REFLEXO DAS BOAS NOTÍCIAS NO DESEMPENHO FINANCEIRO: ANÁLISE EM EMPRESAS BRASILEIRAS TRANSPARENTES Resumo O objetivo do artigo consiste em verificar a associação entre o grau de otimismo da mensagem da alta administração e o desempenho reportado em índices financeiros das empresas ganhadoras do Prêmio Anefac-Fipecafi-Serasa Experian 2011. Para atribuir graus de otimismo (neutro, fraco, semiforte ou forte) às mensagens, sob a perspectiva linguística, criou-se um instrumento de análise de conteúdo segregado nas instâncias (i) conversacional, (ii) indexical e (iii) acional. A amostra foi composta por dez empresas ganhadoras do Prêmio Anefac-Fipecafi-Serasa Experian 2011. A correlação de Spearman foi calculada para verificar a associação entre o grau de otimismo e os índices de desempenho financeiro extraídos da Demonstração dos Fluxos de Caixa das empresas. Os resultados exploratórios revelam que não há associação entre índices financeiros isolados e o otimismo das mensagens da alta administração. Entretanto, considerando conjuntos de índices, verifica-se associação inversa significante entre o grau de otimismo das mensagens e os índices de dispêndio de capital e de retorno dos fluxos de caixa. Os achados sugerem que os gestores de empresas com pior desempenho financeiro de dispêndio de capital e de retorno de fluxo de caixa tendem a ser mais otimistas em suas mensagens aos acionistas, pois estas são escritas após o conhecimento do desempenho financeiro do exercício. Entende-se que os gestores buscam tranquilizar os investidores atenuando informações financeiras negativas por meio de discurso otimista. Palavras-chave: Relatório da Administração; Discurso; Otimismo; Índices Financeiros. 1 Introdução Desde 1997, o Prêmio Anefac - Fipecafi - Serasa Experian tem valorizado a seriedade, o rigor técnico, a objetividade e a transparência das informações apresentadas nas demonstrações financeiras. As empresas que concorrem ao prêmio são segregadas em três categorias: a) Capital Aberto com faturamento anual até R$ 8 bilhões; b) Capital Aberto com faturamento anual acima de R$ 8 bilhões; c) Capital Fechado. Em todas as categorias são avaliadas as práticas de transparência nas informações contábeis quanto à qualidade do Relatório da Administração (RA) e à consistência do disclosure fornecido (ANEFAC, 2011). Em termos de divulgação de informações de caráter não obrigatório, o RA é um espaço para conversão de dados contábeis em informações mais facilmente compreensíveis pelo público em geral. Acredita-se que a evidenciação contábil auxilia os usuários a conhecerem a capacidade de a companhia gerar futuros fluxos de caixa. De acordo com Yuthas, Rogers e Dillard (2002), a transparência no RA tem importância considerável, pois os materiais textuais narrativos podem influenciar os investidores e os analistas financeiros. Logo, mensagens mais transparentes detêm maior qualidade comunicativa e ajudam na construção das percepções dos usuários que nem sempre possuem razoável diligência para interpretar as sintaxes utilizadas pela contabilidade. O RA, elaborado de forma descritiva, objetiva fornecer conteúdo adicional, mais acessível, para subsidiar julgamentos prospectivos, principalmente quando se reportam informações técnicas. Para Hendriksen e Van Breda (1999), o poder de comunicação do RA está atrelado à apresentação de atos praticados e expectativas sobre o reflexo das ações dos gestores na condução atual e futura do negócio. Todavia, a forma de apresentação de informações sobre os atos praticados e seu reflexo no desempenho econômico e financeiro pode ser influenciada pelo desejo do gestor explicitar mais ou menos o otimismo quanto às expectativas futuras de rentabilidade do negócio. Silva et al. (2006) mencionam que o grau de otimismo das mensagens pode ser consequência do desempenho financeiro atual da companhia ou de suas projeções futuras, com empresas com maior índice de transparência reportando mais mensagens sobre o seu desempenho financeiro nos RAs, mas não necessariamente, mensagens otimistas. Assim, pretende-se responder à seguinte questão de pesquisa: qual a associação entre o otimismo presente na mensagem da alta administração contida nos RAs e o desempenho financeiro das empresas ganhadoras do Prêmio Anefac-Fipecafi-Serasa Experian 2011? Dessa forma, o objetivo consiste em verificar a associação entre o grau de otimismo da mensagem da alta administração e o desempenho reportado em índices financeiros das empresas ganhadoras do Prêmio Anefac-Fipecafi-Serasa Experian 2011. O desempenho financeiro, divulgado por meio da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), proporciona aos usuários uma base para avaliar a capacidade de a entidade gerar caixa e equivalentes de caixa futuros e proporciona informações dos ativos líquidos e estrutura financeira da empresa (liquidez e solvência), entre outros (CPC, 2010). Assim, os fluxos de caixa de entrada e saída das companhias são vistos como elementos potenciais na avaliação do desempenho e para os investidores que os utilizam na tomada de decisões. Braga e Marques (2001) propuseram diversos índices para avaliar o desempenho financeiro com base na DFC. Assim, esses índices consubstanciam-se no objeto de associação do desempenho financeiro ao otimismo contido na mensagem da alta administração. Braga e Marques (2001) apresentaram os seguintes grupos de índices financeiros que podem ser obtidos com dados da DFC: (i) Quocientes de Cobertura de Caixa; (ii) Quocientes de Dispêndio de Capital; (iii) Índices de Retorno do Fluxo de Caixa; e (iv) Quocientes de Qualidade do Resultado. Os autores apenas exemplificaram a aplicação desses índices na Companhia Vale do Rio Doce e na CEMIG - Centrais Elétricas de Minas Gerais S.A. Assim, não foram encontradas na literatura pesquisas que associam o desempenho financeiro por meio de índices da DFC ao otimismo reportado na mensagem da alta administração constante no RA. Outra novidade é representada pela estruturação de uma metodologia para quantificação do otimismo através de uma abordagem linguística associada a métricas matemáticas. Como contribuição, o estudo possibilitará que os stakeholders compreendam o uso da linguagem nos relatórios e os resultados poderão servir como base para melhorias na confiabilidade das informações divulgadas. 2 Otimismo nos Relatórios da Administração A relevância do RA para os investidores e outros usuários potenciais é ressaltado nas pesquisas de Bryan (1997), Boo e Simnett (2002), Yuthas, Rogers e Dillard (2002) e Silva et al. (2006). Todavia o teor do RA é relatado como sendo permeado por algum tipo de viés, o que diminui seu poder informacional. Segundo Colauto e Marques (2010), a ausência de viés minimizaria os riscos inerentes às ações oportunistas dos administradores, o que reforça a necessidade de informações contábeis confiáveis, fidedignas, verificáveis e neutras, em conformidade com a Estrutura Conceitual Básica para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Bryan (1997) investigou a eficácia do RA, concluindo que esses têm sua eficácia atrelada a medidas de desempenho futuro e decisões de investimentos. Também enfatizando a característica de perspectiva futura dos RAs, Boo e Simnett (2002) verificaram se companhias que evidenciam otimismo em seus relatórios e apresentam problemas financeiros são mais suscetíveis de ir à falência do que as outras empresas em dificuldades financeiras que não evidenciam otimismo exacerbado. Os achados desta pesquisa apontam que as companhias com maior probabilidade de falência são aquelas que omitem informações em seus relatórios, carregando viés excessivamente otimista, e não as demais. Yuthas, Rogers e Dillard (2002) investigaram as características éticas do discurso encontrado nos relatórios anuais das companhias que utilizam princípios de ação comunicativa. Os resultados revelaram que as companhias que esperam tanto boas quanto más surpresas relativas a seus ganhos exibem um nível maior de ação comunicativa do que as companhias que não esperam maiores surpresas. Esses achados sugerem que as companhias que antecipam surpresas relacionadas a seus ganhos aproveitam-se da parte narrativa dos relatórios anuais tanto para comunicação de informações sobre a veracidade e confiabilidade da administração quanto para informar a posição financeira e o desempenho da companhia. Silva et al. (2006) verificaram a associação entre o desempenho e informações otimistas relatadas nos RAs de companhias brasileiras de capital aberto. O estudo envolveu 448 companhias e as mensagens foram classificadas em otimistas, pessimistas e neutras. As conclusões são de que a maior parte do conteúdo dos RAs é otimista e que há relação direta entre o endividamento e o otimismo e relação inversa entre a receita e o otimismo, além de que o grau de otimismo é consequência do desempenho atual da companhia. De acordo com Pava e Epsten (1993), os profissionais que elaboram as previsões empresariais tendem a ser excessivamente otimistas. Os administradores das companhias costumam antecipar mais informações consideradas boas do que as más, além de culpar o ambiente por más notícias, atribuindo a si os méritos pelas boas notícias. Este otimismo prejudica as características qualitativas da informação contábil, constituindo-se em um tipo de viés informacional. Para Ferreira (2008), o otimismo consiste em uma sistemática de julgamento dos acontecimentos da melhor maneira possível, entendendo que tudo vai bem. Logo, dadas as características do RA, este poderia ser considerado uma ferramenta de marketing da companhia (YUTHAS; ROGERS; DILLARD, 2002). Além disso, como não há padrão de elaboração do RA, este costuma conter temas de grande interesse aos investidores, o que pode motivar os gestores a manipular o seu conteúdo para divulgar notícias que ajudam a melhorar a imagem da empresa e as expectativas em relação ao retorno dos investimentos. Dessa forma, este aspecto pode comprometer as características qualitativas essenciais à informação contábil. 3 Índices financeiros com base na Demonstração dos Fluxos de Caixa Iudícibus et al. (2010, p. 565), afirmam que a finalidade da DFC é fornecer aos usuários informações relevantes a respeito de “pagamentos e recebimentos em dinheiro, de uma empresa, ocorridos durante certo período, auxiliando na análise da capacidade da entidade de gerar e de suas necessidades de utilizar caixa e equivalentes de caixa”. De maneira mais específica, a DFC fornece subsídios para análise financeira sob os seguintes aspectos: (a) apoiar o estudo para a previsão de falência; (b) analisar a relação lucro versus caixa; (c) avaliar os efeitos no caixa das transações de investimentos e financiamentos; e (d) indicar as possibilidades futuras de liquidação de obrigações (MONTEIRO, 2003). Gup e Dugan (1988) afirmam que o melhor indicador de liquidez e solvência é uma medida denominada cash flow from operations, ou seja, o fluxo de caixa gerado pelas operações (FCO), que expressa o capital de giro gerado pelas operações, sendo que variações nas contas dos grupos circulantes associados às operações, exceto caixa e equivalentes-caixa, devem ser acrescidos ou deduzidos. Para Bernstein (1993), o FCO é uma medida de desempenho menos sujeita à distorção do que o lucro líquido. Isso ocorre devido ao fator tempo. Por ser apurado pelo regime de competência, o lucro é afetado por diferimentos, atribuições e avaliações, envolvendo maior subjetividade do que o cálculo do FCO. Em função disso, Sloan (1996) relata que o FCO é relacionado, pelos acionistas, ao lucro líquido. O objetivo desta relação é detectar suspeitas quanto a apropriações possibilitadas pelo regime de competência. Ou seja, empresas com alto nível de lucro líquido, porém FCO baixo talvez revelem que os administradores estão aproveitando-se de critérios suspeitos quando do reconhecimento de receitas e/ou despesas. Para Braga e Marques (2001) o FCO permite uma avaliação de desempenho, por possibilitar a projeção de FCOs em conjunto com outras informaçãoes. Assim, os autores propõem índices de análise financeira segregados em quatro grupos, apresentados no Quadro 1. Quadro 1 – Índices para análise de viabilidade financeira Quocientes de Cobertura de Caixa Cobertura de Juros com Caixa Cobertura de Dívidas com Caixa Cobertura de Dividendos com Caixa FCOantesdeJeI J FCO − DividendoTotal Exigível FCO DividendosTotais Retornos do Fluxo de Caixa Fluxo de Caixa por Ação FCO − Div. Preferenciais QuantidadedeAçõesON FCOantesdeJeI AtivosTotais FCO (PL + ExigíveldeLP) FCO PL Quocientes de Dispêndio de Capital Aquisições de Capital Investimento / Financiamento Investimento / Financiamento (2) FCO − DividendoTotal CaixaPagoporinv. decap. FCI FCF FCI (FCO + FCF) Quocientes de Qualidade do Resultado Qualidade das Vendas CaixadasVendas Vendas FCO ResultadoOperacional FCOantesdeJeI ResultadoantesdeJ, IeD Retorno do Caixa Qualidade do sobre os Ativos Resultado Retorno sobre Qualidade do Passivos e Patrimônio Resultado (2) Líquido Retorno sobre o Patrimônio Líquido Legenda: Fluxo de Caixa Líquido de Operações (FCO); Fluxo de Caixa de Investimentos (FCI); Fluxo de Caixa de Financiamentos (FCF); Patrimônio Líquido (PL); Juros (J); Impostos (I); Depreciação (D); Dividendos (Div.); Investimentos (inv.); Capital (cap.). Fonte: adaptado de Braga e Marques (2001). Esses índices podem auxiliar analistas, credores e demais stakeholders na previsão de fluxos futuros de caixa e mensuração do desempenho dos fluxos correntes, constituindo-se em instrumento de acompanhamento do desempenho financeiro. Os índices estão alinhados aos objetivos da DFC reportados no SFAS 95 (FASB, 1987), definidos como: (a) avaliar a capacidade do negócio em gerar fluxos de caixa líquidos futuros positivos (relação com os Retornos do Fluxo de Caixa); (b) avaliar a capacidade do empreendimento em cumprir suas obrigações, sua capacidade de pagar dividendos e suas necessidades por financiamento externo (Quocientes de Cobertura de Caixa); (c) avaliar as razões para as diferenças entre o resultado líquido e os recebimentos e pagamentos de caixa associados (Quocientes de Qualidade do Resultado); e (d) avaliar os efeitos sobre a posição financeira do negócio de suas transações de financiamento e investimento de caixa e as que não afetam o caixa durante o período (Quocientes de Dispêndio de Capital). Os Quocientes de Cobertura de Caixa viabilizam a avaliação da liquidez do empreendimento. O índice de cobertura de juros com caixa revela o número de períodos que as saídas de caixa pelos juros são cobertas pelo FCO, excluindo destes os juros pagos, imposto de renda e contribuição social. O índice de cobertura de dívidas com caixa considera no cálculo o fluxo de caixa não distribuído, pois este expressa o FCO e disponível para reinvestimento. Esse índice sinaliza o período de tempo necessário para livrar a companhia de suas obrigações utilizando FCO retido para pagamento das obrigações. O índice de cobertura de dividendos com caixa permite avaliar a habilidade da companhia em pagar os dividendos, com base no FCO. (BRAGA e MARQUES, 2001). Quanto aos Quocientes de Dispêndio de Capital, o índice de aquisições de capital sinaliza a habilidade do negócio em atender suas necessidades por dispêndios líquidos de capital, sendo calculado como FCOs retidos divididos pelas aquisições líquidas de ativos produtivos. Os fluxos de caixa após o pagamento de dividendos são usados como base para efetiva disponibilidade de caixa. Nas relações entre os fluxos de caixa operacional, de investimento e de financiamento é possível verificar como os investimentos têm sido financiados. O índice investimento / financiamento compara os fluxos líquidos necessários para finalidades de investimento, com aqueles gerados de financiamento. Porém, os fluxos de caixa das atividades de investimento também podem ser comparados aos FCOs, sendo o índice investimento / financiamento (2) uma alternativa (BRAGA e MARQUES, 2001). Em relação ao grupo de índices de Retornos do Fluxo de Caixa, o fluxo de caixa por ação sinaliza o FCO por ação ordinária, possibilitando a comparação entre o caixa disponível e o caixa distribuído como dividendos por ação. O índice de retorno de caixa sobre os ativos indica o percentual do investimento empregado recuperado em termos de disponibilidades, o que pode a princípio ser comparado à taxa real de juros para avaliação do desempenho. O índice de retorno de caixa sobre passivos e patrimônio líquido sinaliza o potencial de recuperação de caixa do negócio para os investidores e o retorno de caixa sobre o patrimônio líquido mede a taxa de recuperação de caixa dos investimentos realizados apenas pelos acionistas (BRAGA e MARQUES, 2001). Quanto aos Quocientes de Qualidade do Resultado, o índice de qualidade das vendas expressa a proporção das receitas de vendas convertidas em dinheiro no exercício, com a limitaçãod e que as companhias abertas não divulgam o caixa exato das vendas, sendo necessária a utilização de proxies. Alternativamente pode-se utilizar os índices de qualidade do resultado e qualidade do resultado (2), que buscam indicar a dispersão entre os fluxos de caixa e os lucros divulgados (BRAGA e MARQUES, 2001). 4 Metodologia O estudo utiliza a abordagem empírico-analítica, com dados levantados em demonstrações contábeis e análise linguística. Quanto aos objetivos, a pesquisa é exploratória, pois busca validar um instrumento inédito de mensuração de otimismo; e descritiva, pois preocupa-se em observar os fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los; sem interferência do pesquisador. Quanto à abordagem do problema, o estudo é qualitativo, pois analisa-se o teor das mensagens contidas nos RAs à luz da interpretação linguística e quantitativo, pois verifica a associação entre otimismo contido nas mensagens da alta administração e o desempenho financeiro das empresas. Os dados de 2010 foram obtidos no site da Comissão de Valores Mobiliários, nas demonstrações contábeis das empresas vencedoras do Troféu Transparência ANEFAC 2011 (referente 2010) e no software Economática®. Para fazer associação entre os índices e o grau de otimismo, utilizou-se a mensagem narrativa da alta administração presente nos RAs. A amostra final foi composta pelas empresas Embraer, Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, Cemig, Oi, Petrobrás, Souza Cruz, Usiminas, Tractebel Energia, Localiza e Marfrig Group. 4.1 Coleta de dados para cálculo dos graus de otimismo A técnica de análise de discurso identifica como a pessoa conduz a narrativa dos acontecimentos ou produz proposições para os interlocutores, por meio da utilização de métodos linguísticos e compreensão das regras para alcançar seus objetivos (MANHÃES, 2008). Assim, permite verificar como a linguagem atinge o foco da mensagem pretendida nos interlocutores e a compreensão de seu funcionamento. Bardin (2008, p. 274) explica que “discurso é qualquer forma de interação formal ou informal, qualquer linguagem no seu contexto social e cognitivo, e inspira-se inspira na psicologia, na antropologia, na pragmática e na etnometodologia (que observa o modo como a linguagem é utilizada ilizada em situações da vida corrente)”. Ressalta-se Ressalta se que um discurso pode ser analisado sob a perspectiva da análise de discurso francesa ou da análise de discurso inglesa (MANHÃES, 2008). Segundo Manhães (2008, p. 306) “análise de discurso inglesa é um campo mpo dos estudos de comunicação que confere primazia ao domínio da pragmática (daquilo que se objetiva alcançar na vida cotidiana quando se conversa com alguém) sobre a semântica e a sintaxe”. Este artigo apresenta a aplicação da análise de discurso inglesa. inglesa A análise de discurso inglesa preconiza três instâncias: (1) conversacional; (2) indexical; (3) acional. Para realizar a análise de discurso, buscou-se buscou se inicialmente informações com conotação otimista observando os níveis linguísticos agrupados nas três instâncias instâncias de foco. No contexto desta pesquisa, considera-se se otimismo como a forma de expressar o teor de um conjunto de informações apresentadas na mensagem da alta administração das companhias que supostamente visam minimizar ou omitir o impacto de dados quantitativos ou qualitativos negativos sobre determinadas situações, ou ainda maximizar o impacto de dados positivos. A estrutura dos procedimentos metodológicos utilizados no enquadramento das mensagens otimistas quando da coleta destas, para posterior atribuição atribuição de grau de otimismo na mensagem da alta administração é apresentada na Figura 1. Figura 1 – Metodologia da analise do discurso. Fonte: elaborado a partir de Manhães (2008). A análise pela instância conversacional busca entender a percepção da mensagem pelo interlocutor. A mensagem deve ser inteligível para existir argumentação ou informação. Para que faça sentido na situação e no contexto social, tende a obedecer a regras e procedimentos linguísticos que toma como circunstâncias da instância conversacional: são os pressupostos e os significados implícitos (MANHÃES, 2008), aqui classificados como níveis desta instância. Moura (2000) diz que o pressuposto é a mensagem que é deduzida pelos interlocutores com base no conhecimento compartilhado por eles, consagrados pelos grupos sociais, ou seja, leva em consideração a mensagem compreendida pelo interlocutor a priori. Trata-se de uma memória coletiva geral do grupo. O significado implícito é subentendido pelo interlocutor a partir do que é dito por meio de expressões consagradas pela memória coletiva (RODRIGUES, 1995). Em outras palavras, são instrumentos que viabilizam a interação, também consagrados por certo grupo social. A mensagem é compreendida pelo interlocutor a posteriori, pois tais elementos constituem significação em situações específicas. A análise do discurso pela instância indexical é realizada quando busca-se entender a intenção das informações boas atribuídas ao presente e ao futuro, ao “nós” e ao “aqui”. De forma análoga, atribuir informações ruins ao passado, ao “eles” ou “alguém” e ao ambiente externo à companhia também podem revelar otimismo. Por estes meios, o sujeito pode deixar transparecer algumas características do discurso classificadas como: indicadores de pessoa, indicadores de lugar e indicadores de tempo (MANHÃES, 2008). Os indicadores de pessoa referem-se a pronomes como “eu”, “eles”, “nós”, etc. Termos impessoais como “alguém” revelam intenção distinta de termos como “nós”. O “eu”, por exemplo, se coloca como dono da voz que conta as ocorrências e revela um mundo para o interlocutor (MANHÃES, 2008). Esse termo atribui a responsabilidade da ação ao locutor. Já termos genéricos como “a companhia” pode responsabilizar todos por possíveis sucessos ou desviar o foco de responsabilização por possíveis insucessos. Para Manhães (2008), indicadores de tempo e espaço não têm necessariamente somente o sentido gramatical dos advérbios. Passado, presente e futuro são funções discursivas definidas pelo momento “agora” indicado pelo locutor. O “aqui” e o “agora” podem ser referências imaginadas e sua determinação influencia a conotação do discurso. Atribuir informações de sucesso ao presente e projetá-las ao futuro revela otimismo, assim como deixar em termos passados informações de insucesso. Indicar boas ações ocorridas na companhia e alocar ao ambiente externo aspectos ruins também revelam otimismo. A instância acional expressa uma ação simbólica e social, pois busca entender a mente do locutor revelando o mundo a partir de seu ponto de vista. Consiste na análise da posição que o locutor ocupa perante o interlocutor e, pragmaticamente, na análise do que ele objetiva. Divide-se em atos locutórios, ilocutórios e perlocutórios. O ato locutório apresenta-se em estruturas lógicas, no interior de ações, constituindo-se de intenções, pelo uso de afirmativas, interrogativas, exclamativas e faz sentido em qualquer situação por ser genérico. O ato ilocutório é a articulação do ato da fala em uma situação social, em certo contexto. O ato perlocutório permite verificar o domínio do ato de fala pronunciado à performance de convencimento do discurso (MANHÃES, 2008). 4.2 Técnica de avaliação do grau de otimismo das mensagens da alta administração Para quantificar o otimismo, optou-se por atribuir um valor numérico ponderado às mensagens contidas nos RAs em suas menores unidades de análise (níveis), utilizando-se uma escala adaptada do tipo Likert: Neutro, Fraco, Semiforte ou Forte. Em seguida, calculou-se a média aritmética simples dessas. Depois, obteve-se o Grau de Otimismo Total por meio da média das três Instâncias de análise do discurso, conforme apresentado na Figura 2. INSTÂNCIAS NÍVEIS GRAU DE OTIMISMO P: Pressupostos Conversacional SI: Significados Implícitos Neutro = 0 Fraco = 0,33 Semi Semi-forte = 0,66 Forte = 1 Neutro = 0 Fraco = 0,33 Semi Semi-forte = 0,66 Forte = 1 I - Média do Grau de Otimismo da Instância Conversacional: (P+SI) / 2 Neutro = 0 Fraco = 0,33 IP: Indicadores de Pessoa Semi Semi-forte = 0,66 Forte = 1 Neutro = 0 Fraco = 0,33 Indexical IT: Indicadores de Tempo Semi Semi-forte = 0,66 Forte = 1 Neutro = 0 Fraco = 0,33 IE: Indicadores de Espaço Semi Semi-forte = 0,66 Forte = 1 II - Média do Grau de Otimismo da Instância Indexical: (IP+IT+IE) / 3 Neutro = 0 Fraco = 0,33 AL: Atos Locutórios Semi-forte Semi = 0,66 Forte = 1 Neutro = 0 Fraco = 0,33 Acional AI: Atos Ilocutórios Semi-forte Semi = 0,66 Forte = 1 Neutro = 0 Fraco = 0,33 AP: Atos Perlocutórios Semi Semi-forte = 0,66 Forte = 1 III - Média do Grau de Otimismo da Instância Acional: (AL+AI+AP) / 3 GRAU DE OTIMISMO TOTAL: (I + II + III) / 3 Neutro 0 Fraco 0< ou <= 0,33 Semi-forte 0,33> ou<=0,66 Figura 2 – Metodologia para cálculo do Grau de Otimismo Fonte: elaborado pelos autores. Forte 0,66>ou<=1 Em resumo, realizaram-se os seguintes passos: (1) leitura da mensagem, detalhando-a em níveis: pressupostos, significados implícitos (conversacional), indicadores de pessoa, tempo e espaço (indexical), atos locutórios, ilocutórios e perlocutórios (acional); (2) atribuição de pesos iguais para cada nível; (3) atribuição do grau de otimismo para cada nível que, pela média, geraram o grau de otimismo das instâncias; (4) com a média dos graus de otimismo das instâncias, obtenção do grau de otimismo da mensagem, (5) apresentação do resultado da análise da mensagem como neutra, de otimismo fraco, semiforte ou forte. A cada classificação do nível de otimismo da mensagem, esta foi relida com enfoque específico. Por exemplo, a mensagem foi lida com enfoque nos indicadores de pessoa para classificar este nível como de otimismo neutro, fraco, semiforte ou forte. 4.3 Coleta de dados para cálculo dos índices financeiros Os dados foram coletados no site da CVM e no software Economática®, conforme apresentados no Quadro 2. Quadro 2 - Fontes de coleta de dados para cálculo dos índices financeiros Variáveis Coletadas Fonte Variáveis Coletadas Fonte Fluxo de Caixa Operacional (FCO) DFC Vendas (V) DRE Fluxo de Caixa de Investimentos (FCI) DFC DRE Fluxo de Caixa de Financiamentos (FCF) DFC Dividendo Total Pago (DTP) Caixa Pago por Investimentos de Capital (CPIC) Ativos Totais (AT) DFC Resultado Operacional (RO) Resultado antes dos Juros, Impostos e Depreciação. Juros Pagos (JP) DFC FCO antes dos Juros e Impostos BP Caixa das Vendas (CV) Patrimônio Líquido (PL) BP Quantidade de Ações Ordinárias (QAO) Exigível de Longo Prazo (ELP) BP Dividendos Preferenciais (DP) Economática NE DFC, NE, BP, DRE BP e DRE Economática, NE NE, DRE Exigível (E) BP Legenda: Balanço Patrimonial (BP); Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); Notas Explicativas (NE). No Quadro 2 apresentam-se as fontes para coleta dos dados necessários para o cálculo dos índices. Algumas companhias não divulgaram os juros pagos (JP) em Notas Explicativas (NE), sendo necessária a utilização de uma proxy formada pelos juros evidenciados na Demonstração do Valor Adicionado em conjunto com os Juros a Pagar inicial e final do Balanço Patrimonial (BP) ou Juros Não Pagos evidenciados na DFC indireta. Para cálculo do Imposto de Renda e Contribuição Social pagos (IP) utilizou-se uma proxy constituída pelos valores de tais tributos extraídos da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e os valores a pagar inicial e final destes, extraídos do BP. Para o Caixa das Vendas, utilizou-se a conta Clientes inicial e final extraída do BP e o item Receita de Vendas extraído da DRE. No caso das companhias que não possuíam ações preferenciais, bastou verificar a quantidade total de ações coletadas no software Economática®. Para as demais, buscou-se nas NEs as quantidades de ações ordinárias em 31 de dezembro de 2010. Quanto aos dividendos preferenciais, verificou-se ao final da DRE o lucro por ação preferencial e, após coleta nas NEs das quantidades de ações preferenciais, obteve-se os dividendos pagos aos acionistas preferenciais pela multiplicação destes valores. Quanto às demais variáveis, foi possível coletá-las diretamente conforme fonte de dados referenciada no Quadro 2. Após a coleta das variáveis, bastou utilizar o Quadro 1 para cálculo dos índices. 5 Descrição e análise dos dados O grau de otimismo foi calculado por meio de uma metodologia baseada em análise de discurso, segregando as mensagens em níveis que formam instâncias linguísticas. Para melhor visualização da operacionalização desta metodologia apresenta-se no Quadro 3 exemplos resultantes da análise do teor linguístico das mensagens. Quadro 3 – Aspectos chave observados por nível e exemplos Níveis para Classificação do Otimismo Otimismo Fraco Otimismo Semiforte Otimismo Forte Otimismo Fraco Otimismo Semiforte Otimismo Forte Otimismo Fraco Otimismo Semiforte Otimismo Forte Otimismo Fraco Otimismo Semiforte Exemplos Pressupostos “objetivo de melhorar nosso posicionamento no segmento pós-pago”. – Empresa Oi. Não houve. “Cumprimos e até superamos plenamente a maior parte de nossos objetivos empresariais, metas operacionais, desempenho econômico financeiro”. – Empresa Embraer. Significados implícitos “foi aprovada a Política de Biodiversidade da Cemig, elaborada com a participação de vários segmentos da sociedade”. – Cemig. “consolidou o movimento iniciado no ano anterior de reunir as atividades de transformação de aço (...), que nasce com mais de 20% de participação no mercado e capacidade de processar mais de 2 milhões de toneladas”. – Empresa Usiminas. “A Localiza adota os mais elevados padrões de governança corporativa. (...) o modelo próprio de gestão dos ativos, (...) e a adoção do sistema de planejamento e execução, com base na meritocracia, nos deixam mais competitivos e preparados para o crescimento contínuo”. – Localiza. Indicadores de pessoa “O desempenho da Usiminas foi marcado por mudanças operacionais e de gestão, colocadas em prática com agilidade para fazer frente às transformações (...) de mercado”. – Empresa Usiminas. “a Companhia domina toda a cadeia produtiva de aço. (...) entre as companhias mais competitivas e rentáveis do mundo”. – CSN. “nossas competências centrais (...) que permitirão (...) conquistar novos clientes e mercados. Encaramos o futuro com otimismo e determinação (...)”. – Empresa Embraer. Indicadores de espaço “representando uma melhor prestação de serviços para a população do Estado de Minas Gerais”. – Empresa Cemig. Não houve. Otimismo Forte “que consolidou a estratégia da Companhia em transformar-se em uma empresa global de alimentos baseada em proteínas animais. (...) presença local notadamente na China”. – Marfrig. Otimismo Fraco Indicadores de tempo “(...) maximizamos os resultados através da contínua melhoria da qualidade de nosso fumo e gestão financeira eficaz, em que pese a forte valorização do real em 2010”. – Empresa Souza Cruz. “esses investimentos já se refletiram na melhoria dos indicadores de qualidade e atendimento da Cemig Distribuição em 2010”. – Cemig Otimismo Semiforte Otimismo Forte “a Embraer foi a empresa que mais se destacou no mercado em 2010, tendo entregue 145 jatos no ano, um incremento de 26 aeronaves em relação a 2009, o maior em termos absolutos entre todos os fabricantes”. – Empresa Embraer. Otimismo Fraco Atos locutórios “(...) tem implementado ações que demonstram responsabilidade e preocupação com o meio ambiente”. – Empresa Souza Cruz. “A orientação estratégica da CSN para a excelência operacional e integração permitiu que apresentássemos robustos resultados financeiros e Otimismo Semiforte Aspectos Chave para Classificação Memória coletiva geral do grupo social, compreendida a priori pelo interlocutor. Expressões consagradas pelo grupo social, notadas a posteriori pelo interlocutor, por ser aplicável a situações específicas. “A empresa”, “eu”, “nós”, “os colaboradores”, “os gestores”, etc. Expressões como “a nível global”, “no mundo”, “no Brasil”, países, estados ou regiões de atuação da companhia. Indicações de eventos em determinado ano, eventos em vários anos de forma contínua, crescente ou decrescente ao longo do tempo. Passado, presente ou futuro. Intenção genérica expressada pelo locutor, que faz sentido em qualquer operacionais”. – Empresa CSN. Otimismo Forte Otimismo Fraco Otimismo Semiforte Otimismo Forte Otimismo Fraco Otimismo Semiforte Otimismo Forte “Busca contínua do aprimoramento da gestão nas esferas econômicofinanceira, social e ambiental, a fim de ampliar a permanente geração de valor a todos os públicos com quem nos relacionamos”. – Tractebel. Atos ilocutórios “Com a mudança estrutural do mercado siderúrgico, em âmbitos nacional e internacional, a Usiminas reviu suas estratégias (...), manteve-se focada na redução de custos, na integração e na verticalização produtivas”. – Empresa Usiminas. “A Divisão de Aluguel de Carros tem crescido a uma média de 26% nos últimos anos, ou seja, tem dobrado de tamanho a cada 3 anos. Temos acompanhado o crescimento do volume de passageiros nos aeroportos, bem como ampliado nossa participação no mercado fora dos aeroportos”. – Empresa Localiza. “Os excelentes resultados obtidos em 2010 comprovam o acerto do direcionamento estratégico da Petrobras. No ano, foram investidos R$ 76,4 bilhões, 8% a mais do que em 2009. Os investimentos destinaram-se (...) ao aumento da produção de petróleo e gás natural, à melhoria e ampliação do parque de refino, à contratação de novas embarcações (...) e à conclusão de obras da malha de dutos (...)”. – Empresa Petrobras. Atos perlocutórios “É a integração dos esforços de todos que faz da Cemig a melhor energia do Brasil”. – Empresa Cemig. “A Tractebel Energia busca atuar também como multiplicadora das melhores práticas e disseminar a cultura e o valor da sustentabilidade a todos os seus públicos. Lançamos em 2010 a Política de Gestão Sustentável (...)”. – Empresa Tractebel. “A empresa é orientada para o atendimento às necessidades em produtos e serviços para seus clientes e focada (...) no crescimento sustentável da receita de produtos elaborados e processados com base em proteína animal, tendo sido reconhecida em 2010 pela Revista Exame como a Melhor Empresa do Agronegócio Brasileiro e pela Revista Isto É Dinheiro como a Melhor Empresa em Sustentabilidade Financeira, além de outras distinções”. – Empresa Marfrig. situação. Intenção expressada pelo locutor em uma situação social, em certo contexto. Performance de convencimento da fala do locutor. Os exemplos do Quadro 3 sintetizam o que foi considerado como mensagem de otimismo fraco, semiforte ou forte. As mensagens foram classificadas como neutras quando da ausência de otimismo no discurso relativo aos aspectos chaves, os quais exprimem a idéia central necessária para análise do teor das mensagens quanto a cada nível. Para que este instrumento de avaliação do otimismo seja validado, foi medida a consistência interna dos constructos por meio do Alpha de Cronbach. Nas colunas foram relacionados os oito níveis de análise (N1 a N8) e nas linhas as dez empresas. Para os níveis classificados como de otimismo forte, atribuiu-se 4; para os níveis de otimismo semiforte, 3; para os níveis de otimismo fraco 2; e para os níveis de otimismo neutro 1. Segundo Malhotra (2001) o Alpha de Cronbach é um indicador consistente para análise da confiabilidade de uma escala, sendo aceitáveis valores de corte iguais ou superiores a 0,60. Para Hair Jr. et al. (1998), valores de Alpha iguais ou acima de 0,70 são aceitáveis, sendo que valores inferiores a 0,70 podem ser aceitos em pesquisas exploratórias. O Alpha de Cronbach, calculado pelo software SPSS®, foi de 0,791, revelando consistência do instrumento utilizado. Com Alpha do instrumento superior a 0,70, foram validados os cálculos dos graus de otimismo das mensagens da alta administração contidas nos RAs das dez empresas analisadas: Tabela 1 – Graus de Otimismo Empresa Instância conversacional Instância Indexical Instância Acional Embraer 0,83 1,00 0,88 Grau de Otimismo total 0,9074 Marfrig 1,00 1,00 1,00 1,0000 Otimismo Forte Cemig 0,66 0,66 0,44 0,5925 Otimismo Semiforte Oi 0,50 0,77 0,33 0,5370 Otimismo Semiforte Usiminas 0,83 0,77 0,55 0,7222 Otimismo Forte Petrobras 0,83 1,00 1,00 0,9444 Otimismo Forte Tractebel 0,83 1,00 0,77 0,8703 Otimismo Forte Localiza 1,00 0,77 0,55 0,7777 Otimismo Forte Souza Cruz 1,00 0,22 0,33 0,5185 Otimismo Semiforte CSN 1,00 0,44 0,77 0,7407 Otimismo Forte Status em relação ao grau de otimismo total Otimismo Forte Os resultados apresentam, de forma geral, altos graus de otimismo para as mensagens da alta administração, confirmando a tese de que os RAs carregam viés, manifestado na falta de padrão deste relatório narrativo, que possibilita manipulações; atribuição de boas notícias à administração da companhia e más notícias ao ambiente; entre outros fatores. No próximo passo calcularam-se os índices propostos por Braga e Marques (2001). A Tabela 2 apresenta os índices de avaliação da viabilidade financeira das dez companhias para os grupos Quocientes de Cobertura de Caixa e Quocientes de Dispêndio de Capital, conforme apresentado no Quadro 1. Tabela 2 – Quocientes de Cobertura de Caixa e Quocientes de Dispêndio de Capital Embraer Cobertura de Juros com Caixa 15,1422 Cobertura de Dívidas com Caixa 0,1351 Cobertura de Dividendos com Caixa 5,2186 Marfrig 2,0669 (0,0018) Cemig 3,6874 Oi 3,6995 Usiminas Aquisições de Capital Investimento/Financiamento Investimento/Financiamento (2) 4,5504 0,3582 (9,3608) 0,7102 (0,0257) (0,8319) (0,8198) 0,0737 1,8901 4,6850 12,0018 (1,4693) 0,2196 2.539,5732 4,5253 4,3859 (0,5100) 4,7485 0,0588 2,2630 0,2357 (0,8172) (0,6069) Petrobras 10,9006 0,2099 5,6756 0,5476 (1,9601) (0,9839) Tractebel 8,9995 0,1471 3,1351 3,8618 1,4451 (1,1864) Localiza Souza Cruz CSN 0,6849 (0,0532) (20,3889) (2,7366) (0,3882) (7,0487) 43,4988 0,1405 1,2758 1,9535 0,1640 (0,2197) 2,6357 0,0307 1,5906 0,2535 (0,9968) (0,6499) Empresa O alto índice de cobertura de dividendos com caixa da empresa OI decorre-se do baixo valor de dividendos pagos em 2010 e os constantes índices negativos da Localiza devem-se ao seu FCO negativo em 2010. As companhias Petrobrás, Oi e Embraer apresentam o melhor desempenho em relação aos índices de Cobertura de Caixa, o que sinaliza que seus FCOs cobrem com folgas seus juros, suas dívidas ou os dividendos distribuídos. Em contrapartida, as companhias Localiza, Marfrig e CSN apresentam o pior desempenho financeiro nesta categoria de análise. Quanto aos índices de Dispêndio de Capital, apresentam maiores valores as companhias Oi, Cemig e Souza Cruz, enquanto Localiza, Marfrig e Petrobras apresentam os menores índices. Na Tabela 3 apresentam-se os grupos Retornos do Fluxo de Caixa e Quocientes de Qualidade do Resultado. Tabela 3 – Retornos do Fluxo de Caixa e Quocientes de Qualidade do Resultado Embraer Fluxo de Caixa por Ação 1,9785 Retorno do Caixa sobre Ativos 0,1160 Retorno s/ Passivos e PL 0,1465 Retorno sobre o PL Qualidade das Vendas 0,2808 1,0122 Qualidade do Resultado 2,1371 Marfrig 0,2036 0,0977 0,0045 0,0109 0,9644 0,0800 1,4638 Cemig 9,3322 0,1766 0,1273 0,3012 0,9986 0,9479 1,2843 Oi 15,1978 Usiminas 0,7005 0,1736 0,1691 0,3013 0,9924 1,3888 1,3277 0,0695 0,0476 0,0708 1,0029 0,6303 0,7471 Petrobras 4,4926 0,1292 0,1154 0,1722 0,9883 1,1725 1,1116 Tractebel 2,5745 0,1895 0,1587 0,3313 0,9766 0,7816 0,9327 Localiza (0,6310) 0,0360 (0,0494) (0,1387) 0,9749 (0,2542) 0,1796 Souza Cruz 5,0573 0,4633 0,5852 0,7377 0,9961 0,7935 0,9895 CSN 1,7027 0,1301 0,0744 0,3174 0,9949 0,4967 0,8476 Empresa Qualidade do Resultado (2) 1,5174 Em relação ao grupo de índices de Retorno dos Fluxos de Caixa, os destaques positivos são as companhias Souza Cruz, Oi e Tractebel, enquanto os destaques negativos são as companhias Localiza, Marfrig e Usiminas. Para a categoria de índices de Qualidade do Resultado, destacam-se as companhias Embraer, Cemig e Oi. As empresas Localiza, Tractebel, CSN e Marfrig figuram como aquelas de pior desempenho neste grupo de índices. Para associação entre os índices financeiros e os graus de otimismo, utilizou-se o software SPSS® para cálculo da Correlação de Spearman. Por ser esta uma técnica de correlação por postos, atribuiu-se 10 para a companhia com maior grau de otimismo (Marfrig), 9 para aquela com o segundo maior grau e assim por diante, restando 1 para a empresa com menor grau de otimismo (Souza Cruz). O mesmo foi feito para cada índice, atribuindo-se 10 para a companhia com maior índice, 9 para aquela com o segundo maior índice e assim por diante. Este procedimento permite verificar se há associação entre o otimismo presente nas mensagens analisadas e o desempenho medido pelos índices financeiros, conforme os resultados apresentados na Tabela 4. Tabela 4 – Resultados das Primeiras Correlações de Spearman Índices relacionados ao Grau de Otimismo Coeficiente de Correlação Significância Cobertura de Juros com Caixa -0,152 0,676 Cobertura de Dívidas com Caixa -0,224 0,533 Cobertura de Dividendos com Caixa -0,006 0,987 Aquisições de Capital -0,321 0,365 Investimento / Financiamento -0,503 0,138 Investimento / Financiamento (2) -0,552 0,098 Fluxo de Caixa por Ação -0,539 0,108 Retorno do Caixa sobre os Ativos -0,491 0,150 Retorno sobre Passivos e PL -0,503 0,138 Retorno sobre o PL -0,527 0,117 Qualidade das Vendas -0,442 0,200 Qualidade do Resultado -0,164 0,651 Qualidade do Resultado (2) 0,248 0,489 Os resultados iniciais não apontam nenhuma correlação entre otimismo e algum dos índices financeiros utilizados, ao nível de significância de 0,05. O indicador Investimento / Financiamento (2) apresenta correlação inversa na ordem de 55,2%, porém a um nível de significância de 0,10, não utilizado nas ciências sociais. A segunda tentativa de verificação de associação se deu de forma distinta. Foram atribuídos postos para as companhias por grupo de índices. À empresa com melhor desempenho geral nos 3 índices de Cobertura de Caixa foi atribuído valor 10, à segunda melhor 9 e assim por diante. O mesmo foi feito com os outros três grupos de índices. Em seguida, relacionou-se o desempenho financeiro por grupo de índices ao grau de otimismo, sendo realizadas novas correlações de Spearman, com os resultados apresentados na Tabela 5. Tabela 5 – Resultados das Correlações de Spearman Finais Grupos de Índices relacionados ao Grau de Otimismo Quocientes de Cobertura de Caixa Coeficiente de Correlação -0,030 Significância 0,934 Quocientes de Dispêndio de Capital -0,685 0,029 Retornos do Fluxo de Caixa -0,648 0,043 Quocientes de Qualidade do Resultado -0,358 0,310 Todos os Índices de Fluxo de Caixa -0,539 0,108 Os resultados revelam forte correlação negativa entre os índices de Retorno de Fluxo de Caixa com o Grau de Otimismo, na ordem de -64,8%; e forte correlação negativa também entre os Quocientes de Dispêndio de Capital com o Grau de Otimismo, cerca de -68,5%; ambos a níveis de significância abaixo de 0,05. Entende-se que o otimismo observado nas mensagens da alta administração das companhias abertas consideradas transparentes, sob a perspectiva linguística, guarda relação com o desempenho financeiro expressado por dois grupos de índices extraídos da DFC, talvez aqueles que de fato ressaltam aos olhos dos acionistas, constituindo-se nas informações financeiras de seu interesse. Assim, os Retornos do Fluxo de Caixa, bem como os Quocientes de Dispêndio de Capital têm relação inversa com o otimismo evidenciado. 5 Conclusões O objetivo do artigo consistiu em verificar a associação entre o grau de otimismo da mensagem da alta administração e o desempenho reportado em índices financeiros das empresas ganhadoras do Prêmio Anefac-Fipecafi-Serasa Experian 2011. Para tanto, criou-se um instrumento de avaliação do otimismo presente nas mensagens, o qual foi validado ao revelar Alpha de Cronbach superior a 0,70. Esse instrumento possibilita a verificação de otimismo fraco, semiforte, forte ou neutro no discurso expressado nas mensagens da alta administração na medida em que segrega-o para que seja analisado em níveis linguísticos que compõem as instâncias conversacional, indexical e acional. Depois de realizadas as análises linguísticas nas mensagens da alta administração para cálculo dos graus de otimismo, além da análise dos relatórios financeiros divulgados pelas companhias para cálculo dos índices financeiros, utilizou-se o software SPSS® para cálculo das correlações de Spearman entre cada índice financeiro e o grau de otimismo das mensagens. Os resultados para esta primeira rodada de correlações não revelaram significância entre índices financeiros isolados e o grau de otimismo das mensagens. Em seguida, considerando as categorias de índices financeiros sugeridas por Braga e Marques (2001) e não apenas os índices isolados, constatou-se associação inversa entre Quocientes de Dispêndio de Capital e o Grau de Otimismo atribuído e o mesmo entre Índices de Retorno dos Fluxos de Caixa e o Grau de Otimismo. Portanto, considerando-se tais conjuntos de índices, que, conforme Matarazzo (1994), expressam desempenho financeiro de forma mais completa do que índices isolados, verifica-se associações inversas significantes. Como os RAs são redigidos pelos gestores após estes conhecerem o desempenho geral do negócio ao longo do exercício, sugere-se que desempenho insatisfatório nos Quocientes de Dispêndio de Capital e nos Retornos do Fluxo de Caixa incentivam mensagens mais otimistas, propositalmente ou não, para amenizar possíveis impactos deste desconforto financeiro perante os investidores. Já os gestores das companhias em melhor situação financeira nestas categorias de índices redigem suas mensagens de forma natural, com menor grau de exagero em termos de otimismo, apesar da evidenciação de ao menos algum otimismo em todas as mensagens, conforme reflexo nos graus de otimismo calculados. A limitação principal do estudo consiste no tamanho da amostra. Devido à profundidade da análise linguística realizada nas mensagens da alta administração, a qual demanda bastante tempo, além do menor número de companhias que evidenciam a mensagem da alta administração à parte em seus RAs, a amostra contou apenas com 10 empresas, inviabilizando regressões. Como contribuição, o estudo exploratório apresenta indícios de associação entre desempenho financeiro e otimismo, além de estruturar uma metodologia para quantificação deste otimismo por meio da abordagem linguística. Assim, os resultados desta pesquisa possibilitam que stakeholders compreendam possíveis distorções e exageros no uso da linguagem nos relatórios, servindo também como base para melhorias na confiabilidade das informações divulgadas. Referências ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EXECUTIVOS DE FINANÇAS, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE - ANEFAC. Sobre o prêmio Disponível em: <http://www.anefac.com.br/transparencia/2011/premio.html>. Acesso em: 09 de novembro de 2011. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BERNSTEIN, L. Financial Statement Analysis. 5. ed. Homewood, IL.: Irwin, 1993. BOO, E.; SIMNETT, R. The information content of management’s prospective comments in financially distressed companies: a note. Abacus, v. 38, n. 2, p. 280-295. Jun. 2002. BRAGA, R.; MARQUES, J. A.V.C. Avaliação da liquidez das empresas através da análise da demonstração de fluxos de caixa. Revista Contabilidade & Finanças, v. 14, n. 25, p. 6-23. Jan./abr. 2001. BRYAN, S. H. 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