53 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2015. ISSN 2317-9759 VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO RURAL POR MEIO DO TURISMO RURAL CUNHA, Luiz Alexandre Gonçalves Cunha 1. KLOSTER, Silvana Kloster2; MIRANDA, Everton Miranda3; Introdução O turismo rural está inteiramente interligado a paisagem através dos símbolos, que no meio rural são as lidas rurais, os saberes e fazeres, a agricultura, a pecuária, a culinária típica, o modo de vida, etc. Assim, o turismo rural busca a essência da paisagem para proporcionar sua valorização e preservação, através da relação indivíduo-campo. Que a partir das experiências e vivências, tem-se a construção de um patrimônio rural expressado nas paisagens do campo, ou paisagens rurais. O patrimônio cultural rural é o conjunto de registros de materiais e imateriais decorrentes das práticas, dos costumes e das iniciativas produtivas que se estabelecem, historicamente e territorialmente no ambiente rural. No qual, o próprio aclara a memória e a vivência dos moradores do campo implicado com as paisagens. Objetivos O objetivo deste trabalho é discorrer sobre a interface do turismo rural com o patrimônio rural. Ressaltando a importância do turismo rural para a valorização do patrimônio rural e suas paisagens. Metodologia A pesquisa apresenta uma metodologia implicada na leitura sistemática de obras sobre o turismo rural, patrimônio rural e paisagem, e estudo de caso in loco. Para compreensão do tema, recorremos à hermenêutica que está ligada a comunicação, a interpretação, a linguagem, ao texto entre outros. Podendo ser também o sentido-do-ser, mostrando o ser-no-mundo (o seu mundo vivido). Portanto, a proposta hermenêutica oferece um interessante potencial de abordagem para compreensão da dinâmica do mundo vivido e das permanências e transformações que influenciam os modos de constituição do lugar e dos processos de percepção e significação da paisagem (GERALDES, 2011, p.59). Resultados e discussões O patrimônio no campo é entendido como patrimônio cultural rural, rodeado pelas interpretações, tanto de quem as vivem quanto de quem as percebem. Para a materialização 1 Professor do Departamento de Geociências da UEPG, email: [email protected] Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UEPG, email: [email protected] 3 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UEPG, email: [email protected] XXII Semana de Geografia, IV Semana e Jornada Científica De Geografia do Ensino a Distância da UEPG, XVI Jornada Científica da Geografia e IX Encontro do Saber Escolar e Conhecimento Geográfico. “Concepções Geográficas: Rompendo Barreiras Disciplinares” 2 54 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2015. ISSN 2317-9759 desse patrimônio, as linguagens têm papel fundamental, pois, através delas o indivíduo cria o seu ser-no-mundo e se expressa pelas vivências e experiências. Como o campo está preenchido de linguagens patrimoniais e interpretações, também de patrimônio rural; neste ínterim, o turismo rural tem o papel de resgatar e valorizar as linguagens e interpretações, conjuntamente o patrimônio rural e a paisagem. De acordo com Kloster (2013, p.36) “[...] o turismo rural envolverá as atividades rurais, os produtos típicos rurais e a própria paisagem”. Assim, o turismo rural enfoca na essência da cultura do campo, envolvendo as tradições e as paisagens, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural [rural]. O próprio em sua maioria está ligado às vivências campesinas e as tradições do campo, mostrando a cultura local e a identidade de seus indivíduos envolventes. Por dar atenção às tradições rurais, o turismo rural se relaciona com o patrimônio rural para valorizar e promover as linguagens e interpretações que há no campo; como mostra na figura 1 a seguir: Figura 1: O espaço rural – interfaces entre o turismo rural e patrimônio rural. Fonte: KLOSTER, S. 2014. A ideia de patrimônio cultural rural está relacionada às linguagens patrimoniais dos sujeitos, seja ela de arranjo material ou imaterial. A autora comenta que “os patrimônios da cultural rural auferiram visibilidade com o início da modalidade de turismo rural (...), com a valorização do modo de vida rural, da paisagem rural e tudo que ela contempla” (PRETTO, 2014, p.23). Isto mostra que o turismo rural se comporta como um aporte para a preservação e valorização do patrimônio rural. XXII Semana de Geografia, IV Semana e Jornada Científica De Geografia do Ensino a Distância da UEPG, XVI Jornada Científica da Geografia e IX Encontro do Saber Escolar e Conhecimento Geográfico. “Concepções Geográficas: Rompendo Barreiras Disciplinares” 55 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2015. ISSN 2317-9759 Segundo Pretto (2014, p.129-130) o bojo de patrimônios culturais rurais, (...) contempla os saberes utilizados no cotidiano – o conjunto do saber-fazer relacionado ao cotidiano rural – que podem ser considerado patrimônio cultural imaterial; esse conjunto perpassa as gerações e se mantem mesmo com as modificações do modo de vida, são recriados e adaptados às novas necessidades que se impõe aos sujeitos do campo, mas preservados em sua essência. Desta maneira, o patrimônio cultural rural se sustenta e se expressa no espaço de vivência do indivíduo, mais precisamente na paisagem. Fazendo com que esta paisagem se torne uma paisagem rural devido à relação indivíduo-campo. Lembremos que, o turismo rural também se sustenta na paisagem, daí a sua importância para pensar o patrimônio rural conjuntamente com as linguagens patrimoniais dos indivíduos e o turismo rural pela cultura que está presente na própria paisagem. Como se pode observar na figura 2 a seguir: Figura 2: espaço rural – paisagens de parreirais, Guaragi - Ponta Grossa. Fonte: MIRANDA, E. 2015. XXII Semana de Geografia, IV Semana e Jornada Científica De Geografia do Ensino a Distância da UEPG, XVI Jornada Científica da Geografia e IX Encontro do Saber Escolar e Conhecimento Geográfico. “Concepções Geográficas: Rompendo Barreiras Disciplinares” 56 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2015. ISSN 2317-9759 A paisagem vista de uma dimensão vivida pode ser entendida, portanto de “paisagem como espetáculo e como espaço vivido” (HOLZER, 1999, p.160), onde a paisagem passa a ser sentida e percebida, mostrando a criação do pertencimento de seus envolvidos. Neste ramo iremos sentir e perceber a paisagem pelas imagens, através dos olhares dos indivíduos que as vivem, criando uma paisagem circundante ao seu (s) espaço (s) de vivência (s). Colocando em xeque, as paisagens da/na paisagem, em que são (re) criadas, (re) transformadas e (re) construídas por seus possuidores espaciais, voltando na questão do tempo-espaço da relação indivíduo-paisagem. Como se nota da figura 3 abaixo: Figura 3: paisagem rural em Guaragi – Ponta Grossa. Fonte: MIRANDA, E. 2015. Neste arranjo, os moradores do campo ao sentir a paisagem, seja pelas suas vivências ou experiências, constrói um apego à própria. É nela que o patrimônio rural está expresso e contido, carregado de símbolos e linguagens patrimoniais. Neste antro, os sujeitos vão criando uma identidade rural devido à relação paisagem-indivíduo. Considerações Finais O turismo rural é feito de tradições e paisagens. Auxilia a resgatar o patrimônio cultural (material/imaterial) rural e a valorizar os recursos naturais e as raízes do campo. Além de ressignificar as paisagens através dos símbolos e memórias, mostrando um pouco do meio XXII Semana de Geografia, IV Semana e Jornada Científica De Geografia do Ensino a Distância da UEPG, XVI Jornada Científica da Geografia e IX Encontro do Saber Escolar e Conhecimento Geográfico. “Concepções Geográficas: Rompendo Barreiras Disciplinares” 57 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2015. ISSN 2317-9759 rural a partir das percepções. Todavia, o turismo rural pode ser utilizado como uma forma de valorização do patrimônio rural impregnado nas paisagens, respaldando nas questões identitárias, na cultura e abarcando os produtos e o modo de produção e a própria paisagem. Entretanto, o conjunto de elementos simbólicos e as linguagens patrimoniais presentes no cotidiano e na memória dos moradores do campo podem ser considerados o patrimônio cultural rural. Portanto, “quem vive a paisagem rural, tem suas memórias ligadas a esse espaço e sua identificação é vinculada com o modo de vida. Caracterizada segundo o grupo que a apropriou, a paisagem rural guarda memórias passadas, as memórias em processo e o devir” (PRETTO, 2014, p.60). Vemos que a paisagem é um componente do sujeito, onde temos as memórias, os valores e as vivências. Sendo construída de dentro para fora onde a própria se manifesta e se transforma a partir das relações sociais entre as pessoas, entretanto, esta paisagem está carregada de sentimentos e símbolos de um ‘Ser’ servindo-a de chão para os seus prazeres. Assim formando os espaços vividos implicados de memórias e percepções em uma interação conjunta. Então, os indivíduos vivenciam e representam os elementos de suas paisagens, através de suas experiências e vivências sejam construídas, armazenadas e ressignificadas pelas linguagens patrimoniais e os afetos, que contribuem para a construção de suas identidades. Referências GERALDES, Eduardo Simões. Horizontes do mundo vivido: reflexões sobre a contribuição da hermenêutica para a geografia humanista. Geograficidade, v.1, n.1, p.59-66, 2011. HOLZER, Werther. Paisagem, imaginário, identidade: alternativas para o estudo geográfico. In: Rosendahl, Zeny; Corrêa, Roberto Lobato. (Orgs.). Manifestações da cultura no espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999, p.149-168. KLOSTER, Silvana. Riscos e potencialidades da atividade de turismo rural na microrregião de Ponta Grossa. 112 f. Dissertação (Mestrado em Gestão do Território), Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, 2013. PRETTO, Fabelis Manfron. O (re)conhecimento do patrimônio cultural rural: as vivências dos moradores do distrito de Guaragi, Ponta Grossa (PR). 177 f. Dissertação (Mestrado em Gestão do Território), Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, 2014. XXII Semana de Geografia, IV Semana e Jornada Científica De Geografia do Ensino a Distância da UEPG, XVI Jornada Científica da Geografia e IX Encontro do Saber Escolar e Conhecimento Geográfico. “Concepções Geográficas: Rompendo Barreiras Disciplinares”