Artigo Original Impacto do trabalho integrado em rede no diagnóstico precoce do câncer bucal The impact of a work integrated in network in early mouth cancer diagnosis Resumo Abstract Introdução: No Brasil, as neoplasias malignas constituem-se na segunda causa de morte, sendo o câncer de cavidade oral o sétimo mais incidente. Quanto à assistência observa-se que a maioria dos tumores são diagnosticados tardiamente. Objetivo: A partir desta realidade, o presente artigo tem como objetivo, descrever as principais mudanças observadas na condição do diagnóstico do câncer bucal, a partir da experiência do Programa de Atenção Integral e Multiprofissional a pacientes com câncer de Boca, na região de Campinas. Método: Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, tendo como referencial metodológico a triangulação de métodos. Foram realizadas entrevistas com gestores e técnicos das secretarias municipais de saúde, grupos focais com profissionais de saúde e análise de documentos técnicos. Resultados: Durante a implantação do Programa nos municípios que aderiram à proposta 51 profissionais de saúde participaram de atividades de aprimoramento profissional, mais de 250 profissionais foram sensibilizados para promoção da saúde bucal, prevenção e suspeição do câncer de cavidade oral. Tais ações impactaram na organização do trabalho em rede, redefinindo fluxos de referência, garantindo atendimento prioritário para avaliação e confirmação do diagnóstico. Considerando o período do estudo e ao analisar os casos encaminhados ao Programa (18 pacientes) observou-se maior precocidade de diagnóstico, sendo seis casos em fases avançadas da doença e 8 em fases iniciais. Conclusão: A organização do trabalho em rede, na perspectiva da educação permanente e do apoio matricial, a partir das necessidades logo-regionais, mostrou-se estratégica para qualificar a assistência e organizar o acesso ao diagnóstico precoce. Descritores: Neoplasias; Neoplasias Bucais. Caroline Evelyn Sommerfeld 1 Silvia Maria Santiago 2 Maria da Graça Garcia Andrade 3 Fabiana da Mota Almeida Peroni 4 Detecção Precoce de Introduction: In Brazil, malignant neoplasms constitute the second cause of death, being the oral cavity cancer the seventh most incident. With respect to assistance, it is observed that most tumors are diagnosed late. Objective: From this fact, this article aims to describe the main changes observed in the diagnosis of oral cancer, from the experience of the Multidisciplinary and Comprehensive Care Program on cancer patients from mouth. Methods: This is a quantitative and qualitative study, taking as a methodological approach the triangulation of methods. Interviews were conducted with managers and staff of local health departments, focus groups with health professionals and analysis of technical documents. Results: During the implementation of the program in the municipalities that joined the proposed, 51 health professionals participated in professional development activities, more than 250 were sensibilized to oral health promotion, prevention and suspicion oral cavity cancer. These actions impacted the organization of a networking, redefining reference flows and ensuring priority service for assessment and confirmation of diagnostic. Analyzing the cases referred to the program (18 patients) in the study period, there was a greater precocity of diagnosis, being 6 cases in advanced stages of the disease, 8 in early stages and 4 cases in the pre-cancer. Conclusion: The organization of a networking, in the perspective of ongoing education and matrix support, seems to be a qualify strategy for assistance and also a way to organize access to early diagnosis. Key words: Neoplasms; Early Detection of Cancer; Mouth Neoplasms. Câncer; 1)Mestrado. Fisioterapeuta - Doutoranda do Departamento de Saúde Coletiva - Apoiadora do Projeto OncoRede. 2)PhD. Médica - Docente do Departamento de Saúde Coletiva - Coordenadora do Projeto OncoRede. 3)Dra. Médica - Docente do Departamento de Saúde Coletiva - Coordenadora do Projeto OncoRede. 4)Mestrado. Enfermeira - Doutoranda do Departamento de Saúde Coletiva - Apoiadora do Projeto OncoRede. Instiuição: Serviço de realização do estudo: Hospital Municipal Doutor Mário Gatti (HMMG) - Departamento de Atendimento Bucomaxilofacial Departamento de Saúde Coletiva. Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas / SP - Brasil. Correspondência: Caroline Evelyn Sommerfeld - Departamento de Saúde Coletiva / Projeto OncoRede - RuaTessália Vieira de Camargo, 126 - Campinas /SP- Brasil - - Cidade Universitária Zeferino Vaz - CEP: 13083-887 - E-mail: [email protected] Artigo recebido em 22/10/2012; aceito para publicação em 09/12/2012; publicado online em 31/03/2013. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 1, p. 1-7, janeiro / fevereiro / março 2013 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1 Impacto do trabalho integrado em rede no diagnóstico precoce do câncer buca. INTRODUÇÃO O câncer de cavidade oral, junto com o câncer de faringe representa a quinta maior incidência de câncer e é a sétima causa de morte no mundo1. No Brasil, o câncer de cavidade oral é o sétimo tipo de câncer com maior incidência, atingindo principalmente pessoas com mais de 40 anos de idade. Para o ano de 2012 a incidência estimada é de 14.170 novos casos, sendo 9.990 para população do sexo masculino e 4.180 para o sexo feminino2. A suspeita do câncer bucal é feita através do exame visual, sendo essa a melhor ferramenta para a detecção precoce. No entanto, no Brasil ainda permanece como o quinto mais incidente entre homens, a mortalidade é considerada alta e, devido ao fato do diagnóstico ocorrer muitas vezes em estágios avançados, cirurgias extensas, que deixam sequelas, podem ser necessárias3. O prognóstico dos pacientes com câncer bucal está fortemente relacionado ao estadiamento do tumor. Lesões diagnosticadas em fases iniciais e tratadas de forma adequada apresentam até 78% de sobrevida em cinco anos (estadio I: até 78% e estadio II: até 72%), já as lesões diagnosticadas tardiamente apresentam em média 27,5% de sobrevida em cinco anos (estadio III: até 37% e estadio IV: até 18%)4. Apesar da simples prevenção e do baixo custo das ações de promoção, o diagnóstico do câncer oral no Brasil é, em geral, realizado tardiamente (estadio III e IV), comprometendo os resultados do tratamento e as chances de cura. Nessa perspectiva, a doença é considerada de alta letalidade, constituindo-se em relevante preocupação para a saúde pública5,6. Algumas iniciativas porém, têm considerado a possibilidade de organização do trabalho em rede para promover diagnóstico precoce e tratamento oportuno a pacientes com câncer, como o caso do Programa de Atenção Integral e Multiprofissional a Pacientes com Câncer de Boca (PAIM-Boca), implantado em 2007 na região de Campinas, com financiamento do Ministério da Saúde, apoio do Departamento Regional de Saúde de Campinas (DRS7) e do Projeto OncoRede/UNICAMP. O PAIM-Boca foi instituído num hospital de referência para o tratamento oncológico e de intercorrências bucomaxilofaciais de Campinas, constituindo uma equipe multiprofissional para atendimento a pacientes com câncer bucal (dentista bucomaxilofacial, dentista esto- Sommerfeld et al. matologista e prótese oral, cirurgião de cabeça e pescoço, fisioterapeuta, fonoaudióloga, psicóloga e técnica de saúde bucal). O Programa teve como objetivo garantir atendimento aos pacientes da região, além de promover a articulação da rede regional de saúde para enfrentamento do problema do câncer bucal. A partir de encontros com coordenadores de saúde bucal dos municípios, do DRS7 e do Ministério da Saúde foi escolhida para implantação do PAIM-Boca a única Região de Saúde que não possuía hospital de referência para tratamento oncológico. Tal região é composta por 11 municípios, de pequeno e médio porte, com população total estimada em 1.137.302 habitantes7. Para promover a articulação dos serviços da região e organizar o trabalho em rede foram desenvolvidas, de março de 2009 a março de 2011, atividades de aprimoramento profissional e de sensibilização com profissionais das redes de saúde de oito municípios que aderiram a proposta do Programa. Também, foram criados espaços permanentes para discussão de casos clínicos e pactuados novos fluxos de encaminhamento para os casos suspeitos e/ou diagnosticados com câncer bucal na região. Tomando a experiência do Programa de Atenção Integral e Multiprofissional a pacientes com câncer de Boca (PAIM-Boca) como objeto de análise, o presente estudo tem como objetivo descrever as principais mudanças observadas na condição do diagnóstico do câncer bucal, a partir da implantação do PAIM-Boca. MÉTODO Para alcançar tal objetivo, foi realizado um estudo descritivo, transversal, através da triangulação de métodos, com a inclusão de diferentes participantes, buscando viabilizar o entrelaçamento entre teoria e prática8. O estudo foi desenvolvido nos oito municípios que implantaram o PAIM-Boca, além do hospital sede do Programa. Foram convidados a participar do estudo um gestor de cada município (coordenador de saúde bucal), todos os profissionais das equipes de referência dos municípios e todos os profissionais da equipe do PAIMBoca, conforme descrito na Tabela 1. O critério de inclusão considerado para participação dos gestores no estudo foi a adesão do coordenador de saúde bucal ao PAIM-Boca, enquanto para os profissionais das equipes dos municípios foi o envolvimento dos mesmos nas ações de implantação do Programa (capa- Tabela 1. Participantes do estudo, nos munícipios de implantação do PAIM-Boca. Municípios Gestor Ass. Social Dentista Enfermeiro Fisio Fono Psicólogo Nutricionista A B C D E F G H 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 2 2 1 2 1 2 2 2 1 1 0 1 1 1 1 1 0 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 0 1 1 1 0 1 2 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 1, p. 1-7, janeiro / fevereiro / março 2013 Impacto do trabalho integrado em rede no diagnóstico precoce do câncer buca. citação, estágio observacional, sensibilização e atendimento aos pacientes nos municípios). Foram excluídos do estudo os profissionais de saúde que não compareceram aos grupos focais. Todos os participantes foram convidados a participar do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (Anexo I e II), conforme aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do hospital de referência, sede do Programa (Protocolo nº. 0856/2009). A coleta de informações foi realizada através da análise de documentos e registros oficiais8,9 da Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP), do DRS7 e do PAIM-Boca, referente ao período de janeiro de 2007 à março de 2011; entrevistas semi-dirigidas8,10-12 aplicadas aos coordenadores municipais de saúde bucal; além da realização de grupos focais8,13,14 com os profissionais das equipes de referência de cada município que participou das ações e com a equipe do PAIM-Boca. A análise dos dados obtidos foi percorrendo diferentes temas num movimento comparativo, buscando demonstrar a condição de diagnóstico do câncer bucal antes e após a implantação do PAIM-Boca nos municípios. Para tanto os dados quantitativos foram tabulados e analisados descritivamente com auxilio do Programa Exel versão: 1997-2003, enquanto as informações qualitativas foram analisadas de forma a auxiliar na compreensão dos dados quantitativos. RESULTADOS Na perspectiva da educação permanente15-17 foram organizadas ações para aprimoramento de alguns profissionais das redes municipais de saúde (dentista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico, nutricionista, assistente social, psicólogo, enfermeiro), onde a equipe do PAIM-Boca desenvolveu aulas, orientou discussões sobre o problema do câncer bucal e ofereceu estágio observacional no hospital. Junto com os profissionais dos municípios, a equipe do Programa ainda promoveu ações de sensibilização nos municípios sobre orientação de manutenção da saúde bucal, suspeição e diagnóstico precoce do câncer bucal, além de reorganizar e divulgar o fluxo de encaminhamento de casos suspeitos e/ou diagnosticados em cada município. Um total de 51 profissionais das redes municipais de saúde, dos vários níveis de atenção à saúde, participou das ações de aprimoramento profissional (capacitação e estágio observacional). Os 8 municípios receberam apoio matricial18 da equipe de especialistas do PAIM-Boca e durante a atividade de apoio mais de 250 profissionais dos municípios foram sensibilizados para promoção da saúde bucal, prevenção e suspeição do câncer de boca nas redes locais de saúde. A partir do desenvolvimento de tais ações e do contato com gestores e profissionais de saúde observouse que poucas ações de promoção da saúde bucal e prevenção do câncer bucal eram realizadas nos municípios, em geral limitadas às campanhas de vacinação Sommerfeld et al. de idosos. Após a implantação do PAIM-Boca, as ações de promoção e prevenção foram ampliadas para outros grupos considerados de risco (tabagistas, alcoolistas, dependentes químicos) e novas tecnologias passaram a ser utilizadas como apresentação de vídeos educacionais em salas de espera, visitas de unidades móveis e visitas técnicas (com dentistas) em bairros mais afastados, empresas, asilos e centros de dependência química. Conforme recomendação da Política Nacional de Saúde Bucal, a detecção precoce do câncer de boca é papel da atenção primária, mas o nível secundário de atenção à saúde, através da estrutura dos Centros Especializados em Odontologia (CEOs) deve garantir a retaguarda para realização de biópsia e confirmação diagnóstica3. Em 2009, segundo informações do DRS7, a Região de Saúde estudada possuía três CEOs em funcionamento, além disso, faculdades e universidades da região, também, realizavam a confirmação diagnóstica do câncer de boca. Todos os centros de referência da região para o tratamento do câncer bucal, também, admitiam pacientes com lesão suspeita, realizavam a confirmação diagnóstica, além de oferecer o tratamento. Porém, gestores e profissionais da região relataram dificuldades na comunicação com os profissionais desses serviços, principalmente na contra-referência dos casos para acompanhamento nas redes municipais de saúde. Reconhecendo que a organização do cuidado estava centralizada nos serviços da atenção terciária, com funcionamento verticalizado, sem comunicação entre os profissionais dos diferentes serviços, os profissionais dos municípios envolvidos pactuaram um desenho de fluxo mais ampliado (Figura 1), incluindo, quando possível, as redes sociais de apoio (instituições de ensino, ONGs). O fluxo proposto, organizava o trabalho em rede, permitindo o acesso ao diagnóstico em qualquer ponto da rede (atenção primária, secundária e terciária), ao mesmo tempo em que agilizava o encaminhamento para os serviços mais adequados às necessidades dos pacientes. Antes da implantação do PAIM-Boca, observa-se no Gráfico 1 um grande número de casos (quase 80%) com diagnóstico em fases mais avançadas da doença19. Se- Figura 1. Desenho do fluxo pactuado para encaminhamento e seguimento dos pacientes com câncer bucal na região. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 1, p. 1-7, janeiro / fevereiro / março 2013 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 3 Impacto do trabalho integrado em rede no diagnóstico precoce do câncer buca. Sommerfeld et al. Anexo I. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participação de gestores municipais de saúde em pesquisa científica. I - Dados de identificação do sujeito da pesquisa: 1 – Nome do gestor: _________________________________________________________________________________ RG n°: _____________________ Sexo: ( ) M ( )F Data de nascimento: _________________________ Endereço: ________________________________________________________________________________________ Cidade: _______________________________________________ CEP: ________ Telefones DDD: ( ) ____________ II – Dados sobre a pesquisa científica 1 – Título do protocolo de pesquisa: AVALIAÇÃO DE UMA ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA A IMPLANTAÇÃO DE UMA REDE DE CUIDADOS PROGRESSIVOS A PACIENTES COM CÂNCER DE BOCA 2 – Pesquisador: CAROLINE EVELYN SOMMERFELD Orientador: SILVIA MARIA SANTIAGO III – Registro das informações fornecidas pelo pesquisador ao participante: Prezado (a) Sr.(a), Você está sendo convidado (a) a responder algumas perguntas, para uma pesquisa sobre Educação Permanente em saúde como parte de uma tese de doutorado acadêmico. A pesquisa será realizada através da aplicação piloto de uma proposta para o enfrentamento da situação do câncer de boca. O câncer bucal como é um problema de saúde pública, com alto índice de morbi-mortalidade. No estado de São Paulo esse tipo de câncer é o quinto mais prevalente, apresentando em nossa região um cenário de diagnósticos tardios, reduzindo a possibilidade de cura e comprometendo a qualidade de vida dos pacientes e familiares, além reverte-se em alto custo econômico e social para o Estado e para a família, devido à dificuldade de reintegração do indivíduo mutilado na sociedade. Diante desse cenário a presente pesquisa tem como objetivo principal avaliar os resultados de ações de Educação Permanente para implantação de uma rede de atenção integral a pacientes com câncer de boca que visa favorecer a situação do cuidado a pacientes com câncer de boca na região de Campinas. A pesquisa foi submetida aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos e não coloca em risco a vida dos participantes voluntários. As informações serão coletadas antes do desenvolvimento das ações de Educação Permanente, com gestores de saúde, profissionais de saúde e pacientes, para estabelecer um diagnóstico situacional. Após dois anos de desenvolvimento das ações os indicadores serão reavaliados para constatação dos desdobramentos das ações de Educação Permanente. Durante o desenvolvimento das ações serão realizadas avaliações intermediárias para acompanhamento e adequação das ações as necessidades dos participantes. As ações serão desenvolvidas através de negociação com os gestores locais e profissionais de saúde que atuam na área de saúde bucal e oncologia. A partir da identificação das necessidades apontadas pelos participantes será organizado, de forma conjunta, um fluxo para atendimento dos pacientes da região, realizados cursos de capacitação, discussões de casos clínicos, assim como matriciamento e acessória aos serviços de atendimento à pacientes com câncer bucal da região envolvida no estudo. As ações serão desenvolvidas na Região Oeste de saúde do 7º. Departamento Regional de Saúde de Campinas, como projeto piloto para posterior avaliação, adequação e ampliação para as demais regiões. Os pesquisadores garantem aos participantes qualquer esclarecimento acerca do estudo e todas as ações a serem desenvolvidas serão previamente negociadas com os participantes, com o intuito de promover benefícios e evitar qualquer transtorno aos mesmos e a comunidade atendida pela região de saúde. O participante poderá retirar este consentimento e deixar de participar da pesquisa a qualquer tempo, sem prejuízo pessoal ou profissional. Além disso, será mantido o sigilo e o caráter confidencial das informações, zelando pela privacidade do participante e garantido seu anonimato nas conclusões ou publicações. Este documento será elaborado em duas vias, uma para o pesquisador e outra para o sujeito. Contato: Caroline Evelyn Sommerfeld (pesquisadora): 19-9117-4633 Silvia Maria Santiago (orientadora): 19-3521-9248 Comitê de Ética em Pesquisa (Hospital Mário Gatti): 19-3772-5745 IV – Consentimento pós-esclarecido Declaro ter entendido as informações sobre o estudo que me foram dadas pelo pesquisador e consinto em participar do presente protocolo de pesquisa Data: ___________________________________________ Assinatura do gestor _______________________________________________ Assinatura do pesquisador e n° de registro profissional 4 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 1, p. 1-7, janeiro / fevereiro / março 2013 Impacto do trabalho integrado em rede no diagnóstico precoce do câncer buca. Sommerfeld et al. Anexo II. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participação de profissionais de saúde em pesquisa científica. I - Dados de identificação do sujeito da pesquisa: 1 – Nome do profissional: _____________________________________________________________________________ Área de atuação: __________________________________________________________________________________ RG n°: _____________________ Sexo: ( ) M ( )F Data de nascimento: _________________________ Endereço: ________________________________________________________________________________________ Cidade: _______________________________________________ CEP: ________ Telefones DDD: ( ) ____________ II – Dados sobre a pesquisa científica 1 – Título do protocolo de pesquisa: AVALIAÇÃO DE UMA ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA A IMPLANTAÇÃO DE UMA REDE DE CUIDADOS PROGRESSIVOS A PACIENTES COM CÂNCER DE BOCA 2 – Pesquisador: CAROLINE EVELYN SOMMERFELD Orientador: SILVIA MARIA SANTIAGO III – Registro das informações fornecidas pelo pesquisador ao participante: Prezado (a) Sr.(a), Você está sendo convidado (a) a responder algumas perguntas, para uma pesquisa sobre Educação Permanente em saúde como parte de uma tese de doutorado acadêmico. A pesquisa será realizada através da aplicação piloto de uma proposta para o enfrentamento da situação do câncer de boca. O câncer bucal como é um problema de saúde pública, com alto índice de morbi-mortalidade. No estado de São Paulo esse tipo de câncer é o quinto mais prevalente, apresentando em nossa região um cenário de diagnósticos tardios, reduzindo a possibilidade de cura e comprometendo a qualidade de vida dos pacientes e familiares, além reverte-se em alto custo econômico e social para o Estado e para a família, devido à dificuldade de reintegração do indivíduo mutilado na sociedade. Diante desse cenário a presente pesquisa tem como objetivo principal avaliar os resultados de ações de Educação Permanente para implantação de uma rede de atenção integral a pacientes com câncer de boca que visa favorecer a situação do cuidado a pacientes com câncer de boca na região de Campinas. A pesquisa foi submetida aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos e não coloca em risco a vida dos participantes voluntários. As informações serão coletadas antes do desenvolvimento das ações de Educação Permanente, com gestores de saúde, profissionais de saúde e pacientes, para estabelecer um diagnóstico situacional. Após dois anos de desenvolvimento das ações os indicadores serão reavaliados para constatação dos desdobramentos das ações de Educação Permanente. Durante o desenvolvimento das ações serão realizadas avaliações intermediárias para acompanhamento e adequação das ações as necessidades dos participantes. As ações serão desenvolvidas através de negociação com os gestores locais e profissionais de saúde que atuam na área de saúde bucal e oncologia. A partir da identificação das necessidades apontadas pelos participantes será organizado, de forma conjunta, um fluxo para atendimento dos pacientes da região, realizados cursos de capacitação, discussões de casos clínicos, assim como matriciamento e acessória aos serviços de atendimento à pacientes com câncer bucal da região envolvida no estudo. As ações serão desenvolvidas na Região Oeste de saúde do 7º. Departamento Regional de Saúde de Campinas, como projeto piloto para posterior avaliação, adequação e ampliação para as demais regiões. Os pesquisadores garantem aos participantes qualquer esclarecimento acerca do estudo e todas as ações a serem desenvolvidas serão previamente negociadas com os participantes, com o intuito de promover benefícios e evitar qualquer transtorno aos mesmos e a comunidade atendida pela região de saúde. O participante poderá retirar este consentimento e deixar de participar da pesquisa a qualquer tempo, sem prejuízo pessoal ou profissional. Além disso, será mantido o sigilo e o caráter confidencial das informações, zelando pela privacidade do participante e garantido seu anonimato nas conclusões ou publicações. O participante não terá qualquer gasto ou despesa ao participar da pesquisa. Este documento será elaborado em duas vias, uma para o pesquisador e outra para o sujeito. Contato: Caroline Evelyn Sommerfeld (pesquisadora): 19-9117-4633 Silvia Maria Santiago (orientadora): 19-3521-9248 Comitê de Ética em Pesquisa (Hospital Mário Gatti): 19-3772-5745 IV – Consentimento pós-esclarecido Declaro ter entendido as informações sobre o estudo que me foram dadas pelo pesquisador e consinto em participar do presente protocolo de pesquisa Data: ___________________________________________ Assinatura do profissional _______________________________________________ Assinatura do pesquisador e n° de registro profissional Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 1, p. 1-7, janeiro / fevereiro / março 2013 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 5 Impacto do trabalho integrado em rede no diagnóstico precoce do câncer buca. gundo relato dos gestores e dos profissionais de saúde dos municípios, em muitos casos a suspeita do câncer era feita em serviços de emergência, onde os pacientes geralmente chegavam com queixa de dor, dificuldade para mastigar e/ou deglutir, ou ainda com problemas respiratórios. No período de estudo, 18 pacientes com câncer bucal foram encaminhados dos municípios para atendimento no Programa, sendo 4 casos de lesão pré-cancerigena na cavidade oral, 8 casos de lesão em fases iniciais e 4 em fases avançadas, permitindo afirmar que ocorreu uma maior precocidade de diagnóstico quando comparado ao perfil de estadiamento dos casos procedentes dos municípios registrados na FOSP nos dois anos anteriores a implantação do PAIM-Boca, conforme observa-se no Gráfico 2. A partir da implantação do Programa, os participantes relataram que houve um aumento na capacidade de suspeição dos profissionais das redes locais de saúde, uma ampliação da capacidade diagnóstica incluindo a realização de biópsia por dentistas da atenção primária, além da garantia de acesso prioritário à avaliação odontológica, com agendamento para consulta de avaliação no máximo em uma semana. Com a articulação da atenção primária com a atenção secundária, os participantes relataram que o tempo decorrido entre a suspeição e o diagnóstico dos casos encaminhados ao PAIM-Boca foi, em média, de 20 dias. Apesar do PAIM-Boca ter melhorado as condições de diagnóstico e acesso aos serviços especializados, os gestores e profissionais de saúde participantes do estudo destacaram que algumas barreiras ainda dificultam o diagnóstico precoce do câncer bucal na região. Uma das dificuldades identificadas refere-se às características culturais da população que levam, muitas vezes, a uma busca tardia por atendimento exigindo um trabalho intenso e de longo prazo para conscientização das pessoas sobre os fatores de risco e os sinais e sintomas da doença. DISCUSSÃO Inicialmente, a condição de diagnóstico nos municípios mostrou-se preocupante, com apenas 10 casos de um total de 53 (18,6%) diagnosticados em fases iniciais da doença (TNM I e II), enquanto 39 casos (73,5%) foram diagnosticados em fases mais avançadas. No período após o desenvolvimento das ações do PAIM-Boca, observou-se uma inversão do perfil de estadiamento, com 8 casos (57,14%) diagnosticados em fases inicias e 6 casos em fases avançada (42,86%), outros 4 casos ainda foram encaminhados ao PAIM-Boca, em fase précancerígena. Após a implantação do PAIM-Boca e da avaliação realizada pode-se afirmar que o Programa contribuiu para a melhora da capacidade de suspeição do câncer de boca com diagnósticos mais precoces. Sabe-se que o diagnóstico precoce associado à garantia de acesso em Sommerfeld et al. Gráfico 1. Casos de câncer de boca dos municípios estudados, segundo estádio (TNM20), no período de janeiro de 2007 a janeiro de 2009. Gráfico 2. Casos de câncer de boca dos municípios estudados, encaminhados ao PAIM-Boca, segundo estádio (TNM20) no período de março de 2009 à março de 2011. tempo oportuno pode impactar na sobrevida e qualidade de vida dos pacientes com câncer de boca(21,22,23). Além da garantia de acesso ao diagnóstico e tratamento, um dos aspectos mais significativos do Programa foi o desenvolvimento de atividades na perspectiva da educação permanente(15-17) e do apoio matricial(18) que, a partir da realidade de cada município, promoveu o aprimoramento profissional, desenvolveu novos fluxos de encaminhamento e seguimento dos casos, sensibilizou e apoiou os profissionais na lógica do trabalho em rede(24). O trabalho em rede depende do estabelecimento de parcerias feitas com e entre profissionais de saúde dos municípios, como uma base forte e um ponto fundamental para que se configure uma rede capaz de atender as diferentes demandas dos pacientes, familiares e profissionais de saúde. Para melhorar a condição de diagnóstico do câncer bucal, muitas dificuldades ainda necessitam ser superadas, em especial a barreira cultural e a orientação à população. Outra dificuldade está na centralidade da atenção nos serviços de referência para o tratamento do câncer, demonstrando a necessidade de maior arti- 6 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 1, p. 1-7, janeiro / fevereiro / março 2013 Impacto do trabalho integrado em rede no diagnóstico precoce do câncer buca. culação com os outros níveis de atenção, além de maior abertura para as necessidades de cada município utilizando as potencialidades dos serviços pertencentes às redes locais e microrregionais de saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da análise desta experiência destaca-se a importância das ações de educação permanente e apoio matricial no aprimoramento do diagnóstico precoce do câncer bucal. Parece imperativa a continuidade das ações desenvolvidas por programas como o que foi estudado, assim como a organização do trabalho em rede e o desenvolvimento de políticas públicas capazes de garantir atendimento as necessidades de saúde da população em tempo oportuno. REFERÊNCIAS 1.Ferlay J, Autier P, Boniol M, Heanue M, Colombet M, Boyle P. Estimates of the cancer incidence and mortality in Europe in 2006. Annals of Oncology. 2007; 8(3): 581-592. Disponível em: <http://pt.wkhealth.com/pt/re/anon/ abstract.00002352-200703000-00028.htm>. Acesso em: set. 2012. 2. Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2011: incidência de câncer no Brasil. Ministério da Saúde: Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: /estimativa/2011/>. 3. Instituto Nacional de Câncer. Prevenção e consultas periódicas ao dentista: estratégias poderosas no controle do câncer de cavidade oral. In: Rede Câncer. Ministério da Saúde: Rio de Janeiro, Nov, 2009. 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