LUGARES DA CIDADE NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

LUGARES DA CIDADE NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE URBANA
(Pesquisa em andamento)
Rodrigo Santos de Lima
Mestrando NPGEO/UFS
Professor SEED/SE
[email protected]
Maria Augusta Mundim Vargas
Professora NPGEO/UFS
[email protected]
INTRODUÇÃO
O mundo atravessa um momento complexo, com características únicas nunca vistas
na história. Esse fenômeno é conhecido por globalização e tende ao aprofundamento das
relações econômica, cultural, social e política. As consequências são sentidas em todas as
áreas da sociedade, rapidez nos deslocamentos, aumento no comércio internacional, nas
comunicações, nas relações sociais, etc.
O estreitamento das relações gera homogeneidade e ao mesmo tempo movimentos de
heterogeneidade, ou seja, no mundo em que tudo tende a ser igual, surge como contraponto a
força da diferença.
É possível notar essa diferenciação no interior das cidades modernas analisando o
mundo vivido, do cotidiano. A diferença produz a especificidade do lugar a partir produção
local do espaço geográfico no contexto urbano. O bairro Bugio na zona norte de Aracaju se
enquadra nessa proposta.
O bairro surgiu em 1978, em decorrência da política habitacional impetrada pelo
Estado com o objetivo de resolver os problemas de moradia na capital e destinava-se a
população de baixa e média renda. É rodeado por áreas de manguezais, apresenta condições
de acessibilidade restritas a duas entradas e possui um cotidiano peculiar, diferenciado de
outras áreas da cidade.
O objetivo é analisar o bairro Bugio como um lugar na cidade. Para tal, serão
observadas as representações sociais relacionadas com concepções da produção do espaço
em Tuan e Lefebvre relacionados ao “mundo vivido”, e a sua contribuição para a construção
da identidade urbana.
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Tem como metodologia a fenomenologia e percepção ambiental do ponto de vista do
espaço vivido, reforçadas com ampla revisão da literatura sobre identidade e lugar em livros,
periódicos, monografias, dissertações e teses, alem de aplicação de entrevistas com atores
sociais representativos no bairro.
A IDENTIDADE NA CONJUNTURA GLOBALIZANTE
A globalização associa-se hoje, a um amplo conjunto de transformações, que
configuram a passagem para um novo paradigma tecno-econômico. Esse novo padrão
tecnológico e produtivo é centrado nas modernas tecnologias de informação e comunicação,
que anulam o espaço através do tempo (MASSEY, 2000), revolucionando as relações
espaço-temporais e fazendo com que a informação passe a ser “o verdadeiro instrumento de
união entre as diversas partes de um território” (SANTOS et al, 1994:17).
As características mais marcantes desse período são a tendência a homogeneização,
expansão das corporações transnacionais e de seu poder de influência, revolução
comunicacional e científica, surgimento de blocos econômicos comerciais, hibridização entre
culturas locais e de massa universal.
A globalização afeta a vida de todas as pessoas e países à escala planetária e implica
a transformação, não só dos sistemas mundiais, mas também da nossa vida cotidiana afetando
a forma como nos vemos e a forma como nos relacionamos com os outros e com os espaços.
Tal interferência é refletida nos modos de vida e comportamentos humanos
influenciados por uma ideologia baseada no consumo e apreendida com base nos meios de
comunicação como disseminador das novas necessidades criadas pelas grandes corporações
internacionais.
HALL (1998, p-69) argumenta que a globalização causa um impacto sobre as
identidades nacionais, caracterizando-se pela ‘compressão espaço-tempo’, acelerando os
processos globais “de forma que se sente que o mundo é menor e as distâncias mais curtas,
que os eventos em um determinado lugar têm um impacto sobre as pessoas e lugares situados
a uma grande distância.”.
O impacto se apresenta tanto na escala local como na global, porém é no local que há
uma maior intensidade da interferência como diz GUPTA e FERGUSON (2000): “O
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resultado é que tanto a arena local como as arenas mais amplas se transformam – a local mais
do que a global, com certeza –, mas não necessariamente numa direção predeterminada”.
É nas cidades que podemos notar uma maior intensidade de impactos da
globalização, sendo uma das principais associada às relações sociais a partir do
comportamento humano.
A hegemonia do urbano no contexto da globalização compreende aspectos referentes
ao papel de cada uma na organização do espaço mundial, além de influenciar diretamente nas
características do rural.
As cidades passam a ser o ponto de controle das ações e ordens a serem executadas.
Explicando do ponto de vista das telecomunicações CLAVAL (1976) elucida:
A gênese dos sistemas de comunicação contemporâneos permite ver
isso de maneira clara: para que uma rede telefônica funcione
eficazmente e sem custo excessivo, é preciso que cada assinante seja
conectado diretamente a uma central telefônica – diz-se ainda um
“referencial”.
Seria pela presença das centrais de todos os tipos que o urbano ganha status, força e
se hierarquizando aumentaria a sua complexidade. “A revolução dos transportes modernos e
das telecomunicações está transtornando a trama das cidades e a hierarquia das redes
urbanas” (CLAVAL, 2008, P-35).
A rede urbana é afetada pela globalização através do surgimento de novas criações
urbanas como também pela refuncionalização de centros preexistentes.
As metrópoles exercem o papel de liderança na hierarquia urbana mundial, devido à
presença dos pontos de controle da sociedade, já as médias e pequenas são responsáveis
principalmente pelo recebimento das ordens e consumo das mercadorias produzidas.
Há a necessidade da existência dos pequenos e médios centros para a reprodução
das necessidades capitalistas como nos diz CORRÊA, (1999, p-45):
A elevada ocorrência de pequenos centros deriva, de um lado, de uma
necessária economia de mercado, por mais incipiente que seja,
geradora de trocas fundamentais em uma mínima divisão territorial do
trabalho. De outro, deriva de elevadas densidades demográficas
associadas a uma estrutura agrária calcada no pequeno
estabelecimento rural ou em plantations caracterizadas pelo trabalho
intensivo.
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Assim como no campo econômico, no social há uma pluralidade a partir da
complexidade das cidades delineadas a partir da maneira como se situam as reflexões sobre
os impactos da globalização no urbano.
CARLOS faz uma análise do lugar na cidade de São Paulo, maior metrópole do país,
notadamente com propriedade, demonstrando aspectos marcantes a respeito do
comportamento dos seus habitantes.
As pessoas passam na rua, umas pelas outras, sem se ver, ninguém
parece ser especialmente notado. O cidadão parece passar
despercebido na multidão de rostos preocupados ou mesmo sem
expressão, perdidos no burburinho de vozes e sons indistintos. O
constante ir e vir das pessoas acontece sem que elas deixem rastros
aparentes... (2007, p-75).
Tais características, por vezes, não se aplicam em determinadas cidades como nas
médias ou pequenas, ou até mesmo em bairros dentro da metrópole. Por isso é preciso tomar
a análise de maneira cuidadosa.
É preciso compreender as cidades a partir das redes e verificando os aspectos que
marcam a diferenciação das metrópoles das outras aglomerações urbanas. As redes
representam o fio condutor das estratégias engendradas a partir dos centros de comando no
interior das metrópoles.
A partir das redes de comunicação podemos interpretar parte os fenômenos urbanos,
mas devemos considerar outros aspectos importantes que foram negligenciados por parte da
ciência.
É a partir da análise dos processos de comunicação que é possível
interpretar as formas construídas, sua densidade mais ou menos forte
e os diferentes aspectos que revestem a nodalidade. O desenho das
ruas, a concepção das construções, seu significado extravasam
evidentemente de uma explicação única da comunicação. Convém
portanto, analisar também os ritmos de vida da cidade, de descrever
sua existência no cotidiano e de evocar sua fisionomia durante o
fim-de-sema e suas transformações no momento das festas. Um lugar
deve igualmente ser dado aos urbanistas e idealizadores da cidade e à
experiência vivida por cada um (CLAVAL, 1981).
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A escassez das pesquisas não decorre das poucas possibilidades de análise, pelo
contrário, há uma relação intensa de proximidade de cultura com o urbano.
CORRÊA (2003, p-175) afirma: “cultura e urbano são termos profundamente
relacionados. A cidade, a rede urbana e o processo de urbanização constituem-se em
expressões e condições culturais”.
No interior das cidades é vasto o campo de possibilidades de reflexões sobre a
cultura principalmente quando tomamos a diferenciação dos lugares presente no urbano.
SILVA (2000) argumenta que as relações sociais que produzem o espaço urbano não
resultam apenas em formas materiais e funcionais que sustentam o processo de produção
capitalista. Elas também são marcadas pelos códigos e símbolos que se constroem na vida
cotidiana e que estabelecem um sentido particular no processo de produção da cidade.
Portanto, a geografia necessita fazer reflexões acerca das características culturais
contidas nos entremeios dos espaços urbanos, tantos metropolitanos, quanto nas cidades
médias e pequenas. Na metrópole a análise de um bairro preenche uma parte dessa lacuna.
O BAIRRO BUGIO: O LUGAR NA CIDADE
A capital sergipana insere-se na hierarquia urbana brasileira como capital regional,
recebendo influência de metrópoles regionais e nacionais e vem tendo uma intensificação do
crescimento urbano iniciado na década de 1960.
A partir da década de 1960 foi beneficiada por políticas de habitação engendradas
pelo Governo Federal através da criação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e do
Banco Nacional da Habitação (BNH) que juntamente com os interesses e ações do setor
privado, foram determinantes no crescimento da cidade.
A ação do SFH/BNH impulsionou o crescimento urbano das capitais brasileiras
privilegiando infraestrutura e a construção de conjuntos habitacionais.
Outro aspecto a ser considerado neste processo, especificamente sobre Aracaju, diz
respeito à erradicação de favelas e áreas de ocupação subnormais do centro urbano
consolidado, bem como a ampliação da oferta de imóveis frente ao grande fluxo migratório
das cidades do interior para a capital e, ainda, pela demanda gerada pela indústria do
petróleo recém iniciada com a chegada da Petrobras em Sergipe.
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Dessa forma, o setor privada e o SFH/BNH se aceleraram na compra de terrenos ao
redor do núcleo urbano consolidado, à época, definido pelo contorno da Avenida Tancredo
Neves. Grandes conjuntos habitacionais são erguidos acrescentando novas feições à
paisagem urbana de Aracaju. Com efeito, os conjuntos habitacionais tiveram uma grande
importância no crescimento urbano da cidade, bem como, no processo de metropolização.
As leis 2.371/82 e 2.578/85 que criaram a região metropolitana de interesse especial
do Estado também favoreceram o crescimento urbano que extrapola os limites, com a
construção de conjuntos habitacionais em outros municípios como de Nossa Senhora do
Socorro, com o complexo Taicoça; São Cristóvão, com o Eduardo Gomes e em Barra dos
Coqueiros.
O Conjunto Assis Chateaubriand, objeto deste estudo, foi o primeiro a ser erguido
nesta nova periferia da cidade, entregue em duas etapas entre 1978 e 1979 com 861 e 1.272
unidades habitacionais, respectivamente. Trata-se, portanto de um grande conjunto para uma
cidade à época com aproximadamente 300 mil habitantes. No entanto, o nome Assis
Chateaubriand quedou-se na documentação oficial e na placa monumento erguida na Praça
Osvaldo Mendonça, principal do conjunto. O nome Bugio sempre definiu o conjunto e hoje o
bairro.
O bairro Bugio apresenta características peculiares em relação a outros da cidade,
sobretudo pela situação singular da área ser rodeada por canais e mangues, o que determina
uma restrição de acesso em apenas dois pontos distantes entre si. Todavia, embora vários
loteamentos e invasões tenham circundado o conjunto, este ainda abriga majoritariamente, os
primeiros moradores que desenvolveram laços de afetividade com o lugar, reforçando sua
singularidade. Assim, pode-se apreender o Conjunto erguido na década de 1970/80 como a
nucleação inicial que comanda uma periferia hoje, bairro Bugio.
A valorização das relações de afetividade realizada pelos indivíduos com o seu
entorno é a principal característica atrelada ao conceito desse lugar, Bugio, pois:
A especificidade de um lugar é continuamente reproduzida, mas não é
uma especificidade resultante de uma história longa, internalizada. Há
várias fontes dessa especificidade – da singularidade do lugar. Há o
fato de que as relações sociais mais amplas, nas quais o lugar se
encaixa, são também geograficamente diferenciadas. A globalização
(na economia, na cultura ou em qualquer outra coisa) não acarreta
simplesmente a homogeneização. Ao contrário, a globalização das
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relações sociais é uma outra fonte (da reprodução) do
desenvolvimento geográfico desigual e, assim, da singularidade do
lugar (MASSEY, 2000, P-185).
A especificidade do lugar estaria relacionada a produção local diferenciada do espaço
geográfico a partir de suas relações sociais delineadas no contexto cotidiano do mesmo.
A definição de um lugar pela sua cultura única está em vias de desaparecimento. As
análises atuais mostram isso. HAESBAERT (2005) trabalhando o conceito de território
corrobora a ideia citando uma característica das culturas diferentes trabalhando no conceito
de “multiterritorialidade”. E, CANCLINI (2006) trabalha a ideia de “culturas híbridas”
dizendo que não há separação abrupta entre cultura moderna e tradicional: “Assim como não
funciona a oposição abrupta entre o tradicional e o moderno, o culto, o popular e o massivo
não estão onde estamos habituados a encontrá-los”. P-19.
A complexidade do momento exige a compreensão do fenômeno da hibridização
cultural num contexto de lógicas de desenvolvimento, em sentido amplo, diferenciados entre
os lugares. Nesse contexto, o bairro Bugio estaria na acepção de um lugar na cidade, a partir
das relações sociais cotidianas sendo reveladas através das representações do concebido,
percebido e vivido e, com isso, a existência de uma identidade característica. Para TUAN
(1980) o espaço vivido associa-se a percepção das formas geométricas existentes no espaço
contribuindo para a construção da identidade.
RESULTADOS PRELIMINARES: O BUGIO COMO ESPAÇO VIVIDO
É evidente que bairro Bugio passou por inúmeras transformações desde o seu
surgimento. A mais expressiva foi, de fato, a expansão sobre as áreas de proteção ambiental
dos mangues situados ao redor do Conjunto Bugio, desde sempre. O processo de ocupação
desordenada, leia-se invasão, ocorreu genericamente em todo o país, no entorno dos
conjuntos habitacionais e, o Bugio não fugiu à regra. A população de baixa renda instala-se
contígua no Conjunto, usufruindo, sobretudo, da oferta de transporte e dos serviços criados,
“envelopando-o” com palafitas, criando uma barreira entre o Conjunto e o mangue. Neste
período surgiram as favelas Estrela do Oriente, Beira Rio e Anchietão, hoje loteamentos após
a intervenção do município.
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A consolidação do bairro ocorre com a ação pública de maior visibilidade que é a de
infraestrutura. Em 2005, houve a urbanização completa do Anchietão e Estrela do Oriente.
Em todos eles a prefeitura executou os serviços de drenagem, terraplenagem e calçamento
com paralelepípedos e, em 2008, realizou o benefício no Beira Rio.
A expansão continua pois há ainda áreas com palafitas nas bordas dos loteamentos
cuja população vive em precárias condições de vida. Essa ocupação instalou-se sobre a
última franja de mangue restante do lugar. Observa-se que em alguns pontos do Beira Rio, as
marés altas alcançam a alvenaria das casas e as palafitas já sinalizam a penetração sobre o
canal dos riachos Palame e Cabral que circundam o bairro.
O bairro possui características semelhantes as das pequenas cidades onde há uma
vida mais intensa em comunidade porque a maioria das pessoas se conhecem, indicando
relações sociais fortes e ligadas a afetividade com o lugar.
Além disso, o bairro possui vários locais que podem ser considerados como
ambientes de efervescência no convívio, as ruas e as praças principalmente.
Nos dias de semana sem eventos festivos, o cotidiano do bairro apresenta-se no
período da manhã a partir do movimento de crianças e jovens indo para as escolas e os
trabalhadores saindo de casa para o trabalho. Os mais idosos, na sua maioria, fazem
caminhada pelas ruas, como forma de manter uma atividade física constante, outros preferem
conversar e jogar dominó nas praças. No domingo, o movimento é nitidamente direcionado
aos cultos das igrejas evangélicas, da igreja católica e para as compras da semana na feira do
bairro.
Por volta do meio-dia as crianças e jovens estudantes do turno matutino voltam para
as suas casas e as do turno vespertino vão para a escola e o movimento das ruas diminui
drasticamente em virtude do tempo quente na maior parte do ano ser nesse horário. No
domingo, muitas pessoas reúnem seus familiares e amigos em casa e fazem festas. Outras se
deslocam até os bares do bairro para tomar cerveja e conversar com amigos.
Ao entardecer, por volta das 17 horas, aumentam os fluxos de pessoas nas ruas,
estudantes voltando para casa, as donas de casa indo ao supermercado fazer compras, indo
as padarias comprar pão. Alguns moradores praticam esporte na praça, vôlei e futebol
principalmente. Aumenta o tráfego de carros e ônibus nas ruas transportando trabalhadores
de volta para casa.
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À noite destacamos as praças, possuidoras de infraestrutura como parque infantil,
campos de futebol, quadras polidesportivas, bancos e mesas de concreto onde as pessoas se
encontram e trocas experiências. Também nas portas das residências, há encontro de
vizinhos. Nos fins de semana o movimento se intensifica, principalmente com os grupos de
futebol, que possuem “peladas” organizadas no sábado e domingo.
Esses espaços públicos servem também de ponto de encontro quando há eventos
festivos. O de maior destaque é a comemoração do dia de Nossa Senhora Aparecida em 12
de outubro. Os preparativos são realizados com cerca de quinze dias de antecedência,
mobilizando os moradores com novenas. No dia da festa, há peregrinação com a participação
de trio elétrico tocando músicas com tema religioso, que sai da Paróquia Nossa Senhora de
Lourdes no Siqueira Campos e vai até o Bugio, há missas ao longo dia na Paróquia Nossa
Senhora Aparecida, localizada na praça principal do bairro – Praça Vereador Osvaldo
Mendonça – e culmina no início da noite com a procissão pelas ruas do bairro. A procissão
atrai muitas pessoas de outros bairros e até de outras cidades, reunindo aproximadamente
vinte mil pessoas.
Outros momentos de festa que mobilizam a população são os dias de São João e de
São Pedro. As pessoas constroem arraiais, queimam fogueiras, soltam fogos, as escolas
realizam festejos e criam quadrilhas que se apresentam nos espaços públicos. As pessoas se
reúnem nas portas das residências para festejar.
Quando as pessoas criam ligações com espaços físicos pela experiência, memória e
intenções elas criam sentimento e isso dá o sentido do lugar. Através dos símbolos criados a
partir do espaço físico utilizando as representações sociais, o lugar ganha relevância, e pode
constituir um lugar identitário na cidade. Estas questões ainda estão por serem desvendas com
relação ao bairro Bugio.
Com efeito, o processo de urbanização mundial acelerou concomitantemente a
globalização no século XX. A globalização afetou diretamente as relações econômicas,
sociais e culturais, principalmente no contexto urbano, centro das decisões mundiais que
afetam todos os outros locais. Ao mesmo tempo em que as identidades perdem força, há um
movimento contrário, de reação à imposição de novos valores nos lugares. Assim, registra-se
uma contradição: tendência homogeneizante de um lado, e de outro tendência à fragmentação
através da força da diferença. Diferença essa resultante das maneiras de apreensão do lugar
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pelas pessoas a partir das representações sociais. É fato que os espaços, principalmente os
públicos, exercem influência direta na vida cotidiana, possuem significado que agregam
coletivamente como desvendado no Bugio.
Dessa maneira, as características peculiares do cotidiano do Bugio, situação no
contexto urbano de Aracaju e manutenção de práticas sociais foram demonstradas como
indicadores da construção da identidade de seus moradores para com o lugar.
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