Sistemas Elétricos de Potência 3. Elementos de Sistemas Elétricos de Potência 3.1.4 Capacitância e Susceptância Capacitiva de Linhas de Transmissão Professor: Dr. Raphael Augusto de Souza Benedito E-mail:[email protected] disponível em: http://paginapessoal.utfpr.edu.br/raphaelbenedito Conteúdo - Introdução; - Capacitância causada por um Condutor até um Condutor de raio ínfimo a uma distância D; - Capacitância de uma Linha a dois fios (bifilar); - Capacitância de uma Linha Trifásica; - Capacitância de uma Linha Trifásica com arranjo equilátero de Condutores; - Transposição de Condutores; - Cabos múltiplos por fase; - Reatância Capacitiva e Susceptância Capacitiva Introdução • A capacitância, ou efeito capacitivo, de linhas de transmissão é o resultado da diferença de potencial elétrico entre os condutores. • De modo geral, a capacitância entre condutores (C) é a relação entre carga (q) e diferença de potencial (V): C= q V (F m ) e depende das dimensões e da distância entre os condutores. • O efeito da capacitância para linhas curtas é pequeno e, por isso, é geralmente desprezado em cálculos com linhas de transmissão. • Por outro lado, em linhas longas de tensões elevadas, o efeito capacitivo afeta consideravelmente o transporte de energia elétrica, tornando importantíssimo o cálculo desse parâmetro. • Assim como o Campo Magnético é importante na determinação da indutância, o estudo e análise do Campo Elétrico é essencial no cálculo da Capacitância de linhas de transmissão aéreas. Capacitância causada por um Condutor até um Condutor de raio ínfimo a uma distância D • Considere um condutor cilíndrico de raio “r”, reto e longo, tendo uma carga elétrica “q” uniforme em toda a sua extensão e que está a uma distância “D” de um condutor de raio ínfimo “P” (com q = 0). • Observe que todo o fluxo de campo elétrico está fora do condutor, já que as cargas elétricas tendem a se agrupar na superfície externa do condutor. Assim, para calcularmos a capacitância causada por este condutor até “P”, devemos: i) aplicar a Lei de Gauss do Campo Elétrico; ii) calcular a diferença de potencial entre “P” e a superfície do condutor; iii) calcular a capacitância através de C =q/V. Capacitância causada por um Condutor até um Condutor de raio ínfimo a uma distância D • Através da Lei de Gauss, a densidade do campo elétrico (ou densidade do fluxo elétrico) pode ser obtida por: r r ∫s D E ⋅ dA = q D E ⋅ 2π ⋅ x ⋅ L = q q C / m2 2π ⋅ x onde: q é a carga no condutor por metro de comprimento; x é a distância do centro do condutor até o ponto onde deve ser calculada a densidade de fluxo elétrico. A partir da densidade de campo, podemos calcular a intensidade de campo elétrico: DE = E= DE ε = q 2π ⋅ x ⋅ ε sendo ε a permissividade elétrica do meio V /m (ε = ε r ⋅ ε 0 ) ε 0 = 8,85 ⋅ 10 −12 F / m Capacitância causada por um Condutor até um Condutor de raio ínfimo a uma distância D • A diferença de potencial elétrico entre um ponto na superfície do condutor de raio “r” e o condutor P (distante “D” metros do centro do condutor) pode ser calculada pela integral de linha do campo elétrico, da seguinte forma: r D r V = ∫r E ⋅ dx = r q D1 ⋅ d x ∫ 2π ⋅ ε r x q [ln D − ln r ] 2π ⋅ ε q D V = ln (V ) 2π ⋅ ε r V = • A partir da diferença de potencial entre o condutor de raio “r” e o condutor P sem carga, a capacitância é calculada por: C= q q ⋅ 2π ⋅ ε 2π ⋅ ε = = V D D q ⋅ ln ln r r ( F / m) Capacitância de uma linha a dois fios (bifilar) • Considere um condutor cilíndrico de raio “r1” e outro condutor de raio “r2” (retorno), que estão distantes entre si em “D” metros, e que q2 = - q1. Fig.: Linha monofásica bifilar • No cálculo da capacitância C12, deve-se calcular primeiramente o valor da tensão V12 entre os dois condutores da linha. • Por sua vez, a tensão V12 pode ser obtida através da superposição de efeitos, isto é, calculando primeiro a diferença de potencial devido à carga q1 do condutor 1; e depois, a diferença de potencial devido à carga q2 do condutor 2. V12 = V12' + V12'' Capacitância de uma linha a dois fios (bifilar) • Para o cálculo de cada efeito, teremos: q1 2π ⋅ ε V12' = D1 r1 ∫ x ⋅ dx = q1 D ln 2π ⋅ ε r1 V12'' = −V21 q2 2π ⋅ ε V21 = V12'' = −V21 = Somando os efeitos, temos: V12 = V12' + V12'' = D q2 1 D ∫r 2 x ⋅ dx = 2π ⋅ ε ln r 2 q2 r ln 2 2π ⋅ ε D q1 q r D ln + 2 ln 2 2π ⋅ ε r1 2π ⋅ ε D como q2 = - q1, a equação acima fica: V12 = V12 q1 q1 r D ln − ln 2 2π ⋅ ε D r1 2π ⋅ ε D r q1 = ln 1 2π ⋅ ε r2 D q1 D2 = ln r1 ⋅ r2 2π ⋅ ε Capacitância de uma linha a dois fios (bifilar) A expressão anterior ainda pode ser escrita como: V12 q1 q D2 D = ln = 1 ln π ⋅ε r1 ⋅ r2 π ⋅ ε r1 ⋅ r2 • Por fim, a capacitância C12 entre os condutores é: C12 = q1 = V12 q1 ⋅ 2π ⋅ ε D2 q1 ⋅ ln r1 ⋅ r2 = 2π ⋅ ε D2 ln r1 ⋅ r2 ( F / m) Caso r1 = r2 = r, podemos simplificar a equação anterior: C12 = 2π ⋅ ε π ⋅ε = D2 D ln ln 2 r r ( F / m) Observe que “r” é o raio externo do condutor ou do cabo encordoado. Capacitância de uma linha trifásica com espaçamento assimétrico • Considere 3 condutores retilíneos, paralelos e de raios distintos, que constituem uma linha trifásica onde q&1 + q& 2 + q& 3 = 0 . Também considere um ponto P (ou condutor de raio ínfimo com q=0) afastado desses condutores conforme a figura abaixo: Figura: Condutores de uma Linha Trifásica distantes de um ponto P Capacitância de uma linha trifásica com espaçamento assimétrico • Nosso objetivo é calcular a matriz de capacitância trifásica: q&1 C11 C12 q& = C 2 21 C 22 q& 3 C31 C32 C13 V&1P & C 23 ⋅ V2 P C33 V&3 P • Inicialmente, calcularemos a diferença de potencial elétrico entre o condutor 1 e P. Por sua vez, essa diferença de potencial é composta de três parcelas: V1P = VC1Pq1 + VC1Pq 2 + VC1Pq3 - A diferença de potencial entre o condutor C1 e P devido à carga q1; A diferença de potencial entre o condutor C1 e P devido à carga q2; A diferença de potencial entre o condutor C1 e P devido à carga q3. Capacitância de uma linha trifásica com espaçamento assimétrico • A diferença de potencial entre o condutor C1 e P devido à carga q1, pode ser calculada como: VC1Pq1 D1P q&1 = ln 2π ⋅ ε r1 (V ) • Já a diferença de potencial entre o condutor C1 e P devido à carga q2 é: VC1Pq 2 D2P q& 2 ln = 2π ⋅ ε D12 (V ) • Por fim, a diferença de potencial entre C1 e P devido à carga q3 é: V C1Pq 3 D q& 3 = ln 3 P 2π ⋅ ε D13 (V ) Capacitância de uma linha trifásica com espaçamento assimétrico • A partir da soma das três parcelas, obtemos: V1P = VC1Pq1 + VC1Pq 2 + VC1Pq 3 V1P = 1 2π ⋅ ε D1P q&1 ⋅ ln r1 D + q& 2 ⋅ ln 2 P D12 D + q& 3 ⋅ ln 3 P D 13 (V ) Utilizando o mesmo raciocínio realizado em termos de fluxo concatenado (para indutância), e considerando P → ∞ e q&1 + q& 2 + q& 3 = 0 , podemos simplificar a equação acima por: V1 = 1 2π ⋅ ε 1 q&1 ⋅ ln r1 1 + q& 2 ⋅ ln D12 1 + q& 3 ⋅ ln D 13 (V ) De modo análogo, podemos calcular os potenciais dos condutores 2 e 3 em função das cargas: V2 = 1 2π ⋅ ε 1 q&1 ⋅ ln D12 1 + q& 2 ⋅ ln r2 1 + q& 3 ⋅ ln D 23 (V ) V3 = 1 2π ⋅ ε 1 q&1 ⋅ ln D13 1 + q& 2 ⋅ ln D 23 1 + q& 3 ⋅ ln r 3 (V ) Capacitância de uma linha trifásica com espaçamento assimétrico • De posse das três tensões, obtemos a seguinte equação matricial: 1 1 1 ln ln ln r1 D12 D13 & V1 q&1 1 1 1 & 1 V = ln ln ln 2 2π ⋅ ε D r D ⋅ q& 2 12 2 23 q& V&3 1 1 1 3 ln ln ln r D13 D23 3 C −1 Observe que a equação acima é a forma matricial da equação V& = C −1 ⋅ q& assim para obtermos a matriz de capacitâncias “C”, basta invertermos a matriz C-1 da equação acima. Capacitância de uma linha trifásica com espaçamento assimétrico • Outra forma de representar a equação matricial anterior pode ser obtida utilizando-se a hipótese inicial de que q&1 + q& 2 + q& 3 = 0 . Assim, eliminando q3 da primeira e da segunda equação, e eliminando q1 da terceira equação, temos: D13 D13 0 ln ln D r 12 1 q& V&1 1 D 23 & 1 D 23 0 ⋅ q& 2 V 2 = 2π ⋅ ε ln D ln r & 12 2 V&3 q D13 D13 3 ln 0 ln D 23 r3 C −1 Capacitância de uma linha trifásica com arranjo equilátero de condutores • No caso em que os condutores de fases distintas estão num arranjo equilátero (D12 = D13 = D23 = D) e os raios são iguais, temos: D ln 0 0 r & V1 q&1 & 1 D V = 0 ln 0 ⋅ q& 2 2 2π ⋅ ε r V&3 q& 3 D 0 0 ln r C −1 logo, a capacitância total de uma fase pode ser calculada como: C1 = C 2 = C 3 = 2π ⋅ ε D ln r ( F / m) Transposição de Condutores • A transposição dos condutores pode ser aplicada a qualquer tipo de arranjo e serve como uma transformação da linha original em uma linha equilátera equivalente (minimizando ou eliminando as capacitâncias mútuas). • A transposição é realizada conforme mostrado na figura a seguir: Transposição de Condutores Considerando os raios iguais para os três condutores (r), obtemos a seguinte expressão matricial com transposição da linha: D eq ln r V&1 & 1 V = 0 2 2π ⋅ ε V&3 0 e portanto: C1 = C 2 = C 3 = 0 Deq ln r & q1 ⋅ q& 2 0 q& 3 Deq ln r 0 0 2π ⋅ ε D eq ln r ( F / m) lembrando que Deq é a Distância Média Geométrica entre os condutores (de fases distintas), e calculada neste caso (3 condutores) como: Deq = 3 D12 ⋅ D 23 ⋅ D13 Observe que Deq é o espaçamento equilátero equivalente das três distâncias, causado pela transposição dos três condutores. Múltiplos condutores por fase e Raio Equivalente Externo (RMG para efeito capacitivo) Raio Equivalente Externo de Cabos Múltiplos Fig.: Casos mais comuns de cabos múltiplos por fase Considerando rext como o raio equivalente externo de um cabo (ou raio equivalente de um cabo), e DscCM como o raio equivalente externo de cabos múltiplos (ou raio equivalente de cabos múltiplos), temos: 2 CM - p/ dois cabos por fase: => DSC = 2 (rext ⋅ d )2 = 2 rext ⋅ d - p/ três cabos por fase: => - p/ quatro cabos por fase: => 2 CM DSC = 3 (rext ⋅ d ⋅ d )3 = 3 rext ⋅ d 2 2 ( CM DSC = 4 rext ⋅ d ⋅ d ⋅ 2 ⋅ d ) 4 = 1,09 ⋅ 4 rext ⋅ d 3 Múltiplos condutores por fase e Raio Equivalente Externo (RMG para efeito capacitivo) Raio Equivalente Externo de Cabos Múltiplos Observação importante: • A partir do valor de DscCM , devemos substituir este valor no lugar de r (raio externo) nas equações anteriores para capacitância, onde considerávamos a existência de apenas um condutor por fase. • Já para o cálculo das distâncias entre fases, devemos adotar as distâncias entre os centros dos cabos múltiplos. Expressão Geral da Capacitância por Fase (resumo) • A expressão geral para cálculo da capacitância por fase em circuitos trifásicos com transposição de condutores é: C1 = C 2 = C3 = sendo: 2π ⋅ ε Deq ln rext ( F / m) Deq = 3 Dab ⋅ Dbc ⋅ Dca a distância média geométrica entre as três fases; r o raio externo de um cabo ou raio externo equivalente de um condutor (geralmente é fornecido pelo fabricante do condutor); • Para cabos múltiplos por fase, temos: C1 = C 2 = C 3 = 2π ⋅ ε Deq ln CM D SC ( F / m) sendo DscCM o raio equivalente externo de cabos múltiplos e calculado como mostrado anteriormente. Reatância Capacitiva e Susceptância Capacitiva • A reatância capacitiva (Xc) por fase da linha de transmissão corresponde à parte imaginária da impedância complexa em derivação ou shunt (Zsh) da linha, e depende do valor da freqüência (f) e da capacitância (C), sendo calculada por: XC = 1 1 = ⋅ (Ωm) ω ⋅ C 2π ⋅ f ⋅ C • O resultado da reatância acima pode ser utilizado em sua forma matricial, desde que C seja a matriz de capacitância trifásica. • Geralmente escrevemos o efeito capacitivo das linhas em termos de susceptância em derivação ou shunt: Bsh = 1 = ω ⋅ C ( Siemens / m) Xc Referências Bibliográficas [1] MONTICELLI, A. J.; GARCIA, A. Introdução a Sistemas de Energia Elétrica. Editora UNICAMP, 1ª. Edição, Campinas, 2003. [2] STEVENSON, W. D. Elementos de Análise de Sistemas de Potência. 2ª ed. Editora MacGraw-Hill do Brasil. São Paulo.1986. [3] FUCHS, RUBENS DARIO. Transmissão de Energia Elétrica: linhas aéreas; teoria das linhas em regime permanente. 2ª. Edição; Editora Livros Técnicos e Científicos, Rio de janeiro, 1979. [4] ZANETTA Jr., LUIZ CERA. Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência. 1ª. Edição; Editora Livraria da Física, São Paulo, 2005.