II.5.2.2. Ecossistemas costeiros A zona costeira ou faixa litorânea

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II.5.2.2. Ecossistemas costeiros
A zona costeira ou faixa litorânea corresponde à região de transição ecológica entre os ecossistemas terrestre
e marinho, sendo importante como ambiente de ligação e nas trocas genéticas. É um ambiente muito diverso
e de grande importância para a manutenção da vida no mar. Ao longo dessa faixa é possível identificar uma
grande diversidade de paisagens como dunas, ilhas, recifes, costões rochosos, manguezais, restingas, entre
outros.
Entretanto, a diversidade biológica não se encontra distribuída igualmente ao longo dos diversos
ecossistemas costeiros. Praias arenosas constituem, por exemplo, sistemas com baixa diversidade, abrigando
organismos especializados, devido à ausência de superfícies disponíveis para fixação e pela limitada oferta
de alimentos. Restingas e costões rochosos encontram-se em posição intermediária, em relação à
biodiversidade, enquanto que as lagoas costeiras e os estuários constituem sistemas férteis, servindo de
abrigo para numerosas espécies. Já os manguezais apresentam elevada diversidade estrutural e funcional,
atuando, juntamente com os estuários, como exportadores de biomassa para os sistemas adjacentes.
A. Aspectos gerais da zona costeira da área de estudo
A área de estudo considerada para esse item é caracterizada pela faixa costeira/marinha dos municípios de
Ilhéus (BA) e Salvador (BA), onde podem estar localizada a base de apoio da atividade. O litoral dessa
região é marcado pela presença de terraços marinhos, praias, costões rochosos, restingas, manguezais e
recifes costeiros.
A Baía de Todos os Santos é uma das maiores e mais importante baías de toda costa brasileira, possui
180.000 ha e inclui o estuário do Rio Paraguaçu. A região foi formada durante a separação da América do
Sul e África, no Cretáceo, e possui cerca de 40 ilhas, recebendo acima de 200 m3/s de água doce. Nela se
encontram extensas áreas de manguezais, inúmeros pequenos estuários e desembocadura de rios, praias e
lagunas (DIEGUES, 1989).
Os ecossistemas presentes são bastante vulneráveis a impactos, como ocupação urbana, turismo, sobrepesca,
obras portuárias, mineração e ocupação de áreas de manguezais para a carcinocultura, além dos possíveis
vazamentos de óleo, pois é na Baía de Todos os Santos onde se concentram os navios, terminais e operações
de carga e descarga. A presença de indústrias petroquímicas, químicas, atividades petrolíferas e o
crescimento urbano desordenado na área representam impactos diretos sobre a plataforma, principalmente
através do aporte de dejetos domésticos, metais pesados, óleo, petróleo cru e seus derivados.
Devido à distância entre o bloco e a costa não são esperados, em condições normais da atividade, efeitos nos
ecossistemas costeiros. O Mapa II.5.2.2.2 (apresentado ao final do item Meio Biótico) apresenta os principais
ecossistemas encontrados na zona costeira da área de estudo.
A seguir são descritos, sucintamente, os principais ecossistemas costeiros que ocorrem na área de estudo,
destacando-se suas principais características.
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•
Praias arenosas
As praias são feições deposicionais no contato entre terra submersa e água, constituídas comumente por
sedimentos arenosos, podendo também ser formadas por seixos e por sedimentos lamosos (MUEHE, 2004).
As praias arenosas constituem um dos ambientes de maior extensão ao longo de todo o litoral brasileiro. São
sistemas dinâmicos, no qual elementos como vento, água e areia interagem, resultando em complexos
processos hidrodinâmicos e deposicionais.
As praias podem ser divididas em supra e mediolitoral (porção subaérea) e uma porção subaquática que
inclui a zona de arrebentação e se estende até a base das ondas (WRIGHT & SHORT, 1983 apud AMARAL
et al., 2002). Quanto ao grau de exposição, as praias podem ser identificadas desde muito expostas a muito
protegidas, sendo a variabilidade física resultante da combinação de parâmetros como nível energético das
ondas e granulometria do sedimento. Destes dependem a morfologia do fundo, o padrão de circulação e a
dinâmica de correntes (VILLWOCK, 1987 apud AMARAL et al., 2002).
A fauna de praias é composta, principalmente, por animais permanentes, normalmente com distribuição
agregada que, conforme o modo de vida, compõem a epifauna e a infauna e, com relação ao tamanho, a
macrofauna, a mesofauna e a microfauna. Além dessas categorias, devem ser incluídos organismos que
visitam temporariamente a praia e/ou dela dependem como fonte essencial de alimento. A fauna de praias é
representada pela maioria dos grupos taxonômicos como Cnidaria, Turbellaria, Nemertinea, Nematoda,
Annelida, Mollusca, Echiura, Sipuncula, Crustacea, Pycnogonida, Brachiopoda, Echinodermata e
Hemichordata. Entre esses, os numericamente mais importantes são Polychaeta, Mollusca e Crustacea.
Muitas espécies têm importância econômica direta, como é o caso dos crustáceos e moluscos utilizados na
alimentação humana ou como isca para pesca (BROWN & MCLACHLAN, 1990 apud AMARAL et al.,
2002).
A região de estudo caracteriza-se pela presença de falésias e franjas de recifes de arenitos de praia
incrustados por algas calcárias, briozoários e corais. Por uma extensa região, estas construções recifais
protegem a costa da elevada energia das ondas, criando praias abrigadas e piscinas naturais. A fauna
adaptada à vida terrestre que ocupa o supralitoral dessa região é caracterizada por espécies de caranguejos
como Cardisoma guanhumi, Goniopsis cruentata, Ocypode quadrata, Sesarma angustipes, S. rectum, Uca
maracoani, U. rapax e Ucides cordatus. A zona entremarés abriga uma fauna mais diversificada, que inclui
antozoários Sphenotrochus auritus; poliquetas Capitella capitata, Diopatra cuprea, D. viridis, Eunice
cariboea,, e Sigambra grubei; moluscos como Anomalocardia brasiliana, Bulla striata, Cerithium atratum,
Lucina pectinata, Macoma constricta, Mytella falcata, Neritina virginea, Tagelus plebeius, Tivela
mactroides e Trachicardium muricatum; crustáceos Alpheus heterochaelis, Callichirus major, Callinectes
danae, C. larvatus, Claripdopsis dubia, Excirolana braziliensis, Orchestia platensis, Pachygrapsus
transversus, Panopeus hartii, Petrolisthes armatus, Pinnixa patagoniensis e Upogebia omissa; e o
equinodermata Mellita quinquiesperforata (AMARAL et al., 2002). É importante ressaltar que existem
informações limitadas sobre a biodiversidade desses ambientes, principalmente na costa nordestina, em
especial para a Bahia (GV CONSULT et al., 2004).
Por sua disposição junto a um corpo de água, as praias constituem forte atração para o lazer, com
significativas implicações econômicas por meio das atividades associadas ao turismo e esportes náuticos.
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Formam, ainda, importante elemento paisagístico, cuja estética e balneabilidade precisam ser preservadas ou
recuperadas.
As praias vêm sofrendo crescente descaracterização em razão da ocupação desordenada e do aporte das
diferentes formas de efluentes, tanto de origem industrial quanto doméstica, o que tem levado a um sério
comprometimento de sua balneabilidade, principalmente próxima dos centros urbanos. O lixo e os esgotos
domésticos têm sido problemas que exigem medidas imediatas. Há ainda a crescente especulação
imobiliária, a mineração com retirada de areia das praias e o crescimento exponencial do turismo e veraneio
(GV CONSULT, 2004).
•
Costões rochosos
O litoral rochoso é composto pelo que conhecemos por costões rochosos, substrato consolidado situado no
limite entre o oceano e o continente (SANTOS & GOMES, 2006). Os habitats costeiros bentônicos estão
entre os ambientes marinhos mais produtivos do planeta. Dentre os ecossistemas presentes na região
entremarés e habitats da zona costeira, os costões rochosos são considerados um dos mais importantes por
conter uma alta riqueza de espécies de grande importância ecológica e econômica, tais como mexilhões,
ostras, crustáceos e ampla variedade de peixes (COUTINHO, 2002).
O costão rochoso sofre influência das marés, das ondas e dos raios solares, obrigando as formas de vida a se
adaptarem a essas condições peculiares. Por receberem grande quantidade de nutrientes proveniente dos
sistemas terrestres, esses ecossistemas apresentam uma grande biomassa e produção primária de
microfitobentos e de macroalgas. Como consequência, os costões rochosos são locais de alimentação,
crescimento e reprodução de um grande número de espécies (COUTINHO, 2002).
O substrato duro dos costões favorece a fixação de larvas e esporos de diversas espécies de invertebrados e
de macroalgas. Estes organismos sésseis por sua vez, fornecem abrigo e proteção para uma grande variedade
de animais, servindo também como substrato para a fixação de epibiontes (SANTOS & GOMES, 2006). As
macroalgas também abrigam uma rica comunidade animal e de epífitas, denominada, comunidade fital.
Segundo COUTINHO (2002) o costão rochoso pode ser subdividido em três regiões, sendo elas:
• Supralitoral (= região litorânea)  composto principalmente por liquens, normalmente de
espécies de Verrucaria e ou por cianofíceas dos gêneros Calothrix, Lyngbya, Schizothrix e
Scytonema, entre outros. Algumas espécies de algas encontradas são: Bangia, Porphyra,
Hinksia, Enteromorpha, etc. Espécies de gastrópodes do gênero Nodilittorina são muito
característicos e abundantes. Crustáceos isópodes do gênero Lygia também são bastante
comuns nesta zona, além de pequenos caranguejos.
• Médiolitoral  Entre as espécies de algas comumente encontradas destacam-se as espécies
de Centroceras, Enteromorpha, Ulva, Cladophora, Chaetomorpha, Laurencia,
Acanthophora, Dictyota, Gracilaria, Hypnea, Jania e etc. Entre os crustáceos podemos
citar os Cirrípedes (Chthamalus e Tetraclita) e os moluscos bivalves. Em locais expostos,
mexilhões do gênero Perna são dominantes nesta zona, enquanto que, em locais
protegidos, ela é principalmente ocupada por Brachidontes. Existem vários herbívoros
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característicos desta zona tais como Collisella, Acmaea, Fissurella, etc. Já entre os
gastrópodes predadores destacam-se os gêneros Stramonita, Pisania, Morula e
Leucozonia.
• Infralitoral (= região sublitorânea)  As algas coralináceas incrustantes são dominantes
especialmente em locais onde a herbivoria é intensa. Estas algas podem estar
acompanhadas por tufos de alga dos gêneros Jania, Polysiphonia, Hypnea, Laurencia,
Padina, etc. Sargassum é, provavelmente, o gênero de alga mais comum. Os herbívoros
que se alimentam dessas algas pertencem a uma variedade de grupos taxonômicos, tais
como Aplysia, os ouriços-do-mar dos gêneros Arbacia, Echinometra e Paracentrotus, e os
peixes do gênero Stegastes (peixe-donzela) e das famílias Acanthuridae e Scarídae.
Aparecem também hidrozoários da espécie Millepora alcicornis e por antozoários dos
gêneros Palythoa e Zoanthus.
Os costões são típicos da região sudeste do país, estando representados na Bahia por dois tipos
característicos: os matacões e as falésias. Ao longo do litoral baiano ocorrem, em alguns pontos, matacões
devido ao afloramento de rochas do Embasamento Cristalino (rochas de idade do Pré-Cambriano), que nestas
regiões atingem a linha de costa.
Na região de estudo, os costões rochosos e seus respectivos organismos bentônicos estão presentes na porção
norte do município de Ilhéus, na divisa com o município de Uruçuca e na região sudeste da Baía de Todos os
Santos.
Em Salvador, vários afloramentos rochosos estão presentes, sobretudo nas praias de Itapoã e do Rio
Vermelho (Figura II.5.2.2.1). As falésias estão concentradas na região sul e extremo sul, sendo mais
representativas no município de Belmonte. Da praia da Barra até baía de Aratu, são encontrados costões
rochosos com uma grande riqueza biológica, com águas abrigadas e atualmente eutrofizadas. Todas estas são
áreas indicadas como áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade dos costões rochosos
(PROBIO/MMA, 1999).
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Fonte: NUNES, 2005
FIGURA II.5.2.2.1 - Figuras 1 e 2- Stella Maris (Região Metropolitana de Salvador),
platô; Figuras 3 a 5 - Costões de granito gnaisse; Figura 6 - Itapoã (Região
Metropolitana de Salvador).
•
Restinga
Toda a região costeira brasileira enquadra-se nos domínios da Mata Atlântica, que é considerada um dos
mais ricos conjuntos de ecossistemas e endemismo do planeta e a segunda floresta mais ameaçada do mundo,
depois das florestas de Madagascar. Abrangendo estados da região sul, sudeste, centro-oeste e nordeste, esse
bioma é composto de uma série de fitofisionomias, com significativa diversidade ambiental (CRUZ et al.,
2007).
Apesar do acentuado processo de intervenção, a Mata Atlântica ainda abriga uma parcela significativa da
diversidade biológica do Brasil, com destaque para os altíssimos níveis de endemismos, especialmente na
região cacaueira da Bahia, região serrana do Espírito Santo, Serra do Mar e Serra da Mantiqueira. A riqueza
pontual é tão significativa que os dois maiores recordes mundiais de diversidade botânica para plantas
lenhosas foram registrados nesse bioma (CONSERVATION INTERNATIONAL DO BRASIL et al., 2000).
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Durante o Workshop “Prioridades para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica do nordeste”
realizado em 1993 em Recife, foram apresentadas 105 áreas que foram consideradas prioritárias para
conservação na região nordeste. No estado da Bahia, a subregião “Sul da Bahia e Recôncavo” concentrava
11 destas áreas prioritárias e dentre as conclusões deste workshop enfatizou-se a necessidade de consolidar a
informação biológica existente para estas áreas; incentivar e divulgar a necessidade de pesquisas biológicas
nas áreas de menor conhecimento científico e estimular a criação de Unidades de Conservação nas áreas de
maior conhecimento científico.
Restinga é um ecossistema associado à mata atlântica e faz parte do conjunto de ecossistemas que mantém
estreita relação com o oceano, tanto na sua origem como nos processos nele atuantes, possuindo
características próprias relativas à composição florística, estrutura da vegetação, funcionamento e nas
interações com o sistema solo-atmosfera (SILVA, 1990 apud TEIXEIRA, 2001). Os ecossistemas de
restinga ocupam cerca de 80% da costa brasileira, ocorrendo desde o sul até o norte, apresentando várias
áreas fragmentadas ao longo do seu percurso no litoral brasileiro (LACERDA et al., 1993).
Segundo a Resolução Conama Nº 004, de 18.09.1985 o ecossistema de restinga pode ser assim definido:
“acumulação arenosa litorânea, paralela à linha da costa, de forma geralmente alongada, produzida por
sedimentos transportados pelo mar, onde se encontram associações vegetais mistas características,
comumente conhecidas como vegetação de restinga” (FEEMA, 1990).
Esses ecossistemas desenvolvem-se em substratos arenosos, de origem marinha e idade quaternária, que
formam faixas alongadas, fechando lagunas costeiras, ou largas planícies com cristas praiais depositadas em
paralelo (ARAÚJO et al., 1998).
Segundo VELOSO et al. (1991), as restingas são enquadradas como “vegetação com influência marítima” e
podem ser reconhecidas diferentes comunidades vegetais. Entre os gêneros considerados característicos deste
ecossistema são reconhecidos Remirea, Salicornia, Acicarpha, Polygala, Spartina, Ipomoea, Paspalum,
Canavalia e a palmeira Allagoptera arenaria. De maneira geral, as restingas, sobretudo a arbórea, foram
significativamente alteradas pela ação antrópica através da implantação de pastagens e reflorestamento e
extração de madeira para serrarias e carvoarias (SOBRINHO & QUEIROZ, 2005).
Para o litoral sul da Bahia temos o ecossistema de restinga apresentando duas fisionomias: a arbórea e a
herbácea. A sua formação florística é relativamente simples, as árvores e arvoretas com altura em torno de 7
m apresentam copas bastante regulares, submata densa e certa abundância de epífitas. Em segundo plano
têm-se os cordões litorâneos propriamente ditos, raramente atingidos pelas marés, onde se denominam
caméfitas e microfanerófitas (arbustos), caracterizando a Restinga Arbustiva (scrub). A densidade da
vegetação é variável e sempre composta de um estrato herbáceo de espécies com caules estoloníferos, que
confere a esses cordões de pequenas dunas certa estabilidade. Os solos altamente salinos, aliados a uma
temperatura elevada, manifestam-se através de algumas adaptações morfológicas, que influem na ação
fisiológica das plantas, como caules estoloníferos e rizomas (AMORIM & OLIVEIRA, 2007).
Nas dunas de Abaeté também há a presença de restinga arbórea e arbustiva; répteis, aves e orquídeas
endêmicas (MARTINS et al., 2010).
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As restingas, ao longo da costa do Estado da Bahia, vêm sofrendo sucessivos eventos de degradação que,
consequentemente, favorecem a destruição do habitat (MARTINS et al., 2010). Para o litoral norte, onde se
encontra Salvador, constata-se que estas áreas estão submetidas a semelhantes elementos de degradação, o
que tem resultado numa continua diminuição da área natural que vem sendo ocupada por uma série de
atividades antrópicas, muitas delas com consequências seriamente negativas para o meio ambiente, como a
deposição de lixo sobre a vegetação e a remoção clandestina de areia (MARTINS et al., 2010).
De uma maneira geral as restingas do sul da Bahia, sobretudo a arbórea, também foram significativamente
alteradas pela ação antrópica através da implantação de pastagens e extração de madeira para serraria e
carvão. Atualmente percebe-se que grandes áreas foram adquiridas por empresas reflorestadoras para
implantação de reflorestamento em alta escala. A criação de florestas de pinus e eucalipto visa suprir as
necessidades das indústrias de papel e celulose que se implantaram na região (AMORIM & OLIVEIRA,
2007). Pode-se citar, ainda, a especulação imobiliária que surge naturalmente em áreas próximas aos
grandes centros turísticos, como Itacaré, Ilhéus, Porto Seguro e Caravelas. Os empreendimentos hoteleiros e
a urbanização das praias para loteamentos são os principais aspectos para a fragmentação das restingas
nessas regiões (CORDEIRO, 2003).
•
Manguezal
O manguezal é um ecossistema costeiro de transição entre a terra e o mar, influenciados pelo sistema de
marés, em áreas estuarinas abrigadas, onde ocorre a mistura das águas doces continentais às salgadas
marinhas, na faixa tropical e subtropical do planeta. Geralmente estão associados às margens de baías,
enseadas, desembocadura de rios, lagunas e reentrâncias costeiras. O manguezal é considerado um dos
ecossistemas mais produtivos do planeta. No Brasil, este ambiente está incluído no Complexo Mata Atlântica
e ocupa desde a costa do estado do Amapá (4o N) até Santa Catarina (28o 30’S) (NUNES, 1998 apud
MIRANDA et al., 2005; SCHAEFFER-NOVELLI, 2002).
O conjunto de plantas encontradas nesse ecossistema, adaptado às variações de maré, é popularmente
conhecido como mangue. Ai desenvolve-se uma comunidade seral arbórea com as espécies mais freqüentes
sendo homogêneas e repetindo-se ao longo de todo o litoral brasileiro. As angiospermas do mangue do litoral
brasileiro pertencem a três gêneros, contando com um total de seis espécies. Esses gêneros são (AMORIM &
OLIVEIRA, 2007; SCHAEFFER-NOVELLI, 2002): Rhizophora (mangue vermelho); Avicennia (siriúba ou
mangue preto) e Laguncularia (mange branco ou tinteira).
Segundo pesquisas realizadas pelo IBAMA, as áreas de manguezais são indispensáveis ao fluxo de energia e
nutrientes nas costas tropicais (FARIAS, 2007), e prestam diversos serviços à população humana, a exemplo
da proteção da costa contra erosão, assoreamento, enchentes, poluição por metais, e funcionam como um
verdadeiro berçário para várias espécies de relevância socioeconômica as quais se alimentam dos nutrientes
aí presentes (FARIAS, 2007).
Além disso, devido a uma fitofisionomia bastante característica, esse ecossistema possui uma grande
variedade de nichos ecológicos, o que resulta em uma fauna diversificada com representantes dos grupos dos
anelídeos, moluscos, crustáceos, aracnídeos, insetos, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Já no ambiente
aquático há uma abundância de espécies dos grupos representados por crustáceos e peixes, decorrente da
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capacidade que estes têm de suportar as variações de salinidade resultante da mistura das águas. A grande
oferta de alimento e uma baixa predação garantem uma alta produtividade na massa d'água. Os manguezais
acolhem muitas espécies ameaçadas de extinção e endêmicas.
Algumas das espécies de aves associadas aos manguezais brasileiros, por exemplo, são consideradas raras,
ameaçadas ou vulneráveis para vários países da América do Sul e do Caribe de acordo com SAENGER et al
(1983) e MARCONDES-MACHADO & MONTEIRO-FILHO (1989) apud SCHAEFFER-NOVELLI, 2002.
Além destas espécies existem as endêmicas da região Neotropical, consideradas bastante escassas em alguns
segmentos do litoral brasileiro, podendo estar envolvidas com algum tipo de ameaça iminente. Neste caso
acham-se incluídas as espécies Eudocimus ruber, Ixobrychus involucris, Oxyura dominica e Netta
erythrophthalma (SCOTT & CARBONELL, 1986 apud SCHAEFFER-NOVELLI, 2002). Já as cinco
espécies de tartarugas marinhas ocorrentes no litoral brasileiro, todas ameaçadas, podem entrar em
complexos estuarinos-lagunares para se alimentar. A conservação deste sistema natural é de fundamental
importância para auxiliar a preservação dessas espécies marinhas (SCHAEFFER-NOVELLI, 2002).
O estado da Bahia, de interesse para o presente estudo, possui um litoral de 1.188 km e apresenta um grande
número de estuários, cujas bordas caracterizam-se pela formação de manguezais (BAHIATURSA, 2000). A
presença desses ambientes é constante desde a região de Mangue Seco, no norte do estado, até a região de
Mucuri localizado no sul. Na Bahia, estes ecossistemas costeiros são importantes para economia regional e
destacam-se pela riqueza de material orgânico, flora e fauna (FARIAS, 2007).
Os manguezais presentes na zona costeira da Bahia são caracterizados por vegetações arbóreas, lenhosas que
colonizam solos lodosos, ricos em matéria orgânica. Trata-se de uma região estratégica desde a colonização
brasileira no século XVI e há um consenso que esta região tem vocação também para fornecer uma gama de
produtos e serviços relacionados à economia e exercer um papel de destaque na manutenção da
biodiversidade regional (FARIAS, 2007).
Os problemas de origem antrópica observados na região da Bahia são semelhantes aos encontrados em
outros ambientes estuarinos brasileiros. Segundo BAHIATURSA (2000) pode-se destacar os seguintes
impactos nos manguezais: aterros e consequente assoreamento; pesca predatória e mariscagem por pessoas
que não fazem parte das comunidades locais; o não respeito à época do defeso dos crustáceos; lixo e o esgoto
sanitário.
Vale mencionar que, diversos problemas ambientais surgiram a partir da má utilização dos recursos do
manguezal, comprometendo a dinâmica funcional dos processos erosivos e sedimentológicos formadores da
paisagem geomorfológica, provocando mudanças do padrão de circulação das águas, alterações no balanço
hídrico, eliminação da influência da maré, rebaixamento do lençol freático, perda de banco genético, redução
dos estoques pesqueiros locais e perigo de extinção de espécies, gerando danos por vezes irreversíveis.
Apesar do quadro de degradação em que os manguezais brasileiros se encontram, no tocante ao aspecto legal
são ecossistemas protegidos por Lei Federal pertencente ao Código Florestal Brasileiro no artigo 2, de
número 4771 do ano de 1965, prevendo que toda área de mangue é de preservação permanente, protegendo
assim, a flora e a fauna destes ambientes tropicais, garantida pela Resolução CONAMA nº 004 de 1985,
definido no artigo 2 e classificado como Reserva Ecológica em toda sua extensão pelo artigo 3.
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Recifes
Os recifes de coral são o ambiente marinho mais rico em termos de biodiversidade, podendo sustentar
milhares de espécies em um único local. São heterogêneos e possuem diferentes tipos de habitat e por isso
oferecem um banco genético de vital relevância para usos atuais e futuros da população humana (CHOAT &
BELLWOOD, 1991; RICHARDSON, 1999; VILLAÇA, 2002). Os recifes de origem não biológica como os
arenitos de praia apesar de possuírem menor complexidade ambiental quando comparados aos recifes de
coral são considerados ecossistemas muito importantes e com alta diversidade (FERREIRA JUNIOR, 2005).
Também apresentam alta riqueza, abrigando um grande número de espécies de importância ecológica e
econômica.
Os recifes se distribuem por cerca de 3.000 km da costa nordeste, desde o Maranhão até o sul da Bahia,
constituindo os únicos ecossistemas recifais do Atlântico sul, sendo que as suas principais espécies
formadoras ocorrem somente em águas brasileiras (MAIDA & FERREIRA, 1997 apud PRATES & LIMA,
2008).
No que se refere especificamente aos arenitos de praia, BRANNER (1904) apud FERREIRA JUNIOR
(2005) foi o primeiro a fornecer descrições mais detalhadas sobre os mesmos no litoral nordestino, indicando
sua ocorrência desde o norte do Ceará até Porto Seguro, na Bahia.
Na Bahia e em diversos estados do Brasil, algumas comunidades recifais se instalaram sobre bancos de
arenito de praia, em geral estreitos, alongados e localizados adjacentes à praia (LEÃO, 1996 apud CASTRO,
1999).
Entre Salvador e Abrolhos existem zonas diversificadas, com recifes costeiros (biogênicos e comunidades
em arenitos de praia) e bancos isolados ao largo. Alguns destes recifes estão entre os menos conhecidos do
Brasil, como os recifes da Baía de Camamu, os Recifes de Itacolomis e grupos de pináculos recifais que os
circundam (aproximadamente 17° S) (CASTRO, 1999).
Na orla marítima de Salvador ocorrem construções carbonáticas incipientes. Estas construções são arenitos
de praia e crostas algáceas superficiais sobre esses arenitos e sobre rochas metamórficas do embasamento
cristalino, aos quais se referem como construções carbonáticas Arembepe-Barra. Os recifes característicos da
Baía de Todos os Santos são os bancos rasos que ocorrem nos seus setores nordeste e norte, entre Salvador,
Ilhas dos Frades e Ilha de Maré. Além deles, destaca-se a franja recifal da Ilha de Itaparica, conhecida como
recife de Pinaúnas, além do conjunto de recifes afastados da costa denominado de Caramuanas, situado ao
sul da ilha de Itaparica (CASTRO, 1999).
Na região de Ilhéus, observam-se afloramentos de rochas pré-cambrianas, no fundo marinho e em forma de
ilhas, em frente à cidade, que representam testemunhos da retrogradação da linha de costa em consonância
com a elevação pós-glacial do nível do mar. Esse conjunto de ilhotas empresta, a um litoral geralmente
desprovido de ilhas, um toque especial à paisagem e geralmente estão cobertos por algas calcárias do grupo
das coralináceas (MUEHE & NICOLODI, 2008). Formações de corais também estão presentes na linha da
costa ao sul da cidade de Ilhéus (MARTIN et al., 1980 e BITTENCOURT et al., 2000 apud ROMERO et al.,
2008).
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Entre os impactos mais comuns que afetam os recifes da Bahia pode-se citar o desenvolvimento da zona
costeira, o turismo, a pesca predatória, a instalação de projetos industriais e a exploração de petróleo.
É importante observar que a fauna brasileira de corais, e a do Sul da Bahia em particular, possui diversas
espécies que só aí ocorrem, ou seja, espécies endêmicas destes locais. Como os recifes ainda são pouco
estudados acredita-se que neles possam ainda ocorrer diversas outras espécies ainda desconhecidas
(CASTRO, 1999).
•
Bancos de Moluscos
O Filo Mollusca é um dos grupos melhor inventariados na costa brasileira. Segundo RIOS (1994), são
registrados para o Brasil 390 espécies de bivalves marinhos, correspondendo a cerca de 30% das espécies de
moluscos marinhos do país. Os bivalves ocorrem em ambientes marinhos e dulcícolas, ocupando diferentes
tipos de substrato, areia, rocha e corais. Este grupo desperta interesse pelas conchas que produz, pela sua
utilização econômica alimentar e industrial, e ainda pela facilidade e disponibilidade de coleta de
exemplares. Assim, existem representantes do Filo citados para todas as regiões do país, em todos os
ambientes: de entremarés às profundidades abissais. Os ambientes mais conhecidos são os costões rochosos,
as praias, os ambientes de águas rasas e os manguezais, estes últimos de grande importância econômica.
Os moluscos mais explorados em bancos naturais na região costeira e estuários da área de influência são: a
ostra-do-mangue (Crassostrea brasiliana, Crassostrea rhizophorae), o bacucu ou mexilhão do mangue
(Mytella guianensis), o mexilhão (Mytilus edulis), o berbigão (Anomalocardia brasiliana) e o marisco
(Lucina pectinata).
Segundo LAVRADO et al, 2006 os grupos Bivalvia e Gastropoda apresentam abundâncias uniformemente
distribuídas ao longo da plataforma externa e talude continental da região do SCORE Central do programa
REVIZEE. A área amostrada pelo SCORE Central engloba completamente a área de influência do presente
estudo e, portanto esta afirmativa é verdadeira para a área de estudo.
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Bancos de Angiospermas Marinhas
O Brasil tem uma extensa costa entre as zonas das marés, de cerca de 8.500 km, que é dominada pelas algas.
Nessa zona ocorre também um grupo pequeno, mas bem interessante, de angiospermas marinhas. As
angiospermas marinhas compreendem um pequeno grupo de plantas vasculares, gramíneas, do grupo das
monocotiledôneas, que vive em ambientes marinhos, completando todo seu ciclo vital imersas em água do
mar. O grupo é pouco representado no Brasil, onde ocorrem apenas três gêneros e um total de cinco espécies.
Dentre estes, o gênero Ruppia, com uma espécie cosmopolita, R. maritima, é o único que cresce em águas de
baixa salinidade. Os gêneros Halodule, com duas espécies, H. emarginata e H. wrightii, e Halophila,
também com duas espécies, H. baillonii e H. decipiens, são exclusivos de águas marinhas. Embora com
baixa diversidade específica o grupo pode assumir grande importância ecológica em alguns pontos da costa.
Este é, por exemplo, o caso de H. wrightii que forma extensas pradarias em algumas áreas da costa
nordestina e tem sido coletada para alimentar peixes-boi em cativeiro. O grupo não apresenta importância
econômica imediata nem está, aparentemente, ameaçado por atividades antrópicas diretas, a não ser as
populações que habitam áreas com poluição crescente e áreas de marinas (OLIVEIRA et al., 1999).
Maio/2013
Revisão 00
II.5.2.2-10/13
Os ecossistemas de gramas marinhas apresentam como principal característica a fixação do substrato, devido
ao sistema radicular nas plantas (rizoma), que se propaga a poucos centímetros de profundidade, na direção
horizontal. Outra característica inerente ao ecossistema das gramas marinhas é a grande produção de detritos
(pedaços de folhas), que servem como fonte de energia para as comunidades aquáticas.
O desaparecimento ou redução na densidade de um banco de angiospermas marinhas pode levar à erosão da
linha de costa da respectiva área, além de representar perda de hábitat para inúmeras algas epífitas,
invertebrados e peixes que se utilizam destas plantas como substrato, alimento e refúgio. A distribuição e
taxonomia destas plantas foram estudadas por OLIVEIRA-FILHO et al. (1983) e alguns aspectos ecológicos
são tratados por OLIVEIRA et al. (1997).
De acordo com OLIVEIRA et al (1999), as gramas marinhas formam extensos trechos em áreas rasas e de
substrato arenoso. Este tipo de ambiente, também conhecido como pastos marinhos, foi pouco estudado na
região da Baía de Todos os Santos e demais áreas do litoral baiano. Além disso, poucos técnicos conhecem a
presença deste tipo de ecossistema no interior da baía.
Na Baía de Todos os Santos, extensas áreas com gramíneas marinhas estão situadas ao Sul, no trecho
compreendido entre Mataripe (ao Norte), ilha de Maré (a Leste) e Madre de Deus (a Oeste), e no canal de
Itaparica, na região costeira próxima a Encarnação de Salinas. Nestes ambientes, os gêneros de gramas
marinhas que dominam a região são, provavelmente, Thalassia e Halodule (LESSA, 2007).
B. Considerações finais
As zonas costeiras são ambientes complexos, diversificados e de extrema importância para a manutenção da
vida marinha. A elevada concentração de nutrientes, e outras condições ambientais favoráveis, transformam
os ambientes costeiros num dos principais focos de atenção no que diz respeito à conservação ambiental e
manutenção de sua biodiversidade.
De maneira geral, a área descrita no presente estudo está sujeita a grandes riscos ambientais. Os ecossistemas
do litoral da Bahia, incluindo o municípios de Salvador e Ilhéus e a Baía de Todos os Santos vêm sofrendo
com a especulação imobiliária, o turismo predatório, a agricultura e a mineração.
Um importante projeto foi realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica, pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE) e pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA), que em um trabalho de parceria, elaboraram o "Atlas dos Remanescentes Florestais do Domínio
da Mata Atlântica", lançado em 1990. Este foi o primeiro mapeamento da Mata Atlântica realizado no país a
partir da análise de imagens de satélite, que incluiu, além das fisionomias florestais, os ecossistemas
associados (mangues e restingas), determinando suas áreas. As Figuras II.5.2.2.2 e II.5.2.2.3, a seguir
ilustram, na área de estudo, a situação atual do domínio Mata Atlântica (SOS Mata Atlântica/INPE, 2011).
Maio/2013
Revisão 00
II.5.2.2-11/13
Fonte: modificado de SOS Mata Atlântica/INPE (2011)
FIGURA II.5.2.2.2 – Situação do domínio Mata Atlântica atual no município de Salvador/BA e
entorno da Baía de Todos os Santos.
Maio/2013
Revisão 00
II.5.2.2-12/13
Fonte: modificado de SOS Mata Atlântica/INPE (2011)
FIGURA II.5.2.2.3 – Situação do domínio Mata Atlântica atual no município de Ilhéus/BA.
Maio/2013
Revisão 00
II.5.2.2-13/13
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