Abrir Arquivo - Congresso USP de Controladoria e Contabilidade

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REFLEXO DAS BOAS NOTÍCIAS NO DESEMPENHO FINANCEIRO: ANÁLISE
EM EMPRESAS BRASILEIRAS TRANSPARENTES
Resumo
O objetivo do artigo consiste em verificar a associação entre o grau de otimismo da
mensagem da alta administração e o desempenho reportado em índices financeiros das
empresas ganhadoras do Prêmio Anefac-Fipecafi-Serasa Experian 2011. Para atribuir graus
de otimismo (neutro, fraco, semiforte ou forte) às mensagens, sob a perspectiva linguística,
criou-se um instrumento de análise de conteúdo segregado nas instâncias (i) conversacional,
(ii) indexical e (iii) acional. A amostra foi composta por dez empresas ganhadoras do Prêmio
Anefac-Fipecafi-Serasa Experian 2011. A correlação de Spearman foi calculada para verificar
a associação entre o grau de otimismo e os índices de desempenho financeiro extraídos da
Demonstração dos Fluxos de Caixa das empresas. Os resultados exploratórios revelam que
não há associação entre índices financeiros isolados e o otimismo das mensagens da alta
administração. Entretanto, considerando conjuntos de índices, verifica-se associação inversa
significante entre o grau de otimismo das mensagens e os índices de dispêndio de capital e de
retorno dos fluxos de caixa. Os achados sugerem que os gestores de empresas com pior
desempenho financeiro de dispêndio de capital e de retorno de fluxo de caixa tendem a ser
mais otimistas em suas mensagens aos acionistas, pois estas são escritas após o conhecimento
do desempenho financeiro do exercício. Entende-se que os gestores buscam tranquilizar os
investidores atenuando informações financeiras negativas por meio de discurso otimista.
Palavras-chave: Relatório da Administração; Discurso; Otimismo; Índices Financeiros.
1 Introdução
Desde 1997, o Prêmio Anefac - Fipecafi - Serasa Experian tem valorizado a seriedade,
o rigor técnico, a objetividade e a transparência das informações apresentadas nas
demonstrações financeiras. As empresas que concorrem ao prêmio são segregadas em três
categorias: a) Capital Aberto com faturamento anual até R$ 8 bilhões; b) Capital Aberto com
faturamento anual acima de R$ 8 bilhões; c) Capital Fechado. Em todas as categorias são
avaliadas as práticas de transparência nas informações contábeis quanto à qualidade do
Relatório da Administração (RA) e à consistência do disclosure fornecido (ANEFAC, 2011).
Em termos de divulgação de informações de caráter não obrigatório, o RA é um
espaço para conversão de dados contábeis em informações mais facilmente compreensíveis
pelo público em geral. Acredita-se que a evidenciação contábil auxilia os usuários a
conhecerem a capacidade de a companhia gerar futuros fluxos de caixa. De acordo com
Yuthas, Rogers e Dillard (2002), a transparência no RA tem importância considerável, pois os
materiais textuais narrativos podem influenciar os investidores e os analistas financeiros.
Logo, mensagens mais transparentes detêm maior qualidade comunicativa e ajudam na
construção das percepções dos usuários que nem sempre possuem razoável diligência para
interpretar as sintaxes utilizadas pela contabilidade.
O RA, elaborado de forma descritiva, objetiva fornecer conteúdo adicional, mais
acessível, para subsidiar julgamentos prospectivos, principalmente quando se reportam
informações técnicas. Para Hendriksen e Van Breda (1999), o poder de comunicação do RA
está atrelado à apresentação de atos praticados e expectativas sobre o reflexo das ações dos
gestores na condução atual e futura do negócio.
Todavia, a forma de apresentação de informações sobre os atos praticados e seu
reflexo no desempenho econômico e financeiro pode ser influenciada pelo desejo do gestor
explicitar mais ou menos o otimismo quanto às expectativas futuras de rentabilidade do
negócio. Silva et al. (2006) mencionam que o grau de otimismo das mensagens pode ser
consequência do desempenho financeiro atual da companhia ou de suas projeções futuras,
com empresas com maior índice de transparência reportando mais mensagens sobre o seu
desempenho financeiro nos RAs, mas não necessariamente, mensagens otimistas.
Assim, pretende-se responder à seguinte questão de pesquisa: qual a associação entre
o otimismo presente na mensagem da alta administração contida nos RAs e o
desempenho financeiro das empresas ganhadoras do Prêmio Anefac-Fipecafi-Serasa
Experian 2011? Dessa forma, o objetivo consiste em verificar a associação entre o grau de
otimismo da mensagem da alta administração e o desempenho reportado em índices
financeiros das empresas ganhadoras do Prêmio Anefac-Fipecafi-Serasa Experian 2011.
O desempenho financeiro, divulgado por meio da Demonstração dos Fluxos de Caixa
(DFC), proporciona aos usuários uma base para avaliar a capacidade de a entidade gerar caixa
e equivalentes de caixa futuros e proporciona informações dos ativos líquidos e estrutura
financeira da empresa (liquidez e solvência), entre outros (CPC, 2010). Assim, os fluxos de
caixa de entrada e saída das companhias são vistos como elementos potenciais na avaliação
do desempenho e para os investidores que os utilizam na tomada de decisões. Braga e
Marques (2001) propuseram diversos índices para avaliar o desempenho financeiro com base
na DFC. Assim, esses índices consubstanciam-se no objeto de associação do desempenho
financeiro ao otimismo contido na mensagem da alta administração.
Braga e Marques (2001) apresentaram os seguintes grupos de índices financeiros que
podem ser obtidos com dados da DFC: (i) Quocientes de Cobertura de Caixa; (ii) Quocientes
de Dispêndio de Capital; (iii) Índices de Retorno do Fluxo de Caixa; e (iv) Quocientes de
Qualidade do Resultado. Os autores apenas exemplificaram a aplicação desses índices na
Companhia Vale do Rio Doce e na CEMIG - Centrais Elétricas de Minas Gerais S.A.
Assim, não foram encontradas na literatura pesquisas que associam o desempenho
financeiro por meio de índices da DFC ao otimismo reportado na mensagem da alta
administração constante no RA. Outra novidade é representada pela estruturação de uma
metodologia para quantificação do otimismo através de uma abordagem linguística associada
a métricas matemáticas. Como contribuição, o estudo possibilitará que os stakeholders
compreendam o uso da linguagem nos relatórios e os resultados poderão servir como base
para melhorias na confiabilidade das informações divulgadas.
2 Otimismo nos Relatórios da Administração
A relevância do RA para os investidores e outros usuários potenciais é ressaltado nas
pesquisas de Bryan (1997), Boo e Simnett (2002), Yuthas, Rogers e Dillard (2002) e Silva et
al. (2006). Todavia o teor do RA é relatado como sendo permeado por algum tipo de viés, o
que diminui seu poder informacional. Segundo Colauto e Marques (2010), a ausência de viés
minimizaria os riscos inerentes às ações oportunistas dos administradores, o que reforça a
necessidade de informações contábeis confiáveis, fidedignas, verificáveis e neutras, em
conformidade com a Estrutura Conceitual Básica para Elaboração e Apresentação das
Demonstrações Contábeis, emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).
Bryan (1997) investigou a eficácia do RA, concluindo que esses têm sua eficácia
atrelada a medidas de desempenho futuro e decisões de investimentos. Também enfatizando a
característica de perspectiva futura dos RAs, Boo e Simnett (2002) verificaram se companhias
que evidenciam otimismo em seus relatórios e apresentam problemas financeiros são mais
suscetíveis de ir à falência do que as outras empresas em dificuldades financeiras que não
evidenciam otimismo exacerbado. Os achados desta pesquisa apontam que as companhias
com maior probabilidade de falência são aquelas que omitem informações em seus relatórios,
carregando viés excessivamente otimista, e não as demais.
Yuthas, Rogers e Dillard (2002) investigaram as características éticas do discurso
encontrado nos relatórios anuais das companhias que utilizam princípios de ação
comunicativa. Os resultados revelaram que as companhias que esperam tanto boas quanto más
surpresas relativas a seus ganhos exibem um nível maior de ação comunicativa do que as
companhias que não esperam maiores surpresas. Esses achados sugerem que as companhias
que antecipam surpresas relacionadas a seus ganhos aproveitam-se da parte narrativa dos
relatórios anuais tanto para comunicação de informações sobre a veracidade e confiabilidade
da administração quanto para informar a posição financeira e o desempenho da companhia.
Silva et al. (2006) verificaram a associação entre o desempenho e informações
otimistas relatadas nos RAs de companhias brasileiras de capital aberto. O estudo envolveu
448 companhias e as mensagens foram classificadas em otimistas, pessimistas e neutras. As
conclusões são de que a maior parte do conteúdo dos RAs é otimista e que há relação direta
entre o endividamento e o otimismo e relação inversa entre a receita e o otimismo, além de
que o grau de otimismo é consequência do desempenho atual da companhia.
De acordo com Pava e Epsten (1993), os profissionais que elaboram as previsões
empresariais tendem a ser excessivamente otimistas. Os administradores das companhias
costumam antecipar mais informações consideradas boas do que as más, além de culpar o
ambiente por más notícias, atribuindo a si os méritos pelas boas notícias. Este otimismo
prejudica as características qualitativas da informação contábil, constituindo-se em um tipo de
viés informacional. Para Ferreira (2008), o otimismo consiste em uma sistemática de
julgamento dos acontecimentos da melhor maneira possível, entendendo que tudo vai bem.
Logo, dadas as características do RA, este poderia ser considerado uma ferramenta de
marketing da companhia (YUTHAS; ROGERS; DILLARD, 2002).
Além disso, como não há padrão de elaboração do RA, este costuma conter temas de
grande interesse aos investidores, o que pode motivar os gestores a manipular o seu conteúdo
para divulgar notícias que ajudam a melhorar a imagem da empresa e as expectativas em
relação ao retorno dos investimentos. Dessa forma, este aspecto pode comprometer as
características qualitativas essenciais à informação contábil.
3 Índices financeiros com base na Demonstração dos Fluxos de Caixa
Iudícibus et al. (2010, p. 565), afirmam que a finalidade da DFC é fornecer aos
usuários informações relevantes a respeito de “pagamentos e recebimentos em dinheiro, de
uma empresa, ocorridos durante certo período, auxiliando na análise da capacidade da
entidade de gerar e de suas necessidades de utilizar caixa e equivalentes de caixa”. De
maneira mais específica, a DFC fornece subsídios para análise financeira sob os seguintes
aspectos: (a) apoiar o estudo para a previsão de falência; (b) analisar a relação lucro versus
caixa; (c) avaliar os efeitos no caixa das transações de investimentos e financiamentos; e (d)
indicar as possibilidades futuras de liquidação de obrigações (MONTEIRO, 2003).
Gup e Dugan (1988) afirmam que o melhor indicador de liquidez e solvência é uma
medida denominada cash flow from operations, ou seja, o fluxo de caixa gerado pelas
operações (FCO), que expressa o capital de giro gerado pelas operações, sendo que variações
nas contas dos grupos circulantes associados às operações, exceto caixa e equivalentes-caixa,
devem ser acrescidos ou deduzidos. Para Bernstein (1993), o FCO é uma medida de
desempenho menos sujeita à distorção do que o lucro líquido. Isso ocorre devido ao fator
tempo. Por ser apurado pelo regime de competência, o lucro é afetado por diferimentos,
atribuições e avaliações, envolvendo maior subjetividade do que o cálculo do FCO.
Em função disso, Sloan (1996) relata que o FCO é relacionado, pelos acionistas, ao
lucro líquido. O objetivo desta relação é detectar suspeitas quanto a apropriações
possibilitadas pelo regime de competência. Ou seja, empresas com alto nível de lucro líquido,
porém FCO baixo talvez revelem que os administradores estão aproveitando-se de critérios
suspeitos quando do reconhecimento de receitas e/ou despesas. Para Braga e Marques (2001)
o FCO permite uma avaliação de desempenho, por possibilitar a projeção de FCOs em
conjunto com outras informaçãoes. Assim, os autores propõem índices de análise financeira
segregados em quatro grupos, apresentados no Quadro 1.
Quadro 1 – Índices para análise de viabilidade financeira
Quocientes de Cobertura de Caixa
Cobertura de Juros
com Caixa
Cobertura de Dívidas
com Caixa
Cobertura de
Dividendos com Caixa
FCOantesdeJeI
J
FCO − DividendoTotal
Exigível
FCO
DividendosTotais
Retornos do Fluxo de Caixa
Fluxo de Caixa por
Ação
FCO − Div. Preferenciais
QuantidadedeAçõesON
FCOantesdeJeI
AtivosTotais
FCO
(PL + ExigíveldeLP)
FCO
PL
Quocientes de Dispêndio de Capital
Aquisições de Capital
Investimento /
Financiamento
Investimento /
Financiamento (2)
FCO − DividendoTotal
CaixaPagoporinv. decap.
FCI
FCF
FCI
(FCO + FCF)
Quocientes de Qualidade do Resultado
Qualidade das Vendas
CaixadasVendas
Vendas
FCO
ResultadoOperacional
FCOantesdeJeI
ResultadoantesdeJ, IeD
Retorno do Caixa
Qualidade do
sobre os Ativos
Resultado
Retorno sobre
Qualidade do
Passivos e Patrimônio
Resultado (2)
Líquido
Retorno sobre o
Patrimônio Líquido
Legenda: Fluxo de Caixa Líquido de Operações (FCO); Fluxo de Caixa de Investimentos (FCI); Fluxo de Caixa de
Financiamentos (FCF); Patrimônio Líquido (PL); Juros (J); Impostos (I); Depreciação (D); Dividendos (Div.);
Investimentos (inv.); Capital (cap.).
Fonte: adaptado de Braga e Marques (2001).
Esses índices podem auxiliar analistas, credores e demais stakeholders na previsão de
fluxos futuros de caixa e mensuração do desempenho dos fluxos correntes, constituindo-se em
instrumento de acompanhamento do desempenho financeiro. Os índices estão alinhados aos
objetivos da DFC reportados no SFAS 95 (FASB, 1987), definidos como: (a) avaliar a
capacidade do negócio em gerar fluxos de caixa líquidos futuros positivos (relação com os
Retornos do Fluxo de Caixa); (b) avaliar a capacidade do empreendimento em cumprir suas
obrigações, sua capacidade de pagar dividendos e suas necessidades por financiamento
externo (Quocientes de Cobertura de Caixa); (c) avaliar as razões para as diferenças entre o
resultado líquido e os recebimentos e pagamentos de caixa associados (Quocientes de
Qualidade do Resultado); e (d) avaliar os efeitos sobre a posição financeira do negócio de
suas transações de financiamento e investimento de caixa e as que não afetam o caixa durante
o período (Quocientes de Dispêndio de Capital).
Os Quocientes de Cobertura de Caixa viabilizam a avaliação da liquidez do
empreendimento. O índice de cobertura de juros com caixa revela o número de períodos que
as saídas de caixa pelos juros são cobertas pelo FCO, excluindo destes os juros pagos,
imposto de renda e contribuição social. O índice de cobertura de dívidas com caixa considera
no cálculo o fluxo de caixa não distribuído, pois este expressa o FCO e disponível para
reinvestimento. Esse índice sinaliza o período de tempo necessário para livrar a companhia de
suas obrigações utilizando FCO retido para pagamento das obrigações. O índice de cobertura
de dividendos com caixa permite avaliar a habilidade da companhia em pagar os dividendos,
com base no FCO. (BRAGA e MARQUES, 2001).
Quanto aos Quocientes de Dispêndio de Capital, o índice de aquisições de capital
sinaliza a habilidade do negócio em atender suas necessidades por dispêndios líquidos de
capital, sendo calculado como FCOs retidos divididos pelas aquisições líquidas de ativos
produtivos. Os fluxos de caixa após o pagamento de dividendos são usados como base para
efetiva disponibilidade de caixa. Nas relações entre os fluxos de caixa operacional, de
investimento e de financiamento é possível verificar como os investimentos têm sido
financiados. O índice investimento / financiamento compara os fluxos líquidos necessários
para finalidades de investimento, com aqueles gerados de financiamento. Porém, os fluxos de
caixa das atividades de investimento também podem ser comparados aos FCOs, sendo o
índice investimento / financiamento (2) uma alternativa (BRAGA e MARQUES, 2001).
Em relação ao grupo de índices de Retornos do Fluxo de Caixa, o fluxo de caixa por
ação sinaliza o FCO por ação ordinária, possibilitando a comparação entre o caixa disponível
e o caixa distribuído como dividendos por ação. O índice de retorno de caixa sobre os ativos
indica o percentual do investimento empregado recuperado em termos de disponibilidades, o
que pode a princípio ser comparado à taxa real de juros para avaliação do desempenho. O
índice de retorno de caixa sobre passivos e patrimônio líquido sinaliza o potencial de
recuperação de caixa do negócio para os investidores e o retorno de caixa sobre o patrimônio
líquido mede a taxa de recuperação de caixa dos investimentos realizados apenas pelos
acionistas (BRAGA e MARQUES, 2001).
Quanto aos Quocientes de Qualidade do Resultado, o índice de qualidade das vendas
expressa a proporção das receitas de vendas convertidas em dinheiro no exercício, com a
limitaçãod e que as companhias abertas não divulgam o caixa exato das vendas, sendo
necessária a utilização de proxies. Alternativamente pode-se utilizar os índices de qualidade
do resultado e qualidade do resultado (2), que buscam indicar a dispersão entre os fluxos de
caixa e os lucros divulgados (BRAGA e MARQUES, 2001).
4 Metodologia
O estudo utiliza a abordagem empírico-analítica, com dados levantados em
demonstrações contábeis e análise linguística. Quanto aos objetivos, a pesquisa é exploratória,
pois busca validar um instrumento inédito de mensuração de otimismo; e descritiva, pois
preocupa-se em observar os fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los; sem
interferência do pesquisador. Quanto à abordagem do problema, o estudo é qualitativo, pois
analisa-se o teor das mensagens contidas nos RAs à luz da interpretação linguística e
quantitativo, pois verifica a associação entre otimismo contido nas mensagens da alta
administração e o desempenho financeiro das empresas.
Os dados de 2010 foram obtidos no site da Comissão de Valores Mobiliários, nas
demonstrações contábeis das empresas vencedoras do Troféu Transparência ANEFAC 2011
(referente 2010) e no software Economática®. Para fazer associação entre os índices e o grau
de otimismo, utilizou-se a mensagem narrativa da alta administração presente nos RAs. A
amostra final foi composta pelas empresas Embraer, Companhia Siderúrgica Nacional – CSN,
Cemig, Oi, Petrobrás, Souza Cruz, Usiminas, Tractebel Energia, Localiza e Marfrig Group.
4.1 Coleta de dados para cálculo dos graus de otimismo
A técnica de análise de discurso identifica como a pessoa conduz a narrativa dos
acontecimentos ou produz proposições para os interlocutores, por meio da utilização de
métodos linguísticos e compreensão das regras para alcançar seus objetivos (MANHÃES,
2008). Assim, permite verificar como a linguagem atinge o foco da mensagem pretendida nos
interlocutores e a compreensão de seu funcionamento.
Bardin (2008, p. 274) explica que “discurso é qualquer forma de interação formal ou
informal, qualquer linguagem no seu contexto social e cognitivo, e inspira-se
inspira
na psicologia,
na antropologia, na pragmática e na etnometodologia (que observa o modo como a linguagem
é utilizada
ilizada em situações da vida corrente)”. Ressalta-se
Ressalta se que um discurso pode ser analisado
sob a perspectiva da análise de discurso francesa ou da análise de discurso inglesa
(MANHÃES, 2008). Segundo Manhães (2008, p. 306) “análise de discurso inglesa é um
campo
mpo dos estudos de comunicação que confere primazia ao domínio da pragmática (daquilo
que se objetiva alcançar na vida cotidiana quando se conversa com alguém) sobre a semântica
e a sintaxe”. Este artigo apresenta a aplicação da análise de discurso inglesa.
inglesa A análise de
discurso inglesa preconiza três instâncias: (1) conversacional; (2) indexical; (3) acional.
Para realizar a análise de discurso, buscou-se
buscou se inicialmente informações com conotação
otimista observando os níveis linguísticos agrupados nas três instâncias
instâncias de foco. No contexto
desta pesquisa, considera-se
se otimismo como a forma de expressar o teor de um conjunto de
informações apresentadas na mensagem da alta administração das companhias que
supostamente visam minimizar ou omitir o impacto de dados quantitativos ou qualitativos
negativos sobre determinadas situações, ou ainda maximizar o impacto de dados positivos. A
estrutura dos procedimentos metodológicos utilizados no enquadramento das mensagens
otimistas quando da coleta destas, para posterior atribuição
atribuição de grau de otimismo na mensagem
da alta administração é apresentada na Figura 1.
Figura 1 – Metodologia da analise do discurso.
Fonte: elaborado a partir de Manhães (2008).
A análise pela instância conversacional busca entender a percepção da mensagem pelo
interlocutor. A mensagem deve ser inteligível para existir argumentação ou informação. Para
que faça sentido na situação e no contexto social, tende a obedecer a regras e procedimentos
linguísticos que toma como circunstâncias da instância conversacional: são os pressupostos e
os significados implícitos (MANHÃES, 2008), aqui classificados como níveis desta instância.
Moura (2000) diz que o pressuposto é a mensagem que é deduzida pelos interlocutores
com base no conhecimento compartilhado por eles, consagrados pelos grupos sociais, ou seja,
leva em consideração a mensagem compreendida pelo interlocutor a priori. Trata-se de uma
memória coletiva geral do grupo. O significado implícito é subentendido pelo interlocutor a
partir do que é dito por meio de expressões consagradas pela memória coletiva
(RODRIGUES, 1995). Em outras palavras, são instrumentos que viabilizam a interação,
também consagrados por certo grupo social. A mensagem é compreendida pelo interlocutor a
posteriori, pois tais elementos constituem significação em situações específicas.
A análise do discurso pela instância indexical é realizada quando busca-se entender a
intenção das informações boas atribuídas ao presente e ao futuro, ao “nós” e ao “aqui”. De
forma análoga, atribuir informações ruins ao passado, ao “eles” ou “alguém” e ao ambiente
externo à companhia também podem revelar otimismo. Por estes meios, o sujeito pode deixar
transparecer algumas características do discurso classificadas como: indicadores de pessoa,
indicadores de lugar e indicadores de tempo (MANHÃES, 2008).
Os indicadores de pessoa referem-se a pronomes como “eu”, “eles”, “nós”, etc.
Termos impessoais como “alguém” revelam intenção distinta de termos como “nós”. O “eu”,
por exemplo, se coloca como dono da voz que conta as ocorrências e revela um mundo para o
interlocutor (MANHÃES, 2008). Esse termo atribui a responsabilidade da ação ao locutor. Já
termos genéricos como “a companhia” pode responsabilizar todos por possíveis sucessos ou
desviar o foco de responsabilização por possíveis insucessos.
Para Manhães (2008), indicadores de tempo e espaço não têm necessariamente
somente o sentido gramatical dos advérbios. Passado, presente e futuro são funções
discursivas definidas pelo momento “agora” indicado pelo locutor. O “aqui” e o “agora”
podem ser referências imaginadas e sua determinação influencia a conotação do discurso.
Atribuir informações de sucesso ao presente e projetá-las ao futuro revela otimismo, assim
como deixar em termos passados informações de insucesso. Indicar boas ações ocorridas na
companhia e alocar ao ambiente externo aspectos ruins também revelam otimismo.
A instância acional expressa uma ação simbólica e social, pois busca entender a mente
do locutor revelando o mundo a partir de seu ponto de vista. Consiste na análise da posição
que o locutor ocupa perante o interlocutor e, pragmaticamente, na análise do que ele objetiva.
Divide-se em atos locutórios, ilocutórios e perlocutórios. O ato locutório apresenta-se em
estruturas lógicas, no interior de ações, constituindo-se de intenções, pelo uso de afirmativas,
interrogativas, exclamativas e faz sentido em qualquer situação por ser genérico. O ato
ilocutório é a articulação do ato da fala em uma situação social, em certo contexto. O ato
perlocutório permite verificar o domínio do ato de fala pronunciado à performance de
convencimento do discurso (MANHÃES, 2008).
4.2 Técnica de avaliação do grau de otimismo das mensagens da alta administração
Para quantificar o otimismo, optou-se por atribuir um valor numérico ponderado às
mensagens contidas nos RAs em suas menores unidades de análise (níveis), utilizando-se uma
escala adaptada do tipo Likert: Neutro, Fraco, Semiforte ou Forte. Em seguida, calculou-se a
média aritmética simples dessas. Depois, obteve-se o Grau de Otimismo Total por meio da
média das três Instâncias de análise do discurso, conforme apresentado na Figura 2.
INSTÂNCIAS
NÍVEIS
GRAU DE OTIMISMO
P: Pressupostos
Conversacional
SI: Significados Implícitos
Neutro = 0
Fraco = 0,33
Semi
Semi-forte
= 0,66
Forte = 1
Neutro = 0
Fraco = 0,33
Semi
Semi-forte
= 0,66
Forte = 1
I - Média do Grau de Otimismo da Instância Conversacional: (P+SI) / 2
Neutro = 0
Fraco = 0,33
IP: Indicadores de Pessoa
Semi
Semi-forte
= 0,66
Forte = 1
Neutro = 0
Fraco = 0,33
Indexical
IT: Indicadores de Tempo
Semi
Semi-forte
= 0,66
Forte = 1
Neutro = 0
Fraco = 0,33
IE: Indicadores de Espaço
Semi
Semi-forte
= 0,66
Forte = 1
II - Média do Grau de Otimismo da Instância Indexical: (IP+IT+IE) / 3
Neutro = 0
Fraco = 0,33
AL: Atos Locutórios
Semi-forte
Semi
= 0,66
Forte = 1
Neutro = 0
Fraco = 0,33
Acional
AI: Atos Ilocutórios
Semi-forte
Semi
= 0,66
Forte = 1
Neutro = 0
Fraco = 0,33
AP: Atos Perlocutórios
Semi
Semi-forte
= 0,66
Forte = 1
III - Média do Grau de Otimismo da Instância Acional: (AL+AI+AP) / 3
GRAU DE OTIMISMO TOTAL: (I + II + III) / 3
Neutro
0
Fraco
0< ou <= 0,33
Semi-forte
0,33> ou<=0,66
Figura 2 – Metodologia para cálculo do Grau de Otimismo
Fonte: elaborado pelos autores.
Forte
0,66>ou<=1
Em resumo, realizaram-se os seguintes passos: (1) leitura da mensagem, detalhando-a
em níveis: pressupostos, significados implícitos (conversacional), indicadores de pessoa,
tempo e espaço (indexical), atos locutórios, ilocutórios e perlocutórios (acional); (2)
atribuição de pesos iguais para cada nível; (3) atribuição do grau de otimismo para cada nível
que, pela média, geraram o grau de otimismo das instâncias; (4) com a média dos graus de
otimismo das instâncias, obtenção do grau de otimismo da mensagem, (5) apresentação do
resultado da análise da mensagem como neutra, de otimismo fraco, semiforte ou forte.
A cada classificação do nível de otimismo da mensagem, esta foi relida com enfoque
específico. Por exemplo, a mensagem foi lida com enfoque nos indicadores de pessoa para
classificar este nível como de otimismo neutro, fraco, semiforte ou forte.
4.3 Coleta de dados para cálculo dos índices financeiros
Os dados foram coletados no site da CVM e no software Economática®, conforme
apresentados no Quadro 2.
Quadro 2 - Fontes de coleta de dados para cálculo dos índices financeiros
Variáveis Coletadas
Fonte
Variáveis Coletadas
Fonte
Fluxo de Caixa Operacional (FCO)
DFC
Vendas (V)
DRE
Fluxo de Caixa de Investimentos (FCI)
DFC
DRE
Fluxo de Caixa de Financiamentos (FCF)
DFC
Dividendo Total Pago (DTP)
Caixa Pago por Investimentos de Capital
(CPIC)
Ativos Totais (AT)
DFC
Resultado Operacional (RO)
Resultado antes dos Juros, Impostos e
Depreciação.
Juros Pagos (JP)
DFC
FCO antes dos Juros e Impostos
BP
Caixa das Vendas (CV)
Patrimônio Líquido (PL)
BP
Quantidade de Ações Ordinárias (QAO)
Exigível de Longo Prazo (ELP)
BP
Dividendos Preferenciais (DP)
Economática
NE
DFC, NE, BP,
DRE
BP e DRE
Economática,
NE
NE, DRE
Exigível (E)
BP
Legenda: Balanço Patrimonial (BP); Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); Demonstração dos Fluxos de Caixa
(DFC); Notas Explicativas (NE).
No Quadro 2 apresentam-se as fontes para coleta dos dados necessários para o cálculo
dos índices. Algumas companhias não divulgaram os juros pagos (JP) em Notas Explicativas
(NE), sendo necessária a utilização de uma proxy formada pelos juros evidenciados na
Demonstração do Valor Adicionado em conjunto com os Juros a Pagar inicial e final do
Balanço Patrimonial (BP) ou Juros Não Pagos evidenciados na DFC indireta. Para cálculo do
Imposto de Renda e Contribuição Social pagos (IP) utilizou-se uma proxy constituída pelos
valores de tais tributos extraídos da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e os
valores a pagar inicial e final destes, extraídos do BP. Para o Caixa das Vendas, utilizou-se a
conta Clientes inicial e final extraída do BP e o item Receita de Vendas extraído da DRE.
No caso das companhias que não possuíam ações preferenciais, bastou verificar a
quantidade total de ações coletadas no software Economática®. Para as demais, buscou-se nas
NEs as quantidades de ações ordinárias em 31 de dezembro de 2010. Quanto aos dividendos
preferenciais, verificou-se ao final da DRE o lucro por ação preferencial e, após coleta nas
NEs das quantidades de ações preferenciais, obteve-se os dividendos pagos aos acionistas
preferenciais pela multiplicação destes valores. Quanto às demais variáveis, foi possível
coletá-las diretamente conforme fonte de dados referenciada no Quadro 2. Após a coleta das
variáveis, bastou utilizar o Quadro 1 para cálculo dos índices.
5 Descrição e análise dos dados
O grau de otimismo foi calculado por meio de uma metodologia baseada em análise de
discurso, segregando as mensagens em níveis que formam instâncias linguísticas. Para melhor
visualização da operacionalização desta metodologia apresenta-se no Quadro 3 exemplos
resultantes da análise do teor linguístico das mensagens.
Quadro 3 – Aspectos chave observados por nível e exemplos
Níveis para
Classificação do
Otimismo
Otimismo Fraco
Otimismo Semiforte
Otimismo Forte
Otimismo Fraco
Otimismo Semiforte
Otimismo Forte
Otimismo Fraco
Otimismo Semiforte
Otimismo Forte
Otimismo Fraco
Otimismo Semiforte
Exemplos
Pressupostos
“objetivo de melhorar nosso posicionamento no segmento pós-pago”. –
Empresa Oi.
Não houve.
“Cumprimos e até superamos plenamente a maior parte de nossos
objetivos empresariais, metas operacionais, desempenho econômico
financeiro”. – Empresa Embraer.
Significados implícitos
“foi aprovada a Política de Biodiversidade da Cemig, elaborada com a
participação de vários segmentos da sociedade”. – Cemig.
“consolidou o movimento iniciado no ano anterior de reunir as atividades
de transformação de aço (...), que nasce com mais de 20% de participação
no mercado e capacidade de processar mais de 2 milhões de toneladas”. –
Empresa Usiminas.
“A Localiza adota os mais elevados padrões de governança corporativa.
(...) o modelo próprio de gestão dos ativos, (...) e a adoção do sistema de
planejamento e execução, com base na meritocracia, nos deixam mais
competitivos e preparados para o crescimento contínuo”. – Localiza.
Indicadores de pessoa
“O desempenho da Usiminas foi marcado por mudanças operacionais e de
gestão, colocadas em prática com agilidade para fazer frente às
transformações (...) de mercado”. – Empresa Usiminas.
“a Companhia domina toda a cadeia produtiva de aço. (...) entre as
companhias mais competitivas e rentáveis do mundo”. – CSN.
“nossas competências centrais (...) que permitirão (...) conquistar novos
clientes e mercados. Encaramos o futuro com otimismo e determinação
(...)”. – Empresa Embraer.
Indicadores de espaço
“representando uma melhor prestação de serviços para a população do
Estado de Minas Gerais”. – Empresa Cemig.
Não houve.
Otimismo Forte
“que consolidou a estratégia da Companhia em transformar-se em uma
empresa global de alimentos baseada em proteínas animais. (...) presença
local notadamente na China”. – Marfrig.
Otimismo Fraco
Indicadores de tempo
“(...) maximizamos os resultados através da contínua melhoria da
qualidade de nosso fumo e gestão financeira eficaz, em que pese a forte
valorização do real em 2010”. – Empresa Souza Cruz.
“esses investimentos já se refletiram na melhoria dos indicadores de
qualidade e atendimento da Cemig Distribuição em 2010”. – Cemig
Otimismo Semiforte
Otimismo Forte
“a Embraer foi a empresa que mais se destacou no mercado em 2010,
tendo entregue 145 jatos no ano, um incremento de 26 aeronaves em
relação a 2009, o maior em termos absolutos entre todos os fabricantes”. –
Empresa Embraer.
Otimismo Fraco
Atos locutórios
“(...) tem implementado ações que demonstram responsabilidade e
preocupação com o meio ambiente”. – Empresa Souza Cruz.
“A orientação estratégica da CSN para a excelência operacional e
integração permitiu que apresentássemos robustos resultados financeiros e
Otimismo Semiforte
Aspectos Chave
para Classificação
Memória coletiva
geral do grupo
social,
compreendida a
priori pelo
interlocutor.
Expressões
consagradas pelo
grupo social,
notadas a posteriori
pelo interlocutor,
por ser aplicável a
situações
específicas.
“A empresa”, “eu”,
“nós”, “os
colaboradores”, “os
gestores”, etc.
Expressões como “a
nível global”, “no
mundo”, “no
Brasil”, países,
estados ou regiões
de atuação da
companhia.
Indicações de
eventos em
determinado ano,
eventos em vários
anos de forma
contínua, crescente
ou decrescente ao
longo do tempo.
Passado, presente
ou futuro.
Intenção genérica
expressada pelo
locutor, que faz
sentido em qualquer
operacionais”. – Empresa CSN.
Otimismo Forte
Otimismo Fraco
Otimismo Semiforte
Otimismo Forte
Otimismo Fraco
Otimismo Semiforte
Otimismo Forte
“Busca contínua do aprimoramento da gestão nas esferas econômicofinanceira, social e ambiental, a fim de ampliar a permanente geração de
valor a todos os públicos com quem nos relacionamos”. – Tractebel.
Atos ilocutórios
“Com a mudança estrutural do mercado siderúrgico, em âmbitos nacional
e internacional, a Usiminas reviu suas estratégias (...), manteve-se focada
na redução de custos, na integração e na verticalização produtivas”. –
Empresa Usiminas.
“A Divisão de Aluguel de Carros tem crescido a uma média de 26% nos
últimos anos, ou seja, tem dobrado de tamanho a cada 3 anos. Temos
acompanhado o crescimento do volume de passageiros nos aeroportos,
bem como ampliado nossa participação no mercado fora dos aeroportos”.
– Empresa Localiza.
“Os excelentes resultados obtidos em 2010 comprovam o acerto do
direcionamento estratégico da Petrobras. No ano, foram investidos R$
76,4 bilhões, 8% a mais do que em 2009. Os investimentos destinaram-se
(...) ao aumento da produção de petróleo e gás natural, à melhoria e
ampliação do parque de refino, à contratação de novas embarcações (...) e
à conclusão de obras da malha de dutos (...)”. – Empresa Petrobras.
Atos perlocutórios
“É a integração dos esforços de todos que faz da Cemig a melhor energia
do Brasil”. – Empresa Cemig.
“A Tractebel Energia busca atuar também como multiplicadora das
melhores práticas e disseminar a cultura e o valor da sustentabilidade a
todos os seus públicos. Lançamos em 2010 a Política de Gestão
Sustentável (...)”. – Empresa Tractebel.
“A empresa é orientada para o atendimento às necessidades em produtos e
serviços para seus clientes e focada (...) no crescimento sustentável da
receita de produtos elaborados e processados com base em proteína
animal, tendo sido reconhecida em 2010 pela Revista Exame como a
Melhor Empresa do Agronegócio Brasileiro e pela Revista Isto É Dinheiro
como a Melhor Empresa em Sustentabilidade Financeira, além de outras
distinções”. – Empresa Marfrig.
situação.
Intenção expressada
pelo locutor em
uma situação social,
em certo contexto.
Performance de
convencimento da
fala do locutor.
Os exemplos do Quadro 3 sintetizam o que foi considerado como mensagem de
otimismo fraco, semiforte ou forte. As mensagens foram classificadas como neutras quando
da ausência de otimismo no discurso relativo aos aspectos chaves, os quais exprimem a idéia
central necessária para análise do teor das mensagens quanto a cada nível.
Para que este instrumento de avaliação do otimismo seja validado, foi medida a
consistência interna dos constructos por meio do Alpha de Cronbach. Nas colunas foram
relacionados os oito níveis de análise (N1 a N8) e nas linhas as dez empresas. Para os níveis
classificados como de otimismo forte, atribuiu-se 4; para os níveis de otimismo semiforte, 3;
para os níveis de otimismo fraco 2; e para os níveis de otimismo neutro 1.
Segundo Malhotra (2001) o Alpha de Cronbach é um indicador consistente para
análise da confiabilidade de uma escala, sendo aceitáveis valores de corte iguais ou superiores
a 0,60. Para Hair Jr. et al. (1998), valores de Alpha iguais ou acima de 0,70 são aceitáveis,
sendo que valores inferiores a 0,70 podem ser aceitos em pesquisas exploratórias.
O Alpha de Cronbach, calculado pelo software SPSS®, foi de 0,791, revelando
consistência do instrumento utilizado. Com Alpha do instrumento superior a 0,70, foram
validados os cálculos dos graus de otimismo das mensagens da alta administração contidas
nos RAs das dez empresas analisadas:
Tabela 1 – Graus de Otimismo
Empresa
Instância
conversacional
Instância
Indexical
Instância
Acional
Embraer
0,83
1,00
0,88
Grau de
Otimismo
total
0,9074
Marfrig
1,00
1,00
1,00
1,0000
Otimismo Forte
Cemig
0,66
0,66
0,44
0,5925
Otimismo Semiforte
Oi
0,50
0,77
0,33
0,5370
Otimismo Semiforte
Usiminas
0,83
0,77
0,55
0,7222
Otimismo Forte
Petrobras
0,83
1,00
1,00
0,9444
Otimismo Forte
Tractebel
0,83
1,00
0,77
0,8703
Otimismo Forte
Localiza
1,00
0,77
0,55
0,7777
Otimismo Forte
Souza Cruz
1,00
0,22
0,33
0,5185
Otimismo Semiforte
CSN
1,00
0,44
0,77
0,7407
Otimismo Forte
Status em relação ao grau de
otimismo total
Otimismo Forte
Os resultados apresentam, de forma geral, altos graus de otimismo para as mensagens
da alta administração, confirmando a tese de que os RAs carregam viés, manifestado na falta
de padrão deste relatório narrativo, que possibilita manipulações; atribuição de boas notícias à
administração da companhia e más notícias ao ambiente; entre outros fatores.
No próximo passo calcularam-se os índices propostos por Braga e Marques (2001). A
Tabela 2 apresenta os índices de avaliação da viabilidade financeira das dez companhias para
os grupos Quocientes de Cobertura de Caixa e Quocientes de Dispêndio de Capital, conforme
apresentado no Quadro 1.
Tabela 2 – Quocientes de Cobertura de Caixa e Quocientes de Dispêndio de Capital
Embraer
Cobertura
de Juros
com
Caixa
15,1422
Cobertura
de Dívidas
com
Caixa
0,1351
Cobertura
de
Dividendos
com Caixa
5,2186
Marfrig
2,0669
(0,0018)
Cemig
3,6874
Oi
3,6995
Usiminas
Aquisições
de Capital
Investimento/Financiamento
Investimento/Financiamento (2)
4,5504
0,3582
(9,3608)
0,7102
(0,0257)
(0,8319)
(0,8198)
0,0737
1,8901
4,6850
12,0018
(1,4693)
0,2196
2.539,5732
4,5253
4,3859
(0,5100)
4,7485
0,0588
2,2630
0,2357
(0,8172)
(0,6069)
Petrobras
10,9006
0,2099
5,6756
0,5476
(1,9601)
(0,9839)
Tractebel
8,9995
0,1471
3,1351
3,8618
1,4451
(1,1864)
Localiza
Souza
Cruz
CSN
0,6849
(0,0532)
(20,3889)
(2,7366)
(0,3882)
(7,0487)
43,4988
0,1405
1,2758
1,9535
0,1640
(0,2197)
2,6357
0,0307
1,5906
0,2535
(0,9968)
(0,6499)
Empresa
O alto índice de cobertura de dividendos com caixa da empresa OI decorre-se do baixo
valor de dividendos pagos em 2010 e os constantes índices negativos da Localiza devem-se ao
seu FCO negativo em 2010.
As companhias Petrobrás, Oi e Embraer apresentam o melhor desempenho em relação
aos índices de Cobertura de Caixa, o que sinaliza que seus FCOs cobrem com folgas seus
juros, suas dívidas ou os dividendos distribuídos. Em contrapartida, as companhias Localiza,
Marfrig e CSN apresentam o pior desempenho financeiro nesta categoria de análise. Quanto
aos índices de Dispêndio de Capital, apresentam maiores valores as companhias Oi, Cemig e
Souza Cruz, enquanto Localiza, Marfrig e Petrobras apresentam os menores índices.
Na Tabela 3 apresentam-se os grupos Retornos do Fluxo de Caixa e Quocientes de
Qualidade do Resultado.
Tabela 3 – Retornos do Fluxo de Caixa e Quocientes de Qualidade do Resultado
Embraer
Fluxo de
Caixa por
Ação
1,9785
Retorno do
Caixa sobre
Ativos
0,1160
Retorno s/
Passivos e
PL
0,1465
Retorno
sobre o PL
Qualidade
das Vendas
0,2808
1,0122
Qualidade
do
Resultado
2,1371
Marfrig
0,2036
0,0977
0,0045
0,0109
0,9644
0,0800
1,4638
Cemig
9,3322
0,1766
0,1273
0,3012
0,9986
0,9479
1,2843
Oi
15,1978
Usiminas
0,7005
0,1736
0,1691
0,3013
0,9924
1,3888
1,3277
0,0695
0,0476
0,0708
1,0029
0,6303
0,7471
Petrobras
4,4926
0,1292
0,1154
0,1722
0,9883
1,1725
1,1116
Tractebel
2,5745
0,1895
0,1587
0,3313
0,9766
0,7816
0,9327
Localiza
(0,6310)
0,0360
(0,0494)
(0,1387)
0,9749
(0,2542)
0,1796
Souza Cruz
5,0573
0,4633
0,5852
0,7377
0,9961
0,7935
0,9895
CSN
1,7027
0,1301
0,0744
0,3174
0,9949
0,4967
0,8476
Empresa
Qualidade do
Resultado (2)
1,5174
Em relação ao grupo de índices de Retorno dos Fluxos de Caixa, os destaques
positivos são as companhias Souza Cruz, Oi e Tractebel, enquanto os destaques negativos são
as companhias Localiza, Marfrig e Usiminas. Para a categoria de índices de Qualidade do
Resultado, destacam-se as companhias Embraer, Cemig e Oi. As empresas Localiza,
Tractebel, CSN e Marfrig figuram como aquelas de pior desempenho neste grupo de índices.
Para associação entre os índices financeiros e os graus de otimismo, utilizou-se o
software SPSS® para cálculo da Correlação de Spearman. Por ser esta uma técnica de
correlação por postos, atribuiu-se 10 para a companhia com maior grau de otimismo
(Marfrig), 9 para aquela com o segundo maior grau e assim por diante, restando 1 para a
empresa com menor grau de otimismo (Souza Cruz). O mesmo foi feito para cada índice,
atribuindo-se 10 para a companhia com maior índice, 9 para aquela com o segundo maior
índice e assim por diante. Este procedimento permite verificar se há associação entre o
otimismo presente nas mensagens analisadas e o desempenho medido pelos índices
financeiros, conforme os resultados apresentados na Tabela 4.
Tabela 4 – Resultados das Primeiras Correlações de Spearman
Índices relacionados ao Grau de Otimismo
Coeficiente de Correlação
Significância
Cobertura de Juros com Caixa
-0,152
0,676
Cobertura de Dívidas com Caixa
-0,224
0,533
Cobertura de Dividendos com Caixa
-0,006
0,987
Aquisições de Capital
-0,321
0,365
Investimento / Financiamento
-0,503
0,138
Investimento / Financiamento (2)
-0,552
0,098
Fluxo de Caixa por Ação
-0,539
0,108
Retorno do Caixa sobre os Ativos
-0,491
0,150
Retorno sobre Passivos e PL
-0,503
0,138
Retorno sobre o PL
-0,527
0,117
Qualidade das Vendas
-0,442
0,200
Qualidade do Resultado
-0,164
0,651
Qualidade do Resultado (2)
0,248
0,489
Os resultados iniciais não apontam nenhuma correlação entre otimismo e algum dos
índices financeiros utilizados, ao nível de significância de 0,05. O indicador Investimento /
Financiamento (2) apresenta correlação inversa na ordem de 55,2%, porém a um nível de
significância de 0,10, não utilizado nas ciências sociais.
A segunda tentativa de verificação de associação se deu de forma distinta. Foram
atribuídos postos para as companhias por grupo de índices. À empresa com melhor
desempenho geral nos 3 índices de Cobertura de Caixa foi atribuído valor 10, à segunda
melhor 9 e assim por diante. O mesmo foi feito com os outros três grupos de índices. Em
seguida, relacionou-se o desempenho financeiro por grupo de índices ao grau de otimismo,
sendo realizadas novas correlações de Spearman, com os resultados apresentados na Tabela 5.
Tabela 5 – Resultados das Correlações de Spearman Finais
Grupos de Índices relacionados ao Grau de
Otimismo
Quocientes de Cobertura de Caixa
Coeficiente de
Correlação
-0,030
Significância
0,934
Quocientes de Dispêndio de Capital
-0,685
0,029
Retornos do Fluxo de Caixa
-0,648
0,043
Quocientes de Qualidade do Resultado
-0,358
0,310
Todos os Índices de Fluxo de Caixa
-0,539
0,108
Os resultados revelam forte correlação negativa entre os índices de Retorno de Fluxo
de Caixa com o Grau de Otimismo, na ordem de -64,8%; e forte correlação negativa também
entre os Quocientes de Dispêndio de Capital com o Grau de Otimismo, cerca de -68,5%;
ambos a níveis de significância abaixo de 0,05. Entende-se que o otimismo observado nas
mensagens da alta administração das companhias abertas consideradas transparentes, sob a
perspectiva linguística, guarda relação com o desempenho financeiro expressado por dois
grupos de índices extraídos da DFC, talvez aqueles que de fato ressaltam aos olhos dos
acionistas, constituindo-se nas informações financeiras de seu interesse. Assim, os Retornos
do Fluxo de Caixa, bem como os Quocientes de Dispêndio de Capital têm relação inversa
com o otimismo evidenciado.
5 Conclusões
O objetivo do artigo consistiu em verificar a associação entre o grau de otimismo da
mensagem da alta administração e o desempenho reportado em índices financeiros das
empresas ganhadoras do Prêmio Anefac-Fipecafi-Serasa Experian 2011. Para tanto, criou-se
um instrumento de avaliação do otimismo presente nas mensagens, o qual foi validado ao
revelar Alpha de Cronbach superior a 0,70. Esse instrumento possibilita a verificação de
otimismo fraco, semiforte, forte ou neutro no discurso expressado nas mensagens da alta
administração na medida em que segrega-o para que seja analisado em níveis linguísticos que
compõem as instâncias conversacional, indexical e acional.
Depois de realizadas as análises linguísticas nas mensagens da alta administração para
cálculo dos graus de otimismo, além da análise dos relatórios financeiros divulgados pelas
companhias para cálculo dos índices financeiros, utilizou-se o software SPSS® para cálculo
das correlações de Spearman entre cada índice financeiro e o grau de otimismo das
mensagens. Os resultados para esta primeira rodada de correlações não revelaram
significância entre índices financeiros isolados e o grau de otimismo das mensagens.
Em seguida, considerando as categorias de índices financeiros sugeridas por Braga e
Marques (2001) e não apenas os índices isolados, constatou-se associação inversa entre
Quocientes de Dispêndio de Capital e o Grau de Otimismo atribuído e o mesmo entre Índices
de Retorno dos Fluxos de Caixa e o Grau de Otimismo. Portanto, considerando-se tais
conjuntos de índices, que, conforme Matarazzo (1994), expressam desempenho financeiro de
forma mais completa do que índices isolados, verifica-se associações inversas significantes.
Como os RAs são redigidos pelos gestores após estes conhecerem o desempenho geral
do negócio ao longo do exercício, sugere-se que desempenho insatisfatório nos Quocientes de
Dispêndio de Capital e nos Retornos do Fluxo de Caixa incentivam mensagens mais
otimistas, propositalmente ou não, para amenizar possíveis impactos deste desconforto
financeiro perante os investidores. Já os gestores das companhias em melhor situação
financeira nestas categorias de índices redigem suas mensagens de forma natural, com menor
grau de exagero em termos de otimismo, apesar da evidenciação de ao menos algum otimismo
em todas as mensagens, conforme reflexo nos graus de otimismo calculados.
A limitação principal do estudo consiste no tamanho da amostra. Devido à
profundidade da análise linguística realizada nas mensagens da alta administração, a qual
demanda bastante tempo, além do menor número de companhias que evidenciam a mensagem
da alta administração à parte em seus RAs, a amostra contou apenas com 10 empresas,
inviabilizando regressões.
Como contribuição, o estudo exploratório apresenta indícios de associação entre
desempenho financeiro e otimismo, além de estruturar uma metodologia para quantificação
deste otimismo por meio da abordagem linguística. Assim, os resultados desta pesquisa
possibilitam que stakeholders compreendam possíveis distorções e exageros no uso da
linguagem nos relatórios, servindo também como base para melhorias na confiabilidade das
informações divulgadas.
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