Lógica familiar e lógica empresarial Edivaldo Boaventura A empresa familiar está tão próxima de nós que não identificamos as suas engrenagens. É tanto a padaria da esquina, como a grande corporação internacional que produz o carro que usamos, a exemplo da Fiat. O mérito de Jader Souza ao pesquisar as empresas familiares foi ter identificado, de saída, as duas lógicas que se integram ou se chocam: a lógica empresarial e a lógica familiar. O entrelaçamento dessas duas dimensões assumem comportamentos por vezes antagônicos. Para desmistificar, a empresa familiar não é tão somente a padaria da esquina gerida via de regra por pai, pequeno negociante. 1/3 das 500 companhias americanas mais bem sucedidas são familiares. Mais de 50% do produto interno bruto ( PIB) americano é gerado por empresas familiares. Algumas de maior sucesso no mundo são bem conhecidas: Michelin, na França; Tetrapak e Ikea, na Suiça; Lego,na Dinamarca; Fiat,Olivetti e Benetton, na Itália; C&A e Heineken, Países Baixos; Mars & Spencer, Guiness,no Reino Unido. A lista é grande. Uma organização familiar deve ser interpretada a partir de três dimensões ou subsistemas interdependentes e superpostos: a propriedade, a família e a empresa/gestão. Com esses elementos, os estudiosos identificam que os maiores problemas da firma familiar não são os financeiros, nem os estruturais, sãos psicológicos individuais concentrados nas mãos do proprietártio-controlador. Tudo vai bem quando o chefão vai ótimo. Mas quando começam os problemas com o demônio do meio dia? E com a sucessão do negócio? Na hora de passar o bastão, começam as brigas. Há três tipos clássicos na sucessão da empresa familiar: proprietário-controlador, sociedade de irmãos e consórcio de primos. Em cada período, características próprias, por exemplo, na primeira fase, a maioria das ações está no poder do chefe que detém todo o controle acionário. Na etapa da sociedade de irmãos, o controle acionário está dividido entre os filhos. Para as empresas que prosperam e sobrevivem, é um momento crítico, pois têm que se ajustarem ao controle por mais de uma pessoas. Na modalidade, consórcio de primos, a família encontra-se na terceira geração e conserva a maioria das ações. Cada período com a sua lógica, com suas estratégias, entenda-se como “conjunto de objetivos táticos e operacionais e seus respectivos planos de ação que serão responsáveis por transportar a organização do seu estado atual para uma localização futura necessariamente mais desenvolvida.” Nos Estados Unidos, 70% dos empreendimentos familiares não sobrevivem ao desaparecimento do fundador. Só 40% alcançam a segundo geração. Ao publicar Gestão de empresa familiar: refletindo sobre suas peculiaridades e desafios, originariamente sua dissertação de Mestrado, bem orientado por Tânia Fischer e defendida na Escola de Administração da Ufba, o professor Jader Cristino de Souza contribui efetivamente para o conhecimento dos negócios familiares, em um país familista, patriarcal e de forte tradição autoritária. Por cima dessa base, ergue-se um estudo de fina racionalização comportamental.