VII Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa Comissão Organizadora Amanda de Moraes Narcizo Camila H. de Souza Queiroz Camila Lopes Petrilli Claudia Emanuele Carvalho de Sousa Diego Jose Belato y Orts Kelly Dhayane Abrantes Lima Leopoldo Barletta Maria Nathália de C. M. Moraes Marina Marçola Pereira de Freitas Marco Antonio Pires Camilo Lapa Tatiana Hideko Kawamoto Professor Responsável Márcio Reis Custódio Realização Patrocinadores VII Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa VII Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa APRESENTAÇÃO O Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa é uma iniciativa dos alunos da pós-graduação do Departamento de Fisiologia Geral do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. O curso é voltado para alunos de graduação e recémgraduados originários das diversas áreas do conhecimento que tenham interesse em Ciências Fisiológicas, mais especificamente em Fisiologia Comparativa. Seu principal objetivo é promover discussões de conhecimentos fundamentais para uma boa formação em Fisiologia, envolvendo tópicos que nem sempre são ministrados nos cursos regulares de graduação. Desde 2003, ano de sua criação, o curso mantém e vem aperfeiçoando, a cada ano, sua ideologia de proporcionar uma rica oportunidade de aprendizado, não somente aos alunos inscritos, como também aos próprios alunos de pós-graduação envolvidos em sua realização. Promovendo uma discussão de conceitos fundamentais necessários para uma boa formação em Fisiologia Comparativa, bem como proporcionar uma vivência no dia-a-dia da pesquisa dentro do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências - USP. Tradicionalmente o curso é dividido em aulas teórico-práticas que são ministradas pelos pós-graduandos do Departamento de Fisiologia nas duas primeiras semanas do curso (5 a 16 de julho). Na tentativa de sempre melhorar a qualidade das aulas e a comunicação dos pós-graduandos, a edição do Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa de 2010 está organizada em módulos conforme delineamento sugerido por um mapa conceitual. Possibilitando uma maior integração entre as propostas de aulas sugeridas pelos pós-graduandos do Departamento. Ao fim das duas primeiras semanas de curso, os módulos servirão como temas-base para os estágios que serão realizados durante a terceira semana de curso (19 a 23 de julho). O estagiário deverá envolver-se nas atividades do laboratório escolhido e receber suporte científico e técnico adequado sobre a linha de pesquisa do mesmo. Além disso, o aluno participará de um projeto a ser desenvolvido durante a semana do estágio. Para tal, vai aprender noções de como elaborar, executar e analisar um projeto de pesquisa e os resultados obtidos serão apresentados pelos estagiários em apresentação oral no último dia do curso. Comissão Organizadora VII Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa Universidade de São Paulo 5 a 23 de Julho de 2010 VII Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa REGULAMENTO ALUNOS PLENOS VII Curso de Inverno – Tópicos em Fisiologia Comparativa O curso terá um período de três semanas e será dividido em aulas teórico-práticas e desenvolvimento de estágio. As aulas teórico-práticas serão realizadas entre os dias 5 e 16 de julho e o estágio entre os dias 19 e 23 de julho. Durante o estágio, os participantes desenvolverão um projeto de pesquisa em um dos laboratórios do Departamento, sendo os resultados apresentados no dia 23 de julho. Todas as atividades do curso serão realizadas de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Apresentação do Departamento e das Linhas de Pesquisa dos Laboratórios Para que os alunos tomem conhecimento das linhas de pesquisas e dos trabalhos desenvolvidos no Departamento, no primeiro dia do curso haverá uma sessão de pôsteres sobre os projetos em andamento. Aulas teórico-práticas As aulas teórico-práticas estão organizadas em módulos. Cada modulo será constituído por uma aula inaugural, com abordagem ampla e os principais pré-requisitos dos conteúdos das demais aulas do modulo. Na sequência serão apresentadas aulas com temas mais específicos dentro do eixo-temático do modulo. Ao final do módulo haverá avaliação que abordará os conceitos tratados. Essa prova poderá ser individual ou em grupo e poderá ser constituída de questões de múltipla escolha ou dissertativa ou então um exercício teórico-prático. Estágio Durante a realização do projeto de pesquisa, o aluno deverá se envolver nas atividades do laboratório e receber suporte cientifico e técnico do aluno-orientador. O projeto deverá obrigatoriamente consistir de atividades de elaboração, execução, análise e apresentação. Definição dos projetos de pesquisa e orientadores Cada aluno deverá elaborar no mínimo três projetos de pesquisa em laboratórios diferentes. O projeto deverá conter hipótese, justificativa e metodologia, descrito em até 1000 caracteres. Os projetos devem ser ordenados de acordo com a preferência do aluno. VII Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa Os formulários com a descrição dos projetos devem ser entregues à Comissão Organizadora na sexta-feira dia 16/7 ate as 14h. A definição dos projetos e orientadores atenderá às preferências dos alunos, mas poderão ocorrer casos em que isso não será possível. Sendo assim, serão respeitadas as limitações dos orientadores e seus respectivos laboratórios. Para os casos onde haja um maior número de interessados do que de vagas, os seguintes critérios de desempate serão aplicados: 1) Interesse em primeira opção; 2) Menor número de faltas nas aulas; 3) Maior média de notas de provas. Os alunos devem utilizar os horários pré-determinados, durante as duas primeiras semanas do curso, para buscar os estágios e formular suas propostas de projeto. Sendo que os orientadores dos estágios estão proibidos de orientá-los durante o período das aulas teórico-práticas. Avaliação do projeto Desenvolvimento do projeto: o orientador atribuirá uma nota ao aluno de acordo com o seu aproveitamento. Apresentação: o projeto deverá obrigatoriamente ser apresentado oralmente com slides do PowerPoint na sexta-feira dia 23/7 a partir das 8h. A apresentação deverá conter contextualização do problema, justificativa, objetivos, métodos, resultados e discussão. A duração máxima será de 10 minutos. Avaliação: Uma comissão avaliadora julgará os trabalhos e questionará os alunos sobre o aprendizado adiquirido ao longo do estágio. Notas e frequência Será considerado aprovado o aluno com presença de pelo menos 85% e que obtiver aproveitamento igual ou maior que 7,0 (sete). O aproveitamento é dado pela: (1) média das notas dos módulos teórico-práticos – 50% (2) nota do orientador – 25% (3) nota da comissão avaliadora das apresentações dos estágios – 25% VII Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa REGULAMENTO ALUNOS ESPECIAIS Todas as normas referentes aos Alunos Regulares se aplicam aos Alunos Especiais, exceto pela realização do estágio e respectiva nota que não haverá. Sendo assim, o aproveitamento dos Alunos Especiais se dará somente através das notas das provas e da frequência nos módulos teórico-práticos. Sendo considerado aprovado o aluno com presença de pelo menos 85% e que obtiver aproveitamento igual ou maior que 7,0 (sete). VII Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa SUMÁRIO Pré-avaliação pág. I Módulo 1 Método Científico Aplicado a Estudos em Fisiologia Comparativa O que é ciência e como praticá-la pág. 01 Formulando perguntas em fisiologia comparativa pág. 01 Evitando confundir-nos: aspectos fundamentais do desenho experimental e a estatística inferencial pág. 02 O Fim da Picada: Comunicando Ciência pág. 02 Módulo 2 Sinalização Celular Comunicação celular: entendendo a ritmicidade endógena pág. 03 Fisiologia celular do plasmodium durante a fase assexuada pág. 04 RNAi: ouvindo a voz do silêncio pág. 05 Palestra – Detecção e quantificação real de proteínas utilizando fluorescencia infravermelha próxima pág. 06 Módulo 3 Neurociências História da neurociência pág. 07 Bases biofísicas da célula nervosa pág. 08 Princípios básicos em fisiologia do sistema nervoso pág. 09 Fisiologia sensorial pág. 10 Neurofisiologia da visão pág. 10 Causa e função pág. 11 Percepção pág. 11 Memória e seus aspectos evolutivos pág. 11 Modelos teóricos da dinámica neural pág. 12 Introdução à neurocomputação pág. 13 Navegação espacial pág. 14 VII Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa Neurobiologia das emoções pág. 15 Neurofisiologia da linguagem pág. 16 Neurofisiologia da música pág. 16 Módulo 4 Metabolismo Metabolismo e Temperatura: Conceitos e Implicações pág. 19 Medindo a chama da vida pág. 20 Ectotermia: um acesso de baixo custo à vida pág. 21 Termorregulação em endotérmicos: febre e anapirexia. “Ana” o quê? pág.22 Metabolismo energético em câmera lenta: mecanismos de depressão metabólica sazonal pág. 23 Custos e benefícios da reprodução: papel dos lipídios pág. 24 A ecofisiologia no cenário das mudanças climáticas globais pág. 25 Aula Prática – Respirometria pág. 26 Módulo 5 Neuroendocrinologia Comparada Neuroendocrinologia comparada: análise comparativa entre o encéfalo e a hipófise de peixes e mamíferos pág. 27 Neuroendocrinologia comparada: o encéfalo e a hipófise de anfíbios, répteis e aves pág. 28 Sistema neuroimunoendócrino pág. 29 Módulo 6 Ecotoxicologia Aquática Metal não essencial: o cádmio e seus efeitos pág. 31 Transporte de Metais Essenciais em Organismos Aquáticos: o cobre e o zinco pág. 32 Efeitos da toxicidade de metais no metabolismo de organismos aquáticos pág. 33 Alterações neuroendócrinas resultantes da exposição a metais pág. 34 VII Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa Módulo 7 Fisiologia Comparada de Invertebrados Marinhos: Trocas Gasosas, Digestão e Sistema Imune Trocas gasosas em invertebrados marinhos pág. 37 Adquirindo energia: formas de alimentação e digestão em inverte-brados marinhos pág. 38 Sistema Imune de Invertebrados marinhos: mecanismos, funções e similaridades pág. 39 Módulo 8 Fundamentos de Toxinologia Co-evolução entre peçonhas e seus albos pág. 41 Produtos naturais e sua função como defesa química pág. 42 Invertebrados marinhos: toxinas e seus mecanismos de ação pág. 43 Lepidópteros: aspectos biológicos e toxinológicos pág. 44 Raias – biologia e envenenamento pág. 44 Serpentes peçonhentas do Brasil: biologia, fisiologia e epidemiologia pág. 45 Módulo 9 Quantificação e Análise de Dados Quantificação de Fenômenos Fisiológicos pág. 47 Avaliação da proposta pedagógica pág. a Estágios pág. g Avaliação Geral pág. q VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa Método Científico e Estatístico Aplicados a Estudos em Fisiologia Comparativa Método Científico e Estatístico Aplicados a Estudos em Fisiologia Comparativa Este módulo tem 4 objetivos. A) Apresentar aos leitores os principais métodos usados para gerar conhecimento científico, B) Mostrar como a fisiologia comparativa vale-se de dois destes métodos: o método indutivo e o hipotético-dedutivo, C) Revisar o processo de geração de conhecimento, desde o levantamento de perguntas científicas até a comunicação dos resultados de um projeto de pesquisa, apresentando as bases do desenho experimental e análises estatísticas. As aulas deste módulo estão divididas em duas fases. A primeira, no primeiro dia de aulas, introduz os leitores ao processo de obtenção e comunicação de conhecimento científico. O que é ciência e como praticá-la Agustín Camacho Guerrero [email protected] Nesta aula é apresentado o conceito de ciência e um pequeno resumo histórico dos modos de obter conhecimento do mundo natural: a lógica aristotélica, o indutivismo, o falsificacionismo e o verificacionismo. Apesar das grandes diferenças filosóficas entre estes métodos, a fisiologia comparativa é apresentada como uma disciplina que pode fazer uso de todos eles durante o processo de geração de conhecimento. Formulando perguntas em fisiologia comparativa Agustín Camacho Guerrero Nesta aula é apresentada a problemática de realizar perguntas testáveis e com relevância científica. Durante a aula são apresentadas dicas para fazer buscas bibliográficas, derivar perguntas pássiveis de serem respondidas e representá-las gráficamente. 1 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa Evitando confundir-nos: aspectos fundamentais do desenho experimental e a estatística inferencial Agustín Camacho Guerrero Nesta aula, os testes de hipótese são introduzidos como a comparação da variação total apresentada pelos resultados de experimentos com a variação que esperariamos caso não houvesse efeito dos fatores estudados. São apresentados os conceitos de repetição e pseudorepetição. O Fim da Picada: Comunicando Ciência Agustín Camacho Guerrero Nesta aula é apresentado um guia para a redação de um manuscrito científico. Para isso são apresentadas as partes comuns dos manuscritos de pesquisa (título, resumo, introdução, métodos, resultados e discussão) e as relações lógicas que necessariamente devem guardar estas partes. 2 Sinalização Celular Sinalização Celular A sobrevivência dos organismos multicelulares depende de uma rede elaborada de comunicação inter e intracelular, que coordena o crescimento, a diferenciação e o metabolismo das células em diversos tecidos e órgãos. Neste módulo, serão abordados os aspectos da evolução da multicelularidade e os mecanismos básicos da transdução de sinais, bem como a contextualização desses mecanismos dentro de patologias, como é o caso da malária. Além disso, será apresentada a técnica do RNAi (RNA de interferência) como ferramenta de estudo para a fisiologia, com destaque para as vias de transdução do sinal em diversos modelos. Comunicação celular: entendendo a ritmicidade endógena Maria Nathália de Carvalho Magalhães Moraes [email protected] A habilidade da célula em responder a sinais ambientais e de crucial importância para sua sobrevivência. Em organismos pluricelulares, elas precisam se comunicar umas com as outras para formação e preparação dos tecidos, defesa do organismo e coordenação do metabolismo, entre outras funções. Esta comunicação e necessária para que as células recebam as informações oriundas do meio ambiente e informem para outras células, no intuito de produzir uma adaptação ao meio e, assim, o ajuste homeostático. A comunicação celular pode ser feita por diferentes processos, os mais amplamente usados são por meio de substancias químicas, as quais transmitem as informações célula a célula. As moléculas-alvos de substancias químicas são fundamentalmente de quatro tipos: enzimas, moléculas transportadoras, canais iônicos e receptores. Os receptores podem ser definidos como elementos protéicos complexos que funcionam como sensores no sistema de comunicações químicas, coordenando a função de todas as células. Segundo a estrutura molecular e a natureza do mecanismo de transmissão, os receptores são agrupados em quatro superfamílias, a saber: (1) superfamília tipo 1 - receptores-canal (ou inotrópicos): receptores de membrana que formam o próprio canal iônico; (2) superfamília tipo 2 receptores acoplados a proteína G (GPCRs ou 7-TM ou metabotrópicos): receptores de membrana acoplados a sistemas efetores intracelulares por meio de proteína G; (3) superfamília tipo 3 - receptores quinase: receptores de membrana com domínio intracelular de proteína quinase (em geral, tirosina quinase) e, (4) superfamília tipo 4 - receptores reguladores da transcrição de genes (ou receptores nucleares ou receptores intracelulares): 3 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa receptores solúveis no citosol ou intracelularmente. Nesta aula serão abordados os principais receptores envolvidos no processo de ritmicidade endógena. Fisiologia Celular do Plasmodium durante a fase assexuada Laura Nogueira da Cruz [email protected] A aula pretende elucidar mecanismos intracelulares da malária que é uma infeccção causada por protozoários e leva a morte de mais de 2 milhões de pessoas anualmente, a maioria crianças menores de 5 anos. É conhecido há aproximadamente 100 anos a existência de ritmo circadiano na infecção da malária. Em 2000 foi demonstrado que o hormônio melatonina sincroniza o ciclo do parasita através de uma cascata de reações que leva a um aumento da concentração de cálcio livre no citossol do Plasmodium. O cálcio, por sua vez, é um sinalizador ubiqüitário, fundamental para os processos de sinalização e participa, direta ou indiretamente, da maioria dos processos celulares. Sabe-se ainda que em P. falciparum (parasita da malária humana), o cálcio é indispensável no processo de invasão do eritrócito e sinalização durante a maturação do Plasmodium. Um dos problemas no combate a malária é a resistência dos parasitas aos medicamentos já desenvolvidos o que leva a necessidade urgente de desenvolvimento de novos quimioterápicos. Neste contexto a aula pretende ainda apresentar o trabalho do laboratório a respeito de enzimas proteolíticas. Estas apresentam importante função no ciclo de vida de protozoários medicamente importantes e especificamente na malária participam de processos chaves do ciclo intraeritocítico do Plasmodium, podendo ser ulitilizadas como novos alvos quimioterápicos Deste modo serão apresentados resultados de microscopia confocal e utilização de peptídeos de FRET (fluorescência por transferência de energia ressonante) para demonstrar em Plasmodium chabaudi a existência de tiol proteases ativadas por cálcio. 4 Sinalização Celular RNAi: ouvindo a voz do silêncio Maísa Costa [email protected] A inativação de genes por knock-out ou por bloqueio da tradução de seus transcritos (silenciamento) constitui uma estratégia extremamente poderosa tanto para atribuir função aos genes como para mapear a inter-relação dos diferentes componentes das vias regulatórias intracelulares. Um dos meios para se obter o silenciamento pós-transcricional consiste na ativação de um mecanismo mediado por RNAs fita-dupla (dsRNA) conhecido como RNA interferência (RNAi). O RNA dupla-fita é importante no processo de silenciamento porque ele é clivado dentro da célula em fragmentos de 21-25 nucleotídeos por uma nuclease conhecida como Dicer. Essa enzima é homóloga à RNAse III de E. coli e apresenta um domínio de ligação a dsRNAs e domínios helicase. Os pequenos fragmentos de dsRNA, conhecidos como small interfering RNAs (siRNAs), correspondem às fitas sense e antisense do RNA alvo e se associam a proteínas celulares formando um complexo multimérico chamado RISC (RNA Interference Specificity Complex). Uma helicase presente no complexo abre a dupla-fita dos siRNAs, de forma que a fita antisense do duplex guia o complexo até o mRNA alvo. Uma endorribonuclease, também presente no complexo, cliva o referido mRNA, degradando-o. A interferência mediada por RNA é um fenômeno que ocorre nos organismos eucariotos e parece exercer, primordialmente, um papel na eliminação de RNAs mensageiros anômalos, na defesa do organismo contra ácidos nucléicos exógenos e contra parasitas moleculares, como transposons e vírus. O RNAi se mostrou um instrumento extremamente versátil em pesquisa biomédica, podendo ser utilizado em experimentos de silenciamento pontual de genes ou ser adaptado para estudos em larga escala de genômica funcional, podendo, inclusive, ser utilizado como meio de terapia gênica. 5 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa PALESTRA Detecção e Quantificação Real de Proteínas Utilizando Fluorescência Infravermelha Próxima Michael van Waes A aquisição de imagens fluorescentes no espectro do infravermelho próximo (NIR) oferece grandes benefícios para a detecção quantitativa de proteínas por Western Blot, imunohistoquímica e mesmo em células em cultura. A utilização de anticorpos secundários conjugados com fluoróforos que emitem na faixa do NIR permite a quantificação precisa e altamente reprodutível de proteínas-alvo em membranas ou outras matrizes, além de oferecer a vantagem da detecção direta sem a necessidade de substratos específicos, filmes ou quarto escuro. Detecção de fluorescência NIR tem sido amplamente utilizada na detecção de alterações quantitativas da proteína, tais como fosforilação e glicosilação e para estudos de transdução de sinal, reciclagem de receptoros, e praticamente todos os aspectos da biologia celular. Nesta apresentação, discutiremos muitas dessas aplicações e os princípios pelos quais os fluoróforos infravermelhos e sobre como a instrumentação para detecção do NIR pode ajudá-lo com sua pesquisa. 6 Neurociências Neurociências O entendimento atual sobre origem, funcionamento e capacidade do sistema nervoso é resultado do esforço de múltiplas áreas do conhecimento, denominadas genericamente por neurociências. Esta ampla área inclui disciplinas como neuroanatomia (estudo da estrutura do sistema nervoso), neurofisiologia (estudo do funcionamento de células nervosas e conjuntos de células nervosas), neuropsicologia (estudo dos processos cognitivos e suas relações com anatomia e fisiologia) e até mesmo a engenharia (modelagem analítica e computacional de versões simplificadas de células neurais, chegando a simulação de redes de milhares de neurônios). Baseado no conhecimento de todas essas disciplinas, apresentaremos as neurociências desde seus primórdios até o conhecimento atual. Abordaremos as principais funções cognitivas no estudo das neurociências como atenção, percepção, ação, memória e emoção, empregando o conceito de modularidade do funcionamento do sistema nervoso. Também abordaremos modelos de processos biofísicos e métodos de análise quanti/qualitativa da dinâmica neural, mas utilizando os conhecimentos da engenharia, que busca obter estruturas teóricas básicas que delineiam o funcionamento global desses sistemas. História da Neurociência Camile Maria Costa Corrêa [email protected] A visão histórica da neurociência permite vislumbrar de que formas a humanidade vem formulando suas perguntas fundamentais; dentre elas, uma das mais inquietantes gira em torno da questão da mente humana e as hipóteses elaboradas sobre sua essência, estrutura e leis de funcionamento. Traçar um percurso que data de milênios, apontando os principais nomes que pensaram as idéias sobre os fenômenos mentais possibilita a comparação das metodologias usadas para responder a essas perguntas. Pistas sobre as hipóteses desenvolvidas conduzem a registros de papiros cirúrgicos, passando por rituais de civiliações antigas, pela produção do pensamento filosófico e médico ocidentais, chegando às observações clínicas e aos experimentos científicos destinados à abordagem dessa questão. Todas essas aproximações contribuíram direta ou indiretamente para desvendar o funcionamento do próprio corpo humano (nossa anatomia, fisiologia, psiquismo) e sobre o mistério das emoções e sentimentos. É pela via histórica, portanto, que se percebem diferenças quanto ao tratamento especulativo, empírico, clínico ou experimental que marcou verdadeiros paradigmas das idéias sobre a vida mental ao 7 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa longo do tempo. Atualmente, a neurociência propõe metodologias para a compreensão das bases do funcionamento cerebral e do comportamento, as quais são desenvolvidas levando em conta o conhecimento acumulado aliado ao rigor científico do tratamento de suas observações. Bases biofísicas da célula nervosa Breno Teixeira Santos [email protected] A maioria das células é capaz de estabelecer uma comunicação intercelular, contudo, somente nervos e células dos músculos são especializados em produzir uma comunicação rápida através de longas distâncias- estas células apresentam características físicas que permitem que a mensagem seja codificada e transmitida para outras células através de alterações dos seus potenciais de membrana. Esse processo foi sistematicamente estudado através de experimentos de patchclamp, o que resultou em modelos matemáticos que descrevem o processo de comunicação celular, que, por sua vez, são comumente utilizados em diversas áreas da neurofisiologia. Para entender os modelos que descrevem essa comunicação, é necessário discutir alguns conceitos fundamentais: equilíbrio iônico, movimento aleatório, correntes iônicas e potenciais de ação, de forma um pouco mais aprofundada. Trataremos, inicialmente, de equilíbrio iônico e movimento aleatório. A forma com a qual íons se distribuem, interna ou externamente à membrana celular, baseia-se em fenômenos físico-químicos básicos. Partiremos da conceituação do fenômeno de difusão e, adicionando restrições, como a presença de uma membrana semi-permeável e íons incapazes de atravessá-la, conceituaremos pressão osmótica, equilíbrio de Donnan, estabelecimento de campos elétricos e como esses influenciam o movimento dos íons. Alguns desses efeitos, quando combinados, dão origem ao que chamamos de potencial eletroquímico, o qual culmina na famosa equação de Nernst que, por sua vez, ao ser generalizada para diversos íons, leva-nos à equação de Goldman-Hodgkin-Katz. Esta, finalmente nos fornece uma forma de prever o potencial de repouso de membrana, importante na comunicação intercelular, pois configura a linha base contra qual todas as sinalizações são expressas. Todos esses processos são passivos, ou seja, não há consumo de energia para que ocorram ou, colocado de outra forma, ocorrem devido ao estabelecimento de gradientes químicos, elétricos ou hidrostáticos. Porém, a comunicação celular baseada em impulsos elétricos demanda das células nervosas a capacidade de alterar seu potencial de membrana 8 Neurociências por um determinado tempo, i. e., estabelecer potenciais de ação ou spikes. Isso só pode ser obtido as custas de movimentação de cargas elétricas através da membrana o que nos leva aos conceitos de correntes iônicas, bombas (transporte ativo) e canais. Finalizaremos a aula mostrando que a abertura e fechamento de canais iônicos são processos probabilísticos e não determinados por um limiar específico, seja ele voltagem, pH, estiramento ou outros. Princípios básicos em fisiologia do sistema nervoso Renata Pereira Lima [email protected] A proposta desta aula é discutir a integração neural envolvida desde o momento em que um indivíduo recebe um estímulo periférico até o momento em que uma resposta é gerada - seja ela simples (reflexo) ou mais complexa (formação da memória), além de comportamentos gerados volitivamente. A arquitetura do sistema nervoso, apesar de complexa, segue um conjunto relativamente simples de princípios funcionais e organizacionais. O neurônio, unidade fundamental deste sistema, é o responsável por receber, propagar e transmitir impulsos eletroquímicos que constituem a informação. Tipicamente, um neurônio recebe cerca de 10.000 conexões e faz outras 10.000 com outros neurônios e, já que o cérebro humano contém cerca de 100 bilhões de neurônios, isto significa dizer que em torno de 1017 conexões sinápticas são formadas no cérebro. Estas conexões formam no sistema nervoso, várias redes de neurônios interconectados que são construídas de acordo com a interdependência e a necessidade de integração constante de suas informações frente aos mais simples comportamentos e, devido à plasticidade do sistema nervoso, a cada nova experiência do indivíduo, estas redes são rearranjadas, outras tantas sinapses são reforçadas e múltiplas possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se possíveis. De acordo com a funcionalidade destas redes, circuitos e vias são formados a fim de produzir funções fisiológicas específicas, tais como: reflexos, memória, integração sensorial, coordenação motora, aprendizado, etc. 9 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa Fisiologia sensorial Felipe Viegas Rodrigues [email protected] Os receptores sensoriais existentes nos animais, ponto de contato entre o mundo físico externo e o sistema nervoso, permitem a captação e a transdução de todo tipo de estímulos ambientais, sejam ondas eletromagnéticas, ondas mecânicas ou moléculas (estímulos químicos). Os mecanismos de transdução das diferentes modalidades sensoriais serão revistos, juntamente com as regiões encefálicas envolvidas com o processamento primário dos estímulos ambientais, ainda evidenciando a relação do habitat e estilo de vida de diferentes organismos com seus sistemas sensoriais. Neurofisiologia da visão Antônio Carlos da Silva [email protected] O sistema sensorial exerce um papel extraordinário de permitir ao organismo a percepção de informações a respeito do mundo exterior e de alterações no meio interno. A capacidade de transformar a energia do estímulo inicial em sinais eletroquímicos se destaca como meio de transmissão dessas alterações. Entre as variedades de estímulos existentes, a percepção de ondas eletromagnéticas de diferentes freqüências proporciona a identificação de comprimentos de ondas específicas que são conhecidas pelas cores vermelho, verde e azul. A visão, em muitos grupos animais é de fundamental importância para a sobrevivência como, por exemplo, em águias, que possuem uma excelente capacidade visual o que lhes permite a identificação de presas a grandes distâncias. Em muitos insetos, a visão exerce o papel de selecionar um melhor recurso para sua alimentação ou um melhor local para nidificação. Em aves e mamíferos a visão influência, em muitos casos, a escolha dos futuros parceiros de acasalamento. Estudos filogenéticos revelaram que todos os filos animais já apresentaram de alguma forma um “órgão sensível a luz”, o que nos leva a tentar compreender quais as soluções encontradas por cada grupo de animais durante o processo de evolução no qual resulta essa enorme diversidade de formatos de órgão visuais. Como estes sinais são transduzidos? Como percebemos a cor? Quais estruturas envolvidas no processo de formação do olho? Esta aula se propõe a realizar uma breve revisão das estruturas básicas na formação do olho em diferentes grupos animais, bem como os processos de transdução neles contidos. 10 Neurociências Causa e função Pedro Leite Ribeiro [email protected] A razão causal do comportamento nem sempre é parecida com sua razão funcional. Por exemplo, o que faz com que o comportamento sexual aconteça é, na maioria das vezes, a atração que a fêmea sente pelo macho e vice e versa, enquanto que sua razão funcional é bem diferente e distante; a reprodução. O estudo do comportamento deve, portanto, necessariamente levar em consideração as suas razões causais e funcionais. Percepção Felipe Viegas Rodrigues [email protected] O estudo da percepção está intimamente relacionado com o entendimento dos sistemas sensoriais, mas entender percepção é ir além destes sistemas. Esse campo de estudo busca as razões pelas quais um determinado padrão de estimulação gera um percepto ou, até mesmo, mais de um percepto e também quais as implicações para com outros aspectos da Cognição como a memória ou a atenção. Falar em percepção é falar sobre os córtices associativos. Pretende-se nesta aula: (1) mostrar que diferentes aspectos de uma determinada modalidade sensorial são codificados em regiões corticais diferentes (por exemplo: cor, forma, movimento para visão; intensidade, timbre, altura para audição) e (2) explicar como todos esses aspectos são entendidos em conjunto, uma vez que são codificados em diferentes regiões do córtex. A sinestesia, um caso particular de percepção onde a estimulação de uma determinada modalidade sensorial gera a percepção de outra modalidade, será também discutida. Memória e seus aspectos evolutivos Leopoldo Francisco Barletta Marchelli [email protected] Das propriedades que emergem da organização e funcionamento do sistema nervoso, a memória é tida como um dos resultados mais fascinantes da evolução biológica. Os sistemas de memória não só permitem que a gente se lembre de eventos marcantes, 11 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa locais específicos e pessoas conhecidas, mas também nos torna capaz de desempenhar habilidosamente uma ação motora. A grande capacidade de interagir com o meio e armazenar informações provenientes dele, permite que determinados organismos eventualmente flexibilizem seus comportamentos e encontrem soluções para os mais diversos problemas impostos pela sobrevivência. Em outras palavras isso quer dizer que: baseado em experiências pregressas, organismos portadores de memórias são capazes de antecipar eventos e selecionar quais informações receberão um processamento preferencial através do direcionamento da atenção. Assim sendo, a resolução de problemas e a emissão de comportamentos antecipatórios, ações essas baseadas em experiências anteriores, conferem ao repertório comportamental do organismo alto valor adaptativo. Como podem estar os sistemas de memória relacionados com tal fato? Quais são os ganhos adaptativos que isso pode trazer? Como os módulos de memórias estão organizados? Qual o suporte oferecido pelo sistema nervoso? Para o entendimento dessas e outras questões se faz necessário a abordagem de alguns aspectos dos sistemas de memória. Primeiramente a organização e as bases neurofisiológicas do sistema nervoso que suportam os módulos de memória e garantem a comunicação de vias e circuitos neurais, armazenamento e evocação posterior de informações. Sem dúvida os mecanismos de sinapses desempenham importantes papeis no que diz respeito às bases fisiológicas dos sistemas de memórias, pois além de aumentar a possibilidade de comunicação do próprio sistema, confere a ele enorme plasticidade, ou seja, capacidade de alterar circuitos neurais conforme as experiências vividas. Outros dois aspectos necessários ao entendimento dos sistemas de memória são a manutenção e gerenciamento das informações, isto é, cada vez que circuitos são mobilizados, o processamento dessas informações muda em relação à experiência anterior. Tal fato trás conseqüências para percepções e habilidades adquiridas ao longo da vida. Ainda sim, é necessário levar em conta de que forma estão armazenadas e como estão organizadas as informações. Tendo em vistas as bases apresentadas até aqui é possível discutir os diversos modelos de memória que teriam evoluído no sistema nervoso e os estudos que permitiram chegar a essas definições. Modelos teóricos da dinâmica neural Breno Teixeira Santos [email protected] Um sistema é um conjunto de componentes agrupados por conexões de interação e interdependência, de forma que existem relações de causa e efeito nos processos que os envolvem. Um sistema é considerado dinâmico quando as grandezas de 12 Neurociências seus componentes variam no tempo. Um dos objetivos do estudo de um sistema dinâmico (SD) é prever para “onde o sistema está indo”, ou seja, dada uma condição inicial, buscamos determinar o comportamento do sistema. Os SDs são amplamente utilizados em estudos biológicos, desde o nível molecular até o de comunidade, passando pelo nível do indivíduo e seus sistemas componentes. O objetivo dessa aula é explicar e exemplificar como essas análises, envolvendo conceitos bem definidos e de caráter quantitativo, podem contribuir diretamente para a melhor compreensão de sistemas biológicos. Com exemplos unidimensionais (eixo x) embasados na dinâmica neural e uma boa dose de bom senso, em detrimento de formalismo matemático mais rigoroso, apresentaremos alguns conceitos fundamentais no estudo de sistemas dinâmicos: pontos de equilíbrio, estabilidade, bacias de atração, retratos de fase e bifurcações. Os modelos unidimensionais, embora didáticos, são “simples”, então, para obtermos modelos dos processos neurais que sejam mais próximos da realidade, expandiremos nosso raciocínio para duas dimensões (eixos x e y). Porém, antes de atacarmos os sistemas em duas dimensões, faremos a apresentação do modelo clássico proposto em 1952 por Hodgkin e Huxley (modelo HH), como forma de exemplificar o poderio dos modelos matemáticos no entendimento dos processos biológicos e como base para apresentação dos sistemas dinâmicos bidimensionais. O modelo HH é um modelo com dimensão 4 e, portanto, complexo para ser simulado em plataformas computacionais. Por complexo entenda demorado. Dessa forma, o final dessa aula, além de reapresentar os conceitos básicos dos SDs, agora em uma dimensão superior, nos mostrará como é possível reduzir um sistema que, originalmente possuía dimensão 4, em um sistema de dimensão 2, preservando suas características marcantes. Introdução a neurocomputação Breno Teixeira Santos [email protected] Sem a obrigatoriedade de entrarmos na seara de obter uma definição do que vem a ser neurocomputação, uma vez que existem diversas delas, iremos focar nos princípios básicos das estruturas computacionais que nos permitem analisar problemas como (do texto de apresentação do periódico Neurocomputing da Elsevier): arquiteturas, métodos de aprendizado, análise de dinâmica de redes, teorias de aprendizado, autoorganização, modelagem de redes neurais biológicas, transformações sensoromotoras, 13 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa inteligência artificial, vida artificial, ciência cognitiva, teoria de aprendizagem computacional, lógica fuzzy, algorítimos genéticos, teoria da informação, neurobiologia e reconhecimento de padrões. Esses princípios básicos baseiam-se nas famosas redes neurais. Iremos, portanto, apresentar um breve histórico do nascimento das redes neurais, como estas inspiraram-se nas redes biológicas e posteriormente especiaram-se no que hoje conhecemos como Redes Neurais Artificiais (ANNs do inglês). As ANNs se tornaram um objeto de estudo completamente diferente das Redes Neurais Biologicas (BNNs do inglês). As primeiras ganharam todo um arcabouço teórico próprio com algorítimos de “aprendizado” e arquiteturas específicas, que tiveram (e continuam tendo), enorme sucesso em áreas como reconhecimento de padrões e controle. As últimas possuem como característica primária o compromisso entre simulação do comportamento mais próximo possível de neurônios reais, com a representação computacionalmente menos custosa. Relembrando o conteúdo da aula anterior, o modelo HH pode apresentar 19 comportamentos distintos como, por exemplo, disparos unitários, salvas, adaptação de frequência de disparos e até mesmo caos. Porém isso custa 1200 FLOPS! FLOPS, Floating point Operations Per Second (Operações de Ponto Flutuante por Segundo), é um número que expressa a quantidade de operações (somas, multiplicações e etc) executadas pelo processador de um computador, ou seja, fornece uma aproximação do custo computacional envolvido. Comparativamente, um modelo mais simples, conhecido como modelo de integração e disparo, tem custo de apenas 5 FLOPS, mas é capaz de apresentar apenas 3 comportamentos diferentes em sua dinâmica. Dessa forma, o custo computacional é importante na elaboração de modelos que representam dinâmicas biológicas. Abordaremos, também, como e quando é indicada a utilização de cada modelo e quais conclusões podem ser obtidas. Navegação espacial Cyrus Villas-Boas [email protected] Serão abordados neste tema mecanismos fisiológicos que envolvem a navegação espacial em indivíduos, com enfoque em mamíferos. Veremos, através da análise de estudos eletrofisiológicos, como esses mecanismos formam o processo de navegação espacial e como isso se relaciona com a memória episódica, importante para diversos processos, entre eles a busca eficiente de alimento. 14 Neurociências Neurobiologia das emoções Bárbara Onishi [email protected] Um sistema nervoso que produz respostas comportamentais que maximizam o sucesso reprodutivo do indivíduo dentro do seu ambiente é favorecido pelo processo de seleção natural. Assim como as estruturas físicas, as capacidades cognitivas e emocionais são resultado do processo de seleção natural e evoluíram para resolver problemas de significado adaptativo (Brüne, 2002). Os mecanismos de emoção no sistema nervoso operam através da atribuição de valor a estímulos do meio ambiente. A codificação dos valores de recompensas e punições é um mecanismo do sistema nervoso na interface entre os sistemas sensoriais e a produção de comportamentos e respostas autonômicas – a seleção de recompensas e a esquiva de punições tende a aumentar a chance de sobrevivência e o sucesso reprodutivo do indivíduo. Após um longo período negligenciado, o estudo das emoções intensificou-se a partir da segunda metade do século XX. As pesquisas iniciais deram origem à teoria de que as emoções seriam mediadas pelo sistema límbico. Atualmente, tanto essa idéia quanto o próprio conceito de sistema límbico são bastante questionados. Fortes evidências apontam o envolvimento da amígdala, do estriado ventral, de porções do córtex frontal, do hipotálamo, do mesencéfalo, do prosencéfalo basal e ainda de outras estruturas no processamento de ordem emocional. O estudo das emoções até recentemente havia se concentrado nas emoções de caráter “negativo” ou aversivo, tais como medo e ansiedade. Tem sido crescente o número de pesquisas sobre emoções de caráter “positivo” ou apetitivo, e até mesmo relativas à interação social. As ferramentas comportamentais mais comuns utilizadas no estudo de emoções em animais não-humanos e humanos compreendem os procedimentos envolvendo a apresentação de estímulos aversivos ou apetitivos em tarefas de condicionamento clássico e operante. Além disso, a técnica de apresentação de estímulos de natureza emocional como figuras e palavras com conteúdo emotivo não raro é empregada em pesquisas com seres humanos. Além dos processos inatos subjacentes às emoções, essas também estão sujeitas a aprendizagem e memória. Por exemplo, organismos não somente atribuem valor a estímulos que intrinsicamente possuem significância biológica (e.g., alimento, parceiros sexuais, fonte de perigo etc), como são capazes de modificar o valor de estímulos outrora considerados neutros que predizem a ocorrência dos primeiros – através de uma aprendizagem associativa – e de se recordar do conteúdo aprendido. 15 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa Além de atuarem diretamente na produção de comportamentos e respostas autonômicas, estados emocionais interferem em processos cognitivos como atenção, e consolidação e evocação de memórias. Por exemplo, experiências emocionais são melhor recordadas do que experiências sem conteúdo emocional. Ainda, experiências com determinado conteúdo emocional são melhor recordadas no mesmo estado emocional – i.e., memórias com conteúdo triste são mais prováveis de serem recordadas quando se está triste. Finalmente, o estudo das emoções auxilia no entendimento de diversas desordens neuropsiquiátricas que acometem os seres humanos, tais como os transtornos de pânico e ansiedade, depressão, adição à drogas, esquizofrenia, entre outros. Neurofisiologia da linguagem Rodrigo Collino [email protected] A linguagem, característica tão inerente aos seres humanos, passou a ser objeto de estudo neurocientífico somente a partir do século XIX. Atualmente, tem-se mapeadas várias áreas cerebrais (lobo frontal, área de Broca, área de Wernicke, rede temporo-parietal esquerda e rede supra-parietal esquerda, entre outras), responsáveis por tarefas específicas, como produção da fala, compreensão de fonemas, acesso ao léxico da língua e formação de frases gramaticalmente corretas. Portanto, pode-se notar uma especialização linguística no hemisfério cerebral esquerdo; entretanto, é no hemisfério direito onde se processam propriedades tais como prosódia e tonalidade na fala. Assim, distúrbios na linguagem estão frequentemente associados a danos em tecido neural, decorrentes de acidente vascular-cerebral ou mesmo por ação mecânica. Entre os mais frequentes, podemos citar a afasia de Broca e a afasia de Wernicke. Há, entretanto, disfunções específicas da linguagem sem, ainda, nenhum correlato neural específico, apontando apenas para possíveis heranças genéticas. Neurofisiologia da música Felipe Viegas Rodrigues [email protected] Por todo o mundo, nas mais diferentes culturas, é possível encontrar pessoas produzindo ou apreciando música. Ainda assim, não conseguimos explicar consensualmente se há na música vantagens adaptativas e por que ela está irrestritamente 16 Neurociências distribuída pelo globo. Estava Darwin certo ao sugerir que a música vem desde tempos remotos, ainda com nossos ancestrais? Mas e quanto às outras espécies? Podem elas produzir ou apreciar música? Se sim, por prazer/arte, como parece ser ao homem, ou como um simples instinto? Os indícios que permitem responder essas questões começam a ser encontrados. Faremos aqui uma revisão dos mecanismos neurofisiológicos que possibilitam a existência de música no homem e de que formas ela se manifesta em outras espécies. . 17 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa 18 Metabolismo Metabolismo Entendemos como Metabolismo um conjunto de reações químicas que mantém um organismo vivo. Os processos metabólicos variam ajustando as respostas dos animais tanto às suas necessidades endógenas quanto às mudanças ambientais. Sendo assim, este módulo irá abordar as variações do metabolismo animal decorrentes de diferentes fatores bióticos e abióticos com especial ênfase em metabolismo energético e temperatura: 1) abordagem geral das definições que envolvem o metabolismo energético, seguida da apresentação de como os fatores abióticos influenciam o metabolismo usando como exemplo a temperatura; 2) técnicas de medida do metabolismo energético em diferentes condições fisiológicas, com especial atenção à técnica de respirometria; 3) a influência do metabolismo nos fenômenos comportamentais de vertebrados ectotérmicos frente às alterações da temperatura ambiental; 4) regulação da temperatura e metabolismo dos animais endotérmicos e ajustes da febre e queda regulada da temperatura corpórea relacionada a depressão metabólica em vertebrados; 5) os fenômenos de depressão metabólica e dormência sazonal apresentados por animais de diferentes grupos como adaptação comportamental, fisiológica e bioquímica; 6) interação entre metabolismo energético e reprodução, importância dos lipídios nesse processo e como esses compostos podem variar em relação a dieta dos pais e às condições do ambiente; 7) finalizamos o módulo procurando entender o efeito ecofisiológico da temperatura no metabolismo e como este pode ajudar a estabelecer os limites ambientais em vários processos fisiológicos dos indivíduos e, conseqüentemente, a viabilidade das populações, comunidades e ecossistemas, podendo atuar de um modo ativo na conservação ambiental. Metabolismo e Temperatura: Conceitos e Implicações Carlos Eduardo Tolussi [email protected] O conjunto de processos físicos e químicos que transformam as substâncias no interior de um organismo é conhecido como metabolismo. Estas transformações podem formar ou degradar moléculas (anabolismo e catabolismo, respectivamente). De forma geral, os organismos podem variar sua taxa metabólica dependendo do local, momento e situação a ser enfrentada, por isso, para se conhecer a real taxa metabólica durante um trabalho, como locomoção, fulga, doença e etc, é necessário avaliar primeiramente a taxa metabólica basal ou padrão (BMR ou SMR, respectivamente) que consiste no grau de processos físicos e químicos que um organismo precisa para manter a homeostase. Muitos são os fatores 19 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa abióticos que podem alterar o metabolismo de um organismo. Um dos fatores mais importantes é a temperatura, que consiste no nível de energia cinética das moléculas. A alteração da temperatura pode afetar diretamente a conformação espacial de uma ou mais moléculas, elevando ou diminuindo os processos biológicos. Existem organismos, como aves e mamíferos, que utilizam a produção metabólica de calor como fonte primordial para elevar a sua temperatura corpórea (endotérmicos), e outros que utilizam prioritariamente o ambiente (ectotérmicos). Tanto os endotérmicos quanto os ectotérmicos podem variar sua temperatura corpórea ou mantê-la constante (heterotérmicos e homeotérmicos respectivamente). A interação entre a temperatura e o metabolismo é clara, podendo ser ilustrada, por exemplo, nos efeitos da febre ou na atividade de uma enzima. Isto mostra, a importância de realizar estudos relacionados a este tema e elaborar métodos adequados que nos auxiliem no entendimento de como ocorrem e quais serão as respostas obtidas quando há alguma alteração nesses parâmetros. Medindo a chama da vida Tatiana Hideko Kawamoto [email protected] Século XVIII. Antoine Lavoisier, Marie-Anne Paulze e Pierre-Simon Laplace realizam experimentos que serão o estopim dos estudos de metabolismo e temperatura, como conhecemos hoje. Ao colocar uma cobaia dentro de uma gaiola de metal envolta por gelo, medem, indiretamente, o metabolismo através da transferência de energia (calor) da cobaia para o gelo, através da água provinda do derretimento do gelo ao longo deste processo. Durante muito tempo, a medida de energia da manutenção da vida dos organismo esteve vinculada às medidas de calor e, por isso mesmo, à medição de animais endotermos. Daí advém o nome de calorimetria à técnica e de caloria à unidade de medida que adotamos nos estudos de metabolismo. Apesar do pioneirismo, estas medidas estavam restringidas à condição metabólica de ajuste de temperatura corpórea a 0ºC a que os animais estavam submetidos durante todo o experimento. O próximo grande avanço nas técnicas de medição de metabolismo animal vem no século XX, com o desenvolvimento da respirometria fechada e aparelhos de medição manométricos que usam características físico-químicas dos gases para realizar as medidas de calorimetria de forma indireta em um sistema estático. Apesar de ainda usado, este sistema é limitado ao seu uso, pois não permite acompanhar a atividade do animal incutindo imprecisão na medida de metabolismo, prováveis mudanças metabólicas no organismo decorrentes da alteração na concentração de O2 e CO2 com o 20 Metabolismo decorrer do experimento, etc. Com o desenvolvimento de sensores de oxigênio, gás carbônico e pressão de vapor de água no ar cada vez mais precisos e acurados, a respirometria aberta tem expandido as possibilidades de medidas. No panorama atual, destaca-se o papel de John Lighton (Sable Systems International) no desenvolvimento de novos equipamentos e técnicas que tem possibilitado a medição de animais cada vez menores, de baixo metabolismo e de comportamento pouco estável, como é o caso dos pequenos artrópodes. A expansão destas novas técnicas e dos novos materiais disponíveis (câmaras respirométricas transparentes, detectores de movimento, etc) têm incrementado indescritivelmente as possibilidades de medição na determinação das relações energéticas envolvidas em fenômenos fisiológicos e etológicos mais dinâmicos. Estas medidas têm sido o carro-chefe das novidades recentes na fisiologia, como a endotermia de insetos, medidas precisas de gasto energético de organismos em estado reprodutivo, auxiliando na melhoria de técnicas de criação, e está presente até mesmo em academias de ginástica acompanhando a melhoria de desempenho de atletas. Ectotermia: um acesso de baixo custo à vida Jessyca Michele Citadini [email protected] A temperatura ambiental é um dos fatores físicos mais importantes para a sobrevivência e distribuição dos animais. Os animais ectotérmicos apresentam uma temperatura corporal variável de acordo com as flutuações do meio ambiente, o que gera várias restrições em termos ecológicos, mas em contrapartida, acarreta menores necessidades energéticas. Os animais ectotérmicos estão presentes entre os invertebrados (alguns artrópodes) e vertebrados (peixes, anfíbios e répteis). A capacidade de manutenção da temperatura corpórea dentro de certos limites, mesmo quando a temperatura do ambiente é diferente, é chamada de termorregulação. As trocas de calor com o meio ambiente ocorrem principalmente pela radiação, embora em diversos momentos os animais utilizem também a condução e a convecção para obtenção de calor. Devido aos requerimentos térmicos, as atividades de um ectotérmico são limitadas no tempo e no espaço pelas condições ambientais. Uma vez que grande parte dos processos fisiológicos e padrões comportamentais são dependentes da temperatura, a maioria desses animais a controla quando possível. Considerável parte deste controle envolve mudanças comportamentais ao longo do dia. As trocas de calor com o meio podem ser influenciadas pela regulação do fluxo de calor através da alternância entre sombra e sol, entre microhábitats; pelo aumento ou diminuição do grau de achatamento do corpo contra o 21 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa substrato; pelas modificações da postura corporal e pelo tempo de atividade dos animais. Uma combinação entre história filogenética, tamanho corporal e custo-benefício ecológico e comportamental determina quando, como, e com que precisão um ectotérmico irá controlar sua temperatura. Deste modo, o desempenho locomotor tem sido considerado um bom indicador quantitativo de adequação biológica (fitness) em estudos sobre a influência da temperatura no desempenho comportamental de vertebrados ectotérmicos. Mudanças no comportamento defensivo, induzidas pelas temperaturas, têm sido reportadas em vertebrados ectotérmicos tão diversos como lagartos, anfíbios anuros, salamandras e serpentes. Estudos com lagartos mostraram que algumas espécies mudam seus displays defensivos com a temperatura ambiental, ou tornam-se mais agressivos e menos propensos á fuga quando a temperatura corpórea é baixa. Termorregulação em endotermos: Febre e Anapirexia. Ana o quê? Carolina da Silveira Scarpellini [email protected] A maioria das espécies endotérmicas – aves e mamíferos – praticamente não altera sua temperatura corporal (Tc) diante de uma ampla faixa de flutuação da temperatura ambiente (Ta). Essa pequena variação na Tc é garantida por mecanismos termorreguladores autonômicos além daqueles comportamentais apresentados também pelos ectotérmicos. Dentre os mecanismos autonômicos estão os de conservação e produção de energia térmica (vasoconstrição periférica, piloereção, metabolismo basal, tremor ou ainda mecanismos independentes de tremor) e os de perda de energia térmica (vasodilatação periférica, sudorese e ofegação). Os mecanismos comportamentais estão relacionados ao contato com superfícies mais quentes ou frias ou à adoção de posturas corporais que facilitem ou evitem a troca de calor entre o animal e o ambiente. Os mecanismos termorreguladores são controlados pelo Sistema Nervoso Central, principalmente por uma região que se situa na transição entre o diencéfalo e o telencéfalo de vertebrados, chamada área pré-óptica do hipotálamo. São conhecidos 5 estados térmicos: eutermia, hiper e hipotermia, febre e anapirexia. Eutermia se refere à condição em que o animal apresenta a Tc típica da espécie. Quando ocorrem aumentos ou reduções extremos da Ta, a Tc pode acompanhar essas alterações, mesmo com a ativação de mecanismos de perda ou de ganho de energia térmica, o que se caracteriza por quadros de hiper ou hipotermia, respectivamente. Estas são condições resultantes de falhas do sistema termorregulador em manter o estado eutérmico. Os outros dois estados térmicos não refletem falhas do sistema, mas sim 22 Metabolismo alterações reguladas da Tc. Nestes casos, mecanismos termorreguladores apropriados são ativados para elevar a Tc (febre) ou para reduzi-la (anapirexia). Note que os mecanismos ativados durante a febre são opostos àqueles ativados durante a hipertermia. O mesmo vale para os mecanismos ativados durante a anapirexia e a hipotermia. Há situações em que uma alteração regulada da Tc é mais vantajosa para o organismo que a manutenção da eutermia, pois pode, por exemplo, aumentar a atividade do sistema imune ou diminuir o consumo de O2, proporcionando assim aumento da sobrevivência aos animais. Na aula veremos quais são estas situações, como os mediadores químicos estão envolvidos na febre e na anapirexia, e como a queda regulada da Tc está relacionada com a depressão metabólica. Metabolismo em câmera lenta: mecanismos de depressão metabólica sazonal Lilian Cristina da Silveira [email protected] A habilidade de deprimir a taxa metabólica de repouso e ingressar em um estado de dormência frente a condições ambientais desfavoráveis é de ampla ocorrência nos animais e considerada um dos exemplos de plasticidade fenotípica mais fascinantes. Seja em condições anóxicas ou na presença de oxigênio, a depressão metabólica estende o tempo de sobrevivência dos organismos por reduzir a demanda de energia e a velocidade de utilização das reservas de substratos. A depressão metabólica se caracteriza por redução geral da atividade: os movimentos de locomoção cessam, a alimentação e a digestão são interrompidas, as freqüências cardíaca e respiratória diminuem e a atividade elétrica cerebral torna-se lenta. Durante a dormência, endotermos regulam a temperatura corpórea em valores tão baixos quanto 0ºC e a temperatura corpórea de ectotermos permanece próxima à temperatura do abrigo. No nível celular, há uma inibição coordenada de processos que produzem e consomem energia de maneira que um novo estado de equilíbrio é alcançado. A reorganização metabólica é alcançada por meio de diversos mecanismos de regulação, incluindo regulação de enzimas-chave que promovem ajustes no tipo de substrato metabólico preferencial, nas taxas de oxidação de substratos e na função de proteínas de transporte iônico, como a Na-K-ATPase. Dado que uma fração substancial do metabolismo está associada com a atividade de enzimas presentes nas membranas celulares, tem sido proposto que a composição lipídica das membranas desempenha um papel determinante na intensidade metabólica característica das espécies e que constitui importante meio para regulação metabólica. Nesse contexto, a aula pretende fornecer uma 23 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa visão integrativa dos eventos comportamentais, fisiológicos e bioquímicos relacionados aos fenômenos de depressão metabólica e dormência sazonal apresentados por animais de diferentes grupos. Custos e benefícios da reprodução: papel dos lipídios Aline Dal’Olio Gomes [email protected] Como já mencionado, a energia armazenada é importante para o suporte de vários eventos fisiológicos do organismo e o alto conteúdo calórico dos lipídios faz este grupo de componentes um eficiente armazenador energético, sendo o mais significante em muitos animais. Durante períodos, no qual as fontes alimentares são abundantes ou a demanda energética é baixa, o conteúdo lipídico aumenta, ao contrário, quando as fontes alimentares são escassas ou a demanda energética é alta, os lipídios são mobilizados e seu conteúdo diminui nos mais diversos órgãos de armazenamento deste substrato. Desta forma, a concentração de lipídios armazenados se altera significativamente ao longo do tempo entre os indivíduos e populações, em resposta às necessidades energéticas. Entre todos os processos fisiológicos, a reprodução é energeticamente muito custosa para ambos os sexos, mas a magnitude do gasto e sua relação com o sucesso reprodutivo diferem entre machos e fêmeas. Os machos alocam relativamente pouca energia para a produção de gametas e, então podem se reproduzir com sucesso com um investimento de energia menor. Em contraste, as fêmeas de muitas espécies experienciam altos custos na atividade reprodutiva, que são independentes do tamanho da prole, e necessitam de uma reserva energética substancial antes de iniciar a atividade reprodutiva. Durante a vitelogênese nas fêmeas, processo que demanda alta energia, o figado é estimulado pelo hormônio estradiol a sintetizar vitelogenina, uma fosfoglicolipoproteína, formada por ácidos graxos mobilizados das reservas de lipídios. Desta forma, a qualidade e quantidade dos lipídios e ácidos graxos podem variam com o status reprodutivo. De modo geral, os ácidos graxos polinsaturados (PUFAs) participam de importantes funções biológicas, como crescimento, regulação da resposta imune e ainda as alterações fisiológicas dos animais frente ao estresse ambiental. Adicionalmente, os PUFAs participam também dos processos reprodutivos influenciando na concentração de hormônios esteróides gonadais, vitelogênese, na manutenção da estrutura de membrana dos espermatozóides, na qualidade dos ovos, desova e sobrevivência larval. Contudo, a composição desses compostos pode variar muito em relação a dieta dos pais e às condições do ambiente, como temperatura, salinidade e fotoperíodo. Assim, quando as dietas maternas são deficientes, a transferência de ácidos graxos para as gônadas se torna 24 Metabolismo insuficiente para um desenvolvimento oocitário adequado, reduzindo a qualidade dos gametas e da progene. A ecofisiologia no cenário das mudanças climáticas globais Lye Otani [email protected] As populações humanas têm consumido e desperdiçado cerca de 40% da produtividade primária líquida total do ambiente terrestre, levando espécies e comunidades inteiras ao ponto de extinção. As principais ameaças à diversidade biológica e ao meio ambiente são: destruição, fragmentação e degradação do hábitat (incluindo poluição), superexploração das espécies para uso humano, introdução de espécies exóticas e aumento de ocorrência de doenças, e todas essas têm atuado de forma simultânea, contribuindo para as mudanças climáticas hoje encontradas em todo o mundo. Assim, os seres vivos agora têm que lidar com as alterações causadas pelas atividades humanas, além das variações ambientais naturais. As constantes alterações do meio ambiente, cenário presente desde o início da vida no planeta, estão estreitamente ligadas ao ciclo evolutivo das espécies, que inclui processos naturais de extinção e mutação. Dentro deste contexto, o balanço energético é considerado a peça chave que integra fisiologia, ecologia e comportamento, resultando na quantificação numérica da performance de um organismo sob as condições ambientais que irão, indiretamente, com a história evolutiva das espécies. Assim, a quantidade de energia despendida em atividades como forrageamento, reprodução e termorregulação influenciam no balanço energético e, conseqüentemente, na sobrevivência e no sucesso reprodutivo destes organismos. A ecofisiologia comparativa e evolutiva enfoca o estudo do funcionamento dos diferentes sistemas que compõem os organismos, suas relações com o ambiente e o papel desempenhado por estas interações na sobrevivência e na evolução de diferentes grupos. Os dados básicos provenientes da ecofisiologia e de estudos sobre a aptidão das diversas espécies de animais e plantas e suas interações podem ser utilizados para diagnosticar e prever problemas, além de trazer soluções alternativas para problemas já descobertos. Através de estudos ecofisiológicos e seus métodos somos capazes de, por exemplo, identificar fatores estressantes aos organismos, detectar os problemas de reprodução em cativeiro encontrados em diversas espécies, entender as conseqüências da introdução de poluentes nos ecossistemas, e destacar os principais organismos mais vulneráveis aos diversos fatores estressores. Dessa maneira, a ecofisiologia tem um papel fundamental ao estabelecer os limites ambientais que garantem a reprodução dos indivíduos e, conseqüentemente, a viabilidade das populações, comunidades e ecossistemas, podendo atuar de um modo ativo na conservação ambiental. 25 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa Aula Prática Respirometria 1. Calorímetro de gelo: Demonstração do funcionamento de um calorímetro de gelo com o intuito de demonstrar o raciocínio usado por Antoine Lavoisier, sua esposa Marie-Anne Paulze e Pierre-Simon Laplace para as primeiras medidas de metabolismo energético. O modelo será explicado dentro do contexto histórico no qual surgiu e os limites técnicos que impedem o uso atual deste tipo de equipamento para realizar medidas metabólicas. 2. Respirometria fechada: Demonstração do funcionamento de um sistema respirométrico simples, realizada com câmaras metabólicas transparentes acopladas a um manômetro líquido simples. Apresentação dos cálculos, tipos de medidas que podem ser realizadas ainda hoje neste tipo de equipamento. Apresentação dos cuidados para evitar hipóxia e hipercapnia nestes equipamentos. 3. Respirometria fechada com diferentes modelos animais: Demonstração de respirometria fechada com um animal endotérmico, um vertebrado e um invertebrado ectotérmicos. Os alunos deverão realizar os cálculos para estes animais conforme apresentados na demonstração e compará-los. Realizar estimativas de tempo máximo que o animal pode permanecer nas câmaras sem risco de hipóxia. Respirometria aberta e intermitente; Demonstração de respirometria aberta e intermitente através de equipamentos da Sable Systems International. Apresentação dos cálculos. Explicação das possibilidades e diferenças com as outras técnicas respirométricas. 26 Neuroendocrinologia comparada Neuroendocrinologia comparada Endocrinologia é uma especialidade de uma das disciplinas mais ampla da biologia, conhecida como fisiologia. Considerando que a fisiologia é o estudo dos processos biológicos que permitem a vida existir e funcionar, a fisiologia animal comparada são as comparações e contrastes dos mecanismos, processos ou respostas fisiológicas de diferentes animais ou de uma simples espécie que sofrem diferentes condições, sejam elas: naturais ou artificiais. Já a neuroendocrinologia pode ser caracterizado pela interseção entre a neurobiologia e a endocrinologia, ou seja, é o estudo da modulação exercido pelo cérebro sobre o sistema endócrino e vice-versa, o estudo dos efeitos exercido pelo sistema endócrino sobre o cérebro. Neste contexto, vários eixos biológicos são identificados e pesquisados na área de neuroendocrinologia, como por exemplo: eixo hipotálamo-hipófisegônadas, hipotálamo-hipófise-adrenal e eixo imune-pineal. Desta forma, demonstra-se a importância dos estudos em fisiologia comparada, em especial a neuroendocrinologia, destacando-se as principais vias de comunicação entre os diferentes eixos biológicos e entre os diferentes grupos de vertebrados. Neuroendocrinologia comparada: análise comparativa entre o encéfalo e hipófise de peixes e mamíferos. Renato Massaaki Honji [email protected] Neuroendocrinologia pode ser caracterizado pela interseção entre a neurobiologia e a endocrinologia, ou seja, é o estudo da modulação exercido pelo cérebro sobre o sistema endócrino e vice-versa, o estudo dos efeitos exercido pelo sistema endócrino sobre o cérebro. O conhecimento do funcionamento e caracterização do encéfalo e da hipófise em mamíferos é bem conhecido na literatura. Por outro lado, em peixes, algumas diferenças no desenvolvimento deste sistema são observadas entre esses dois grupos de vertebrados, sendo que, o conhecimento da fisiologia deste sistema nestes organismos aquáticos, ainda é incipiente, principalmente em relação às espécies de peixes neotropicais. Neste sentido, o conceito de que o encéfalo modula as funções gonadotrópicas na hipófise é bem conhecida em mamíferos, diferentemente dos estudos observados em peixes, que normalmente, os experimentos biológicos para entender esta modulação neste sistema, são realizados com o intuito de observar apenas a atividade da glândula hipofisária, separadamente das atividades do encéfalo. Desta forma, uma análise integrativa, relacionando a neuroendocrinologia, principalmente em relação ao eixo hipotálamo-hipófise-gônadas em 27 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa peixes, se reveste de suma importância. Adicionalmente, os mecanismos fisiológicos apresentado por estes animais, evidenciando a integração dos sistemas biológicos com o ambiente aquático, demonstram a importância das pesquisas em fisiologia comparativa. Além disso, quando se utiliza peixes como modelos biológicos, além da importância ecológica para o ambiente aquático, são recursos alimentares de extrema relevância para a alimentação dos seres humanos e pode-se constatar também, a presença de várias espécies de peixes em situações críticas (de extinção), sendo que uma inversão nesse quadro só é possível com base em programas adequados de repovoamento, que só podem atingir algum sucesso quando as técnicas de reprodução e produção são dominadas e, sabe-se que o sucesso neste cultivo, só é obtido com o conhecimento da biologia da espécie e, em especial da fisiologia reprodutiva. Neuroendocrinologia comparada: o encéfalo e a hipófise de anfíbios, répteis e aves. Amanda de Moraes Narcizo [email protected] Os processos fisiológicos em um organismo necessitam, naturalmente, ser controlados e integrados. É no sistema nervoso central que essas informações são integradas e onde se dá o controle dos processos fisiológicos como as funções orgânicas e a integração do organismo ao ambiente. Isso envolve a capacidade de receber estímulos, interpretá-los e desencadear respostas adequadas a eles. Levando em consideração a regulação dos processos fisiológicos, os neuro-hormônios e os hormônios glandulares desempenham importante papel na coordenação de funções de tecidos e órgãos animais, atuando no crescimento, manutenção, osmorregulação, reprodução, comportamento, entre outras. As conexões entre o sistema nervoso e o sistema endócrino, dentre outras vias, ocorrem principalmente pelo eixo hipotálamo-hipofisário compondo o sistema de regulação neuroendócrina. O hipotálamo é um dos principais centros de integração de informações do organismo, o que pode ser percebido por suas conexões com o sistema límbico (hipocampo, corpo amigdalóide e área septal) responsável pelo comportamento emocional, conexões viscerais, conexões monoaminérgicas (noradrenalina, serotonina e adrenalina), além de conexões com a hipófise. A hipófise é uma glândula que produz vários e importantes hormônios, sendo considerada a glândula mestra. Pode ser dividida em lobo anterior e lobo posterior segundo o critério anatômico, segundo o critério embriológico dividi-se em adenohipófise e neuro-hipófise e segundo ao critério histológico dividi-se em pars distalis, pars 28 Neuroendocrinologia comparada intermédia e pars nervosa. Pode-se dizer que os terápodes apresentam diferenças morfológico-funcionais no eixo hipotálamo-hipófise. Nos anfíbios, em relação à hipófise destaca-se a não associação da pars neural com a pars intermedia, segundo o critério histológico. Nos répteis, considerados um grupo parafilético, ou seja, não formam um grupo biológico natural com características em comum pertencentes somente a este grupo, a subclasse Diapsida (grupo dos crocodilianos) não possui a glândula pineal (importante na função de controle dos ritmos circadianos). Outra diferença ao que denominamos répteis (subclasses Anapsida e Diapsida) é a ausência do núcleo pré-óptico, porção da zona medial do hipotálamo, assim como em peixes. Nas aves a ausência da pars intermedia merece destaque, pois difere entre todos os tetrápodes e peixes. Apesar de diferentes, cada uma destas características representa uma resposta evolutiva do grupo a uma pressão seletiva. Este panorama de mudanças evolutivas só pode ser compreendido dentro de um contexto comparativo. Sistema Neuroimunoendócrino Marina Marçola Pereira de Freitas [email protected] Os sistemas nervoso, endócrino e imune estão fisiológica e anatomicamente interligados, interagindo multidirecionalmente para garantir a homeostase do organismo. São capazes de responderem e expressarem inúmeras moléculas em comum mantendo uma interligação harmônica. Quando esse equilíbrio é quebrado, seja por um agente de stress ou inflamatório, esses sistemas se reorganizam na tentativa de responder e solucionar rapidamente o problema. Neste contexto, novos estudos têm buscado compreender o chamado Sistema NeuroImunoEndócrino. As células desses sistemas estão equipadas com uma maquinaria capaz de reconhecer sinais mútuos permitindo que essa comunicação multidirecional ocorra. Células imunes produzem citocinas que são reconhecidas pelo sistema nervoso o qual é capaz de regular imediatamente essa resposta. Essa comunicação ocorre por sinalização nervosa, como a inervação de órgãos imunes pelo nervo vago, ou por vias humorais, como a produção dos hormônios adrenocorticotrófico (ACTH), corticosterona, melatonina e hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), capazes de modular a susceptibilidade e a resistência do organismo frente a um estímulo inflamatório ou de stress. Sumariamente, citocinas produzidas durante uma resposta imune são capazes de estimular a produção de hormônios constituintes do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA). Entre estes, podemos citar a corticosterona, hormônio adrenal com propriedades 29 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa anti-inflamatórias. A corticosterona é capaz de aumentar a síntese de melatonina pela glândula pineal. A melatonina, muito conhecida por suas propriedades cronobiológicas, também tem ação sobre o sistema imune o qual, por sua vez, tem a capacidade de sinalização direta sobre a glândula pineal. Além disso, mediadores inflamatórios interagem com a liberação de hormônios sexuais (eixo Hipotálamo-Hipófise-Gônoda). Durante um quadro inflamatório, a produção de GnRH é alterado direta ou indiretamente por citocinas gerando um efeito cascata na produção e liberação dos demais hormônios do eixo. Percebe-se que existe um entrelaçamento entre as respostas destes sistemas, que, por muito tempo, foram considerados em suas individualidades. A ruptura dessa comunicação pode aumentar a susceptibilidade do organismo ou ainda piorar o quadro de desequilíbrio. Considerá-los como parte de um sistema de comunicação mútuo, permite a melhor compreensão do funcionamento do organismo, considerando-o na sua totalidade. Nesta aula, abordaremos as principais vias de comunicação entre esses sistemas (eixo HPA e sistema imune, eixo imune-pineal, hormônios sexuais e sistema imune) e como cada um pode regular os demais. 30 Fisiologia Comparada de Invertebrados Marinhos: Trocas Gasosas, Digestão e Sistema Imune Ecotoxicologia Aquática Em sua definição clássica, a ecotoxicologia é a “Ciência que estuda os efeitos das substâncias naturais ou sintéticas sobre os organismos vivos, populações e comunidades, que constituem a biosfera, incluindo assim a interação das substâncias com o meio nos quais os organismos vivem num contexto integrado”. Neste módulo serão abordadas as consequências fisiológicas tanto para invertebrados como para vertebrados, resultantes da exposição a alguns metais, tais como Al, Mn, Zn, Cu e Cd. Entre os principais efeitos apresentados, destacam-se o transporte de Cd e Cu nas brânquias de crustáceos e a interface com os ecossistemas marinho e estuarino, a interferência do Al e Mn como possíveis agentes causadores de desequilíbrio metabólico e as implicações para a sobrevivência e reprodução, além de disfunções sobre o eixo hipotálamo – hipófise – gônadas de teleósteos nas vias de síntese hormonal sistêmica e neural. Metal não essencial: o cádmio e seus efeitos Priscila Ortega [email protected] O cádmio O cádmio é um metal de transição, tóxico e não essencial para o metabolismo dos animais. É um metal não regulado pelo organismo sendo que pequenas concentrações do cádmio podem ser tóxicas. A toxicidade depende da concentração e período de exposição dos tecidos. Ele pode, ainda, substituir importantes metais (cobre e zinco) no funcionamento de enzimas e como co-fatores. É encontrado no ambiente devido ao descarte de pilhas e baterias ou dejetos industriais, atingindo os animais através de suas brânquias, principalmente os animais aquáticos, quando dissolvido na água; ou ainda através da sua alimentação. Interação metal e células em animais Não se sabe ao certo como o cádmio atinge as células, mas acredita-se que compete com o cálcio (Ca), já que também é divalente, utilizando-se de seus canais para entrar na célula. Em crustáceos, o cádmio pode entrar por trocadores de Ca como o Ca/Na, alterando o equilíbrio do processo. Em peixes, o cádmio compete com íons de cálcio pelos canais de entrada Ca contidos nas células de cloreto das brânquias; além disso, ele interrompe a homeostase do Ca através da inibição de canais Ca-ATPase basolaterais nestas mesmas células. O influxo de cádmio também parece ser dependente da salinidade. 31 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa A acumulação e efeitos tóxicos parecem aumentar em baixas salinidades ou em baixas concentrações de cálcio, uma vez que o cádmio livre aumenta, sendo mais tóxico. Estudos feitos com o cádmio demonstram a acumulação do metal em diferentes tecidos e regiões do corpo, principalmente na carapaça e hepatopâncreas, com menor acúmulo nas brânquias e músculos. A coloração dos órgãos e tecidos é escura, com alta taxa de necrose tecidual e morte celular. Em mariscos e mexilhões, observa-se também um aumento do número de hemócitos, com a visualização de basófilos e eosinófilos. Além disso, encontra-se uma queda da fagocitose e de enzimas relacionadas à degradação. Em mamíferos, como os ratos, o cádmio age principalmente nos rins alterando a absorção de sais. Podem ocorrer alterações no fígado, como a formação de tumores e alterações nas junções tipo gap, dificultando a comunicação celular e passagem de nutrientes. Além disso, pode-se também observar o aumento do número de cânceres, principalmente em testículos. Em humanos, o cádmio está muito presente na composição dos cigarros, tendo uma associação do metal ao elevado número de cânceres e enfisemas. Outro fator é a intoxicação pelo metal em indústrias, colaborando também com o alto grau de cânceres. Transporte de Metais Essenciais em Organismos Aquáticos: O cobre e o zinco Marina Granado e Sá [email protected] Os organismos aquáticos possuem em comum a necessidade da corrente de água para fornecimento de oxigênio para realizar trocas gasosas e esse processo ocorre nas brânquias que podem estar em maior ou menor número de pares devido ao grau de terrestrialidade dos animais. Um dos principais poluentes do sistema aquático é o metal essencial, que tem exemplos como cobre, zinco, cobalto, ferro, manganês, cromo e níquel que em concentrações de nano a micromolar são essenciais à vida desses animais para crescimento e desenvolvimento, mas que em concentrações maiores tornam-se tóxicos, causando distúrbios de ordem fisiológica, bioquímica e molecular, muitas vezes irreversíveis. A entrada desses íons metálicos se dá primeiramente através da interface água/brânquias através de canais de membrana e trocadores que são extremamente 32 Fisiologia Comparada de Invertebrados Marinhos: Trocas Gasosas, Digestão e Sistema Imune conservados, desde o invertebrado mais primitivo até o vertebrado mais evoluído, incluindo neste caso o homem. Após a entrada ao nível do órgão, os íons entrarão nas células a partir de canais de entrada de Cálcio, uma vez que a maioria dos íons metálicos é divalente como o cálcio, trocadores Na/Ca, Na/K-ATPase, trocadores de hidrogênio, etc. Tudo isso ocorre na membrana apical que está voltada para o lado externo do órgão e então o íon percorre toda a célula até chegar à membrana basolateral que fará interface com a hemolinfa/sangue do animal, e então, estará disponível para entrar em contato com órgãos como hepatopâncreas/fígado, intestino, gônadas, podendo alterar todo o metabolismo do animal. Os animais poderão processar a entrada de íons de metal até determinada concentração e após este índice ser atingido, todos os animais aquáticos detoxificarão, isto é, apresentam proteínas de baixo peso molecular (metalotioneínas) que se ligarão ao íon, tornando-o menos tóxico para o organismo e por processos de exocitose será eliminado através das fezes. Efeitos da toxicidade de metais no metabolismo de organismos aquáticos Vanessa Ap.Rocha Oliveira Vieira [email protected] Poluentes ambientais, tais como metais, pesticidas e outros compostos, apresentam riscos graves para muitos organismos aquáticos. Grande parte das pesquisas tem sido realizada para compreender os efeitos destes compostos sobre a fisiologia e a sobrevivência de muitos animais. As concentrações em que um composto é letal dependem de muitos fatores que contribuem para sua toxicidade, incluindo as características de cada espécie e a qualidade da água. Efeitos deletérios sobre as populações são muitas vezes difíceis de detectar em organismos selvagens, uma vez que muitos destes efeitos tendem a se manifestar somente após longos períodos de tempo e exposição. Quando o efeito, finalmente torna-se claro, o processo de toxicidade pode ter ido além do ponto onde possa ser revertido através de ações de correção ou de redução de risco. Em baixas concentrações, estes poluentes muitas vezes não são letais, mas podem acarretar em um desequilíbrio metabólico em diferentes níveis, levando a respostas inadequadas aos estímulos ambientais gerando graves consequências à sobrevivência destes animais. Os mecanismos específicos pelos quais estas substâncias alteram a disponibilidade dos substratos metabólicos não são claros, mas podem ser o resultado de efeitos tóxicos sobre a abundância ou a atividade das enzimas metabólicas, podem estar envolvidos nas compensações metabólicas decorrentes da desintoxicação ou ainda atuar sobre outros 33 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa processos para aclimatação ao ambiente impactado. Neste contexto, estão ocorrendo investigações para estabelecer marcadores que indiquem algum tipo de resposta dos efeitos biológicos causados por substâncias tóxicas pois efeitos sub-letais são sempre precedidos por mudanças nos processos biológicos, permitindo o desenvolvimento de sinais precoces de alerta. Estes marcadores, chamados biomarcadores, podem ser detectados nos fluidos corporais, células ou tecidos, indicando modificações bioquímicas ou celulares, devido à presença e magnitude da toxicidade a que são expostos, em um contexto ambiental, esses biomarcadores oferecem a possibilidade de serem indicadores sensíveis demonstrando que o ambiente contém substâncias tóxicas nocivas aos organismos. Alterações neuroendócrinas resultantes da exposição a metais Tiago Gabriel Correia [email protected] A contaminação dos ecossistemas aquáticos por poluentes metálicos alcançou proporções globais, incluindo-se até mesmo os ecossistemas antárticos. Devido a enorme variedade e complexidade de efluentes e aos distintos padrões de biodiversidade, a elaboração de um modelo que possa fornecer uma previsibilidade prospectiva e não apenas retrospectiva, resultantes da interação contaminantes – biocenose, torna-se um desafio; neste contexto, os peixes destacam-se como um grupo promissor entre os vertebrados para estudos ecotoxicológicos. Uma das principais conseqüências da exposição a agentes químicos (metais ou xenobióticos) que aflige os organismos aquáticos manifesta-se sobre os processos reprodutivos e, invariavelmente acarreta em alterações sobre o sistema endócrino. Essas alterações, comumente conhecidas por desregulação endócrina podem incidir - se sobre o eixo hipotálamo - hipófise - gônadas comprometendo as vias de regulação neural ou sistêmica. Estudos têm demonstrado que a exposição a diferentes metais impõe ajustes fisiológicos específicos e/ou inespecíficos de acordo com o ciclo de vida, táxon e até mesmo espécie. Em mamíferos, metais como o Al e o Mn estão relacionados a neuropatias como Alzheimer e Parkinson, respectivamente; mas além destes efeitos neurodegenerativos, efeitos inibitórios sobre a esteroidogenese gonadal bem como sobre os hormônios hipofisários são bem conhecidos, e respostas similares têm sido reportadas em peixes. Outros metais como, por exemplo, o Zn não tem sido implicado em neurotoxicidade como as documentadas para o Al e Mn. Por outro lado, Cu, Pb, Hg e Cd são capazes de 34 Fisiologia Comparada de Invertebrados Marinhos: Trocas Gasosas, Digestão e Sistema Imune promover distúrbios em qualquer parte do eixo hipotálamo – hipófise - gônadas, como também na síntese de hormônios tireoidianos e do tecido interrenal (peixes). Além dessas respostas endócrinas, freqüentemente também tem sido observado estresse oxidativo em vários tecidos. Entre os invertebrados, crustáceos e moluscos afiguram-se como os grupos mais estudados, sendo comuns as alterações na modulação hormonal responsáveis pelo crescimento e muda. Toda e qualquer resposta biológica proveniente de condições tóxicas subletais relaciona-se intrinsecamente com as condições físico-químicas do meio aquático, com influência direta ou indireta nos sistemas biológicos como um todo. Uma discussão mais detalhada foi atribuída ao alumínio e ao manganês devido as suas propriedades químicas e biorreatividade, quanto aos aspectos neurais, hormonais, reprodutivos e ecofisiológicos. 35 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa 36 Fisiologia Comparada de Invertebrados Marinhos: Trocas Gasosas, Digestão e Sistema Imune Fisiologia Comparada de Invertebrados Marinhos: Trocas Gasosas, Digestão e Sistema Imune Os principais objetivos do conjunto de aulas a seguir é caracterizar de forma geral os principais mecanismos fisiológicos que conferem à diferentes grupos de invertebrados marinhos a capacidade de exploração e colonização de seu ambiente. Descrever diferentes mecanismos fisiológicos utilizados pelos principais grupos marinhos para a integração de alguns de seus sistemas e atividades. Mostrar similaridades dos seus sistemas com os de animais mais complexos. E despertar a curiosidade e sentido de observação na descoberta de fenômenos fisiológicos nestes animais. Trocas gasosas em invertebrados marinhos Suélen Felix [email protected] Tanto na água quanto no ar as trocas gasosas são determinadas por características anatômicas e funcionais dos indivíduos e por propriedades físicas do meio respiratório, especialmente com relação à solubilidade e a capacidade de difusão do oxigênio nesses meios. Suprir as necessidades de oxigênio de células metabolicamente ativas, bem como retirar o excesso de gás carbônico de forma eficiente por simples difusão no meio aquático é um dos maiores problemas, pois se compararmos com o ar, nota-se que este último é mais rico em oxigênio e em uma mesma pressão parcial, o conteúdo de oxigênio da água é 30 vezes menor por conta de sua baixa solubilidade; além disso, o oxigênio se difunde cerca de 300.000 vezes mais rápido através do ar do que na água. Por esses motivos os invertebrados marinhos desenvolveram estratégias e órgãos respiratórios diferentes para se adaptarem as peculiaridades exigidas pelo meio que habitam. As esponjas são os organismos mais primitivos que existem, não possuem tecidos verdadeiros, portanto, nenhum tipo de sistema, nesses animais as trocas gasosas acontecem por difusão simples em uma relação direta água-célula, devido á constante corrente de água que fui pelo interior do corpo desses indivíduos. Moluscos com grande atividade como lulas e polvos necessitam de trocas gasosas muito eficientes e possuem um sistema branquial bem desenvolvido, além de apresentarem excelente circulação capilar e sangue com pigmento respiratório. Os crustáceos por sua vez apresentam brânquias ventiladas por movimentos de apêndices especiais, o que aumenta o fluxo de água nessas 37 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa estruturas promovendo maior eficiência nas trocas gasosas, além disso, crustáceos de maior tamanho também necessitam de vascularização e pigmento respiratório no sangue. Como podemos notar vários fatores foram determinantes para o desenvolvimento das diversas estruturas e estratégias que asseguram a eficiência das trocas gasosas nos invertebrados marinhos. Existem estratégias que diferem substancialmente dentre as classes de um mesmo filo e que estão relacionadas principalmente com o tamanho dos indivíduos e com a sua atividade metabólica. Nesta aula iremos abordar os principais mecanismos pelos quais os invertebrados marinhos executam trocas gasosas e suas relações evolutivas. Adquirindo energia: formas de alimentação e digestão em invertebrados marinhos Camila Queiroz [email protected] Embora a fisiologia da digestão seja similar no nível bioquímico, existe considerável variação nos mecanismos de captura e digestão dentre os diferentes organismos. O trato gastrointestinal dos organismos multicelulares é em geral complexo e com estrutura morfológica variada e que possui uma variedade de funções fisiológicas. A primeira dessas funções é alimentar - ou seja, a entrega de alimentos para o início do trato gastrointestinal. A segunda função é a digestão. A digestão é o processo pelo qual o alimento inicial ingerido, é discriminado tanto no sentido físico e químico. O processo de digestão permite que o terceiro aspecto gastrointestinal possa ocorrer: a absorção. Os produtos da digestão são removidos do trato gastrointestinal por absorção, e finalmente transferidos para todos órgãos do animal ou armazenados. Assim como a arquitetura corporal influencia e limita os métodos digestivos empregados pelos invertebrados, ela também está associada intimamente aos processos de localização, seleção e ingestão de alimento envolvidos nesse processo. A maioria dos invertebrados tem vida heterótrofa, agrupados como herbívoros, carnívoros ou onívoros. Essas categorias de estratégias alimentares envolvem mecanismos fisiológicos distintos envolvidos na digestão dos diferentes predadores frente às suas diferentes presas. Devido a implicações médicas os estudos deste sistema são realizados principalmente em mamíferos. Entretanto, outros 95% dos organismos metazoários não são mamíferos, mas invertebrados que também apresentam complexidade de sistemas digestores. Assim, se faz necessário entender as propriedades fisiológicas desse grupo de organismos não somente pela sua abundância, mas por estarem ligados a praticamente todas os ecossistemas e redes ecológicas ambientais. A presente aula define e apresenta 38 Fisiologia Comparada de Invertebrados Marinhos: Trocas Gasosas, Digestão e Sistema Imune mecanismos importantes relativos a estratégias alimentares e explica aspectos fisiológicos na digestão de invertebrados marinhos. Sistema Imune de invertebrados marinhos: mecanismos, funções e similaridades Patrícia Lacouth [email protected] Foi estudando estrelas do mar que há centenas de anos atrás Elie Metschnikow pela primeira vez observou um processo no qual células se alimentavam de células e a este processo ele deu o nome de fagocitose. Sabe-se que a fagocitose é um importante mecanismo do sistema imune presente em todos os metazoários. A partir destes estudos iniciais cientistas tem se dedicado também a estudar o sistema imune de organismos mais simples na esperança de entender o sistema de organismos mais complexos, como nós. Estudando o sistema imune de invertebrados, como crustáceos, moluscos e esponjas cientistas tem descoberto novas moléculas envolvidas na defesa contra patógenos. O sistema imune de invertebrados pode ser muito mais parecido com o de vertebrados do que imaginamos. Sendo assim poderá tornar-se um modelo ainda melhor para estudar e descobrir novas vias do nosso próprio sistema imune. 39 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa 40 Fundamentos em Toxinologia Fundamentos de Toxinologia Toxinologia é a ciência que estuda os venenos e peçonhas. A principal diferença entre venenos e peçonhas esta em sua forma de atingir a presa. Organismos venenosos são aqueles que acumulam toxinas em diversos tecidos. Sua ação tóxica se dá, normalmente, pela absorção através do contato ou pela ingestão de um organismo venenoso. Já animais peçonhentos possuem um local de armazenamento dos compostos e apresentam uma estrutura especializada para a inoculação (quelíceras, nematocistos, ferrões, presas, aguilhão, pedipalpos, entre outros). Toxinas naturais podem ser encontradas em praticamente todos os grupos de organismos como mamíferos, répteis, artrópodes, cnidários, fungos, bactérias. Alguns organismos parecem possuir apenas um único composto tóxico, enquanto outros produzem um coquetel de compostos com diferentes alvos e efeitos. A aquisição de alimento, defesa e redução da competição são as funções mais comuns das toxinas e peçonhas. As especificidades dessas funções e alvos determinaram e determinam a forma de seleção que modificam esses compostos e, por sua vez, os detalhes de suas conseqüências e gravidade. As toxinas naturais demonstram uma enorme diversidade de funções farmacológicas e ecológicas, uma vez que podem afetar o sistema hemostático, lesionar tecidos, causar quadros inflamatórios e dolorosos, interromper processos digestivos e até agir na ligação e/ou bloqueio com um único tipo de canal iônico voltagem-dependente em um tecido específico. Sendo assim, esses compostos vêm sendo utilizados na fisiologia para melhor compreensão de diversos processos envolvidos na regulação da homeostase. Co-evolução entre peçonhas e seus alvos Bruno Madio [email protected] As toxinas naturais e peçonhas constituem um arsenal químico resultante de um longo processo de co-evolução de espécies que compartilham um mesmo nicho ecológico. As pressões de seleção que conduziram a uma modificação em venenos e toxinas foram fundamentalmente diferentes para outras proteínas, e resultaram em algo com uma dinâmica evolutiva diferente. Toxinas naturais podem ser encontradas em praticamente todos os grupos de organismos como mamíferos, répteis, insetos, cnidários, fungos, bactérias. Alguns organismos parecem possuir apenas um único composto tóxico, enquanto outros produzem 41 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa um coquetel de compostos com diferentes alvos e efeitos. Alguns compostos são encontrados de forma idêntica em até cinco filos diferentes, sendo que esses surgiram em cada filo independentemente, mostrando uma convergência adaptativa. As ações destas substâncias variam de interromper processos digestivos até ligação e/ou bloqueio com um único tipo de canal iônico voltagem-dependente em um tecido específico, mostrando uma enorme diversidade de funções farmacológicas e ecológica. A aquisição de alimento, defesa e redução da competição são as funções mais comuns das toxinas e peçonhas. As especificidades dessas funções e alvos determinaram e determinam a forma de seleção que modificam esses compostos e, por sua vez, os detalhes de suas conseqüências e gravidade. Isso não quer dizer que todos os compostos tóxicos encontrados na natureza suportarão seus efeitos como resultados da modificação adaptativa. Muitas das peçonhas mais extremas podem ter efeitos acidentais, ou funcionar como exaptações (adaptação biológica que não evoluiu dirigida principalmente por pressões seletivas relacionadas à sua função atual) que surgiram para algum outro propósito ou objetivo e, incidentalmente agem como toxinas em algum contexto ecológico. Como as peçonhas foram “produzidas pela seleção natural” para ter um efeito específico no corpo de outro animal, essas são utilizadas como modelos para o desenvolvimento de fármacos. Além disso, existe uma incrível variedade de compostos. Através desses efeitos podemos utilizar esses compostos como ferramentas para estudos fisiológicos. Produtos naturais e sua função como defesa química Suélen Felix [email protected] Muitos organismos produzem por via metabólica secundária, compostos que em princípio não possuem utilidade aparente para estes organismos e que, são denominados metabólitos secundários. Os metabólitos secundários, também são denominados produtos naturais, por se tratarem de substâncias químicas biogênicas cujos potenciais são amplamente explorados por várias áreas das ciências aplicadas como: medicina, agricultura e engenharia. Apesar da aparente ausência de função desses produtos naturais para os organismos que os produzem, o alto custo metabólico demandado para a produção destes chamou a atenção de diversos pesquisadores que iniciaram estudos na área de Ecologia Química, buscando funções para essas substâncias. Os resultados obtidos mostraram que apesar desses metabólitos secundários não terem função essencial na estrutura dos 42 Fundamentos em Toxinologia organismos, conferem a eles diversas vantagens assegurando a sobrevivência, por atuarem nas diversas interações ecológicas que ocorrem no ambiente, funcionando como verdadeiras defesas químicas. Isto explicou o fato de que muitos animais alocam quantidade de energia importante (que poderia ser alocada para crescimento e reprodução) para a produção dessas substâncias. As defesas químicas funcionam protegendo os organismos contra seus predadores (podendo ser tóxicas ou simplesmente diminuírem a palatabilidade do organismo que a produz), podem possuir propriedades alelopáticas (importante em interações de competição), protegem contra epibiose e/ou epifitismo e até mesmo contra infestações microbianas. As defesas químicas podem ser produzidas na sua forma ativada ou podem ser induzíveis, sendo ativadas apenas em alguns estágios do desenvolvimento do indivíduo, ou durante períodos de estresse causados por limitações nutricionais, por fatores ambientais, por infestações microbianas ou por pressão de predadores e competidores. Existem ainda organismos que não produzem defesas químicas, mas que conseguem seqüestrá-las através da alimentação e usá-las em seu próprio benefício. Invertebrados Marinhos: Toxinas e Mecanismo de Ação Bruno Cesar Ribeiro Ramos [email protected] Há muito tempo postula-se que a vida tenha surgido nos oceanos, assim não é de se surpreender que esse ambiente continue a abrigar uma enorme diversidade de animais, o que inclui uma grande variedade de invertebrados. Num ambiente com grandes pressões seletivas e uma enorme variedade de organismos, as interações intra e interespecíficas tem um papel determinante na evolução desses organismos. Muitas dessas interações são mediadas pela liberação de substâncias biologicamente ativas e podem ser classificadas de acordo com seu papel ecológico. Dentre elas temos os alomônios, substâncias utilizadas tanto na defesa quanto na captura de organismos, e comumente conhecidas como toxinas. Na luta pela sobrevivência, diversos grupos se utilizam das toxinas não apenas para captura de organismos e defesa contra predadores. As toxinas, em alguns casos, também são utilizadas na proteção contra agentes infecciosos, competição por espaço e podem estar envolvidas em alguns processos fisiológicos como a digestão. Os diferentes papéis que as toxinas desempenham estão relacionados com seus diferentes mecanismos de ação, que apesar de diversos, podem ser agrupados fundamentalmente em três grupos: 1) Toxinas que agem em canais iônicos, 2) Toxinas que agem em membranas celulares e 3) Toxinas que agem no citoesqueleto celular. Dentro de cada um desses grupos as toxinas 43 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa agem de maneira extremamente específica, se ligando a sítios celulares específicos e alterando a fisiologia celular. Essa característica confere as toxinas além dos potenciais tóxicos e terapêuticos óbvios, um terceiro potencial, onde essas toxinas podem ser utilizadas nos diversos campos da pesquisa como ferramentas farmacológicas. Lepidópteros: Aspectos biológicos e toxinológicos Priscila Aparecida Ozzetti [email protected] A ordem Lepidóptera é composta por borboletas e mariposas, contendo cerca de 150 mil espécies pertencentes à classe Insecta. Alguns lepidópteros apresentam importância em saúde pública que está diretamente relacionada aos efeitos danosos causados ao homem, pelo contato das cerdas de espécies de lagartas que contêm toxinas. Esses são causadores de acidentes no Brasil e por conta disso muitos estudos são realizados para identificação dessas toxinas e a fisiopatologia do envenenamento. Os acidentes causados por insetos pertencentes a esta ordem podem ser tanto na forma larvária (Lonomia obliqua) como na adulta (Hylesia paulex). Nesta aula serão abordadas as principais espécies de lepidópteros de importância médica e daremos ênfase às lagartas do gênero Lonomia que tem apresentado um importante agravo à saúde na região Sul do país. Essas lagartas apresentam hábitos gregários em troncos de árvores. Os acidentes geralmente ocorrem durante o dia quando as pessoas pressionam a lagarta introduzindo a cerda na pele e liberando a toxina. O contato com a Lonomia sp pode desencadear síndrome hemorrágica que, nos últimos anos, vem adquirindo significativa importância médica em virtude da gravidade e da expansão dos casos. A insuficiência renal aguda constitui a principal complicação do quadro da síndrome hemorrágica. Atualmente o soro antilonômico é utilizado no tratamento de acidentes causados pela lagarta Lonomia obliqua e é produzido pelo Instituto Butantan. Raias: Biologia e envenenamento Louise Faggionato Kimura [email protected] As raias são elasmobrânquios pertencentes à classe Chondrichthyes, caracterizados por apresentarem esqueleto cartilaginoso e um corpo achatado na forma de 44 Fundamentos em Toxinologia disco, com avantajadas nadadeiras peitorais, utilizadas em sua locomoção (Meyer, 1997; Garrone Neto e Haddad Jr., 2009). São encontradas tanto em ambientes marinhos, como nos mares temperados e tropicais, quanto em ambientes de água doce (Magalhães e col., 2008). Geralmente, não demonstram comportamento agressivo, alimentando-se à base de crustáceos, vermes e moluscos (Acott e Meier, 1995; Meyer, 1997). São animais de ambientes bentopelágicos, encontrando-se enterrados em covas rasas, o que dificulta sua visualização (Pardal, 2003). Em algumas famílias, existe um ou mais ferrões retrosserrilhados bilateralmente localizados na cauda, formados por uma estrutura mineralizada recoberta por camadas de células epidérmicas ricas em conteúdo protéico (Pedroso e col., 2007). Dentre eles, estão os espécimes pertencentes ao gênero Potamotrygon, os quais são endêmicos de rios de água doce da América do Sul (Carvalho e col., 2003). No Brasil, são comumente encontrados nas bacias do Rio Paraná-Paraguai, Araguaia, Amazonas e Tocantins (Pardal, 2003; Haddad Jr e col., 2004). Os acidentes por raias ocorrem, na maioria das vezes, quando estes animais são pisados e, como um comportamento defensivo, eles giram a cauda em direção ao local estimulado, inserindo o ferrão no membro do indivíduo. Além do trauma mecânico causado pelo ferrão, os componentes tóxicos presentes no tecido que o recobre causam dor intensa seguida de eritema, edema e necrose, podendo até inviabilizar o membro acometido (Haddad Jr e col., 2004). Não há tratamento específico até o momento para o envenenamento por raias e a terapêutica consiste na administração de medicamentos antiinflamatórios, analgésicos e antitérmicos, além da limpeza local e retirada dos fragmentos do ferrão. Alguns trabalhos já elucidaram componentes tóxicos e enzimáticos presentes no veneno destes animais (Barbaro e col., 2007; Magalhães, 2001; Conceição e col., 2006, 2009). Estes estudos são importantes uma vez que podem dar subsídios para o entendimento do mecanismo de ação deste veneno e, com isso, procurar alternativas para o tratamento, já que a dispersão destes animais está aumentando, principalmente no estado de São Paulo, e o risco de acidentes está se tornando cada vez maior. Serpentes peçonhentas do Brasil: Biologia, Fisiologia e Epidemiologia. Luana Valente Senise [email protected] As serpentes são os representantes da Subordem Serpentes, que juntamente com a Subordem Sáuria e Amphisbaenia, compõem a Ordem Squamata, o mais moderno e numeroso grupo dos répteis viventes. São encontradas nos mais diversos locais do globo, 45 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa ocupando praticamente todos os tipos de ambientes disponíveis, desde os terrestres, subterrâneos e arbóreos até águas continentais e oceânicas. Porém, por se tratarem de animais ectotérmicos, dependentes do calor externo para termorregulação, habitam preferencialmente as regiões temperadas e tropicais. Apesar da ausência de membros locomotores, características singulares relacionadas aos órgãos sensoriais permitiram às serpentes explorar os ecossistemas de que fazem parte. Estes animais tem o sentido da visão mais vinculado à detecção de movimentos que de formas, e a audição relacionada à sensibilidade a vibrações no substrato. Já o sentido do olfato não estaria vinculado à presença de epitélio nas fossas nasais, mas sim a um mecanismo de varredura de partículas suspensas no ar. A partir de movimentos vibratórios da língua, a extremidade bifurcada trata de encaminhar as partículas para uma estrutura quimiorreceptora revestida por epitélio sensorial, localizada na região anterior do céu de boca, o órgão de Jacobson. Já as estruturas denominadas fossetas loreais merecem atenção especial. Órgãos característicos de serpentes peçonhentas da família Viperidae, estes funcionam como sensores “infravermelhos” que detectam alterações de calor no ambiente, sendo usados na procura e captura de presas. Com relação à função venenosa, são caracterizados quatro estágios evolutivos de adaptações morfológicas, que levam em conta principalmente a dentição: Áglifa, Opistóglifa, Proteróglifa e Solenóglifa, sendo que este último se configura um aparato muito especializado para a injeção de veneno. O desenvolvimento evolutivo da dentição ocorreu possivelmente de forma simultânea ao da glândula de veneno, sendo que o estágio extremo de especialização da estrutura inoculadora, bem como da própria glândula, é observado nos membros família Viperidae. No Brasil, os acidentes ofídicos representam um grave problema de Saúde Pública. São notificados anualmente cerca de 25.000 casos em todo território nacional, sendo que 90% destes são causadas por serpentes do gênero Bothrops, 7,7% por Crotalus, 1,4% por Lachesis e 0,4% por Micrurus. A maioria dos acidentes foi registrada nas Regiões Sudeste e Sul, as mais populosas e que contam com melhor organização de serviços de saúde e sistemas de notificações dos acidentes. 46 Quantificação e Análise de Dados Quantificação e Análise de Dados A quantificação e a análise de dados são passos essenciais de qualquer programa de pesquisa quantitativa. Por “quantificação” entendemos qualquer espécie de processo que nos permita representar simbolicamente, normalmente de forma numérica, um evento natural observado. A “análise de dados” refere-se à avaliação do produto do processo de quantificação com a finalidade de se responder alguma questão ciêntifica. O presente módulo pretende abordar brevemente principios de quantificação normalmente negligenciado em pesquisas comparativas, integrando com conceitos sobre a origem da variação em sistemas biológicos. O estudo dessa variabilidade é importante não apenas do ponto de vista metodológico, uma vez que a variação pode ocultar os efeitos de interesse, mas também para a formulação de novas perguntas a respeito da fisiologia dos animais. Adicionalmente descreveremos alguns principios práticos de análise estatística, explicando o funcionamento de alguns testes clássicos. Devido ao caráter altamente experimental da fisiologia comparada a adequação de desenhos experimentais, ferramentas estatísticas e medições bem definidas é essencial para a formulação de hipóteses e o desenvolvimento de um programa de pesquisa. Quantificação de Fenômenos Fisiológicos Fábio de Andrade Machado [email protected] A quantificação é essencial para pesquisa em fisiologia comparada e pode ser desde um procedimento simples, como a contagem de estruturas morfológicas, até um processo mais complexo, como a medição de taxas metabólicas através de equipamentos especializados. Para representar uma boa quantificação, uma medida deve obedecer a quatro critérios: ser operacionalmente definível, apresentar reprodutibilidade, validade e agregação. Ser operacionalmente definível implica que dado processo de medição seja objetivamente descritível, permitindo a replicação em outros contextos ou por outros pesquisadores. Reprodutibilidade relaciona-se à precisão da medição e à capacidade do protocolo de medição de reaver o mesmo resultado. Validade representa o grau de adequação entre a medida sendo utilizada e a variável sendo quantificada. Agregação é a propriedade da medição de ser agrupada com outras de mesma classe. Este último princípio relaciona-se à possibilidade da utilização de estatística inferencial para a avaliação de hipóteses fisiológicas através da análise dos dados em testes estatísticos. 47 VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa Dentre os testes mais comuns podemos destacar testes T, análises de variância (ANOVA) e regressões. Testes T consistem em uma classe ampla de testes e podem ser utilizados para avaliar a diferença em uma medida fisiológica entre dois grupos ou avaliar a diferença entre os valores da medida de um mesmo grupo antes e depois de um tratamento. ANOVAs são outras classes de testes, úteis para avaliar a existência de diferenças entre os valores de mais de dois grupos, acomodando desenhos experimentais mais complexos. Regressões lineares são métodos afins às ANOVAs. A diferença das ANOVAS, regressões possibilitam não apenas correlacionar variáveis continuas dependentes e independentes, mas também modelar essa relação, permitindo assim a elaboração de modelos preditivos. 48 Avaliação Geral Estágios 1. Título do Projeto: Decisão em humanos e ratos Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Camile (Rodrigo, Leopoldo, Yasmin e Carolina) E – mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Neurociências e Comportamento (LABNEC) e Ciências da Cognição Sala: 200B/211 Professores responsáveis pelo laboratório: Gilberto Fernando Xavier e André Frazão Helene Resumo do projeto de pesquisa: De que maneiras é possível escolher de forma vantajosa? Como observamos o meio e selecionamos as melhores opções? O projeto de estágio consiste em desenvolver um protocolo em que seja dado a pessoas a possibilidade de escolhas. Pretende-se descobrir de que forma é feita a decisão por mudar ou permanecer em estratégias de forma a maximizar seu potencial de ganho 2. Título do Projeto: Escolha em humanos e ratos Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Rodrigo (Leopoldo, Camile e Carolina). E – mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Neurociências e Comportamento (LABNEC) e Ciências da Cognição Sala: 200B e 211 Professores responsáveis pelo laboratório: Gilberto Fernando Xavier e André Frazão Helene Resumo do projeto de pesquisa: Há diferenças entre estratégias adotadas por humanos e ratos para otimização dos ganhos em uma tarefa de escolha probabilística? O projeto de estágio pretende avaliar como as contingências ambientais contribuem diferencialmente para a definição das estratégias desses grupos animais. 3. Título do Projeto: Apostas em humanos a VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Cyrus (Rodrigo e Camile). E – mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Neurociências e Comportamento (LABNEC) e Ciências da Cognição Sala: 200B/211 Professores responsáveis pelo laboratório: Gilberto Fernando Xavier e André Frazão Helene Resumo do projeto de pesquisa: Como apostas são definidas de acordo com as informações disponíveis em competições? O projeto de estágio consiste em desenvolver um jogo em que seja dado a pessoas a possibilidade de apostas ousadas ou conservadoras. Pretende-se descrever as estratégias adotadas pelos voluntários. 4. Título do Projeto: Atenção, decisão e memória em humanos Vagas: 1 aluno Aluno orientador: - Rodrigo (Camile). E – mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Neurociências e Comportamento (LABNEC) e Ciências da Cognição Sala: 200B/211 Professores responsáveis pelo laboratório: Gilberto Fernando Xavier e André Frazão Helene Resumo do projeto de pesquisa: O objetivo do estágio é avaliar como a estrutura de treinamento pode influenciar o desempenho atencional, de escolha e de memória. Para isso, voluntários farão um teste de atenção em que serão manipuladas as contingências apresentadas, seguida de um teste de escolha e de avaliação do econhecimento dessas contigências pelos participantes. 5. Título do Projeto: Direcionamento da atenção em humanos Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Wataru (Rodrigo). E – mail: [email protected] b Avaliação Geral Laboratório: Laboratório de Neurociências e Comportamento (LABNEC) e Ciências da Cognição Sala: 200B/211 Professores responsáveis pelo laboratório: Gilberto Fernando Xavier e André Frazão Helene Resumo do projeto de pesquisa: As idéias estabelecidas sobre o estudo da atenção em um dos sistemas mais estudados (a tarefa de Posner) afirmam que os efeitos atencionais devem-se essencialmente à facilitação sensorial. O objetivo desse projeto é identificar e quantificar possíveis contribuições de componentes outros como facilitação motora e congruência entre estímulos para o efeito atencional nessa tarefa. 6. Título do Projeto: Flexibilidade de habilidades percepto-motoras em humanos Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Rodrigo Pavão E – mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Neurociências e Comportamento (LABNEC) e Ciências da Cognição Sala: 200B/211 Professores responsáveis pelo laboratório: Gilberto Fernando Xavier e André Frazão Helene Resumo do projeto de pesquisa: As habilidades percepto-motoras são tradicionalmente consideradas inflexíveis; no entanto, resultados prévios do laboratório evidenciam que o treino de uma habilidade pode favorecer ou dificultar a aquisição de uma segunda habilidade. O objetivo desse projeto é testar uma proposta de explicação para flexibilização desse conhecimento. 7. Título do Projeto: Percepção em humanos Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Felipe Viegas Rodrigues E – mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Neurociências e Comportamento (LABNEC). Sala: 200B Professor responsável pelo laboratório: Gilberto Fernando Xavier c VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa Resumo do projeto de pesquisa: Humanos parecem ser únicos em sua capacidade de gerarem mais de um percepto a partir de um único padrão de estimulação ambiental. Por outro lado, algumas estimulações já são naturalmente ambíguas ou simplesmente influenciadas pelo contexto histórico (memórias), causando ilusões na percepção de um estímulo ambiental. As diferenças perceptuais em humanos resultantes dessas estimulações, sejam visuais ou auditivas, são a proposta de investigação nessa linha de pesquisa. 8. Título do Projeto: Estudo das relações entre a fisiologia do exercício e às diferenças intra-específicas em anuros da mata Atlântica. Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Lye Otani E–mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Ecofisiologia e Fisiologia Evolutiva Sala: 222 Professor responsável pelo laboratório: Carlos Arturo Navas Ianini Resumo do projeto de pesquisa: O compromisso entre as condições naturais e a dinâmica de modificações sobre os organismos estão diretamente relacionados com os aspectos metabólicos e comportamentais e sua estreita relação com as condições ambientais. A fragmentação ambiental tem trazido sérias conseqüências para as comunidades de anfíbios em todo o mundo. Um dos principais problemas da fragmentação é a redução da população e aumento da endogamia, que pode reduzir a diversidade genética e aumentar o índice de mutações deletérias. Tendo em vista a capacidade da fragmentação ambiental em atuar diretamente sobre a capacidade de dispersão dos animais, a fisiologia do exercício pode trazer importantes dados para o entendimento da diminuição da biodiversidade em áreas fragmentadas. Dessa maneira, o presente projeto visa entender as relações entre a fisiologia do exercício vinculada às diferenças intra-específicas em anuros da mata Atlântica. 9. Título do Projeto: Estudando padrões metabólicos na ontogenia de Tenebrio molitor Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Cristiéle da Silva Ribeiro / Tatiana Kawamoto E–mail: [email protected] / [email protected] Laboratório: Laboratório de Metabolismo e Reprodução de Organismos Aquáticos / Laboratório de Ecofisiologia e Fisiologia Evolutiva d Avaliação Geral Sala: 305 Professor responsável pelo laboratório: Renata Guimarães Moreira / Carlos Arturo Navas Ianini Resumo do projeto de pesquisa: Durante a ontogênese grandes alterações são observadas nos embriões, sendo que os processos dominantes mais importantes são: crescimento, diferenciação de tecidos e/ou alterações fisiológicas, acompanhados de mudanças nas exigências nutricionais, mobilização de recursos energéticos e estruturais. Padrões de mudanças morfológicas e/ou metabólicas de animais em geral são estudados pelos mais distintos profissionais da ciência básica e aplicada. Do ponto de vista de ciência básica, a compreensão do processo de transformação da energia de um estágio ontogenético para outro pode nos ajudar a entender padrões de ciclo de vida e ecológicos. Pelo aspecto aplicado, entender como a energia é usada em cada estágio ontogenético pode sugerir estratégias de melhoria de criação ou de controle de praga. O Tenebrio molitor ou “besouro da farinha” é um organismo de grande importância, já que é consumido na alimentação humana, usado na alimentação de animais de estimação e é praga de cereais armazenados. Dentro deste contexto visa-se neste estágio estudar padrões de utilização de substratos energéticos (proteínas e lipídeos) durante o ciclo de vida de Tenebrio molitor. 10. Título do projeto: Metabolismo lipídico e de ácidos graxos em peixes teleósteos Vagas: 2 alunos Aluno orientador: Vanessa Ap.Rocha Oliveira Vieira E-mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Metabolismo e Reprodução de Organismos Aquáticos Sala: 220 Professor responsável pelo laboratório: Renata Guimarães Moreira Resumo dos projetos de pesquisa: A Toxicologia Aquática tem sido definida como o estudo dos efeitos adversos de agentes químicos e de outros produtos de natureza alheia ao ambiente sobre os organismos aquáticos. Tais estudos podem ser conduzidos através de bioensaios que se resumem em testes de toxicidade aguda e crônica, estabelecidos de acordo com os diversos objetivos que se procuram alcançar nestas avaliações. Os bioensaios de Toxicologia Aquática figuram como importante ferramenta para avaliação da sensibilidade de organismos aquáticos a poluentes e representam a base dos estudos científicos nesta complexa área. Diante disto será oferecido estágio no qual os alunos aprenderão as técnicas utilizadas para e VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa determinação de lipídios e ácidos graxos como marcadores biológicos de toxicidade por metais em peixes. 11. Título do Projeto: Transporte de Metais Essenciais em Organismos Aquáticos Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Marina Granado e Sá E-mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Fisiologia de Crustáceos Local: Universidade Presbiteriana Mackenzie Professor responsável pelo laboratório: Flavia Pinheiro Zanotto Resumo do projeto de pesquisa: O estágio oferecido será referente ao transporte de cálcio em células branquiais e fígado de peixes e/ou crustáceos, bem como a dosagem de íons cálcio livre, uma vez que os animais serão mantidos em condições experimentais em meio rico de alumínio, que é um metal divalente que compete diretamente com o cálcio intracelular dos tecidos epiteliais desses animais. O estágio tem como proposta um estudo que vinculará tanto estudos de toxicologia quanto de fisiologia comparativa. 12. Título do Projeto: Alterações endócrinas em teleósteos resultantes da exposição a metais Vagas: 3 alunos Aluno orientador: Tiago Gabriel Correia E-mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Metabolismo e Reprodução de Organismos Aquáticos Sala: 220 Professor responsável pelo laboratório: Renata Guimarães Moreira Resumo do projeto de pesquisa: Animais expostos a concentrações subletais de poluentes podem apresentar alterações hormonais; quando tais efeitos são observados, caracteriza-se um quadro de desregulação endócrina. A proposta de estágio visa oferecer ao aluno uma visão geral de experimentos na área de ecotoxicologia aquática com uma abordagem experimental química (condução de bioensaios e análises analíticas) e fisiológica, por meio da quantificação plasmática de hormônios esteróides em kits de enzimaimunoensaio (ELISA). f Avaliação Geral Os alunos irão conduzir um bioensaio agudo (48 horas) consistindo da exposição de teleósteos a concentrações subletais de metais. Neste período irão realizar o monitoramento das condições físico químicas da água (pH, temperatura, oxigênio e concentração metálica) e posteriormente quantificar os hormônios em kits (ELISA). Cada aluno irá realizar a análise de um hormônio esteróide diferente. Os hormônios analisados serão o Estradiol, 17 – α – hidroxiprogesterona e Cortisol. A análise hormonal contará com a colaboração da bióloga Msc. Juliane Suzuki 13. Título do Projeto: Análise das interações entre sistemas de neurotransmissão. Vagas: 2 alunos Aluno orientador: Maísa Aparecida Costa E – mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Neurotransmissão e Regulação da Pressão Arterial Sala: 217 Professor responsável pelo laboratório: Dra Débora Rejane Fior Chadi Resumo do projeto de pesquisa: A descoberta da diversidade de neurotransmissores, da liberação de diversos neurotransmissores por um mesmo neurônio e a grande variedade de subtipos de receptores, trouxe enorme contribuição para a elucidação do funcionamento do sistema nervoso e as possibilidades de manipulação deste em caso de doenças. Recentemente, descobriu-se que, além de um sistema de neurotransmissores ter sua ação específica, ele pode ser modulado ou modular outros sistemas. Esta interação entre sistemas de neurotransmissão tem sido considerada como um alvo importante para o desenvolvimento de medicamentos. Sabendo-se disso, nosso laboratório vem, há algum tempo, estudando a interação entre diferentes sistemas de neurotransmissão, tais como os sistemas glutamatérgico, noradrenérgico e purinérgico e sua influência sobre os processos de regulação cardiovascular e sobre o desenvolvimento da hipertensão. 14. Título do Projeto: Cronofarmacologia e Neurotransmissão purinérgica na glândula pineal Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Camila Lopes Petrilli E – mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Cronofarmacologia Sala: 328 g VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa Professor responsável pelo laboratório: Zulma Silva Ferreira Resumo do projeto de pesquisa: O tema central de nossa pesquisa é a melatonina, hormônio que marca o escuro cuja principal ação é sincronizar diferentes funções do organismo. A inter-relação adrenal-pineal, de extrema importância para a temporização dos processos biológicos, esta agora sendo conhecida. Nossos estudos indicam que a adrenal, em animais inflamados, é importante para a manutenção da produção rítmica de melatonina pela pineal. Analisamos o controle da produção de melatonina em condições normais e patológicas, alem de sua atuação. Outra Linha de Pesquisa envolve o estudo da neurotransmissão purinérgica na resposta da pineal a agentes agressores. Na pineal de ratos o ATP, co-liberado com noradrenalina, liga-se a receptores P2Y1 potenciando a produção do precursor N-acetilserotonina e da melatonina induzida por ativação de adrenoceptores beta1. Mais recentemente foi mostrado que a ativação de receptores purinérgicos do tipo P2X ou P2Y participam da resposta inflamatória e o entendimento de seu efeito é de alta relevância para permitir a utilização destas informações na prática médica. Esta linha de pesquisa busca, portanto, estender o conhecimento sobre o papel da pineal no processo inflamatório inserindo a neurotransmissão purinérgica neste contexto. 15. Título do Projeto: Eixo Imune-Pineal: Melatonina noturna condiciona células endoteliais em cultura Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Marina Marçola E - mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Cronofarmacologia Sala: 323 e 328 Professor responsável pelo laboratório: Regina P. Marcus Resumo do projeto de pesquisa: Proposta de estágio: As células endoteliais, por constituírem a camada interna dos vasos sanguíneos, são alvos privilegiados de substâncias circulantes, dentre estas a melatonina, um hormônio produzido pela glândula pineal durante a fase escura. Estudos preliminares apontam a melatonina como moduladora da reatividade dessas células. Durante essa semana de estágio iremos avaliar as células endoteliais como alvo dos efeitos da melatonina in vivo e in vitro. h Avaliação Geral 16. Título do Projeto: Vias de sinalização de mediadores inflamatórios em glândulas pineais de rato Vagas: 1 aluno Aluno orientador: Cláudia Emanuele Carvalho de Sousa e Sandra Márcia Muxel E – mail: [email protected] Laboratório: Laboratório de Cronofarmacologia Sala: 323 Professor responsável pelo laboratório: Regina P. Marcus Resumo do projeto de pesquisa: A glândula pineal é um órgão neuroendócrino que secreta melatonina na fase escura sob controle do relógio biológico central. Por isso a melatonina é considerada o hormônio marcador do escuro. Muitos trabalhos atualmente apontam a melatonina como um importante modulador no sistema imune. Por outro lado, nosso laboratório também vem mostrando que além de responder à variação luminosa ambiental a pineal é modulada por mediadores inflamatórios. O objetivo do estágio será avaliar como um desses fatores controla a função pineal in vitro, em cultura celular e cultura tecidual de glândulas pineais de ratos Wistar. i