UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA LAUDO TÉCNICO Consulta-nos a Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro-AMPERJ, por seu advogado, Dr. João Tancredo, sobre a possibilidade da existência de riscos de transmissão de vírus H1N1 quando da realização, nas dependências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ, no dia 16 vindouro, de Concurso Público para ingresso na Classe Inicial da Carreira do Ministério Público. A influenza, comumente denominada de gripe, é causada pelos vírus influenza A e B, ocorrendo naturalmente durante as estações de outono e inverno. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de três a cinco milhões de casos graves de influenza sazonal ocorrem todos os anos. Uma pandemia de influenza ocorre quando surge uma nova cepa do vírus influenza A, contra a qual o ser humano não possui imunidade, resultando em propagação da doença e em óbito. A denominada “gripe suína” é uma doença respiratória causada pelo vírus influenza A, chamado de H1N1. Ele é transmitido de pessoa para pessoa, com sinais e sintomas semelhantes aos da gripe comum, com febre superior a 38 graus, tosse, dor de cabeça intensa, dores musculares e nas articulações, irritação dos olhos e fluxo nasal. A transmissão do vírus influenza em locais fechados, como salas de aula, corredores apertados é superior a 75%. Esse novo tipo de vírus, formado por uma combinação viral oriunda de dois tipos de vírus suíno, um vírus da ave e um do ser humano, é mais agressivo UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA que o da gripe comum. Enquanto a maioria das mortes por gripe comum ocorre por complicações como pneumonia bacteriana, na gripe suína as mortes ocorrem por pneumonia viral primária, ou seja, o próprio vírus causa o óbito, algo raro na gripe comum. A prestigiada revista científica britânica Nature publicou estudos da Universidade de Wisconsin (EUA), demonstrando que o vírus AH1N1 (gripe suína) causa mais danos aos pulmões, bem como é capaz de lesionar tecidos dos órgãos respiratórios. Já outros vírus da gripe, em geral, acometem predominantemente a parte superior do sistema respiratório, como garganta e às vezes a traquéia e de forma bem incomum os pulmões. Estudos científicos têm demonstrado que, nos países onde o vírus AH1N1 circula livremente, entre eles o Brasil, tem ocorrido a substituição do vírus sazonal da gripe comum pelo novo vírus, fato este reconhecido pelo próprio Ministério da Saúde, que confirmou que a circulação do novo vírus no país já corresponde a cerca de 77%. A aglomeração de milhares de pessoas em função de um concurso público com a importância do atual, certamente será um fator facilitador da disseminação do vírus influenza. Ambientes fechados, próprios das salas de concursos, facilitam a transmissão do vírus. Cabe ressaltar, que diferente de uma atividade universitária comum, as pessoas que estão, há anos se preparando para um concurso como esse, não deixarão de ir, mesmo que estejam gripadas. Assim como candidatas gestantes, estarão presentes nesse concurso, pessoas que possam ter outros fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome respiratória aguda grave em infectadas pelo vírus AH1N1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA O terceiro boletim da Secretaria de Vigilância em Saúde (Ministério da Saúde) sobre a Influenza A no país informa que, até o dia 01/08/2009, dos 96 óbitos oficialmente registrados como vítimas de infecção pelo vírus AH1N1 (gripe suína), 39,5% foram de gestantes, na sua grande maioria sem qualquer condição de risco adicional que não a gestação. O novo vírus influenza é um “visitante” em nosso país, está de passagem, não veio para ficar. A estimativa é que no máximo em mais 4 semanas a situação esteja sob total controle. Portanto, quanto à questão da melhor prevenção da nova gripe, até porque é improvável que um candidato infectado deixe de participar do concurso, e considerando que o vírus se transmite de pessoa para pessoa de forma muito fácil, bem como permanece em superfícies lisas por cerca de 10 (dez) horas, a melhor medida é o adiamento do concurso até que a situação epidêmica se resolva. Rio de Janeiro, 13 de agosto de 2009. EDIMILSON MIGOWSKI - MD, PhD, MSc Professor Adjunto Doutor da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Doutorado em Doenças Infecciosas pela UFRJ; Mestrado em Pediatria pela UFRJ; Chefe do Serviço de Infectologia Pediátrica da UFRJ; Membro Titular da Academia Fluminense de Medicina; Membro Titular da Academia Nacional de Farmácia; Membro da Sociedade Europeia de Infectologia Pediátrica; Diretor Presidente do Instituto Prevenir É Saúde; Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações – RJ; Membro do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro; Membro do Grupo Técnico da UFRJ para Assuntos relacionados com Influenza.