Maria de Fátima Almeida Baia Livia Oushiro Ivanete Belém do Nascimento (organizadoras) Anais do XII e XIII Encontros dos Alunos de Pós-Graduação em Linguı́stica da USP Anais dos XII e XIII Encontros dos Alunos de Pós-Graduação em Linguı́stica da USP. São Paulo: Paulistana, 2012, p. 163–173. Verbos Intransitivos Alternantes em Karitiana à Luz da Teoria de Estrutura Argumental de Hale & Keyser (2002) Ivan Rocha∗ Resumo Este trabalho é uma análise formal fundamentada na proposta teórica de Hale & Keyser (2002) para verbos intransitivos em Karitiana. Tem-se como meta fazer uma descrição morfossintática dos verbos intransitivos alternantes, orientada por uma teoria formal de estrutura argumental. Pretende-se mostrar que todos os verbos intransitivos nesta lı́ngua apresentam uma estrutura alternante que realiza a alternância causativo-incoativa, de modo que não há distinção entre verbos do tipo inergativo e inacusativo em Karitiana. Essses verbos intransitivos causativizam-se com o auxı́lio de um morfema causativo {m-} que permite a adição de um argumento externo à estrutura, aumentando-lhes a valência verbal. Palavras-chave: Karitiana; Estrutura Argumental; Alternância Verbal. Introdução A meta deste trabalho é mostrar que todos os verbos intransitivos em Karitiana (lı́ngua do grupo Tupi, famı́lia Arikem, falada em Rondônia por aproximadamente 400 falantes) são alternantes. Essa é uma lı́ngua na qual todos os verbos intransitivos têm o mesmo comportamento sintático, de modo que verbos como otam ‘chegar’ e terektek ‘dançar’ têm a mesma estrutura. Assim, a lı́ngua não faz distinção sintática entre verbos do tipo inacusativo e inergativo, que na literatura especializada é conhecida como a distinção inacusativo-inergativa. Esse é o fato que delineia a pergunta central do artigo ∗ Departamento de Linguı́stica da Universidade de São Paulo (DL/USP). Este trabalho faz parte da pesquisa de mestrado orientada pela Professora Dra. Luciana Storto, financiada pelo CNPq (Proc. No 134949/2009-9). E-mail: [email protected]. 164 Ivan Rocha e também o que justifica usar a proposta teórica de estrutura argumental de Hale & Keyser (2002) para responder a essa pergunta. Contudo, ressalta-se que foram descritos por Rocha (2011a) dois tipos de verbos intransitivos alternantes: (i) os intransitivos alternantes ‘simples’, por exemplo, otam ‘chegar’, ke’on ‘esfriar’, tarak ‘andar’ etc.; e (ii) os verbos intransitivos que projetam um objeto oblı́quo opcional com sujeito experienciador, por exemplo, so’oot ‘ver’, hõroj̃ ‘mentir’, sondyp ‘saber’ e pyting ‘querer’, entre outros. Esses verbos intransitivos com objeto oblı́quo são analisados como sintaticamente intransitivos, mas semanticamente transitivos; e, por tratar-se de uma subclasse especial de verbos intransitivos alternantes em Karitiana, será discutida em outro trabalho (cf. Rocha 2011b). Portanto, ater-se-á apenas à primeira subclasse de intransitivo. Pressuposto teórico Assume-se a proposta teórica de Hale & Keyser (2002), na qual são propostos quatro tipos de projeções lexicais para as lı́nguas naturais. Dentre essas quatro estruturas, apresentar-se-á a estrutura de projeção lexical diádica composta (composite dyadic). A relação estrutural estabelecida nesta estrutura é de um núcleo que projeta um especificador e um complemento, formando uma estrutura complexa na qual o especificador do núcleo verbalizador V2 é projetado por exigência semântica do complemento R. Verbos com este tipo de estrutura são formados a partir de raı́zes predicativas: (1) O dia clareou. (2) O Sol clareou o dia. (3) O pote quebrou. (4) Pedro quebrou o pote. 165 Verbos Intransitivos Alternantes em Karitiana (4) (a) V2 V2 DP o dia (b) V2 clarear V1 V1 clarear clarear V2 DP o dia V2 V2 R clarear A estrutura exposta em (4a) descreve a contraparte intransitiva (1). Uma raiz R predicativa, que projeta um especificador (DP de V2 ) interno à estrutura, funde-se ao núcleo V2 , formando o verbo do tipo clarear intrans . A estrutura (4b) descreve o processo de formação da contraparte transitiva de clarear. Nesta última, o verbo clarear trans em V2 funde-se com V1, núcleo mais alto na estrutura. O elemento presente no DP especificador de V2 faz a função sintática de sujeito quando se trata de uma estrutura intransitiva, mas passa a funcionar como objeto na versão transitiva. Ressalta-se que o par (3) e (4) apresenta o mesmo processo visto no par (1) e (2). A operação sintática de fusão de núcleos e complementos em c-comando mútuo é chamada de operação de conflation por Hale & Keyser (2002). Conflation é um processo proposto por Hale & Keyser, semelhante ao processo de incorporação de Baker (1988). O núcleo no qual o complemento funde-se deve ser vazio ou fonologicamente defectivo (afixal). O processo é utilizado tanto para derivação de um verbo a partir de uma raiz (R) como para o processo de aumento de valência verbal.1 Esclarece-se que conflation não é movimento e, portanto, não deixa vestı́gio (trace). Nesta proposta teórica, o argumento externo (Agente ou Causa) está fora da estrutura argumental, e é adicionado ao verbo na sintaxe via adjunção ao VP para cumprir um requerimento sintático. Este posicionamento teórico é adotado por vários autores formalistas, tais como Chomsky (1995), Kratzer (1996) e Pylkkänen (1999), que apresentam uma visão compátivel com a de Hale & Keyser (2002). Conforme a proposta teórica utilizada, um verbo é formado a partir de uma raiz R e de um ou mais núcleos verbais (V1 e V2). A raiz carrega 1 Não serão discutidos os processos de derivação e de aumento de valência verbal no presente trabalho. 166 Ivan Rocha os traços semânticos e fonológicos do verbo. As propriedades de uma raiz associadas às propriedades dos núcleos verbais vão projetar as estruturas de um verbo. São essas propriedades que irão determinar se um verbo realizará alternância de transitividade ou não. Esses núcleos verbais e as estruturas nas quais eles ocorrem estão diretamente relacionados à valência dos verbos e ao seu comportamento sintático (cf. Hale & Keyser, 2002). Alternância verbal em Karitiana Os verbos intransitivos, em Karitiana, concordam com o sujeito (marca de concordância absolutiva) e sempre permitem a alternância do tipo causativoincoativo. As evidências morfossintáticas para definir se um verbo é transitivo nesta lı́ngua, além da marca de concordância absolutiva, são a causativização (um tipo de transitivização) de verbos intransitivos; a agramaticalidade de sua ocorrência com o morfema de passiva {a-}; e sua ocorrência no núcleo do complemento da cópula (Rocha 2011a). A causativização via morfema {m-}, identificado por Landin (1984) e descrito por Storto (2001), é utilizada para transitivizar verbos intransitivos, permitindo a adição do argumento externo à sentença via adjunção sintática, aumentando a valência verbal dos verbos alternantes (cf. Rocha 2011a). A construção de cópula em Karitiana é apontada por Storto (2002), e depois confirmada por Rocha (2011a), como uma das evidências para classificar vebos na lı́ngua. Storto assume que as sentenças copulares são bioracionais em Karitiana, já que o verbo cópula seleciona um complemento oracional na forma de uma minioração (Small Clause), tendo como núcleo um nome (N), um adjetivo (A) nominalizado ou um verbo sintaticamente intransitivo também nominalizado (cf. Storto 2008, 2010). Dados para análise Verbo intransitivo otam ‘chegar’ no modo assertivo (VS): (5) 2 a. Ø-pyry-otam-<y>n João 3-DECL-chegar-NFUT João ‘João chegou’2 Glosas: ASSERT: modo assertivo; CAUS: morfema causativo; PASV: morfema de passiva; NFUT: Verbos Intransitivos Alternantes em Karitiana 167 Verbo intransitivo otam com morfema de passiva {a-} no modo assertivo (VS): (6) a. *pyraotamyn João Ø-pyr-a-otam-<y>n João 3-asser-PASV-chegar-NFUT João Verbo intransitivo otam sendo transitivizado via {m-} no modo assertivo (VOS): (7) a. Ø-pyry-m<b>-otam-<y>n João yn 3-ASSERT-CAUS-chegar-NFUT João eu ‘Eu fiz João chegar’ Verbo intransitivo otam sendo passivizado via {a-} no modo assertivo: (8) a. Ø-pyry-a-m<b>-otam-<y>n João 3-ASSERT-PASV-CAUS-chegar-NFUT João ‘Fizeram o João chegar’ No paradigma verbal acima (5)–(7) para o verbo otam ‘chegar’, foi apresentado como um verbo intransitivo do tipo ‘inacusativo’ alternante. O verbo otam alterna via morfema {m-}, tal como pode ser visto ao comparar o par (5) e (7). Nota-se que, em (7), foi adicionado o argumento externo (Causa) ao verbo intransitivo em (5). A um verbo intransitivo, não é possı́vel aplicar uma passivização {a-}, pois ao fazê-lo a construção fica agramatical, conforme apresentado em (6). No entanto, é possı́vel aplicar o morfema {a-} a um verbo do tipo otam, como em (8), após ter sido causativizado como em (7). Verbo intransitivo terekterek ‘dançar’ no modo assertivo (VS): (9) a. Ø-py-terekterek-a-n taso 3-ASSERT-dançar-VT-NFUT homem ‘O homem dançou’ Verbo intransitivo com morfema de passiva {a-} no modo assertivo: (10) a. *pyraterekteregngan taso Ø-pyr-a-terekterek-a-n taso 3-ASSERT-dançar-VT-NFUT homem marca de tempo não-futuro; 1,2,3: marcas de concordância, primeira, segunda e terceira pessoa, respectivamente; VT: vogal temática; V: verbo; S: sujeito; O: objeto. 168 Ivan Rocha Verbo intransitivo sendo transitivizado via {m-} no modo assertivo (VOS): (11) a. y-py-m-terekterek-a-n yn taso 1-ASSERT-CAUS-dançar-VT-NFUT eu homem ‘O homem me fez dançar’ / contexto: ‘o homem me dançou’ Verbo intransitivo transitivizado via {m-} no modo assertivo (VOS): (12) a. y-py-m-terekterek-a-n hyryj̃ hãraj̃ 1-ASSERT-CAUS-dançar-VT-NFUT música boa ‘A boa música me fez dançar’ A lı́ngua Karitiana não apresenta a distinção inacusativo-inergativa; nesse caso, todos os verbos intransitivos têm o mesmo comportamento sintático. Assim, todos os intransitivos nesta lı́ngua comportam-se, sintaticamente, como os verbos inacusativos alternantes. O verbo terekterek ‘dançar’, assim como o verbo tarak ‘andar’, kĩkin ‘gritar’ - que são verbos descritos na literatura formal como inergativos -, têm o mesmo comportamento que os verbos otam ‘chegar’, oky ‘morrer’, ke’on ‘esfriar’, kerep ‘crescer’ - que são verbos tipicamente inacusativos. Ao comparar o exemplo (9) com os exemplos (11) e (12), verificar-se-á que eles se comportam como um verbo do tipo otam em (5). Adicionou-se um Agente (11) ou Causa (12) ao verbo por meio do morfema causativo {m-}. A seguir, estão listados em uma tabela os verbos intransitivos com o mesmo comportamento dos verbosotam e terekterek, cujos paradigmas foram apresentados acima, todos esses verbos apresentam um comportamento sintático dos inacusativos do tipo alternante: Número 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. Raiz intransitiva ´a ´edn ´ywyn ahy aky amy andyj angat anin boryt botit tradução/significado da raiz ‘fazer’ ‘engravidar’ ‘desaparecer’ ‘beber’ ‘estourar’ ‘vestir’ ‘sorrir’ ‘levantar (-se)’ ‘acender’ ‘sair’ ‘abandonar’ Verbos Intransitivos Alternantes em Karitiana 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. by´a eng geryt haadn haap hadn okoki hej heren hibmin hip hop hy´yt hydnyn sara´it hyrygnim hỹryj̃ hyryp hyt hywa indo jẽ´yn jygng kaj karan ke´on kerep kĩkin kirigng kyrysir kyyt moj̃ mojt̃yj̃ nam neng non nyryj̃ õgon ohit oky ongowot opi´owop opipydn osoposiik otidn ‘fazer’ ‘vomitar’ ‘sangrar’ ‘falar’ ‘amanhecer’ ‘emudecer’ ‘ir embora’, ‘deixar’, ‘abandonar’ ‘aparecer’ ‘assar’ ‘cozinhar comida em geral’ ‘quebrar (1 objeto - em vários pedaços)’ ‘envelhecer’ ‘cheirar mal’ ‘engasgar’ ‘cantar’ ‘chorar’ ‘cheirar bem’ ‘brilhar’ ‘ficar pronto’, ‘aprontar’ ‘roncar’ ‘ficar’ ‘sonhar’ ‘virar’ ‘esfriar (-se)’ ‘crescer’ ‘gritar’ ‘assustar’ ‘amarelar’ ‘derramar’ ‘anoitecer’ ‘entardecer’ ‘feder’ ‘deitar (-se)’ ‘contorcer’, ‘entortar’, ‘ficar torto’ ‘acordar (-se)’ ‘engrossar’ ‘pescar’ ‘morrer’, ‘apagar’ ‘entristecer’ ‘ensurdecer’ ‘ter fome’ ‘pentear cabelo’ ‘doer’ 169 170 Ivan Rocha 55. otidn ‘arder’ 56. owi ‘morrer (plural)’ 57. pa´it ‘brigar’ 58. pakõrong ‘endurecer’, ‘criar crosta’ 59. pakybm ‘suar’ 60. pikowogng ‘deslizar’ 61. pipogon(a) ‘clarear’ 62. pipop ‘queimar (lenha, etc.)’ 63. pok ‘secar’ 64. pom ‘beijar’ 65. pon ‘atirar’, ‘caçar’ 66. poom ‘brincar’ 67. pop ‘apagar (fogo)’, ‘morrer’ 68. pot ‘quebrar (objeto em 2 pedaços)’ 69. potpot ‘ferver’ 70. py´ej ‘estudar’, ‘ler’, ‘escrever’ 71. py´ỹwyt ‘desmaiar’ 72. pyhĩriwa ‘apontar’, ‘mirar’ 73. pyke ‘buscar’ 74. pyki ‘buscar (variante de {pyke})’ 75. pymyn ‘ficar ocupado’ 76. pyndak ‘pilar (milho)’ 77. pyt´y ‘comer’ 78. pyyk ‘acabar’ 79. sara´it ‘cansar’ 80. se´ak ‘ter sede’ 81. se´y ‘beber’ 82. sembok ‘molhar’ 83. signg ‘vencer’ 84. siik ‘pentear’, ‘alisar’ 85. sikirip ‘enlouquecer’ 86. so ‘ficar’ 87. som ‘avermelhar’ / ‘amadurecer’ 88. syk ‘azedar’ 89. syypowop ‘cegar’ 90. taktagng ‘nadar’ 91. tam ‘voar’ 92. tarak ‘andar’ 93. tat ‘ir’, ‘ir embora’ 94. tepyk ‘mergulhar’ 95. terekteregng ‘dançar’ 96. timtim(a) ‘tossir’ 97. yryt ‘chegar’, ‘vir’, ‘trazer’ 98. yt ‘nascer (pessoas e animais-animados)’ (Tabela adaptada de Rocha 2011a) 171 Verbos Intransitivos Alternantes em Karitiana Análise formal dos dados Os verbos da lı́ngua Karitiana apresentados podem ser descritos pela estrutura diádica composta, dentro da proposta teórica de Hale & Keyser (2002). Consideram-se as sentenças em Karitiana já representadas em (5) e (7), e repetidas abaixo, renumeradas para análise como (13) e (14), respectivamente: (13) pyryotamyn João (14) pyrymbotamyn João yn (15) (a) V2 NP João (b) V2 V2 V1 V1 R otam otam m-otam V2 NP João V2 V2 R otam A estrutura diádica composta (15a) descreve verbos do tipo em (13). O verbo otam é derivado a partir de uma raiz do tipo Rotam , que, por ser uma raiz predicativa, projeta um especificador (interno) no Spec de V2 por exigência semântica. A versão intransitiva (15a) é formada por uma operação de conflation, onde o complemento R funde-se ao núcleo V2 , gerando a versão intransitiva no núcleo mais baixo. A contraparte transitiva origina-se por uma segunda operação de conflation de V2 com o núcleo mais alto (V1 ); nesse caso, em Karitiana, existe uma marca morfológica na versão transitiva, a saber, o morfema causativo {m-} que permite a adição do argumento externo. Núcleos como aqueles de modo, aspecto, tempo são adicionados pela operação sintática de movimento, portanto, não-visı́veis no módulo da estrutura argumental. O argumento externo Agente ou Causa também não é visı́vel nete módulo. Assim sendo, não há necessidade de representá-los em estrutura argumental. Conforme exposto, o verbo terekterek apresenta também a estrutura diádica composta exemplificada abaixo: 172 Ivan Rocha (16) pyterekteregngan taso (17) ypymterekteregngan (yn) taso (18) (a) (b) V2 NP taso V2 V1 V1 V2 R terekterek terekterek m-terekterek V2 NP (yn) V2 V2 R terekterek Nos casos apresentados acima, nota-se que o elemento sintático em Karitiana na posição de especificador interno (Spec de V2 ) é o sujeito da contraparte intransitiva e o objeto da versão transitiva, conforme previsto na proposta teórica de Hale & Keyser (2002). Os traços semânticos e fonológicos das raı́zes Rotam e Rterekterek são inseridos nos núcleos verbais com a operação de conflation. As propriedades dessas raı́zes associadas às propriedades dos núcleos verbais projetam as estruturas nas quais elas ocorrem, formando verbos alternantes do tipo descrito neste trabalho. Considerações finais Apresentou-se o fenômeno a ser estudado neste trabalho. Em seguida, a proposta teórica que foi utilizada para analisar os verbos alternantes em Karitiana foi exposta com seus instrumentais teóricos. Uma análise descritiva dos verbos alternantes em Karitiana foi apresentada com base em evidências morfossintáticas na lı́ngua. Neste ı́nterim, mostrou-se que os dados descritos na lı́ngua corroboram a proposta teórica adotada, ao mesmo tempo em que esta proposta torna-se uma ferramenta teórica de suma utilidade na descrição dos verbos em Karitiana e nas lı́nguas indı́genas em geral. Por fim, foi demonstrado que os verbos intransitivos têm o mesmo comportamento sintático, já que todos participam do mesmo processo de alternância. Além disso, a teoria adotada dá conta do fato descrito neste artigo, conforme Verbos Intransitivos Alternantes em Karitiana 173 análise na parte 5. Abstract This paper aims at discussing verbal alternation in Karitiana (a Tupi language) based on Hale and Keyser’s (2002) theoretical proposal for intransitive verbs. Its goal is to offer a morphosyntactic description of alternating intransitive verbs, guided by a formal theory of argument structure. All intransitive verbs in this language have the alternating structure that performs the causative-inchoative alternation. These intransitive verbs can be causative by adding a causative morpheme {m-}, which allows the addition of an external argument to the structure, increasing the verbal valence. Keywords: Karitiana; Argument Structure; Verbal Alternation. Referências Baker, M. Incorporation: A theory of grammatical function changing. Chicago: University of Chicago Press, 1988. Chomsky, N. The Minimalist Program. 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