O que é sociologia? 1) contexto O livro do Carlos Benedito Martins cuja primeira edição data de 1982, tem por objetivo traçar o processo de formação e desenvolvimento da sociologia. Por fazer parte de uma coleção que se pretende ser o primeiro contato mais aprofundado com diversas temáticas sociais, há uma notória preocupação em passar o conhecimento de forma bem didática. Martins é um sociólogo brasileiro formado pela PUC –SP onde exerceu por vários anos atividade docente. O seu viés teórico marxista pode ser percebido tanto no desenvolvimento do argumento do livro quanto na análise de suas principais produções intelectuais (sobre a expansão do ensino privado). Certamente o longo período que decorre desde a constituição do livro aos dias de hoje (30 anos) nos possibilita identificar suas principais críticas à “sociologia contemporânea” como críticas a processos vivenciados em seu tempo. 2) Argumento Dois argumentos centrais podem ser identificados em seu livro. Estes argumentos, na realidade, se interconectam: O primeiro argumento apresentado pelo autor é a concepção de que a sociologia é fruto de uma transformação de grandes proporções na história da humanidade vivenciada a partir do século XVIII: a formação da sociedade capitalista. Para ele a necessidade de criação de uma ciência da sociedade só é possível a partir do momento em que se percebe uma forte reconfiguração da estrutura social na Europa ocidental que modifica toda a dinâmica social (de pequenas cidades predominantemente camponesas para as grandes metrópoles industriais, a substituição do trabalho artesanal pela produção em grandes escalas, transformação das relações de trabalho, etc.). Assim, a revolução industrial e a francesa constituíam duas etapas de um mesmo processo: a instalação definitiva da sociedade capitalista. Outro argumento que na reforça o primeiro e que será retomado no final da obra, é o caráter contraditório da sociologia que, sempre em diálogo com a realidade vivenciada em determinado momento histórico, hora identifica-se como estando a serviço do interesse das classes dominantes e a favor do processo de ordenamento do social, hora identifica-se contra as desigualdades e injustiças sociais e assume um papel de transformação da realidade social. Independente disto, para o auto desde o surgimento sua pretensão é de não apenas analisar a sociedade, mas também influenciá-la. 3) Partes mais importantes O livro está metodologicamente dividido em 4 partes (introdução, surgimento, formação e desenvolvimento da sociologia). Já na introdução o autor aponta o aspecto contraditório da sociologia e defende a perspectiva de que seu surgimento é resultado da tentativa de compreensão de situações sociais radicalmente novas criadas pelo nascimento do capitalismo e que a mesma surge por “um forte desejo de interferir no rumo desta civilização”. O primeiro capítulo aborda como as transformações sociais vivenciadas e o nascimento do proletariado, suas condições precárias de trabalho e a crescente tensão entre essa nova classe e a classe burguesa. A sociologia surge como uma resposta intelectual às transformações da revolução industrial. Os precursores da sociologia foram recrutados entre militantes políticos e indivíduos profundamente envolvidos tais questões. Os primeiros estudiosos desta ciência poderiam analisar questões distintas, mas para todos, as transformações sociais eram o motor da análise. As transformações em curso influenciaram profundas modificações na ciência e na percepção do mundo. Tem-se em curso o processo de “racionalização” do pensamento (baseada na experimentação empírica) que passa a ocupar o lugar antes ocupado pelo mundo místico/religioso (o mundo passa a ser percebido como produto da atividade humana). O autor traz então a visão dos autores do período entusiastas das transformações (iluministas) e que aqueles que defendiam a necessidade de manutenção da ordem social). O segundo capítulo trata da formação da sociologia. Aqui o autor destaca que a falta de um entendimento comum entre seus estudiosos é fruto da existência de interesses de classes distintos. Seu caráter antagônico deu margem ao nascimento de diferentes tradições sociológicas e apresenta, então seus principais pesadores, suas perspectivas e métodos de análise do social: Saint-Simon, Comte, Durkheim, Marx e Weber. O terceiro capítulo trata do desenvolvimento do socialismo. Neste capítulo o autor aponta para um processo de profissionalização, positivação e instrumentalização da sociologia a serviço de interesses burgueses e, consequentemente, do afastamento da sociologia das teorias socialistas. O autor também ressalta que a transferência de poder político internacional para os EUA estimulou o processo de apoio institucional e financeiro dos estudos sociológicos. A sociologia a partir de 1950, segundo Martins, seria instrumentalizada e envolvida na luta pela contensão do socialismo e como base para a formação do Estado de bem-estar social. Outro aspecto que o autor ressalta é o processo de elaboração de pesquisas de campo efetuadas desconstituídas de uma visão histórica. Para o autor, todos estes aspectos ajudaram a constituir a sociologia como uma ciência conservadora que institucionalizou a sociologia como uma profissão e o sociólogo como um técnico do Estado e das empresas. Ressalta contudo, a existência de vários sociólogos que vêm tendo uma postura crítica tanto nos países centrais como periféricos em relação a este tipo de sociologia. Novas gerações de cientistas sociais que críticos da dominação burguesa do imperialismo (Korsh, Lukács, escola de Frankfurt, Gramsci, Bourdieu, etc.). Para o autor, é “fundamental que o sociólogo quebre o seu isolamento e passe a interagir com os grupos, as classes e as organizações que procuram recriar a sociedade”. A função do sociólogo de nossos dias seria, para o autor, “liberar sua ciência do aprisionamento que o poder burguês lhe impôs e transformar a sociologia em um instrumento de transformação social. 4) Principais conceitos Iluministas, conservadores, socialistas (socialismo utópico e marxismo) Saint-Simon: ciência da sociedade, Comte: física social, leis imutáveis, positivismo, ordem e progresso. Durkheim: fragilidade moral; divisão do trabalho e solidariedade; doença social, anomia e suicídio; fatos sociais, exterioridade e coerção; análise dos fenômenos naturais numa perspectiva positivista; Marx: classes sociais e luta de classes; transformação social, conhecimento da realidade e agentes históricos; materialismo histórico-dialético; dominação econômica e política; ideologia dominante e alienação. Weber: conhecimento científico, ciência e paixões; neutralidade científica; burocracia e Estado; ação individual; capitalismo, ética protestante e organização racional. 5) Empiria e história Revolução Industrial, Revolução burguesa, Transformações históricas, etc. 6) Questões para debate O livro tem uma diferença de 30 anos entre sua primeira edição e hoje. Atualmente, como tem sido o desenvolvimento da sociologia? Será que o verdadeiro objeto da sociologia é necessariamente o de identificar as distinções de classe e lutar para sua transformação como propõe o autor? A sociologia deve ser uma ciência de intervenção e análise da sociedade ou deve ser uma ciência neutra?