Investigadora de Coimbra desenvolve agente anti-cancerígeno 26.03.09 - 12:35 Uma equipa internacional de cientistas, liderada por uma investigadora da Universidade de Coimbra, desenvolveu um novo agente anti-cancerígeno que apresenta resultados promissores ao nível das propriedades terapêuticas no combate à doença, disse hoje fonte universitária. «Apresentou resultados muito animadores e promissores, provando ser eficaz no combate à doença com menos efeitos secundários», disse hoje à agência Lusa Maria Paula Marques, a investigadora que coordena uma equipa internacional de 17 cientistas. O agente anti-cancerígeno, desenvolvido à base de paládio - um elemento metálico utilizado em áreas como a medicina dentária ou odontologia, mas também na indústria farmacêutica, petrolífera ou electromecânica - foi testado em laboratório, utilizando células humanas saudáveis e cancerígenas. «Fizemos testes in vitro só em células humanas, um modelo muito mais fiável do que as células animais», declarou. Os testes passaram pela preparação de dez compostos diferentes derivados da cisplatina - base de muitas das actuais drogas anti-cancerígenas em uso clínico desde os anos 70 do século XX - cada um sujeito a um processo «moroso» de síntese, caracterização e avaliação da sua actividade do ponto de vista biológico e médico. «É como fazer uma casa em Lego. Vão-se modificando várias peças na casinha para chegar ao melhor resultado final», ilustrou a especialista em bioquímica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). A pesquisa levou à obtenção de um agente terapêutico de paládio, em vez da platina, testado em diversos tipos de cancro, como a leucemia, útero, mama ou língua. «Mostrou ser altamente eficaz ao causar a morte de células doentes, afectando menos células saudáveis», frisou a cientista. A investigação liderada pela investigadora da FCTUC, é financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), tem aconselhamento médico do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra e envolve especialistas de institutos e universidades de Espanha (Málaga), Reino Unido (Oxford) e Estados Unidos da América (Nova Iorque, Virgína e Minnesota). No âmbito da pesquisa estão a decorrer experiências no Roswell Park Cancer Institute, nos Estados Unidos da América, que visam testar "dentro de alguns meses" a actividade anti-cancerígena do novo composto em animais, para determinar a relação entre a dose utilizada e a resposta ao tratamento. A fase seguinte poderá passar, então, pelo desenvolvimento de um novo fármaco que possa entrar em testes clínicos, embora Maria Paula Marques alerte para a necessidade de «mais pesquisa» e «muitos anos de investigação científica» antes da utilização clínica. «Nos últimos dez anos têm sido estudados milhares de novos agentes contendo platina e paládio e só um chegou, por enquanto, à fase de testes clínicos», revelou. Ainda segundo a investigadora, a eventual aplicação clínica passa, igualmente, pelo interesse de uma empresa farmacêutica. «De outro modo é muito difícil», assinalou.