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Artigo Original
Perfil Epidemiológico de 23 casos de neoplasias
malignas da cavidade oral atendidos em uma
instituição odontológica de nível secundário
Epidemiological profile of 23 cases of malignant neoplasm
of the oral cavity treated in a secondary dentistry institution
Resumo
Abstract
Introdução: O Câncer Bucal representa atualmente um dos
graves problemas de saúde pública no Brasil. Conforme dados do
Instituto Nacional do Câncer (INCA), para o ano de 2012, estimase 14.170 novos casos. Objetivo: Avaliar o perfil epidemiológico
de 23 pacientes portadores de neoplasias malignas atendidos em
uma instituição odontológica de atenção secundária no período
entre maio de 2007 e setembro de 2009. Método: Prontuários
de 23 pacientes com resultado histopatológico de lesão maligna
da cavidade oral foral revisados. Gênero, idade, sítio anatômico
e associação com tabagismo e etilismo foram avaliados.
Resultados: O carcinoma espinocelular foi o mais prevalente,
correspondendo a 87% dos casos. Houve maior prevalência no
gênero masculino (60,9%) e na faixa etária entre 50 e 60 anos.
Os sítios anatômicos mais acometidos foram língua (34,8%) e
assoalho bucal (21,7%). Verificou-se uma associação entre a
ocorrência das lesões malignas e o hábito de tabagismo uma
vez que, do total de pacientes acometidos, 47,8% eram fumantes
e 43,5% eram ex-fumantes. O perfil epidemiológico encontrado
condiz com os achados de estudos anteriormente realizados.
Conclusões: A caracterização dos casos de câncer bucal
permite definir o perfil epidemiológico dos pacientes acometidos
e possivelmente represente grande contribuição para o
estabelecimento de políticas preventivas relacionadas à doença.
Descritores: Neoplasias Bucais;
Escamosas; Epidemiologia.
Alexandre Simões Nogueira 1
Karuza Maria Alves Pereira 2
Eveline Turatti 3
Ernest Cavalcante Pouchain 4
Fábio Wildson Gurgel Costa 5
Zuila Albuquqerque Taboza 6
Edson Holanda Teixeira 7
Carcinoma
de
Células
INTRODUÇÃO
O câncer é um problema mundial de saúde pública
e representa uma das três principais causas de morte
na espécie humana, juntamente com os problemas cardíacos e os acidentes1. Câncer de cabeça e pescoço é
Introduction: Oral cancer is currently one of the serious public
health problems in Brazil. According to data from the Instituto
Nacional do Câncer (INCA), for the year 2012, an estimated
14.170 new cases. Objective: To evaluate the epidemiological
profile of 23 patients with malignancies treated at a secondary care
dental institution in the period between May 2007 and September
2009. Method: Medical records of 23 patients with histopathology
of malignant lesion of the oral cavity revised charter. Gender,
age, anatomical site and association with smoking and alcohol
consumption were evaluated. Results: Squamous cell carcinoma
was the most prevalent, corresponding to 87% of cases. There
was a higher prevalence in males (60.9%) and aged between 50
and 60 years. The most affected anatomical sites were tongue
(34.8%) and floor of mouth (21.7%). There was an association
between the occurrence of malignant lesions and the habit of
smoking since the total number of affected patients, 47.8% were
smokers and 43.5% were former smokers. The epidemiological
profile found consistent with the findings of previous studies.
Conclusions: The characterization of cases of oral cancer allows
you to define the epidemiological profile of patients affected and
possibly represents a great contribution to the establishment of
preventive policies related disease.
Key words: Mouth Neoplasms; Carcinoma, Squamous Cell;
Epidemiology.
um termo coletivo definido com base anatomotopográfica para descrever tumores malignos localizados no trato
aerodigestivo superior. Esta região anatômica inclui a
cavidade oral, faringe e laringe. Um subgrupo principal
da cabeça e pescoço são os casos referidos como câncer bucal, que ocorrem nas mucosas da boca, abrangen-
1)Doutorando em Estomatologia pela Faculdade de Odontologia da Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP). Professor do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará,
Campus Sobral.
2)Doutora em Patologia Oral pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professora Adjunta do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará, Campus Sobral.
3)Doutora em Patologia Oral pela Universidade de São Paulo (USP). Professora Adjunta do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
4)Mestrando em Odontologia pela Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE) da Universidade Federal do Ceará. Residente em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial
pelo Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará (UFC).
5)Doutorando em Odontologia pela Faculdade de Farmácia, Enfermagem e Odontologia (FFOE) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor do Curso de Odontologia da Universidade
Federal do Ceará, Campus Sobral.
6)Acadêmica do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará, Campus Sobral. Bolsista de Iniciação Científica do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará, Campus Sobral.
7)Doutor em Bioquímica pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordenador de Saúde Bucal do Município de Sobral – CE.
Instituição: Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Campus Sobral.
Sobral / CE - Brasil
Correspondência: Alexandre Simões Nogueira - Rua Stanislau Frota s/n - Bairro: Centro Sobral – Sobral / CE – Brasil – CEP: 62010-560 – E-mail:
Recebido em 29/06/2012; aceito para publicação em 28/11/2012; publicado online em 17/12/2012.
Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há.
[email protected]
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Perfil Epidemiológico de 23 casos de neoplasias malignas da cavidade oral atendidos em uma instituição odontológica de nível secundário.
do lábio, língua, base da língua, gengiva, assoalho bucal
e palato2. O câncer bucal é o mais prevalente dentre os
cânceres da cabeça e pescoço3. O carcinoma de células
escamosas, também denominado carcinoma epidermoide, carcinoma escamocelular e carcinoma espinocelular (CEC), é uma neoplasia maligna que se origina no
epitélio de revestimento, sendo considerada a neoplasia
maligna mais comum nesta região4.
Mesmo tendo a prevenção assumido um papel significativo na atual política brasileira de saúde bucal o câncer
bucal constitui um problema nacional de saúde pública,
acometendo indivíduos de todas as regiões. Dados epidemiológicos relativos ao câncer bucal no Brasil, em face das
enormes diferenças regionais, são variáveis de acordo com
a região estudada5. Segundo dados do Instituto Nacional do
Câncer (INCA), estimam-se 14.170 novos casos de câncer
bucal para o ano 2012, sendo o quinto mais prevalente no
gênero masculino. Para o Estado do Ceará, estima-se 430
novos casos, 140 em Fortaleza e 290 no interior6.
Apesar de todos os avanços no diagnóstico e, principalmente, na terapêutica, com técnicas cirúrgicas radicais, novas drogas quimioterápicas e radioterapia hiperfracionada e conformacional, o câncer de cavidade oral
continua com um prognóstico desfavorável, com altas
taxas de mortalidade7.
Dados estatísticos são essenciais aos programas
de vigilância em saúde pública, pois permitem estimar
a magnitude relativa dos problemas de saúde na população, facilitando o estabelecimento de prioridades em
ações preventivas e terapêuticas4. Buscando-se contribuir para a elaboração de políticas públicas voltadas
para a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento do
câncer de boca, os autores apresentam o perfil epidemiológico de 23 pacientes acometidos por neoplasias
malignas da cavidade oral oriundos de uma instituição
odontológica secundária, o Centro de Especialidades
Odontológicas (CEO) Sanitária Sérgio Arouca, localizado no Município de Sobral (CE).
MÉTODO
Trata-se de um estudo quantitativo, transversal e observacional realizado através da análise de dados de 23
pacientes portadores de neoplasias malignas orais oriundos do Centro de Especialidades Odontológicas (CEO)
Sanitarista Sérgio Arouca, unidade odontológica de atenção secundária localizada no Município de Sobral e que
possui parceria com o Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará para o funcionamento do Ambulatório de Estomatologia Clínica. Sobral localiza-se na
região norte do estado do Ceará e tem população atual
estimada em 190 mil habitantes. O referido ambulatório
é referência para unidades básicas de 24 municípios que
compõem a denominada Microregião de Sobral, cuja população atual é estimada em 600 mil habitantes8.
O estudo ocorreu entre maio de 2007 e setembro de
2009. Inicialmente foram objeto de estudo os primeiros
300 laudos histopatológicos de pacientes submetidos a
Nogueira et al.
biópsias da cavidade oral na instituição. Dentre estes,
foram selecionados 23 que apresentaram resultado de
lesão maligna. Os pacientes foram identificados e tiveram seus prontuários revisados.
Além de se avaliar o percentual de câncer bucal em
relação às demais lesões, foram considerados para o
presente estudo a idade e gênero dos pacientes, localização primária da neoplasia e fatores de risco associados (tabagismo e etilismo).
Os dados foram compilados no programa Microsoft
Excel e analisados por estatística descritiva exploratória.
Todos os pacientes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido anexado ao prontuário na consulta inicial, autorizando os pesquisadores a utilizar os dados
coletados em trabalhos de pesquisa, cujo projeto, em consonância com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde, foi previamente submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Vale do
Acaraú, identificado sob processo no 327523 e Protocolo no
897. O projeto foi classificado como aprovado.
RESULTADOS
Dos 300 laudos histológicos avaliados, 7,6% correspondiam a neoplasias malignas (23 casos) e 92,4% estavam relacionados a outras lesões patológicas benignas da
cavidade oral. Entre os tipos de neoplasias malignas encontradas verificaram-se que 95,65% eram do tipo carcinoma, 87% (20 casos) carcinomas espinocelulares, 4,35%
(1 caso) carcinoma mucoepidermoide e 4,35% (1 caso) de
adenocarcinoma. Houve ainda um caso de sarcoma (condrossarcoma), representando 4,35% do total de casos.
De acordo com os dados obtidos, observou-se que
60,9% dos 23 pacientes acometidos por neoplasias malignas da cavidade oral eram do sexo masculino e 39,1%
pertenciam ao sexo feminino (Gráfico 1).
Quanto à faixa etária, 4,3% apresentavam-se entre
21-30 anos; 13% entre 41-50 anos; 26,1% entre 51-60
anos; 21,7% entre 61-70 anos; 17,4% entre 71-80 anos;
e 17,4% entre 81-90 anos (Gráfico 2). A média geral das
idades foi de 63,4 anos.
Verificando-se a localização anatômica das neoplasias
malignas, os resultados encontrados estão no Gráfico 3.
Língua e assoalho bucal foram os locais mais acometidos,
representando, respectivamente 34,8% e 21,7% do total.
A análise dos prontuários permitiu identificar que,
entre os portadores de lesões malignas, 47,8% eram fumantes e 43,5% ex-fumantes. Em 8,7% dos casos esta
informação não estava disponível (Gráfico 4).
Em relação ao etilismo, 26,1% relataram este hábito, enquanto 17,4% eram ex-etilistas e 13%, não eram
etilistas. Em 43,5% dos prontuários esta informação não
estava disponível (Gráfico 5).
DISCUSSÃO
Os 23 casos de lesões malignas descritos no presente estudo representaram 7,6% do total de lesões da
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Perfil Epidemiológico de 23 casos de neoplasias malignas da cavidade oral atendidos em uma instituição odontológica de nível secundário.
Nogueira et al.
Gráfico 1. Distribuição das neoplasias malignas de acordo com o
gênero dos pacientes.
Gráfico 2. Distribuição das neoplasias malignas de acordo com faixas
etárias.
Gráfico 3. Distribuição das neoplasias malignas de acordo com o sítio
anatômico.
Gráfico 4. Distribuição das neoplasias malignas em relação ao tabagismo.
Gráfico 5. Distribuição das neoplasias malignas em relação ao etilismo.
cavidade bucal que foram submetidas à biópsia. Prevaleceram as lesões benignas (92,4%). Este percentual
aproxima-se do encontrado em estudos anteriores realizado no Estado de Mato Grosso9 e de Minas Gerais10,
cujos resultados também foram baseados em análises
histopatológicas e as lesões malignas representaram
respectivamente 3% e 1,64% do universo das lesões bucais avaliadas.
Houve marcante predominância de CEC, que representaram 87% do total de lesões malignas. Em estudos
anteriores realizados no Brasil tais lesões também foram
maioria absoluta dentre as lesões malignas da cavidade bucal e representaram 87,7%10, 82,25%11, 89,90%12,
91,7%13, 94,28%14, 96,92%15 e 99%16. Esses dados denotam a grande ênfase dada aos CEC nas publicações
referentes ao tema, colocando-os quase que em uma
condição sinônima de câncer bucal.
No presente estudo a maioria dos pacientes acometidas era do gênero masculino (60,9%) em um aproporção aproximada de 2,5:1 em relação ao gênero feminino, corroborando resultados anteriores. Em todos
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Perfil Epidemiológico de 23 casos de neoplasias malignas da cavidade oral atendidos em uma instituição odontológica de nível secundário.
os estudos epidemiológicos os homens foram mais
acometidos do que as mulheres, nas seguintes porcentagens: 88,9%7, 69,38%10, 66,7%11, 84,78%12, 83,3%13,
88,89%15, 84,2%16, 80,5%17, 65%18, 62,2%19, 84%20,
80%21, 60,9%22, 64,45%23 e 69,2%24. Ressalte-se que a
maior parte destes estudos eram específicos de CEC,
enquanto nossos dados incluíram também pacientes
portadores de outras lesões malignas.
Estudo específico na população idosa, mostrou variações nas proporções de acometimento do gênero
masculino em relação ao gênero feminino. Em idades
inferiores há 60 anos os homens foram mais acometidos
em uma proporção de 8:1, enquanto nos pacientes com
60 anos ou mais a proporção foi de 3:125.
No presente estudo a média geral de idade dos pacientes foi de 63,4 anos. Quanto à faixa etária, 4,3%
apresentavam-se entre 21-30 anos; 13% entre 41-50
anos; 26,1% entre 51-60 anos; 21,7% entre 61-70 anos;
17,4% entre 71-80 anos; e 17,4% entre 81-90 anos. As
sextas e sétimas décadas de vida foram aquelas com
maior prevalência, dados que corroboram a maioria dos
estudos anteriores, que apontaram as seguintes médias
de idade e/ou décadas de vida mais prevalentes dos
pacientes acometidos por lesões malignas da cavidade
oral: 61 anos3; 56,3 anos7; 55,2 anos9; 58,34 anos10; 61,1
anos4, 57,80 anos e 95,47% das lesões entre 5ª e 6ª década de vida12; 63,3 anos e 51-60 anos foi a faixa etária
mais acometida14; 59,7 anos e maiores prevalências na
6ª e 7ª década de vida15; 56,5 anos16; 68 anos18; 60-69
anos19; e 63 anos e entre 50 e 80 foi a faixa etária mais
prevalente24.
Alguns autores ressaltam o acometimento do câncer bucal em pacientes de idades mais avançadas: 87,%
acima de 40 anos13 e 82% acima de 60 anos22. Outros
especificaram as médias de idade mais prevalentes entre os gêneros: 58,79 anos em homens e 63,94 nas mulheres23 e 57,7 anos em homens e 65,7 em mulheres17.
No presente estudo se avaliou os sítios anatômicos
mais acometidos por lesões malignas e os resultados
mostraram língua e assoalho bucal, que representaram, respectivamente, 34,8% e 21,7% do total. Em estudos anteriormente realizados a língua foi o sítio mais
prevalente, representando 22,45%10, 29,5%11, 37,5%13,
50,73%15, 32%16, 31,5% em homens e 29,1% em mulheres19, 23,17%23 e 41,5%25. Em outros levantamentos
epidemiológicos prevaleceram o lábio inferior (35,09%12
e 31,67%18), rebordo alveolar (28,57%)14 e assoalho bucal (27,9%17 e 22,7%24).
O álcool e o cigarro são os principais fatores de risco
para o desenvolvimento do câncer bucal e as variações
geográficas da incidência e mortalidade são indicativos
de diferenças na prevalência dos mesmos entre os países2. Sobre esses hábitos nocivos à saúde e comprovadamente relacionados ao câncer de boca, observou-se
no presente estudo que 47,8% dos pacientes portadores
da doença eram fumantes e 43,5% eram ex-fumantes.
Em relação ao etilismo, 26,1% dos portadores de câncer bucal relataram este hábito, enquanto 17,4% eram
Nogueira et al.
ex-etilistas e 13%, não eram etilistas. Ressalte-se que
informações sobre tabagismo e etilismo nem sempre
estavam presentes nos prontuários. Em estudos anteriores dados sobre fatores de risco apontaram que entre
os portadores de câncer bucal 83,37% eram tabagistas
e 65,80% eram etilistas3. Em outro estudo o índice de fumantes foi de 88,7%7. O trabalho de combate ao tabagismo e ao alcoolismo tem que caminhar em conjunto com
a melhoria das condições sociais e culturais, necessitando um longo e árduo caminho para reverter-se o quadro
de incidência do câncer de boca no Brasil17.
Além dos fatores de risco bem estabelecidos, pesquisas recentes apontam para a associação entre o
HPV (Papiloma Vírus Humano) e o câncer de cabeça
e pescoço. A presença do genoma de DNA do HPV foi
observada em 62 casos (25%) entre 253 casos de CEC
de cabeça e pescoço, sendo 90% o subtipo HPV16. A
positividade para HPV variou de acordo com a localização anatômica: 12% dentre os CEC da cavidade oral;
57% na orofaringe; 10% na hipofaringe; 19% na laringe;
e na nasofaringe não houve casos dentre os 2 CEC avaliados26.
Ações preventivas visando o esclarecimento da
população sobre o câncer de boca, realização do autoexame bucal, fatores de risco associados, tratamento e
possibilidades de cura devem ser implementadas para
viabilizar o diagnóstico precoce, fato que poderá modificar o perfil epidemiológico atual da doença11,13, além da
universalização do acesso aos meios de diagnóstico9 e
treinamento dos profissionais de saúde para abordagem dos fatores preventivos e do diagnóstico precoce
das lesões e finalmente a elaboração de rotinas programadas nos serviços de saúde para detecção de
lesões suspeitas16.
Infelizmente, a falta de informação e o preconceito
fazem com que os indivíduos acometidos pelo câncer
bucal esperem por meses antes de procurar por atendimento médico-odontológico adequado, aumentado
consideravelmente os danos causados pela doença e
reduzindo sua expectativa de vida23. Uma efetiva política
de controle do câncer em nosso país deve considerar
também a situação sócio-econômica e as desigualdades
existentes nas diversas regiões do Brasil, sendo que todas as ações programáticas devem ocorrer no contexto
da prevenção de doenças crônicas não-transmissíveis e
de promoção de saúde27. Desta maneira espera-se reverter a quadro de diagnóstico tardio da doença, onde
a maioria é diagnosticada em estágios avançados (III e
IV)28. Ressalta-se que a boca é um local de fácil acesso ao exame físico, entretanto oportunidades diagnósticas são perdidas devido ao não conhecimento da
sintomatologia por parte do paciente e à inabilidade
de alguns médicos e dentistas no reconhecimento dos
sinais e sintomas relacionados à detecção do câncer
de cabeça e pescoço16.
No estado do Ceará, local onde o presente estudo foi
realizado a partir de 2006 criou-se um programa de ras-
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Perfil Epidemiológico de 23 casos de neoplasias malignas da cavidade oral atendidos em uma instituição odontológica de nível secundário.
treamento do câncer bucal, onde a Secretaria de Saúde
do Estado, juntamente com as Secretarias Municipais
de Saúde, universidades e outras instituições, realizou
o rastreamento do câncer de boca, com o objetivo de
prevenir, diagnosticar e tratar os pacientes de forma o
mais precoce possível24.
O presente estudo foi realizado por equipe de professores e acadêmicos que fazem parte do referido programa e os dados obtidos representam o primeiro estudo
sobre câncer bucal realizado no interior do estado, representando a contribuição da Universidade Federal do Ceará, através do Ambulatório de Estomatologia Clínica, para
o mapeamento desta doença e o estabelecimento de políticas públicas efetivamente voltadas para a promoção de
saúde. Espera-se também que o presente estudo possa
contribuir para a implementação de políticas públicas por
parte da Coordenação de Saúde Bucal do Município de
Sobral, com ênfase aos aspectos preventivos e ao fomento de programas de educação permanente e capacitação
dos cirurgiões-dentistas vinculados às unidades básicas
de saúde do município sobre a temática câncer bucal.
CONCLUSÃO
No presente estudo o câncer bucal acometeu pacientes de ambos os gêneros, com predominância do
masculino (60,9%) e na faixa etária entre 50 e 60 anos
de idade. O carcinoma espinocelular representou a neoplasia maligna mais prevalente e representou 87% do total de casos. A língua e o assoalho bucal foram os sítios
anatômicos mais acometidos. Verificou-se associação
entre o hábito de fumar com a presença das lesões malignas. O perfil epidemiológico encontrado condiz com os
achados de estudos anteriormente realizados.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Dr. Daniel Hardy, Cirurgião de
Cabeça e Pescoço da Santa Casa de Misericórdia de
Sobral e Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Campus Sobral, em face
o permanente espírito solidário e atenção aos pacientes
referenciados para atendimento terciário.
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