um importante fator que afeta tanto o ciclo geoquímico desses elementos quanto a qualidade ambiental (GUILHERME et al., 2005) A interação entre os metais traço e o homem pela via aquática se realiza de forma direta, através da ingestão de água contaminada, ou de forma indireta, como o consumo de organismos como peixes, moluscos e crustáceos contaminados, transferidos ao homem pela cadeia alimentar. O efeito resultante da poluição é observado em virtude dos hábitos alimentares, das condições de higiene e saúde, da forma de contato e a presença de substâncias no meio (NASCIMENTO, 2008). Os metais traço estão presentes naturalmente no meio ambiente mesmo que não haja ação antrópica. Em sistemas aquáticos superficiais o aumento da concentração de metais traço é consequência da geoquímica das rochas de origem através da lixiviação das substâncias químicas contidas nessas rochas; poluição antropogênica - derivada da descarga de águas de escoamentos de origem urbana, industrial e agropecuária, drenagem de água de chuva, ou da deposição atmosférica; e reações químicas - adsorção em partículas e outras superfícies e deposição nos sedimentos (KABATA-PENDIAS e PENDIAS, 2001; GUILHERME et al., 2005). 10 As principais fontes antropogênicas de metais traço que se somam às naturais têm sido relacionadas aos efluentes urbanos (principalmente Cr, Cu, Pb, Zn, Mn e Ni), a queima de combustíveis fósseis (Cu, Ni, Pb), as indústrias de beneficiamento de ferro e aço (Cr e Zn), fertilizantes (Cu, Fe, Mn, Ni e Zn) e depósitos de rejeitos (Zn, Mn e Pb) (NETA, 2009). Casos já conhecidos e de conseqüências catastróficos envolvendo a exposição de seres humanos a elementos-traço incluem o Mal de Minamata, ligado a intoxicação com Hg derivado de efluentes da indústria de cloro-soda, na Baía de Minamata (TAKIZAWA, 2000) e a Doença de Itai Itai, associada a intoxicação com Cd advindo de rejeitos de mineração que contaminaram campos de arroz (KASUYA, 2000), ambos ocorridos no Japão. Em muitos rios e lagos, o lançamento antropogênico de metais traço, já excede a quantidade que normalmente entra no ambiente aquático pela ação do intemperismo e mesmo nos oceanos, já é considerável o input resultante da atividade humana. 2.4.2 Sedimentos Conceitualmente, um sedimento pode ser considerado como uma mistura heterogênea de partículas formadas por componentes orgânicos e inorgânicos diversos, que sofreram transporte. Este material pode ser proveniente do intemperismo químico e físico dos continentes, ou resultar de alguma atividade orgânica, como o acúmulo de rochas (GARLIPP, 2006). Portanto, os sedimentos cobrem o fundo dos rios, lagos, reservatórios, estuários e oceanos que são formados por camadas de partículas minerais e orgânicas com granulometria fina. Os sedimentos, em sua maioria, são depositados nos rios, nos lagos ou no fundo dos oceanos ao longo dos anos. Compreendem fases minerais de tamanhos variados, incluindo argila, silte e areia, misturadas com matéria orgânica. Processos biogeoquímicos, tais como reações de precipitação e transformações biológicas, controlam o acúmulo e a redistribuição de espécies como fitoplâncton, algas e peixes na biota aquática, caracterizando o sedimento como uma parte integrante do sistema natural (SILVA, 2002). 11 Os sedimentos é parte integral e essencial da dinâmica das bacias hidrográficas, apresentando valor ambiental, social e econômico. Eles desempenham importante papel nos ambientes aquáticos uma vez que é fonte de alimento e habitat para a fauna aquática. São responsáveis também pela turbidez dos corpos hídricos, além de apresentar alta capacidade de reter e acumular espécies químicas orgânicas como inseticidas e herbicidas, e inorgânicas como os 16 metais. Menos de 1% das substâncias que atingem o sistema aquático são dissolvidas em água, consequentemente, mais de 99% são estocadas no compartimento sedimentar (FÖRSTNER et al., 1995). Pesquisas sobre metais e outros compostos presentes nos sedimentos têm aumento nos últimos anos. Anteriormente os sedimentos eram considerados apenas reservatórios de depósitos de espécies químicas, mas eles agora são vistos como um compartimento aquático ativo que desempenha um papel fundamental na redistribuição dessas espécies aquáticas para a biota. A urbanização, a industrialização e as atividades agrícolas têm contribuído muito para a contaminação dos solos, da água e dos sedimentos com metais tóxicos. O lançamento de efluentes domésticos e industriais nos corpos hídricos compromete a qualidade da água, colocando em risco a saúde do homem. Insumos agrícolas ou subprodutos usados com finalidade corretiva ou nutricional na agricultura podem ser também uma fonte de contaminação com metais pesados. Os processos de acúmulo e de redisposição de espécies nos sedimentos os qualificam como de grande relevância em estudos de impacto ambiental, pois registram em caráter mais permanente os efeitos de contaminação (GUILHERME et al., 2005). Os teores de metais tóxicos podem sofrer alterações de acordo com as condições ambientais locais. Diversos fatores como sazonalidade, uso e ocupação dos solos marginais, tipo de sedimento depositado e alteração do pH do sedimento, podem aumentar ou diminuir as suas concentrações e a sua biodisponibilidade no ambiente (PEREIRA, et al. 2006) Sedimentos têm sido amplamente utilizados como indicadores ambientais por sua grande capacidade de rastrear as fontes de contaminação, através da incorporação e acumulação dos elementos contaminantes. Dessa maneira, esses 12 materiais são considerados de grande importância na avaliação do nível de contaminação dos ecossistemas aquáticos (SOARES et al., 1999). Os sedimentos geralmente contêm concentrações de metais que são superiores a encontradas na água e a análise destes elementos em sedimentos torna-se mais fácil por apresentar menor problema de contaminação em relação a análise de metais em água. Diferente da água que dá uma indicação da concentração do metal em determinado momento, o sedimento reflete a “história” da poluição no estuário. Por isso, a concentração de metais em sedimento proporciona uma melhor avaliação da contaminação do estuário e, permitindo rastrear fontes de contaminação ou monitorar esses contaminantes, faz-se necessário as análises dos sedimentos em vários pontos de uma região de interesse, visto que este material é levado pelos rios para outro curso de água ou para o mar (ANDRADE et al., 2006; HORTELLANI et al., 2008). Estes materiais são também reconhecidos como transportadores e possíveis fontes de contaminação, já que tal compartimento ambiental pode liberar espécies contaminantes. Tais espécies são geralmente liberadas do leito do sedimento devido a alterações nas condições ambientais e físico-químicas (como pH, potencial redox e ação microbiana, entre outras), podendo contaminar a água e outros sistemas ambientais, afetando a qualidade da água, levando à bioacumulação e transferência na cadeia trófica. (COTTA, 2006) Vários metais são constituintes naturais dos sedimentos (Cr, Mn, Fe, Co, Ni, Cu, Zn, Pb e etc.). Concentrações destes metais nos sedimentos dos rios, geralmente refletem a ocorrência e abundância de certas rochas ou depósitos mineralizados, na área de drenagem do rio e tem sido a base de muitos métodos extensamente usado na prospecção geoquímica. Atualmente, no entanto, a contribuição antropogênica de certos metais pesados, para o meio ambiente, iguala ou excede a quantidade removida pelo intemperismo. Uma grande parte das descargas antropogênicas de metais pesados, que entram nos estuários é rapidamente absorvida sobre o material particulado e removido para o sedimento de fundo (ANDRADE et al., 2006). Dentre as atividades humanas que mais têm contribuído para introdução de metais pesados na hidrosfera, destacam-se a queima de combustíveis fósseis, o 13 beneficiamento de minérios, o descarte de efluentes urbanos não tratados (esgotos) e industriais, atividades portuárias, e a exploração mineral. Os teores relativamente elevados de metais estão associados aos sedimentos de grãos mais finos, principalmente constituídos por argila e silte, os quais têm alta capacidade de absorção devido à sua grande área superficial, além de existir também uma forte correlação entre os metais e teor de carbono orgânico no sedimento (POULOS et al., 2009). 2.4.3 Matéria orgânica em sedimentos De acordo com MOREIRA e BOAVENTURA (2003) o controle da mobilidade ou retenção dos metais na interface sedimento-água pode estar relacionado ao estado de oxidação do meio e aos diferentes teores de matéria orgânica e substâncias húmicas nos sedimentos, sendo que a matéria orgânica é responsável pela formação de complexos estáveis com os elementos-traço. A matéria orgânica (MO) dos rios é derivada de fontes naturais, que incluem a produção primária autóctone e o aporte terrígeno, e fontes antropogênicas. Em geral, as contribuições antropogênicas são a partir de fontes poluentes, como esgotos, indústrias e combustão de combustíveis fósseis. Eles são liberados nos rios diretamente (escoamento, descarga de águas residuais), por transportes, descarga acidental ou precipitação. A entrada desses poluentes orgânicos ou inorgânicos pode influenciar na produção de biomassa e no caráter global da matéria orgânica natural (MON) dos rios (MICIĆ et al., 2011). A caracterização das fontes, destino e distribuição da matéria orgânica em sistemas costeiros, como estuários, lagoas e enseadas, é relevante para a compreensão do ciclo do carbono e do grau de impactos antrópicos sobre estes sistemas. No entanto, esta é uma tarefa complexa, devido, em parte, à presença de uma vasta gama de materiais autóctones ou alóctones, os quais são misturados ao longo da interface sedimento-água e são sujeitos a variações espaciais e temporais, o que contribui para o conjunto total de matéria orgânica (COSTA et al., 2011). 14 A análise das concentrações de metais traço e matéria orgânica em perfil verticais de sedimentos, tem sido usada para fazer uma avaliação histórica com relação a evolução de ecossistemas terrestre adjacente e fontes de emissão. Esta evolução freqüentemente está associada ao desenvolvimento industrial, desflorestamento, mineração, aumento populacional e consumo de energia (PALANQUES et al., 1998). A matéria orgânica nos sedimentos de regiões estuarinas tem origem autóctone, isto é, produzida principalmente pela comunidade planctônica local, ou alóctone, fornecida por outras fontes. Diversos tipos de traçadores da matéria orgânica são utilizados para identificar as prováveis origens e os processos a que esta matéria esteve sujeita durante sua formação. A medida da relação Carbono orgânico:Nitrogênio total (Corg/Ntotal) é um dos métodos utilizados e confiáveis para identificar a origem das fontes da matéria orgânica dos sedimentos estuarinos e marinhos (ANDREWS et al., 1998, GRAHAM et al., 2001). Embora a composição da matéria orgânica possa ser modificada pela atividade microbial, estas variações não são bastante grandes para apagar completamente as relações originais (SILVA e REZENDE, 2002; AMORIM et al., 2009; FERNANDES et al., 2011) As relações molares de Corg/Ntotal com valores de 10 a 1000 caracteriza origem terrígena da matéria orgânica, de 6,6 (Relação de Redfield) origem autóctone e valores entre 6,6 e 10, origem terrígena e aquática (RUTTENBERG e GONI, 1997). 15 2.5 Técnicas de Normalização Pelo fato dos metais ocorrerem naturalmente nos sedimentos e suas concentrações variarem com o sedimento e com a granulometria, não é possível a interpretação dos resultados em relação à existência ou não de contaminação pela simples comparação das concentrações, obtidas no processo de análise dos sedimentos, com as de outros trabalhos de igual objetivo (ALVES et al., 2000; PAZI, 2011). Pode-se determinar o nível de contaminação nos sedimentos de um ambiente aquático por um determinado poluente metálico através do estabelecimento do nível natural deste metal e, em seguida, subtraí-lo da concentração atual, verificando-se deste modo se houve ou não enriquecimento em decorrência de influência antropogênica (FERREIRA, 2005). A normalização para um elemento de referência é um procedimento comum utilizado para detectar e quantificar concentrações irregulares de metais em sedimentos, diferenciando os elementos provenientes de atividades antropogênicas ou do desgaste natural. Os procedimentos de normalização são variados e podem ser agrupados em cinco categorias principais: normalização mecânica, pelo tamanho das partículas, extrapolação da curva de regressão, correção com mineral inerte; determinação química somente da fração móvel e, comparação com elemento conservativo - Fator de Enriquecimento (FE) (HORTELLANI et al., 2008; PAZI, 2011). A principal conjectura no emprego de uma normalização geoquímica de um elemento conservador é a existência de uma relação linear entre o normalizador e outros metais. Essa relação sugere que, nos sedimentos naturais da área, a concentração do metal mudará proporcionalmente à concentração do normalizador (CHATTERJEE et al., 2007; LUIZ-SILVA et al., 2006; HORTELLANI et al., 2008). Entre os normalizadores frequentemente empregados estão o alumínio, o ferro e o lítio, em vista a baixa mobilidade geoquímica destes elementos, mas não há um consenso sobre o componente mais adequado para ser utilizado para normalização de um sedimento. O Fe é muito utilizado como normalizador geoquímico porque está associada às partículas finas, sua concentração natural nos sedimentos é mais 16 uniforme e tem comportamento geoquimicamente análogo a outros metais traço (TAM e YAO, 1998; SOHRABI et al., 2010). Entre os procedimentos de normalização encontra-se o Fator de enriquecimento (FE) que é a medida da poluição (impacto antropogênico) no meio aquático, avaliada analisando os níveis pré-existentes desses metais e comparando com os teores atuais. Este método tem sido muito utilizado para minimizar as heterogeneidades litogênicas presentes nos sedimentos. Emprega-se o ferro para determinar o fator de enriquecimento (FE) dos metais, pois as heterogeneidades litogênicas são minimizadas com a introdução do elemento normalizador na equação de FE (AGUIAR, 2005; CHATTERJEE et al., 2007; LUIS-SILVA, 2006; HORTELLANI et al., 2008; SOHRABI, 2010). Assim, a contribuição litogênica foi quantificada pelo cálculo do fator de enriquecimento (FE) de acordo com a expressão: Em que, FE: fator de enriquecimento dos metais; Ci: concentração do elemento de interesse (Ci) na amostra; CFe: concentração do elemento de referência (normalizador), neste caso o ferro (Fe). A interpretação dos valores de FE permite visualizar se a concentração do metal excede ou não seu valor de background. CHEN et al. (2007) interpreta os valores de FE em sete classes: FE < 1: indica que não há contaminação; FE < 3: possível contaminação; FE = 3-5: contaminação moderada; FE = 5-19: contaminação moderadamente grave; FE = 10-25: contaminação grave; FE = 25-50: contaminação muito grave; FE ≥ 50: contaminação extremamente grave; 17 Os pesquisadores ZHANG e LIU, 2002; FENG et al., 2004 sugerem que os valores do fator de enriquecimento dos metais que se encontram na faixa de 0,5 ≤ FE ≤ 1,5 indicam que os metais traço presentes nos sedimentos podem ser influência de processos naturais ou devidos à composição geológica. Os fatores de enriquecimento maior que 1,5 indicam a proeminência de que uma grandeza do metal procede de outras fontes, sugerindo contaminação ambiental por esses metais. A extrapolação da curva de regressão linear é outro método normalizador bastante utilizado. É traçado um gráfico do metal com o elemento normalizador, plotada a regressão linear da reta e seu intervalo de confiança. Todas as amostras que ficaram dentro do intervalo de confiança podem ser caracterizadas como tendo concentração natural dos metais, enquanto que as amostras fora do intervalo de confiança podem ser consideradas contaminadas (HORTELLANI et al. 2008). 18 3. OBJETIVOS 3.1 Geral Avaliar a concentração de elementos traço, alumínio, ferro e matéria orgânica nos sedimentos do rio Japaratuba/SE após a retirada dos efluentes de água produzida oriundos do campo de exploração de petróleo de Carmópolis/SE. 3.2 Específicos Caracterizar os sedimentos do rio Japaratuba com base nas medidas das concentrações parciais e totais de metais (Cu, Cd, Zn, Pb, Ni, Mn, Co, Ba, V, Cr, Al e Fe), carbono e nitrogênio, comparando com resultados obtidos antes da retirada dos efluentes do manancial; Avaliar possíveis contaminações dos sedimentos por metais traço através da normalização das concentrações em relação ao ferro e do fator de enriquecimento (FE); Utilizar a relação Corgânico/Ntotal para identificar as fontes de origem da matéria orgânica dos sedimentos; 19 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO Uma bacia hidrográfica é o conjunto de terras, separadas topograficamente entre si, cujas áreas funcionam como receptores naturais das águas da chuva. Devido a isso, todo o volume de água captado é automaticamente escoado por meio de uma rede de drenagem das áreas mais altas para as mais baixas, seguindo uma hierarquia fluvial, até concentrarem-se em um único ponto, formando um rio principal. Esta área é uma importante unidade de planejamento e de execução de atividades sócio-econômicas, ambientais, culturais e educativas. Por isso, o seu estudo pode fornecer informações dos impactos provocados pelo processo de urbanização e possibilitar uma avaliação da degradação ambiental sofrida pela mesma (FERREIRA, 2009). O Estado de Sergipe é drenado por seis bacias hidrográficas, mostradas na Figura 2. A bacia do rio São Francisco, além de drenar o Estado de Sergipe, drena a Bahia, Alagoas, Pernambuco e Minas Gerais. A bacia do rio Sergipe é considerada a mais importante para o Estado uma vez que engloba as regiões Centro-Norte e Cotinguiba, áreas produtoras de cereais, cana-de-açúcar e criação de gado. A do rio Vaza Barris é também importante, pois banha a região Centro-Sul do Estado, onde localizam-se produtores de fumo e criadores de gado. O estado é também drenado pela bacia do rio Piauí; pela bacia do rio Real, cujo regime hídrico depende basicamente da precipitação, e pela bacia do rio Japaratuba que é a menor do Estado e o objeto de estudo deste trabalho (SOUSA et al., 1999). A bacia do rio Japaratuba (Figura 3), a qual está inserida entre as coordenadas 10º13’00’’ e 10º47’00’’ de latitude Sul e 36º48’00’’ e 37º19’00’’ de longitude, localiza-se no nordeste do Estado de Sergipe e caracteriza-se por ser genuinamente sergipana. Esta bacia possui uma área de 1840 km2 abrangendo 8,4% do território sergipano e é composta das sub-bacias dos rios Japaratuba (54% da área total), Siriri (23,37% da área total) e Japaratuba-Mirim (~20% da área total). O limite noroeste da bacia é atingido pelo Polígono das Secas, abrangendo cerca de 13% da área total da bacia (ARAGÃO e ALMEIDA, 2009; CRUZ, 2009). 20 Figura 2: Bacias Hidrográficas do Estado de Sergipe (Sousa, et al 1999). Figura 3: Bacia do rio Japaratuba: principais afluentes e limites municipais (ARAGÃO e ALMEIDA, 2009). 21 O rio Japaratuba (Figura 4) nasce na Serra da Boa Vista, na divisa entre os municípios de Feira Nova e Gracho Cardoso, percorrendo 92 km de extensão até desembocar no Oceano Atlântico, no Município de Pirambu, após atravessar os municípios de Capela, Carmópolis, Cumbe, General Maynard, Japaratuba, Muribeca, Rosário do Catete e Siriri. Seus principais afluentes são os rios Japaratuba-Mirim, pela margem esquerda, e Siriri, pela direita. A população residente na área da bacia é de aproximadamente 92.200 habitantes (representando 5,6% da população do estado), dos quais 61% moram nas áreas urbanas de municípios como Capela, Japaratuba, Carmópolis, Rosário do Catete, Siriri, entre outros. (a) (b) Figura 4: (a) Ponte sobre o rio Japaratuba próximo a sua foz, no município de Pirambu; (b) Rio Japaratuba A localização da bacia propicia a ocorrência de um clima tropical, apresentando as variações úmido, sub-úmido e semiárido, onde as temperaturas são elevadas durante todo o ano, com médias térmicas anuais em torno de 24º C. A precipitação pluvial na bacia apresenta valores anuais médios de 1.270 mm, com cerca de 900 mm ano-1 na sua porção extrema noroeste e 1.500 mm ano -1 próximo à sua foz, com três a cinco meses secos (CRUZ, 2009; ANDRADE et al., 2006). 22 A vazão média do rio Japaratuba é da ordem de 11,0 m3/s e a mínima de 0,22 m3/s, o que demonstra o baixo potencial hídrico da bacia, caracterizando-a como uma bacia com deficiência hídrica. Apesar da sua baixa disponibilidade hídrica, os usos múltiplos da água superficial apresentam-se intensos na bacia, destacando-se o uso da água para atividades de exploração mineral, principalmente petróleo, gás e potássio, de abastecimento humano e de irrigação (CRUZ, 2009). A bacia do rio Japaratuba tem como principal característica, um solo fértil e água disponível para a utilização em processos. O uso agrícola na bacia está concentrado na produção de cana-de-açúcar, próximo à planície aluvial do rio, e em pastagens, estas espalhadas ao longo de toda a bacia. Estas atividades têm provocado a remoção significativa da mata ciliar, contribuindo para a aceleração dos processos erosivos e para o assoreamento dos leitos dos rios. A mata ciliar no Rio Japaratuba encontra-se atualmente reduzida a aproximadamente 1% do que a legislação ambiental determina como adequado, chegando a 0,14% no seu principal afluente, o Rio Japaratuba-Mirim. (CRUZ, 2009). O Rio Japaratuba é o principal corpo receptor dos efluentes líquidos gerados pelas indústrias instaladas na região. A poluição das águas por efluentes urbanos é observada nas proximidades dos municípios de Japaratuba, Capela e Nossa Senhora das Dores, com predominância de esgotos domésticos não-tratados. Estes -1 efluentes contém sulfetos, óleos, fenóis, ferro, cobre (< 0,10 e 0,15 mg L ), cromo -1 -1 -1 (< 0,10 e 0,14 mg L ), zinco (< 0,10 mg L ), cádmio (< 0,10 mg L ), níquel (0,50 -1 -1 mg L ) e (0,80 mg L ). (CRUZ, 2009; ANDRADE, et al. 2006). Esta bacia também possui uma importância estratégica para o estado de Sergipe, pois abriga o maior campo petrolífero terrestre do país, o campo de Carmópolis, com mais de 150km 2 e 1.200 poços, que fazia uso da porção inferior do rio Japaratuba para o despejo das águas residuárias do processo de exploração, causando alterações significativas na biota do rio, resultado da presença de metais na água e no sedimento. (CRUZ, 2009). Em 2005 a Petrobras retirou os despejos do Rio Japaratuba. A água anteriormente descartada nestes rios passa atualmente por um sistema de tratamento de flotação e filtração e é reinjetada na formação de origem através de um sistema de bombeio de alta pressão. 23 5. MATERIAIS E MÉTODOS 5.1 Equipamentos GPS; Draga de Van Veen; Estufa com circulação forçada de ar marca Marconi, modelo MA 035; Balança analítica digital marca Mettler, modelo Toledo AB 204-5; Ultra purificador de água, marca Milipore, modelo Milli-Q plus; Bloco digestor (com controle de temperatura) com frascos de politetrafluoretileno (PTFE), marca Techal, modelo TE & A; ICP-OES Varian, modelo VISTA AX. 5.2 Reagentes e Soluções Ácido Clorídrico concentrado, HCl 37% marca Merck; Ácido Nítrico concentrado suprapuro, HNO3 65% marca Merck; Ácido Fluorídrico concentrado, HF 40% PA marca Qell; Solução de HNO3 (1:1), diluindo 250 mL do ácido concentrado em água ultra pura e o volume completado a 500 mL; Solução de HCl (1:5), diluindo 100 mL do ácido em água ultrapura e volume completado a 500 mL; Solução de HCl 0,5 mol/L; Material de Referência certificado de sedimento de rio NCS DC 78301, China; Material de Referência certificado (CCNRP/Canadá). 5.3 Materiais Béqueres de 50 e 100 mL; Provetas de vidro de 50 e 100 mL; Balões volumétricos de 50 e 500 mL; Funis de vidro; Bandejas e espátulas plásticas; 24 de sedimento de lago LKSD-1 Frascos de polietileno de 100 mL; Papel de filtro quantitativo; Almofarizes e pistilos de porcelana; Pipeta automáticas de 10 mL. 5.4 Coleta e Preparo das amostras As amostras de sedimentos superficiais do rio Japaratuba foram coletadas no dia 19 de janeiro de 2010 em nove pontos previamente estabelecidos (Tabela 1). Os pontos foram representativos da região influenciada pelo antigo despejo da água produzida pela Petrobrás, como também áreas teoricamente isentas de contaminação, incluindo necessariamente os pontos constantes do trabalho de Alves et al.(2000) para possibilitar uma comparação entre os resultados. (Figura 05) Figura 05: Pontos de Coleta na bacia do rio Japaratuba. 25 Tabela 1: Descrição dos pontos de amostragem no rio Japaratuba e das coordenadas UTM (Universal Transverse Mercator). Ponto Descrição Latitude X Longitude Y P1 Situado no rio Japaratuba a montante dos 723470 8824665 726180 8825482 726079 8821482 despejos de água produzida P2 Situado no rio Japaratuba Mirim a montante do CP-150 P3 Situado na confluência dos rios Japaratuba e Japaratuba Mirim P4 Situado na fazenda Alagamar 726862 8819463 P5 Situado a jusante da confluência com o rio 728810 8818587 730542 8815924 733007 8814635 733989 8811643 Siriri P6 Situado antes do início da vegetação de mangue P7 Situado após o término da vegetação de mangue P8 Situado próximo ao mercado de camarão de Pirambu, na foz do rio Japaratuba P9 Situado na confluência com o rio Pomonga 732681 8811911 R1 Situado no rio Japaratuba Mirim na cidade 728298 8829603 728690 8830051 de Japaratuba R2 Situado no rio Japaratuba, próximo a BR 101 Também foram coletados dois pontos de background (R1 e R2) situados no rio Japaratuba Mirim e no rio Japaratuba num local próximo a BR 101. A coleta foi realizada com amostradores do tipo Van Veen de aço inoxidável (Figura 06), e os sedimentos foram posteriormente acondicionados em recipientes plásticos, previamente descontaminados, tomando-se o cuidado de preenchê-los totalmente. Vale ressaltar que as amostras foram tomadas na parte interna, de modo a evitar a contaminação por metais das paredes do amostrador. Em seguida, os recipientes foram devidamente etiquetados e armazenados numa caixa de isopor para serem 26 transferidos até o Laboratório de Química Analítica Ambiental da Universidade Federal de Sergipe, onde foram mantidos em freezer. Figura 06: Fotos da coleta no rio Japaratuba. Draga de Van Veen sendo colocada para extração de sedimento e acondicionamento em frasco coletor. Após remover restos de plantas e fragmentos de rochas do sedimento, estas amostras foram secas em estufas com circulação de ar a 60ºC por 24 horas. Após a secagem, desagregou-se o sedimento usando-se almofariz e pistilo de porcelana e em seguida foram peneirados em peneira de nylon de 250 mesh para obtenção de um material mais homogêneo e estocado em frascos de vidro descontaminados, para posterior análise e determinação de metais e matéria orgânica. 27 5.5 Tratamento da amostra e determinação dos metais parciais No processo de extração parcial dos metais foi seguido o procedimento proposto pelo Método 200.8 US- EPA. Conforme a recomendação do método, a temperatura de aquecimento do bloco digestor foi ajustada de modo a garantir uma temperatura de aproximadamente 85º, mas não maior que a encontrada no interior da bomba de PTFE (Politertafluoretileno). Foi pesado, aproximadamente, 1,0g da amostra de sedimento seco a 60º em estufa com circulação forçada de ar e colocada em bombas de PTFE. Em seguida, foram adicionados 4 mL de solução de ácido nítrico (1:1) e 10 mL de solução de ácido clorídrico (1:5). As bombas foram fechadas e aquecidas a 95ºC durante 30 minutos e, depois, resfriadas em uma bandeja plástica contendo gelo e água por aproximadamente 20 minutos. Após resfriamento, as bombas foram abertas e as amostras foram filtradas em papel filtro quantitativo. O filtrado foi recolhido em balão volumétrico de 50 mL e o volume completado com água ultra pura. Os extratos foram transferidos e mantidos em frascos de polietileno previamente descontaminados para posterior determinação dos metais. Figura 07: Representação esquemática do tratamento das amostras para determinação parcial dos metais. 28 Para assegurar a qualidade analítica dos resultados, foi analisado junto com as amostras, o padrão certificado de sedimento de rio NCS DC 78301. As concentrações dos metais Cu, Cd, Zn, Pb, Ni, Mn, Co, Ba, V, Cr, Al e Fe foram analisadas em um espectrômetro de emissão atômica por plasma indutivamente acoplado (ICP-OES) Varian, modelo VISTA AX, com detecção simultânea e visão axial. O instrumento possui um sistema gerador de rádiofrequência de 40,68MHz capaz de fornecer potência de até 1,7kW, e é controlado por computador com processador tipo Pentium. Um conjunto de sistema de nebulização composto por câmara Sturman-Master (Varian referência 01-10593190) e com um nebulizador tipo V-Goove (Varian referência 99-100574-00), foi utilizado para introdução das amostras no plasma. Uma tocha axial de baixo fluxo (Varian referência 20-100904-00) foi utilizada para manter o plasma. 5.6 Tratamento da amostra e determinação dos metais totais Foram pesadas cerca de 0,4 a 0,5 g da amostra de sedimento (previamente seca a 50ºC em estufa de circulação forçada de ar), transferidas às bombas de PTFE, depois foram adicionado 2 mL de ácido nítrico concentrado e 1 mL de ácido clorídrico concentrado. Foi aquecido por 15 minutos a 60 ºC em sistema aberto, usando o bloco digestor. Depois foram adicionados 4 mL de ácido fluorídrico, aquecido por 2 horas a 140 ºC em sistema fechado. Em seguida, as bombas foram resfriadas por 30 minutos. Após resfriamento, as bombas foram abertas e a temperatura elevada para 210ºC, até a secura total. Na dissolução do resíduo, foi adicionado 10 mL de ácido clorídrico 0,5 mol L -1. Após a digestão, as amostra foram filtradas em filtro de papel quantitativo, recolhidas em balão volumétrico de 50 mL e o volume completado com água ultrapura. Esses extratos foram mantidos em frasco de polietileno previamente descontaminado e mantidos em refrigeração até a análise. 29 Figura 08: Representação esquemática do tratamento das amostras para determinação total dos metais. Para assegurar a qualidade analítica dos resultados, foi analisado junto com as amostras, o padrão certificado de sedimento de lago LKSD-1 (CCNRP/Canadá). As concentrações dos metais Cu, Cd, Zn, Pb, Ni, Mn, Co, Ba, V, Cr, Al e Fe foram analisadas no mesmo equipamento e nas mesmas condições utilizadas para a determinação parcial dos metais. 30 5.7 Determinação da matéria orgânica Foram pesadas cerca de 5g de cada amostra de sedimento e colocadas para calcinar em mufla da marca Quimis, modelo Q318M, a 550°C por 2 horas. As concentrações de carbono e nitrogênio foram medidas num Analisador Elementar Flash EA 1112 com combustão a 900ºC. O carbono orgânico foi calculado pela diferença do carbono medido antes e após a calcinação das amostras a 550°C. 31 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1 Exatidão das metodologias analíticas utilizadas Para assegurar a qualidade analítica dos resultados, foram analisados juntos com as amostras de sedimento, um material de referência certificado de sedimento de rio NCS DC 78301 para avaliar a recuperação parcial dos metais, e outro material de referência certificado de sedimento de lago LKSD-1 (CCNRP/Canadá) para avaliar a recuperação total dos mesmos. Os resultados das concentrações dos metais determinados, como também a taxa de recuperação estão apresentados nas Tabelas 2 e 3. Tabela 2: Dados de recuperação dos metais em material de referência certificado, sedimento de rio NCS DC 78301. (Concentrações parciais dos metais em µg g-1). Metal Valor certificado Valor encontrado Recuperação (%) Ba 375,0 366,0 ± 3,48 97,6 Cd 2,45 2,1 ± 0,01 85,7 Co 16,5 13,3 ± 0,78 80,6 Cr 90,0 81,0 ± 0,74 90,0 Cu 53,0 52,0 ± 0,02 98,1 Zn 251,0 258,7 ± 0,94 103,1 Mn 975,0 953,0 ± 2,34 97,7 Ni 32,0 29,0 ± 0,33 90,6 V 96,0 91,0 ± 0,74 94,8 Fe 3,9* 3,8* ± 0,43 97,4 *Valor percentual 32 Tabela 3: Dados de recuperação dos metais em material de referência certificado de sedimento de lago LKSD-1 (CCNRP/Canadá). (Concentrações totais dos metais em µg g-1). Metal Valor certificado Valor encontrado Recuperação (%) Ba 430 419 97,4 Cd --- --- --- Co 11 10 90,9 Cr 31 32 103,2 Cu 44 39 88,6 Zn 331 320 96,7 Mn 700 659 94,1 Fe 2,8* 2,75* 98,2 Ni 16 18 112,5 V 50 48 96,0 *Valor percentual A taxa de recuperação foi calculada pela razão percentual entre o valor encontrado e o valor certificado de cada elemento. Na extração parcial foram obtidos resultados de recuperação entre 80,6% e 103,1%, e na extração total valores compreendidos entre 88,6% e 112,5%. Como pode ser observado existe uma boa concordância entre os valores encontrados e os certificados, garantindo a eficiência dos métodos de extração empregados e, conseqüentemente, a exatidão dos resultados. Os desvios padrão de concentração dos metais também foram coerentes com os indicados na norma de material de referência. Entende-se que o nível de confiança nos resultados é de grande importância, com isso é cada vez mais evidenciada a exatidão e precisão dos resultados e isto tem como intenção demonstrar que os parâmetros seguidos e as condições de trabalho utilizadas têm resultados com confiabilidade analítica (INMETRO, 2010). 33 6.2 Distribuição de metais parciais nos sedimentos Nos sedimentos a concentração de metais pode variar de acordo com a razão de deposição dos metais, razão de sedimentação das partículas, natureza e tamanho das partículas e a presença ou ausência de matéria orgânica e espécies complexantes (JESUS, et al. 2004). Neste estudo as concentrações dos metais Cu, Cd, Zn, Pb, Ni, Mn, Co, Ba, V, Cr, Al e Fe foram determinadas na fração fina dos sedimentos superficiais do rio Japaratuba/SE usando a extração ácida. A escolha desta fração está associada ao fato que é nela que os metais geralmente se acumulam, devido à sua elevada proporção área superficial/tamanho das partículas e ao teor de substâncias húmicas, o que a torna o carreador de metais mais importante no ambiente aquático (ANGELIDIS & ALOUPI, 1995; REDDY, et al. 2004). Na tabela 4 estão apresentadas as médias das concentrações das digestões parciais dos sedimentos, realizadas em triplicata, para cada um dos metais. Verifica-se que, dentre os elementos determinados, o Al apresentou os teores mais elevados em todos os pontos de coleta, seguido do ferro, refletindo a composição mineralógica da fração fina, já que há comprovação que os principais constituintes desta fração são alumino-silicatos associados aos traços de outros metais (WINDOM, et al. 1989). Dentre os pontos de coleta estudados, destaca-se o P3, por ter apresentado as maiores concentrações para a maioria dos metais analisados, exceto para o Cd e Ni. Isso pode ser justificado pelo fato deste ponto localizar-se próximo ao local onde eram descartados os despejos de água produzida. A quantidade de matéria orgânica no meio ou o pH da água também podem ter influência na alta concentração dos metais neste ponto. 34 Tabela 4: Concentrações médias dos metais parciais na fração fina dos sedimentos do rio Japaratuba. Coleta realizada em 19 de janeiro de 2010. Ponto Cu (g g-1) Cd (g g-1) Zn (g g-1) Pb (g g-1) Ni (g g-1) Mn (g g-1) Co (g g-1) Ba (g g-1) V (g g-1) Cr (g g-1) Al (%) Fe (%) P1 29,41 4,09 81,70 28,06 30,41 782,64 17,96 1158,5 4,24 40,86 3,58 1,52 P2 1,45 0,58 62,90 3,80 1,42 488,00 2,39 882,68 1,06 11,56 3,31 1,25 P3 33,08 2,55 95,73 29,92 21,71 988,03 19,26 1918,1 8,19 78,60 3,95 1,56 P4 26,90 3,96 82,97 23,63 25,36 792,45 12,16 1743,5 4,48 43,22 3,93 1,50 P5 10,30 6,36 63,36 22,64 15,20 684,95 18,03 1519,2 3,66 24,58 3,52 1,38 P6 5,76 1,62 43,12 2,37 6,06 717,47 6,27 1365,2 1,87 20,43 3,68 1,35 P7 2,94 0,89 64,92 4,15 2,49 611,17 2,51 1101,8 1,06 12,45 3,30 1,26 P8 0,58 0,06 28,91 6,34 2,32 483,67 0,61 823,24 0,09 4,56 3,28 1,26 P9 0,93 0,10 39,99 3,24 3,58 469,94 0,72 855,94 0,63 7,38 3,17 1,22 35 Em relação à abundância dos metais deste estudo, encontramos: Ba > Mn > Zn > Cr > Pb ~ Cu > Ni > Co > V > Cd. Destaca-se nos sedimentos do rio Japaratuba as altas concentrações de bário, o que é muito raro na maioria dos sedimentos, ocorrendo apenas em regiões onde justamente há a prática de exploração de petróleo (AYUPZOUAIN, et al. 2006). Para os metais Cu, Zn, Co, Ba, V, Cr e Al as concentrações mínimas e máximas foram encontradas nos pontos P8 e P3, respectivamente. Já para o ferro e o manganês as concentrações mínimas e máximas foram encontradas nos pontos P9 e P3, respectivamente. Para o chumbo as concentrações mínima e máxima foram encontradas respectivamente nos pontos P6 e P3. O níquel apresentou concentração mínima e máxima respectivamente nos pontos P2 e P1 e o cádmio nos pontos P8 e P5, respectivamente. A maioria dos metais, exceto Pb e Ni, apresentaram os menores valores de concentração nos pontos P8 ou P9. Isto pode ser explicado pelo fato destes pontos estarem localizados próximos a foz do rio, onde os processos hidrodinâmicos constituem um dos fatores que influenciam a sedimentação nos estuários. A velocidade das correntes, o movimento de fluxo e refluxo das ondas e das marés propiciam um maior nível energético, que impede a deposição das frações mais finas. Assim, nos estuários, onde o nível de energia hidrodinâmica é elevado, predomina a fração arenosa nos sedimentos, a qual não é favorável a fixação de metais (CHARTTEJEE et al., 2007). Os valores das concentrações, mínima e máxima, de todos os pontos de coleta deste estudo e de mais outros quatro (FERREIRA, 2009 e BARRETO, 2007 em Sergipe; COTTA, et al., 2006 em São Paulo e TEÓDULO et al., 2003 em Pernambuco), encontram-se na Tabela 5. Os trabalhos escolhidos também apresentam valores de concentrações parciais de metais, possibilitando uma melhor comparação dos dados. Comparando as concentrações deste estudo com outras regiões do estado de Sergipe, em geral, as concentrações encontradas nos sedimentos do rio Japaratuba foram elevadas, exceto para o Zn, que teve maior concentração em sedimentos do rio Vaza Barris, segundo FERREIRA (2009). Destacam-se as concentrações máximas encontradas para manganês, alumínio, ferro e cromo deste estudo, que chegam a ser aproximadamente 6 vezes maior do que as outras regiões sergipanas. 36 Já com relação às outras regiões do Brasil, verifica-se que em geral os sedimentos do rio Japaratuba possuem concentrações menores para a maioria dos metais. Destaca-se a concentração mínima de Zn e Pb no rio Betari (SP) que chega a ser cerca de 3 vezes maior que a concentração máxima do rio Japaratuba para estes metais. Tabela 5: Comparação entre as concentrações parciais de metais traço (todos em µg g-1, exceto Al e Fe que são apresentados em %) nos sedimentos superficiais do rio Japaratuba e de sedimentos de outras regiões de Sergipe e do Brasil. 1. Presente estudo; 2. Ferreira (2009) sergipe; 3. Barreto (2007) sergipe; 4. Cotta, et al. (2006) são paulo; 5. Teódulo et al. (2003) pernambuco. Metal Rio Japaratuba Rio Vaza Rio Poxim (SE)1 Barris (SE)2 (SE)3 Rio Betari (SP)4 Portuário de Suape (PE)5 Cmin Cmáx Cmin Cmáx Cmin Cmáx Cmin Cmáx Cmin Cmáx Cu 0,58 33,08 0,50 7,20 1,82 27,95 26,66 133,23 4,30 171,0 Cd 0,06 6,36 n.d n.d n.d n.d 2,00 10,00 n.d n.d Zn 28,91 95,73 0,34 113,57 6,57 67,12 329,96 5497,36 9,10 67,00 Pb 2,37 29,92 0,89 6,03 3,21 20,19 115,98 7569,78 8,40 42,00 Ni 1,42 30,41 0,64 8,45 0,27 15,84 24,66 41,31 1,20 69,00 Mn 469,94 988,03 91,04 575,17 2,05 178,80 421,05 2785,38 100 1300 Co 0,61 19,26 0,82 8,22 0,24 4,92 n.d n.d n.d n.d Cr 4,56 78,60 3,12 13,33 2,08 26,31 29,32 63,97 5,60 148,0 Al 3,17 3,95 1,65 4,19 1,26 5,69 0,80 2,57 n.d n.d Fe 1,22 1,56 0,83 1,85 0,25 2,91 2,36 5,38 n.d n.d Cmin= concentração mínima e Cmáx= concentração máxima obtidas por extração parcial; n.d= não disponível. 1. Presente estudo; 2. Ferreira (2009); 3. Barreto (2007); 4. Cotta, et al. (2006); 5. Teódulo et al. (2003). 37 6.3 Distribuição de metais totais nos sedimentos As concentrações totais dos metais (em µg g-1, exceto para Al e Fe que estão em %) na fração fina do sedimento superficial do rio Japaratuba estão apresentadas na Tabela 6. Verifica-se que, semelhantemente à determinação das concentrações parciais, o Al e o Fe apresentaram os teores mais elevados em todos os pontos de coleta, refletindo a composição mineralógica da fração fina dos sedimentos estudados, e que o ponto P3 destaca-se novamente por possuir as maiores concentrações para a maioria dos metais analisados, exceto para o Cd e Ni. A digestão parcial das amostras disponibiliza todo o metal que esteja na fração trocável, oxidável e carbonática, além daqueles de menor mobilidade que estão associados aos óxidos cristalinos de ferro e manganês, matéria orgânica, sulfetos e alguns silicatos mais alterados. Já a digestão total permite a solubilização dos metais associados a todas as frações geoquímicas, inclusive à matriz mineralógica. (PEREIRA, 2007, FIZMAN et al., 1984). Observa-se que não existe uma diferença significativa entre os valores de concentração total e parcial dos metais estudados em todos os pontos de coleta, o que evidencia que a maior parte dos metais presentes no sedimento está biodisponível para o ambiente. 38 Tabela 6: Concentrações médias dos metais totais na fração fina dos sedimentos do rio Japaratuba. Coleta realizada em 19 de janeiro de 2010. Ponto Cu (g g-1) Cd (g g-1) Zn (g g-1) Pb (g g-1) Ni (g g-1) Mn (g g-1) Co (g g-1) Ba (g g-1) V (g g-1) Cr (g g-1) Al (%) P1 36,77 5,14 87,18 28,25 32,47 826,63 23,25 1880,5 4,73 44,17 3,02 P2 3,61 0,82 74,58 5,69 3,53 544,75 5,41 984,06 3,48 20,76 3,41 5,10 P3 39,71 2,69 102,43 33,40 29,16 1030,6 24,92 2110,9 9,62 82,36 4,04 6,15 P4 30,75 4,32 93,02 28,66 24,68 894,02 18,07 1846,5 5,67 46,62 3,05 6,03 P5 11,41 7,49 65,53 24,50 17,14 714,71 20,51 1614,3 4,70 23,76 3,55 5,67 P6 7,65 1,77 43,77 5,64 6,52 683,04 7,41 1522,7 2,82 21,96 3,62 5,47 P7 3,50 0,93 65,47 5,06 3,81 608,39 3,54 994,62 1,46 14,84 3,34 5,18 P8 1,11 0,07 32,19 7,54 3,90 486,42 0,88 905,71 0,08 5,09 3,32 5,04 P9 1,12 0,12 41,52 4,48 2,95 519,02 0,59 868,01 0,12 8,44 3,21 4,97 0,04 30,21 6,32 0,94 378,98 0,46 765,79 0,04 2,80 3,38 1,22 0,05 32,88 16,33 1,60 401,08 0,69 571,51 0,45 6,92 3,45 1,40 R1 R2 0,18 1,65 39 Fe (%) 5,74 O estudo realizado por ALVES et al (2000) quantificou as concentrações totais dos metais traço Cu, Pb, Zn, Ni, Cd e Co, nos sedimentos do rio Japaratuba na época em que os efluentes de água produzida ainda eram despejados em regiões deste rio, utilizando os mesmos pontos de coleta deste estudo. Na tabela 7 encontra-se uma comparação entre as concentrações totais dos metais no estudo realizado em 2000 e no presente trabalho. Tabela 7: Comparação entre as concentrações totais dos metais Cu, Zn, Pb, Ni, Co e Cd dos sedimentos do rio Japaratuba no trabalho realizado por Alves, et al. (2000) (coleta realizada em 1996) e no presente estudo (coleta realizada em 2010). Concentração dos metais em µg g-1. Metal Ponto P3 Ponto P4 Ponto P5 1996 Ponto P6 Ponto P7 Ponto P8 1996 2010 1996 2010 2010 1996 2010 1996 2010 1996 2010 Cu 41,93 39,71 8,68 30,75 12,90 11,41 5,56 7,65 2,90 3,50 1,12 1,11 Zn 105,9 102,43 78,71 93,02 65,81 65,53 43,57 43,77 61,31 65,47 43,94 32,19 Pb 39,92 33,40 16,65 28,66 27,68 24,50 7,70 5,64 5,45 5,06 4,20 7,54 Ni 33,71 29,16 10,98 24,68 17,32 17,14 6,34 6,52 3,04 3,81 2,35 3,90 Co 24,37 24,92 6,67 18,07 15,03 20,51 6,12 7,41 3,88 3,54 0,85 0,88 Cd n.d 2,69 n.d 4,32 n.d 1,77 n.d 0,93 n.d 0,07 n.d 7,49 40 Observou-se que no estudo realizado anteriormente não foi possível determinar o cádmio nas amostras devido à baixa sensibilidade do método utilizado na época, porém no trabalho atual já se encontrou traços deste metal nos sedimentos, provavelmente proveniente dos despejos de água produzida no local. Para os pontos P3, P5, P6, P7 e P8 as concentrações de todos os metais permaneceram praticamente inalterada ou pouco aumentaram entre os anos de estudos, mostrando que o ambiente ainda não se recuperou totalmente. Já para o ponto P4 notou-se um aumento significativo de todas as concentrações dos elementos metálicos entre as coletas de 1996 e 2010, que pode ser explicado por uma provável remobilização desses metais dos pontos localizados a montante do ponto 4, para esse ponto. 6.4 Normalização dos dados Neste trabalho, optou-se pelas técnicas de normalização por regressão linear e fator de enriquecimento (FE). Os elementos mais empregados como normalizadores são o ferro, o alumínio e o lítio. Tem-se usado mais frequentemente o alumínio para a normalização de concentrações de metal traço visto às muitas vantagens que este elemento apresenta, como abundância na crosta terrestre (DIN, 1992). No entanto, observa-se pela Tabela 8 que as correlações entre as concentrações totais dos metais em estudo e o teor de alumínio não se apresentaram satisfatórias. Sendo assim, optouse pelo ferro como elemento normalizador, visto que foram encontradas melhores correlações entre as concentrações totais dos elementos metálicos do presente trabalho e o teor de ferro. 41 Tabela 8: Coeficientes de correlação linear (r 2) dos dez metais com Fe e Al para sedimentos do Rio Japaratuba – SE. Metais Correlação Ferro Correlação Alumínio Cu 0,96 0,71 Cd 0,46 0,31 Zn 0,67 0,50 Pb 0,85 0,53 Ni 0,89 0,56 Mn 0,86 0,85 Co 0,81 0,55 Ba 0,63 0,87 V 0,82 0,74 Cr 0,84 0,76 A extrapolação da curva de regressão foi feita pela construção de gráficos (Figuras 09 e 10) representando a relação entre a concentração total dos elementos Cu, Cd, Ba, Co, Cr, Mn, Ni, Pb, V, Zn e Al versus o teor de Fe. A linha sólida representa a regressão linear e as linhas pontilhadas representam o intervalo de 95% de confiança. Todas as amostras que ficaram dentro do intervalo de confiança podem ser caracterizadas como tendo concentração natural dos metais, enquanto que as amostras fora do intervalo de confiança podem ser consideradas contaminadas. 42 Figura 09: Relações entre as concentrações total dos elementos Cu, Cd, Ba, Co. Cr e Mn versus o teor de Fe. Os números representam os pontos de coleta sem as iniciais do nome do rio. 43 Figura 10: Relações entre as concentrações totais dos elementos Pb, Ni, V, Zn e Al versus o teor de Fe. Os números representam os pontos de coleta sem as iniciais do nome do rio. 44 Interpretando as figuras 09 e 10 apresentadas anteriormente, verifica-se que os sedimentos correspondentes ao ponto P3, apesar de ter apresentado as maiores concentrações para a maioria dos metais estudados em relação aos outros pontos, possui seus sedimentos realmente contaminados apenas por Cr. Os sedimentos alterados por maior número de metais foram os relacionados ao ponto P1 com concentrações de Cu, Ba, Co, Ni, Pb e Al fora da normalidade, o ponto P6, no qual foram observadas concentrações anormais de Ba, Co, Ni, Pb e Zn; seguido do ponto P5 alterado por Cu, Cd, Co, Cr e Mn. O ponto P2 possue apenas concentrações de Zn e V fora da normalidade e os pontos P4, P7, P8 e P9 não estão alterados por nenhum dos metais analisados, segundo os gráficos de normalização. Outra técnica de normalização utilizada para comprovar a alteração significativa de alguns pontos do rio Japaratuba foi o fator de enriquecimento (FE). Ele representa o nível de contaminação existente nos sedimentos e é uma boa ferramenta para diferenciar a origem do metal entre antrópica e natural (SOHRABI, 2010). Neste estudo, a normalização geoquímica foi obtida utilizando o ferro como elemento de referência e os resultados obtidos para cada ponto de coleta estão dispostos nas Figuras 11 e 12 a seguir. 45 (Cu) (Cd) (Ba) (Co) (Cr) (Mn) Figura 11: Gráficos do Fator de Enriquecimento dos metais Cu, Cd, Ba, Co, Cr e Mn nos 9 pontos de estudo do rio Japaratuba. 46 (Pb) (Ni) (Zn) (V) (Al) Figura 12: Gráficos do Fator de Enriquecimento dos metais Ni, Pb, V, Zn e Al nos 9 pontos de estudo do rio Japaratuba. 47 Analisando as figuras 08 e 09, observa-se uma característica comum a quase todos os gráficos de FE que é o fato do ponto P1 possuir um alto valor de FE, o ponto P2 ter um decréscimo desse valor e posteriormente elevar-se novamente no ponto P3 e seguir em decréscimo mais uma vez até chegar ao último ponto, o ponto P9. Isso exlica-se por ser os pontos P1 e P3 atingidos pelos despejos de água produzida e o P2 estar longe da região impactada. De um modo geral observa-se os menores valores de Fator de enriquecimento nos pontos P8 e P9, por localizarem-se em regiões distantes onde eram feitos os antigos despejos de água produzida. Em contrapartida, os maiores valores encontram-se nos pontos P1, P3 e P4 para todos os metais, sendo estes os mais afetados pelos despejos de água produzida antigamente, evidenciando mais uma vez que o ambiente ainda não se recuperou. 6.5 Matéria orgânica nos sedimentos do rio Japaratuba O conteúdo de carbono orgânico (%) presente nos sedimentos superficiais do rio Japaratuba variou entre 0,636 e 4,234% para a fração fina de 63µm analisada. Os maiores valores (entre 3,246 e 4,234%) foram encontrados justamente nos pontos que sofriam influência dos despejos de água produzida ou em pontos próximos, evidenciando que este efluente contribuiu para o aumento da matéria orgânica na região coletada. Na tabela 9 são apresentados os teores de Corgânico, Ntotal e a relação Corg/Ntotal encontrados para cada ponto de coleta. Estes valores representam a média das análises visto que estas foram realizadas em duplicata. 48 Tabela 9: Média da porcentagem de Corgânico, Ntotal e relação Corg/Ntotal nos pontos de coleta. Ponto de Coleta % Corgânico %Ntotal Relação Corg/Ntotal P1 0,889 0,002 444,50 P2 1,687 0,078 21,63 P3 3,246 0,183 17,74 P4 4,234 0,225 18,82 P5 3,510 0,203 17,29 P6 0,961 0,000 - P7 0,820 0,000 - P8 1,469 0,000 - P9 0,636 0,000 - Os maiores percentuais de carbono orgânico e nitrogênio total foram encontrados nos pontos P3, P4 e P5, localizados próximos aos locais mais afetados pelos efluentes de água produzida. As composições granulométricas dos sedimentos destes pontos se apresentaram mais finas aparentemente, o que pode ter contribuído para esses valores, visto que vários trabalhos na literatura têm mostrado a tendência da matéria orgânica de se associar as frações mais finas dos sedimentos (RUBIO, et al. 2000; FROEHNER e MARTINS, 2008). Para a relação entre carbono orgânico e nitrogênio total (Corg/Ntotal), que indica as possíveis fontes de matéria orgânica, os valores para os sedimentos do rio Japaratuba variaram entre 17,29 a 21,63, exceto no ponto P1 (444,50), cujo valor foi muito superior ao encontrado nos outros pontos devido ao baixo percentual de Ntotal neste local. Os valores encontrados são superiores a relação de Redfield (6,6:1) o que sugere que nos sedimentos estudados a origem da matéria orgânica é predominantemente terrígena e fontes antrópicas são as mais prováveis, neste caso os despejos de água produzida. 49 Os ambientes aquáticos nos quais a contribuição de matéria orgânica de plantas superiores é pequena em relação à produção da coluna d’água mostram uma pequena razão C/N em seus sedimentos. Por outro lado, ambientes que apresentam um grande aporte de plantas terrestres ou aquáticas apresentam valores de C/N mais elevados (FROEHNER e MARTINS, 2008). Para os sedimentos do rio Japaratuba observa-se altos valores para a relação C/N, podendo estar também relacionado à presença desta vegetação no decorrer de todo o rio. 50 7. CONCLUSÕES Em relação à abundância dos metais traço parciais deste estudo, encontramos: Ba > Mn > Zn > Cr > Pb ~ Cu > Ni > Co > V > Cd. Sendo o ponto P3 situado na área dos antigos despejos de água produzida, apresentou as maiores concentrações para a maioria dos metais analisados, exceto Cd e Ni. Já os menores valores de concentração, exceto Pb e Ni, apresentaram-se nos pontos P8 ou P9, por estarem localizados próximos a foz do rio; Comparando estes estudos realizados em 1996 e 2010, observou-se que nos pontos P3, P5, P6, P7 e P8 as concentrações de todos os metais permaneceram praticamente inalterada ou pouco aumentaram, mostrando que o ambiente ainda não se recuperou totalmente. Já para o ponto P4 notou-se um aumento da concentração para todos os metais; O ferro foi utilizado como elemento normalizador, pois teve as melhores correlações entre as concentrações dos elementos metálicos em comparação com o alumínio; De acordo com os gráficos de normalização com o ferro verificou-se que os sedimentos alterados por maior número de metais foram os relacionados ao ponto P1, no qual foram observadas concentrações anormais de Cu, Ba, Co, Ni, Pb e Al; seguido dos ponto P5 contaminado por Cu, Cd, Co, Cr e Mn e ponto P6 por Co, Ni, Pb e Zn. Já os pontos P4, P7, P8 e P9 não estão contaminados por nenhum dos metais analisados e o ponto P3 apesar de possuir as maiores concentrações dos metais, está alterado apenas pelo Cr; Os menores valores de fator de enriquecimento foram encontrados nos pontos P8 e P9 e os maiores valores foram para os pontos P1, P3 e P4, os mais atingidos pelos antigos despejos de água produzida, evidenciando mais uma vez a não recuperação do ambiente. Os maiores valores percentuais de carbono orgânico e nitrogênio total foram encontrados nos pontos P3, P4 e P5, lugares onde justamente eram mais afetados pelos efluentes de água produzida. 51 Com relação à razão entre carbono orgânico e nitrogênio total (C org/Ntotal), os valores variaram entre 17,29 a 21,63, exceto no ponto P1 (444,50), cujo valor foi muito superior ao encontrado nos outros pontos devido ao baixo percentual de Ntotal neste local. Os valores encontrados são superiores a relação de Redfield (6,6:1) o que sugere que nos sedimentos estudados a origem da matéria orgânica é predominantemente terrígena e fontes antrópicas são as mais prováveis, neste caso os despejos de água produzida. 52 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, M. R. M. P.; NOVAES, A. C. Remoção de metais pesados de efluentes industriais por aluminossilicatos. Química Nova, Vol. 25, No. 6B, 1145-1154, 2002. ALVES, J.P.H.; OLIVEIRA, A.; P.C.; MELO, R.P.A.. 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