Estrutura Populacional E Distribuição Espacial De Qualea

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Estrutura Populacional E Distribuição Espacial De Qualea parviflora Mart., Em
Área De Transição No Piauí
Najara de Moura Fontenele(1); Elifábia Neves de Lima(2) ; Rosalvo Maciel Guimarães Neto(2);
José Benedito Guimarães Junior(3), Robson José de Oliveira(2)
(1)
Estudante, UFPI/ Universidade Federal do Piauí, [email protected]; (2) Professor, UFPI/ Universidade
Federal do Piauí – CPCE, [email protected]; (3) Professor, UFG/ Universidade Federal de Goiás –
Campus Jataí, jbguimarã[email protected].
RESUMO
Estudos relacionados à estrutura espacial com espécies lenhosas auxiliam na compreensão de como
estas espécies ocorrem e como estão se regenerando. O objetivo do presente trabalho foi analisar a
estrutura populacional e o padrão de distribuição espacial para uma população de Qualea parviflora
Mart. em uma área de transição entre os biomas Cerrado e Caatinga, localizado na propriedade
Fazenda Chapada das Éguas, município de Bom Jesus, Piauí. Para a amostragem da população foram
utilizadas 10 parcelas aleatórias de 15m x 15m cada. Os indivíduos de Q. parviflora encontrados na
parcela foram amostrados e medidas sua altura e diâmetro do tronco na altura do solo. A espécie Q.
parviflora apresentou nas duas primeiras classes de altura e diâmetro, um menor número de
indivíduos em relação à terceira, com isso o padrão “J-invertido” não foi encontrado para esta
população. O padrão de distribuição espacial foi agrupado para a população (IM = 1,61). O quociente
‘q’ de Liocourt apresentou uma baixa taxa de recrutamento. Conclui-se com base nos resultados
obtidos, que a espécie apresentou estrutura populacional com boa capacidade de regeneração
sugerindo até uma possível prática extrativista do pau-terra na região. Porém realizada de forma
racional e sustentável, sob um regime de plano de manejo sustentável em áreas de reserva legal e com
as medidas para evitar a super-exploração dos indivíduos.
Palavras-chave: Pau - terra, recrutamento, “J-invertido”.
INTRODUÇÃO
A estrutura das populações de plantas resulta da ação de fatores bióticos e abióticos sobre seus
indivíduos, sendo as variações espaciais e temporais destes fatores, importantes determinantes do
arranjo espacial e da estrutura etária das populações (GUREVITCH et al., 2009).
No contexto da biodiversidade de áreas de transição, estudos da estrutura de populações de plantas
são importantes para o entendimento dos padrões de distribuição e ocorrência das espécies, e para a
elaboração de estratégias de manutenção, recuperação e conservação das espécies em áreas naturais
(MATOS & FELFILI, 2010).
Segundo Lorenzi (1992), o gênero de Qualea, devido a sua aptidão, pode ser utilizado em
reflorestamentos, recomposição de áreas degradadas e ainda no paisagismo. A madeira é amplamente
empregada na fabricação de caixotes, brinquedos, mourões, lenha, e carvão vegetal.
IV CONEFLOR – III SEEFLOR/ Vitória da Conquista (BA), 25 a 28 de Novembro de 2013.
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ISSN: 2318-6631
Diante desta grande empregabilidade do gênero, o presente estudo tem por objetivo conhecer a
estrutura populacional e o padrão espacial da espécie Qualea parviflora Mart. em uma área de
transição no Piauí.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
O Estudo foi realizado na propriedade Fazenda Chapado das Éguas localizado, nas coordenadas
9°02’23’’S e 44°23’33’’W, a uma altitude de 360 m no município de Bom Jesus, no Estado do Piauí.
A área total estudada possui 59 ha. Toda a propriedade é caracterizada por uma vegetação de transição
entre os biomas Cerrado e Caatinga. A Temperatura média fica entre 26°C e 27°C, com uma
pluviometria anual de 1.000 mm, ficando o período chuvoso distribuído entre os meses de novembro
a abril, e o período seco de maio a outubro (dados meteorológicos da região). A umidade relativa
média anual está em torno de 59,5%.
Desenho experimental
Para a amostragem da população de Qualea parviflora Mart., foram estabelecidas 10 parcelas
aleatórias de 15m x 15m cada, situadas em uma área de transição entre os biomas Cerrado e Caatinga.
Dentro das parcelas foram amostrados todos os indivíduos de Q. parviflora e realizadas medidas de
altura e de diâmetro do tronco ao nível do solo (DAS). Para a medição da altura foi utilizada uma
vara graduada de 2 metros de comprimento e para medidas de diâmetro foi usada uma fita métrica
com 1,5 metros de comprimento.
Análises dos dados
Para a análise da estrutura vertical (altura) e área basal (circunferência) dos indivíduos foram
utilizados histogramas de frequência, com intervalos de classes determinados a partir da fórmula de
Spiegel: IC = A / nc, onde A é a amplitude e nc o número de classes, sendo que nc = 1 + 3,3 log(n),
onde n é o número de indivíduos (FELFILI & RESENDE, 2003). Para a análise da distribuição
espacial foi utilizado o Índice de Morisita (IM) (BROWER & ZAR, 1984). O quociente ‘q’ de
Liocourt, que consiste na divisão do número de indivíduos em uma classe de diâmetro pelo número
de indivíduos na classe anterior, foi utilizado para avaliar o recrutamento (FELFILI; & RESENDE,
2003).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A população de Q. parviflora possui uma densidade estimada de 356 ind./ha-¹ na área de estudo.
Foi encontrado um menor número de indivíduos nas duas primeiras classes de altura em relação
terceira classe (Figura 1a). Para distribuição diamétrica (Figura 2b), a espécie apresentou uma
tendência ao “J-invertido”, no entanto o número de indivíduos na primeira classe de diâmetro foi
menor com relação a segunda classe.
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ISSN: 2318-6631
30
Número de indivíduos
25
20
15
10
5
6.01-7.00
Classes de altura (m)
5.01-6.00
4.01-5.00
3.01-4.00
2.01-3.00
1.01-2.00
0-1.00
0
(a)
0,61-0,70
Classes de diâmetro (cm)
0,51-0,60
0,41-0,50
0,31-0,40
0,21-0,30
0,11-0, 20
0,01-0,10
Número de indivíduos
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
(b)
Figura 1. Distribuição de classes de altura (a) e diâmetro (b) da população de Qualea parviflora, em área de
transição, no sul do Piauí.
Uma baixa taxa de recrutamento entre classes de diâmetro foi apontada pelo valor médio do
quociente ‘q’ de Liocourt, calculado em 0,58 (Tabela 1). A sobrevivência nas menores classes de
diâmetro (até 30 cm) foi abaixo da média calculada, exceto para q_1 e q_4, indicando alta mortalidade
natural nesta população (Tabela 1).
Tabela 1. Valores de quocientes ‘q’ de Liocourt de uma população de Qualea parviflora em uma área de
transição no sul do Piauí.
Quociente
q_1
q_2
q_3
q_4
q_5
q_6
q_média
Valor
1,6
0,25
0,3
1
0,33
0
0,58
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Para a população estudada, o padrão de distribuição se apresentou agrupado, com Índice de
Morisita (IM) igual a 1,61.
Autores como Fidelis e Godoy (2003) argumentam que a maior concentração de indivíduos nas
primeiras classes de tamanho, segundo o padrão “J-invertido”, pode ser explicada pela própria
potencialidade genética da maioria das espécies de cerrado, as quais apresentam indivíduos de
pequeno porte, mesmo quando adultos. Deste modo, o mesmo pode estar acontecendo com a espécie
Q. parviflora por também apresentar pequeno porte, mesmo quando adultos.
No presente estudo não foi encontrado resultado do padrão “J-invertido” indicando que a
distribuição diamétrica de Q. parviflora tendeu ao equilíbrio quando analisada no geral, embora com
sinais de irregularidade.
Segundo Begon et al., (2006), os organismos se agregam, quando e onde encontram condições
favoráveis à reprodução e a sua sobrevivência. A população de Q. parviflora apresentou distribuição
agrupada, podendo o ambiente ter influenciado nos resultados, pois a distribuição dos indivíduos de
uma espécie está condicionada a fatores ambientais, (como a intensidade de luz); fatores edáficos,
(como a disponibilidade de água e nutrientes no solo); fatores reprodutivos, (como os agentes
dispersores); e relações inter e intraespecíficas dos indivíduos da população. (BERNASOL &
RIBEIRO, 2010; CARVALHO et al., 2007; ARANTES & SCHIAVINI, 2011).
Nossos resultados corroboram com vários trabalhos onde a distribuição espacial agrupada é
dominante entre as espécies vegetais no cerrado em diferentes escalas e fisionomias, (BERNASOL
& LIMA-RIBEIRO, 2010; CARVALHO et al., 2009; LEHN & RESENDE, 2007; SILVA JÚNIOR,
2004; SOUZA & COIMBRA, 2005; SOUZA & SILVA, 2006).
A estrutura espacial agregada seria característica de espécies vegetais cujas sementes são dispersas
por animais (zoocoria), acumuladas por serem expelidas nas fezes, ou que realizam sua dispersão por
autocoria (barocoria). Como a espécie Q. parviflora é de dispersão anemocórica (LORENZI, 1992)
não era de se esperar a distribuição agrupada encontrada no presente trabalho. No entanto outros
fatores de origem naturais ou antrópicos podem estar influenciando o estabelecimento das espécies
(BERNARSOL & LIMA-RIBEIRO, 2010).
Alguns fatores determinam a densidade das espécies tropicais, como o ataque de herbívoros,
patógenos, competição entre plântulas e entre indivíduos adultos e plântulas. Entretanto, o fator mais
importante é a interação das plantas com o meio físico, e não com as relações existentes dentro da
própria população (MARQUES & JOLY, 2000; SOUZA & COIMBRA, 2005).
CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos a espécie apresentou uma estrutura populacional com boa
capacidade de regeneração sugerindo até uma possível prática extrativista do pau-terra na região.
Porém realizada de forma racional e sustentável sob o regime de um plano de manejo sustentável em
áreas de reserve legal e com as medidas para evitar a super-exploração dos indivíduos. Este
extrativismo apresenta-se como uma atividade promissora na obtenção de renda adicional para os
proprietários rurais desta região de modo a conciliar obtenção de renda com a conservação de espécies
nativas e seu habitat natural.
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IV CONEFLOR – III SEEFLOR/ Vitória da Conquista (BA), 25 a 28 de Novembro de 2013.
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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao dono da propriedade onde foi realizado o estudo, a UFPI pela
disponibilização de transporte e aos estagiários que contribuíram para a realização desse trabalho.
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