junho de 2013 | ano 1 | nº 2 | www.sbn.com.br hoje online Segunda Opinião opõe planos de saúde e médicos Artigo | A arte da superação Participação | XVI Congresso de Atualização terá sessões interativas Entrevista | Neurocirurgião fala do prazer de ter uma banda de rock Índice desta edição: • Ligas Acadêmicas adotam o Projeto Pense Bem – pg 5 • A importância do Registro de Trauma para o país – pg 6 • As novidades do XVI Congresso de Neurocirurgia – pg 8 • Quando a dor se transforma em arte e desafio - pgs 14 e 15 • Médico e músico: a receita de um jovem neurocirurgião – pgs 16 e 17 Expediente Presidente: Sebastião Gusmão Vice-presidente: Jair Raso Secretário geral: Aluízio Augusto Arantes Junior Tesoureira: Marise Augusto Fernandes Audi 1º Secretário: Carlos Batista Alves de Souza Filho Secretária executiva interina: Marise Augusto Fernandes Audi Secretaria Geral: Rua dos Otoni, 909 - Sala 408 CEP: 30150-270 - Belo Horizonte/MG mapa - Tel.: (31) 3658-3235 Email: [email protected] Secretaria Permanente: Rua Abílio Soares, 233 - cj. 143 Paraíso - CEP 04005-001 - São Paulo/SP - Tel.: (11) 3051-6075 Email: [email protected] Reportagem, Redação e Edição: VFazitto Comunicação e Consultoria Ltda. Jornalista responsável: Vilma Fazito 1988/MT JP Reportagem e Edição: Marina Rodrigues 1900/MT JP Site: www.vfazitto.com.br SBN Hoje | 2 | MENSAGEM DO PRESIDENTE A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente. Soren Kierkergaard (1813 – 1855) Já se vai quase metade do caminho de nossa travessia à frente da SBN. E aqui olhamos rapidamente para trás na avaliação do caminho percorrido. Temos por princípio que administrar é fazer o que está imediatamente à nossa frente para ser feito. E o que vimos primeiramente à nossa frente para ser feito foi o site. Esta é a ferramenta fundamental que permite administrar a SBN, congregar os neurocirurgiões, realizar educação e atualização, e possibilita nossa inserção social. Ou seja, o site SBN é a verdadeira casa do neurocirurgião brasileiro. A partir de uma plataforma arcaica e confusa, foi realizado um site mais funcional e amigável, que está sendo nutrido com conteúdo útil aos neurocirurgiões e residentes. Inclusive, na homepage encontra-se a prestação de contas da atual gestão. Em relação à educação, realizamos as provas de residência e de título de especialista, foi colocado no site farto material didático para formação e atualização dos membros, realizado sete cursos de anatomia neurocirúrgica em parceria com a Beneficência Portuguesa e um curso de acessos neurocirúrgicos em peças anatômicas, em Dallas. Foram renovados os contratos com o periódicos disponibilizados nos site. Tudo já está preparado para o Congresso de Educação Continuada e a prova de título de especialista que ocorrerão em setembro próximo, em Belo Horizonte. Estamos desenvolvendo o projeto de editar um compêndio de neurocirurgia escrito pelos membros da SBN. Nosso periódico (Brazilian Neurosurgery – Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia) e nosso boletim online SBN Hoje estão sendo editados regularmente. Ainda no item educação, estamos levando à frente o processo de parceria SBN-MEC para residência em neurocirurgia. A cada dia nossa relação com o MEC torna-se mais estreita e ocorre contínua melhoria no sistema de residência e valorização do título de especialista. O resultado final é a melhoria da formação dos residentes e o fortalecimento da SBN. No exercício profissional temos duas frentes de combate no processo contínuo de conquistar melhores condições de trabalho e remuneração: o SUS e a medicina suplementar (convênios). Reabrimos, no Ministério da Saúde, a Câmara Técnica de Neurocirurgia que encontrava-se fechada desde 2010. Reuniões mensais no Ministé- rio da Saúde estão programadas até o final do ano. Entre as várias reivindicações, colocamos como prioritário a equiparação de valores de Honorários Profissionais da Alta Complexidade dos procedimentos da Neurocirurgia com os valores de procedimentos mais complexos da Cirurgia Cardíaca. Temos participado ativamente das lutas desenvolvidas pelas várias entidades médicas para melhoria dos planos de saúde, além da atuação pontual em questões que ferem os interesses dos neurocirurgiões. O projeto Pense Bem, por meio de fundos fornecidos pelo Governo Federal, desenvolveu neste ano ações educativas com foco nas crianças do ensino fundamental. Foi criado um vídeo institucional com a participação voluntária do famoso grupo teatral brasileiro “Doutores da Alegria”. O Pense Bem resgata o papel social da SBN e dos neurocirurgiões brasileiros na luta contra os principais problemas de saúde pública na atualidade: o neurotrauma, a doença cerebrovascular e as doenças degenerativas da coluna vertebral. Nosso objetivo é criar um vínculo com o poder público nas esferas federal, estadual e municipal que permitirá grande expansão do projeto em todo território nacional. Em resumo, esta é nossa rápida olhada para o passado de nove meses à frente da SBN. Entretanto, nossa ambição é o futuro e seguimos olhando em frente e sabendo que muito falta para completar a travessia. Sebastião Gusmão EDITORIAL Quando celebridades têm problemas de saúde cria-se a oportunidade de esclarecimento para a população sobre fatores de risco, tratamento e prognósticos. Muitos de nossos colegas médicos passam pelo desafio de explicar em linguagem leiga aquilo que conhecem tecnicamente. Por outro lado, a maneira como algumas celebridades encaram suas doenças pode servir de alento para muitos de nossos pacientes. Oscar Schmidt, Ignácio de Loyola Brandão e Raimundo Carrero são exemplos da arte de superação diante de doenças como o glioma, aneurisma cerebral e AVC. A SBN participou ativamente na imprensa de uma discussão que se tornou o cotidiano da maioria dos cirurgiões de coluna do país: a segunda opinião. Dr. Ricardo Botelho, representando a SBN, esclareceu o tema em algumas entrevistas. O SBN Hoje aprofunda um pouco mais o assunto neste número. Dr. Erasmo Barros da Silva Jr. além de neurocirurgião é músico profissional. Ele nos fala da importância da neurocirurgia e do rock em sua vida. Entre a “Fúria e a melodia” ele fala do equilíbrio que a música lhe proporciona. A SBN Hoje também traz informações sobre nosso XVI Congresso Brasileiro de Atualização em Neurocirurgia que será em Setembro, em Belo Horizonte. Boa leitura, Jair Raso SBN Hoje | 4 | Projeto Pense Bem “Não pule de Cabeça” O Projeto Pense Bem vai chegar aos rios e cachoeiras do Vale do Paraíba (SP). A proposta é da Liga de Neurologia e Neurocirurgia (LNNc) da Faculdade de Medicina de Taubaté que planeja colocar placas nos locais. Uma exposição sobre o Projeto fez parte do programa de abertura do Encontro Interinstitucional de Ligas Acadêmicas de Neurologia e Neurocirurgia realizado, na cidade, no dia 18 de maio . Além de Taubaté, as faculdades de Santa Casa de São Paulo, Mogi e Jundiaí também farão a campanha em suas cidades e regiões. P ara a presidente da LNNc de Taubaté, Marcela Curci Vieira de Almeida que está no 3º ano do curso “ para atuar na prevenção atendendo às duas especialidades, a LNNc que já participa do Mutirão do AVC – projeto de prevenção ao acidente vascular cerebral, desenvolvido pela Liga de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) - pretende divulgar o Pense Bem da SBN. Os argumentos são indiscutíveis: os traumas são a terceira causa de mortalidade no Marcela Curci SBN Hoje | 5 | Brasil, segundo pesquisas do Saúde Brasil de 2010. Segundo Marcela, “a intenção é que esta campanha se perpetue e que consiga integrar cada vez mais Ligas Acadêmicas, a fim de atingir uma prevenção em âmbito nacional.” Placas As placas que serão colocadas no segundo semestre nos rios e cachoeiras de da região de Taubaté já têm um texto: “NÃO PULE DE CABEÇA! - Campanha de Prevenção ao Neurotrauma (Pense Bem) - Liga de Neurologia e Neurocirurgia da Faculdade de Medicina de Taubaté”. Provavelmente será a Secretaria de Saúde da cidade que providenciará a confecção e a colocação das placas. Ligas Acadêmicas No Brasil existem, em torno de 200 ligas acadêmicas. Elas são formadas por grupos de alunos que estudam, de forma mais aprofundada, uma determinada especialidade médica, sob o comando de professores. Ela proporciona atividades extracurriculares e é baseada em três pilares: Estudo, Pesquisa e Assistência. Os cargos têm mandado de um ano. Cada Liga possui um estatuto com suas regras e todas estão filiadas ao Diretório Científico (DC) da faculdade. Raio X Registro quer fazer um RX do trauma no Brasil A ideia surgiu em 2005 durante uma reunião da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT): era preciso ter um registro unificado no país de todas as ocorrências de trauma que mostrasse o quadro geral de acidentes de trânsito que causam lesões Muitas reuniões depois, a proposta virou o Protótipo de Registro Único de Trauma Brasileiro. Em 2012 outro avanço: a liberação de verba do atual governo federal para os seis hospitais do grupo SOS Emergência onde será implantado o Registro após sua aprovação. Mas o que falta? Falta o software único onde esse registro será postado e disponibilizado para os hospitais. Ainda sem a licitação para a escolha do sistema, a expectativa é que só ano que vem o Projeto vire realidade. Raio X Para o coordenador de neurocirurgia do Hospital João XXIII em Belo Horizonte e do Departamento de Trauma e Terapia Intensiva da SBN Rodrigo Faleiro, a implantação do Registro trará benefícios para todos os setores médicos públicos e particulares e consequentemente, sociais. Faleiro faz parte do grupo que uma vez por mês se reúne em Brasília com o Ministério da Saúde. Nesse grupo estão representantes da SBAIT, SAMU,. Sociedades Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, de Pediatria, de Neurocirurgia e Anestesiologia, Associação de Medicina Intensiva Brasileira e Colégio Brasileiro de Cirurgias. A ficha do Registro do Trauma é detalhista: define sexo, idade, origem do paciente. Onde ocorreu. Como ocorreu. Se o ferimento foi penetrante e em que parte do corpo. Se foi, por exemplo, queimadura, queda, atropelamento. Quer saber também em casos de acidentes de trânsito, se foi moto, carro ou ônibus. E em que lugar a vítima estava assentada.. Com todas essas informações disponibilizadas em um único banco de dados, vai ser possível criar estratégias de prevenção, atendimento e correção de falhas. Por exemplo: se os dados mostrarem que uma rodovia causa acidentes mais em um trecho que em outro, uma pesquisa dirá se é falha estrutural, sinalização, conservação ou até proximidade com cidades. Consequentemente se poderá tomar medidas para resolver o problema de correção e de prevenção. SBN Hoje | 6 | Outro exemplo: a incidência de certas lesões poderá determinar graus de tratamento e disponibilidade de espaço, medicação, internação. Projetos Pilotos Paulo Roberto Carreiro é cirurgião geral no João XXIII. Para ele, a medida é positiva. Ele conta que no hospital já existe um projeto piloto em aplicação. Outro hospital que também já coletou dados de trauma por dois anos foi a Santa Casa de São Paulo. Segundo José Gustavo Parreira, médico dessa unidade, o sistema identificou grupos de risco e direcionou ações para minimizar os danos adicionais. A falta de pessoal preparado para registrar os dados, paralisou o procedimento. No João XXIII o projeto iniciado em janeiro deste ano já tem em torno de 400 pacientes registrados. Carreiro defende a aplicação do Registro Único por ser uma ferramenta que possibilitará além das ações imediatas gerais, ser uma fonte de pesquisa científica, de benchmarketing, de gerenciamento de custos e trocas de informações. Pense Bem • O trauma é a principal causa de morte nas quatro primeiras décadas de vida. • 130 mil pessoas morrem por ano em consequência de algum tipo de trauma. • Só em acidentes de trânsito, são 50 mil mortes. 136 ao dia e 1 a cada 11 minutos. Os dados fazem parte da aula do médico Rodrigo Faleiro sobre o Projeto Sentinela que existe em Rodrigo Faleiro 193 hospitais brasileiros. O procedimento colhe todos os tipos de informações sobre o atendimento médico que são disponibilizadas entre eles. Os dados revelaram que só no João XXIII, quando atenderam ao Protocolo, a taxa de óbito foi de 11 entre 57 pacientes – 19,2%. Quando não atenderam ao Protocolo, a taxa de óbitos subiu para 23 entre 42 pacientes: 54,7%. Diante desses dados, Faleiro é taxativo e vê no Projeto Pense Bem, iniciativa da SBN de prevenção e orientação, uma forma de se evitar tantas mortes: “O trauma é uma doença evitável. Faz mais sentido a sua prevenção do que dispendiosos recursos no seu tratamento. Por isto, Pense Bem!” Para saber mais: Projeto Pense Bem: http://migre.me/fcS9c SBN Hoje | 7 | Participe Congresso Brasileiro de Atualização em Neurocirurgia Prezado colega, A experiência de um Congresso não é apenas a atualização científica. É também a oportunidade de encontrar velhos amigos e fazer novas amizades e contatos. Nossa comissão científica está cuidando para que a programação seja proveitosa, com a troca de experiências de renomados colegas de todo país. Será uma imersão no vasto campo da neurocirurgia. A SBN homenageará em nosso Congresso Dr. Raul Marino Jr de São Paulo e Dr. Daniel Maitrot, de Estrasburgo, França. Mas você também terá oportunidade de apreciar a cultura de Minas, expressa em seu artesanato, no teatro, nas artes plásticas e na gastronomia. Espero você e sua família. Jair Raso Presidente Congresso Programa e Inscrições: www.congressodeatualizacaosbn.com.br Livro As histórias de um neurocirurgião O O XVI Congresso Brasileiro de Atualização em Neurocirurgia em setembro terá discussões, palestras, atualização científica, confraternização, turismo e a oportunidade de conhecer o primeiro livro do neurocirurgião Luiz Renato Mello, de Santa Catarina: “Não Morra Agora, Contos&Crônicas”. Mello é professor de Neurocirurgia na Universidade Regional de Blumenau (FURB) e Chefe do Serviço de Cirurgia do Setor de Neurocirurgia do Hospital Santa Isabel, Blumenau, SC. O livro tem 123 páginas com 14 contos e 6 crônicas sobre fatos vividos e ocorridos durante sua carreira. Segundo o autor, ele vem “escrevendo contos há alguns anos, sempre quando o assunto atrai, o impulso de escrever aparece e o tempo permite. Geralmente em finais de semana silenciosos, com chuva ou sol muito forte ou nas noites insones.” Na introdução do livro, o autor enfatiza que “os momentos mais importantes da vida de um homem são relacionados à sua finitude: o nascer, o adoecer e o morrer.” E é nesses momentos que Mello constrói suas histórias. O prefácio é assinado pelo presidente da SBN, Sebastião Gusmão que ressaltou: “em decorrência das características do ofício, os médicos são obri­g ados a conviver com a precariedade da condição humana e a en­f rentar um sem fim de dores físicas e morais. Uma forma de catarse é escrever, principalmente para aqueles de palavra fácil e que culti­v am o espírito lúdico e o senso de humor. Escrever é, antes de tudo, um vício. Começa com a necessidade de entreter as pessoas com nossos escritos. Depois, passa a ser uma compulsão cada vez maior. Não morra agora aparece tarde, mas ain­d a em tempo.” “ “ os momentos mais importantes da vida de um homem são relacionados à sua finitude: o nascer, o adoecer e o morrer Luiz Renato Mello SBN Hoje | 9 | Controvérsia O consenso dos representantes de entidades médicas sobre a “Segunda Opinião” M édicos da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e da Sociedade Brasileira de Coluna dizem que apóiam a busca por uma segunda opinião desde que a iniciativa seja do próprio paciente e não dos planos de saúde. “A sociedade precisa defender o direito do paciente de ter a primeira opinião, com qual médico ele quiser, com atendimento universal. Se ele quiser a segunda, terceira e a quarta, contanto que parta do paciente, o desvio do paciente para grupos específicos de segunda opinião é recriminado”, diz Ricardo Botelho, Diretor de Diretrizes da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Para Botelho , “o paciente deveria escolher sua segunda opinião, da mesma forma que escolheria a primeira opinião. Do modo que as coisas estão, pacientes que representam “custos” são desviados por grupos controlados pelas operadoras com o intuito precípuo de “diminuir” o custo, normalmente negando os procedimentos ou oferecendo alternativas ou pseudo alternativas. È importante que todos saibam que oferecer mais do mesmo que não deu certo é tecnicamente inadequado e não modo de diminuir custos. De acordo com as reclamações que recebemos, o paciente, fragilizado pela doença, se vê diante do médico SBN Hoje | 10 | controlado pela operadora que apresenta dificuldades para liberação para seu médico assistente e facilidades para liberação, ou liberação imediata, nos hospitais controlados ou contratualizados, segundo o vocabulário utilizado. Isto é, na prática, coação.” A polêmica entre os cirurgiões cujos diagnósticos foram questionados foi discutida na Câmara Técnica de Implantes da AMB (Associação Médica Brasileira), e depois encaminhada ao Conselho Federal de Medicina. As reportagens sobre diagnósticos de cirurgias na coluna no Hospital Albert Einstein em São Paulo motivaram cartas de esclarecimento da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Elas informam que a SBN recebeu de seus associados, denúncias de transferências compulsórias de pacientes por operadoras de planos de saúde para hospitais e grupos médicos específicos, à revelia dos médicos assistentes originários e dos pacientes, por motivos econômicos. A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia ainda enfatiza no texto enviado à imprensa que, “no intuito de zelar pela preservação dos direitos dos pacientes entende que toda interferência no tratamento deve seguir as normas de ética e lisura estabelecidas pelos Conse- A polêmica começou há pouco mais de dois meses: os planos de saúde estão encaminhando os segurados para uma segunda opinião, no caso de cirurgias de coluna. Em alguns planos, o paciente passará por um programa de atendimento multiprofissional. Em outros, terá que procurar a “segunda opinião” em instituições indicadas pelo próprio plano. Nesse processo de reavaliação, em quase 70% dos casos, a cirurgia foi descartada. As entidades que representam os profissionais de saúde consideram uma interferência na decisão médica. lhos normatizadores de conduta no país e que as transferências descritas foram feitas pelos motivos econômico-financeiros declarados nos documentos públicos, à revelia dos pacientes e em desrespeito aos preceitos de relacionamento éticos descritos no Código de Ética Médica. O procedimento dos planos de saúde fere também os artigos 2 e 4 da Resolução CONSU/ANS 08/98. O conselheiro do CRM, Cláudio de Souza deu sua opinião: “o Código de Ética Médica (CEM) tem como princípio fundamental que “O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional”. O mesmo código, em seu artigo 32, veda ao médico “Deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente”. Nesse contexto, a solicitação de uma segunda opinião é uma alternativa natural que surge diante de situações difíceis ou complexas. Nessas circunstâncias, a opinião de um colega experiente, pode ser decisiva para a solução do caso. Como as questões que envolvem a segunda opinião dizem respeito ao paciente, é necessário que ele ou seu representante legal, autorizem o médico assistente ouvir a opinião de um colega. Não é incomum que esta iniciativa parta do próprio paciente. Nesse caso, seu pedido deve ser acatado “ pelo médico assistente, em consonância com o que orienta o artigo 39 do CEM que veda ao médico “Opor-se à realização de junta médica ou segunda opinião solicitada pelo paciente ou por seu representante legal”. Os propósitos de fazer sempre o melhor para o paciente (beneficência) e de respeitar sua liberdade de escolha (autonomia) constituem o fundamento ético para a segunda opinião médica. Fora deste contexto, a iniciativa deve ser vista com ressalvas, não podendo jamais, representar uma ingerência na relação médico/paciente. O paciente deveria escolher sua segunda opinião, da mesma forma “ que escolheria a primeira opinião Ricardo Botelho SBN Hoje | 11 | Para saber mais: http://migre.me/fcQHo http://migre.me/fcQIw http://migre.me/fcQJr No caso de auditoria médica, havendo necessidade do auditor examinar o paciente e seu prontuário, tal conduta deve ter a aquiescência do mesmo (ou de seu representante legal). Além disso, o médico assistente deve ser notificado do exame e sua presença ser facultada, conforme determina a Resolução 1614/2001 do Conselho Federal de Medicina.” O médico Cláudio de Souza completa: “Em questões de saúde, o ser humano há que ter sempre prioridade, pois como bem nos ensinou Immanuel Kant, ele tem valor e não preço.” Atualização 13º Congresso de Cirurgia Espinhal 28 de Fevereiro a 02 de Março de 2013 - São Paulo, SP O Congresso Desde a primeira edição realizada em 2001, o Congresso de Cirurgia Espinhal é também considerado como palco do Encontro Anual do Departamento de Coluna da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia – SBN, ocasião em que as suas atividades e metas são revisitadas, analisadas e propostas. Trata-se de uma promoção do CENC-HSPE-SP que tem por objetivos “realizar a avaliação dos conceitos e dos métodos envolvidos na cirurgia espinhal, baseado na exposição da melhor informação disponível e no debate sobre as várias opções existentes para o tratamento, com as mais modernas técnicas e tecnologias envolvidas, de modo a fornecer instrumentos de apoio à melhor prática da cirurgia espinhal”. Por sua abrangência e por se tratar de tema de caráter multi e interdisciplinar, várias outras entidades nacionais e internacionais têm regularmente apoiado e contribuído para a realização do congresso ao longo dos anos, i.e. IAMSPE, SBC, IGASS, CNS-AANS, FLANC, AOSPINE, WSCS e WFNS. O evento, já em sua décima terceira edição, tem como Presidente, o Professor Doutor Ricardo Viera Botelho, como Coordenador Geral, o Professor Doutor José Marcus Rotta, e os coordenadores, Dr. Eduardo de Freitas Bertolini e Dra. Marise Fernandes Audi. A comissão científica e os assessores internacionais convidados atualizam e sintonizam a programação científica anualmente, levando para o plenário do congresso tópicos e palestrantes do mais alto nível científico da atualidade. Nas ultimas edições foram instituídos os Cursos Pré-Congresso que visam a discussão de casos clínicos e o Curso Básico em Pós-Congresso, com a finalidade de formar conceitualmente as novas gerações. Dentro da estrutura do congresso definida pela Comissão Científica, ocorrem, os Blocos Temáticos que se sucedem estimulando o conhecimento dos mais de 500 colegas, média anual de participantes, e enriquecendo as discussões com apresentações, às vezes controvertidas, das mais variadas escolas. Este ano tivemos a Sessão Inaugural com palestra do Professor Doutor Sebastião Gusmão, Presidente da SBN e Presidente de Honra do Congresso, abordando o tema “Interface entre a Coluna Vertebral e a Arte. Devemos também mencionar que durante o congresso pelo menos uma palestra, sob a responsabilidade do Departamento de Defesa Profissional da SBN, é dirigida para o debate e atualização dos congressistas na defesa de suas atividades profissionais. Um time da primeira linha de palestrantes internacionais versou sobre diversos temas, incluindo interessantes apresentações controversas. Participaram os doutores Abdelfataht Saoud (Egito), Alvaro Douling(Chile) Anis Mekhail (EUA), Bernhard Meyer (Alemanha) Daniel K. Resnick (EUA), Edward Benzel (EUA), Faheem Sandhu (EUA), Florian Roser (Alemanha), Gianluca Maestretti (Suiça), Jean-Marc Vyadzis (EUA), Joseph S. Cheng (EUA), Mehmet Zileli (Turquia), Olivier Gille(França), Phillip Bancel (França), Salman Sahrif (Paquistão). A Homenagem Mantendo sua tradição de acerto na escolha de nomes da especialidade, o homenageado do 13º Congresso de Cirurgia Espinhal foi o Professor Edward C Benzel que, com seu grande talento científico aliado aos seus conhecimentos Sentados: Prof. Edward Benzel, Homenageado e Albert Brasil. De pé: Marcos Masini, Ricardo V. Botelho, Asdrubal Falavignia e Salman Sharif SBN Hoje | 12 | SBN.pdf da engenharia, se distinguiu por introduzir novos conceitos e terminologia científica que propiciaram o avanço e o aprimoramento das técnicas utilizadas no tratamento das doenças complexas da coluna vertebral. Isto permitiu a reestruturação dos conhecimentos científicos contemporâneos e levou a uma profunda modificação no entendimento da instabilidade da coluna e no tratamento de todas as demais doenças. Depois de formar-se em Engenharia Química, o Professor Benzel graduou-se em Medicina e realizou sua residência em Neurocirurgia no Medical College of Wisconsin Clinics . Nos anos que se seguiram, assumiu respectivamente os cargos de Chairman do Departamento de Neurocirurgia, Diretor do Programa de Residência e do reconhecido Curso Annual Cleveland Spine Review: Hands On , elaborando memoráveis cursos frequentados por colegas de todas as partes do mundo. Na renomada Cleveland Clinic , o Professor Benzel atua com destaque como Chefe do Departamento de Neurocirurgia. É autor de várias técnicas avançadas e de patentes na área médica. Extremamente dedicado ao ensino de jovens neurocirurgiões e tendo exercido cargos de liderança em inúmeras sociedades nacionais e internacionais, conta em sua biografia com diversos prêmios por trabalhos e livros publicados. No Brasil ele liderou com grande êxito a organização e realização do World Spine III , que ocorreu no Rio de Janeiro em 2005, quando reuniu os grandes nomes da comunidade mundial que atuam no tratamento das doenças da coluna vertebral oferecendo á comunidade brasileira uma oportunidade única de se atualizar. A sua vasta produção literária é enriquecida de inúmeros trabalhos técnicos, ( a mais recente é o lançamento.da obra “Spine Surgery - Techniques, Complications, Avoidance and Management” e reedição do clássico “Biomechanics of Spi1 20/09/13 15:58 ne Stabilization”. Em publicação recente no CNS – Congress Quartely Summer 2012 ele reflete sobre o futuro da cirurgia da coluna vertebral e conclui alertando de forma enfática sobre a nossa extremada confiança na tecnologia: “ ....I see in the trainees of today, on a routine basis, a substantial reliance on technology – at the expense of what I perceive to be more appropriate reliance on intrinsic Knowledge, common sense, and the fundamentals of spine surgery. Some sort of re-orientation may be in order. I feel privileged to have had the exposure I had. I am better because of it. I can only hope that I and my contemporaries can craft a way to provide this privilege for the next generation, the trainees of today.” Convocação A iniciativa não termina aqui. Segue. Ao longo dos anos se discutiu estruturar uma revista e com isto criar uma forma de disseminar os conhecimentos adquiridos e permitir o avanço através da discussão contínua de temas emergentes. Surgiu então a versão digital para o projeto. Nos intervalos entre os congressos que são anuais, as palestras apresentadas e gravadas são gratuitamente expostas para todos os interessados no www.cirurgiadacolunavertebral.com.br e um grupo de discussão (chat) é formado com a finalidade de estender as análises dos temas até a realidade de cada participante. Com estrutura aberta a nível nacional e internacional, o 14º Congresso de Cirurgia Espinhal ocorrerá em São Paulo em 2014. O Departamento de Coluna da SBN tem a satisfação de convocar todos seus membros e demais interessados a participarem. Marcos Masini Sistema Estereotáxico Minimamente invasivo e de alta precisão, o ZD permite realizar várias abordagens junto ao paciente. Suas marcações confirmam sua simplicidade, facilitando a montagem do equipamento no procedimento cirúrgico. Tecnologia e Inovação proporcionando Qualidade de Vida ao longo de 13 anos Desde 2000, a Alfa Medical transmite credibilidade através de seu atendimento e produtos altamente tecnológicos para os segmentos de Neurocirugia Funcional, Ortopedia da Coluna e Técnicas Minimamente Invasivas. Somos uma empresa nacional com foco no cliente, por isso seguimos os mais rigorosos requisitos de qualidade com o intuito de proporcionar qualidade de vida e bem-estar aos nossos clientes. Simplicity Considerado o mais avançado cateter para radiofrequência sacroíliaca, o Simplicity é um cateter único que possui formato anatômico facilitando o acesso às articulações com segurança e eficiência através de um único ponto de acesso sem o auxilio de um introdutor ou cânula, podendo fazer até 5 lesões . NT1100 Minimamente Invasivo permitindo a aplicação de Radiofrequência por Dose Pulsada, o Gerador de Radiofrequência NT1100 possibilita a realização de 3 lesões simultâneas. Viking Siga-nos no facebook.com.br/alfamedicalbrasil www.alfamedical.com.br (11) 4099-6200 Utilize esse QR Code para visualizar toda a linha de produtos Interespinhoso Dinâmico em Peek que permite movimentos de compressão, flexão, extensão e curvatura lateral, o Viking é um implante minimamente invasivo que possui corpo anatômico e bordas não cortantes. Histórias de vida A Arte da Superação Um ex-jogador, um jornalista e um escritor contam como um glioma, um aneurisma e um avc se tornaram personagens heróicos de suas vidas O Mão Santa -jogador fará sessões de radioterapia e quimioterapia. Mesmo assim, ele garante que jamais vai perder o alto-astral, uma de suas principais características. “Acho que isso faz parte da minha natureza. Sempre mantenho o bom humor e o otimismo. O esporte me ensinou a estar sempre bem preparado mentalmente. É a mente que precisa dominar o nosso corpo.” Oscar não vê a hora de chegar setembro, quando participará da cerimônia de nomeação ao Hall da Fama do basquete, nos Estados Unidos. Ele já faz parte, desde 2010, do Hall da Fama da Federação Internacional de Basquete (Fiba). O evento será em Springfield (EUA), entre os dias 6 e 8 . Para ele é como se fosse o Prêmio Nobel do Basquete. Em entrevista a Isto É, declarou que é ele que con- sola a família e nunca considerou a doença como um castigo “Sempre tive uma vida regrada. Nunca usei drogas, bebi ou fumei, sempre pratiquei exercícios e fui fiel à minha mulher. Se mesmo assim Deus me deu um câncer na cabeça, é porque tenho condições de superar”. “ É a mente que precisa dominar o corpo Oscar Schmidt A Veia Bailarina Afligido por fortes tonturas, o jornalista, escritor e colunista do Estadão Ignácio de Loyola Brandão descobre em 1996 que tem um aneurisma cerebral. Em maio desse ano, faz uma bem-sucedida cirurgia, que dura nove horas. A descoberta do aneurisma, seus momentos de angústia, medo, expectativa resultam no livro Veia Bailarina publicado em 1997. Mas poderia se chamar “veia poética” pela quantidade de momentos nostálgicos, bem humorados, perceptivos. Exemplos? “Meu cérebro é uma ostra que abriga uma pérola assassina”. Ou: “Morremos quando perdemos a paixão pelas pessoas”. E ainda: “Não ter medo da morte significa apreciar a vida. Aceitar a morte como natural. Não é um pensamento fatalista, é a aceitação”. Depois da cirurgia, Ignácio viu o vídeo da sua operação. Seu olhar de cronista não viu o procedimento médico; viu arte: “ A cena, gravada através do microscópio, é de singular beleza. Retirada a “tampa” do osso, encontra- SBN Hoje | 14 | -se a aracnóide, rede de membranas, em forma de teia, que tem o aspecto de um véu delicado, transparente, que envolve o cérebro, assim como a membrana amniótica protege o cérebro. Abriram uma pequena caverna em minha cabeça. Paisagem poética. As paredes laterais são brancas, macias como flocos de algodão-doce ou nuvens claras, espessas de chuva. Pulsam suavemente, banhadas pelo líquido transparente. O cirurgião entra em cena. Fará o seu monólogo, apoiado por atores com funções essenciais. Como numa orquestra, cada um tem seu solo, cada um é um virtuose, o conjunto é música pura. O resultado aqui será a vida”. E magistralmente registra em outro trecho do livro: ”Quando saí do apartamento e fui levado para a sala de cirurgia, me atirei no espaço, a corda elástica que me prendia à vida suportou, me puxou, soltou de novo(nas febres), me agarrou. Fui puxado e me aninhei no regaço da vida, confortável, delicioso, sensual.” “ “Este é mais um desafio. Venci vários a vida toda. Se não vencer lá na frente, paciência. Farei de tudo. Se tiver de abrir a cabeça dez vezes, eu abro. Desde que me deixem a fala e a sobriedade”. A frase dita ao jornal O Globo é do ex-jogador de basquete Oscar Schmidt, de 55 anos após passar por uma nova cirurgia para a retirada de um tumor no cérebro em abril deste ano. Em maio de 2011, o Mão Santa - apelido que traz desde os tempos de atleta - já havia retirado um glioma de 7 cm localizado na parte frontal da cabeça. Considerado um dos maiores jogadores do basquete brasileiro, Oscar fez história ao liderar a seleção na conquista dos Jogos Pan-Americanos, em 1987. O Brasil venceu os Estados Unidos em solo americano. Após a cirurgia, o ex- Capa livro Veia Bailarina “O AVC foi um prêmio” projeto usando apenas o indicador da mão direita. Hoje, aos 65 anos, lúcido, centrado e mais afetuoso segundo sua mulher, Carrero que tem ainda pequenas limitações no braço e na perna, voltou às atividades diárias. Antes do AVC, Carrero era conhecido pela vida boêmia, desregrado na alimentação, na bebida, no descanso. Na contramão desses conceitos, o escritor é também muito religioso. Em uma entrevista dada à Folha de São Paulo ele disse que “Deus quis me ensinar a viver, me dar um freio. Agradeço a Ele todo dia. O AVC foi um prêmio”. Lamenta apenas não poder beber: “Mas não vou me angustiar não. Quero é escrever, me curar e ser feliz.” Sistema Estereotáxico ZD Fácil manuseio com alta precisão “ “ O AVC veio em outubro de 2010. Depois de 15 dias internado, o escritor pernambucano Raimundo Carrero voltou para casa com o braço e a perna esquerdos parcialmente paralisados e a fala comprometida. Se mover só com a ajuda da mulher Marilena e das enfermeiras. Naquela época, o seu maior temor era não voltar a escrever por causas das limitações físicas e psicológicas. Dois anos e meio depois, essa angústia é apenas uma lembrança. Em reação ao AVC, ele acaba de lançar um novo livro, um romance que tem o Recife como cenário e uma protagonista generosa e despudorada por quem se apaixonou e o “ajudou a enfrentaras as seqüelas físicas.” No início, o escritor ditava o texto. Inquieto, tomou a frente do Quero escrever, me curar e ser feliz Raimundo Carrero www.br.inomed.com/ Precisão alemã em cada detalhe Aplicações: ›Biópsias ›Cirurgia guiada ›Implantação de eletrodo para DBS ›Cirurgias comportamentais ›Evacuação e drenagem de hematomas ›Evacuação de cistos Distribuído por: surgicalline.com.br • 11 4053-9640 Entrevista Os ritmos de um neurocirugião Ele nasceu em João Pessoa, Paraíba e se formou em medicina pela UFPB. Fez residência em neurocirurgia no Instituto de Neurologia de Curitiba. E é lá que trabalha desde então e como ele diz: “com muito, muito orgulho”. Ele é Erasmo Barros da Silva Jr. Aos 35 anos, casado e com uma filha de três anos, Erasmo é um jovem neurocirurgião que quando não está com o bisturi na mão, está usando a palheta em sua guitarra. Além da música, adora cinema, literatura, desenhos, quadrinhos e computadores. Em entrevista ao SBN Hoje, ele falou sobre as opções que regem sua vida: a medicina e a música. Quando criança, pensei em fazer medicina porque não conseguia imaginar minha casa sem um médico (o meu pai é neurologista e foi meu professor na faculdade). A medida que o tempo foi passando e a ideia amadurecendo, passei a ver cada vez mais o médico como alguém que trabalha para o bem-estar do ser humano ignorando qualquer limite: não interessa cor, sexo, condição social, cultural, religião ou qualquer outra coisa para que cumpramos o nosso papel. No mesmo momento que quis ser médico, ainda moleque, quis ser neurocirurgião pelo desafio da dedicação, da elegância cirúrgica e principalmente, pelo autocontrole. Toda área é nobre e dignificante, mas a neurocirurgia sempre exigirá mais. SBN Hoje | 16 | A sua rotina de cirurgião, tem algum procedimento específico antes da cirurgia? Não, não tem nada. Mas posso dizer que, fora do hospital, toca música o dia inteiro dentro da minha cabeça... E o rock? Como entrou em sua vida? Bom, o meu amor pela música existe por causa do rock. Não sou muito fã de outros estilos, mesmo admirando e respeitando coisas como jazz, blues, clássica etc. Comecei a gostar do rock ainda criança, no final dos anos oitenta, geralmente por causa de trilhas sonoras de filmes, como por exemplo o David Bowie em Labirinto ou o Queen em Highlander. Entrando na adolescência, eu passei a gostar das vertentes mais pesadas, de heavy metal. Quanto mais barulhento e escabroso, melhor. Mas sempre “ Não estamos fazendo nada novo, mas colocamos nosso pequeno tijolinho “ O que o levou a fazer medicina e depois a se especializar em neurocirurgia? na ‘Muralha da China’ que é o rock gostei dos clássicos, das bandas mais melodiosas, e a história do som pesado me fascina. Então qualquer coisa entre o King Crinson e o Napalm Death conseguia me agradar. No meio dos anos 90, eu passei a me interessar também pelo rock alternativo e por bandas obscuras. Assim, ampliei o ‘cardápio’ com bandas como Pixies, Jesus & Mary Chain, Sonic Youth, My Bloody Valentine etc. Na última década, passei a escutar muito post-rock (Sigur Rós, Mogwai, Explosions in the Sky) e bandas independentes, sempre mantendo um gosto especial por fúria e a melodia. Como chama sua banda? E por quê? Eu não sou muito adepto a chamar de ‘banda’, mas é o jeito, né? Chama-se This Lonely Crowd (www. thislonelycrowd.com) e, para mim e para os outros integrantes, é muito mais um símbolo do que uma banda. É um símbolo da música que gostamos de fazer; não estamos fazendo nada novo, mas colocamos nosso pequeno tijolinho na ‘Muralha da China’ que é o rock. O nome é esse porque havia uma piada no começo de ‘ninguém escutar as músicas que nós fazíamos’. Existe também um estudo social muito interessante chamado ‘The Lonely Crowd’. Tenho muito satisfação em dizer que tem dois neurocirurgiões recém-formados tocando junto comigo, um que acabou de tirar o título e o outro acabando a residência este ano. Além deles, tem a minha esposa, que é baixista, e um quinto amigo, compadre meu e que toca comigo há longa data. Que tipo de rock sua banda toca? Sempre gostamos de falar que o nosso Leste-Oeste é o shoegaze e o “ O rock me faz buscar um equilíbrio entre a tempestade “ e calmaria, entre razão e emoção SBN Hoje | 17 | post-rock. E o nosso Norte-Sul é o heavy metal e a música experimental. Com uma bússola dessas, podemos tomar rumos muito distintos. O nosso último disco, chamado ‘Pervade’ e lançado em novembro do ano passado, está mais para Nordeste… ou seja, é um som muito específico e que incomoda o ouvido de quem não gosta de paredões de guitarras. O que você achou da vinda de Paul McCartney ao Brasil? Eu nunca fui muito fã dos Beatles, apesar de conhecer bem a discografia e a história deles. Tenho muita admiração pelo que fizeram e pela forma como influenciaram (e influenciam) toda a cultura pop. Ver o Paul fazendo shows aos 70 anos de idade é inevitavelmente uma experiência única. Mas então eu te pergunto de volta: esse que vem é o falso, não é? (risos) Qual instrumento que você toca? Você compõe? Eu sou guitarrista, toco há mais de 20 anos e é o instrumento do meu coração. Tenho várias guitarras e dezenas de pedais de efeito, sou fascinado por pedais de distorção, overdrives, fuzzes. Quanto mais barulho fizer, melhor. Quanto a compor, é o que eu faço o tempo inteiro desde o começo. Devo ter mais de 100 músicas compostas, com certeza. Com o TLC, já lançamos 3 EPs, 2 discos cheios e 1 disco de ‘sobras’, todos pelo Selo paulista Sinewave (www.sinewave.com.br), especializado nesse tipo de som. A força desse Selo, que virou nossa ‘casa’, é tão grande que acabou projetando nossos lançamos pelos subterrâneos do mundo afora. Tanto que temos fãs perdidos na Estônia, no Reino Unido, nos EUA, no Japão... O que os seus pacientes acham de você tocar em uma banda de rock? Eu não divulgo isso, mas não me esquivo quando alguém descobre e me pergunta. Felizmente, só tive boas experiências até hoje, vendo que os pacientes que ‘descobrem’ o meu lado B admiram e passam a demonstrar mais carinho por mim. Mas não acho que estejamos preparados aqui no Brasil para isso, pois o rock costuma ser julgado como uma música marginal, rebelde, inconsequente. Isso é como colocar um único rótulo em todos os vinhos. Prefiro acreditar que o rock me faz buscar um equilíbrio entre a tempestade e calmaria, entre razão e emoção. Amo minha profissão, ser neurocirurgião justifica minha existência e consequentemente sustenta minha família, mas a música me completa. Jamais diria que toco ‘por lazer’ ou ‘por escapismo’ porque seria muito pouco caso com algo que tanto me inspira. Dessa forma, acabamos voltando naquela história do equilíbrio...