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São Luís, 23 e 24 de abril de 2016. Sábado/Domingo O Estado do Maranhão
CIDADES
Imóveis e terrenos abandonados
são risco para acúmulo de água
Moradores do Monte Castelo temem que o acúmulo de sujeira e a existência de piscinas e tanques possam
estar servindo de criadouros para o Aedes aegypti; há vários casos de dengue, zika e chinkungunya no bairro
Biné Morais
Prédio do antigo Cine Monte Castelo está fechado há anos e, sem conservação, deteriora-se; segundo moradores, parte da cobertura está danificada e a laje acumula água, podendo virar criadouro do Aedes
GISELE CARVALHO
Da equipe de O Estado
I
móveis e terrenos abandonados têm se tornado uma das
principais preocupações dos
moradores do bairro Monte
Castelo, em São Luís. Isso porque o
bairro vive um surto de zika, chikungunya e dengue, e as pessoas
acreditam que esses locais possam
estar servindo de criadouros para
o mosquito. A localidade é uma das
12 que estão com risco de terem
um surto de doenças causadas pelo Aedes, decorrente do alto índice
de infestação predial.
Um dos prédios que estão nessa situação e mais chama a atenção é o antigo Cine Monte Castelo.
O prédio está abandonado há anos
e serve hoje de abrigo para mora-
dores de rua e usuários de drogas,
segundo os moradores do entorno.
Como a cobertura do prédio está
danificada, parte da laje acumula
água da chuva, o que pode se tornar um ambiente favorável à proliferação do mosquito.
E não é só o antigo cinema que
preocupa as pessoas. Na mesma região, há um sobrado abandonado
na Rua Manoel Beckman, no qual
há uma cisterna sem tampa. No momento, o reservatório está vazio. Mas
os moradores do entorno se dizem
preocupados com a possibilidade
dele armazenar água da chuva e das
paredes da cisterna já terem ovos do
Aedes aegypti.
Os ovos adquirem resistência ao
ressecamento muito rapidamente.
A partir de então, podem resistir a
longos períodos de dessecação – até
Situação
preocupa os
moradores
No bairro, há
vários prédios
abandonados
Comunidade quer
intervenção do
poder público
População de 20 a 39
anos é a mais atingida
por doenças do Aedes
No primeiro trimestre do ano, foram notificados 2.407 casos de dengue,
zika e febre chikungunya na população dessa faixa etária no Maranhão
Jovens e adultos de até 39 anos, faixa
da população considerada a mais
produtiva, são os mais acometidos
pelas doenças transmitidas pelo
mosquito Aedes aegypti em São Luís.
É o que revela a Secretaria de Estado
da Saúde (SES). De acordo com dados do Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan), neste ano a faixa etária com maior número de casos suspeitos é de 20 a 39
anos. No entanto, a secretaria alerta
que todas as pessoas, independentemente da faixa etária, podem contrair uma das doenças, por isso, os
cuidados precisam ser os mesmos.
De acordo com o Sinan, até a 13ª
semana epidemiológica – equivalente ao primeiro trimestre do ano foram notificados 2.407 casos de
dengue, febre chikungunya e zika vírus na população de 20 a 29 anos.
Entre as pessoas de 30 a 39 anos, foram 2.229 casos notificados.
A família da jornalista Aline
Alencar, de 28 anos, que mora no
Cohatrac, foi uma das vítimas do
mosquito. Na terça-feira à noite,
ela levou a avó, de 91 anos, a uma
emergência médica com sintomas da febre chikungunya. Na
mesma noite, a mãe dela, de 59
anos, também teve sintomas da
doença. As duas tiveram sintomas
como tremedeiras, febre e inchaços nas articulações.
No dia seguinte, foi a vez de a jornalista sentir os sintomas do zika vírus. “Estou com inchaço nas mãos
e pés e com uma leve coceira, além
de indisposição e um estado febril”,
informou. Ela está tomando remédios para febre e dores no corpo.
“Como minha mãe e avó foram ao
hospital e as emergências estão muito lotadas e os sintomas não estão
graves, por enquanto estou me tratando em casa, com medicação para aliviar as dores e a febre”, disse.
Já o servidor público Rafael
Moscoso, de 34 anos, está com sintomas mais fortes. Ele está no quarto dia da chamada fase aguda da
febre chikungunya, que é quando
os sintomas se manifestam. Ele
sentiu inicialmente dores no pul-
MAIS
Telefone para
as denúncias
A população de São Luís
pode denunciar focos do
mosquito Aedes aegypti
para a coordenação
municipal pelo telefone
3212-8282. O atendimento
ocorre todos os dias da
semana, das 8h às 12h e das
14h às 18h. Para auxiliar na
denúncia, é importante que
informe o endereço ou
ponto de referência do local
onde o foco do mosquito
precisa ser verificado.
so, mas pensou que tivesse feito esforço além do comum no trabalho.
“No dia seguinte, eu acordei com
muitas dores nos punhos, nos quadris e nos pés. Além desses sintomas, estou com febre de 39,8 ºC e
450 dias. Esta resistência é uma grande vantagem para o mosquito, pois
permite que os ovos sobrevivam por
muitos meses em ambientes secos,
até que o próximo período chuvoso
e quente propicie a eclosão.
Doentes
As pessoas reclamam ainda de uma
casa com piscina, que está abandonada na Avenida Getúlio Vargas.
Concimar Melo Moraes mora há 20
anos ao lado dessa residência e está
com chikungunya há alguns dias.
Apesar dos cuidados que ela tem
na própria casa para combater o Aedes, a existência da piscina ainda a
preocupa muito. “Nós já batemos lá
para conversar e ver se pode esvaziar ou entupir essa piscina, mas não
teve jeito. Agora, estou com chikungunya pela primeira vez. E não foi só
eu. Foram várias pessoas do bairro.Estamos sendo muito prejudicados”, disse a moradora.
Situação semelhante ocorre na
Travessa da Vitória. No local, há um
antigo depósito de uma fábrica de
cimento, onde estão vários tanques
de água abandonados. Os vizinhos
contam que um agente de saúde já
esteve no local há duas semanas e
informou que providenciaria a ida
de um carro fumacê, mas isso nunca se concretizou.
Com a infestação de mosquitos,
várias pessoas têm apresentado os
sintomas da dengue, zika e chikungunya. Gilmar da Silva, por
exemplo, foi diagnosticado com
chikungunya há cinco dias. Já Eliza Monteiro Leite teve zika. Ela se
diz preocupada com a situação. “É
um abandono completo, o que es-
tamos vivendo e estamos sujeitos
a pegar essas doenças. Estamos
correndo perigo dentro da nossa
própria casa”, declarou.
Por causa de todos esses casos e
muito outros, os moradores clamam
por uma intervenção no bairro. “A
pessoa faz sua parte, mas o vizinho
se muda para outro bairro, deixa a
casa fechada e prejudica os outros.
Não adianta a gente se prevenir se
isso acontece. Queremos que o poder público venha e intime os proprietários dos imóveis para abri-los
e avaliar os riscos”, afirmou o empresário Arnaldo Júnior.
VÍDEO NA
VERSÃO DIGITAL
oestadoma.com
De Jesus
dores pelo corpo todo”, afirmou.
Todas as idades
Segundo a SES, o vírus que causa
das doenças pode afetar pessoas de
qualquer idade ou sexo, mas os sintomas tendem a ser mais intensos
em crianças e idosos. Pessoas com
doenças crônicas têm mais chances de desenvolver formas graves
das doenças. É o caso da avó de Rafael Moscoso, que tem 88 anos e sofre de artrose, o que aumenta a intensidade das dores articulares causadas pela febre chikungunya. A
idosa está há seis dias apresentando os sintomas da doença.
A SES recomenda que em caso de
suspeita de dengue, zika ou chikungunya, o paciente deve procurar um
serviço de saúde mais próximo. A secretaria destaca ainda que não existe vacina ou tratamento específico
para as doenças e que apenas os sintomas são tratados. A SES frisou
também que não é recomendado o
uso de ácido acetilsalicílico, a popular AAS, devido ao risco de hemorragia. Recomenda-se repouso absoluto ao paciente que deve beber líquidos em abundância. Em relação
às gestantes, orienta-se a utilização
de roupas compridas (calças e blusas) e uso de repelente, além disso,
utilizar telas em janelas e portas e
mosquiteiros.
Combate ao mosquito
Em São Luís, continua o reforço às
atividades promovidas pela Secretaria Municipal de Saúde (Semus).
O objetivo é eliminar os focos do
Moradores de São Luís têm que conviver com lixão em plena rua
mosquito Aedes aegypti e impedir o
avanço das três doenças transmitidas por ele. De 29 de janeiro a 15 de
abril, a atividade passou por 38 bairros. As equipes visitaram 43.566 imóveis, destes, 1.220 apresentaram focos do mosquito e um total de
10.275 foram alvos de tratamento.
Nos imóveis encontrados fechados,
a equipe retorna posteriormente para devidas verificações.
Entre as atividades executadas durante as mobilizações da campanha
estão visita domiciliar, visita em pontos estratégicos, tratamento químico com carro fumacê, recolhimento
de bagulho volumoso e pneus. A última mobilização ocorreu na região
do bairro São Cristóvão com vistoria
em cerca de 9 mil imóveis nos bairros Jardim São Cristóvão, Ipem São
Cristóvão e Cohapan. 
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