perda auditiva no trabalho - Diálogos e Ciência

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PERD
A A
UDITIV
A NO TRABALHO: O PERFIL
PERDA
AUDITIV
UDITIVA
AUDIOLÓGICO DE TRABALHADRES DE INDÚSTRIAS
ALIMENTÍCIAS
M ARLOS S UENNEY
M ARCKENSON
DE
DE
M ENDONÇA N ORONHA
M ENDONÇA N ORONHA
Resumo: Com as exigências do mercado de trabalho nas últimas décadas, assim
como a mudança na forma de produzir, o trabalhador convive exposto ao ruído
constante. Sabe-se que o som é um agente físico resultante da vibração de moléculas
de ar. No entanto, esse agente pode ser agradável ou intolerante e, quando exposto
às altas frequências e intensidades acarreta prejuízos psicossociais e
consequentemente déficit laboral. O objetivo desta pesquisa foi traçar o perfil
audiológico dos trabalhadores da indústria de alimentos. O estudo proposto trata
de uma pesquisa exploratória com abordagem quantitativa. A amostra foi constituída
de 30 industriários de João Pessoa - PB, do sexo masculino, na faixa etária entre 19
e 64 anos, com a função de auxiliar de produção. Foi aplicado um questionário
contendo questões inerentes aos objetivos do estudo, além da análise audiológica
por meio de audiometria tonal e vocal. Os resultados obtidos revelam que 40% dos
trabalhadores não fazem uso do equipamento de proteção individual e que 11
profissionais apresentam perda auditiva de tipo neurossensorial e grau variando do
leve ao moderado; verificou-se que 23% dos trabalhadores atuam com exposição
de ruído por mais de 10 anos. A presença de sintomas correlacionada com o ruído
ocupacional como cefaléias, zumbidos, distúrbio do sono e estalos na articulação
têmporo-mandibular foi evidenciada por 12 industriários. Foram citados ainda por
57% da população, apresenta antecedentes mórbidos como parótide, varicela e
sarampo. Este estudo reflete a necessidade de ações preventivas, de monitoração
e reabilitação voltadas à saúde auditiva.
Palavras-Chave: Saúde do trabalhador; Audição; Perda auditiva; Conservação
auditiva.
Abstract: the requirements of the market of work in the last decades, as well as
the change in the form to produce, the worker coexists displayed to the constant
noise. One knows that the sound is a resultant physical agent of the air molecule
vibration. However, this agent can be pleasant or intolerante , when displayed to the
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PERDA AUDITIVA
high frequencies and intensities she causes psychological and social damages
consequently and labor deficit. The objective of this research was to trace the
audiologic profile of the workers of the food industry. The considered study one is
about an inquiry research with quantitative boarding. The sample was constituted of
30 industrial workers of joão pessoa - pb, the masculine sex, with the age ban band
between 19 and 64 years old, and with the function of assisting of production. A
questionnaire was applied contends inherent questions to the objectives of the
study, beyond the audiologic analysis by means of tonal and vocal audiometry. The
gotten results disclose that 40% of the workers do not make use of the equipment
of individual protection, and that 11 professionals present auditory loss of
neurosensory type and degree varying of the light one to the moderate one; it was
verified that 23% of the workers for more than act with noise exposition 10 years;
the presence of symptoms correlated with the occupational noise as chronic
headaches, hummings, riot of sleep and snaps in the têmporo-mandibular joint had
been evidenced by 12 industrial workers; they had been cited still by 57% of the
population, morbids antecedents as mumps, varicella and measles. This study it
reflects the necessity of injunctions, of observation and whitewashing to the auditory
health.
Key-Word: Health of the worker; Hearing; Auditive loss; Auditive conservation.
n.
1 INTRODUÇÃO
Com a revolução tecnológica, ocorrida nos últimos anos, a economia mundial passa
por mudanças e adaptações que têm modificado de forma direta e indireta o modo
de produzir nas indústrias. Essas mudanças, através da lógica da competitividade,
produtividade e da flexibilidade, por sua vez, afetam as condições de saúde dos
trabalhadores inseridos nesse contexto, em particular nas indústrias.
Nesse sentido, os autores Sánchez e Yanes (1995) sugerem que, para um
melhor entendimento das mudanças ocorridas neste “Novo Paradigma
Tecnoprodutivo”, o estudo da saúde dos trabalhadores é necessário para
compreender e analisar essa complexa realidade, através de sua gestão e
organização do trabalho.
Em estudos desenvolvidos por Mendes e Dias (1994), o trabalho relacionase com a saúde-doença de quem o executa, num espectro de efeitos, respostas ou
danos que vão desde a fadiga física e a fadiga mental até as doenças e os acidentes
do trabalho. Entretanto, observa-se que existem quadros clínicos ainda mal definidos
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como: o desgaste e o envelhecimento precoce, doenças específicas do trabalho,
como, por exemplo, Lesão por Esforço Repetitivo - LER, que também é chamada
Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - DORT; Perda Auditiva
Induzida pelo Ruído – PAIR; lesões na coluna, disfonias, sofrimento psíquico,
dermatoses, entre outras.
No tocante à perda auditiva, a ciência investe nos dias atuais no
aprofundamento do estudo da audição, considerado como parte de um dos sistemas
mais elaborados e sensíveis do organismo. Esse órgão desempenha papéis vitais
para o homem, tanto relacionados à sua locomoção e manutenção do equilíbrio
estático e dinâmico quanto localização da direção e a distância de fontes sonoras,
além de funcionar como importante mecanismo de alerta e defesa, possibilitar a
aquisição e o desenvolvimento de um sistema simbólico estruturado. Logo, o
diagnóstico precoce de alguma alteração nesse complexo sistema inibe o
aparecimento de problemas no desenvolvimento da fala, linguagem, leitura, na
aprendizagem e até na socialização dos acometidos (RUSSO, 1993).
O risco de dano à saúde auditiva com relação à aquisição da perda auditiva
induzida pelo ruído dependerá da quantidade ou intensidade e tempo diário de
exposição. Portanto, o operário se enquadra na população de risco, já que está
exposto diariamente, com média de oito horas de trabalho ao dia. O ruído é definido
como um som qualquer, que não apresenta característica musical ou harmônica,
sendo constituído por uma infinidade de frequências discretas que não guardam
nenhuma relação entre si e que variam de forma aleatória no tempo (FUMERO,
2000).
A perda auditiva induzida pelo ruído é caracterizada como consequência
da exposição prolongada a um ambiente ruidoso e decorre de variáveis
fundamentais a serem verificadas: as características do ruído e a suscetibilidade
individual. Para isso, faz-se necessário debruçar sobre a atualidade do problema,
investigando a realidade dos trabalhadores que atuam em indústrias.
Vale salientar que, apesar da quantidade de trabalhos publicados na área
de ruído e saúde ocupacional, ainda existe uma lacuna por parte de pesquisas com
trabalhadores que atuam em indústrias, correlacionando sua exposição ao ruído e
a nocividade à saúde. Diante do exposto, este estudo parte do seguinte
ual o perfil audiológico de trabalhadores que atuam
questionamento: qual
em indústrias?
Nesse contexto, o interesse por essa temática surgiu de minha vivência
profissional como fonoaudiólogo, com atuação na área de audiologia ocupacional
e de questionamentos sobre a forma como trabalham os operários expostos ao
ruído ocupacional. Daí o meu interesse como pós-graduado do Curso de
Especialização em Saúde Coletiva com Ênfase no Programa de Saúde da Família.
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PERDA AUDITIVA
Para responder o questionamento proposto, este estudo objetiva traçar o perfil
audiológico dos trabalhadores da indústria e investigar as alterações causadas
pelo ruído ocupacional na vida desta população.
2 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
2.
1 . Tipo de Estudo
2.1
A presente pesquisa trata de um estudo exploratório com abordagem quantitativa.
Este, segundo Lakatos e Marconi (2001), tem como finalidade ampliar o
conhecimento sobre um determinado problema de pesquisa.
2.2. Campo da Pesquisa
O presente trabalho foi realizado em um serviço de audiologia móvel da rede privativa,
localizada na cidade de João Pessoa – PB, pela facilidade de acesso e por evitar o
deslocamento dos trabalhadores ao consultório de medicina do trabalho.
2.3. Participantes do Estudo
A pesquisa foi constituída por 30 trabalhadores industriais encaminhados para
realização do exame periódico de audiometria tonal e vocal, selecionados para
investigação. Para seleção da amostra, o pesquisador adotou os seguintes critérios:
que os trabalhadores fossem do sexo masculino, tivessem idade superior a 18
anos, mesma ocupação profissional, e que aceitassem participar do estudo.
2.4. Considerações Éticas
Neste trabalho, o pesquisador levou em consideração os aspectos éticos contidos
na Resolução 196/96, que regulamenta a pesquisa em seres humanos,
principalmente no que diz respeito ao consentimento livre e esclarecido. Portanto,
os participantes do estudo tiveram respeitado o direito de decidir sobre sua
participação na pesquisa, além de ser-lhes assegurado o anonimato. O protocolo
de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Santa
Emília de Rodat (FASER). Somente após sua aprovação, deu-se início à coleta de
dados.
2.5. Instrumentos e Técnica de Coleta de Dados
Para viabilização da coleta de dados, foi utilizada a técnica de observação sistemática
do exame audiométrico tonal e vocal, elaboração de laudos audiométricos dos
participantes inseridos no estudo e aplicação de questionário contendo questões
inerentes aos objetivos propostos para o estudo. Este foi realizado no mês de
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outubro de 2007, em um serviço móvel de audiologia selecionado para o estudo
Na avaliação audiométrica tonal e vocal, foram utilizados os audiômetros Ad-28 e
Madsen 622, devidamente calibrados conforme legislação vigente, e seguiu as
recomendações do Conselho Federal de Fonoaudiologia e da Sociedade Brasileira
de Otorrinolaringologia quanto ao repouso auditivo de, no mínimo, 14 horas, para
que fatores externos não interferissem nos laudos audiométricos.
2.6. Análise dos Dados
Os dados obtidos foram registrados e em seguida apurados e organizados em
tabelas e gráficos e depois analisados quantitativamente por meio de frequência e
percentual e, posteriormente, apresentados mediante de representação gráfica.
3 RESUL
TADOS
RESULT
Para um melhor entendimento deste capítulo, serão apresentados, inicialmente, a
caracterização dos participantes da investigação e, em seguida, os dados obtidos
por meio de questionário e dos laudos audiométricos.
Foram selecionados 30 auxiliares de produção de indústrias privadas, do
sexo masculino, faixa etária de 19 a 64 anos, com a função de auxiliar de produção
e com repouso auditivo de no mínimo 14 horas.
Quanto ao tempo de atuação profissional em indústrias com exposição ao
ruído ocupacional (Gráfico 1), verificou-se que 23% dos participantes da pesquisa
trabalham por mais de 10 anos em ambientes de trabalho com a presença de
ruídos constantes.
Gráfico 1 – Distribuição dos trabalhadores quanto ao tempo de
atuação com exposição ao ruído
Tempo de Atuação em Indústrias
com Exposição ao Ruído
23%
77%
Menor que 10 anos
Maior de 10 anos
onte:
e: Dados empíricos do estudo, João Pessoa – 2007
Font
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Estes dados revelam que as possibilidades dos trabalhadores adquirirem uma perda
auditiva irreversível são consideráveis já que o ruído adquire sua maior gravidade
dos 5 aos 7 anos de exposição. E, após 15 anos de trabalho exposto ao ruído, a
progressão da perda auditiva poderá ocorrer mais lentamente, chegando a se
estabilizar.
Segundo Russo (1993), a exposição contínua a níveis elevados de pressões
sonoras, intermitentes ou de impacto, tende a provocar uma diminuição gradual da
acuidade auditiva. Por sua vez, essa diminuição ocorre de forma lenta e gradual.
Mello (1999) refere que os riscos de danos à saúde para a grande maioria dos
agentes de natureza ocupacional dependem da sua quantidade ou intensidade e
do tempo de exposição diária. Essa exposição diária ao ruído traz como
consequências de ordem auditivas e psicossociais. Os efeitos auditivos ocasionados
pelo ruído vão de um simples incômodo, passando por efeitos temporários, menos
ou mais acentuados, até alterações permanentes, e os psicossociais referem-se a
déficit de atenção, memória, motivação, estresse, entre outros.
É notório que com o aumento das tecnologias envolvidas nas indústrias
aliadas às fontes de ruído têm modificado o modo e a forma de viver do trabalhador
nas últimas décadas. Esse fato traz consigo a degeneração do aparelho auditivo e
ausência de controles em ambientes ruidosos pelas instituições brasileiras.
Entretanto, no que diz respeito ao uso de equipamento de proteção
individual – EPI (Gráfico 2) - observou-se que 60% da população pesquisada utiliza
protetores auriculares com frequência do tipo plug ou concha. Entretanto, 40% da
amostra pesquisada não faz uso desse equipamento, cuja função é a prevenção de
possíveis alterações no aparelho auditivo.
Gráfico 2 – Distribuição dos trabalhadores quanto ao uso de eequipamento de proteção individual.
Font
e: Dados empíricos do estudo, João Pessoa – 2007.
onte:
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Esse fato vem mostrar, mais uma vez, que as exigências realizadas pelo
Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva assim como as leis trabalhistas
brasileiras não são cumpridas em sua totalidade. Os protetores individuais devem
ser fornecidos pela entidade patronal em quantidade suficiente, devendo os
modelos ser escolhidos em associação com os trabalhadores interessados, nos
termos da legislação e das práticas nacionais.
Segundo Katz (1999), os protetores auriculares funcionam como barreira
entre o ruído e a orelha interna, onde ocorrem os danos causados pelo ruído. O
autor relata ainda que, o seu desempenho dependerá do desenho e das
características físicas da pessoa que as utiliza.
Ferreira (1998) ressalta que os protetores auditivos ainda são distribuídos
aleatoriamente, sem orientação apropriada e o que se observa é que os
trabalhadores acabam usando esses equipamentos de proteção individual de forma
inadequada, na maioria das empresas brasileiras. Além disso, o controle das
condições de deterioração do protetor nem sempre é eficiente, e os funcionários
acabam utilizando os protetores em mau estado de conservação.
Os protetores auriculares disponíveis no mercado objetivam promover uma
atenuação considerável para contrabalançar a exposição ao ruído. Entretanto, o
maior problema do uso desse equipamento tem sido motivar as pessoas com
relação ao seu uso, daí a necessidade de que os usuários participem da seleção de
tais equipamentos.
Katz (1999) afirma que o protetor auricular não é o único recurso disponível
para a prevenção auditiva, mas reconhece que ele garante o controle individual
contra o ruído em situações onde intervenções de controle do ruído não possam ser
realizadas. No entanto, Félix (2005) relata a ineficácia do uso de protetores
auriculares na prevenção da perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional, devido
falta de orientações com relação ao seu uso, manutenção, trocas e tempo de uso,
assim como as contraindicações, agravadas pelo uso constante. Por exemplo: as
otites externas, médias, dermatites, traumatismos do conduto auditivo externo,
processos virais e infecciosos do pavilhão auricular.
Com relação aos sintomas referenciados na população pesquisada (Gráfico
3), 12 profissionais relataram sintomas correlatos ao ruído ocupacional, sendo que
9 citaram a presença de cefaléias, 3 citaram zumbidos, 1 citou disfunção na
articulação têmporo-mandibular e 7 citaram distúrbios do sono.
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Gráfico 3 – Distribuição dos sintomas correlatos ao ruído ocupacional referenciados pelos trabalhadores
Font
e: Dados empíricos do estudo, João Pessoa – 2007
onte:
Estes dados revelam que a exposição ao ruído pode ser a responsável pelas
modificações psicofisiológicas no indivíduo, tal como cefaléias, presença de
zumbidos e distúrbios do sono, entre outros.
Segundo Costa (1991), os sintomas decorrentes de exposições crônicas a
ruído evoluem passando o zumbido, da fadiga ou tontura, para um período de
adaptação onde os sintomas tendem a desaparecer. Posteriormente, surge a
dificuldade em escutar sons agudos e algumas palavras de uma conversação,
principalmente em ambientes ruidosos e, finalizado, ocorre o reaparecimento do
zumbido. Os autores ainda relatam que, na perda auditiva induzida por ruído, ainda
podem provocar cefaléias, presença de recrutamento (intolerância a sons intensos),
estresse, dentre outros fatores.
Russo (1993) destaca que podem ocorrer: a presença de zumbidos,
plenitude auricular, tontura, cefaléias, estresse, distúrbios de memória, de leitura e
escrita, do sono, além da ansiedade, agressividade e irritabilidade, com isso o
isolamento
No que diz respeito aos antecedentes mórbidos (Gráfico 4), referidos pela
população pesquisada, evidenciou-se que 54% dos participantes relataram ter sido
acometidos de doenças sistêmicas ou infecções virais. Destes, 12 citaram a parótide
epidêmica, 11 citaram o sarampo e, 8 citaram a varicela.
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Gráfico 4 – Distribuição dos antecedentes mórbidos referen
ciados pelos trabalhadores
Font
e: Dados empíricos do estudo, João Pessoa – 2007
onte:
Estes dados revelam que a presença de infecções virais nos trabalhadores
pode influir na audição. No entanto, é interessante observar com cuidado esses
profissionais, no sentido de ser efetuada prevenção da perda auditiva.
Nesse enfoque, Félix (2005) salienta algumas doenças sistêmicas responsáveis
pela perda auditiva, como sífilis, anemia falciforme, vasculites, sarampo, rubéola,
meningite e parótide epidêmica. Para a autora, a identificação desses antecedentes
pode ser um diferencial no diagnóstico da perda auditiva induzida pelo ruído assim
como a presença de patologias que gerem desconforto auditivo. Na amostra
pesquisada, 2 participantes referiram amigdalite e 5 sinusite.
Os dados são referentes ao uso de medicamentos, manuseio de armas de
fogo, explosivo e produtos químicos, assim como a dependência à nicotina pela
população pesquisada. Verificou-se, através do questionário, que 17% dos
participantes é fumante ou já fez uso do tabaco. Segundo Riko (1981 ital. Félix,
2005), a relação do tabagismo decorre da ação facilitadora na gênese
desencadeadora da perda auditiva, atribuída ao monóxido de carbono.
Quanto ao uso de medicamentos, apenas 3% dos participantes referiram
utilizar antibiótico frequentemente. Félix (2005) afirma que a utilização de
substâncias químicas pode afetar o sistema coclear ou o sistema vestibular ou
ambos, alterando concomitantemente as funções do equilíbrio e a audição,
alterando previamente os limiares auditivos ou a capacidade de reconhecer e
entender a fala.
Russo (1993) destaca que os medicamentos ototóxicos citados pelos
estudos da audição são os antibióticos aminoglicosídeos e não-aminoglicosídeos,
os anti-inflamatórios, os diuréticos, os tuberculostáticos e os contraceptivos orais.
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Apesar da pouca incidência quanto ao uso de medicamentos ototóxicos, é de
fundamental importância a promoção de campanhas informativas com intuito de
abolir o uso indiscriminado dessas drogas, mostrando os riscos para a vida do
usuário.
Quanto à utilização de armas de fogo, 4 participantes informaram o seu
uso aperiódico. Nesse enfoque, Melnick (1999 ital. FÉLIX, 2005), relata que a
exposição única e repentina a ruído intenso, como explosão ou detonação poderá
ocasionar um trauma acústico, ou seja, uma perda auditiva súbita.
Com relação aos limiares auditivos (Gráfico 5) encontrados nos
trabalhadores avaliados através de audiometria tonal e vocal, verificou-se que 36%
da amostra pesquisada apresenta rebaixamento dos limiares auditivos de tipo
neurosensorial e grau variando do leve ao moderado.
Gráfico 5 – Distribuição dos limiares auditivos dos trabalhadores
onte:
e: Dados empíricos do estudo, João Pessoa – 2007
Font
Os dados revelam um número relativamente grande quando se leva em
consideração a atuação dos programas de conservação auditiva e conscientização
da sociedade com relação aos abusos ocasionados pelo ruído nos dias atuais.
Cézar (2000) comenta que o rebaixamento bilateral, com simetria
característica, embora uma discreta assimetria também pode ser encontrada, assim
como a lesão que atinge as frequências de 4, 6 e 8KHz são característicos da perda
auditiva induzida pelo ruído. Acrescenta que esta afecção é irreversível e incurável
e a sua profilaxia é o objetivo principal. Acrescenta ainda que a fala social estará
afetada quando a média aritmética dos limiares atingirem mais de 35 decibéis (dB)
entre as frequências de 500 Hz a 4 KHz.
Russo (1993) salienta que, apesar de normalmente a perda auditiva
induzida pelo ruído ser bilateral, algumas categorias podem apresentar uma perda
unilateral, devido a sua relação decorrente da proximidade com o ruído constante.
Como visto anteriormente, a presença de fatores como tipo, espectro e nível de
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pressão sonora, tempo de exposição e susceptividade individual, além de sintomas
como a intolerância a sons, cefaléias, tonturas, plenitude auricular e zumbidos,
pode estar diretamente relacionadas com a perda auditiva que acomete
trabalhadores expostos ao ruído. Para isso, faz-se necessário um diagnóstico preciso
através de procedimentos que envolvam anamnese clínica e ocupacional, exame
físico, avaliação audiológica e testes complementares.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A idéia de pesquisar o perfil audiológico de trabalhadores industriais surgiu a partir
da minha vivência como fonoaudiólogo atuando na área de audiologia ocupacional
e da observação diária dos limiares auditivos desses trabalhadores.
Os dados obtidos mostram que o tempo de atuação ao ruído ocupacional
por altas frequências e grandes intensidades, bem como a utilização de
equipamentos de proteção individual exercem influência expressiva na
determinação dos limiares auditivos dos trabalhadores industriais, o que requer
uma maior atenção dos profissionais envolvidos em programas de conservação
auditiva.
Apesar das determinações dos limiares de tolerância ao ruído feitas pelo
Ministério do Trabalho, através da Portaria nº 3.214 de 8 de junho de 1978 e
Normas Regulamentadoras, é explícito o descaso com a saúde auditiva do
trabalhador brasileiro, que, muitas vezes, tem direitos negados ou não conhecem a
legislação vigente. O mesmo acontece com regulamentações no que diz respeito
ao uso de equipamentos de proteção individual.
Esse fato resulta das conclusões obtidas nesta pesquisa, em que 40% dos
trabalhadores com função de auxiliares de produção não fazem uso de equipamento
de proteção individual para preservação dos limiares auditivos e que 11 profissionais
apresentam rebaixamento dos limiares auditivos de tipo neurossensorial e grau
variando do leve ao moderado, sugestivos de perda auditiva induzida pelo ruído.
Fato este observado quando foi correlacionado com o tempo de atuação ao ruído
ocupacional. A presença de sintomas correlacionados como as cefaléias, zumbidos,
distúrbio do sono e estalos na articulação têmporo-mandibular não foi esquecidas,
bem como a presença de antecedentes mórbidos que podem ter influência na
perda auditiva.
Não obstante as conquistas dos trabalhadores garantidas pela legislação,
no âmbito da saúde, previdência e trabalho, o quadro real está longe de ser
considerado ideal. Atualmente muitas dessas conquistas encontram-se ameaçadas
diante das transformações que estão em curso na sociedade capitalista, confiscando
direitos relativos ao trabalho e à saúde.
Nessa perspectiva, Ramalho (1997) comenta que essa é uma estratégia
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adotada pelas empresas para a flexibilização das relações de trabalho, provocando
a precarização do emprego, que exclui grande parte dos trabalhadores de qualquer
legislação do trabalho, da saúde e do ambiente. Essa estratégia é facilitada pela
ação do Estado, que, com o argumento da flexibilização, desregulamenta e
deslegaliza o sistema de proteção à saúde do trabalhador.
Neste estudo, merece destaque a relação de sintomas correlacionados ao
ruído e os antecedentes mórbidos. Com tais informações, a investigação para o
diagnóstico preciso e sugestivo de perda auditiva induzida pelo ruído torna-se
incontestável.
Sabe-se que para uma perda auditiva não existe cura, logo, investir na prevenção é
indispensável para impedir seu aparecimento nos auxiliares de produção que,
possuem uma jornada intensa em ambientes insalubres. Por sua vez, cabe ao
poder público direcionar seus recursos, promovendo os meios para que a qualidade
ambiental seja inserida e respeitada, reavaliando os níveis de ruído atualmente
preconizados pela legislação e adotando como indicador de qualidade ambiental.
A participação dos trabalhadores e suas opiniões não devem ser esquecidas
e, sim, levadas em consideração, na busca de obter melhores condições de trabalho.
Da mesma forma, deve-se tornar o trabalhador atuante em programas educativos
desenvolvidos por meio de palestras, folhetos explicativos, vídeos ou reuniões com
grupos de trabalhadores e que visem melhorias em sua qualidade de vida. Assim, a
exposição ao ruído será evitada e, quando não, minorada, com boa vontade,
civilidade e respeito ao próximo.
É através do acompanhamento audiológico que a equipe multidisciplinar,
em particular o fonoaudiólogo, irá traçar metas que resultem em melhorias da
qualidade de vida do trabalhador exposto ao ruído além de encaminhá-lo quando
necessário, discutir e orientá-lo sobre formas de prevenir a perda auditiva.
Esse profissional, por ter conhecimentos específicos na área de audiologia,
física acústica, fisiologia da audição, educação em saúde, o fonoaudiólogo possui
competência técnica para coordenar um programa de conservação auditiva. Visto
que organiza os exames que subsidiam o diagnóstico médico; analisa o panorama
epidemiológico de perdas auditivas e propõe projetos de melhorias ambientais;
elabora tabelas indicativas de protetores auriculares e controla o seu uso; além de
elaborar e veicular informações relacionadas às ações de prevenção junto com a
equipe de segurança, campanhas de saúde auditiva, palestras e treinamentos
periódicos.
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BACHAREL EM FONOAUDIOLOGIA MESTRANDO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA. ESPECIALISTA EM SAÚDE COLETIVA. E-MAIL: [email protected]
DISCENTE DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO MECÂNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA. E-MAIL:
[email protected]
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Ano III, n. 9, jun. 2009
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