Análise de Livros Memórias de um sargento de Milícias - Manuel Antônio de Almeida; LITERATURA PROF. HENRIQUE Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida 1831- Rio de Janeiro Perde o pai aos onze anos Infância pobre Médico, mas atuação no jornalismo Tipografia Nacional: teve como aluno aprendiz Machado de Assis Livro único : publicado em folhetins junho de 1852 a julho de 1853 Em campanha política, morre em um naufrágio em 1861, no RJ Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Era no tempo do rei. Rei – D. João VI 1808 – 1820 Data do livro: 1852-1853 Memórias = mudanças radicais da cidade Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Era no tempo do rei. Rei – D. João VI Debret – Teatro S. João - 1834 Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Era no tempo do rei. Rei – D. João VI Debret – religiosidade - 1834 Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Era no tempo do rei. Rei – D. João VI Taunay– morro de Santo Antônio Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Era no tempo do rei. Rei – D. João VI Debret– cotidiano Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Era no tempo do rei. Rei – D. João VI Debret– cotidiano Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Era no tempo do rei. Rei – D. João VI Debret– cotidiano Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Leonardo Pataca – meirinho Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida O romance pertence ao Romantismo No trecho citado, há elementos romântico? passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares(...) Amor? Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história Narrador = “conversa” com o leitor, chama sua atenção para episódios, relembra outros.... Folhetim – literatura de consumo popular metalinguagem Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história Narrador = “conversa” com o leitor, chama sua atenção para episódios, relembra outros.... Folhetim – literatura de consumo popular metalinguagem Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Os leitores estarão lembrados do que o compadre dissera quando estava a fazer castelos no ar a respeito do afilhado, e pensando em dar-lhe o mesmo oficio que exercia, isto é, daquele arranjei-me, cuja explicação prometemos dar. Vamos agora cumprir a promessa. Para sossegarmos os leitores, que estarão sem dúvida com cuidado no mestre-de-cerimônias, apressamo-nos a dizer que não chegou ele a ir à cadeia; o Vidigal quis dar-lhe apenas uma amostra do pano, Já se vê que o menino não era dos mais infelizes, pois que, se tinha inimigos, achava também protetores por toda a parte. Para diante os leitores verão o papel que D. Maria representará nesta história. Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Leonardo Pataca é abandonado por Maria da Hortaliça Seu filho, Leornardo, é criado pelo compadre, barbeiro: Era isto natural em um homem de uma vida como a sua; tinha já 50 e tantos anos, nunca tinha tido afeições; passara sempre só, isolado; era verdadeiro partidário do mais decidido celibato. Assim à primeira afeição que fora levado a contrair sua alma expandiu-se toda inteira, e seu amor pelo pequeno subiu ao grau de rematada cegueira. Este, aproveitando-se da imunidade em que se achava por tal motivo, fazia tudo quanto lhe vinha à cabeça. Umas vezes sentado na loja divertia-se em fazer caretas aos fregueses quando estes se estavam barbeando. Uns enfureciam-se, outros riam sem querer; do que resultava que saíam muitas vezes com a cara cortada, com grande prazer do menino e descrédito do padrinho. Outras vezes escondia em algum canto a mais afiada navalha do padrinho, e o freguês levava por muito tempo com a cara cheia de sabão mordendo-se de impaciência enquanto este a procurava; ele ria-se furtiva e malignamente. Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Análise de um episódio: Leonardo Pataca se envolve com uma cigana, que o abandona. “ Tratava-se de uma cigana; o Leonardo a vira pouco tempo depois da fuga da Maria, e das cinzas ainda quentes de um amor mal pago nascera outro que também não foi a este respeito melhor aquinhoado; mas o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo; não podia passar sem uma paixãozinha.” Apesar de meirinho, portanto, profissão “respeitável”, usa de feitiçaria para reconquistar a cigana. No terreiro, na cerimônia, aparece o major Vidigal que prende Leonardo Pataca. Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Análise de um episódio: Ele pede socorro à Comadre, que pede ajuda a um Tenente-Coronel que se considerava em dívida com a família de Pataca, e ele logo é solto. ...o velho tenente-coronel, que era pouco mais ou menos semelhante em todas as casas ricas de então, e por isso nos demoramos em descrevê-lo. Sem se fazer esperar muito, apareceu o dono da casa(...) Em poucas palavras o velho expôs-lhe o caso e lhe pediu que fosse falar a el-rei em favor de Leonardo. A princípio opôs ele algumas dúvidas, dizendo: — Homem, pois eu hei de ir a palácio por causa de um meirinho? El-rei há de rir-se do meu afilhado. Afinal, porém, teve de ceder a instâncias da amizade, e prometeu tudo. O velho saiu satisfeito e foi levar a nova ao Leonardo, que pulou de contente. Poucos dias depois chegou a ordem de soltura, e ele foi posto na rua. Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Análise de um episódio: Afinal, porém, teve de ceder a instâncias da amizade, e prometeu tudo. Brasileiro = homem –cordial Lei não é impessoal Estado = privado Amizade é maior que a regra Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Trajetória de Leonardo: Compadre frequenta a casa de D. Maria, mulher rica Leonardo conhece Luisinha, filha do recém-falecido irmão de D. Maria, que morava com a tia. Festa do Espírito Santo, após a queima de fogos: Acabado o fogo, tudo se pôs em andamento, levantaram-se as esteiras, espalhou-se o povo. D. Maria e sua gente puseram-se também em marcha para casa, guardando a mesma disposição com que tinham vindo. Desta vez porém Luizinha e Leonardo, não é dizer que vieram de braço, como este último tinha querido quando foram para o Campo, foram mais adiante do que isso, vieram de mãos dadas muito familiar e ingenuamente. Este ingenuamente não sabemos se se poderá com razão aplicar ao Leonardo. Conversaram por todo o caminho como se fossem dois conhecidos muito antigos, dois irmãos de infância, e tão distraídos iam que passaram à porta da casa sem parar, e já estavam muito adiante quando os sios de D. Maria os fizeram voltar. A despedida foi alegre para todos e tristíssima para os dois. Entretanto, como sempre que se despedia, o compadre prometeu voltar, e isso serviu de algum alívio, especialmente ao Leonardo (...) Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida José Manuel, homem mais velho se interessa por Luisinha herança do pai e da tia D. Maria compadre tenta evitar o amor entre os dois Leonardo não consegue conquistar Luisinha, embora ela goste dele. Tão exagerados eram os afagos de José Manuel para com D. Maria, e tanto repartia ele esses afagos com Luizinha, que bem claro se deixou ver que havia neles fim oculto. Afinal o negócio aclarou-se. D. Maria era, como dissemos, rica e velha; não tinha outro herdeiro senão sua sobrinha; se morresse D. Maria, Luizinha ficaria arranjada, e, como era muito criança e mostrava ser muito simples, era uma esposa conveniente a qualquer esperto que se achasse, como José Manuel, em disponibilidade; este pois fazia a corte à velha com intenções na sobrinha. Quando Leonardo, esclarecido pela sagacidade do padrinho, entrou no conhecimento destas coisas, ficou fora de si, e a idéia mais pacífica que teve foi que podia mui bem, quando fosse visitar D. Maria, munir-se de uma das navalhas mais afiadas de seu padrinho, e na primeira ocasião oportuna fazer de um só golpe em dois o pescoço de José Manuel. Porém teve de aplacar-se e ceder às admoestações do padrinho, que sabia de todos os seus sentimentos, e que os aprovava. Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Sobrevivência “arranjo” Luta pela posição social, pela herança, pelo cargo.... Sociedade do Rio de Janeiro: Compadrio e relações sociais Aproximação com o Naturalismo Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Cigana e Leonardo Pataca tinham ficado juntos, mas ela sempre o traía Leonardo Pataca junta-se com a filha da Comadre e têm um filho Morte do padrasto de Leonardo, que vai morar junto com o pai. Leonardo briga com todos, foge de casa Vai morar na rua da Vala, com um grupo de conhecidos Chegaram todos depois de longo caminhar, e quando já brilhava nos céus um desses luares magníficos que só fazem no Rio de Janeiro, a uma casa da rua da Vala. Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Leonardo conhece Vidinha Vidinha era uma mulatinha de 18 a 20 anos, de altura regular, ombros largos, peito alteado, cintura fina e pés pequeninos; tinha os olhos muito pretos e muito vivos, os lábios grossos e úmidos, os dentes alvíssimos, a fala era um pouco descansada, doce e afinada. Cada frase que proferia era interrompida com uma risada prolongada e sonora, e com um certo caído de cabeça para trás, talvez gracioso se não tivesse muito de afetado. Ciúme dos outros primos de Vidinha por Leonardo leva-os a denunciá-lo ao major Vidigal Leonardo preso, mas consegue fugir. Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida A Comadre arruma um emprego para Leonardo na mas ele se envolve com a esposa do patrão e acaba despedido. Vidinha vai até a casa de Toma Largura, ex-patrão de Leonardo, para brigar com ele e com sua esposa. Vidigal consegue prender Leonardo Toma Largura ficou encantado com Vidinha e começa a cerca-la de todas as formas. A moça, encarando a ausência de Leonardo como consequência das últimas brigas, resolve ceder à insistência de Toma Largura Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Obrigado pela polícia, Leonardo começa a servir ao exército. Vidigal o coloca no batalhão de granadeiros para combater os malandros do Rio Vidigal quer prender um homem que fazia imitações suas para animar festas. Leonardo acaba se divertindo com as graças do imitador e o avisa das intenções de Vidigal antes dele ser preso Leonardo é indisciplinado e é condenado a chibatadas por Vidigal Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida A Comadre , D. Maria e Maria Regalada, antiga amante de Vidigal, Evão até a casa do major, pedindo por Leonardo. Vidigal o perdoa e ainda promete promove-lo à sargento do exército. Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida A Comadre , D. Maria e Maria Regalada, antiga amante de Vidigal, Evão até a casa do major, pedindo por Leonardo. Vidigal o perdoa e ainda promete promove-lo à sargento do exército. A interlocutora prosseguiu: — O seu granadeiro Leonardo é um bom rapaz. O major arqueou franzindo as sobrancelhas, e repuxou os beiços, como quem não concordava in totum com aquilo... — Não me comece já com coisas, Sr. major. Pois é, sim, senhor, muito bom rapaz, e não há razão para ser castigado, por causa de uma coisa nenhuma que fez... Isso não é razão, não, senhor, para se mandar tocar de chibata um moço que não é nenhum valdevinos; pois o Sr. major bem sabe que o padrinho quando morreu deixou-lhe alguma coisa, que bem lhe podia estar já nas mãos, e ele por isso livre da maldita farda, a quem sempre tive zanga (menos de uma que bem se sabe), se o pai que tem... mas deixemos o pai que não vem nada ao caso... Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida — Já sei de tudo, já sei de tudo, atalhou o major. — Ainda não Sr. major, observou a comadre, ainda não sabe do melhor, e é que o que ele praticou naquela ocasião quase que não estava nas suas mãos. Bem sabe que um filho na casa de seu pai... — Mas um filho quando é soldado, retorquiu o major com toda a gravidade disciplinar... — Nem por isso deixa de ser filho, tornou D. Maria. — Bem sei, mas a lei? — Ora, a lei... o que é a lei, se o Sr. major quiser? O major sorriu-se com cândida modéstia. A discussão foi-se assim animando; porém o major nada de ceder, até pelo contrário parecia mais inflexível do que nunca; chegou mesmo a pôr-se em pé e a falar muito exaltadamente contra o atentado do Leonardo, e a necessidade de um severo castigo. Era engraçado vê-lo no bonito uniforme que indicamos, de pé, fazendo um sermão sobre a disciplina, diante daquelas três ouvintes tão incrédulas que resistiam aos mais fortes argumentos. Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida José Manuel, morre Luisinha, mulher feita e bonita Leonardo, vestindo farda de sargento do exército. Algum tempo depois, D. Maria e Leonardo Pataca também morrem e, junto com as outras heranças que já tinham, receberam mais duas. Final feliz.... Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida Dialética da malandragem Antônio Cândido: Traição e fidelidade aos amigos Ascensão social pela herança Sorte e azar: reação aos problemas da vida Não há reflexão moral