A INFLUÊNCIA DE FATORES SOCIAIS NA DINÂMICA HIDROLÓGICA DAS BACIAS DOS RIOS BANABUIÚ E ALTO JAGUARIBE Alcione Moreira do Carmo Bolsista PIBIC/CNPq e Graduanda em Geografia/UFC [email protected] RESUMO O estado do Ceará, Nordeste do Brasil, possui onze bacias hidrográficas. Os rios, na maioria, são intermitentes, possuindo vazão de água apenas no período chuvoso, mas ainda assim são importantes para o abastecimento de água do estado. Assim é que ao longo do percurso desses rios e de seus afluentes, estão situados vários açudes de pequeno e até grande porte. A região centro sul do Estado do Ceará é drenada pelas bacias hidrográficas do alto Jaguaribe e do Banabuiú. Para a realização do trabalho, foram feitas análises de imagens de satélites e de mapas além de análise de fotografias, observação em campo, e revisão bibliográfica dos temas relacionados à questão. Atualmente a dinâmica geomorfológica/hidrológica desses rios estão sendo influenciadas pelas atividades humanas, particularmente ao desmatamento desordenado nas nascentes dos rios e nas margens dos mesmos. A erosão do solo está produzindo assoreamento do leito dos rios e dos açudes que se encontram ao longo dos vales fluviais. A gestão e o gerenciamento dos recursos hídricos dessas bacias necessita, portanto urgentemente levar em consideração a dinâmica geomorfológica local. Palavras Chave: Bacias fluviais; degradação de recursos hídricos; Desmatamento ABSTRACT The state of Ceará, Northeast of Brazil, has eleven hydrographic basins. The rivers, in the majority, are intermittent, but nevertheless, important for the supplying of water for the state, in such a way that along the fluvial valleys are situated several dams of small and big size. The central area of the state is drained by the basins of Jaguaribe and Banabuiú rivers. For the achievement of this work, were analyzed satellites images, maps, aerial photographs, field observation and bibliographical revision of the subjects related to the question. At the Present, the geomorphological and hydrological dynamics of those rivers are influenced by the human activities, particulary related to deforestation and destruction of water sources and fluvial plains. The erosion of soil is resulting in filling of the rivers’s beds and dams. The management of the water resources of those basins needs, therefore, to be linked to considerations about its local geomorphological and hydrological dynamics, in view to forbiden an environmental large damage. Key words: fluvial basins; deforestation; hydrological ressources and degradation. INTRODUÇÃO O Nordeste brasileiro, principalmente sua porção territorial, está dentro da zona de clima semiárido. A região sofre constantemente com a oscilação do regime de chuvas, que causa longos períodos de estiagem, fato que influencia diretamente no armazenamento de água nos rios e reservatórios, acarretando grandes transtornos para as populações nordestinas. O Estado do Ceará, Nordeste do Brasil, em termos hidrográficos, possui onze bacias hidrográficas, que são formadas por rios importantes para o abastecimento de água do estado. Tal situação ocorre apesar do caráter intermitente que os rios apresentam, possuindo vazão de água apenas no período chuvoso. Ao longo do percurso desses rios e de seus afluentes, estão situados vários açudes de pequeno, médio e até grande porte, que são responsáveis pelo abastecimento de água para todo estado. A região centro sul do Estado do Ceará é drenada por duas bacias hidrográficas de relevância para o estado, que são as bacias do alto Jaguaribe e do Banabuiú (figura 1). Essas bacias têm parte de suas nascentes localizadas nas serras que estão situadas entre os municípios de Acopiara, Piquet Carneiro, Mombaça e Catarina. Essas serras compõem a porção sul do maciço central do Ceará, suas topografias relativamente elevadas variando entre 500 a pouco mais de 800 metros de altitudes são um dos divisores de águas das bacias de Alto Jaguaribe e Banabuiú. Figura: 1. Mapa de localização das bacias do Banabuiú e Jaguaribe. . OBJETIVO O objetivo do presente trabalho é apresentar as bacias hidrográficas do Banabuiú e Alto Jaguaribe bem como discutir a influência dos fatores geomorfológicos e sociais na dinâmica hidrológica dessas bacias hidrográficas, principalmente em alguns dos seus altos cursos que também é um dos divisores de águas, que se situam nas serras cristalinas do segmento sul do chamado “Maciço Central do Ceará”. MATERIAIS E MÉTODO A metodologia utilizada para elaboração do referido trabalho está pautada na análise Geossistêmica. A teoria Geossistêmica, adaptada à Geografia Física, tem como principais percussores Sotchava (1977), Bertrand (1968). O Geossistema compreende a análise integrada dos diferentes elementos da paisagem, tendo fundamental a interação desses elementos em forma de um canal aberto, onde um complementa e interliga a outros subsistemas menores que é parte do sistema maior. Além disso, um elemento fundamental da análise Geossistêmica tem que ser salientado: a inclusão da ação social na análise do espaço geográfico. Para a realização do trabalho, foi realizada revisão bibliográfica dos temas relacionados à questão discutida nesse trabalho. Foram ainda feitas análises de imagens de satélites LADSAT, SRTM, Google Earth e análise de fotografias,, além de mapas geológicos, geomorfológicos, topográficos e de bacias hidrográficas. Foram realizadas observações em campo, das vertentes que dão origem as nascentes e aos divisores de águas das bacias do Banabuiú e Alto Jaguaribe. RESULTADOS E DISCUSSÃO A área estudada está dentro da faixa que compreende o clima tropical-equatorial, com sete a oito meses secos, também classificado como semi-árido (MENDONÇA e DANNI-OLIVEIRA, 2007). A precipitação pluviométrica anual varia de um ano para o outro, oscilando entre 400 a 900 milímetros, que são concentrados em quatro meses. A quadra chuvosa começa normalmente em fevereiro e termina em junho; no entanto, é bem comum ocorrer as primeiras chuvas nos meses de dezembro e janeiro, caracterizando a denominada “pré-estação chuvosa”. Durante a maior parte do ano, no entanto, por não chover com regularidade todos os meses e por ocorrer grandes taxas de evapotranspiração, há déficit de água no solo, diminuindo a vazão de águas nos rios. Bacias do Banabuiú e Alto Jaguaribe NA bacia do rio Banabuiú estão situados 12 municípios, dentre eles Mombaça e Piquet Carneiro, que fazem divisa com Acopiara, demarcando o divisor de águas entre as duas bacias. A bacia drena cerca de 13,37% do Ceará, com área de 19.316 Km². A capacidade hídrica de acumulação para os reservatórios do tipo açude é da ordem de 2.755.909.000 bilhões de m³. O Rio Banabuiú, alem de receber água de rios importantes como o Quixeramobim, é também o principal tributário do Rio Jaguaribe, com confluência ocorrendo no município de Limoeiro do norte. A Bacia do Alto Jaguaribe é composta pelos afluentes do alto curso do rio Jaguaribe. Esse setor drena uma área de 24.636 km², o que corresponde a 16,56% do território cearense. No interior da bacia situam-se 24 municípios, dentre eles Acopiara, que conta com algumas das nascentes desse rio, situadas nas serras do maia e flamengo. a capacidade de acumulação de águas superficiais é de aproximadamente 2.792.563.000 bilhões de m³, totalizando 18 açudes públicos, que são gerenciados pela COGERH – companhia de gestão dos recursos hídricos. O desmatamento Ocasionado Por Usos Socias nas Bacias Fluviais O desmatamento nas serras cearenses tem sido um problema crescente. A questão adquire contornos sociais delicados, considerando-se o fato de que, no sertão cearense, a cultura da prática do desmatamento e das queimadas para a realizar atividades de agricultura, do tipo tradicional, já está enraizada na sociedade, e passa de uma geração para outra. Com efeito, para a realização das atividades agrícolas, a técnica mais utilizada é a do desmatamento extensivo, para retirada da vegetação e limpeza do terreno. a limpeza completa é realizada pela queimada. Essa prática é, no Ceará, ocorrem com mais intensidade entre os meses de outubro a dezembro, período do ano em que o solo e a vegetação estão mais secos, pois corresponde à estação seca. O desmatamento atinge diretamente as bacias hidrográficas cearenses, tendo em vista que ele é praticado tanto nas nascentes dos rios, nos setores topograficamente elevados, quanto nas áreas mais rebaixadas, ao longo das planícies de inundação, destruindo a vegetação que margeia o curso dos rios. Esse tipo de prática, realizada pelos agricultores, sobretudo os de baixa renda, implica em exposição direta do solo à ação das chuvas, o que resulta em erosão acelerada. Assim, os sedimentos são transportados com grande intensidade, por movimentos de massa e escoamento superficial, sendo finalmente depositados nos leitos dos rios e açudes, produzindo assoreamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS A erosão do solo está produzindo assoreamento do leito dos rios e dos açudes que se encontram ao longo dos vales fluviais. Os açudes estão, por esse fator, e diante do quadro de semi-aridez da região, apresentando indícios elevados de salinidade. A população do entorno desses recursos hídricos depende dessas águas superficiais para a subsistência, caracterizando assim um problema de ordem socioambiental. A gestão e o gerenciamento dos recursos hídricos dessas bacias necessitam, portanto urgentemente levar em consideração a dinâmica geomorfológica local, no intuito de conscientizar as populações que vivem próximos as nascentes e aos cursos dos rios e que também se utilizam dessas águas, para que não desmate as nascentes evitando assim o assoreamento dos rios e açudes e até enchentes num período chuvoso mais intenso. BIBLIOGRAFIA CENTRO DE PREVISÃO DE TEMPO E ESTUDOS CLIMÁTICOS. Monitoramento de queimadas, 2005-2008, Brasil,2009. COMPANHIA DE GESTÃO DOS RECURSOS HIDRICOS. Comitê de Bacias Hidrograficas CHRISTOFOLETTI,A. Geomorfologia. São Paulo: Ed. Edgard Blucher, Edusp, 1974. CLAUDINO-SALES, V.C. Geografia, Sistemas e análise ambiental: abordagem critica. In: GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, nº. 16, pp. 125 – 141, 2004. CLAUDINO-SALES, V.C. Sistemas Naturais e Degradação Sócio-Ambiental no Estado do Ceará. In: Fórum da sociedade civil cearense sobre meio ambiente e desenvolvimento: Diagnóstico SócioAmbiental do estado do Ceará: O olhar da sociedade civil. Fortaleza: 1993.200p. MENDONCA, F. A.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: Noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Editora Oficina de Textos, 2007. v. 1. 208 p. PINHEIRO, R. M. P. Sub-bacias Hidrográficas do Alto Jaguaribe (Tauá-CE): vulnerabilidades ambientais ante a incidência de degradação/desertificação. 2003.