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OS GRANDES ENIGMAS
DA PRÉ-HISTÓRIA
José Luis Cardero López
OS GRANDES ENIGMAS
DA PRÉ-HISTÓRIA
Tradução
Maria Irene Bigotte de Carvalho
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor.
Reprodução proibida por todos e quaisquer meios.
A presente edição segue a grafia do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
© 2016, José Luis Cardero López
Publicado originalmente em Espanha por Ediciones Cydonia SL
Publicado em Portugal com o acordo de Ediciones Cydonia SL
Direitos para esta edição:
Clube do Autor, S. A.
Avenida António Augusto de Aguiar, 108 – 6.º
1050-019 Lisboa, Portugal
Tel. 21 414 93 00 / Fax: 21 414 17 21
[email protected]
Título: Os Grandes Enigmas da Pré-História
Autor: José Luis Cardero López
Tradução: Maria Irene Bigotte de Carvalho
Revisão: Rui Augusto
Paginação: Gráfica 99
Impressão e acabamento: Eigal (Portugal)
ISBN: 978-989-724-314-1
Depósito legal: 413 901/16
1.ª edição: Outubro, 2016
www.clubedoautor.pt
Para a Mariló, a Margarita e o Luis
Somos filhos da Terra e do Céu estrelado.
ÍNDICE
Introdução
Filhos da Terra e do Céu estrelado ....................................................... 11
Capítulo 1 – O mistério dos astros
Sinais e signos no céu. Territórios sagrados, manifestações
da Natureza e símbolos milenares ........................................................ 17
Capítulo 2 – A importância da Mãe Terra
Mistérios das grutas e dos túmulos. De abrigos a entradas
no Reino dos Mortos ............................................................................... 45
Capítulo 3 – A linguagem pré-histórica
Pinturas, gravuras e petróglifos. Autores e significados ................... 73
Capítulo 4 – O enigma das pedras cravadas no chão
Círculos de pedra e campos de força. Alinhamentos, evocações
e rituais ..................................................................................................... 99
Capítulo 5 – O bosque e as práticas iniciáticas
Os mitos e a realidade. Coexistência entre o sobrenatural
e o humano ............................................................................................... 123
Capítulo 6 – As luzes misteriosas
O imaginário e o ritual do fogo. A fertilidade como luz e calor ....... 149
Capítulo 7 – Os deuses e os espíritos
A Criação, o Mal e o Bem. A religião paleolítica ................................. 175
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OS GRANDES ENIGMAS DA PRÉ-HISTÓRIA
Capítulo 8 – Xamanes e mediadores
Papel, função e obrigação. Uma porta para o outro mundo ............. 203
Capítulo 9 – O mundo dos mortos
Rituais funerários. Coexistência entre os vivos e os mortos ............. 231
Capítulo 10 – Os povos que habitam a noite
As redes de sonhos. Lendas, tradições e figuras míticas ................... 259
Epílogo ..................................................................................................... 289
Bibliografia .............................................................................................. 291
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INTRODUÇÃO
FILHOS DA TERRA
E DO CÉU ESTRELADO
A pré­‑história é um conceito vago e um tanto difuso. Compreende um intervalo de tempo que, geralmente, se considera
ir do alvor da Humanidade ao aparecimento dos primeiros
testemunhos da escrita. Ou então, de acordo com outra corrente de investigadores, ao momento em que se fundaram as
primeiras cidades ou se instauraram as primeiras estruturas
sociais e políticas estáveis, considerando que a partir de tais
acontecimentos se inicia a História propriamente dita.
O problema é que estes acontecimentos que marcam a fronteira entre a Pré­‑História e a História não costumam ocorrer
nas mesmas datas nem sequer num lugar determinado. Pelo
contrário, acontecem em diversos lugares e tempos diferentes
e com intensidades e frequências distintas e peculiares. Falaríamos, por isso, de uma sucessão de diversas «pré­‑histórias»
ou de «pré­‑histórias» ocorridas em intervalos particulares, que
podem variar tanto no espaço como no tempo, constituindo um
fenómeno oscilante e paradoxal – algo distante da certeza relativa que as tabelas e as classificações normalmente concedem
a outros marcos.
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OS GRANDES ENIGMAS DA PRÉ-HISTÓRIA
Para especialistas como Vere Gordon Childe, a passagem
da Pré­‑História à História caracteriza­‑se pelo fenómeno da
difusão cultural. Quer dizer, trata­‑se de um acontecimento que
se propaga e que, quando se produz num lugar concreto,
tende a difundir­‑se para outros pontos. Assim se levam a cabo,
por exemplo, o desenvolvimento das primeiras cidades ou a
chamada revolução neolítica, com a prática da agricultura, o
­nascimento da escrita e, provavelmente, a instituição dos
­primeiros cultos religiosos.
André Leroi­‑Gourhan, por sua vez – no célebre tratado sobre
as religiões da Pré­‑História –, insiste na generalidade e na
escassa precisão deste conceito, afirmando que a Pré­‑História
designa – ou melhor, descreve – um período vago e mal determinado que vai das primeiras eras, nas quais o ser humano se
identifica como tal, até ao aparecimento dos primeiros indícios
da escrita, acontecimento que, para alguns povos das florestas
amazónicas, como o referido autor afirma, só teve lugar no
passado século xx.
De facto, quando tentamos situar um facto ou um acontecimento na Pré­‑História, defrontamo­‑nos com um padrão
geral de espaço­‑tempo, no qual, embora um dos termos – o
espaço físico ou geográfico – se pode manter mais ou menos
constante e identificável, o outro – o tempo – pode variar consoante os casos e os acontecimentos, ou segundo os factos em
si mesmos, ou dependendo das povoações nas quais os factos
ocorrem. O chamado começo de uma civilização ou de uma
cultura pode estender­‑se, assim, por um campo vasto e muitas
vezes difícil de interpretar ou definir por meio de intervalos
espaçotemporais demasiado rígidos. Para isso também não
nos serve eficazmente o sistema cultural tomado como causa
ou unidade explicativa, porque, no seu conjunto, costumam
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introdução
estabelecer­‑se inevitavelmente distinções e sequências cronológicas, hierárquicas, estruturais e funcionais que correspondem ou se referem aos diversos acontecimentos que integram
o sistema propriamente dito, e que não casam com a vacuidade intrínseca própria desse paradigma que conhecemos
como Pré­‑História.
O começo estabelecido dos factos ou a continuidade dos
mesmos, que tão necessários parecem à apresentação dos conhe­
cimentos humanos, não ocorrem de uma vez e para sempre
em nenhum hipotético e improvável berço da civilização ou em
nenhum intervalo de tempo preciso e único. Daqui se deduz
que nem reduzindo o campo de observação de um povo ou
grupo social específico parece haver lugares, espaços ou
ambientes privilegiados para esse nascimento ou para a revelação de uma civilização ou cultura. Trata­‑se, antes de mais, de
um fenómeno que se repetiu por diversas ocasiões e com sorte
distinta, avançando e retrocedendo, propagando­‑se e transmi­
tindo­‑se por amplas áreas em virtude da sua própria natureza
e condição.
De qualquer forma, o que sabemos sobre certos acontecimentos de que falaremos nas páginas seguintes chegou até nós
graças a esta diversidade e, até certo ponto, devido a uma
sucessão mais ou menos estabelecida e pautada nos próprios
avatares do devir pré­‑histórico e na passagem, sempre conflituosa, difícil, discutida e paradoxal, do referido devir até ao ter­
ritório não menos complexo, estranho, de natureza e condição
múltipla e plural, a que chamamos ­História.
A partir do mundo nebuloso evocado por tais incertezas
quanto à determinação e classificação dos períodos nos quais
decorre a existência humana, chegam até nós os ecos de acontecimentos passados, muitos dos quais estão na origem da
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OS GRANDES ENIGMAS DA PRÉ-HISTÓRIA
nossa maneira de ser e de compreender o que nos rodeia. Desta
maneira, o nosso Universo, o cosmos em que vivemos e com o
qual participamos na própria existência, tem gravadas de
maneira indelével essas marcas primordiais: a relação com a
Mãe Terra que ainda hoje se entende nesse sentido de dependência materno­‑filial, a semelhança e a vinculação do nosso
desenvolvimento vital com o curso de vida e morte que
impregna toda a natureza, a influência de acontecimentos ocorridos no âmbito do misterioso e alheio que ainda nos envolve,
o assombro face ao paradoxal e ao estranho que nos rodeia
mas que também vive em nós. Tudo isto faz parte do ser
humano num grau maior e mais importante do que por vezes
reconhecemos.
É assim que serão encarados os acontecimentos abordados
nesta obra. São retalhos de mistérios que ainda hoje não foram
esclarecidos e que continuam envoltos em sombras, não por
falta de empenho dos investigadores, mas por causa da sua
própria natureza e condição. Alguns estão vinculados às nossas
origens. Outros, ao desenvolvimento do mundo ou ao Universo que nos alberga. Classificamo­‑los num intervalo de
tempo vago e pouco definido, e eles ali se mantêm, envoltos
na bruma da sua descrição, muitas vezes expressa por meio de
lugares­‑comuns ou de termos que não são apropriados e que
aumentam mais a sua estranheza original.
Evocá­‑los, como aqui faremos, servirá, por um lado, para os
recuperar e, por outro, para entender e tornar nosso algo
daquilo que esses acontecimentos ou factos encerram. Certamente não terão surgido por acaso e o seu conteúdo irá ensinar­
‑nos, pelo menos, a entabular relações com aquilo que, para
além de não ser imediato e próximo, nos acompanha com a sua
presença e pelo seu mistério desde o princípio dos tempos.
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introdução
O estranho e o alheio não só existem e permanecem ao nosso
lado, como, apesar de tudo, fazem parte do nosso ser. Ao fim
e ao cabo, diziam os órficos, somos filhos da Terra e do Céu
estrelado.
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