UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO EE755 – LABORATÓRIO DE ONDAS GUIADAS Experimento 4: Divisor de Wilkinson 2º Semestre de 2016 Introdução Um divisor de potência, como o próprio nome indica, divide a potência proveniente de uma porta de entrada (porta 1) para duas ou mais portas de saída (portas 2 e 3, no caso de divisor de 3 dB). Há diversas aplicações para o divisor. Por exemplo, o sinal de dados e vídeo distribuído por cabos coaxiais é tipicamente dividido em dois, e encaminhado ao roteador sem fio e ao modem da TV a cabo. Aí, cada dispositivo filtra no receptor o sinal de interesse (arquitetura tipo broadcast and select). Entretanto, deve-se atentar também para possíveis sinais entrantes nas portas 2 e 3. Isso pode acontecer, por exemplo, como resultado de descasamentos e suas respectivas reflexões, como no caso de uma das portas estar aberta. É interessante que as portas estejam isoladas, ou seja, que o sinal entrante na porta 2 não seja encaminhado à porta 3, e vice-versa. O divisor de potência proposto por Ernest Wilkinson em 1960 apresenta duas características importantes: suas portas de saída são isoladas e ele não apresenta perdas quando as saídas são casadas. A fig. 1 mostra o circuito do divisor de Wilkinson geral. Quando as saídas do divisor são conectadas a cargas casadas as tensões ao longo dessas linhas são iguais em magnitude e fase, anulando a corrente nos resitores e evitando a dissipação de potência. Este experimento precisará de dois dias de aula no laboratório. No primeiro dia, será feito o projeto computacional de um divisor de Wilkinson em microfita. O divisor projetado será então encaminhado para fabricação. No segundo dia de aula, será feita a caracterização do dispositivo fabricado. Z, ` = λg 4 Porta 3 R Porta 1 Z, ` = λg 4 Porta 2 Figura 1: Circuito do divisor de potência Wilkinson Análise de modos par e ímpar Para calcular a impedância Z e a resistência R do projeto é desejável redesenhar o circuito como mostra a fig. 2, considerando as fontes nas saídas e todas as portas casadas. Essa forma de representação destaca a simetria do circuito, possibilitando a análise de excitações simétrica e antissimétrica das fontes (modos par e ímpar do circuito). 1 Z, ` = λg 4 V3 Z0 + − 2Z0 V2 Z0 + Vg2 − Vg3 R 2 V1 R 2 2Z0 Z, ` = λg 4 Figura 2: Circuito equivalente do divisor com excitação nas saídas. Modo par Quando Vg2 = Vg3 = 2V0 a simetria do circuito impõe que as correntes que atravessam a linha de simetria sejam nulas, i.e., as conexões que cruzam essa linha podem ser abertas sem que a resposta do circuito se altere. Nessa caso a impedância vista pela porta 2 após o transformador de quarto de onda será Z2e = Z2 2Z0 . Assim, se: Z= √ 2Z0 (1) as portas 2 e 3 estarão casadas para o modo par e V2e = V0 . O valor de V1e é obtido através das equações de linha de transmissão: V (z) = V + e−iβz + Γeiβz λg = iV + (1 − Γ) = V0 V2e = V − 4 1+Γ V1e = V (0) = V + (1 + Γ) = −iV0 1−Γ Como Γ = √ 2Z0 −√2Z0 2Z0 + 2Z0 = √ 2−√2 , 2+ 2 (2) (3) (4) √ obtem-se V1e = −i 2V0 . Modo ímpar No modo ímpar Vg2 = −Vg3 = 2V0 e a simetria do circuito garante diferença de potencial nula em toda a linha de simetria. Considera-se essa linha como referência e imediatamente se obtém V1o = 0. Nesse caso a impedância de entrada da porta 2 será diretamente R 2, uma vez que a linha de transmissão de quarto de onda tem um curto na entrada (ou seja, é vista como um aberto na porta 2). Para garantir que a porta 2 esteja casada nesta situação escolhe-se: R = 2Z0 (5) que resulta em V2o = V0 . Analogamente, V3o = −V0 . Qualquer excitação desse circuito pelas portas de saída pode ser decomposta em uma superposição dos dois modos analisados, portanto resta apenas determinar a impedância de entrada da porta 1 quando as portas 2 e 3 estão ligadas a cargas casadas. Casamento da porta 1 O coeficiente de reflexão na porta 1 deve ser calculado na condição de casamento das portas 2 e 3. A simetria deste circuito é similar ao modo par analisado anteriormente, de modo que a resistência R não contribui para a impedância de entrada. Logo, resta apenas o paralelo de dois 2 tocos de quarto de onda terminados em Z0 , resultando: Z1 = 1 Z2 = Z0 2 Z0 (6) indicando que esta porta encontra-se também casada. Em resumo, os parâmetros de espalhamento (matriz S) da rede são: S11 = 0 S12 = S21 (Z1 = Z0 ) S22 = S33 = 0 (Z2e = Z2o = Z3e = Z3o = Z0 ) √ V1e + V1o 2 = −i = e (Simetria devido à reciprocidade) o V2 + V2 2 √ 2 S13 = S31 = −i (Simetria entre as portas 2 e 3) 2 S23 = S32 = 0 (Devido aos resultados par e ímpar) 0 2 S = −i 1 2 1 √ 1 0 0 1 0 0 (7) Divisor de Wilkinson em microfita O objetivo deste experimento é projetar um divisor Wilkinson em microfita e verificar seu funcionamento utilizando simulação circuital. O dispositivo projetado será construído e, no próximo experimento, caracterizado. O projeto do divisor compreenderá 3 etapas: cálculo dos parâmetros geométricos das linhas de microfita, simulação circuital para verificação do funcionamento do projeto e desenho da placa a ser fabricada. Cálculo das linhas Projete linhas de microfita utilizando as equações que seguem1 para um subtrato de FR-4 (εr = 4,3 e tan δ = 0,02) com espessura h = 1,6 mm. O dispositivo deverá ser projetado para utilização com cabos RG-58 e a frequência de operação será f = (495 + D) MHz, em que D é a soma dos dígitos dos RA dos componentes do grupo módulo 10. A constante dielétrica efetiva da linha (que determina sua velocidade de propagação) é: εe = εr + 1 εr − 1 1 q + 2 2 1 + 12 (8) h W em que W é a largura da trilha metálica. A largura para uma dada impedância característica Z é obtida através de: 8eA 2A , W e n−2 h = 2 B − 1 − ln(2B − 1) + εr −1 ln(B − 1) + 0,39 − h π 2εr r Z εr + 1 εr − 1 0,11 A= + 0,23 + 60 2 εr + 1 εr π η0 B= (η0 a impedância do vácuo) √ 2 Z εr 1 D. M. Pozar, “Microwave Engineering,” 4th ed. Hoboken, NJ: Wiley, 2011. 3 0,61 εr io , W h <2 W h >2 (9) (10) (11) Simulação circuital Simule numericamente o circuito com as linhas projetadas utilizando o QUCS — Quite Universal Circuit Simulator. Você deve caracterizar as perdas de reflexão de cada porta (|S11 |, |S22 | e |S33 |), as perdas de inserção (|S21 | e |S31 |) e o isolamento (|S32 |) para uma faixa de frequências de pelo menos 0,5f a 1,5f . Considerações: • Tenha em mente o tamanho limite especificado para o circuito no passo seguinte. É recomendável traçar um esboço da placa a ser fabricada antes de criar o circuito em simulação. • A simulação de linhas de microfita é feita através do modelo linha de microfita (microstrip line) sob a categoria de componentes linhas de transmissão. • Utilize modelos apropriados para junções T, curvas e transições de largura de linha quando for preciso. • Inclua um componente substrato para especificar as características físicas da placa, comum a todos os trechos de linha do circuito. • Utilize uma fonte de potência em cada terminação do circuito com as impedâncias internas apropriadas para a determinação dos parâmetros S. • Inclua um bloco de parâmetros S (categoria simulações) para especificar o tipo de simulação e a faixa de frequências desejadas. • Inclua equações para converter os parâmetros S em decibéis (menu inserir, inserir equação): S11dB = dB(S[1, 1]) S12dB = dB(S[1, 2]) ... • Plote as reflexões complexas em uma Carta de Smith e os parâmetros em decibéis em um gráfico retangular para verificar o projeto. Desenho da placa Desenhe o leiaute do divisor a ser fabricado em formato DXF. Ele deve incluir os desenhos das trilhas, furos para conectorização e contorno do substrato, cujas dimensões devem ser de até 150 mm × 70 mm. Conforme necessário corrija a simulação para incluir as curvas e junções utilizadas no leiaute e reajuste o projeto. Considerações: • As 3 terminações do circuito devem estar ligadas a conectores BNC que serão rosqueados à placa. Para tanto, desenhe furos de 9 mm de diâmetro a 5 mm da terminação em questão. • O resistor será soldado sobre as trilhas na posição apropriada e a distância entres seus contatos deve ser a mínima possível. • Verifique se o seu desenho está com unidade configurada em milímetros (menu options, current drawing preferences). • Utilize o campo de entrada de texto para especificar coordenadas abosultas (p. ex. “10, 5”) ou relativas ao último ponto inserido (“@0, -3”) • Utilize camadas (layers) distintas para as trilhas, os furos e o contorno da placa. • Verifique se o contorno da placa é o menor possível para agilizar a fabricação. 4