UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS Programa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica
Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica
O portfólio como instrumento de avaliação da aprendizagem
Heby Valença Brito Brasil¹
Resumo
O presente trabalho tem por finalidade apresentar os resultados de uma pesquisa que foi
dividida em duas etapas: a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo. Cujo o objetivo
principal é analisar reflexivamente o uso do portfólio como instrumento de avaliação da
aprendizagem, no Centro Municipal de Educação Infantil Aquarela. O levantamento
bibliográfico a cerca do tema foi de alta relevância, onde foram estudadas diferentes
opiniões de renomados autores como: BERNARDES E MIRANDA, LUCKESI, ZABALA,
entre outros. Esta pesquisa justifica-se pelo fato de que na atualidade educacional, cada vez
mais os profissionais buscam métodos para avaliar o ensino-aprendizagem. Sendo o
portfólio um instrumento de avaliação muito prudente, pois avalia não só o aluno em si, mas
tudo que envolve o ensino escolar. Chamou a atenção o envolvimento dos professores onde
foi realizada a pesquisa de campo. Eles se empenharam, buscaram estudar o tema e
colaboraram em pratica o uso do portfólio efetivamente em sala de aula. Os resultados
indicam que esta ferramenta educacional é realmente eficaz na avaliação da aprendizagem
e que a capacitação de professores indiscutivelmente deve ser contínua.
Palavras chave: Portfólio - instrumento de avaliação – ensino-aprendizagem
_______________
¹ Pedagoga, Coordenadora pedagógica do Centro Municipal de Educação Infantil Aquarela,
Especializada em Teorias e Práticas no Ensino Fundamental e na Educação Infantil- Faculdade
Guaraí- FAG e Especializando em Coordenação Pedagógica- UFT e Educação Infantil- Faculdade
Guarai- FAG.
Introdução
Sabendo que a avaliação é fundamental para acompanhar o desenvolvimento
do aluno e que os professores tem certa dificuldade para executar tal tarefa é que
surgiu a idéia do portfólio, visto que o mesmo serve como mediador para o educador
e para o aluno observarem seu crescimento durante o ano letivo. Entendeu-se que a
avaliação é um trabalho didático que caminha conjuntamente com o processo de
ensino-aprendizagem. Basicamente é por meio dos resultados que vão sendo
obtidos no decorrer da prática educativa que é feita a verificação daquilo que os
alunos conseguiram aprender e daquilo que o professor consegue ensinar.
Observando o cotidiano do Centro Municipal de educação Infantil Aquarela,
observou-se que os professores tem dificuldade em realizar uma avaliação que
demonstre claramente os avanços e as dificuldades dos alunos. Com o objetivo de
que o portfólio seja compreendido como um termômetro do progresso de cada aluno
e que por meio dele seja construída a historicidade de aprendizagem dos mesmos.
Objetiva-se também registrar aspectos considerados pessoalmente relevantes,
identificar os processos e a produtividade das atividades dos alunos e ilustrar modos
de trabalho em aula. Como metodologia realizou-se o projeto Avaliação da
Aprendizagem, com pesquisas bibliográficas, palestra para os professores,
exposição de modelos de portfólio, reunião de pais e mestres.
Avaliação da Aprendizagem na escola
Avaliar é um ato que se faz presente em todas as atividades presentes dentro
da sala de aula. Este conceito só faz melhorar a qualidade de ensino.
Redimensionar a avaliação da aprendizagem tem sido um tema constante na
atualidade, pois como será exposto posteriormente neste artigo, quase todos os
professores de hoje são frutos de avaliadores que usavam o método tradicional e tão
autoritário de avaliar. Esta discussão leva cada professor a inúmeras indagações.
Devemos avaliar, do mesmo modo que fomos avaliados? A avaliação deve
acompanhar as transformações da educação? Perguntas iguais ou parecidas a
estas norteiam o pensamento dos professores, que vivem no cotidiano, diversas
situações na docência, em que a avaliação é decisiva, pois cada aluno é um ser
diferente, a homogeneidade dentro das salas de aula se apresentam devido
inúmeros estudiosos da área terem percebido que cada alunos tem seu modo
próprio pessoal de aprender.
A tradição pedagógica insiste ainda hoje em limitar o pedagógico à sala de
aula, à relação professor-aluno, educador-educando, ao diálogo singular ou
plural entre duas ou várias pessoas. Não seria esta uma forma de crescer,
de limitar a ação pedagógica? Não estaria a burguesia tentando reduzir
certas manifestações do pensamento das classes emergentes e oprimidas
da sociedade a certos momentos, exercendo sobre a escola um controle
não apenas ideológico (hoje menos ostensivo do que ontem), mas até
espacial? (FREIRE, 1983. p11).
Segundo este autor a avaliação e construção do conhecimento são tarefas
relacionadas intrinsecamente no processo de ensino-aprendizagem. E estes fatores
não se resumem apenas dentro da sala de aula, nem são isoladas e independentes.
Eles devem estar apropriados da certeza de que o aluno não deve apenas aprender
a ler, escrever e fazer contas, mas sim, além de tudo ser um cidadão apto e de
pensamento próprio.
Luckesi, (1994, p.82) enfoca que o instrumento auxiliar da aprendizagem é o
diagnóstico é que isto não deve ser usado como instrumento de aprovação ou
reprovação dos alunos. A base sólida para um ensino-aprendizagem é a avaliação,
devido por meio de ela ter-se a oportunidade de corrigir os possíveis erros e traçar
novas metodologias para que a aprendizagem aconteça efetivamente.
Em consonância com o Paulo Freire, Daniels (1994, p.221) diz que os
processos e o desenvolvimento cognitivo são resultados de interações sociais e
culturais, tais que todos os processos psicológicos são inicialmente sociais e só mais
tarde tornam-se individuais.
Para dar um direcionamento viável e eficiente ao ato de ensinoaprendizagem, o educador deve levar em conta o que o aprendente deixou “fora da
escola”, ou seja, o que ele já aprendeu no mundo social em que vive. Isto porque,
muitas vezes o aluno não consegue aprender os conteúdos programados pela
escola em que estuda. Em relação a avaliação da aprendizagem na sala de aula,
sabe-se que toda escola tem, ou deveria ter, em seu Projeto Político Pedagógico o
perfil do cidadão, bem como ter a clareza da forma com que cada docente irá avaliar
seus alunos, para atingir os objetivos propostos por cada PPP. Sendo assim, é
evidente que é por meio da avaliação que se pode ter a verificação do que o aluno
aprendeu e traçar meios para ensinar os alunos que não aprenderam numa primeira
instância. Avaliar é o caminho mais seguro para as mudanças constantes do âmbito
educacional. É através dela que se obtêm resultados positivos, assim como,
oportunidade de remodelar o que não funcionou e tentar de outra forma.
Vasconcellos (1998, p.39) enfatiza que a escola é para ensinar, mas não a
todos e sim aos que „tem condições‟ e que querem ou „merecem‟. Para este autor,
para aprender é necessário querer aprender. Defende a idéia de que os alunos que
aprendem, são eleitos pelo sistema, pois tiveram diversos fatores favoráveis para
que aprendessem ou a metodologia ou a alegria de estar na escola. Na sala de aula,
o professor deve levar em conta o contexto social individual de seus alunos no
momento de avaliar. Deve conhecer os valores de cada aluno, principalmente que
vem de casa. É na escola que a criança vai se reconhecendo, comparando-se com
diferentes realidades da que vive, se posicionando para enfrentar o mundo. E nada
disso será possível, sem a avaliação da aprendizagem na sala de aula.
Oportunidades para o aluno aprender
Uma nota vermelha no boletim chama atenção do aluno muito mais pelo
medo, pelo pavor do que pela reflexão do que ele deixou de aprender do que ele
errou e porque ele não acertou
Desta forma o erro passa a ser totalmente negativo, que segundo este autor
não deveria ocorrer na escola. O erro deve servir como apoio para o futuro acerto.
Deve gerar interrogações que leve o aluno a despertar o desejo de aprender para
então não errar novamente.
Seguindo o mesmo pensamento Vasconcellos (1998, p.40) O aluno que
recebe sucessivas vezes notas baixas se convence de que é incapaz e de que não
terá chances para se sentir bem na relação ensino/aprendizagem.
Existe o fator “colaboração” entre colegas, na sala de aula, que é de extrema
importância. Quando o professor ensina algo oralmente o aluno é o receptor do
conhecimento e conversando com outros colegas de aula cada um poderá
reelaborar o seu próprio pensamento, sua própria maneira de aprender. Mais uma
vez enfatiza-se nesse treino que o erro é essencial para o ensino-aprendizagem,
pois através dele que a criança vivencia e expressa seu real processo de
interiorização do que lhe foi repassado. Para que tudo ocorra com sucesso, o
professor deve estar preparado para estimular esta interação entre os colegas e ter
uma visão ampla do que é avaliar dentro da sala de aula. É assim que as soluções
são encontradas e testadas. Segundo a autora abaixo:
A postura do professor frente às alternativas de solução construídas pelo
aluno deveria esta necessariamente comprometida com tal concepção de
erro “construtivo”. O que significa considerar que o conhecimento produzido
pelo educando, num dado momento de sua experiência de vida, é um
conhecimento em processo de superação. A criança e o jovem aprimoram
sua forma de pensar o mundo à medida que se depara com novas
situações, novos desafios e formulam e reformulam suas hipóteses.
(HOFFMANN, 1999, p.62-3).
A avaliação é um termo que em si, pode causar medo e pavor no educando.
Sendo que a avaliação não é uma atividade neutra. Com o entendimento de que
cada ser é único, o educador devera avaliar cada aluno respeitando suas
particularidades, cada um ao seu modo de aprendizagem.
Para Freire (1978, p.68) a avaliação da aprendizagem deve ser usada como
um meio e não como um fim em si mesma, delimitada pela teoria e pela prática que
a circunstâncializa. Neste pensamento é possível entender que a avaliação não se
da e nem nunca será dada num vazio de conceitos, mas sim, voltada para uma
ampla e segura visão de mundo. Na pedagogia que respeita essa reflexão, o próprio
aluno constrói seu conhecimento conceitual e a escola então poderá traçar o
individuo que deseja formar dentro dos parâmetros do qual planejou.
Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que,
enquanto educa, é educado, em dialogo com o educando que, ao ser
educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em
que crescem juntos e em que os “argumentos de autoridades” já não valem.
Em que, para ser-se, funcionalmente, autoridade, se necessita de esta
sendo com as liberdades e não contra elas (FREIRE, 1987 p.83).
A autonomia de quem educa, é indiscutível, porém a autonomia do educando
deve ser respeitada também para que aja a eficácia do que se aprende e o
entendimento do porque aprender determinados conteúdos. Considerando que o
erro faz parte do processo escolar e que cada criança traz do seu próprio mundo
experiências cotidianas, a avaliação deve respeitar o erro como forma de interpretar
o que a criança não aprendeu e objetivar com ações pedagógicas como será
possível que ela aprenda. Daí a importância que os professores conheçam as
diferentes teorias pedagógicas de avaliação, para que a qualidade de ensino seja
perpetuada dentro das UEs.
Como deve ocorrer a avaliação da aprendizagem?
Zabala (1998) percebe que a avaliação escolar correta não se deve
cingir apenas a relação entre dois protagonistas diretamente envolvidos no processo
educativo – o aluno e o professor - , pois na realidade da sala de aula acontece
situações pedagógicas grupais, tendo a classe como um todo. Este autor vai além,
acredita que a aprendizagem do aluno pode ser avaliada como resultante das
condições gerais propiciadas pela instituição escolar e do esforço do próprio aluno
para que ela seja gerada.
Fala-se muito em educação de qualidade, porém o que se ver é o foco na
avaliação quantitativa do aluno. Os atuais sentidos dados a avaliação defendem a
tese de que se deve ser levado em conta as atitudes do aluno, aspirações,
interesse, motivações, modo de pensar, forma de reelaborar o pensamento,
capacidade de se adaptar ao meio social, comportamento pessoal, os aspectos
intrínsecos e relacionados a construção do conhecimento.
A avaliação conforme a LDB (Lei Diretrizes e Bases) é especificada na
Lei nº 9.394 de 20/12/1996, nos itens V, VI e VII do art. 24 que designa o seguinte
transcrito:
Art. 24. A educação básica nos níveis fundamental e médio será organizada segundo
as seguintes regras comuns:
...............................................
V- A verificação do rendimento escolar observara os seguintes critérios:
a) A avaliação continua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período
sobre os de eventuais provas finais;
b) Possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;
c) Possibilidade de avanço nos cursos e nas series mediante verificação do
aprendizado;
d) Aproveitamento de estudos concluído com êxito;
e) Obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência de paralelo ao período
letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinado pela
instituição de ensino em seus regimentos;
VI- O controle de freqüência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu
regimento e nas normas dos respectivos sistema de ensino, exigida a freqüência
mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação;
VII- Cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares, declarações de
conclusão de serie e diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com as
especificações cabíveis.
Já nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), deseja superar a
concepção tradicional/autoritária de avaliação, compreendendo que avaliar é parte
integrante e particular do processo educacional. Esta proposta se contrapõe a
avaliação tradicional, pois esta é restrita ao julgamento sobre os sucessos e
fracassos do aluno. Neste documento a avaliação é um conjunto de atuações com a
função de alimentar, sustentar e orientar a intervenção pedagógica. E ainda defende
que ela deve acontecer de forma continua e sistemática, por meio de interação
qualitativa do conhecimento construído pelo aluno.
Faz-se necessário ressaltar que os PCNs não são uma doutrina a ser seguida
a risca. Não. Este documento é apenas uma forma de unificação dos
conhecimentos, dentro da tão imensa diversidade do país em que vivemos. Os
PCNs é uma proposta pedagógica com idéias de conteúdos a serem seguidas, com
abertura para adaptações de acordo a cada região.
Hoffmann (2001) em suas obras sobre avaliação da aprendizagem levanta
questionamentos intrigantes, para que educadores e educandos possam refletir
sobre a práxis do ensino/aprendizagem. Algumas com, por exemplo: Qual o
significado de se atribuir notas a toda e qualquer tarefa do aluno, desde que ele
ingressa na escola? Porque se usa canetas vermelhas, salientando a ação
corretiva?
Partindo deste pressuposto, Luckesi (2006) sugere que a avaliação seja
diagnostica, ou seja, os dados coletados deverão ser analisados criteriosamente,
não com o objetivo de aprovar ou reprovar os alunos, mas para os (as) professores
(as) reverem o desenvolvimento do aluno, dando oportunidade para que avance no
processo de conhecimento. Neste tipo de avaliação, a participação dos educando é
peça fundamental, pois juntos os professores poderão/compreender a situação da
aprendizagem que, por sua vez, esta atrelada ao ensino. Assim, a avaliação será
colocada em pratica com aqueles que tiverem a oportunidade de freqüentar,
participar e interagir com o processo de construção do conhecimento na sala de
aula.
Sacristán (1991) assinala com bastante clareza e objetividade, sua idéia
sobre o tema em discussão:
.... o grande valor da avaliação esta, por um lado, em ser instrumento de investigação
didática: comprovar hipótese de ação metodológica para ir acumulando recursos de
uma eficácia comprovada na ação e ir engrossando desta maneira o conjunto de
técnicas pedagógicas fundamentadas cientificamente e, por outro, perante o aluno,
esta em dar uma informação que lhe ajude a progredir até a auto-aprendizagem,
oferecendo-lhe noticia do estado em que se encontra e as razões do mesmo, para
que colha ele mesmo esse dado como um guia de auto direção, meta da educação.
(SACRISTAN apud IRES, 1991, p.66).
Entende-se que o aluno avaliado deve tomar dimensão e consciência da
evolução de sua aprendizagem, tornando-a assim significativa. É importante que o
aluno entenda a avaliação como um momento de ajuda como mais um instrumento
de sua própria aprendizagem. E o papel de fazer o aluno consciente disso é o
professor. Para tanto ele deve acreditar nesse conceito e fazê-lo acontecer.
As estratégias que favorecem que os estudantes reflitam sobre sua própria
aprendizagem os ajudam a achar que esta em jogo um processo de
mudança conceitual e também que seu conhecimento é estruturado e interrelacionado. (DRIVER, 1998, p. 188)
Possibilitar o aluno a identificar os caminhos que pode seguir em seu
pensamento e os obstáculos conceituais e metodológicos que pode encontrar, e
deste modo, pode assumir uma nova atitude diante da aprendizagem é de suma
importância. A avaliação da aprendizagem, de modo geral, deve seguir alguns
passos interessantes e eficientes para o uso no cotidiano escolar, assim De Cecco
(1968) diz que os objetivos devem ser explícitos em matéria de extensão e
profundidade. A extensão diz respeito ao conteúdo a ser trabalhado, e a
profundidade diz respeito aos níveis de desempenho a serem atingidos, orientando o
professor na forma de condução do ensino e nas estratégias de avaliação de
aprendizagem.
E a este respeito Lima (2007) enfoca que:
O conhecimento da vida escolar de suas relações, indagações, êxitos,
fracassos, completudes e incompletudes em relação às políticas publicas
para a educação, em relação a dimensão interpessoais, em, relação a
organização, metas e projetos da escola; solicita uma visão de conjunto
para que seus contextos e condicionantes sejam suficientemente
entendidos e problematizados, desta maneira a educação em sua finalidade
primordial poderá encontrar encaminhamentos significativos como
indicadores de seu norteamento. Na sociedade do conhecimento em que
vivemos, que se caracteriza pelo processo ensino-aprendizagem
permanente e continuado (mundo globalizado e em processo de
globalização) não é possível entender a escola e suas relações como se
estivessem desvinculadas da totalidade social, materializando seus esforços
simplesmente como transmissoras de conhecimentos, cujo dever formal se
completa na formação de sujeitos determinadas para uma sociedade
impessoalizada e alienante.
Para se construir a identidade de um aluno é necessário que a identidade do
educador
já
esteja
construída
e
reelaborada
em conformidade
com as
transformações da educação.
A avaliação da aprendizagem esta, de qualquer modo ligado não só a ele,
mas a função do professor. Esta profissão surge do exercício da função de educar,
que por sua vez nasce das necessidades sociais. A partir desta concepção, a
formação de educadores devera ser pensada com prioridade na formação no habito
de refletir, repensar o que faz, estudar como avalia.
O portfólio como instrumento de avaliação da aprendizagem
O que é portfólio? É um método avaliativo, usado para avaliar, mas afinco e
com maior intimidade educacional a produtividade do aluno, seu progresso ou o que
o aluno não progrediu.
Conforme Veiga Simão (2004 p.93), o portfólio é como se fosse um filme,
onde o processo de aprendizagem permanece registrado “quase que em
movimento”, onde o educando pode inserir suas alternativas de reflexões,
comentários, partindo de diversas situações, particulares – a bagagem de vivência
de cada individuo.
Na educação passou-se a conhecer o portfólio na década de 1980 do século
XX (GRUBB e COURTNEY apud FRISON, 2008, p.213). E, observam-se diversas
nomenclaturas relacionadas ao seu conceito: portfólio, portfolio, potifólio, porta-fólio,
processo-fólios, diários de bordo, dossiês, webfólio. Neste trabalho a exemplo de
Villas Boas (2006, p.37), utiliza-se o termo portfólio por ser o mais corrente, não se
considerando inadequado os outros termos, embora alguns traduzam praticas
diferentes, como é o caso do diários de bordo, dossiê e webfólio.
A fundamentação do portfólio baseia-se em novas concepções de avaliação,
assim como a avaliação formativa que:
reenvia para idéia de conjunto de praticas diversificadas, integradas no
processo de ensino-aprendizagem, que procuram contribuir para que os
alunos se apropriem melhor das aprendizagem curriculares através de uma
atitude de valorização da participação do aluno em todas as fases do
processo educativo. Com este objetivo, os professores tentam construir
muitas oportunidades ao longo do ano, para os alunos e professores
apreciarem o trabalho realizado e utilizarem a informação que vai sendo
obtida para introduzir mudanças no processo de ensino e aprendizagem. A
utilização da avaliação para providenciar feedback, a alunos e aos
professores no decurso de processo de ensino e aprendizagem (PARENTE,
2004, p.95).
Esta idéia esta ligada as perspectivas contemporâneas sobre a forma como a
criança aprende, desenvolve-se, se ver como um papel atuante no seu próprio
aprendizado e com a potencialidade de avaliar de forma justa a individualidade do
aluno. Bernades e Miranda (2003, p.35) esclarecem que:
(...) os portfólios são instrumentos de diálogos entre formador e formando(s)
que não são produzidos no final do período para fins avaliativos, mas são
continuamente (re)elaborados na acção e partilhados por forma a
recolherem, em tempo útil, outros modos de ver e interpretar que facilitem
ao formando uma ampliação e diversificação do seu olhar, forçando o à
tomada de decisões (...). São instrumentos de estimulação do pensamento
reflexivo (...).
Como funciona o portfólio?
Não é uma forma classificatória, nem punitiva de avaliar. É multilateral,
oferece a quem avalia e ao avaliado inúmeras vertentes que possibilitam a
avaliação. É uma maneira de avaliar mediadora e cidadã. O portfólio na lógica de
avaliação para alem dos elementos que o formando considerem uteis incluir no seu
processo deve conter entre outras, na opinião de Bernades e Miranda (2003, p.87):







Reflexão(ões) critica(s) individualizada acerca do grau de participação nos
projectos de acção-intervenção em desenvolvimento na formação, de acordo
com os objectivos previamente formulados.
Disseminação dos planos de trabalho junto dos pais e comunidade
educativa:- Apelo a participação no desenho e implementação.
Reflexão critica do processo de desenvolvimento do projecto e suas
limitações no que concerne à sua à implementação, no contexto de préescolar;
Definição, de forma partilhada, do tipo de conteúdos e documentação a incluir
no portfólio;
Determinação do cronograma de execução dos vários momentos;
Calendarização de reuniões de analise do portfólio entre supervisor e
formandos;
Reflexão conjunta acerca de critérios de avaliação do portfólio.
Nesta lógica o portfólio, como forma de avaliar, deve incluir uma seleção de
trabalhos investigatórios com o teor de diagnosticar o que realmente foi aprendido.
Ele apresenta forte característica para ser a ferramenta apropriada para a
modalidade de avaliação participativa.
Villas Boas (2007, p.03) relata que, o portfólio é uma pasta grande e fina em
que os artistas e os fotógrafos iniciantes inserem amostras de suas produções, as
que representam qualidades e a amplitude do seu trabalho, para ser apreciada por
especialistas e professores. Muito mais do que já foi dito, o portfólio é muito alem de
apenas um método, é um instrumento e conceito de avaliação integral e avaliativa.
Contudo, deve haver atenção para que o portfólio não seja desenvolvido de
modo que sirva apenas como uma coleção de atividades. É importante que além de
arquivadas, deve ser incluídas as produções significativas, as mais produtivas,
melhores elaboradas, selecionadas com ênfase na auto-avaliação criteriosa. Neste
contexto o enfoque principal é o julgamento de qualidade e das estratégias de
aprendizagem utilizadas.
O portfólio tem como seu principal objetivo encorajar a reflexão e o
estabelecimento de objetivos a cada aprendiz e, comprometendo os pais
com a avaliação por meio de comunicação variada e freqüente. O enfoque
curricular, conforme as autoras que fundamentam essa técnica é o currículo
centrado na criança ou, como muitos o conhecem, enfoque “de projetos”.
Mediante observações regulares e entrevistas com as crianças, professores
e demais profissionais podem descobrir quais são os temas de interesse
das crianças em investigar e experimentar (SHORES e GRACE, 2001, p.1516).
O contato imediato com o portfólio deve ser do aluno, pois as criações são
deles e este deve ser capaz de selecionar o que de melhor produziu, sendo assim,
um agente ativo dentro do contexto da avaliação. E o contato mediato deve ser do
professor que acompanhara o progresso das atividades educativas e conjuntamente,
professor e alunos irão observar a evolução do processo ensino-aprendizagem. Esta
sim é a nova proposta de avaliação dentro da pedagogia renovada e atual. Sendo o
portfólio, sem duvida um meio essencial e interessante de avaliação continua.
Existem alguns tipos de portfólios, embora esse trabalho se limita a
demonstrar a importância do modelo de aprendizagem, como mas eficaz no uso
diário da sala de aula. Para o conhecimento do leitor Shores e Grace resumem um
pouco dos tipos de portfólios.
Podem-se sistematizar três tipos de portfólio: o particular, de aprendizagem
e o demonstrativo. Os três na realidade possuem funções que podem se
justapor. O particular é guardado separadamente do portfólio de
aprendizagem, pode ser desde o diário particular da criança ou do
professor, os outros documentos confidenciais que são mantidos em
arquivo separado (exames médicos, relatórios de profissionais, registros de
conversa com os pais, etc.). O portfólio de aprendizagem é uma coleção da
criança, com suas produções particulares, que podem ser selecionadas e
armazenadas por ela mesma, incluindo anotações da criança e do
professor. E o demonstrativo efetivamente, é uma amostra representativa
do trabalho pedagógico, atividades realizadas em sala, exercícios, registros
sobre as experiências em sala, etc. (SHORES e GRACE, 2001, p. 43).
O educador deve se manter discreto em relação a evolução dos alunos e evitar
comparar os portfólios dos alunos uns com os outros. Pois o portfólio dá aos alunos
a oportunidade de dialogar sobre suas produções e de valorizar os trabalhos dos
outros.
O
portfólio
processualidade,
conhecimento
requer
sentido
organização
dos
do
descritores,
de
avaliação
tempo,
para
autonomia,
coordenação
a
aprendizagem,
pesquisa
coletiva,
e
objetivos
reflexão,
claros.
(HERNANDEZ, 2000, p.166).
E mais além, deve-se entender alguns princípios norteadores, que devem
conter no portfólio, segundo Maria Benigna Villas Boas (2007, p.38) construção,
reflexão,
auto-avaliação,
criatividade,
parceria,
autonomia,
comunicação,
processualidade.
Parente (2004) complementa enfocando que, podemos distinguir duas
grandes fases de construção de portfólios: a preparação e a realização. Na
preparação, bastante relevante na opinião de diversos autores deve-se definir de
antemão a estrutura conceitual dos portfólios, uma tarefa a ser realizada pelos
responsáveis pela aprendizagem da criança; e a estrutura física que pode ser
concebida em colaboração entre crianças e educadora. A autora relaciona aspectos
fundamentais para empreender fases/passos para a construção portfólios, que:
Requer da educadora uma série de decisões que precisam ser tomadas de
forma reflectida e fundamenta. Tomada a decisão de efectuar a avaliação
através do portfólio é necessário tornar claros os objectivos subjacente à
intenção de realizar o portfólio, explicitar as principais metas educacionais
que constituem o foco da avaliação, definir uma estrutura e organização
para a concretização do portfólio, apontando conteúdos e os processos de
selecção e perspectivando a interpretação e reflexão que sobre eles irá
realizar. Todas estas questões devem ser tomadas em consideração antes
de se iniciar o processo de colecção de dados e evidências (Lynch e
Struewing, 2001). As educadoras que, previamente, reflectem sobre estas
questões criam melhores condições para suportar e assegurar o sucesso no
processo de construção do portfólio de avaliação. (PARENTE, 2004, p. 80).
Existem ainda poucas pesquisas sobre a avaliação a respeito do trabalho
com portfólios na Educação Infantil. Porém, a discussão é atual e emerge no desejo
de contrapor a avaliação tradicional, discriminatória.
Ainda segundo Villas Boas (2006) na educação infantil, os portfólios podem
ser adotados com as devidas adaptações. A parte inicial de organização caberá
mais ao professor, devendo ficar muito atento às reações dos alunos para descrevêlas no portfólio. Professor e aluno, conjuntamente, refletem sobre o que foi
aprendido; são discussões informais e orais, que deverão ser registrada pelo
professor.
É interessante e muito eficaz que os portfólios de um ano sejam analisados
por professores do ano seguinte. Os portfólios podem constituir uma maneira
autentica de os pais acompanharem o que seus filhos fazem na escola. Nada melhor
que os próprios alunos apresentem os portfólios aos pais, em um encontro dirigido
por eles. O papel do professor é de ajudar o aluno a planejar o encontro.
Contudo no contexto do trabalho com o portfólio na Educação Infantil, deve
haver a participação da criança. Lembrando que autores, como Parente (2004),
Villas Boas (2006) e Frison (2008) apontam para: a necessidade de envolver a
criança, mesmo a criança pequena na confecção dos portfólios, inclusive nas fases
preparatórias para o trabalho com os portfólios na Educação Infantil; e para a
compreensão que ela pode desenvolver habilidades que a permitem escolher
amostras de suas produções, no sentido de representar seu processo de
crescimento e desenvolvimento e de refletir a respeito destas amostras.
Execução do Projeto: parte prática
Foi promovida uma reunião pelas cursistas do Programa Nacional Escola de
Gestores da Educação Básica, Curso de Especialização em Coordenação
Pedagógica, as senhoras, Heby Valença Brito Brasil e Maria Inez Pereira Machado,
coordenadoras pedagógicas do Centro Municipal de Educação Infantil Aquarela, no
mês de janeiro de dois e onze, onde participaram da reunião, nove professoras,
todas atuando na educação infantil da U.E citada, durante a explanação do assunto
foi oferecido subsídios teóricos que falavam da importância de ser trabalhar com
portfólio. Ao término da explanação sobre o uso do portfólio como um instrumento de
avaliação e de auto-ajuda para o professor, realizou-se um debate sobre o assunto,
onde os participantes interagiram de forma significativa, concordaram que a
sugestão era de grande valia, pois trabalhando com essa ferramenta podia-se
permitir ao aluno desenvolver seu potencial como co-responsável por sua
aprendizagem. Com o objetivo de reforçar a sugestão do trabalho com portfólio aos
professores dessa UE, servindo de suporte para análise do rendimento escolar e
uma maneira de comparar o progresso individual de cada criança, possibilitando ao
professor traçar intervenção para atender de forma significativa o processo escolar
de cada aluno.
Aconteceram no período de janeiro a junho/2011, então as ações
interventivas e a confecção do portfólio foi a parte prática do projeto de intervenção
durante o primeiro semestre/2011.
No mês de junho de dois mil e onze, realizou-se a culminância do projeto,
com uma reunião entre pais e mestres para a entrega dos portfólios. Na
oportunidade os pais olharam atentamente a produção de seus filhos. Foi muito
gratificante ver no rosto de cada pai a satisfação em perceber como o filho evoluiu.
Portanto o portfólio é uma construção que envolve tempo e esforço, mas que
resulta em bons frutos na aprendizagem do discente e no desenvolvimento do
trabalho do educador. Em parte por que a formação continuada do professor deve
ser mais ampla e continua. Mesmo que por um período considerado curto e um
projeto em teste, foi verificado na pratica o que se entendeu sobre o uso do portfólio
na teoria.
Considerações Finais
Na Educação sempre haverá avaliação da aprendizagem, porém a avaliação
ao longo do tempo sofreu mudanças importantes. Nesse sentido a pesquisa-ação
desenvolvida no Centro Municipal de Educação Infantil Aquarela permitiu perceber,
na Educação Infantil, que a avaliação com o uso portfólio potencializa o ensinoaprendizagem em sala de aula e o quanto que é fundamental o professor
compreender que deve existir uma conexão entre o momento da avaliação e o
processo de ensino e aprendizagem, que deve existir conexão entre o exercício da
avaliação – no cotidiano de trabalho – e a superação das dificuldades que se
apresentam.
Foi possível entender que o portfólio é um instrumento de avaliação, pois
envolve quem ensina e quem aprende de modo conjunto. Para tanto se verificou que
o professor deve estar informado, trocar idéias com os colegas de trabalho,
aprofundar a teoria, ser coerente com a prática, aceitar a diversidade cultural,
respeitar os companheiros de trabalho pelo questionamento de sua prática e
contribuir para melhorá-la, podem ser atitudes que auxiliam na definição da proposta
pedagógica.
Observou-se ainda que o portfólio, embora não seja ainda uma prática
freqüente e, sendo muito recente em Educação Infantil, tem sido associado à
avaliação do desenvolvimento e da aprendizagem infantil nesta modalidade de
educação. Também vem se vinculando ao trabalho com projetos, particularmente
desenvolvido com crianças nessa faixa etária.
Assim, o portfólio, como prática constante, sistematizada e usada no cotidiano
da sala de aula é um oferecedor de explosão de conhecimento. E, sendo usado
corretamente, um impetuoso sucesso na avaliação da aprendizagem.
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